Valle G et al • Correlação entre os diferentes perfis sorológicos para a infecção pelo vírus da hepatite B e alteraçõe das enzimas hepáticas... ARTÍCULO ORIGINAL / ARTIGO ORIGINAL Correlação entre os diferentes perfis sorológicos para a infecção pelo vírus da hepatite B e alterações das enzimas hepáticas – Análise de fatores preditivos para adoecimento Correlation between different serological profiles for hepatitis B infection and liver enzymatic alterations – Analysis of predictive factors for illness Gustavo Valle1 Sandro Rostelato-Ferreira2 Flávio Buratti Gonçalves3 Rev Panam Infectol 2014;16(1):32-38 Os autores declaram não haver conflitos de interesses para a publicação do artigo. Artigo aprovado pela CEP–UNIP em 14/06/2012 nº 42850 Área: Biomedicina, Imunologia, Saúde Pública Recebido em 22/8/2012 Aprovado em 7/8/2013 Aluno de Biomedicina da Universidade Paulista de Sorocaba, São Paulo, Brasil. 2 Doutor em Farmacologia pela FCM/UNICAMP. Professor na Universidade Paulista, Campus Sorocaba, São Paulo, Brasil. 3 Mestre em Saúde Pública pela FSP/USP. Professor na Universidade Paulista, Campus de Sorocaba, São Paulo, Brasil. 1 RESUMO Objetivo: correlacionar os diferentes perfis sorológicos para a infecção pelo vírus da hepatite B e alterações de enzimas hepáticas. Métodos: foram colhidos os resultados de banco de dados laboratoriais, tendo como base a realização de sorologia para hepatite B (pesquisa de antígenos circulantes e seus anticorpos) e bioquímicos (dosagens das aminotransferases, quando presentes de γ-GT e fosfatase alcalina). Resultados: no presente estudo, 63,8% dos indivíduos infectados eram do gênero masculino; 8,4% dos indivíduos cujos dados foram analisados encontravamse em fase aguda e 58,47% apresentavam-se com perfil compatível com fase de recuperação. As mulheres, apesar de no presente estudo serem menos propícias à infecção, apresentaram maior tendência ao que se entende por lesão hepática. Dentre os parâmetros bioquímicos avaliados no estudo, mostraram-se mais eficientes, com análise de tendências calculadas R2 próximas de 1 e podendo ser utilizados como critério de acompanhamento clínico, respectivamente a γ-GT (R2 0,94965); ALT (R2 0,8773); AST (R2 0,82645). A FAL apresentou resultados contraditórios, não permitindo ser utilizada como marcador bioquímico de evolução clínica (R2 inferior a 0,8). Conclusão: diante da maior incidência da infecção pelo HBV em indivíduos do gênero masculino, considera-se que esse dado não está necessariamente relacionado com o gênero, mas sim com um comportamento de risco mais característico das populações masculinas. A γ-GT e as aminotransferases apontaram como os melhores parâmetros para evolução clínica desde a fase aguda à recuperação. A fosfatase alcalina correspondeu às fases de infecção pelo HBV de maneira contraditória, não permitindo ser utilizada para acompanhamento clínico da infecção pelo HBV. Palavras-chave: Hepatite; Soroprevalência; Perfil enzimático 32 Rev Panam Infectol 2014;16(1):32-38 ABSTRACT Objective: to correlate the different serological profiles for infection of hepatitis B and liver enzymatic alterations. Methods: the results were collected directly from laboratory database, based on the serology for hepatitis B (study of circulating antigens and their antibodies) and biochemical (aminotransferase dosages, when present of γ-GT (GGT) and alkaline phosphatase). Results: in this study, 63,8% of the infected individuals were male, 8,4% of subjects whose data were analyzed were at the acute phase and 58,47% was shown with a profile compatible with the recovery phase. For women, though in the present study are less favorable to infection, were more likely to what is meant by hepatic injury. Among the biochemical parameters evaluated in the study, were more efficient, trend analysis calculated R2 close to 1 and can be used as criteria for clinical monitoring, respectively γ-GT (R2 0,94965), ALT (R2 0,8773); AST (R2 0,82645). The FAL showed contradictory results, not allowing it to be used as a biochemical marker of clinical evolution (R2 less than 0,8). Conclusion: although the higher incidence of HBV infection in male individuals, it is considered that this data is not necessarily related to genre, but to a risk behavior more characteristic of male populations. The γ-GT and aminotransferases pointed as the best parameters for clinical evolution from the acute phase to recovery. Alkaline phosphatase corresponded to the phase of HBV infection in a contradictory way, not allowing it to be used for clinical monitoring of HBV infection. Key words: Hepatitis; Seroprevalence; Enzymatic profile INTRODUÇÃO A infecção pelo HBV é um relevante problema de saúde. Atualmente 350 milhões sofrem de infecção crônica por HBV(1) e, destes, 20 a 40% são portadores de infecção crônica e correm risco de morte por cirrose hepática ou carcinoma hepatocelular primário. Segundo a OMS, mais de dois bilhões de pessoas estão infectadas pelo HBV em todo o mundo(2). Na América Latina, as maiores soroprevalências foram encontradas na República Dominicana (21,4%), seguido pelo Brasil (7,9%), Venezuela (3,2%) e Argentina (2,1%), e a menor no México (1,4%) e Chile (0,6%). No Brasil, houve grande variação entre as diferentes cidades estudadas, com taxas de soroprevalência de 21% em Manaus, 7,5% em Porto Alegre, 5,5% no Rio de Janeiro e 1,2% em Fortaleza(3). O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, pelo menos 15% da população já esteve em contato com o vírus da hepatite B e que 1% da população apresenta doença crônica relacionada a este vírus(4). O HBV pertence à família Hepadnaviridae, é um vírus envelopado com dupla fita de DNA, com 3.200 pares de bases, e classificam-se em oito genótipos (A-H)(5). A família é dividida em dois grupos, os orthohepadnavirus e os hepadnavirus. Estes são hepatotrópicos e replicam-se com auxílio da transcriptase reversa(6). O diagnóstico laboratorial do HBV é realizado através de testes sorológicos (AgHBs, anti-HBs, anti HBc IgM ou IgG, AgHBe e anti-HBe) e bioquímicos (determinação dos níveis séricos de atividade (NSA) enzimática das aminotransferases (ALT e AST), fosfatase alcalina, Gama-Glutamiltransferase (GGT) e concentração sérica de bilirrubinas)(7). É notória a expansão da infecção pelo vírus da hepatite B no Brasil e no mundo, e não obstante todas as tentativas de prevenção à doença a partir de estratégias de vacinação e orientação populacional, o que se nota é um aumento crescente dos casos de infecção. O presente estudo busca avaliar não somente a frequência de infecção em indivíduos provenientes da cidade de Itu, São Paulo, e região, mas também avaliar a fase da doença e a correlação com os achados laboratoriais de enzimas hepáticas, as quais a literatura refere estarem diretamente associadas a níveis ou fases de cirrose e ou carcinoma hepatocelular. O objetivo geral deste trabalho foi correlacionar os diferentes perfis sorológicos para a infecção pelo vírus da hepatite B e alterações de enzimas hepáticas e, em específico, verificar a frequência de indivíduos em fase prodrômica, aguda, crônica e convalescente para a infecção pelo vírus da hepatite B, relacionando os níveis das enzimas hepáticas ALT e AST com a fase da infecção pelo HBV e, assim, correlacionar os marcadores sorológicos e bioquímicos como preditores de adoecimento. CASUÍSTICA E MÉTODOS Foram colhidos os resultados dos testes sorológicos (pesquisa de anticorpos para antígenos do vírus da hepatite B conhecidos como Anti HBc IgM e IgG, Anti Hbe Total e Anti HBs Total; pesquisa de antígenos circulantes do vírus da hepatite B HBsAg e HBeAg) e bioquímicos (valores de dosagens das enzimas hepáticas ALT e AST, quando presentes de γ-GT (GGT) e Fosfatase alcalina). Os resultados foram colhidos diretamente do banco de dados do “ITULAB” Laboratório de Análises Clínicas de Itu Ltda, tendo como base a realização de sorologia para hepatite B, sendo analisados os resultados de amostras processadas entre janeiro de 2009 a dezembro de 2011, independente da idade, sendo considera- 33 Valle G et al • Correlação entre os diferentes perfis sorológicos para a infecção pelo vírus da hepatite B e alteraçõe das enzimas hepáticas... RESULTADOS dos os seguintes perfis sorológicos: FASE PRODRÔMICA, em que temos apenas o HbsAg positivo; FASE AGUDA com HbsAg e Anti-Hbc IgM positivos, Anti-Hbc IgG, HbeAg e Anti-HbeAg podem ou não estarem positivos; FASE DE INDEFINIÇÃO (tendendo a recuperação ou cronificação) com HbsAg, Anti-Hbc IgG e Anti-HbeAg positivos, HbeAg pode ou não estar positivo; FASE DE JANELA na qual temos apenas o Anti-Hbc IgG positivo; FASE DE RECUPERAÇÃO (próximo a soroconversão do HbsAg) com HbsAg, Anti-HbsAg, Anti-Hbc IgG e Anti-HbeAg positivos e o ESTADO DE IMUNIDADE (evolução para cura) com Anti-HbsAg, Anti-Hbc IgG e Anti-HbeAg positivos. Também foram considerados valores de referência para os marcadores de função hepática, sendo: ALT (M até 42 e F até 32); AST (M até 37 e F até 31); γ-GT (M 8-60 e F 5-35) e Fosfatase alcalina (M 40-129 e F 35-104). Os dados depois de colhidos, foram tabulados em planilhas de Excel para Windows versão 7.0 e as análises realizadas com fim ao estudo de tendências pela relação do valor de r2. A tabela 1 apresenta os valores médios dos principais marcadores de função hepática independentemente da fase de infecção dos indivíduos cujos dados foram avaliados no presente estudo. A tabela 2 apresenta as características gerais da população de estudo em relação ao gênero e aos perfis sorológicos encontrados, especial destaque a ausência de indivíduos do gênero masculino em fase prodrômica e ao alto índice de recuperados (curados). As figuras 1 e 2 estabelecem uma comparação entre as fases de infecção para cada gênero separadamente, em relação aos valores médios para os marcadores de função hepática. DISCUSSÃO No presente estudo, dentre os 655 dados analisados, verificou-se que mais da metade dos indivíduos infectados pertenciam ao gênero masculino (63,8%) e que mais da metade dos infectados apresentaram perfil compatível com evolução para cura (58,47%), demonstrado nas tabelas 1 e 2, aspecto também apontado por Silva et al.(8) os quais observaram em um estudo de 1.396 indivíduos com suspeita clínica de hepatite em Goiânia, uma soroprevalência de 50,7% de indivíduos infectados pelo HBV e também tendo sido observado que a soroprevalência foi maior em indivíduos do gênero Aspectos éticos Este trabalho, baseado na revisão de banco de dados laboratoriais, foi realizado após consentimento do “ITULAB” Laboratório de Análises Clínicas de Itu Ltda, juntamente com consentimento livre e esclarecido e a aprovação e análise do CEP–UNIP em 14/06/2012 nº 42850. Tabela 1. Características gerais da população de estudo (n=655) em relação aos valores médios aferidos para os marcadores de função hepática Gênero ALT (U/L) AST (U/L) γGT (U/L) FAL (U/L) Feminino (n=237) 106 92 74,6 94,9 Masculino (n=418) 53 52 135,3 103,6 Valores de Referência M até 42 F até 32 M até 37 F até 31 M 8-60 F 5-35 M 40-129 F 35-104 Tabela 2. Características Gerais da População de Estudo (n=655) em relação ao gênero e aos perfis sorológicos para a infecção pelo HBV 34 Gênero Prodrômica n (%) Aguda n (%) REC/CRO n (%) Janela n (%) Recuperação n (%) Recuperados (Curados) n (%) Feminino 7/655 (1,07) 26/655 (3,97) 36/655 (5,49) 29/655 (4,43) 6/655 (0,92) 133/655 (20,3) Masculino ---- 29/655 (4,43) 51/655 (7,79) 52/655 (7,94) 36/655 (5,49) 250/655 (38,17) Total 7/655 (1,07) 55/655 (8,4) 87/655 (13,28) 81/655 (12,37) 42/655 (6,41) 383/655 (58,47) Rev Panam Infectol 2014;16(1):32-38 Figura 1. Avaliação dos valores médios aferidos para os marcadores de função hepática em pacientes do gênero masculino em razão do perfil sorológico estabelecido Figura 2. Avaliação dos valores médios aferidos para os marcadores de função hepática em pacientes do gênero feminino em razão do perfil sorológico estabelecido masculino. Essa diferença também foi demonstrada por outros estudos, tais como Almong et al.(9) e McIntosh et al.(10). Por outro lado, Pelegrini et al.(11) relatam que a literatura tem apontado que esta diferença parece não estar relacionada à maior suscetibilidade desse gênero para aquisição da infecção, mas sim a aspectos comportamentais adotados por esses indivíduos, tais como uso de drogas, promiscuidade, e a não utilização de preservativo. No entanto, em relação aos níveis de aminotransferases apresentados, nota-se curiosamente que os valores apresentados pelos indivíduos do gênero feminino, encontravam-se particularmente em níveis superiores quando comparadas com os aferidos para os do gênero masculino, o que seguramente pode indicar que as mulheres, apesar de no presen- 35 Valle G et al • Correlação entre os diferentes perfis sorológicos para a infecção pelo vírus da hepatite B e alteraçõe das enzimas hepáticas... te estudo serem menos propícias à infecção, terem maior tendência ao que se entende por dano ou lesão hepática. Em relação à fase prodrômica, todos os marcadores de função hepática estiveram normais, como ilustrado na Figura 2, indicando que nesta fase inicial há ausência de lesão hepática. Na análise de indivíduos em fase aguda de infecção pelo HBV, os antígenos do vírus presente no soro são HbsAg, HbeAg e juntamente anti-HbcIgM; nessa fase os níveis dos marcadores de função hepática se encontraram elevados, indicando alto grau de lesão hepática e infectividade, conforme mostram as Figuras 1 e 2, destacando-se de forma especial os níveis das aminotransferases, sobretudo de ALT para o gênero feminino alcançando valores superiores a 1000% do limite máximo do valor de referência; a γ-GT (GGT) se encontra acima de quatro a cinco vezes do limite dos valores de referência em ambos os gêneros; a fosfatase alcalina (FAL) está aumentada quase que o dobro do limite do valor de referência no gênero masculino e ligeiramente aumentada no gênero feminino, ou seja, nesta fase de infecção os indivíduos infectados pelo HBV apresentam um alto grau de lesão hepática. Esse achado está de acordo com o estudo de Pelegrini et al.(11), que encontraram predominância de aminotransferases aumentadas na fase aguda de infecção pelo HBV. Em alguns pacientes não é possível detectar o HbsAg nessa fase e, neste caso, o único marcador de infecção aguda possível é o anti-Hbc(12). O estudo de Ferreira et al.(13) afirma que a fase aguda da hepatite B caracteriza-se pela intensa replicação viral e se desenvolve após o período de incubação entre 45 e 180 dias, ocorrendo tanto nas formas sintomáticas, ictéricas da doença, quanto nas anictéricas e oligossintomáticas e admite-se que a infecção aguda pelo HBV evolui para a cura em 90% a 95% dos casos, para o estado de portador crônico nos restantes 5 a 10%. No estudo realizado por Coser et al.(14), nota-se que tanto a fase aguda quanto a crônica podem evoluir para cirrose ou hepatocarcinoma celular. Segundo Livramento et al.(15), a evolução da doença aguda consiste em três fases: fase prodrômica ou pré-ictérica, apresentando sintomas como febre, náuseas, vômitos, astenia, dores musculares ou articulares, e eventualmente cefaléia; fase ictérica, na qual ocorre o abrandamento dos sintomas digestivos e surgimento de icterícia de intensidade variável; e fase de convalescença, com o desaparecimento da icterícia e retorno da sensação de bem-estar. De acordo com o estudo de Keefe et al.(16), denominam esta fase como de reação imune, sendo caracterizada 36 por níveis séricos de DNA-HBV menos elevados, aumentos das aminotransferases, o HbeAg é positivo, podendo haver soroconversão para anti-Hbe em cerca de 8 a 15% ao ano, na dependência de vários fatores como por exemplo o genótipo. Analisando o período/fase de janela imunológica, os níveis de ALT e AST apresentam-se ligeiramente acima dos limites dos valores de referência para homens, e mais que o dobro acima dos limites dos valores de referência para o gênero feminino; a γ-GT (GGT) está nitidamente elevada no gênero masculino, alcançando mais de 300% do limite dos valores de referência; já no gênero feminino, se encontra ligeiramente aumentada; a fosfatase alcalina (FAL) se apresenta dentro do limite do valor de referência para o gênero masculino e ligeiramente acima no gênero feminino, dados apresentados nas Figuras 1 e 2. Dados da literatura apontam para esta fase como uma das mais difíceis de serem analisadas clinicamente, conduzidas em razão das inúmeras possibilidades de reações cruzadas, em situações de doença autoimune e outras infecções como na mononucleose infecciosa(7). Ao observarmos os indivíduos em período/fase tendendo à recuperação ou cronificação de infecção pelo HBV, verificamos uma discrepância significativa entre os gêneros em relação às aminotransferases, sendo elevadas para o gênero feminino, com níveis de aminotransferases aumentadas na escala de 700% acima do limite máximo do valor de referência para ALT e em cerca de 800% para AST e valores próximos à normalidade para o gênero masculino, conforme apontam as Figuras 1 e 2. Segundo Chu et al.(17), na infecção crônica os pacientes HBeAg positivos apresentam duas fases distintas, sendo a imunotolerância caracterizada por ALT normal e DNA bastante elevado, e o imunoclareamento caracterizado por ALT elevada e DNA mais baixo. Haddad et al.(18), afirmam que a infecção quando na forma crônica, pode estar associada com severa ou ausência de resposta inflamatória no fígado, e com níveis elevados ou baixos de replicação viral. Nos casos de hepatite crônica, observa-se persistência do HbsAg e ausência do surgimento do anti-Hbs(19), conforme o que também pode ser observado nos indivíduos cujo perfil apontavam para uma possível cronificação, ilustrado nas Figura 1 e 2. Observando os valores médios aferidos para os marcadores de função hepática dos indivíduos em fase de recuperação, próximo à soroconversão do HbsAg, verificamos que a ALT está aumentada em ambos os gêneros e a AST se encontra apenas ligeiramente acima dos valores de referência também para ambos os gêneros, a γ-GT (GGT) está pouco Rev Panam Infectol 2014;16(1):32-38 aumentada para o gênero masculino, mas apresenta quase 300% acima do limite do valor de referência para o gênero feminino; a fosfatase alcalina (FAL) se apresenta dentro dos limites do valores de referência para ambos os gêneros, indicado nas Figuras 1 e 2. Em indivíduos com perfil de recuperação comprovada, verifica-se que todos os marcadores de função hepática se encontram dentro dos limites dos valores de referência, exceção feita à γ-GT (GGT) para o gênero feminino, que se encontra ligeiramente aumentada, conforme ilustrado nas Figuras 1 e 2. De acordo com Ferreira et al.(13), o surgimento do anticorpo anti-Hbs indica sempre resolução do processo, conferindo imunidade duradoura à infecção pelo HBV. Em um estudo conduzido por Hsu et al.(20), num total de 283 indivíduos (231 do gênero masculino e 52 do gênero feminino), estes apresentaram soroconversão do HbeAg para anti-Hbe. A maioria dos pacientes eram assintomáticos e com níveis séricos normais de ALT. No presente estudo 58,47% dos pacientes encontravam-se nestas condições. Finalmente, ao considerar as diferenças entre os perfis sorológicos estabelecidos para cada gênero, verifica-se que no gênero masculino não foram encontrados indivíduos em fase prodrômica de infecção, conforme mostra a Tabela 2 e a Figura 1. Nota-se também uma diminuição significativa e gradual dos níveis das aminotransferases à medida que o indivíduo evolui para cura. Em fase de recuperação as aminotransferases podem atingir mais de 60% do limite dos valores de referência, até chegar ao perfil de recuperação comprovada em que se encontram normais. A γ-GT (GGT) também se apresenta de modo que há uma diminuição gradativa de seus níveis à medida que o indivíduo evolui para cura, exceto em fase de janela em que seus níveis são próximos aos dos indivíduos em fase aguda que chegam a atingir mais de 300% o limite do valor de referência, até se normalizarem como observado nos indivíduos com perfil de recuperação comprovada. A diminuição dos níveis da fosfatase alcalina (FAL) não acompanha a evolução da doença gerando dúvidas quanto à participação da mesma como critério ou marcador bioquímico de hepatites de etiologia infecciosa. Uma análise semelhante para as pacientes do gênero feminino aponta para uma fase prodrômica em que todos os marcadores hepáticos encontravam-se dentro dos limites de normalidade e que partindo da fase aguda, nota-se a mesma tendência à diminuição gradativa dos níveis da ALT à medida que o indivíduo evolui para cura apontada para o gênero masculino. Os níveis de AST dos pacien- tes do gênero feminino não apresentaram a mesma tendência observada nos indivíduos do gênero masculino, o que pode apontar para a maior tendência apresentada por parte dessas mulheres à cronificação em comparação à população masculina, conforme as Figuras 1 e 2. Dentre os parâmetros bioquímicos avaliados no presente estudo, mostraram-se mais eficientes, com análise de tendências calculadas R2 próximas de 1 e podendo ser utilizados como critério de acompanhamento clínico, respectivamente a γ-GT (R2 0,94965); ALT (R2 0,8773); AST (R2 0,82645). A FAL apresentou resultados bastante contraditórios não permitindo ser utilizada como marcador bioquímico de evolução clínica (R2 inferior a 0,8). CONCLUSÃO Diante da maior incidência da infecção pelo HBV em indivíduos do gênero masculino, deve-se considerar que esse dado não está necessariamente relacionado com o gênero, mas sim com um comportamento de risco mais característico das populações masculinas. A γ-GT e as aminotransferases apontaram como os melhores parâmetros para evolução clínica desde a fase aguda à recuperação. A fosfatase alcalina correspondeu a fases importantes da infecção pelo HBV de maneira contraditória, não permitindo ser utilizada para acompanhamento clínico da infecção pelo HBV. Agradecimentos Agradecemos ao ITULAB Laboratório de Análises Clínicas de Itu Ltda e, em especial, ao Biomédico Mauricio Carvalho Campos, por ter nos autorizado a coletar os dados que foram de fundamental importância para a realização deste estudo. 37 Valle G et al • Correlação entre os diferentes perfis sorológicos para a infecção pelo vírus da hepatite B e alteraçõe das enzimas hepáticas... REFERÊNCIAS 1. Santos AO, Alvarado-Mora MV, Botelho L, Vieira DS, Pinho JRR, Carrilho FJ et al. Characterization of hepatitis B virus (HBV) genotypes in patients from Rondônia, Brazil. Virol J. 2010;7:315. 2. Ji Y, Min L, Ye Y. Global analysis of a viral infection model with application to HBV infection. Journal of Biological Systems. 2010;18( 2):325–37. 3. Tanaka J. Hepatitis B epidemiology in Latin America. Vaccine 2000;18:S17-S19. 4. Ferreira CT, Silveira TR. Hepatites virais: aspectos da epidemiologia e da prevenção. Rev. Bras. Epidemiol. 2004;7(4):473-87. 5. 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