LINEARIZAÇÃO DOS PARÂMETROS DE SENSIBILIDADE TENSÃO x TENSÃO E TENSÃO x CARREGAMENTO PARA REGULAÇÃO REMOTA EM ALIMENTADORES DE MÉDIA TENSÃO MANOEL FIRMINO DE MEDEIROS JR.*,JOSÉ ALBERTO NICOLAU DE OLIVEIRA+, MAX C. PIMENTEL FILHO+ * Departamento de Eng. de Computação e Automação, +Programa de Pós-gradução em Eng. Elétrica, Univ. Fed. do Rio G. do Norte - UFRN C.E.P. 59072-970 Natal, RN, BRAZIL E-mails: [email protected], [email protected], [email protected] Abstract – This paper describes firstly an algorithm to calculate sensitivity parameters for evaluating the dependence between voltages in radial distribution systems, as well between voltages and network loading. Secondly, linearization hypothesis of these parameters based on results of exaustive load flow calculations are presented. The aim of linearization is to reduce computer efforts in order to allow an embedded algorithm for local or remote voltage regulation. Keywords – Distribution networks, voltage regulation, sensitivity parameters, linearization. I. INTRODUÇÃO O cálculo de fluxo de carga em redes de distribuição tem como um de seus objetivos, determinar as tensões nodais, para uma condição fixa de carregamento. Se ocorrer uma mudança no seu carregamento e/ou houver uma variação da tensão em algum ponto, em virtude da atuação de um regulador de tensão, para se conhecer as novas tensões do sistema, um novo cálculo de fluxo de carga deverá ser executado. Todavia, com o conhecimento de parâmetros de sensibilidade [1], tais como as derivadas parciais do módulo da tensão em um nó, com relação ao fator de carregamento, ou à tensão em um outro nó, é possível realizar uma estimativa, através de uma linearização, de mudanças ocorridas no perfil de tensão, em decorrência de variações impostas a parâmetros de controle como taps de transformadores ou reguladores de tensão [2], como também a variações no carregamento. Este trabalho apresenta a dedução dessas derivadas parciais, bem como simulações que justificam a sua constância, para a região de interesse. O objetivo consiste em, através de um único cálculo de fluxo de carga, determinar o perfil de tensão do sistema para vários níveis de carregamento, como também após da atuação de um regulador de tensão. Adotou-se neste trabalho, para o cálculo dessas derivadas, as equações do método da soma de potências [3] em sua versão monofásica, que foi desenvolvido procurando explorar as características de sistemas radiais de energia elétrica. O cálculo de fluxo de carga, entretanto, foi realizado através do algoritmo trifásico apresentado em [4]. II. DERIVADA DO MÓDULO DA TENSÃO EM UM NÓ COM RELAÇÃO AO MÓDULO DA TENSÃO EM UM OUTRO NÓ De acordo com o método da soma de potências o cálculo da tensão em um nó é feito utilizando a equação bi-quadrada: Rk 2 + X k 2 2(Rk Psk 2 + QSk 2 + Psk + X k Onde: P k , Qk Pski,Qsk sistema no nó k; Vj Rk, Xk Qsk ) Vi 2 Vk 2 + Vk 4 = 0 (1) = Cargas ativa e reativa líquidas no nó k; = Cargas ativa e reativa equivalentes do = Módulo da tensão no nó j; = Resistência e reatância da linha índice k; LP k LQ k = Perda ativa na linha k; Lk = Perda complexa na linha k; = Balanço de reativo na linha k; I *k = Conjugado da corrente no trecho k; j i k Isolando Vk : = Índice; = Nó do lado da fonte; = Nó do lado da carga. Vk = Onde: − B + B2 − 4 ⋅ A ⋅ C 2⋅ A (2) A=1 B = 2 Rk ⋅ Psk + X k Qsk − Vi2 ( )( C = Rk2 + X k2 Psk2 + Qsk2 Portanto: ) (3) ∂Vk ∂V j − = 1 −B+ ⋅ 2 ∂B ∂V j B2 − 4 ⋅ A ⋅ C − 1 2 ∂V k 2⋅ A ∂Fc ( ) 1 − ∂B ∂C 1 + ⋅ B2 − 4 ⋅ A ⋅ C 2 ⋅ 2 ⋅ B ⋅ −4⋅ 2 ∂V ∂V j − j = 1 −B+ ⋅ 2 ∂B ∂Fc (4) Observando a equação da derivada, pode-se notar que a derivada de Vk depende da derivada de Vi , que é a tensão no nó anterior, tornando parecer impossível o cálculo dessa derivada. Entretanto, considerando que o sistema é radial, se o cálculo da derivada for iniciado, partindo do nó slack, esse cálculo passa a ser possível, pois o valor da derivada do módulo da tensão do nó slack, com relação ao módulo da tensão de qualquer outro nó, é igual a zero. (5) Portanto, partindo do nó slack em direção aos nós terminais, é possível o cálculo de todas as derivadas parciais. III. DERIVADA DO MÓDULO DA TENSÃO EM UM NÓ EM RELAÇÃO AO FATOR DE CARREGAMENTO DO SISTEMA O fator de carregamento multiplica todas as cargas por um número, que reflete a carga do sistema para aquele momento em função da carga nominal. Portanto, as potências-somas nos nós serão dadas por: Psk = Qsk = linhas nos i =1 linhas i =1 nos i =1 i =1 Peri + Fc ⋅ Qeri + Fc ⋅ Pi (6) Qi (7) Derivando (6) e (7) com relação a Fc, tem-se: ∂Psk linhas Peri nos = + Pi ∂Fc i =1 ∂Fc i =1 ∂Qs k linhas Qeri nos = + Qi ∂Fc i =1 ∂Fc i =1 ( − 1 2 2⋅ A ) 1 − 1 ∂B ∂C ⋅ B2 − 4 ⋅ A ⋅ C 2 ⋅ 2 ⋅ B ⋅ −4⋅ 2 ∂F ∂F c c 2⋅ A 2⋅ A ∂Vslack =0 ∂V j + B2 − 4 ⋅ A ⋅ C (8) (9) Assim, a derivada parcial da tensão com relação ao fator de carregamento é dada por: (10) IV. LINERIZAÇÃO Através de simulações em sistemas radiais de distribuição de energia elétrica, verificou-se que, variando a tensão na saída de um regulador, as tensões dos nós localizados a jusante deste experimentam variações bem semelhantes, como se pode observar na figura 1. Além disso, um incremento de tensão V na saída do regulador provoca incrementos de tensão nos nós a jusante, aproximadamente proporcionais a V. Levando em conta essa relação linear, pode-se estimar a tensão de um nó [5] alimentado pelo regulador através da equação: ∂V Viestimado = Vicalculado + i ⋅ ∆V j (11) ∂V j No caso do fator de carregamento, acontece um fato semelhante: quando se varia o fator de carregamento em um sistema radial, o perfil de tensão varia de maneira aproximadamente proporcional. Assim como no caso anterior será utilizada uma aproximação linear para poder calcular o valor do módulo da tensão para qualquer carregamento, dentro da excursão usual da curva de carga. Portanto, de posse do valor das derivadas parciais e dos valores dos módulos das tensões para o caso base, temse: ∂V Viestimado = Vicalculado + i ⋅ ∆Fc (12) ∂Fc No caso em que houver variações simultâneas de carregamento no sistema e de tensão na saída do regulador, a equação geral é dada por: ∂V ∂V Viestimado = Vicalculado + i ⋅ ∆V j + i ⋅ ∆Fc (13) ∂V j ∂Fc ∂Vi também deverá iniciar da SE, pelo mesmo ∂Fc motivo alegado na seção anterior, ou seja: ∂Vslack =0 (14) ∂Fc O cálculo de V. ALGORITMO A determinação dos parâmetros de sensibilidade, tanto para a derivada parcial com relação ao módulo da tensão como com relação ao fator de carregamento deverão ser feitos, dentro de um cálculo de fluxo de carga, de modo semelhante, seguindo o procedimento: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Inicializar as variáveis de acordo com os dados de entrada; Executar uma iteração de fluxo de carga; Partindo da subestação em direção aos nós ∂Vk ∂Vk terminais, calcular através de (4) e ∂Fc ∂V j através de (10). Testar convergência; Voltar ao passo 2 até que o processo tenha convergido; Imprimir os resultados VI. RESULTADOS Para poder confirmar as hipóteses de linearidade entre as variáveis apresentadas neste trabalho, realizaram-se simulações com redes reais. Inicialmente, escolheram-se sistemas de distribuição com reguladores de tensão instalados. Posteriormente, foram executados cálculos de fluxo de carga, nos quais se variou a tensão na saída dos reguladores. Em seguida, verificou-se o comportamento do módulo da tensão em alguns nós. O gráfico 01 mostra o comportamento dessas tensões como conseqüência de uma variação da tensão na saída do regulador. 1 1,1 0,95 1,05 1 N4 N8 N14 N18 N21 0,95 Tensao (pu) Tensão no nó (p.u.) 0,9 21.0 11.0 7.0 34.0 0,85 0,8 0,75 0,9 0,7 0.5 0.75 1.0 1.25 1.5 Carregamento 0,85 1,01 p.u. 1,03 p.u. 1,05 p.u. 1,07 p.u. Tensão na saída do regulador (p.u.) Fig. 1. Variação do módulo da tensão em nós remotos ao regulador em função do módulo da sua tensão de saída. Pode-se observar na figura 01 que as tensões apresentam um comportamento linear com a variação da tensão de saída do regulador. No caso dos nós N8, N14, N18 e N21 as tensões cresceram proporcionalmente com a tensão de regulação. Já o nó N4, sua tensão se manteve constante. Isso ocorre pelo fato de que o nó N4 está a montante do nó de saída do regulador, não sofrendo o efeito da variação da tensão na sua saída. Portanto, para nós i como o nó N4, pode-se adotar a aproximação: ∂Vi =0 (15) ∂V j Para verificar a validade da relação de linearidade entre o módulo da tensão em função do fator de carregamento, foram realizados outros cálculos de fluxo de carga, só que desta vez, variou-se o fator de carregamento do sistema. A figura 02 mostra o efeito desta variação nas tensões de alguns nós localizados ao longo do alimentador. Fig. 2. Variação do módulo da tensão nos nós de um alimentador em função do fator de carregamento. Observando a figura 02, pode-se notar que o efeito da variação do módulo da tensão nos nós do sistema em função da variação do carregamento também ocorre de forma aproximadamente linear. Posteriormente, utilizando o algoritmo descrito, foram calculadas as derivadas do módulo das tensões de um alimentador com relação ao módulo de uma tensão específica. Para isto foi escolhido um sistema de 53 nós e uma potência instalada de 2,5 MVA. A figura 03 mostra a comparação da tensão calculada por um fluxo de carga real (linha azul) e pelo processo de linearização (linha vermelha). 1,01 0,99 0,97 Tensão (pu) 0,95 calc est 0,93 0,91 0,89 0,87 0,85 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 Nó Fig. 3. Comparação entre o valor do módulo da tensão calculado por um fluxo de carga (linha azul) e pelo processo baseado em linearização (linha vermelha), calculado pela equação 11. A fim de verificar a validade da linearização, no caso em que se deseja estimar o valor do módulo da tensão após um aumento do carregamento do sistema, realizou-se uma simulação utilizando um sistema de 23 nós e um carregamento de 2,3 MVA. Após a execução do caso base e do cálculo dos parâmetros de sensibilidade, as cargas do alimentador foram aumentadas em 50%. Para essa nova configuração, executou-se um novo cálculo de fluxo de carga e compararam-se as tensões obtidas com as encontradas através do processo de linearização. A figura 04 mostra essa comparação, onde a linha azul representa as tensões obtidas pelo cálculo de fluxo de carga e a linha vermelha, pelo processo linearizado. 1,05 1 0,95 0,9 0,85 Real 1,5 Est 1,5 0,8 alimentadores de distribuição, para fins de análise de regulação, haja vista que o maior incremento conseguido com reguladores de tensão é de 15%, quando se utiliza conexões em delta fechado. Na segunda comparação, o erro máximo encontrado foi de 3,0% para um aumento do carregamento de 50,0%. Pode-se notar que, para esse incremento, o sistema não se encontra mais na região de funcionamento de interesse, para os objetivos de regulação de tensão, pois uma variação tão elevada, em torno do ponto de operação, pode ser considerada excessiva. Contudo, aumentos muito maiores que 50,0% para carregamento com relação ao caso base, podem ser considerados em simulações de planejamento. Nesses casos, recomenda-se executar um novo cálculo de fluxo de carga. VII. CONCLUSÃO O cálculo do valor dos módulos das tensões nos nós de um alimentador através de um modelo linearizado, tomando como base um único cálculo de fluxo de carga e os parâmetros de sensibilidade é algo pouco utilizado. Isso se deve ao fato de que os computadores modernos têm alta velocidade de processamento e memória em abundância. Além disso, esse tipo de cálculo é realizado, geralmente, na fase de planejamento da operação de sistemas, situação em que o tempo de processamento não se impõe como uma limitação de todo o processo. Sendo muito mais eficiente a execução de um novo cálculo de fluxo de carga. Entretanto, em algumas aplicações, onde variáveis como tempo e capacidade de processamento são limitadas, aproximações podem ser justificadas. No caso em que as simulações precisam ser realizadas em tempo real, com limitações de memória e capacidade de processamento, o algoritmo aqui apresentado pode ter uma aplicação bastante útil, tendo em vista que os erros envolvidos são insignificantes, dentro da faixa em que as tensões precisam ser estimadas. 0,75 AGRADECIMENTOS 0,7 0,65 0,6 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Fig. 4. Comparação entre o valor do módulo da tensão calculado por um fluxo de carga (linha azul) e pelo processo de linearização (linha vermelha) definido pela equação 12. Comparando os resultados apresentados na figura 03, observa-se que o erro máximo encontrado foi de 0,7%, para um incremento de tensão de aproximadamente 15%. Nos testes realizados em outros sistemas o resultado foi semelhante. Um fato importante que se deve salientar é que quanto maior for o incremento de tensão no nó regulado, maiores serão os erros encontrados no processo, devido à região de validade da linearização. Entretanto, esse fato não causa problema para o caso de estimativas de tensões de Os autores agradecem à CAPES pelo suporte financeiro, correspondente à concessão de uma quota de bolsa de doutorado. REFERÊNCIAS [1] M. F. Medeiros Jr., M. C. Pimentel Filho, “Optimal Power Flow in Distribution Networks by Newton’s Optimization Methods”, Proceedings of the 1998 IEEE International Symposium on Circuits and Systems, Montrey, CA 1998. [2] M. F. Medeiros Jr., M. C. Pimentel Filho, J. A. Nicolau de Oliveira, “Three-phase models of Voltage Regulators for the Power Summation Load Flow”. VI INDUSCON, Joinville – SC, 2004. [3] R. Cespedes. "New Method for the Analysis of Distribution Networks". IEEE Transactions on Power Delivery, Vol. 5, Jan 1990. [4] M. F. Medeiros Jr., M. C. Pimentel Filho, "Fluxo de Potência Trifásico pelo Método Soma de Potências: Modelagem de Ajustes e Controles". V INDUSCON, Salvador – BA, 03 a 05 de julho de 2002. [5] M. F. Medeiros Jr., M. C. Pimentel Filho, “Localização ótima de bancos trifásicos de reguladores de tensão em alimentadores radiais de distribuição”. CBA 2002, Natal – RN, 02 a 05 de setembro de 2002.