A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral Acredita-se que o uso do recurso pedagógico adaptado favorece a aprendizagem e desenvolve diferentes habilidades, mas para que isso ocorra é necessário que os profissionais sejam capacitados, que eles tenham equipamentos e recursos pedagógicos adequados e apoio de profissionais especializados em educação especial. O recurso pedagógico adaptado permite que o aluno encontre meios para interagir socialmente, primeiramente dentro da escola na qual ele está inserido, e depois na sociedade da qual ele faz parte. A pesquisa tem por objetivo favorecer o processo de aprendizagem do aluno com paralisia cerebral por meio de recursos pedagógicos adaptados e verificar a importância de mobiliários e recursos adequados para o aluno com paralisia cerebral. O recurso pedagógico adaptado é importante para o aluno com deficiência física, pois ele pode auxiliar a prática em sala de aula, favorecendo a aprendizagem e estimulando as potencialidades do aluno com necessidades educacionais especiais e contribuindo para a transformação dos seus conceitos. O deficiente possui características próprias de sua deficiência, porem estas não o impedem de frequentar o ensino regular desde que a prática educativa seja adequada ao modo como o aluno aprende (REGANHAN, 2006, p.21). Segundo Manzini e Deliberato (apud MANZINI, 2008), o recurso pedagógico é construído com o objetivo de ser algo concreto para o aluno, que ele possa manipular, e que tenha alguma finalidade pedagógica. Nesse sentido, Araújo e Manzini (apud MANZINI, 2008) discutem sobre a finalidade de se adaptar um recurso: [...] ao adaptar um recurso para o ensino de alunos com paralisia cerebral, deve-se levar em conta, por um lado, as características motoras, cognitivas, emocionais e sociais da criança. Por outro lado, é necessário verificar as exigências sociais, pedagógicas e físicas impostas pelo meio. Manzini e Deliberato (apud MANZINI, 2008) se assentam em três pontos que são necessários a serem identificados na construção de recursos pedagógicos: 1) As características do aluno com deficiência física, ou seja, seus aspectos físicos, sociais, afetivos e motores; 2) O objetivo pretendido para o ensino, ou o que se deseja ensinar; 3) As relações entre objeto concreto e a influência de suas características no organismo biológico, ou seja, ao construirmos um recurso pesado, estar-se-á agindo sobre a força muscular de quem o manuseia, ou um objeto pequeno trará como consequência a preensão em pinça. Portanto, o material pedagógico adaptado deverá atender as características física, motora, cognitiva e os objetivos de ensino, ou seja, o recurso foi elaborado e construído com o objetivo de se ensinar determinado conteúdo ao aluno, buscando sempre respeitar as suas limitações, como as extensões de braço e força muscular. O recurso pedagógico tem por objetivo favorecer a aprendizagem, ele iria atender determinada faixa etária, seus interesses, dificuldades e também as necessidades exigidas pelo aluno com necessidades educacionais especiais. Favorece o aluno a pensar, estimulando sua imaginação, aproximando-o de sua realidade e, assim, fazendo com que esse aluno contribua para sua aprendizagem ao apresentar os estímulos recebidos através do recurso aplicado. Segundo o Portal de Ajudas Técnicas para a Educação (BRASIL, 2002), criou-se um processo de desenvolvimento das ajudas técnicas como orientação para os profissionais da educação, no sentido de encontrarem soluções de objetos que auxiliem o aprendizado de pessoas com necessidades especiais. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 31 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral Cada necessidade é única e, portanto, cada caso deve ser estudado com muita atenção. A experimentação deve ser muito utilizada, pois permite observar como a ajuda técnica desenvolvida está contemplando as necessidades percebidas. Segundo Reganhan (2006), o professor deveria estimular o aluno a desenvolver ao máximo suas potencialidades; para tanto, precisaria selecionar recursos que teriam como meta o aprendizado e que determinariam o desempenho e eficiência do aluno. Schmitz (apud REGANHAN, 2006) cita que os recursos contribuem para o desenvolvimento da capacidade criativa do aluno, pois Motivam e despertam o interesse; vitalizam a atividade do aluno; favorecendo o desenvolvimento da capacidade de observação; dão consistência ao essencial de cada tema; reforçam a aprendizagem, possibilitando uma integração das diversas atividades; aproximam o aluno da realidade; visualizam ou concretizam os conteúdos da aprendizagem; fornecem material da experiência; ilustram as noções mais abstratas; permitem a fixação das aprendizagens; oferecem informações e dados; servem para desenvolver o domínio psicomotor; valem para experimentação concreta. Se o recurso trabalhado e sua função forem de conhecimento do professor, poderão colaborar na prática pedagógica a fim de promover o pleno desenvolvimento do aluno com necessidades educacionais especiais, desenvolvendo sua potencialidade e habilidades. Se a escola trabalhar junto com o professor, oferecendo-lhe meios para o desenvolvimento de seu trabalho, isso se tornará um meio essencial para desenvolver a linguagem desse aluno e a sociabilidade dele dentro do espaço no qual ele e sua aprendizagem estão inseridos. Ao utilizar qualquer recurso material, é necessário um planejamento que tenha como objetivo a adequada preparação do ambiente. Ele, quando bem selecionado, poderá trazer melhor aproveitamento para os alunos nas mais diversas atividades, e desenvolver a reflexão e a compreensão (SCHMITZ apud REGANHAN, 2006). O professor deve conhecer como ocorre o desenvolvimento de seu aluno, quais são suas capacidades físicas, motora, cognitivas, suas limitações, e, principalmente, conhecer e saber quais são os objetivos que ele gostaria de atingir com esses alunos. O planejamento e o estabelecimento dos objetivos no ensino podem ou não ser alcançados dependendo do recurso utilizado. No entanto, existem critérios para a escolha dos recursos, tais como, importância de respeitar as características do próprio aluno e a necessidade de relacionar o recurso aos objetivos e conteúdos que foram préestabelecidos (MANZINI, 1999). Em termos de progresso individual e de aprendizagem, a escola deve oferecer possibilidades educacionais frente à diversidade de alunos que possuem peculiaridades e dificuldades (REGANHAN, 2006). Os recursos pedagógicos devem ser adaptados sempre que necessário para atender as necessidades do aluno com necessidades educacionais especiais, possibilitando a absorção do conteúdo pedagógico no mesmo nível de conhecimento que os demais alunos da sala de aula. Gonçalves (2006) aponta que, no enfoque educacional, não se deve perder de vista que: [...] o objetivo ultimo é garantir que a criança com paralisia cerebral, da mesma forma que as demais, consiga desenvolver ao máximo suas capacidades para alcançar uma vida de relações [...] torna-se muito importante que, no caso, o professor estimule a criança com comprometimento motor, procurando suprir as sua carências no seu desenvolvimento global, criando para tanto oportunidades de experimentações, vivências e exploração com o meio. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 32 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral Um recurso bem elaborado atinge as expectativas do professor com relação ao desenvolvimento do aluno com necessidades educacionais especiais, principalmente quando esse aluno é bem estimulado pelo professor, e as possibilidades educacionais oferecidas pela escola são usadas para adquirir maior independência do aluno. As barreiras das crianças com necessidades educacionais também se encaixam com relação ao espaço físico; a escola também precisa adaptar o ambiente para que esse aluno possa se locomover dentro dele com maior facilidade. Segundo Gonçalves (2006), no que se refere ao espaço físico, é importante e necessário que a escola busque adaptar-se para garantir o acesso e permanência das crianças com paralisia cerebral. Ela precisa eliminar algumas barreiras arquitetônicas; as adaptações do edifício devem ser efetivadas com a criação de rampas de acesso, instalação de barras de apoio e alargamento das portas, adaptação de piso com antiderrapante, bem como banheiros. Na sala de aula, além das adequações acimas citadas, são importantes as que dizem respeito ao melhor posicionamento para as diversas atividades e às adaptações ou confecções de mobiliários específicos; é necessário verificar o modelo da mobília, como a mesa e a cadeira na qual a criança se senta, de maneira que o corpo fique reto; os braços devem estar apoiados, alinhados e afastados dos lados do corpo; as mãos devem estar na frente dos olhos para melhor função durante a atividade escolar e alinhamento do corpo; a distribuição do peso deve ser igual para os dois lados do corpo – braços, quadris, joelhos e pés –; são necessários, ainda, cadeira de posicionamento (com encosto reto, com encosto sextavado), cadeira de chão, cavalo de abdução, mesa com recorte, conforme sugere o documento Saberes e práticas da inclusão: dificuldade de comunicação e sinalização, deficiência física (BRASIL apud GONÇALVES, 2006, p. 45). Essas adequações são importantes para todo o desenvolvimento do aluno; elas contribuirão para as realizações das diversas atividades; outros meios alternativos também podem contribuir para esse desenvolvimento, como é o caso da tecnologia assistiva, que seria um recurso que proporciona a independência e autonomia da criança, e auxilia no desempenho das atividades propostas. Denomina-se tecnologia assistiva qualquer item, peça de equipamento ou sistema de produtos, adquirido comercialmente ou desenvolvido artesanalmente, produzido em série, modificado ou feito sob medida, que é usado para aumentar, manter ou melhorar habilidades de pessoas com limitações funcionais, sejam físicas, sejam sensórias (DAMASCENO; GALVÃO FILHO, s/d apud GONÇALVES, 2006, p.46). Sobre o nível de complexidade e custo, os recursos podem ser divididos em baixa e alta tecnologia (COOK; HUSSEY, 2002 apud LOURENÇO, 2008). Recursos de baixa tecnologia são os mais simples, que não fazem uso de energia e, portanto, apresentam uma função limitada, tendo como vantagem uma maior disponibilidade, baixo custo e menos treinamento para o seu uso. Recursos de alta tecnologia assistiva são mais complexos, multifuncionais, geralmente envolvendo sistemas computadorizados, operados por meio de programas especiais de softwares, podendo ser usados por alunos com deficiências de fala, alunos com dificuldade de aprendizagem, que requerem instrução individualizada, ou alunos com deficiências motoras, que, de outro modo, não teriam acesso ao currículo, pela falta de movimentação para manipular os materiais básicos de escrita (lápis, caderno, borracha etc.). Esse recurso de tecnologia assistiva tem sido de grande eficiência para alunos com necessidades educacionais especiais, visto que eles ajudam no desenvolvimento físico, motor e cognitivo e no processo Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 33 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral de ensino e aprendizagem, pois possibilitam o acesso aos diversos níveis pedagógicos, proporcionando um aumento no rendimento do aluno e sua maior participação na escola. No estudo, utilizou-se a baixa tecnologia assistiva, exatamente por ser um recurso de baixo custo, com o uso de materiais disponíveis e fáceis de manusear, não exigindo nenhum treinamento por parte da aluna para que ela pudesse usar o recurso pedagógico. 1.1 Objetivo O objetivo do trabalho é elaborar um recurso pedagógico adequado para o ensino e aprendizagem de aluno com paralisia cerebral e favorecer o processo de aprendizagem desses alunos por meio de recursos pedagógicos adaptados. 1.2 Participantes Participaram do estudo a pesquisadora e uma criança com paralisia cerebral com 4 anos, e uma professora da sala de recurso multifuncional. 1.3 Local A aluna com paralisia cerebral está inserida em uma escola de ensino regular na educação infantil. O recurso foi aplicado em uma sala de recursos, com a professora especialista acompanhando e orientando; não há barulho das salas de aula, o que favoreceu a filmagem na aplicação do recurso. Na aplicação do recurso, a pesquisadora foi sempre acompanhada pela professora especialista da sala de recurso, recebendo as devidas orientações sobre como proceder com a aluna com paralisia cerebral, por causa de sua patologia; ela explicou sobre as suas dificuldades em manusear os objetos, a necessidade de se usar o peso de mão, para que ela diminua os movimentos involuntários do braço. O cinto pélvico auxilia o controle do tronco da aluna na cadeira e oferece maior segurança para sua movimentação. 2 Adequação do recurso – tamanho, forma e peso do recurso estavam adequados para a realização da atividade A adaptação precisa ser realizada de maneira adequada; não se deve retirar os próprios objetivos do recurso e sim adaptar as necessidades que surgirem a fim de favorecer o ensino e contribuir para o aprendizado (MANZINI apud REGANHAN, 2006, p. 27). 3 Tamanho do recurso utilizado para a atividade realizada pelos alunos O recurso construído a partir do livro O SUSTO foi feito de isopor, medindo aproximadamente 4 cm de tamanho, e 11 cm de largura. O tamanho e a largura não dificultaram a atividade, pois a aluna conseguia pegá-lo corretamente, favorecendo a aplicação, pois reduzia a dificuldade motora da aluna, permitindo atingir o objetivo da atividade. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 34 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral Figura 1 - Fotos do Recurso Adaptado Verificou-se que é de fundamental importância o recurso adequado às necessidades da aluna, neste caso, o recurso deveria conter o ímã para fixar-se sobre a mesa e facilitar movimentação das imagens sem frustrar a criança. 4 Forma do recurso utilizada para a atividade realizada pelos alunos Na primeira aplicação, o recurso não estava adequado, pois o isopor usado era leve e liso na parte de baixo e a mesa, por ser de metal, também era lisa; portanto, ele não se fixava na mesa; isso fez com que ele fosse adaptado novamente, colocando-se um pedaço de placa imantada na sua parte de baixo; como a mesa era de metal, o recurso fixava na mesa e não escorregava mais. A própria aluna, foi capaz de perceber que o recurso não ficava fixo na mesa; ela demonstra para a professora que ele estava escorregando, tirando, assim, a atenção da aluna com relação à história. 5 O peso do recurso estava adequado O recurso era leve, pois seu material é o isopor; o imã foi colocado para fixar o isopor na mesa, diminuindo o movimento involuntário dos braços da aluna. Outras dificuldades estavam relacionadas aos movimentos involuntários da aluna; por isso foram utilizados pesos no braço para que ela não tivesse tanta movimentação; isso a ajudaria a pegar o recurso e colocá-lo no local correto. Figura 2 - Aluna com os pesos no braço Na aplicação do recurso, a orientadora pergunta para a aluna participante qual é a capa do livro, porém a aluna não se interessa, pois ela esta mostrando que o recurso não para em cima da mesa, ela empurra o recurso adaptado para cima e deixa-o escorregar, e mostra para a orientadora, apontando com o dedo, que o recurso não para sobre a mesa. Percebe-se no vídeo que a aluna pega o recurso e olha na sua parte de baixo para tentar entender por que ele não se fixa na mesa. Professora S. R: Qual que é esse aqui (capa do livro), ALUNA, qual que é? Qual que é a capa do livro? Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 35 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral Participante: mostra para a professora que o recurso não para em cima da mesa, ela empurra o recurso na parte de cima da mesa e deixa-o escorregar. Professora S. R: qual que é a capa do livro? Não para né? Participante: a ALUNA balbucia tentando dizer que o recurso não para. Professora S. R: Você viu que já nem ela quer, vamos colocar o imã. 6 Objetivo atingido e aprendizado O objetivo foi atingido, pois a ideia era entender se a aluna conseguiria recontar a história, mas para isso as figuras foram usadas com o objetivo de estimular a oralidade e estimular suas capacidades motoras. Pesquisadora: Agora ALUNA cadê todos os animais? Todos os animais? Onde está? Participante: A ALUNA pega a figura com a imagem dos animais e mostra para a pesquisadora. Pesquisadora: Isso, então coloca a figura do lado do cachorro. Professora S.R: ajuda ela. A professora da sala de recurso pede para que a pesquisadora arrume o recurso que saiu da ordem, pois a aluna tenta colocar a figura do lugar coreto e esbarra nas demais figuras, mas o objetivo foi alcançado. Professora S.R: Arruma, Haila. Pesquisadora: Agora, ALUNA, você vai procurar para mim a bandinha de animais. Cadê a bandinha? Participante: mais uma vez aponta para a figura correta. Pesquisadora: isso, então coloca a bandinha aqui do lado do cachorro, Oh... Do lado dos animais. Participante: a ALUNA pega o recurso mas tem dificuldade em colocá-lo no lugar correto; a pesquisadora pega o recurso da mão da ALUNA, o coloca em cima da mesa, e pede para ela colocá-lo no lugar. Pesquisadora: coloca a bandinha aqui, isso. Participante: empurra o recurso no lugar correto. Professora S.R: Isso, pode ajudar ela, já deu a extensão de braço. Pesquisadora: E agora todos os animais vendo a bandinha cantando a musica. E a ALUNA pega a figura e empurra para posicioná-la na ordem correta. As estratégias de ensino devem ser elaboradas em diferentes situações de ensino e aprendizagem, levando-se em consideração as condições individuais do aluno (REGANHAN, 2006, p.30). É por meio das estratégias que o professor busca meios para facilitar a aprendizagem. Para a aplicação de um recurso, o professor pode usar diferentes técnicas, como aplicá-lo ao aluno com a ajuda dos demais alunos da sala; elas devem ser desenvolvidas com o objetivo de favorecer ao aluno experiências diferenciadas. 7 Estratégias de aplicação – as estratégias planejadas estavam adequadas; elas precisaram ser redefinidas durante a aplicação do recurso Uma estratégia de ensino planejada garante a qualidade do ensino no ambiente pedagógico; o professor deve sempre buscar meios para a melhoria do ensino; isso ajuda a alcançar melhores resultados. A escolha das estratégias mais adequadas para um determinado objetivo é um dos segredos do sucesso da aprendizagem. A escolha da estratégia adequada permite manter a participação, a motivação e o interesse do aluno; permite integração, atende as diferenças individuais; amplia as experiências de aprendizagem, criatividade e flexibilidade (MASSETO apud REGANHAN, 2006, p.31). A estratégia para a aplicação do recurso busca uma melhor formação para o aluno, pois faz com que ele se entregue à aula, favorecendo, assim, o seu processo de ensino e aprendizagem. Na aplicação do recurso, a pesquisadora utilizou uma estratégia inicial, que foi modificada sob orientação da professora especialista a fim de favorecer a aplicação e a avaliação adequada do recurso pedagógico adaptado. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 36 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral 8 Estratégias planejadas para aplicação do recurso pedagógico A estratégia do recurso seria fazer com que a aluna conseguisse recontar a história observando apenas as figuras. A aluna conseguiu recontar a história, algumas vezes precisando de um apoio da pesquisadora, pois, por causa dos movimentos involuntários de seus braços, às vezes ela não conseguia levar o recurso na ordem correta, muitas vezes acabava esbarrando nas partes já montadas, porém estas permaneciam fixadas na mesa, o que motivava a aluna a continuar, não causando frustação à mesma. A ideia era deixar na mesa três opções de imagens para que ela pudesse olhar e captar qual seria a imagem correta para a sequência da história; em alguns casos, a pesquisadora esquecia-se de colocar mais imagens cada vez que ela encontrava a resposta correta, fazendo com que ela conseguisse achar facilmente a resposta. Em alguns casos a pesquisadora acabava mostrando a resposta para a aluna sem que percebesse. Quando a pesquisadora, contando a história, pediu para que a aluna procurasse o cachorro, que saiu correndo ao ver o saco, a pesquisadora pega a imagem do cachorro colada no isopor e coloca na frente da aluna, ou seja, a resposta foi dada à aluna, mas sem que a pesquisadora percebesse. Pesquisadora: O porco viu o saco, né, ALUNA? O porco viu o saco, ele saiu correndo, e o cachorro? Cadê o cachorro? Ele também viu o saco. Professora S. R: intervém na aplicação e diz: acha o cachorro, ALUNA. Pesquisadora: acha o cachorro, ALUNA. E nesse momento a pesquisadora pega a figura do cachorro e coloca na frente da participante. Professora S. R: Você deu a resposta para ela. Pesquisadora: responde que percebeu, balançando a cabeça. Em todo momento da aplicação, a professora da sala de recurso vai orientando a pesquisadora a colocar mais imagens para a aluna, para que ela não fique sem resposta. 9 As estratégias redefinidas durante a aplicação Durante a aplicação do recurso, a professora especialista foi orientando a pesquisadora no modo de falar, pois, em alguns momentos, a pesquisadora repetia insistentemente as falas, e a aluna não conseguiu encontrar a resposta correta. Pesquisadora: Cadê o pato que saiu correndo? O pato... O pato saiu correndo quando ele viu o saco, ele escutou o barulho e ficou com medo, onde que está o pato? Qual que é o pato, só o pato. Professora S.R: Olha bem para a imagem, ALUNA, qual que é o pato? Pesquisadora: Qual que é o pato? O pato? Participante: Ela encontra a imagem correta. Pesquisadora: Isso, então vamos pôr aqui em cima. Nesse momento, a professora pediu para que a pesquisadora coloque a imagem no lugar correto, pois a aluna não consegue devido à extensão de braço própria de sua patologia. Estratégia de ensino é um complexo de inúmeras variáveis possíveis, é uma tomada de decisões sobre a organização da aula, a execução, avaliação e as especificações relacionadas ao ambiente (FRASSON apud REGANHAN, 2006, p. 30). As estratégias de ensino, quando elaboradas, devem levar em consideração as condições e limites do aluno, elas são os caminhos que o professor utiliza para facilitar a aprendizagem. 10 Adequação do recurso às características dos alunos – as características puderam estimular o que se deseja em relação ao aspecto motor Segundo Manzini (2008), ao adaptar um recurso para o ensino de alunos com paralisia cerebral, deve-se, levar em conta, por um lado, as características motoras, cognitivas, emocionais e sociais, e, por outro lado, as exigências sociais, pedagógicas, psicológicas e físicas impostas pelo meio. Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 37 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral Para a realização desse recurso, pensou-se muito no aspecto motor da aluna com paralisia cerebral; por isso, a história foi ampliada para que a aluna pudesse manuseá-la sem dificuldade de preensão. O ímã permitiu a fixação do objeto na parte superior da mesa, e contribuiu ajudando a aluna com a dificuldade de extensão de braços. 11 As características do recurso estimularam o que se desejava em relação ao aspecto motor Em algumas vezes, a aluna tinha dificuldade com relação à sua extensão de braços, não conseguia alcançar a sequência que a história estava sendo colocada, exigindo, assim, um auxílio da pesquisadora. Quando a pesquisadora coloca as três opções de imagens para ela procurar a imagem correta em relação à história, ela consegue pegar o recurso, devido à inclinação da mesa, mas, em algumas vezes, seu braço se limita e ela não consegue posicionar a figura na sequência desejada, esbarrando nas outras imagens que já estavam posicionadas, porém o objetivo é atingido, pois ela aponta a figura corretamente. 12 As características do recurso estimularam o que se desejava em relação ao aspecto acadêmico (por exemplo, separar cores, mas o aluno não conhecia todas; montar um quebra-cabeça, mas o aluno não conseguiu etc.) Observou-se que o recurso pedagógico adaptado atendia ao objetivo da proposta da pesquisadora para a criança, que era de recontar a história por meio de imagens. Presume-se que um trabalho pedagógico requer o uso de recursos, sendo estes adaptados quando necessário, a fim de possibilitar ao aluno deficiente a abstração dos conteúdos no mesmo grau de conhecimento e realizar as atividades propostas com a mesma intensidade que os demais alunos da sala (REGANHAN, 2006, p. 25). Para um bom trabalho pedagógico, existe a necessidade de o recurso atingir o objetivo proposto pelo professor; isso ajuda para que o aluno compreenda o conteúdo apresentado, facilitando a aplicação da atividade e, principalmente, fazendo com que ele tenha o mesmo nível de ensino que os demais alunos da sala. 13 Considerações finais Por meio deste estudo, foi possível constatar a importância do recurso pedagógico adaptado para alunos com paralisia cerebral: ele auxilia o professor e torna a sua práxis mais flexível e favorece um atendimento mais centrado nas necessidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. Um recurso bem elaborado irá desenvolver no aluno diferentes habilidades que contribuirão para o seu desenvolvimento; o recurso pedagógico contribui também para a formação social desse aluno, pois ele interage, primeiramente, dentro da escola na qual ele está inserido e, depois, na sociedade da qual ele faz parte. E, acima de tudo, o professor deve conhecer como ocorre o desenvolvimento de seu aluno, quais são suas capacidades e limitações, e quais são os objetivos que ele gostaria de atingir com seus alunos com necessidades educacionais especiais. Acredita-se que as pesquisas sobre a importância do recurso pedagógico para aluno com paralisia cerebral, devem continuar a serem realizadas, pois há diversos problemas que devem ser investigados, como: a falta de profissionais capacitados e recursos para manter esses alunos no ambiente escolar, de Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 38 A importância do recurso pedagógico para o ensino e aprendizagem de uma aluna com paralisia cerebral apoio de diferentes profissionais, de suportes à sala de recurso, e muitas outras dificuldades que são encontradas para o atendimento adequado a esses alunos. 14 Referências bibliográficas BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Portal de Ajudas Técnicas para Educação: equipamento e material pedagógico para Educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos pedagógicos adaptados. Brasília: MEC/SEESP, 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/rec_adaptados.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2010. GONÇALVES, A. K. S. Estratégias pedagógicas inclusivas para crianças com paralisia cerebral na Educação Infantil. São Carlos: UFSCar, 2006. (Dissertação de Mestrado). Disponível em: <http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1262>. Acesso em: 17 nov. 2010. LOURENÇO, G. F. Protocolo para avaliar a acessibilidade ao computador para alunos com paralisia cerebral. São Carlos: UFSCar, 2008. (Dissertação de Mestrado). Disponível em: <http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/tde_arquivos/9/TDE-2008-05-30T08:38:47Z1860/Publico/1794.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2010. MANZINI, E.J. DELIBERATO, D. Portal de ajudas técnicas: equipamentos e material pedagógico para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos para comunicação alternativa. Brasília: MEC: SEESP, 2004, v.2 MANZINI, E. J. Recursos pedagógicos para o ensino de alunos com paralisia cerebral. Mensagem da Apae, v. 36, n. 84, p. 17-21, jan./mar. 1999. REGANHAN, W. G. Recursos e estratégias para o ensino de alunos com deficiência: percepção de professores. Marilia: Unesp, 2006. (Dissertação de Mestrado). Revista das Faculdades Integradas Claretianas – Nº6 – janeiro/dezembro de 2013 39