Entrevista com uma Professora de Filosofia do Ensino Médio

Propaganda
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
ENTREVISTA COM UMA PROFESSORA DE FILOSOFIA DO ENSINO
MÉDIO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Jaeliton Francisco da Silva
Licenciando do Curso de Filosofia/UFAL
e-mail: [email protected]
Elizabete Amorim de Almeida Melo
Professora do Centro de Educação/CEDU-UFAL
e-mail: [email protected]
RESUMO:
Este trabalho consiste no relato de experiência do trabalho de campo desenvolvido na disciplina Estágio
Supervisionado em Filosofia 2, do Curso de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas, tendo como principal
objetivo entrevistar um (a) professor (a) da disciplina de Filosofia de uma escola pública da rede estadual de
ensino de Alagoas. Foi realizada uma entrevista sobre aspectos relacionados com o ensino de filosofia e as
possíveis dificuldades enfrentadas pela docente entrevistada, bem como uma análise do IDEB em Alagoas no
ano de 2011. Ao realizar a pesquisa, o entrevistador que está concluindo o curso e se preparando para a prática
docente, pôde perceber na prática o que já vinha estudando a alguns meses sobre a realidade do ensino de
filosofia em Alagoas e no Brasil. A metodologia utilizada para a obtenção e análise dos dados foi o método
qualitativo (LUDKE e ANDRÉ, 1986). Para tanto, além da leitura de fundamentação teórica, elaboramos um
roteiro de entrevista e realizamos a entrevista semi-estruturada. Tivemos como fundamentação teórica os
autores: Favaretto (2011), LDB (1996), Lorieri (2002), Ludke e André (1986) Orientações Curriculares Para o
Ensino Médio (MEC, 2006) e Rodrigo (2009).
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Filosofia. Estágio Supervisionado. Relato de Experiência.
1 INTRODUÇÃO
A disciplina Estágio Supervisionado em Filosofia 2 da Universidade Federal de
Alagoas, no primeiro semestre de 2012, teve como trabalho de campo o planejamento e a
execução de uma entrevista com um (a) professor (a) de Filosofia da rede pública de educação
do Estado de Alagoas, visando coletar dados sobre a metodologia, sua forma de planejar,
executar e avaliar as aulas de filosofia, entre outros aspectos.
Através dos dados coletados na entrevista estruturada, que é aquela que se caracteriza
pela utilização de um roteiro previamente elaborado (LUDKE e ANDRÉ, 1986), construímos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
este artigo no qual expomos as dificuldades, bem como os desafios que o (a) professor (a) de
Filosofia encontra em sala de aula.
Iremos apresentar os dados gerais da professora entrevistada como: sua formação
acadêmica, nível de ensino a qual atua, qual seu vínculo com as instituições de educação na
qual trabalha e etc.. Será exposto, também, a forma de atuação da docente em relação aos:
conteúdos, metodologias e recursos didáticos utilizados nas suas aulas e que tipo de avaliação
a professora utiliza para avaliar a aprendizagem de seus estudantes.
Apresentaremos ainda outras informações importantes como: relacionamento entre a
docente e seus colegas de profissão e seus discentes, o motivo da escolha da profissão, quais
as dificuldades e os desafios encontrados enquanto professora da disciplina, entre outras
informações.
Também faremos uma breve análise do resultado do IDEB em Alagoas, com o
objetivo de entendermos na prática os motivos que levaram o Estado de Alagoas a ocupar o
último lugar no Brasil em relação a esta avaliação.
Em relação às condições reais em que se deu a entrevista, esclarecemos e frisamos que
a mesma foi realizada em dois dias, com duas horas cada encontro. As informações aqui
expostas foram relatadas pela professora entrevista fora da sala de aula. Ressaltamos, ainda,
que em nenhum momento a professora se recusou a prestar as informações e, com isso,
obtivemos o resultado esperado que foi o de coletar dados sobre a docência no ensino de
filosofia e, a partir dos dados levantados e coletados, construir o relatório e este artigo.
2 A PROFESSORA ENTREVISTADA: DADOS GERAIS
A professora entrevistada é graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas
(UFAL). Atua como docente acerca de dez (10) anos, porém, como professora de filosofia, a
mesma trabalha a seis (6) anos: professora de filosofia no ensino fundamental do 6º ao 9º ano
de uma escola pública municipal do interior de Alagoas e professora de filosofia das três (3)
séries do Ensino Médio em uma escola da rede estadual, ou seja, sua experiência como
professora de filosofia se dar na rede pública municipal e estadual.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
Sabemos que em Alagoas um dos principais problemas com o ensino de filosofia nas
escolas públicas é a falta de professores com formação adequada para o exercício da docência
na disciplina. Quanto a importância da formação do professor de filosofia, Favaretto (2011),
que é professor e pesquisador sobre o ensino desta disciplina no Brasil, em uma entrevista
para a revista “Dialogia”, da Universidade Nove de Julho diz o seguinte:
Ensinar filosofia [...] é algo que diz respeito aos professores que fizeram
graduação em filosofia. É necessário garantir a especificidade desse tipo de
pensamento, que não se confunde nem com a reflexão no sentido amplo,
nem com o tipo de pensamento, com o tipo de rigor, como das ciências. O
pensamento filosófico tem, evidentemente, especificidade própria, que diz
respeito às exigências da enunciação filosófica. O professor de filosofia tem
que ter passado pelo aprendizado e experiência de elaboração discursiva, que
implica em dimensões conceitual, argumentativa e problematizadora
(FAVARETTO, 2011, p. 19).
Pelo que podemos perceber: as escolas onde a professora atua não passam pelo
problema apontado acima, pois a discente é licenciada em filosofia e, assim, espera-se que ela
tenha passado pela “aprendizagem e experiência de elaboração discursiva”, defendida pelo
professor Favaretto.
Sabemos que a disciplina filosofia não é obrigatória no ensino fundamental, porém a
escola onde a professora trabalha com os anos finais desse nível de ensino, oferta a disciplina
de filosofia como forma de complemento curricular, pois os estabelecimentos de ensino têm
autonomia para oferecer outras disciplinas, baseadas no Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional – LDB 9394/96 (2006, p. 11.):
Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio
devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de
ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
economia e dos educandos.
Segundo a professora entrevistada, o ensino de filosofia no ensino fundamental é algo
essencial, pois os alunos têm acesso desde cedo ao ensino dessa disciplina que ajuda no
desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
A entrevistada é professora efetiva na rede municipal onde atua nas séries finais do
ensino fundamental e professora monitora contratada pela rede estadual (SEE/AL- Secretaria
de Educação e Esporte de Alagoas), onde atua nas três séries do ensino médio.
No município onde é efetiva, além de ministrar aulas de filosofia para alunos do
ensino fundamental do 6º ao 9º ano, a mesma trabalha com a disciplina Ensino Religioso. Já
nas séries do ensino médio onde atua como professora monitora, a mesma ministra aulas de
Filosofia e Sociologia.
A professora ministra as aulas de Ensino Religioso respaldada pela lei, pois segundo o
Art.9º, § 1º da Resolução nº 003 /2002 – CEE/AL (Conselho Estadual de Educação):
“Consideram-se habilitados para o exercício do magistério do Ensino Religioso em quaisquer
dos anos do Ensino Fundamental: os portadores de diploma de licenciatura plena em História,
Filosofia, Ciências sociais”.
Já quando se trata das aulas de Sociologia, a professora explicou que, na maioria das
vezes, não há professores suficientes para ministrar a disciplina e que também é necessário
para complementar a sua carga horária. Este fato é uma realidade no Estado de Alagoas:
professores lecionam disciplinas para as quais não estão habilitados para poder complementar
a carga horária, principalmente os monitores contratados pela Secretaria Estadual de
Educação de Alagoas.
3 A PRÁTICA DOCENTE DA PROFESSORA ENTREVISTADA: CONTEÚDOS,
METODOLOGIA, RECURSOS DIDÁTICOS E FORMA DE AVALIAÇÃO
Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006), os alunos só podem
atingir os objetivos esperados ao concluir o ensino médio, se houver uma junção entre
conteúdos, avaliação e metodologia. Por isso, se faz necessário que o ensino de filosofia deva
considerar uma metodologia que seja “peculiar a ela e ao conteúdo específico que está sendo
trabalho”. (OCEM/MEC, 2006, p. 36).
Segundo a professora entrevistada, para elaborar seus planos de ensino ela busca
orientações nos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais). Neste caso, a professora está
seguindo as orientações corretas. A mesma afirma que não é confiável pegar planos de ensino
prontos na internet, pois os planos nem sempre estão de acordo com os níveis dos alunos,
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
apresentando conteúdos que estão além da capacidade dos alunos e temáticas muito
complexas.
Quando perguntamos se a professora trabalha ou já trabalhou com temáticas, a mesma
afirmou que: “Sim, já trabalhei, como por exemplo a democracia na Grécia antiga. Então,
faço um paralelo com a democracia atual”.
Sabemos que o ideal é o trabalho a partir de temas filosóficos, buscando a utilização
de recursos não filosóficos, ou seja, de “recursos didáticos” (RODRIGO, 2009, p. 99), como
músicas, filmes, vídeos, poesias, imagens e etc.. Os recursos não filosóficos visam aproximar
o aluno do tema filosófico, de forma atrativa e significativa. Este recurso visa também
introduzir o texto didático e o texto filosófico nas aulas de filosofia no ensino médio.
Quanto a importância do texto filosófico para o ensino de filosofia Martini (2001)
defende que:
[...] o uso do texto filosófico torna-se cada vez mais imprescindível, porque
permite efetivamente ao estudante dialogar com o próprio filósofo,
conhecer-lhe o pensamento diretamente dos seus escritos – dentro de certos
limites -, experimentar sem filtros seu estilo expositivo, seu rigor
argumentativo, sua paixão pela pesquisa e, em certos casos, até suas
debilidades e fracassos. Desse modo, é possível que os alunos mantenham
com os autores uma aproximação mais consciente, mais crítica e talvez mais
emocionante do que a mera frequentação do manual-sumário. (MARTINI,
2001 apud RODRIGO, 2009, p. 91).
Como vimos, há uma necessidade de se trabalhar os textos originais dos filósofos em
sala de aula. Estes devem ser pesquisados pelo professor que fará os recortes mais importantes
dos textos para que possa ser trabalhados em sala de aula, possibilitando um contato entre os
estudantes e os escritos dos filósofos.
Como a professora é licenciada em filosofia, o trabalho com os textos torna-se mais
fácil, visto que a mesma tem a formação e as técnicas para a leitura desses textos.
Neste sentido, segundo Lorieri (2002, p. 74), “Não há trabalho filosófico sem
conteúdos específicos da Filosofia e sem uma metodologia que seja filosófica. As temáticas
filosóficas garantem, junto com a metodologia, a especificidade da abordagem filosófica”.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
Portanto, para o bom desenvolvimento do ensino de filosofia no ensino médio, é
importante o trabalho com as temáticas filosóficas, textos originais dos filósofos e com
metodologias filosóficas. Neste caso, a professora está seguindo as orientações corretas, pois
ela confirmou que trabalha com trechos filosóficos, utiliza alguns “recursos não filosóficos” e
trabalha com temáticas.
Outro fato importante que se faz necessário destacar é a importância de trabalhar a
filosofia de forma contextualizada, aproximando e aproveitando a realidade dos estudantes
como ponto inicial da aula. Segundo Lorieri (2002, p. 71):
[...] o ensino de filosofia deve ser trabalhado com contextos bem planejados,
buscando partir sempre do cotidiano dos alunos, abrindo espaços para que os
alunos exponham suas reflexões e opiniões sobre os temas estudados,
levando assim os estudantes a iniciarem a reflexão filosófica.
A docente entrevistada trabalha com filmes e músicas como forma de tornar as aulas
mais dinâmicas. Porém, esses recursos não são utilizados no início das aulas e sim quando é
possível “encaixar” um desses recursos em uma determinada aula.
Além dos recursos citados, a mesma ainda utiliza: artigos, jornais e revistas periódicas.
Suas aulas, na maioria das vezes, são expositivas, com auxilio dos recursos já mencionados.
Além das aulas, a professora também realiza, com ajuda da coordenação pedagógica e
de outros professores, uma semana filosófica, na qual os alunos se envolvem e se empenham
para realizar essa atividade educativa, cultural e filosófica.
Até o momento da pesquisa, os alunos do ensino médio não tinham acesso aos livros
de filosofia que seriam distribuídos pelo Ministério da Educação. Porém, durante o processo
de escolha do livro didático a mesma optou pelo livro “Convite à Filosofia” de Marilena
Chauí, que está entre os três livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD). Este livro serve como referencial teórico para elaboração das aulas da
professora entrevistada.
Sabemos que os livros de filosofia para o ensino médio já estão presentes na maioria
das escolas do país, pois segundo a reportagem feita por Amanda Cieglinski (2011),
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
A filosofia vai voltar, na prática, para o conteúdo curricular dos alunos do
ensino médio, depois de 47 anos fora dos currículos das escolas de educação
básica no país. No ano que vem, as escolas da rede pública receberão pela
primeira vez, desde a ditadura, livros didáticos da disciplina para orientar o
trabalho dos professores. Foi o regime militar que baniu a filosofia das
escolas.
Segundo a professora entrevistada, o motivo pelo qual os livros não foram distribuídos
é que os mesmos não chegaram em quantidade adequada para atender a demanda de
estudantes da escola e, também, a escola precisa fazer um levantamento da quantidade de
livros que foram recebidos para informar a Secretaria de Educação Estadual. Porém esse
levantamento ainda não foi realizado.
Em relação à avaliação, um tema que é bastante debatido na atualidade sobre a
educação é a maneira adequada de avaliar a aprendizagem dos alunos. Neste sentido, a
professora afirma que não ver nas provas a única maneira de avaliação; ela ainda acredita que
toda avaliação deve ser feita de forma cumulativa e contínua.
Segundo seu conceito de avaliação, o ensino de filosofia não pode ser avaliado da
mesma forma que nas demais disciplinas, pois segundo suas próprias palavras: “a filosofia
ajuda a construir o pensamento crítico e alguns professores usam métodos tradicionais e que
impedem que os alunos exponham suas ideias”. Sendo assim, de acordo com a professora, a
avaliação deve levar em conta a opinião dos alunos, coisa que nas demais disciplinas isso não
ocorre porque os professores usam maneiras tradicionais de avaliar, fato que impossibilita a
exposição das ideias dos estudantes.
Avaliar é uma das tarefas mais difíceis da educação, principalmente no que diz
respeito à avaliação em filosofia. Apesar de existirem muitos estudos sobre essa temática,
atualmente buscamos a melhor maneira de avaliar e não encontramos. É evidente que ainda
existe a concepção de avaliação tradicional usada pela maioria dos (as) professores (as) que,
segundo Rodrigo (2009, p. 94) é um tipo de “instrumento fiscalizador da aprendizagem” que é
usada como “procedimentos autoritários e muitas vezes arbitrários”. Só que este tipo de
avaliação não é adequado para o momento ao qual estamos vivendo. Outra forma de avaliação
presente nas concepções pedagógicas menos tradicionais é a avaliação vista segundo a autora
“como um meio educativo” e esse “meio educativo” é resultado das “propostas inovadoras” e
das diferentes maneiras de avaliar.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
Segundo essa autora (2009, p. 94), para se avaliar, deve-se saber: “[...] o que, quando,
como e para que avaliar”. Portanto, a avaliação como um todo e especificamente em filosofia,
de acordo com a autora, não é apenas uma maneira de verificar os “conteúdos assimilados
pelos alunos”, mas sim, além de observar quais conteúdos os estudantes assimilaram, é
importante observar as: “competências e habilidades relacionadas à articulação dos
conteúdos”. Sendo assim, em filosofia, podem ser avaliados “a capacidade de compreender,
problematizar e interpretar os textos, estrutura lógica do raciocínio, expressar o pensamento
numa redação coerente etc.”.
Todos os métodos de avaliação que são aplicados pela docente, segundo a mesma, são
“avaliações contextualizadas”.
4 OUTRAS INFORMAÇÕES IMPORTANTES
Segundo a professora entrevistada, os estudantes mantêm um bom relacionamento
com ela, apesar de, às vezes, acharem ela “chata”, principalmente quando diz respeito aos
trabalhos de leitura e interpretação de textos. Neste sentido, a visão de “chata” está
relacionada à função de professora e não a pessoa professora. Além disso, relatou a
professora, que seus alunos mantêm diálogos que não estão relacionados necessariamente
com os conteúdos debatidos e expostos em sala de aula, procurando-a, às vezes, para pedir
conselhos e informações.
A professora afirmou que o fato que a levou a escolher a profissão de professora de
filosofia foi: “porque gosto de ler, escrever” e também por ser “fascinada pela forma como a
filosofia nos remete a discussões sobre ética, moral, etc.”.
Suas maiores dificuldades em relação à profissão são: o problema do salário ser baixo
e a falta de interesse pelas aulas de filosofia por parte de alguns estudantes. Em relação ao
salário baixo, problema não só enfrentado pela professora entrevistada mais por todos os
professores da educação básica pública no Brasil, a solução que os professores encontram é
sobrecarregar a carga horária, ou seja, pegar muitas aulas para poder aumentar suas rendas.
Sendo assim, este é um dos fatores que comprometem o ensino de qualidade, pois quanto
menos tempo os professores têm para preparar suas aulas e estudar, mais aumentam as
deficiências no ensino e, consequentemente, há uma precarização do trabalho docente.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
Durante a entrevista, a professora citou que alguns colegas de profissão indagam a
questão da utilidade da Filosofia como disciplina escolar; para ela, parece que os seus colegas
de trabalho pensam que a filosofia não é tão importante para a vida. Neste contexto, a mesma
sempre procura mostrar para eles o quanto a filosofia é importante para a vida dos estudantes
e para a sociedade.
Marilena Chauí (2003), em uma passagem do livro “Convite a Filosofia”, nos faz
refletir sobre o verdadeiro sentido da filosofia, fato curioso que nos faz observar e avaliar o
quanto a professora entrevistada tem “amor” por sua profissão, apesar das dificuldades
encontradas por ela, bem como pela disciplina filosofia no ensino básico, de uma forma geral.
Vejamos o que Chauí nos diz sobre isto:
Qual seria, então, a utilidade da Filosofia? Se abandonar a ingenuidade e os
preconceitos do senso comum, for útil; se não se deixar guiar pela submissão
às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos, for útil; se conhecer o
sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política, for útil; se
dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de
si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para
todos, for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os
saberes de que os seres humanos são capazes (CHAUI, 2003, p. 24).
A professora afirmou que se sente realizada profissionalmente, apesar das dificuldades
mencionadas. Para ela, existem fatos que possibilitam tal realização, como por exemplo, ter
“uma aluna que fez vestibular e passou em filosofia na UFAL”. A entrevistada sempre
aconselha seus alunos a prestar vestibulares e a seguir uma carreira.
Seguindo uma concepção do estágio como parceria (PIMENTA e LIMA, 2004) com a
escola e com o professor da educação básica, perguntamos a professora como o estagiário de
filosofia poderia contribuir no processo de ensino-aprendizagem na sala de aula. A mesma
respondeu que os estagiários, por estarem em formação, têm condições de levar os temas de
filosóficos para a realidade dos alunos, fazendo com que seus alunos tenham maior interesse
pelas aulas de filosofia. A professora também informou que os estagiários podem ajudá-la,
levando materiais de filosofia e informações sobre a realidade do ensino de filosofia nas
escolas brasileiras na atualidade.
5 DADOS SOBRE O IDEB EM ALAGOAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
Pela primeira vez, desde 2005 quando teve inicio a avaliação do IDEB, Alagoas
encontra-se em último lugar nos resultados dessa avaliação. Segundo a reportagem do G1:
“entre 2009 e 2011, o índice caiu nos anos finais do ensino fundamental e no médio”. O que
nos faz parar para refletir nos motivos que levaram o estado ao topo desse lamentável ranking.
Dos (três) 3 níveis de ensino avaliado, segundo a reportagem, o ensino fundamental do
1º ao 5º ano foi o que obteve melhor resultado, com nota de 3,4, enquanto que no ensino
médio a nota obtida pelo estado foi de 2,6.
Comparando com anos anteriores, o IDEB do 1º ao 5º ano demonstrou aumento de
0,1. Mesmo com este aumento, o estado neste nível de ensino, não atingiu a meta estabelecida
para o ano de 2011, que era de 3,7. Nos outros níveis de ensino, a nota do estado caiu,
deixando-o cada vez mais longe da média proposta pelo MEC.
Segundo a reportagem, o resultado já era esperado pelo secretário de educação do
estado, pois, segundo ele, foram feitas análises de “resultados da Prova Brasil” que foram
aplicadas para serem consultadas pelos “gestores em junho deste ano”, que verificaram esse
resultado. O curioso é que a segunda Prova Brasil só é realizada no final do ano, sendo assim
a secretaria e as escolas tinham mais de cinco (5) meses para tentarem reverter a situação,
mais nada foi feito. Sabemos que um problema de ensino que vem se arrastando a muitos
anos, em cinco (5) meses não podia ser resolvido, mas, ao nosso ver, parece que nada foi feito
na tentativa de mudar esses dados.
Pelo que parece, o resultado do próximo IDEB não vai ser diferente, pois no final do
primeiro semestre de 2012, período em que foi realizada esta pesquisa, muitos estudantes
ainda estão sem estudar na rede pública estadual por conta das reformas das escolas estaduais.
Segundo a reportagem do G1 (2012):
[...] Em abril, a equipe de reportagem do G1 visitou escolas estaduais
alagoanas para identificar os principais problemas. Na época, 163 estavam
em reforma e 127, ou 38 % do total, ainda não tinham iniciado o ano letivo
de 2012. Atualmente, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria
de Educação, 24 escolas continuam em obras e 8.000 alunos ainda não
tiveram aulas neste ano. Eles estudam em 14 colégios estaduais em reforma,
localizados em regiões onde o governo não encontrou um espaço alternativo
para improvisar salas de aulas. Um dos exemplos é uma escola em
Arapiraca, a segunda maior cidade do estado, onde 523 alunos ainda não
começaram o ano letivo. De acordo com o governo, técnicos visitarão a
cidade ainda nesta semana para buscar opções temporárias para oferecer as
aulas.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
Podemos perceber que a realidade do ensino em Alagoas é catastrófica, pois milhares
de estudantes ainda não começaram a estudar e outros estão com o calendário escolar
atrasado, fatos que prejudicarão os próximos resultados.
Para amenizar a situação, o secretário de educação apresentou uma “proposta” para
reverter os resultados. A proposta está “estruturada em três frentes: modernização da gestão
escolar e da estrutura da pasta, contratação de novos professores e reelaboração do plano de
carreira docente, incluindo aumentos salariais significativos”.
Essas foram as propostas apresentadas pelo atual secretário de educação do Estado de
Alagoas. Além de investir nas reformas e na infraestrutura, segundo a reportagem “o governo
espera que saia em setembro o edital de um concurso público para contratar 2.500
professores”. Porém, o que presenciamos até o momento da construção deste artigo é que o
edital do concurso ainda não saiu.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho de pesquisa de campo em forma de entrevista foi bastante válido, pois,
nos fez parar para refletir mais uma vez sobre o ensino de filosofia em Alagoas,
principalmente porque tivemos a oportunidade de passar algumas horas conversando com
uma profissional que atua na área à bastante tempo, conhecendo a profissão de professor de
filosofia, os problemas e os desafios que envolvem a profissão docente.
Sendo assim, o trabalho de campo possibilitou ao estudante estagiário ter contato com
um docente de filosofia para tirar algumas dúvidas e obter esclarecimentos sobre a profissão a
qual escolheu seguir.
Durante a entrevista, a professora esteve sempre disposta a nos ajudar, recebendo-nos
com muito entusiasmo. Os dados coletados, na sua maioria, foram fáceis de serem obtidos,
apesar de em alguns momentos percebemos que a professora tentava mudar de assunto ou
demorava na resposta.
Como tivemos oportunidade de conhecer de perto as dificuldades enfrentadas por ela,
estamos certo de que, no futuro, quando estivermos trabalhando com filosofia na sala de aula,
já conhecendo alguns problemas, poderemos nos preparar antecipadamente para vencer
alguns desafios impostos pela profissão. Esta é a maior contribuição deste trabalho de campo
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
para a nossa formação de futuros professores de filosofia, ou seja, conhecer a realidade tal
como ela é, de forma concreta, sem enfeites.
Como toda experiência vivenciada, temos pontos positivos e negativos a serem
colocados. Assim, gostaríamos de ressaltar aqui um dos pontos negativos desta pesquisa de
campo: tivemos que adiar várias vezes a data e o horário da entrevista, pois como a professora
trabalha em dois (2) municípios, todos os dias da semana e nos finais de semana ela aproveita
para planejar e descansar por isso, tivemos que esperar a sua disponibilidade para a realização
da atividade de campo. Mas, em compensação, podemos destacar que se concluíssemos nossa
formação sem essa experiência, cremos que iria faltar algo para nossa formação, pois, como já
falamos, por meio deste trabalho estamos cientes do que iremos enfrentar na vida profissional
como professor de filosofia do ensino médio.
REFERÊNCIAS
ALAGOAS. CEE/AL. RESOLUÇÃO Nº 003/2002 - CEE/AL. Disponível em: <<
http://br.bing.com/search?q=RESOLU%c3%87%c3%83O%20N%c2%ba%20003/2002%20%20CEE/AL.&FORM=SMSBLB&PC=MASM&QS=n>>. Acesso em: 20 set. 2012.
BRASIL. MEC. Orientações Curriculares Para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas
Tecnologias. V3. Brasília, 2006.
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Disponível
<<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>>. Acesso em: 19 nov. 2011.
em:
CIEGLINSKI, Amanda. Banida das escolas desde a ditadura, filosofia vai ter livros
didáticos
distribuídos
na
rede
pública
em
2012.
Disponível
em:
<<http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-04-03/banida-das-escolas-desde-ditadurafilosofia-vai-ter-livros-didaticos-distribuidos-na-rede-publica-em- >>. Acesso em: 21
jul.2012.
FAVARETTO, Celso Fernando. “O papel estratégico da Filosofia na educação básica”. In:
Revista Dialogia. São Paulo: Universidade Nove de Julho (UNINOVE), 2011.
G1. Alagoas tem o pior Ideb do Brasil nos três níveis de ensino. Disponível em: <<
http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=8&cid=130334>>. Acesso em: 20 set. 2012.
LORIERI, Marcos Antonio. Filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
(Coleção Docência em Formação).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A.. Pesquisa em Educação: Abordagens
Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez,
2004. (Coleção Docência em Formação. Série Saberes Pedagógicos).
RODRIGO, Lídia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino de
filosofia. Campinas/SP: Autores Associados 2009. (coleção Formação de Professores).
Download