Forum Rev. Medicina Desportiva informa, 2012, 3 (6), pp. 24–28 As lesões dos músculos isquiotibiais Em 1970 um artigo de Burket L.N. referia o desequilíbrio de força entre os isquiotibiais (ITs) e o quadricípite femoral (Qf), enquanto outro de 1978 (Liemohn, W.) referia o desequilíbrio de força entre os ITs direitos e os esquerdos como fator predisponente para as lesões dos músculos ITs. Mas, a serem verdades, não são estas as mesmas conclusões de hoje? E o advento da avaliação isocinética não veio alterar este paradigma? E a RMN? Em 1976, Klein, K.K., Roberts, C.A, referiram que o tilt anterior da pélvis pode estirar em excesso os músculos ITs e pode ser uma causa específica de lesão. Mas já em 1962 se referia que o tilt pélvico é um fator importante no controlo postural durante a corrida. Temos olhado para esta eventualidade? Mas onde temos andado preocupados é com a flexibilidade, ou a falta dela, mas pouco nos importamos se os alongamentos técnica e atempadamente são bem executados. Novamente Burket L.N. (1970) referiu esta possibilidade e, mais tarde, em 1978 se referia que o défice de flexibilidade pode ser um fator predisponente da lesão do músculo isquiotibial. Muitos estudos têm sido efetuados e continua difícil estabelecer a relação de causa e efeito. Agre J.C. , em 1985, há quase 30 anos, escreveu que o melhor tratamento para as lesões dos ITs é a prevenção, que deve incluir treino para manter ou melhorar a força, a flexibilidade, a resistência, a coordenação e a agilidade. Somos cada vez mais competentes em tratar lesões dos músculos ITs, mas em Março de 2012 Opar, D.A. et al, referiam que estas lesões “… são frequentes em vários desportos, a incidência não parece estar a diminuir e a elevada taxa de recidiva”. Isto já estava escrito há 10 anos atrás, em 2002, em que se afirmava que as lesões musculares dos ITs estão entre as lesões musculares mais frequentes nos atletas, têm elevada taxa de recaída e há persistência de queixas após o regresso ás atividades atléticas pode colocar problemas aos treinadores e aos médicos. Estamos na mesma! Daí a ideia de a Revista de Medicina Desportiva informa fazer um forum sobre esta temática. Foram convidados quatro especialistas com experiência que generosamente deixam aqui as suas respostas. Basil Ribeiro. Existe um elevado n.º de lesões musculares dos ITs, em desportos como o futebol e o atletismo. Qual a incidência? Dr. Paulo Beckert Dr. Henrique Dr. Gonçalo Borges Jones Dr. Joaquim Agostinho Medicina Desportiva – Fisiatria Hospital CUF Alvalade Lisboa Medicina Desportiva – Ortopedia Federação Portuguesa de Futebol Lisboa Fisiatria Hospital da Prelada Porto Medicina Desportiva – Radiologia Hospital S. Teotónio Viseu 22 · Novembro 2012 www.revdesportiva.pt Dr. Paulo Beckert O atletismo (velocidade) e o futebol estão entre os desportos que apresentam das mais elevadas incidências de lesões musculares dos IT. Tal facto não é alheio o tipo de solicitação motora dos IT durante a corrida em aceleração. Representam no atletismo cerca de 25% das lesões e no futebol 12%. De acordo com diversos estudos no futebol, encontram-se incidências com valores de 2 a 4 lesões por 1000 horas de competição e cerca de 0,5 lesões por 1000 horas de treino. É certamente uma das lesões com maior taxa de recidiva. Qual a razão para tal? Dr. Gonçalo Borges Não temos números exatos em Portugal, mas se nos reportarmos aos números americanos calcula-se que possam representar 33% das lesões em desporto e com taxa de recidiva quase de 77%. As razões da lesão primária e da recidiva devem-se a má condição física, ao défice de flexibilidade, ao desequilíbrio muscular com défice dos ITs versus Qf, ao défice de flexibilidade de cadeias anteriores, muitas vezes não diagnosticado e tratado na fase de reabilitação da lesão primária, ao erro de diagnóstico ou de avaliação da lesão, com consequente insuficiente tratamento, a que se associam erros técnicos de biomecânica desportiva. Na tua experiência no futebol, e não só, concordas que a reabilitação inadequada é uma das principais causas a considerar? Dr. Henrique Jones Concordo que a reabilitação “apressada”, passando por cima das fases normais de cicatrização muscular (fases inflamatória, fase de remodelação e fase de maturação) poderá ser a principal causa de recidiva da lesão, num contexto de precocidade de regresso á competição, com importante relação com objetivos desportivos imediatos e fatores económicos relevantes. Quais são, então, os principais fatores de risco para a ocorrência da lesão dos ITs? Dr. Paulo Beckert De entre os vários fatores de risco identificados como podendo estar na origem de lesões musculares dos IT destacaria como particularmente relevantes a existência de uma resistência são positivas (testes musculares específicos), o alongamento passivo é doloroso, a força muscular está diminuída e surge equimose tardia no caso de lesões mais graves. Existe uma classificação de lesões musculares. Qual é e de que modo condiciona o prognóstico? história prévia de lesão, a existência de fraqueza muscular, os desequilíbrios da força muscular (assimetrias direito-esquerdo e na relação IT /Qf) e a fadiga muscular. Dr. Gonçalo Borges concordas com estes e/ou queres acrescentar mais algum? Dr. Gonçalo Borges Para mim a principal causa ou fator de risco é o défice de flexibilidade e o desequilíbrio muscular ITs/Qf. Há outros fatores biomecânicos, como seja a má técnica de corrida com excesso de carga excêntrica dos ITs, por exemplo. A esta situação também se associa a retração da cadeia muscular anterior condicionando tilt da bacia e excessiva tensão nos ITs, em especial na fase de contacto do calcâneo no chão e na fase excêntrica de força dos ITs. A recidiva tem a ver com o mau diagnóstico da primeira lesão e depois insuficiente tratamento. Não esquecer que o maior fator de risco da recidiva continua a ser o mau tratamento e a retoma precoce da atividade desportiva. Isto pode levar a dor cronica. Esta também está muitas vezes associada a calcificação na zona cicatricial, a qual pode originar compressão nervosa. Eu sempre achei a fadiga o principal fator de risco inicial? Dr. Henrique Jones Fadiga implica sofrimento muscular por recuperação inadequada pontual ou cumulativa, significando lesões musculares microscópicas e alterações metabólico – energéticas do músculo. Neste contexto concordo que seja o ponto de partida para lesões de maior magnitude. Dr. Paulo Beckert Sem dúvida que a fadiga também é um fator de risco relevante para a ocorrência de lesões dos ITs como se pode verificar, por exemplo, pela elevada incidência de lesões ocorridas no período final das partidas de futebol. No entanto, acho que esta situação, embora não em termos absolutos, decorre sobretudo aquando da existência de fatores como os referidos anteriormente, em que a menor capacidade muscular (fraqueza) se pode refletir por menor tolerância ao esforço. R/ Gonçalo Borges A fadiga é um dos fatores de risco de qualquer lesão musculosquelética porque interfere com a proprioceção /coordenação, com o equilíbrio muscular agonista/antagonista. A fadiga favorece o estado de contratura muscular e este estado pode predispor a rotura num esforço de estiramento ou num arranque ou sprint mais agressivo. Dr. Paulo Beckert Existe mais que uma classificação para as lesões musculares. Na literatura anglo-saxónica, e mais comumente utilizada, as roturas musculares são classificadas em grau I, II ou III conforme a severidade. No grau I a dor e contratura, o edema e perda de função são mínimos e é de esperar períodos de recuperação de 7 a 20 dias. Nas de grau II um maior de fibras é atingido (rotura parcial), a dor e contratura são mais expressivas, o edema e derrame são moderados e a perda de função é mais significativa. O prognóstico para recuperação é superior a 21 dias, podendo atingir os 2 meses. O grau III corresponde a uma rotura completa de músculo com uma perda completa da função, com prognóstico de inatividade longo, podendo ir até 6 meses. A escola francesa propõe uma classificação de natureza histopatológica que varia entre os estádios 0 e 4 de acordo com a clínica, os achados ecográficos e as alterações histopatológicas nas fibras musculares e no tecido conjuntivo de suporte. É mais complexa e menos utilizada na clínica, embora pessoalmente seja a classificação que dou preferência. Já agora, quais são os sinais e sintomas da lesão aguda dos músculos ITs? Após sentir dor na face posterior da coxa, é normal o atleta referir que teve apenas uma contratura. Existe de facto esta entidade clínica neste contexto e localização ou trata-se apenas de uma mera racionalização por parte do atleta? Dr. Henrique Jones Embora a semiologia esteja dependente do mecanismo e da gravidade da lesão, normalmente as queixas englobam dor e desconforto aquando da contração e alongamento ativo do músculo envolvido, as manobras de contração contra Dr. Gonçalo Borges Esta queixa prende-se com o estádio ou tipo de lesão facilmente classificáveis. Uma lesão dos ITs pode ir de estiramento, com desorganização das fibras musculares e edema, até a hemorragia intersticial ou a rotura propriamente dita. A importância Revista de Medicina Desportiva informa Novembro 2012 · 23 do exame cuidadoso e de estudos auxiliares de diagnóstico são obrigatórios, sob pena do subdiagnóstico com facilitação de lesão futura. O atleta frequentemente sofre estiramento com dor na coxa, concomitante com um estado de contratura muscular tipo caibra, valorizando a dor pelo estado de contratura e não pela lesão dos ITs, admitindo que com repouso e relaxamento a situação melhora. Esta situação pode já ocorrer com rotura de algumas fibras muscular e desorganização tecidular, o que provoca cicatrização anómala e repercussões funcionais musculares. Dr. Henrique Jones A referência a contratura muscular (muitas vezes utilizada por atletas e médicos, entre outros) configura desde logo 2 conceitos. O 1.º é situação espástica localizada do músculo em virtude de uma contração muscular assíncrona de um grupo de fibras e o 2.º a noção de benignidade face á ausência de sensação por parte do atleta do típico rasgar, “da fisgada”. Assim, a referência a contratura apenas significa desconforto espástico do músculo, sem lesão anatómica, mas deveria ser substituídoa por mialgia espástica. Para melhor esclarecer o diagnóstico, recorre-se aos exames subsidiários de diagnóstico. Dr. Joaquim Agostinho, qual a utilidade da ecografia? Dr. Joaquim Agostinho Como em quase toda a patologia muscular, sobretudo aguda, a ecografia, dada a boa acuidade diagnóstica (sobretudo quando efetuada por operadores experientes e pelo menos 48 horas após o incidente), relativo baixo custo e acessibilidade, é o meio auxiliar de diagnóstico de primeira escolha para estudo deste tipo de patologias. Será útil a existência de um ecógrafo junta de uma equipa desportiva? Dr. Joaquim Agostinho Atendendo à longa curva de aprendizagem, ao elevado custo de um 24 · Novembro 2012 www.revdesportiva.pt aparelho com boa resolução espacial, e ao facto de poder existir algum grau de enviesamento diagnóstico quando o médico prescritor e o que efetua o exame são os mesmos (tenderá a confirmar a sua suspeita clínica), entendemos tal não ser necessário quando existir alguma facilidade no acesso a local de referência para execução destes exames. … e a RMN? Os sinais inflamatórios, o edema, são agora mais visíveis … Dr. Joaquim Agostinho A RMN é atualmente o gold standard no diagnóstico deste tipo de patologia. No entanto, o seu elevado custo e por vezes dificuldade de acesso, fazem com que deva ser reservada para os casos em que desde o início se suspeita de lesão grave, ou então quando a evolução clínica não se faz de acordo com o que o binómio clínica / ecografia faziam prever. Nas primeiras 48–72 horas após a lesão, qual deve ser a atuação imediata? Dr. Henrique Jones No caso de lesões mais graves (grau II / II da classificação de Durey e Carlson): repouso inicial (joelho em flexão), compressão e descarga (até ao 5º dia), seguida por mobilização suave a partir desta data. Durante todo esse período - gelo local, 20 minutos, com intervalos de 1 hora. A utilização da contensão, com uma simples coxa elástica é necessária … importante para minimizar a eventual hemorragia? Dr. Gonçalo Borges Eu uso sistematicamente a contensão elástica porque mantém o controlo sobre o atleta (por vezes ele esquece-se que tem uma lesão) mas, principalmente, porque o método PRICE se mantém como ação importante para o tratamento. O edema e a hemorragia, quando existem, são fatores deletérios sobre qualquer cicatrização porque afastam as fibras musculares entre si e afastam-nas da zona mais vascularizada levando a sofrimento isquémico. Todos os fatores que facilitem a remoção destas situações são benéficos, pelo que a compressão é o fator mecânico mais importante nesta situação. O pseudoquisto é uma das complicações. Porque é que tal acontece? Qual o tratamento e qual o melhor momento para o realizar? Dr. Henrique Jones O pseudoquisto muscular, ou hematoma quístico, é uma complicação de uma lesão muscular não diagnosticada, ou diagnosticada tardiamente (3–6 meses), sem tratamento inicial, ou com tratamento inicial desajustado, em que houve organização e “capsulização” do hematoma intramuscular. O tratamento, na minha opinião, é cirúrgico com os objetivos de drenagem do hematoma, excisão em bloco da formação capsular envolvente, excisão do tecido fibronecrótico local e restauro da continuidade das fibras musculares. O melhor momento para realização da cirurgia é logo que o diagnóstico se confirme face à limitação funcional impeditiva em termos desportivos. E o que dizer em relação à miosite ossificante? Dr. Henrique Jones A miosite ossificante é outra das complicações (felizmente rara) resultante da agressão muscular, organização do hematoma e evolução para calcificação, num indivíduo muitas vezes predisponente. Normalmente são assintomáticas, mas a miosite ossificante sintomática poderá ser limitativa para a atividade desportiva. O tratamento com ondas de choque radiárias, extra corporais (entre outros) poderá ter interesse, reservando-se a abordagem cirúrgica para último recurso. Alguém acha importante a infiltração com fatores de crescimento? Dr. Henrique Jones Acho importante a administração de PRP paralesional desde que exista diagnóstico correto, controle imagiológico adequado e tempo recomendado (entre o 2.º e 5.º dias), e só em algumas lesões de grau II e lesões grau III (na minha opinião todas as lesões de grau IV são cirúrgicas em atletas de competição), nomeadamente em termos de velocidade e qualidade cicatricial, num contexto de um programa de tratamento e regresso á competição adequados. Dr. Gonçalo Borges Não tenho experiência pessoal nesta área, mas do que leio e revejo em publicações nacionais e internacionais há uma confusão nos resultados desta ação. A lógica leva-me a pensar que a infiltração local com fatores de crescimento poderá ser útil numa lesão do tipo 2 e algumas 3 com rotura diagnosticada não esquecendo que a cicatriz pode ser mais exuberante obrigando a uma ação de reabilitação mais importante em termos de estiramento e realinhamento de fibras. Dr. Joaquim Agostinho tens colaborado com esta terapêutica com a ecografia? Dr. Joaquim Agostinho Não, no entanto alguns dos colegas que o fazem referem resultados promissores, sobretudo no encurtamento dos tempos (sempre longos) de recuperação destas lesões. de dor. A correção do gesto técnico também merece atenção. Após a cura clínica, segue-se, ou deveria seguir-se, o período de reabilitação muscular, o qual é importante, talvez determinante para o regresso desportivo … sem retorno. Dr. Henrique Jones Obviamente que o regresso á competição depende da gravidade da lesão e da evolução cicatricial. No entanto, sabemos que a fase de maturação se dá a partir do 21.º dia (por vezes até ao 60.º dia), o que implica que qualquer lesão de fibras musculares apenas deveria permitir a reinserção no gesto desportivo a partir dessa data. Dr. Gonçalo Borges A cura clínica deve ser entendida como a condição do atleta para a prática desportiva sem limitações, pelo que deve ser bem encaminhado para reabilitação. Esta deve ser total, com boa cicatrização, boa homogeneidade tecidular, com um mínimo de fibrose cicatricial e, mesmo que esta exista, que as estruturas muscular vizinhas tenham flexibilidade suficiente para compensar a rigidez fibrótica. O equilíbrio muscular em termos de ITs / Qf, com valores próximos dos 80 a 90%, é mandatário. Há quem aceite valores de 50 a 60%, o que é manifestamente insuficiente, considerando que este valor desequilibra a biomecânica da corrida e da estabilidade da bacia relativa à potência do vasto anterior em associação com o psoas-ilíaco, facilitando o tilt e desequilibrando de um lado para o outro. O programa de reabilitação obriga a mobilidade em amplitude completa, a qual varia de atleta para atleta consoante a atividade desportiva. Por exemplo, o guarda-redes de futebol ou o jogador de râguebi ao executar um pontapé de arremesso de bola para a frente tem a amplitude de flexão da anca com estiramento dos ITs muito maior que outra atividade noutro atleta. O mesmo acontece na fase aérea do salto em comprimento, onde os ITs estão em estiramento máximo e a flexão da anca é total. A cura clinica existe quando há flexibilidade e força muscular equilibradas e ausência Quando é que o futebolista está apto a treinar com bola, por exemplo? Dr. Paulo Beckert, qual a importância do isocinético neste momento? Dr. Paulo Beckert Os equipamentos isocinéticos são caros, pelo que existe pouca disponibilidade para a sua utilização pela grande maioria dos clínicos. O isocinético é um equipamento que permite quantificar a capacidade muscular de gerar força e fornece uma série de parâmetros uteis para identificar assimetrias ou desequilíbrios musculares que se encontram entre os principais fatores de risco para a ocorrência de lesões musculares dos IT. Na posse dos dados fornecidos pela dinamometria isocinética é possível objetivar e quantificar programas específicos de trabalho muscular com impacto na prevenção de lesões. A relação ITs/Qf, convencional ou funcional, é utilizada na avaliação de atletas. Os isocinéticos são importantes na avaliação de atletas e é pena que no momento atual não haja tanta disponibilidade para a sua utilização regular. … e a ecografia a RMN podem dar uma ajuda? … Dr. Joaquim Agostinho Sobretudo a RMN, muito sensível para a presença de edema muscular, permite adicionar confiança à decisão, que será sempre clínica, de “libertar” o atleta. Revista de Medicina Desportiva informa Novembro 2012 · 25 Depois, quando o atleta já está em competição deve existir a preocupação em promover a flexibilidade e o reforço muscular, mesmo considerando que o atleta não tem défices/desequilíbrios? Dr. Gonçalo Borges Esta preocupação deve ser permanente. Não esquecer que o trabalho de flexibilização dos ITs ou de qualquer outra estrutura muscular deve ser feito fora dos períodos de treino ou jogo. O alongamento para ganho de flexibilidade é um trabalho específico de ginásio e não de campo. Porque o alongamento do músculo lhe retira capacidade de contração por inibição, não deverá ser feito na fase de pré-treino ou pré-jogo, assim como na fase pós-jogo ou treino. Nesta fase as estruturas musculares estão em fase de fadiga, muitas vezes em estado de contração e isto pode provocar lesão muscular. São teorias, mas podem ter alguma razão de ser. E as conclusões para terminar Dr. Gonçalo Borges A lesão e cronicidade dos ITs tem relação com o défice de flexibilidade e o diagnóstico insuficiente. É difícil classificar uma lesão apenas com base no diagnóstico clinico. O estadiamento por RMN para mim torna-se importante. Em desporto, não diagnosticar porque o exame é caro ou raciocinar porque a ecografia pode ser suficiente não me parece lógico. Os exames não são tão diferentes em valor, e penso, sem interferir com o parecer do Dr. Joaquim Agostinho, a RMN deve dar uma imagem com caraterísticas bem mais evidentes para o estadiamento. O tratamento fisiátrico é mandatório, sendo obrigatório respeitar os tempos de recuperação e de retoma de atividade. Não esquecer que a recuperação ativa deve ser obrigatória na pré-retoma da atividade. Por último, também não posso esquecer de falar sobre trabalho muscular em potência, hoje muito frequente em atletas que usam esta força para potenciar a corrida e o sprint. Este estado de tensão e potência deve ser equilibrado com capacidade de distensão, para que não condicione rotura. 26 · Novembro 2012 www.revdesportiva.pt Dr. Paulo Beckert A despeito das inúmeras pesquisas realizadas neste campo, as lesões dos ITs continuam a ser um enorme desafio para os profissionais que lidam com estas lesões, assim como representam uma das principais causas de ausência desportiva por lesão em desportos como o futebol e o atletismo. Pela dificuldade que o seu tratamento representa e porque a existência de lesões prévias dos ITs é um dos principais fatores de risco para novas lesões é imperioso que nos focalizamos na prevenção primária deste tipo de lesões, incrementando a pesquisa na identificação de fatores de risco e na aplicação de programas de prevenção em contexto de treino Dr. Henrique Jones Na abordagem das lesões musculares, nomeadamente dos ITs, são fundamentais o diagnóstico clinico, a confirmação imagiológica, o tratamento rigoroso e o prognóstico adequado, com regresso á competição de maneira progressiva e adaptada. A questão atual é a de sabermos se os métodos terapêuticos atuais são suficientes ou se poderemos acelerar o processo de cicatrização muscular, nomeadamente através de oxigénio hiperbárico, injeções locais de diversos produtos e medicamentos, PRP, entre outros. Os objetivos serão sempre a cicatrização rápida e de qualidade que impeçam recidivas lesionais cada vez mais frequentes. Dr. Joaquim Agostinho A ecografia (como exame de primeira linha) e a RMN (enquanto “gold standard”) constituem sem dúvida meios auxiliares preciosos no diagnóstico e seguimento de qualquer lesão muscular, como a patologia dos músculos ITs. Não é de mais, no entanto, recordar sempre que são meios auxiliares de diagnóstico, pelo que o exame clínico e a boa história clínica (como ocorreu a lesão, tempo de treino ou competição decorridos, condições atmosféricas e do terreno, queixas prévias, fatores predisponentes, etc.) são fundamentais.