MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 PAULO HENRIQUE MULETA ANDRADE O EFEITO DE SESSÕES PERIÓDICAS DE ALONGAMENTO PASSIVO EM MÚSCULO SÓLEO DE RATOS MANTIDO EM POSIÇÃO DE ENCURTAMENTO POR IMOBILIZAÇÃO CASCAVEL 2004 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 PAULO HENRIQUE MULETA ANDRADE O EFEITO DE SESSÕES PERIÓDICAS DE ALONGAMENTO PASSIVO EM MÚSCULO SÓLEO DE RATOS MANTIDO EM POSIÇÃO DE ENCURTAMENTO POR IMOBILIZAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Fisioterapia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Cascavel. Orientador: Prof. Ms. Gladson Ricardo Flor Bertolini. CASCAVEL 2004 II MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 III TERMO DE APROVAÇÃO PAULO HENRIQUE MULETA ANDRADE O EFEITO DE SESSÕES PERIÓDICAS DE ALONGAMENTO PASSIVO EM MÚSCULO SÓLEO DE RATOS MANTIDO EM POSIÇÃO DE ENCURTAMENTO POR IMOBILIZAÇÃO Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do titulo graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. ............................................................................ Orientador: Prof. Ms. Gladson Ricardo Flor Bertolini Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE ............................................................................ Prof. Alberito Rodrigo de Carvalho Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE .............................................................................. Prof. Ms. Fernando Amâncio Aragão Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE Cascavel, 10 de fevereiro de 2004. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 IV DEDICATÓRIA A DEUS que através de seu Espírito Santo sempre me iluminou e guiou através das dificuldades. A minha Mãe que sempre me ajudou em minha vida, esteve ao meu lado em todos os momentos mesmo quando eu deixei de acreditar. Esta grande e única mulher nunca desistiu nem deixou de acreditar em seu filho. Ao meu Pai, homem de grande índole, que sempre foi exemplo aos seus filhos. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 AGRADECIMENTOS Agradeço de forma especial a todas as pessoas que nesta caminhada estiveram ao meu lado, me apoiando e motivando para nunca parar. Agradeço de maneira especial, Doutora Anna Raquel Gomes Silveira, por sua ajuda incondicional a todo o momento, pelo incentivo, ensinamentos, orientações e acima de tudo sua amizade. Agradeço ao meu grande Mestre e Amigo Professor Gladson Ricardo Flor Bertolini por sua dedicação, ajuda, orientações, ensinamentos e acima de tudo suas derrotas nos jogos de sinuca, voleibol, vôlei de praia e tênis de quadra. Não podendo esquecer de agradecer a motivação que me foi dada durante as dificuldades encontradas no decorrer do trabalho. A Professora Maria Lucia Bonfleur, pela disponibilidade com que sempre me atendeu, por seus ensinamentos e orientações durante a realização deste trabalho. Ao meu eterno Amigo Mauro Gemelli, por sua companhia, conselhos e ajuda nas vitórias sobre os professores nas diversas modalidades esportivas disputadas, sempre respeitando a idade avançada e o preparo físico de nossos mestres. Ao Professor Carlos Eduardo Albuquerque, por sua amizade e alegria que contagia seus alunos. E aos meus amigos de laboratório, Tiago Menon, Luana Muriel Casarolli, Leandro de Souza, Nubia Broetto Cunha, que me ajudaram durante o decorrer do trabalho nunca desistindo e sempre dedicados às suas tarefas. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 X SUMÁRIO TERMO DE APROVAÇÃO.....................................................................................III DEDICATÓRIA........................................................................................................IV AGRADECIMENTOS...............................................................................................V 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................1 1.1 JUSTIFICATIVA.........................................................................................................1 1.2 IMOBILIZAÇÃO DO TECIDO MUSCULAR ..........................................................2 1.3 OBJETIVOS ...............................................................................................................5 2 REVISÃO DA LITERATURA .........................................................................................6 2.1 MICRO E MACROESTRUTURAS DO SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO................................................................................................................6 2.1.1 COMPOSIÇÃO DAS MIOFIBRILAS E SEUS COMPONENTES...............7 2.1.2 REGIÕES DO SARCÔMERO..........................................................................8 2.1.3 O FILAMENTO DE ACTINA.............................................................................9 2.1.4 O FILAMENTO DE MIOSINA.........................................................................10 2.1.4.1 A cabeça da miosina .............................................................................11 2.1.4.2 A cauda da miosina ...............................................................................12 2.1.5 ULTRA-ESTRUTURA DO FILAMENTO CONJUNTIVO OU INTERMEDIÁRIO: TITINA........................................................................................12 2.2 HIPERTROFIA E HIPOTROFIA MUSCULAR....................................................14 2.3 EFEITOS DA IMOBILIZAÇÃO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO.....................19 2.4 INFLUÊNCIA DA FUNÇÃO MUSCULAR SOBRE SUA ADAPTAÇÃO A DIFERENTES ESTÍMULOS .........................................................................................21 2.5 ALTERAÇÕES DECORRENTES DO ENCURTAMENTO NA FIBRA MUSCULAR ESQUELÉTICA.......................................................................................22 2.6 ASPECTOS MORFOLÓGICOS E FUNCIONAIS ENVOLVIDOS NO ENCURTAMENTO E NO ALONGAMENTO DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS ..........................................................................................................................................23 2.7 EFEITOS DO ALONGAMENTO PASSIVO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO ..........................................................................................................................................25 2.8 ALONGAMENTO MUSCULAR NA MIOFIBRILOGÊNESE .............................26 2.9 A EFICÁCIA CLÍNICA DE PROTOCOLOS DE ALONGAMENTO NO TRATAMENTO DE MÚSCULOS ENCURTADOS ...................................................27 2.10 EFEITOS DA DURAÇÃO E FREQÜÊNCIA DO ALONGAMENTO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO .........................................................................................28 3 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................30 3.1 MATERIAIS UTILIZADOS .....................................................................................30 3.2 ANIMAIS E GRUPOS EXPERIMENTAIS ...........................................................31 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 XI 3.3 PROCEDIMENTO PARA A IMOBILIZAÇÃO......................................................32 3.4 PROTOCOLO PARA PROMOVER O ALONGAMENTO MUSCULAR..........34 3.5 SACRIFÍCIO DOS ANIMAIS E RETIRADA DOS MÚSCULOS.......................35 3.6 IDENTIFICAÇÃO DO NÚMERO DE SARCÔMEROS EM SÉRIE ..................39 3.7 ANÁLISE DOS RESULTADOS.............................................................................41 4 RESULTADOS ...............................................................................................................42 4.1 PESO DOS MÚSCULOS SÓLEOS .....................................................................42 4.2 COMPRIMENTO DOS MÚSCULOS SÓLEOS ..................................................43 4.3 QUANTIDADE DE SARCÔMEROS E TAMANHO DOS SARCÔMEROS ....44 5 DISCUSSÃO...................................................................................................................47 6 CONCLUSÃO.................................................................................................................51 REFERÊNCIAS..................................................................................................................53 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 LISTA DE ABREVIATURAS ADM – Amplitude de Movimento AP – Antero-posterior cm – Centímetros DNA - Ácido desoxirribonucléico Fig. – Figura g - Grama IGFs - Insulin-like growth factors ml – Mililitros mm – Milímetros MML - Meromiosina leve MMP - Meromiosina pesada MSE - Músculo sóleo esquerdo MSD - Músculo sóleo direito n. – Número nm – Nanômetro NaCl – Cloreto de sódio p. – Página RNAm – Ácido ribonucléico s - Segundo ìm – Micrômetros XII MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 XIII LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 – Seqüência de como fazer o modelo para imobilização da pata do rato..........................................................................................................................33 FIGURA 2 – Procedimento para alongamento do músculo sóleo esquerdo, utilizando fita adesiva para manter a pata do animal em flexão dorsal máxima (vista anterior).........................................................................................................34 FIGURA 3 – Procedimento para alongamento do músculo sóleo esquerdo, utilizando fita adesiva para manter a pata do animal em flexão dorsal máxima (vista lateral)...........................................................................................................35 FIGURA 4 – Incisão posterior da pata esquerda, com secção do tendão calcâneo, rebatendo as estruturas do músculo tríceps sural, expondo o músculo sóleo esquerdo e sua origem logo abaixo da articulação do joelho.................................36 FIGURA 5 – Exposição do músculo sóleo esquerdo via incisão posterior, com desinserção da origem do muscular e permanência de sua inserção junto ao tendão tríceps sural................................................................................................37 FIGURA 6 – Avaliação do peso muscular em balança analítica............................38 FIGURA 7 – Avaliação do comprimento muscular com auxílio de paquímetro da marca Tecnolub e lupa fabricada por Stemi DRC-Zeiss.........................................40 Figura 8 – Avaliação do número de sarcômeros....................................................41 Figura 9 – Fórmula para avaliação do comprimento e número total de sarcômeros em série.................................................................................................................44 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 XIV RESUMO A prática clínica do alongamento muscular, dentro da cinesioterapia é constantemente utilizada pelos fisioterapeutas. Porém, algumas vezes os conceitos básicos relacionados à capacidade de adaptação da estrutura muscular esquelética é desconhecida por este profissional. Isto limita muitas vezes sua intervenção frente à prevenção da instalação de uma retração ou como tratamento de um encurtamento muscular já instalado. Sabe-se que o alongamento muscular, realizado diariamente durante 30 minutos, de modo passivo e contínuo, em músculos imobilizados na posição encurtada, impede a perda significativa do número de sarcômeros em série nas fibras musculares, prevenindo o encurtamento do músculo. De modo geral, os programas de exercícios de alongamento muscular utilizados em academias e clinicas de fisioterapia são realizados em dias alternados ou uma vez por semana. No entanto, ainda é motivo de controvérsia como a fibra muscular, particularmente o número de sarcômeros, comporta-se a esse tipo de alongamento intermitente. Assim, será analisado o efeito do alongamento muscular intermitente, realizado de modo passivo durante quarenta min. a cada 72 h, no músculo sóleo do rato, imobilizado em posição de encurtamento (flexão plantar), durante três semanas consecutivas e do músculo apenas alongado a cada 72 h. Antes de cada sessão de alongamento, a imobilização será retirada e recolocada ao término da mesma. Foram avaliados, peso dos músculos, comprimento final dos músculos, tamanho e quantidade total de sarcômeros. Foram utilizados 24 ratos Wistar, divididos aleatoriamente em quatro grupos. Com o objetivo de se induzir o encurtamento muscular, os ratos do grupo 1 (n=6) ficaram com o músculo sóleo da pata posterior esquerda imobilizado em posição encurtada durante três semanas consecutivas. Para avaliação do efeito do alongamento a cada 72 h, o grupo 2 (n=6) foi imobilizado em posição encurtada e submetido ao alongamento passivo (flexão dorsal) durante 40 min., a cada 72 h. Para avaliar o efeito isolado do alongamento intermitente, o grupo 3 (n=6) foi submetido ao alongamento, também durante quarenta min. a cada 72, permanecendo livres na gaiola durante o resto do período nas três semanas consecutivas, o grupo 4 (n=6) considerado o grupo controle, nele os animais não foram submetidos a nenhum tipo de imobilização, foram apenas sacrificados e dissecados ao final dos 21 dias. A pata posterior direita dos animais de todos os grupos não foi submetida a nenhum tipo de imobilização e seu músculo sóleo também foram analisados. Os resultados apresentados mostram que o alongamento a cada 72 horas não foi eficaz para prevenir o encurtamento muscular do músculo sóleo imobilizado em posição de encurtamento, mas promoveu aumento considerável de proteínas contráteis nos músculos apenas alongados. Assim protocolos que utilizam o alongamento muscular a cada 72 h, são ineficazes para prevenir o encurtamento muscular, mas promovem o aumento de amplitude de movimento (ADM) em músculos normais. Palavras chaves: 1)Alongamento muscular; 4)sarcômeros. muscular; 2)imobilização; 3)encurtamento MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 XV ABSTRACT The practice clinic of the muscular stretching, inside of the cinesioterapia it is used constantly by the physiotherapists. However, the basic concepts related to the capacity of adaptation of the skeletal muscular structure are sometimes ignored by this professional. This limits your a lot of times intervention front to the prevention of the installation of a shortening or as treatment of a muscular short already installed. It is known that the muscular stretching, accomplished daily for 30 min., in a passive and continuous way, in muscles immobilized in the shortened position, it impedes the significant loss of the sarcomere number in series in the muscular fibers, preventing the shortening of the muscle. In general, the programs of exercises of muscular prolongation used in academies and you practice medicine of physiotherapy they are accomplished in alternate days or once a week. However, it is still reason controversy for as the muscular fiber, particularly the sarcomere number, behaves to that type of intermittent stretching. Like this, the effect of the intermittent muscular stretching will be analyzed, accompli shed in passive way during forty min. to each 72 h, in the muscle soleos of the mouse, immobilized in shortening position (flexion to plant), for three consecutive weeks and of the muscle just prolonged to each 72 h. before each stretching session, the immobilization will be removed and put back at the end of the same. They were appraised, I weigh of the muscles, final length of the muscles, size and total amount of sarcomere. 24 mice were used Wistar, divided aleatoriamente in four groups. With the objective of inducing the muscular shortening, the mice of the group 1 (n=6) they were with the muscle soleos of the left subsequent paw immobilized in position shortened for three consecutive weeks. For evaluation of the effect of the prolongation to each 72 h, the group 2 (n=6) it was immobilized in shortened position and submitted to the passive stretching during 40 min., to each 72 h. To evaluate the isolated effect of the intermittent stretching, the group 3 (n=6) it was submitted to the stretching, also duri ng forty min. to each 72, staying free in the cage during the rest of the period in the three consecutive weeks, the group 4 (n=6) considered the group it controls, in him you encourage they were not them submitted the any immobilization type, they were just sacrificed and dissected at the end of the 21 days. The paw subsequent right of the animals of all the groups was not submitted the any immobilization type and your muscle soleos they were also analyzed. The presented results show that the stretching every 72 hours it was not effective to prevent the muscular shortening of the muscle sóleo immobilized in shortening position, but it just promoted considerable increase of contractile proteins in the muscles prolonged. Like this protocols that use the muscular stretching to each 72 h, are ineffective to prevent the short muscular, but they promote the increase of movement width (ADM) in normal muscles. Key words: 4)sarcomere. 1)muscular Stretching; 2)immobilization; 3)muscular shorting; MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 1 INTRODUÇÃO 1.1 JUSTIFICATIVA Dúvidas concernentes à resposta do músculo esquelético a diferentes estímulos, levou a formulação de um trabalho, no qual se estuda o efeito de um protocolo de alongamento muscular sobre o músculo sóleo de ratos imobilizados em posição de encurtamento. A prática clínica do alongamento muscular, dentro da cinesioterapia é constantemente utilizada pelos fisioterapeutas. Porém, algumas vezes os conceitos básicos relacionados à capacidade de adaptação da estrutura muscular esquelética é desconhecida por este profissional. Isto limita muitas vezes sua intervenção frente à prevenção da instalação de uma retração ou como tratamento de um encurtamento muscular já instalado. Questões como, qual o tempo de alongamento é o ideal, qual é a freqüência com que deve se realizar um alongamento muscular, qual a melhor forma de promover um alongamento muscular, são freqüentes. Embora duas ou três sessões semanais de alongamento muscular sejam freqüentemente recomendadas como procedimento terapêutico para tratar ou prevenir encurtamentos musculares em clínicas de fisioterapia e academias, não se sabe que tipo de mudanças ocorrem nas fibras do músculo esquelético encurtado submetido a sessões periódicas de alongamento. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 2 Como o alongamento muscular está envolvido com o aumento da síntese protéica muscular, avaliar as respostas do sistema músculo-esquelético, frente a um protocolo de alongamento, mostra-se um bom modelo para examinar a eficácia desse protocolo aplicado à prevenção do encurtamento muscular. 1.2 IMOBILIZAÇÃO DO TECIDO MUSCULAR As fraturas ósseas, rupturas ligamentares, lesões musculares, como também doenças degenerativas ou articulares, podem exigir, após cirurgia ou tratamento conservador, imobilização dos membros, que é comumente realizada por meio da aplicação de ataduras gessadas (APPELL, 1986). O músculo é o elemento do corpo humano, que atua acionando voluntária ou involuntariamente os segmentos corpóreos. A musculatura estriada, de contração voluntária, é denominada musculatura esquelética (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). A função do músculo esquelético depende de atividade proprioceptiva intacta, inervação motora, carga mecânica e mobilidade articular. O músculo é o mais mutável dentre os tecidos biológicos e responde a demandas normais ou alteradas com adaptações morfológicas e funcionais (APPELL, 1986; ROSE & ROTHSTEIN, 1982; LIEBER, 1992; SILVEIRA PÉROT & GOUBEL, 1994). MAREY (1887), observou em seu experimento, de transferência do tendão do músculo tríceps para uma porção mais distal do calcâneo, a capacidade de MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 3 adaptação do músculo a diferentes graus de extensão ou comprimento muscular, produzindo assim alongamento no músculo poucas semanas após a cirurgia. ALDER et al. (1958) fizeram uma inversão no estudo de MAREY, ao invés de transferir a inserção do tendão do músculo tríceps sural distalmente, o fizeram proximalmente, e observaram que o músculo esquelético também pode diminuir o comprimento e a extensibilidade, quando mantido em posição encurtada. Nas décadas de 60 e 70 os trabalhos experimentais buscaram compreender e elucidar como ocorria o processo de crescimento muscular durante o desenvolvimento. Foi comprovado que o músculo aumentava seu comprimento por meio da adição de sarcômeros em série ao longo das fibras musculares (GOLDSPINK, 1968; WILLIAMS & GOLDSPINk, 1971). Assim o comprimento fisiológico da fibra muscular é mantido pelo equilíbrio entre síntese e degradação de proteínas contráteis, e a posição do músculo durante a imobilização é um fator importante nesse balanço protéico muscular (GOLDSPINK, 1968). Sabe-se que a imobilização em posição de encurtamento promove a perda de sarcômeros em série ao longo da fibra, causando a diminuição do comprimento muscular. Sugere-se que a diminuição do número de sarcômeros ocorra em resposta a alteração do comprimento funcional ideal do sarcômero, o que prejudica o mecanismo de acoplamento actina – miosina. Assim, a perda de sarcômeros em série ocorreria para que os sarcômeros restantes mantivessem um comprimento funcional ideal. O mecanismo oposto ocorreria no músculo imobilizado em posição de alongamento, onde ocorre a adição de sarcômeros em série para restauração do comprimento ideal do sarcômero (WILLIANS, 1988). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 4 A adaptação do comprimento muscular é profundamente influenciada pela posição durante a imobilização, sendo o encurtamento muscular adaptativo e ou contraturas após períodos de imobilização, paralisias, espasticidades ou dor, causas da limitação da ADM e alterações na performance das atividades motoras diárias (WILLIANS, 1988; WILLIANS & GOLDSPINK, 1983; GOLDSPINK, 1968). Além das alterações no comprimento do músculo, as diminuições de força e da massa muscular, são outras importantes adaptações à imobilização, com alterações significativas identificadas já nas primeiras 48 h, onde o músculo sóleo de ratos imobilizado em posição de encurtamento, apresentou perda de 37% da massa muscular, após sete dias de imobilização, enquanto que a imobilização em posição de alongamento não causou nenhuma atrofia (GOLDSPINK, 1968). Paralelamente a atrofia das fibras musculares, a imobilização em posição encurtada também acarreta aumento da proliferação do tecido conjuntivo, causando uma diminuição da extensibilidade do músculo (WILLIANS, 1988; WILLIANS & GOLDSPINK, 1983). Estes achados têm implicações extremamente importantes para os fisioterapeutas. O conhecimento e o entendimento dessas adaptações permitem que o fisioterapeuta seja mais efetivo na avaliação e tratamento, compreendendo os efeitos fisiológicos da intervenção imposta e, respondendo melhor às necessidades individuais do paciente (ROSE & ROTHSTEIN, 1982). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 5 1.3 OBJETIVOS O objetivo deste estudo consiste em analisar o efeito do alongamento intermitente, realizado durante 40 min, a cada 72 h, no músculo sóleo mantido em posição de encurtamento e em músculos normais apenas submetidos ao alongamento. Para isso será analisado, peso muscular, comprimento muscular e o número de sarcômeros em série nas fibras musculares. 6 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 MICRO E MACROESTRUTURAS DO SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO O movimento intencional é uma característica fundamental do comportamento humano. O movimento é realizado biomecanicamente pela contração dos músculos esqueléticos atuando dentro de um sistema de alavancas e polias formado pelos ossos, tendões e ligamentos. A individualidade de uma pessoa é expressa pelo padrão de contrações musculares que produz as expressões faciais, posturas corporais, desempenho de habilidades motoras delicadas tais como datilografar ou tocar um instrumento musical, e a realizar atividades motoras grosseiras (p. ex., andar e correr) (SMITH, WEISS & LEHMKUHL, 1997). O músculo esquelético é um dos tipos de células mais altamente ordenado e estruturalmente especializado. Nos últimos anos, tem sido cada vez mais reconhecido que o músculo estriado possui um citoesqueleto (SMITH, WEISS & LEHMKUHL, 1997). SMITH, WEISS & LEHMKUHL (1997) definem o citoesqueleto do músculo estriado esquelético como o sistema de componentes regulatórios que fornece a verdadeira estrutura física para a contração muscular. Os músculos esqueléticos são compostos de fibras musculares que são organizadas em feixes. Cada feixe de fibras musculares é chamado fascículo. Os MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 7 miofilamentos compreendem as miofibrilas, que por sua vez são agrupadas juntas para formar as fibras musculares. O comprimento de uma fibra varia de poucos milímetros (mm) a 60 ou 70 centímetros (cm), e o diâmetro de uma fibra muscular individual de 50 a 100 micrômetros (ìm). Cada fibra possui uma cobertura ou membrana, o sarcolema, e é composta de uma substância semelhante à gelatina, o sarcoplasma. Centenas de miofibrilas contráteis e outras estruturas importantes, tais como as mitocôndrias e o retículo sarcoplasmático, estão inclusas no sarcoplasma (SMITH, WEISS & LEHMKUHL, 1997). 2.1.1 COMPOSIÇÃO DAS MIOFIBRILAS E SEUS COMPONENTES Cada fibra muscular geralmente é composta de várias unidades pequenas chamadas miofibrilas. As miofibrilas variam em diâmetro de 1 a 2 ìm. Elas são agrupadas em feixes e seguem a extensão da fibra muscular. Sucessivamente, cada miofibrila é composta de um filamento longo e fino de sarcômeros ligados em série. Os sarcômeros representam a unidade funcional de um músculo. Eles medem aproximadamente 2,3 ìm de comprimento e repetem-se em um padrão específico para cada miofibrila. No final de cada sarcômero está um limite denso denominado linha Z. O termo linha Z é derivado da palavra alemã zwischen, que significa “entre”, assim, o segmento entre duas linhas sucessivas representa a unidade funcional de uma miofibrila (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). A miofibrila contrátil é composta de unidades, e cada unidade é denominada sarcômero, a porção entre duas linhas-Z. Foram identificados MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 8 primeiramente dois tipos de filamentos, um fino e um grosso, dentro do sarcômero. De acordo com a teoria do filamento deslizante, esses filamentos foram considerados como elementos à base de proteína responsáveis por causar contração (encurtamento, relaxamento e alongamento) do músculo (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). Durante os anos 70 e 80, um terceiro ligamento conectivo foi descoberto, e o mesmo foi denominado titina. No nível de análise molecular, a composição desses três filamentos pode ser determinada. Os filamentos são feitos de uma proteína que é formada por uma seqüência de aminoácidos produzidos dentro da célula muscular. A síntese dos aminoácidos está sob controle dos cromossomas no núcleo da célula muscular. Esses cromossomas são uma forma espiralada de ácido desoxirribonucléico (DNA) que contém a seqüência de genes necessária para informar ao músculo como ordenar os aminoácidos corretamente (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). 2.1.2 REGIÕES DO SARCÔMERO Existem cinco bandas ou zonas bem definidas dentro de um sarcômero. A linha Z ou disco Z forma a linha densa em cada extremidade do sarcômero. Vista em alta resolução, a linha Z tem uma aparência de ziguezague. Essa aparência ocorre, em parte, porque os filamentos finos de cada lado da linha Z não são colineares. Em vez disso, eles são ramificados pela metade da separação lateral dos filamentos. Essa configuração de duas linhas tem a capacidade de adaptar MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 9 considerável variação no diâmetro miofibrilar, aumentando ou diminuindo a separação lateral entre os filamentos. Essa maleabilidade estrutural pode, possivelmente, contribuir para a elasticidade dos músculos (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). Adjacente à linha Z está à banda I, uma banda opticamente menos densa das estrias musculares, quando passada através da banda I do músculo, a velocidade da luz emergente é isotrópica (a mesma em todas as direções). A banda I contém filamentos de actina, filamentos de titina e pontes I, mede aproximadamente 1,5 ìm de comprimento. As áreas escuras do sarcômero são chamadas de bandas A, esta região é assim chamada porque uma onda de luz que passa através da banda A é anisotrópica, medem aproximadamente 1,0 ìm e correspondem ao comprimento dos filamentos grossos (filamentos de miosina). O centro da banda A é ocupado por uma área relativamente menos densa e mais clara, a zona H, encontrada entre as extremidades dos filamentos finos, por isso, seu tamanho depende do comprimento do músculo ou da extensão da sobreposição dos filamentos. Por fim, há a linha M. Essa estrutura densa e transversa é encontrada no centro do sarcômero que corresponde a várias pontes M paralelas, estritamente espaçadas (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). 2.1.3 O FILAMENTO DE ACTINA O filamento de actina é complexo, sendo formado por três componentes protéicos: actina, tropomiosina e troponina (GUYTON & HALL, 1996). O filamento MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 10 de actina também chamado de filamento fino, tem um diâmetro de 5 ou 6 nm e um comprimento de aproximadamente 1 ìm. Em baixa resolução, o filamento lembra um colar de pérolas de dois cordões entrelaçados um sobre o outro, sendo regular, e semi-aleatório. As outras proteínas (troponina, tropomiosina e nebulina) que compõem o filamento fino, junto com a actina, servem para regular a ligação dos filamentos (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). O arcabouço do filamento de actina é uma molécula protéica com duas cadeias de actina F. Essas duas cadeias são enroladas em hélice, do mesmo modo a molécula de miosina, mas com uma revolução completa a cada 70 nm (GUYTON & HALL, 1996). Cada cadeia da dupla hélice de actina F é formada por moléculas polimerizadas de actina G, cada uma com peso molecular de cerca de 42.000. Existem 13 moléculas em cada revolução de uma das cadeias da hélice, presa a cada actina G. Os sítios ativos das duas cadeias de actina F da dupla hélice são escalonados, resultando em um sítio ativo a cada 27 nm de todo o filamento de actina (GUYTON & HALL, 1996). 2.1.4 O FILAMENTO DE MIOSINA O filamento grosso é a miosina, mede entre 10 a 15 nm de diâmetro e aproximadamente 1,5 ìm de comprimento. Por essa razão, é mais grosso e menor que o filamento de actina (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 11 O filamento de miosina é formado por muitas moléculas de miosina, cada uma tendo peso molecular de cerca de 480.000. A molécula de miosina é formada por seis cadeias polipeptídicas, duas cadeias pesadas, cada uma com peso molecular da ordem de 200.000, e por quatro cadeias leves, cada uma com peso molecular de cerca de 20.000. As duas cadeias pesadas se enrolam, em espiral, uma com a outra para formar uma dupla hélice. Uma extremidade de cada uma dessas cadeias é dobrada para formar uma estrutura polipeptídica globular, chamada de cabeça da miosina. Desse modo existem duas cabeças livres, situadas lado a lado na ponta de uma dupla hélice da molécula de miosina; a porção alongada da hélice espiralada é chamada de cauda da miosina (GUYTON & HALL, 1996). 2.1.4.1 A cabeça da miosina A pesquisa tem mostrado que a meromiosina pode ser dividida em dois subfragmentos, S-1 e S-2. O subfragmento S-2 é o segmento da haste de miosina situado entre a cabeça e o segmento distal da haste. Em comparação, o subfragmento S-1 é o segmento da molécula de miosina que compreende a cabeça, é conhecido também por ser feito de cadeias leves e cadeias pesadas. Cada segmento de cadeia pesada que se estende dentro da cabeça é divisível em três frações. Além de cadeia pesada, cada cabeça contém duas, às vezes, três cadeias leves. Essas cadeias leves têm significância na ligação molecular e na coordenação das cabeças (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 12 2.1.4.2 A cauda da miosina Através da descoberta de certas enzimas, a molécula de miosina pode ser dividida em vários fragmentos ou subfragmentos. Quando analisada com maior detalhe, a molécula de miosina é vista como tendo duas partes: cauda e cabeça. A cauda é muitas vezes classificada como a haste ou a região da haste da molécula de miosina. Esse segmento da molécula de miosina, que consiste na extremidade distal da haste de miosina, também é conhecida como meromiosina leve (MML). A MML não tem a habilidade para interdigitar-se ou ligar-se com o filamento de actina. Conectada a MML está a meromiosina pesada (MMP). Esse componente da molécula de miosina compreende o segmento proximal da haste e a cabeça. Em comparação a MML, a MMP possui a habilidade para interdigitar-se com a actina (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). 2.1.5 ULTRA-ESTRUTURA DO FILAMENTO CONJUNTIVO OU INTERMEDIÁRIO: TITINA Os dois conjuntos de filamentos descontínuos e inextensíveis movem-se ou deslizam um sobre o outro, variando o grau de sobreposição, enquanto não sofrem mudanças nas próprias extensões. Contudo, a clássica ilustração da organização de um sarcômero, não descreve como os filamentos de miosina parecem flutuar e o que segura os sarcômeros juntos. É difícil encontrar resposta MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 13 para essas questões baseando-se na ilustração clássica, onde segunda a mesma, a estrutura do sarcômero parece ilógica.Todavia, uma característica constante do músculo é a posição central da miosina no sarcômero, no meio, entre as linhas Z. Essa posição é mantida até quando o sarcômero é alongado, devido à presença de um filamento conectivo conhecido como titina (SMITH, WEISS & LEHMKUHL 1997). A titina constitui aproximadamente 10% de massa de miofibrila. A pesquisa indica que cada molécula de titina estende-se da linha Z (o final do sarcômero) até a linha M (o centro do sarcômero). Além disso, esses estudos indicam que a porção de banda A da titina é firmemente ligada ao filamento grosso. Por isso, quando o sarcômero é alongado, a região da molécula de titina encontrada na banda-A comporta-se como se fosse rigidamente ligada aos filamentos grossos (FURST et al. 1988). Em comparação, a região da molécula de titina que se liga às linhas Z comporta-se elasticamente. Há vários fatores que, teoricamente, contribuem para a enorme extensibilidade da titina. Primeiro, a titina é rica no aminoácido prolina que quebra as cadeias á-helicoidais que, geralmente, conferem rigidez aos polipeptídeos (POLLACK, 1990). Segundo, como conseqüência, uma simples molécula de titina não contem nenhuma estrutura á -helicoidal, como substituto, consiste de espirais aleatórias (TRINICK, KNIGHT & WHITING, 1984). Terceiro, um simples peptídeo de 3 milhões de daltons pode ter um comprimento de até 7 ìm. Contudo, em repouso o comprimento do sarcômero é de aproximadamente 2,4 ìm e em estiramento máximo é de 7 ìm. Baseado nessa informação, tem-se sugerido que a titina deve ser compactamente dobrada dentro de um sarcômero MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 14 (MARUYAMA, 1986). Dessa forma, quando o alongamento é inicialmente aplicado no músculo, o segmento de titina entre o final do filamento de miosina e a linha Z é o principal contribuinte para o comprimento aumentado do sarcômero (TROMBITAS et al. 1993). Uma vez que o limite do comprimento desse filamento de titina é atingido, o recrutamento de segmentos adicionais de titina que são “dobrados” ou de algum modo ligados ao filamento de miosina é responsável por um aumento extra no comprimento (WANG et al. 1991). 2.2 HIPERTROFIA E HIPOTROFIA MUSCULAR As fibras musculares esqueléticas são classificadas como células permanentes, portanto, na vida pós-natal, não tem a capacidade de sofrer proliferação. Esta condição é determinada durante a embriogênese quando os mioblastos se fundem por ativação gênica e formam as células musculares esqueléticas que são multinucleadas. Ocorrida esta fusão, os núcleos não mais podem replicar seu DNA. Este estado de multinucleação determina um conhecido aspecto funcional das fibras musculares adultas caracterizados como domínios nucleares (SVERZUT & CHIMELLI, 1999). Através destes domínios nucleares torna-se definido topograficamente um respectivo volume celular para cada núcleo, ou seja, cada núcleo torna-se responsável pela homeostasia de uma região correspondente. Apesar das células musculares esqueléticas não serem capazes de se dividir, podem sofrer variações MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 15 em três dimensões: no comprimento longitudinal, no volume da secção transversal e em número. A variação do volume celular é dependente da síntese de proteínas contráteis que determina, por sua vez, aumento de miofibrilas em número e em volume. O crescimento longitudinal é determinado pelo recrutamento de novos mioblastos que se fundirão às fibras preferencialmente na porção terminal, aumentando, desta forma, o conteúdo protéico e o número total de núcleos da célula. O aumento do número total de células no músculo é dependente da incorporação de novos mioblastos no espaço intersticial (SVERZUT & CHIMELLI, 1999). Há muita controvérsia na literatura, e de modo geral, a hipertrofia muscular tem sido associada a duas alterações estruturais: a hipertrofia da fibra muscular (aumento no diâmetro de uma fibra preexistente) e a hiperplasia (aumento no número de fibras musculares) (MINAMOTO & SALVINI, 2000). A hipertrofia do músculo esquelético pode ser considerada como um aumento do número de miofibrilas que compõem a fibra muscular, aumentando seu diâmetro muscular e gerando uma maior capacidade, de produção de força contrátil. A hipertrofia ocorre durante o crescimento do músculo e em resposta a exercícios intensos de sobrecarga muscular, como, por exemplo, nos exercícios contra-resistidos, nos quais o indivíduo executa um movimento contra uma resistência (MINAMOTO & SALVINI, 2000). Nas células permanentes, o processo de proliferação celular está impedido por impossibilidade de duplicação do DNA celular. Portanto, dependendo do estímulo, estas células deveriam somente sofrer modificações de volume que são identificáveis ao microscópio de luz por aumento da área de secção transversal MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 16 das fibras. Sabe-se que esta resposta é dependente de um balanço positivo entre síntese e degeneração protéica dado por aumento da síntese e redução da degradação protéica (SVERZUT & CHIMELLI, 1999). A polêmica gira em torno da hiperplasia, onde os resultados e as interpretações da literatura são mais polêmicos, pois, embora ela tenha sido observada em gatos submetidos ao treinamento contra-resistido (GONYEA, 1980), esse mesmo efeito não foi observado por GOLLNICK et al. (1981) em músculo de ratos, nem por TIMSON et al. (1985) em camundongos, nos quais um treinamento levou a hipertrofia das fibras, mas não à hiperplasia. Em humanos, alguns estudos mostraram hiperplasia somente após treinamento contra-resistido realizado com intensa sobrecarga muscular (LARSSON & TESCH, 1986). ANTONIO & GONYEA (1993) propõem que a fibra muscular submetida ao treinamento intenso é capaz de se dividir, e que cada um desses novos fragmentos possa se desenvolver e tornar-se uma nova unidade funcional, após receberem inervação própria. Inferem, que as células satélites, que estão intimamente relacionadas à regeneração dos músculos esqueléticos após lesão, também estão envolvidas no processo de hiperplasia da fibra muscular. Mais recentemente, alguns autores vêm sugerindo a participação das células satélite no desenvolvimento de hipertrofia muscular não diretamente ligada à lesão celular. O princípio fundamental, apontado por estes autores e que dá suporte a participação das células satélite na hipertrofia, advém do conceito de domínio nuclear: se um núcleo deve controlar um determinado volume de citoplasma, a fusão de célula tronco à fibra remanescente deveria ser necessária nas condições em que haveria aumento do conteúdo citoplasmático (hipertrofia), MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 17 promovendo em paralelo a manutenção dessa relação (núcleo/citoplasma). Porém, ainda existem poucos experimentos que empregaram metodologia suficiente para dar suporte a esta afirmação (ADAMS & McCUE, 1997; ALBERNETHY et al. 1994; PHELAN & GONYEA, 1997; SVERZUT & CHIMELLI, 1999). As células satélites são células miogênicas quiescentes, mononucleadas, localizadas entre a lamina basal e o sarcolema. Elas apresentam a habilidade de se diferenciarem em mioblastos, sendo sua principal função a regeneração da fibra muscular após a lesão. Elas representam 2-10% do total de mionúcleos associados às fibras. Encontram-se distribuídas igualmente ao longo da fibra muscular, principalmente na região das junções neuromusculares, mas seu número parece variar com o tipo de fibra e com a espécie do animal, são consideradas como um reservatório de células progenitoras (MAURO, 1961). O processo de hiperplasia caracteriza um estado reversível de adaptação celular em que o número final de células está aumentado em relação ao inicial, proporcionando um aumento no volume total do órgão. No músculo esquelético, esta condição é estritamente dependente da participação das células satélite. Estudos recentes têm demonstrado uma estreita relação entre lesão celular e hiperplasia. Na primeira semana de exercício excêntrico, observaram que 25-50% das fibras musculares apresentavam algum grau de lesão morfológica e, que associado a isso, havia um aumento de cerca de 27% no total do número de fibras musculares. Nas semanas consecutivas o índice de lesão celular diminuiu, porém os valores de hiperplasia não declinaram significantemente em correspondência aos anteriores (WHALEN et al. 1990). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 18 A hipertrofia ainda pode ser causada pela deposição de sarcômeros em série ao longo das miofibrilas e, em conseqüência, ao longo do comprimento das fibras. O local específico dos sarcômeros recentemente sintetizados é perto da junção músculo-tendão. O alongamento muscular promove um acúmulo de miosina RNAm oxidativa lenta na terminação das fibras. Esses acúmulos locais de RNAm ajudam na síntese de proteínas contráteis, na rápida união de sarcômeros e na extensão das miofibrilas. Em especial, um grande espaço citoplasmático contendo polissomas abre-se entre as miofibrilas e o sarcolema da junção de miotendão de fibras alongadas e muitas miofibrilas são encontradas (DIX & EISENBERG, 1990). Algumas substâncias parecem estar envolvidas na resposta adaptativa citada anteriormente. Basicamente, são hormônios como insulina e glucagon, hormônio do crescimento e fatores de crescimento como os insulin-like growth factors (IGFs), hormônios da tireóide e testosterona. De forma genérica, a insulina representa um fator do balanço protéico, pois estimula o transporte de aminoácidos na fibra muscular e estimula a síntese de proteínas mofibrilares diretamente, assim como, inibe a degradação protéica conjuntamente com o glucagon. Os hormônios da tireóide participam da síntese protéica, quando se encontram em níveis baixos, enquanto o excesso ou a falta desse hormônio determina estados proteolíticos. A ação do Hormônio do Crescimento (GH), na promoção do crescimento e, portanto hipertrofia, é dependente da ação dos IGFs (SVERZUT & CHIMELLI, 1999). O crescimento muscular durante a fase pós-natal é regulado por meio de um controle hormonal sistêmico, principalmente pela insulina e pelo hormônio do MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 19 crescimento (GH). Já a hipertrofia observada no músculo do individuo adulto, associado ao treinamento físico, é decorrente do aumento da tensão muscular e ocorre por um controle local (MINAMOTO & SALVINI, 2000). Apesar da importância dos hormônios para a hipertrofia muscular, sabe-se que há uma complexa interação de outros fatores no crescimento do músculo esquelético, como, por exemplo: fatores genéticos, nutricionais e atividade física (VANDENBURGH, 1987). Como exemplo dessa complexa interação entre os fatores relacionados à hipertrofia muscular diz-se, que a hipertrofia não ocorreria de forma eficiente se o indivíduo apresentasse níveis hormonais e desenvolvesse atividade física adequada, mas se tivesse uma deficiência nutricional importante, o que inviabilizaria o fornecimento dos diversos aminoácidos necessários à síntese protéica (MINAMOTO & SALVINI, 2000). 2.3 EFEITOS DA IMOBILIZAÇÃO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO Vários estudos analisaram a influência da imobilização no músculo esquelético de animais, demonstrando que embora a adaptação muscular seja induzida pela imobilização gessada, o grau da adaptação é influenciado pela posição em que o músculo é imobilizado (BOOTH & KELSO, 1973; BOOTH & SEIDER, 1979; WILLIANS & GOLDSPINK, 1983; GAJDOSIK, 2001). Após períodos de imobilização do músculo em posição encurtada ocorre uma redução do comprimento da fibra muscular devido à perda de sarcômeros em MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 20 série na fibra muscular, atrofia, diminuição da amplitude articular, alterações no tecido conectivo e aumento na rigidez muscular (WILLIANS, 1990). Durante períodos de imobilização, a diminuição da massa muscular é determinada pela diminuição do período médio de vida das proteínas miofibrilares, em aproximadamente 50%. Uma intensa atrofia ocorre na fase precoce da imobilização, com mudanças nas primeiras 48 horas (BOOTH & SEIDER, 1979). Usando um modelo de imobilização gessada, com o músculo em posição de encurtamento, BOOTH & SEIDER (1979) observou uma diminuição de 30% da massa muscular do gastrocnêmio de ratos após 3 dias de imobilização, 50% após 15 dias e 58% após 6 semanas. O termo atrofia muscular é considerado como uma diminuição da síntese e aumento da degradação protéica na fibra muscular. Enquanto que, hipertrofia muscular foi definida como um aumento da síntese protéica em relação à degradação de proteínas tanto em série quanto em paralelo (GOLDSPINK, 1996). BOOTH & SEIDER (1979) mostraram que quando os músculos sóleo ou tibial anterior foram fixados em posição de encurtamento ou em comprimento normal o músculo atrofiou, enquanto que em posição de alongamento resultou em aumento do comprimento do músculo. A imobilização por longos períodos em músculos de contração rápida imobilizados em posição de alongamento causou aumento temporário no seu comprimento e então atrofiaram. Por outro lado, o sóleo, um músculo predominante de contração lenta, apresentou um comprimento maior durante o período de imobilização em posição alongada, que o comprimento normal (LIEBER, 1992). 21 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 Analisando a influencia da imobilização na variação do tipo de fibras musculares, observou-se que após quatro semanas de imobilização do músculo sóleo, houve uma redução absoluta no número de fibras de contração lenta, enquanto que as rápidas não apresentaram mudanças significativas (BOOTH & SEIDER, 1979). LIEBER (1992) demonstrou que músculos imobilizados por quatro semanas, apresentaram diminuição da área de secção transversa das fibras musculares independente da idade. A atrofia durante a imobilização afetou todos os tipos de fibras musculares, com uma magnitude similar. Uma outra evidente conseqüência da imobilização é a diminuição da capacidade de gerar força no músculo, o qual é um processo tempo dependente. A diminuição da força está relacionada não apenas a diminuição da massa, mas também a alterações neurais e reservas metabólicas, as quais são importantes para geração de força (BOOTH & SEIDER, 1979). 2.4 INFLUÊNCIA DA FUNÇÃO MUSCULAR SOBRE SUA ADAPTAÇÃO A DIFERENTES ESTÍMULOS Somente na década de 60 foram identificadas as bases morfofuncionais da relação tensão-comprimento da fibra muscular, através de um experimento cuidadoso e sofisticado realizado por GORDON, HUXLEY & JULIAN (1966), eles identificaram em sarcômeros isolados, que a força isométrica máxima é produzida quando o sarcômero atinge um comprimento próximo ao comprimento da sua MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 22 posição em repouso, essa força diminui quando os sarcômeros são alongados ou encurtados. Nesse estudo, demonstraram que a força isométrica dos sarcômeros atinge seus níveis máximos quando há uma sobreposição ótima entre os filamentos de actina e miosina, o que ocorre quando o comprimento do sarcômero está entre 2,0-2,25 µm. Estes resultados permitiram identificar que a força gerada pela contração muscular depende da quantidade de “pontes” entre os filamentos de actina e miosina no interior sarcômeros. A identificação da relação entre a tensão muscular e as alterações no comprimento do sarcômero, subsidiou a proposição da teoria do deslizamento dos miofilamentos na contração muscular. 2.5 ALTERAÇÕES DECORRENTES DO ENCURTAMENTO NA FIBRA MUSCULAR ESQUELÉTICA Músculos imobilizados em posição de encurtamento, apresentam perda de tecido protéico, principalmente próximo à junção miotendínea, devido à diminuição da síntese e aumento da degradação de proteínas. Também apresentam diminuição da extensibilidade e aumento da tensão passiva (TABARY et al. 1972; WILIANS & GOLDSPINK, 1978). TABARY et al. (1972) observaram em músculos sóleos de gatos um aumento de 20% no número de sarcômeros em série, após quatros semanas de imobilização em posição de alongamento. No entanto, quando imobilizados em posição de encurtamento, o músculo sóleo reduziu em 40% o número de MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 23 sarcômeros em série e conseqüentemente uma diminuição da extensibilidade muscular. GAJDOSIK (2001) observou diminuição no comprimento e extensibilidade passiva dos músculos imobilizados em posição de encurtamento causada pela perda dos sarcômeros em série e proliferação do tecido conjuntivo, e a perda da massa muscular deve ser resultado da perda das proteínas subcelulares (miosina, actina, titina e desmina). 2.6 ASPECTOS MORFOLÓGICOS E FUNCIONAIS ENVOLVIDOS NO ENCURTAMENTO E NO ALONGAMENTO DOS MÚSCULOS ESQUELÉTICOS Para que se possa entender o mecanismo pelo qual o músculo esquelético diminui seu comprimento, bem como porquê um grupo muscular encurtado tem capacidade de recuperar ou mesmo ampliar seu comprimento anterior através de exercícios de alongamento, é fundamental que se entenda os processos envolvidos na adaptação dos músculos esqueléticos dos mamíferos (SALVINI, 2000). Trabalhos experimentais realizados nas décadas de 60-70 identificaram que o músculo aumentava seu comprimento através da adição de sarcômeros ao longo das fibras musculares. Nesse período, já era considerada a hipótese da adaptação das fibras musculares esqueléticas a diferentes graus de extensão, com provável remoção ou adição do número de sarcômeros em série, conforme a MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 24 demanda funcional e o grau de extensão a que o músculo era submetido (GOLDSPINK, 1968; WILLIAMS & GOLDSPINK, 1971). Estudos posteriores mostraram que a imobilização dos músculos em posição alongada acarretava em aumento no comprimento muscular pela adição no número de sarcômeros em série, particularmente nas duas regiões terminais das fibras musculares (TABARY et al. 1972; WILLIAMS & GOLDSPINK, 1973). Um comportamento similar também foi observado nos músculos esqueléticos de diversos mamíferos, durante o crescimento normal pós-natal (WILLIAMS & GOLDSPINK, 1971). Um dos trabalhos fundamentais para se entender o mecanismo de adaptação dos músculos esqueléticos a diferentes graus de extensão foi realizado por TABARY et al. (1972), neste estudo, pode-se observar que o músculo sóleo do gato aumentou em 20% o número de sarcômeros em série, após 4 semanas de imobilização em posição de alongamento. Por outro lado, quando o músculo sóleo foi imobilizado em posição de encurtamento, houve redução de 40% no número de sarcômeros em série e conseqüente diminuição em sua extensibilidade. Quatro semanas após a retirada da imobilização, o músculo imobilizado em posição de encurtamento apresentou extensibilidade e número de sarcômeros similar ao grupo controle não imobilizado. Ou seja, um músculo encurtado pode readquirir seu comprimento normal de acordo com a demanda funcional. Neste caso, a própria marcha produziu no músculo sóleo o estímulo necessário ao seu alongamento. Outros estudos identificaram que, enquanto a imobilização do músculo em posição de encurtamento acarretava diminuição do número de sarcômeros e 25 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 atrofia na fibra muscular, a imobilização em posição alongada levava à adição de sarcômeros, com conseqüente ganho de peso e aumento da síntese protéica (WILLIAM & GOLDSPINK, 1978; YANG et al., 1997). Estudos mais recentes, realizados em músculos de coelhos 6 dias após imobilização em posição alongada, identificaram hipertrofia, aumento no conteúdo total de Insulin Growth Factor-I (IGF-I) e aumento no percentual de fibras que expressam miosina do tipo I e miosina neonatal (GOLDSPINK, 1996; YANG et al. 1997). 2.7 EFEITOS DO ALONGAMENTO PASSIVO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO Sabe-se que a adaptação do músculo esquelético, durante o alongamento muscular, pode ser medida pelo número e comprimento dos sarcômeros em série (GOLDSPINK, 1996; WILLIAMS & GOLDSPINK, 1983; WILLIANS et al, 1988). Pesquisas mostram que o alongamento da fibra muscular está associado ao aumento do número de sarcômeros na extensão da fibra muscular. Como o comprimento dos filamentos de actina e miosina é constante, a adaptação dos músculos adultos para um novo comprimento funcional deve envolver a produção ou remoção de um certo número de sarcômeros em série, a fim de manter o comprimento ideal do sarcômero na fibra muscular (GOLDSPINK, 1996; TABARY et al. 1972). A região predominante para síntese dos novos sarcômeros durante o alongamento é a região da junção musculotendínea (DIX & EISENBERG, 1990). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 26 Estudos básicos com animais têm mostrado que a extensibilidade passiva do músculo é influenciada pelo tamanho e comprimento da fibra muscular (componente plástico em série) e pela quantidade e arranjo do tecido conjuntivo no ventre muscular (GOLDSPINK, 1996; WILLIAMS & GOLDSPINK, 1983). A resistência ao alongamento passivo é influenciada pelo número de sarcômeros em série, quantidade de proteínas musculares contráteis (miosina e actina) e não contráteis (titina, distrofina) e tecido conjuntivo extracelular, as quais se adaptam de acordo com o grau de demanda (GAJDOSIK, 2001). Várias proteínas estão envolvidas no processo de alongamento muscular. O mecanismo pelo qual a síntese dessas proteínas ocorre no músculo, após o estímulo mecânico do alongamento passivo, é descrito por muitos autores (WILLIANS & GOLDSPINK, 1973; GAJDOSIK, 2001). 2.8 ALONGAMENTO MUSCULAR NA MIOFIBRILOGÊNESE O alongamento passivo é transmitido progressivamente na fibra muscular, desde a superfície até a subunidade contrátil do músculo. O estímulo mecânico desencadeado pelo alongamento é transmitido inicialmente para a matriz extracelular da fibra muscular, que através de receptores são transmitidos para as proteínas do citoesqueleto, as quais se conectam com a linha-Z, transmitindo o sinal de tensão mecânica para o sistema contrátil (DEYNE, 2001). Após o estímulo atingir o sarcômero, essa informação relacionada ao comprimento da fibra, é transmitida para o núcleo da célula muscular, o qual sofre MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 27 translocação para o centro da célula, onde o DNA é transcrito e se inicia o processo para síntese de proteínas que darão origem a um novo sarcômero. O posicionamento nuclear pode ser importante para estabelecer os domíneos regionais da síntese de proteínas, que pode ser essencial para a miofibrilogênese (DEYNE, 2001). 2.9 A EFICÁCIA CLÍNICA DE PROTOCOLOS DE ALONGAMENTO NO TRATAMENTO DE MÚSCULOS ENCURTADOS Vários estudos têm sido desenvolvidos com o objetivo de demonstrar a eficácia de diversos protocolos de alongamento aplicados em músculos encurtados (GUNST & WU, 2001; GAJDOSIK, 2001, FELLAND et al. 2001; DEYNE, 2001). Em humanos e idosos, 3-4 sessões semanais de alongamento, com duração de 60 s, propiciaram aumento na amplitude articular (FELLAND et al. 2001). No entanto, não é possível saber o que ocorre em diferentes estruturas submetidas ao alongamento, como o músculo, a cápsula articular, os tendões, etc. Também é difícil avaliar a contribuição de cada uma delas no ganho de amplitude articular. Estudos em modelos animais, onde é possível a análise das fibras musculares, mostraram que 30 min. de alongamentos passivos diários foram suficientes para prevenir a perda do número de sarcômeros em série, em músculos imobilizados em posição de encurtamento. Além disso, esse MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 28 alongamento foi suficiente para prevenir a atrofia muscular e as alterações do tecido conjuntivo. Por outro lado, quando o período de alongamento foi reduzido para 15 min., houve perda do número de sarcômeros em série, mas não proliferação do tecido conjuntivo (WILLIAMS, 1990). 2.10 EFEITOS DA DURAÇÃO E FREQÜÊNCIA DO ALONGAMENTO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO O alongamento passivo por curto período de tempo (cerca de 30 s) é considerado suficiente para aumentar a mobilidade, no entanto, alguns autores não acreditam nesse efeito (DEYNE, 2001). Por outro lado, a experiência clínica mostra que o ganho de mobilidade com alongamento é mantido mesmo quando o alongamento passivo é removido, e este achado sugere uma resposta adaptativa permanente (FELAND, 2001). No experimento de FELAND et al. (2001) uma única sessão de alongamento sustentado por 30 s, com relaxamento de 30 s, realizado durante 10 min. por quatro semanas, em músculo isquiotibiais encurtados, aumentou significativamente a amplitude de movimento do joelho. Para prevenir lesões musculares, encurtamentos musculares patológicos e adaptativos, alongamentos musculares são usualmente indicados. O alongamento é o resultado da duração, freqüência, tempo e intensidade do alongamento. FELAND et al. (2001), definiu o alongamento de longa duração como realizado em tempo maior que 30 s de duração, enquanto alongamento de baixa intensidade foi MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 29 definido como o grau de alongamento que respeite o mínimo grau de desconforto de cada sujeito. Alongamento de baixa intensidade e longa duração parece ser o ideal para aumentar a amplitude de movimento, principalmente em indivíduos idosos, devido à quantidade de tecido conjuntivo, aumento da rigidez e diminuição da elasticidade que ocorre como processo de envelhecimento. WILLIAMS (1990) demonstrou o efeito do alongamento intermitente em músculos imobilizados em posição de encurtamento. O alongamento realizado por 12 min., 30 min., 1 e 2 h diariamente, por duas semanas mostram que 30 min. ou mais de alongamento diário preveniu a perda de amplitude de movimento, proliferação de tecido conjuntivo e a perda de sarcômeros em série. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 MATERIAIS UTILIZADOS - Malha de algodão; - malha de aço; - fita adesiva; - algodão; - material cirúrgico; - éter Etílico; - solução Salina (NaCl 0,9%); - paquímetro Tecnolub; - lupa Stemi DRC-Zeiss; - balança de precisão; - glutaraldeido 2,5%; - ácido Nítrico 30%; - glicerol 50%. 30 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 31 3.2 ANIMAIS E GRUPOS EXPERIMENTAIS Foram utilizados 24 ratos albinos wistar machos, com peso corporal de 291 ± 35 g, 14 ± 2 semanas de idade, obtidos do Biotério Central da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, e mantidos em biotério próprio do Laboratório de Fisiologia e Biofísica. Os animais foram agrupados e mantidos em gaiolas plásticas padrão, em condições ambientais controladas (luminosidade: 12 horas de ciclo claro/escuro) com livre acesso à água e ração peletizada. O projeto foi conduzido segundo as normas internacionais de ética na experimentação animal. Na divisão dos grupos os animais foram aleatoriamente separados em quatro grupos e todos foram avaliados 21 dias, após o inicio do experimento: Grupo 1 (n=6): para promover o encurtamento do músculo sóleo esquerdo, esses animais tiveram a articulação tíbio-társica posterior imobilizada em flexão plantar máxima, durante 21 dias consecutivos. Grupo 2 (n=6): de modo similar ao grupo 1, a pata esquerda ficou imobilizada em flexão plantar durante 21 dias. Porém, a cada 72 horas a imobilização foi retirada para que o músculo fosse alongado (flexão dorsal máxima) de modo passivo e constante, durante 40 min. Após o término de cada alongamento, a pata foi novamente imobilizada em flexão plantar, para manutenção do músculo sóleo em posição de encurtamento. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 32 Grupo 3 (n=6): neste grupo os animais foram submetidos somente ao protocolo de alongamento semanal do músculo sóleo, similar ao descrito para o grupo 2 e avaliados no 21º dia. Grupo 4 (n=6): considerado o grupo controle, nele os animais não foram submetidos a nenhum tipo de imobilização, foram apenas sacrificados e dissecados ao final dos 21 dias. A pata direita dos animais de todos os grupos não foi submetida a nenhum tipo de imobilização e seus músculos (sóleo) foram também avaliados no 21º dia. 3.3 PROCEDIMENTO PARA A IMOBILIZAÇÃO Os animais foram previamente anestesiados com éter etílico. Para se obter o encurtamento do sóleo a articulação tíbio-társica esquerda foi imobilizada em flexão plantar máxima, com fita adesiva. Em seguida, toda a pata esquerda permaneceu imobilizada utilizando-se um modelo de imobilização, desenvolvido no laboratório de Neurociência Departamento de Fisioterapia da UFSCar (figura 1). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 33 Figura 1 – Seqüência de como fazer o modelo para imobilização da pata do rato. A: a parte superior é uma Camiseta feita de algodão; B: observa -se que a parte inferior da imobilização é feita de malha de aço e foi cortada em duas partes (anterior e posterior); C: depois foram grampeadas na camiseta; D: então, o modelo está pronto para ser aplicado no rato; E: depois de vestir o modelo no rato, a articulação do tornozelo esquerda é imobilizada em flexão plantar máxima com fita adesiva; F: finalmente ambas as partes, anterior e posterior são fixadas ao redor do corpo do rato através de fita adesiva, em detalhe é possível observar a imobilização da articulação do tornozelo. Fonte: COUTINHO, et al. (2002). 34 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 3.4 PROTOCOLO PARA PROMOVER O ALONGAMENTO MUSCULAR Para se efetuar o alongamento passivo no músculo sóleo, os animais foram previamente anestesiados e a imobilização retirada. Posteriormente, a articulação tíbio-társica foi colocada em flexão dorsal máxima para alongamento do sóleo e mantida nessa posição com fita adesiva, durante 40 min (figuras 2 e 3). Após o término deste período, a imobilização foi recolocada de modo a manter o sóleo novamente em posição de encurtamento máximo (flexão plantar). Figura 2 – Procedimento para alongamento do músculo sóleo esquerdo, utilizando fita adesiva para manter a pata do animal em flexão dorsal máxima (vista anterior). Fonte: do autor. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 35 Figura 3 – Procedimento para alongamento do músculo sóleo esquerdo, utilizando fita adesiva para manter a pata do animal em flexão dorsal máxima (vista lateral). Fonte: do autor. 3.5 SACRIFÍCIO DOS ANIMAIS E RETIRADA DOS MÚSCULOS Vinte e um dias após o início do experimento, os animais de todos os grupos foram anestesiados para a retirada dos músculos sóleo de ambas as patas (figuras 4 e 5). Em seguida, ainda sob efeito do anestésico, os animais foram sacrificados. Durante a dissecação os músculo foram periodicamente gotejados com solução salina (NaCl 0,9%), para evitar ressecamento tecidual. Em seguida cada músculo foi pesado isoladamente (figura 6). O músculo sóleo foi fixado em MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 36 glutaraldeído 2,5% e, em seguida, submetido aos procedimentos de rotina para avaliação do número de sarcômeros em série (GOLDSPINK, 1968). Figura 4 – Incisão posterior da pata esquerda, com secção do tendão calcâneo, rebatendo as estruturas do músculo tríceps sural, expondo o músculo sóleo esquerdo e sua origem logo abaixo da articulação do joelho. Por ser o sóleo um músculo com predomínio de fibras do Tipo I sua coloração aparece em um tom mais escuro. Fonte: do autor. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 37 Figura 5 – Exposição do músculo sóleo esquerdo via incisão posterior, com desinserção da origem do muscular e permanência de sua inserção junto ao tendão tríceps sural. Fonte: do autor. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 Figura 6 – Avaliação do peso muscular em balança analítica. Fonte: do autor. 38 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 39 3.6 IDENTIFICAÇÃO DO NÚMERO DE SARCÔMEROS EM SÉRIE Inicialmente o músculo foi estendido em superfície plana e seu comprimento mensurado com auxílio de paquímetro da marca Tecnolub e lupa fabricada por Stemi DRC-Zeiss (figura 7). Para obtenção de fibras musculares isoladas e avaliação do número de sarcômeros, o músculo sóleo foi fixado durante 3 h em glutaraldeido (2,5%) e, em seguida mantido durante 2 dias, em ácido nítrico a 30%. Posteriormente foi armazenado em solução de glicerol diluída em água destilada a 50%. Cinco fibras musculares foram isoladas do ventre de cada músculo sóleo (direito e esquerdo). O isolamento das fibras foi realizado com o auxílio de lupa e pinças ultrafinas, com o cuidado de se preservar a região medial de cada fibra, onde foi realizada a contagem dos sarcômeros. As fibras isoladas foram montadas em lâmina histológica em meio contendo gelatina-glicerina (Sigma). Em cada fibra muscular, o número de sarcômeros em série foi identificado ao longo de 300 µm, em microscópio de luz, com objetiva 100 em imersão; microscópio Axioscope Carl Zeiss. A quantificação foi realizada em monitor de vídeo, com sistema de vídeo-imagem acoplado ao microscópio (figura 8). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 40 Figura 7 – Avaliação do comprimento muscular com auxílio de paquímetro da marca Tecnolub e lupa fabricada por Stemi DRC-Zeiss. Fonte: do autor. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 41 Figura 8 – Avaliação do número de sarcômeros. Fonte: COUTINHO et al. (2002). 3.7 ANÁLISE DOS RESULTADOS As variáveis analisadas (peso muscular, comprimento muscular e número de sarcômeros em série) foram avaliadas pela comparação entre os resultados obtidos nos músculo das patas esquerdas (imobilizado) e direita (intacto), em cada animal em cada grupo experimental, utilizando o teste t de Student pareado. Os resultados foram também comparados entre os grupos experimentais através do teste Anova. Os valores foram considerados significativos quando p ≤ 0.05. 42 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 4 RESULTADOS 4.1 PESO DOS MÚSCULOS SÓLEOS O peso muscular foi influenciado pela imobilização e pelo alongamento muscular, onde foram observados valores diferentes entre os grupos experimentais: Grupo 1 (animais imobilizados durante 21 dias consecutivos) apresentou 0,1475 ± 0,0216g para o músculo sóleo direito (MSD) e 0,0873 ± 0,0172g para o músculo sóleo esquerdo (MSE); Grupo 2 (imobilizado e alongado a cada 72 horas) apresentou 0,1748 ± 0,0253g para o MSD e 0,0967 ± 0,0145g para o MSE; Grupo 3 (somente alongado) apresentou 0,1375 ± 0,0125g para o MSD e 0,1400 ± 0,0082g para o MSE; G4 (grupo controle) apresentou 0,1554 ± 0,0118g para o MSD e 0,1522 ± 0,0093g para o MSE. Os músculos sóleos esquerdos, do grupo imobilizado durante 21 dias consecutivos (G1), apresentaram perda de peso de 40,82% em relação aos músculos sóleos direitos (MSD) contralaterais sendo estatisticamente significativa a perda de peso com p 0,05 e quando comparado ao gr upo controle (G4) também houve perda significativa de peso p 0,05. Enquanto isso o grupo imobilizado e alongado a cada 72 horas (G2) apresentou perda de peso muscular do MSE de 44,68% quando comparado ao MSD contralateral sendo estatisticamente significativa esta perda de peso p 0,05, e quando comparado ao MSE do grupo controle (G4) a perda de peso também apresenta-se significante com p 0,05. Para o grupo apenas alongado a cada 72 horas (G3) houve um 43 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 aumento de 1,81% do peso muscular do MSE em relação ao MSD, sendo que este aumento não foi estatisticamente significativo p > 0,05 e, quando comparado ao MSE do grupo controle (G4) não foi observado aumento do peso muscular. 4.2 COMPRIMENTO DOS MÚSCULOS SÓLEOS Assim como o peso muscular, o comprimento dos músculos sóleos esquerdos, foi influenciado pela imobilização e pelo alongamento muscular, onde foram observados os seguintes valores para os diferentes grupos: Grupo 1 apresentou 2,01 ± 0,03 cm para o MSD e 1,70 ± 0,14 cm para o MSE; Grupo 2 apresentou 1,76 ± 0,14 cm para o MSD e 1,56 ± 0,14 cm para o MSE; Grupo 3 apresentou 1,98 ± 0,12 cm para o MSD e 2,01 ± 0,09 cm para o MSE; G4 apresentou 1,96 ± 0,17 cm para o MSD e 1,93 ± 0,11 cm para o MSE. Os músculos sóleos esquerdos do Grupo 1 apresentaram uma perda de 15,43% do comprimento muscular quando comparados aos sóleos direitos contralaterais, sendo esta perda estatisticamente significativa p 0,05 e, quando comparados ao valor apresentado pelos músculos sóleos esquerdos do grupo controle também houve significância estatística na perda de comprimento muscular p 0,05. Para os músculos sóleos esquerdos do Grupo 2 houve uma perda de 11,37% do seu comprimento, sendo esta perda estatisticamente significativa p 0,05 e, quando comparado ao grupo controle também apresentou perda de comprimento significativa p 0,05. Os resultados apresentados para o comprimento muscular dos músculos sóleos esquerdos do Grupo 3 indicam que MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 44 houve um ganho de 1,51% no comprimento muscular, sendo que este aumento não possui significância estatística p > 0,05, mesmo quando comparado aos resultados do grupo controle. 4.3 QUANTIDADE DE SARCÔMEROS E TAMANHO DOS SARCÔMEROS Para análise da quantidade e tamanho dos sarcômeros, foram selecionados dois animais de cada grupo aleatoriamente. O cálculo utilizado, para se encontrar o valor do tamanho dos sarcômeros e quantidade total de sarcômeros por fibra, consiste em uma regra de três simples. Cálculo para achar o valor total de sarcômeros em uma fibra muscular: Total de sarcômeros = comprimento da fibra x nº de sarcômeros em 300 µm 300 µm Cálculo para encontrar o tamanho real do sarcômero: Tamanho do sarcômero = valor total de sarcômeros em 300 µm 300 µm Figura 9 – Fórmula para avaliação do comprimento e número total de sarcômeros em série. Fonte: COUTINHO et al. (2002). Assim como o peso e o comprimento muscular, a quantidade de sarcômeros em série foi influenciada pela imobilização e pelo alongamento 45 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 muscular, onde foram observados os seguintes valores para os diferentes grupos: Grupo 1 apresentou 487,50 ± 17,35 sarcômeros no MSD e 374,50 ± 13,43 sarcômeros para o MSE em um campo de 300 µm, somando um total de 6420 sarcômeros por fibra muscular no MSD e 4190 sarcômeros por fibra no MSE; Grupo 2 apresentou 451,5 ± 21,92 sarcômeros no MSD e 329 ± 5,65 sarcômeros no MSE sarcômeros para o MSE em um campo de 300 µm, somando um total de 5761 sarcômeros por fibra muscular no MSD e 4012,5 sarcômeros por fibra no MSE; Grupo 3 apresentou 438 ± 2,82 sarcômeros no MSD e 471,5 ± 4,94 sarcômeros no MSE sarcômeros para o MSE em um campo de 300 µm, somando um total de 6220 sarcômeros por fibra no MSD e 6819 sarcômeros por fibra no MSE; G4 apresentou 451,5 ± 27,57 sarcômeros no MSD e 436 ± 15,55 sarcômeros no MSE sarcômeros para o MSE em um campo de 300 µm, somando um total de 5237 sarcômeros por fibra no MSD e 4536 sarcômeros por fibra no MSE. A análise dos resultados mostrou que a imobilização por 21 dias (G1) alterou significativamente o comprimento dos sarcômeros do músculo sóleo, quando comparado com o sóleo controle (1,25 ± 0,05 versos 1,45 ± 0,05 µm p 0,05 respectivamente). Os músculos imobilizados e alongados a cada 72 horas (G2) também apresentaram redução no comprimento dos sarcômeros, quando comparados aos músculos controles (1,09 ± 0,02 versos 1,45 ± 0,05 µm p 0,05 respectivamente). No grupo apenas alongado a cada 72 horas (G3) o alongamento não inferiu no tamanho dos sarcômeros (1,57 ± 0,01 versos 1,45 ± 0,05 µm p > 0,05 respectivamente). 46 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 Sabe-se que o comprimento funcional do sarcômero para o melhor desempenho funcional, varia de 2,0 – 2,5 µm. No presente estudo, ambos os grupos imobilizados tiveram uma redução no comprimento dos sarcômeros em série. Foram observados os seguintes valores: Grupo 1 apresentou 1,62 ± 0,17 µm para os sarcômeros do MSD e 1,25 ± 0,05 µm para os sarcômeros do MSE; Grupo 2 apresentou 1,5 ± 0,07 µm para os sarcômeros do MSD e 1,09 ± 0,02 µm para os sarcômeros do MSE; Grupo 3 apresentou 1,45 ± 0,01 µm para os sarcômeros do MSD e 1,57 ± 0,01 µm para os sarcômeros do MSE; Grupo 4 apresentou1,50 ± 0,09 µm para os sarcômeros do MSD e 1,45 ± 0,05 µm para os sarcômeros do MSE. A análise dos resultados mostrou que a imobilização por 21 dias (G1) alterou significativamente o comprimento dos sarcômeros do músculo sóleo, quando comparado com o sóleo controle (1,25 ± 0,05 versos 1,45 ± 0,05 µm p 0,05 respectivamente). Os músculos imobilizados e alongados a cada 72 horas (G2) também apresentaram redução no comprimento dos sarcômeros, quando comparados aos músculos controles (1,09 ± 0,02 versos 1,45 ± 0,05 µm p 0,05 respectivamente). No grupo apenas alongado a cada 72 horas (G3) o alongamento não inferiu no tamanho dos sarcômeros (1,57 ± 0,01 versos 1,45 ± 0,05 µm p > 0,05 respectivamente). 47 MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 5 DISCUSSÃO DURIGON (1995), descreve o alongamento muscular como um procedimento de rotina nas clínicas de fisioterapia, onde o fisioterapeuta preocupa-se com os componentes osteomioarticulares envolvidos, procurando controlar o posicionamento do paciente de modo a isolar o grupo muscular que se pretende trabalhar, de maneira a proteger as demais estruturas corporais. TABARY et al. (1972) demonstraram de forma brilhante o mecanismo de adaptação do sistema músculo esquelético a diferentes graus de extensão. Neste mesmo estudo foi demonstrado que apesar de estímulos iguais o ganho de sarcômeros em série é menor que sua degradação. Outro fator importante demonstrado é a reversibilidade do encurtamento muscular, sendo que a própria marcha do animal solto na gaiola foi suficiente para reverter o encurtamento muscular promovido pela imobilização. Através dos resultados obtidos, pode-se observar que a imobilização causou diminuição no número de sarcômeros em série nas fibras musculares do sóleo. Apesar da aplicação de um protocolo de alongamento passivo durante 40 min a cada 72 horas nesses músculos, não foi possível prevenir a perda de sarcômeros em série na fibra muscular. Mas músculos que não foram imobilizados e foram submetidos ao mesmo protocolo de alongamento apresentaram aumento no número de sarcômeros em série. Apesar de estudos prévios demonstrarem que 30 min de alongamentos diários em músculos mantidos em posição encurtada por imobilização, previniram a perda de sarcômeros em série. Essas diferenças nos resultados mostram que a MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 48 freqüência em que as sessões de alongamento foram realizadas tiveram papel importante na prevenção da perda de sarcômeros em série e conseqüente instalação do encurtamento muscular. Foi constatado que músculos normais apenas submetidos ao alongamento apresentaram um aumento significativo no número de sarcômeros em série, comprovando que o alongamento passivo estimula a síntese de proteínas e adição de sarcômeros ao longo da fibra muscular. A redução no peso e no comprimento das fibras musculares imobilizadas em posição de encurtamento é acompanhada de uma redução no tamanho do músculo, assim como observado em outros trabalhos. Para analisar o comprimento da fibra muscular utilizamos como referência o comprimento muscular, devido a uma característica do músculo sóleo aonde 100 % de suas fibras musculares vão da origem proximal até a inserção distal. Os resultados do comprimento e peso muscular, vem a somar com os resultados encontrados para o total de sarcômeros e comprimento de sarcômeros, onde é significante a perda de estruturas celulares das fibras, promovendo assim a redução no comprimento e peso muscular, características do encurtamento muscular pela perda de sarcômeros em série. De acordo com autores como WILLIAMS, (1990) e GAJDOSIK, (2001) músculos imobilizados em posição de encurtamento sofrem um ajuste adaptativo no número de sarcômeros em série, de forma a regular um tamanho ideal para o desenvolvimento de máxima força pelos sarcômeros (2,0 – 2,5 µm). MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 49 Em nosso estudo, ambos os grupos imobilizados tiveram uma redução no comprimento dos sarcômeros em série. Estes achados contradizem a literatura, que tem mostrado que o encurtamento muscular, associado à perda de sarcômeros em série leva a ligeiro aumento do comprimento dos sarcômeros restantes (WILLIAMS & GOLDSPINK, 1978). Provavelmente não foi a imobilização quem promoveu essa redução no comprimento dos sarcômeros nos grupos imobilizados, pois essa alteração também foi constatada nos demais grupos, podendo decorrer de um erro na técnica de medida. Apesar de estar descrito na literatura que a redução no tamanho dos sarcômeros é indicativo de síntese de novas unidades contráteis, não se pode comprovar que a redução no tamanho dos sarcômeros encontrada no presente estudo seja indicativo de síntese protéica. Além das alterações estruturais encontradas, foram encontradas outras alterações não mensuráveis quantitativamente, mas que podem ter alguma relação com os resultados apresentados. A presença de úlceras de pressão em pontos onde a malha de aço estava em contato direto com a pele do animal e a dificuldade em se movimentar pela imobilização, podem ter influenciado na alimentação do animal, o que por sua vez, pode ter influenciado em variáveis como o peso muscular. A rigidez articular, dor do animal frente ao alongamento e a dificuldade de manter alguns animais parados mesmo estando sob efeito anestésico, pode ter alterado a precisão e a intensidade do alongamento aplicado no músculo sóleo. Apesar do modelo utilizado no presente estudo, para a imobilização dos animais ser um dos modelos mais práticos, houve durante a imobilização fuga de MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 50 alguns animais que permaneciam algum período fora da roupa de imobilização, e ainda, alguns animais desenvolveram edema por compressão vascular e tiveram que permanecer tempo suficiente sem a imobilização para que o edema revertesse. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 51 6 CONCLUSÃO A imobilização promoveu perda de sarcômeros em série, redução no peso muscular e comprimento das fibras musculares, comprovando assim que a imobilização promove o encurtamento muscular tendo uma relação direta com a posição em que o segmento é imobilizado, ou seja, a imobilização da pata do rato em plantiflexão é favorável para a instalação do encurtamento muscular no músculo sóleo. O alongamento muscular passivo mantido por um período de 40 min., realizado a cada 72 h não foi eficaz para preveni r a perda de sarcômeros em série e conseqüentemente o encurtamento muscular em músculos sóleo de ratos mantidos em posição de encurtamento. Porém, em músculos normais somente alongados houve aumento no número de sarcômeros em série, comprovando que o alongamento passivo estimula a síntese de proteínas e a adição de sarcômeros em série. A freqüência em que as sessões de alongamentos foram realizadas tiveram papel fundamental na ineficiência do protocolo adotado neste estudo, visto que protocolos onde as sessões foram realizadas diariamente obtiveram resultados favoráveis na prevenção da perda do número de sarcômeros em série, prevenindo assim o encurtamento muscular. Os resultados apresentados anteriormente demonstram que um mesmo protocolo aplicado em situações diferentes promove resultados diferentes, ou seja, estimula a síntese de sarcômeros em músculos normais não imobilizados, mas MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 52 não previne a instalação do encurtamento muscular, estando assim, o sucesso do tratamento na escolha tomada pelo terapeuta. MONOGRAFIAS DO CURSO DE FISIOTERAPIA – UNIOESTE n. 01-2004 ISSN 1678-8265 53 REFERÊNCIAS ADAMS, G. R.; McCUE, S. A. Localized infusion of IGF-I results in skeletal hypertrophy in rats. 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