CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO ALVA BENFICA DA SILVA A GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES E A NEUROCIÊNCIA: análise de algumas contribuições Belo Horizonte 2014 ALV A BENFICA DA SILVA A GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES E A NEUROCIÊNCIA: análise de algumas contribuições Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração do Centro Universitário UNA como um dos requisitos para a obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Inovação e Dinâmica Organizacional. Linha de Pesquisa: Dinâmica Organizacional, Inovação e Sociedade. Orientadora: Profa. Dra. Iris Barbosa Goulart Coorientadora: Profa. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Belo Horizonte Centro Universitário UNA 2014 B465g Benfica da Silva, Alva A gestão das organizações e a neurociência: análise de algumas contribuições. / Alva Benfica da Silva. – 2014. 92f. Orientador: Prof. Dra. Iris Barbosa Goulart Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2014. Programa de Mestrado Profissional em Administração. Bibliografia f. 73-78. 1. Comportamento organizacional. 2. Neurociências. I. Goulart, Iris Barbosa. II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 658 Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras DEDICATÓRIA Senhor, a Ti eu dedico este trabalho. Mais do que agradecer, DEDICO este trabalho À minha família cujo apoio foi essencial para minha chegada até aqui: Ao meu pai e meu irmão (In Memoriam) – acredito que estão orgulhosos de mim. À minha mãezinha querida, mesmo que não entenda, será contagiada pela minha felicidade. Às minhas queridas irmãs Alfelina, Maria das Graças, Ivanir e minha adorável sobrinha, preferida e única, Bruninha. O apoio de vocês foi decisivo para mim. À uma pessoa muito especial, pela parceria tão importante e abençoada que foi no decorrer dessa minha caminhada. AGRADECIMENTO Senhor, eu Te agradeço por este trabalho. É natural e elementar começar com minha orientadora, Professora Doutora Iris Barbosa Goulart. Agradeço imensamente pela sua sábia orientação, sempre presente e disponível, pela paciência nos momentos difíceis, por acreditar que o trabalho seria possível, por toda a confiança depositada e, especialmente, pela amizade compartilhada durante todo esse período. Tudo isso foi muito importante para minha caminhada. À Professora Doutora Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, minha coorientadora, agradeço pela sempre presente disposição em contribuir e por compartilhar conhecimentos na construção deste trabalho. Seu interesse pelo tema e disponibilidade para auxiliar-me, abrindo sua agenda de consultas (longuíssimas) que me foram muito importantes. Sou grata aos meus professores da UNA, especialmente à querida Professora Doutora Cristiana Trindade Ituassu. Sou grata aos participantes desta pesquisa que, com suas experiências e ideias, me ensinaram, me inspiraram, me entusiasmaram. Agradeço ao Professor Marcelo Leonardo, meu estimado Chefe, pelo apoio e confiança em mim depositada, que foram essenciais para meu sucesso nessa jornada. Agradeço aos meus companheiros de trabalho, na pessoa dos funcionários administrativos Valeria Januário e Ricardo Antônio Cornélio, e dos Professores Doutores Felipe Martins Pinto e Renato Cesar Cardoso, pelo apoio, torcida e incentivo. A todos que, de alguma forma, me acompanharam, me auxiliaram, compartilharam de minhas angústias no meu desenvolvimento nesse mestrado minha eterna gratidão. EPÍGRAFE Até aqui nos ajudou o Senhor. 1 Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. 2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; 3 Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; 4 Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; 5 Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; 6 Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; 7 Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; 8 Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz. 9 Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha? 10 Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar. 11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim. 12 Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrarse e fazer bem na sua vida; 13 E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus. ... 22 Assim que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua porção; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele? Eclesiastes 3 – Bíblia Sagrada RESUMO BENFICA DA SILVA, Alva. Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) - A gestão das organizações e a neurociência: análise de algumas contribuições - Centro Universitário UNA. Belo Horizonte, 2014. Este trabalho constitui um estudo que busca identificar contribuições da área da Neurociência para a Administração, na procura de uma visão diferenciada da gestão, que considere o ser humano capaz de construir a organização, de gerenciá-la através de seu pensamento e ação e, sobretudo, de trazer sua contribuição para uma sociedade melhor. Considerando os avanços sobre o estudo do funcionamento do cérebro, o objetivo deste trabalho é analisar a contribuição (descobertas, estudos, pesquisas) da Neurociência para a gestão organizacional segundo a opinião de especialistas relacionados a esta área de conhecimento. Para tal, fez-se uso de estudos e pesquisas recentes relacionados a processos cerebrais e comportamento humano. Na trajetória metodológica, dado o caráter investigativo do assunto e as poucas publicações disponíveis sobre o tema, foi feito o levantamento da produção científica e realizou-se uma pesquisa qualitativa, utilizando-se de entrevista aberta com especialistas relacionados da área de Neurociência, na busca de consolidação do conteúdo abordado no referencial teórico. A análise das entrevistas apontou a existência de estudos sobre o funcionamento cerebral, sobre o ócio criativo, sobre os ritmos circadianos, sobre a importância da respiração, do sono, do relaxamento, da meditação e das pausas. Todos esses temas estão relacionados à Neurociência e oferecem contribuições à Administração. Palavras-chave: Gestão organizacional. Comportamento organizacional. Gestão de pessoas. Neurociência. ABSTRACT BENFICA DA SILVA, Alva. Dissertation (Professional Master’s Degree in Business Administration) – Organizational management and neuroscience: analysis on some contributions - Centro Universitário UNA. Belo Horizonte, 2014. This research work seeks to identify the contributions of Neuroscience to Management, in the search for a differentiated view of management, which regards the human being as able to build the organization, to manage it through his thought and action and, above all, bring his contribution to a better society. By considering the breakthroughs on the study of brain function, the objective of this research work is to analyze the contribution (findings, studies, surveys) of Neuroscience to organizational management in the opinion of experts linked to this field of knowledge. To this end, it made use of recent studies and research related to brain processes and human behavior. In the methodological trajectory, given the investigative nature of the subject and the few publications available on the theme, a survey on the scientific production was conducted as well as qualitative research through open interviews with experts in the Neuroscience area, with views to consolidating the content covered in the theoretical framework. Analyses of the interviews revealed the existence of studies about brain functioning, creative idleness, circadian rhythms, and on the importance of breathing, sleep, relaxation, meditation and breaks. All these themes are related to Neuroscience and offer contributions to Management. Keywords: Organizational management. resources management. Neuroscience. Organizational behavior. Human LISTA DE QUADRO Quadro 1 - Proposta de mudança de paradigma de gestão e respectivas características, de acordo com Gaulejac 27 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ARH - Administração de Recursos Humanos EEG - Eletroncefalograma fMRI - Ressonância Magnética funcional (function magnetic resonance imaging) MEG - Magnetoencefalografia (magnetoencephalogram) MW - Mind Wandering NC - Neurociência PET - Tomografia por emissão de positrões (posítron emission tomography) REM - Movimento rápido dos olhos RH - Recursos Humanos SN - Sistema Nervoso SNC - Sistema Nervoso Central SNP - Sistema Nervoso Periférico SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................. 12 1.1 Problema de pesquisa ................................................................ 15 1.2 Objetivos ...................................................................................... 16 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................ 16 1.2.2 Objetivos específicos ..................................................................... 16 1.3 Justificativa .................................................................................. 16 1.4 Estrutura do texto ........................................................................ 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................ 19 2.1 O modelo contemporâneo de Administração: um novo paradigma ..................................................................................... 19 2.2 Neurociência ................................................................................ 27 2.3 Estudos da Neurociência aplicáveis à Administração ............. 32 2.3.1 O funcionamento do cérebro humano ........................................... 33 2.3.2 A importância do relaxamento ....................................................... 36 2.3.3 A importância das pausas ............................................................. 41 2.4 Ética e estudos de Neurociência ................................................ 46 3 METODOLOGIA ......................................................................... 48 4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS .............. 51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 70 REFERÊNCIAS .......................................................................... 73 APÊNDICE A – CARTA-CONVITE PARA ENTREVISTA ............. 79 APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO DO ENTREVISTADO 80 APÊNDICE C – ROTEIRO DA ENTREVISTA ................................ 81 APÊNDICE D – PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS ENTREVISTADOS DISPONÍVEL NO MOMENTO DA PESQUISA ........... 83 APÊNDICE E – PRODUTO TÉCNICO – PÁGINA NO FACEBOOK ... 92 12 1 INTRODUÇÃO A Administração atualmente é influenciada pela fase chamada Era do conhecimento, período em que as pessoas, responsáveis por produzirem e por deterem o conhecimento, passaram a ocupar um lugar privilegiado entre os fatores responsáveis pela competitividade nas organizações. Nesse contexto, o capital humano vem sendo abordado de diferentes maneiras: ora se fala em Gestão do conhecimento, ora em Dinâmica organizacional e subjetividade, ora outras designações para novos campos de estudo que valorizam de modo particular o ser humano, que está sendo tomado em consideração. Hamel (2010) realça a importância das pessoas na organização quando afirma: Há pelo menos três princípios centrais em torno dos quais é preciso construir os novos modelos de gestão: liberdade, variedade e lógica de mercado. A liberdade é o primeiro princípio, portanto. É impossível pretender que uma instituição seja adaptável se ela for controlada totalmente, a partir de cima. Quando observamos os sistemas que têm demonstrado ser adaptáveis ao longo de décadas e séculos – os biológicos, as democracias, os mercados, as cidades –, o que salta aos olhos em todos eles é que, conforme as normas de uma multinacional típica, são mais autônomos. A questão reside em como oferecer às pessoas mais liberdade sem cair no caos. [...] Se pretendem vencer no futuro, as organizações têm de encontrar maneiras de energizar as pessoas, para que não apliquem no trabalho apenas suas capacidades, mas também sua paixão e iniciativa. (HAMEL, 2010, p.48-49). No presente trabalho, a ênfase à liberdade se apresenta como o ponto mais relevante. Na visão de Drucker (1981) é impossível administrar o trabalho e o trabalhador se esses elementos forem enfocados como problemas. Por isso, a administração deve se concentrar nos aspectos positivos e se fundamentar nos pontos fortes e na harmonia. O autor acrescenta: A teoria de relações humanas parte de conceitos básicos corretos: as pessoas querem trabalhar e administrá-las é função do administrador, não de um especialista. Não constitui, portanto, apenas um amontoado de atividades desvinculadas umas das outras. Repousa ainda sobre uma profunda percepção que pode ser resumida quando dizemos: não se pode contratar um braço, uma pessoa inteira vem junto (DRUCKER, 1981, p.263). 13 As aptidões humanas mais valiosas são precisamente aquelas menos controláveis. As ferramentas de gestão podem pressionar as pessoas a serem obedientes e diligentes, mas não podem torná-las criativas e empenhadas. Quanto mais invasiva for a supervisão gerencial e mais repressoras as políticas e processos, menos apaixonadas as pessoas serão com seu trabalho. Historicamente, as hierarquias têm sido boas para agregar esforços, coordenar atividades de muitas pessoas com funções amplamente diferentes. Mas elas não são adequadas para mobilizar esforços, inspirar pessoas a irem além do que se espera (HAMEL; BREEN, 2007, p.56-58). Quando comparada às mudanças em tecnologia, estilo de vida e geopolítica que ocorreram nos últimos cinquenta anos, a prática da gestão parece ter evoluído de maneira muito lenta e ainda se baseia num agregado de princípios antiquados, que remontam ao início da Revolução Industrial. A gestão moderna contribuiu muito, mas exigiu muito em troca, e continua a exigir – a hierarquia opressiva de administradores; controle sobre custos sufocando a imaginação e iniciativa humanas; construção de organizações em que a disciplina e a liberdade são mutuamente exclusivas (HAMEL; BREEN, 2007, p.4-8). O progresso na gestão tem sido limitado pelo paradigma de gestão baseado na burocracia e centrado na eficiência. Os gestores são prisioneiros do paradigma que coloca a busca da eficiência acima de qualquer outro objetivo, herança da gestão moderna que foi criada para resolver o problema de ineficiência (HAMEL; BREEN, 2007, p.11). As transformações que estão em curso, evidenciando um processo de mudança paradigmática, afetam as organizações. Os programas de formação e desenvolvimento de administradores têm constituído espaços privilegiados para a busca de superação das limitações até então enfrentadas no trato da complexidade do mundo moderno. Autores que abordam as organizações do futuro consideram que as empresas serão julgadas por seus compromissos éticos, pelo foco nas pessoas e pelas relações responsáveis com o ambiente natural. O paradigma que as tem sustentado apresenta anomalias e novas ações 14 se impõem. Ações humanizadas serão vistas como fonte de diferenciação em um ambiente de negócios, o qual não dá nenhuma indicação de que deixará de ser competitivo. Da mesma forma, profissionais talentosos estarão sentindo-se atraídos por empresas comprometidas, com o crescimento das pessoas e com causas sociais e ecológicas. E assim, empresas humanizadas serão, cada vez mais, necessárias e possíveis (VERGARA; BRANCO, 1993, p.28-31). O presente trabalho também se detém na análise de alguns aspectos do humano, na medida em que toma como objeto de análise uma abordagem nova, que vem ganhando espaço entre os pesquisadores e que pode atingir a Administração. Nos últimos anos, houve a consolidação explícita do projeto de condensação do sujeito no cérebro, o que resulta numa mudança fundamental no modo como é compreendido o ser humano e seu psiquismo. Assim, depois de descrições psicológicas, culturalistas e fisicalistas, emergem atualmente as descrições cerebrais e genéticas, apoiadas na grande quantidade de informações novas, produzidas pela Neurociência (NC), sobre as bases biológicas da experiência subjetiva (WINOGRAD, 2011, p.522). Em julho de 1990, o então presidente americano, George Bush, sancionou lei declarando os anos 1990-1999 a “Década do Cérebro”. A partir desse momento, investimentos e o fomento das pesquisas sobre cérebro deram um importante impulso ao desenvolvimento da Neurociência. Os resultados foram aplicados aos campos da medicina, farmacologia, bioética e humanidades. Passou-se a encontrar desdobramentos desses resultados, que incluíam o cérebro em seus campos de estudo, em diversas áreas, como no chamado Neuromanagement aplicação da Neurociência cognitiva ao comportamento organizacional, numa busca pelo equilíbrio entre a razão e a emoção (RUSSO; PONCIANO, 2002, p.351). A Neurociência é um campo interdisciplinar que usa a contribuição de outras disciplinas e várias ciências no estudo da estrutura e organização funcional do sistema nervoso (especialmente o cérebro), a fim de compreender sua estrutura, 15 desenvolvimento, funcionamento e evolução, bem como a relação entre o comportamento e a mente e suas alterações (SIQUEIRA-BATISTA; ANTÔNIO, 2008). Nesse contexto, a Neurociência se mostra relevante para vários estudiosos pela possibilidade de compreensão dos mecanismos das emoções, pensamentos e ações, doenças e loucuras, aprendizado e esquecimento, sonhos e imaginação, fenômenos que definem e constituem o ser humano (RIBEIRO, 2013). A aproximação de “cientistas” e “homens de negócios”, combinação de esforços de áreas distintas (a Neurociência fornecendo auxílio para importantes insights à Administração), deu origem ao nascimento de teorias alternativas importantes, como: Neuromarketing, que visa entender os desejos, impulsos e motivações das pessoas através do estudo das reações neurológicas a determinados estímulos externos (ZALTMAN, 2003, p.160); Neuroliderança, que combina princípios do funcionamento do cérebro humano com as práticas de desenvolvimento de competências de liderança. “[...] alguns achados da Neurociência são úteis para entender e aperfeiçoar a capacidade de liderança” (HERCULANO-HOUZEL, 2009); Neuroeconomia, que utiliza métodos da Neurociência com ferramentas mais antigas, associadas aos campos da Economia experimental e comportamental, e da Psicologia cognitiva e social (LOWENSTEIN; CAMERER; PRELEC, 2008, p.72-76). Este trabalho busca explorar algumas descobertas da Neurociência que convergem para a Administração, especialmente na área de gestão de pessoas, destacando o papel do cérebro no comportamento e na natureza humanos. Esses estudos podem proporcionar insights a um novo modelo de gestão, que priorize o potencial humano, a criatividade, o respeito pelas limitações humanas. 1.1 Problema de Pesquisa Diante da produção científica sobre Neurociência e da necessidade da Administração estar enriquecida com a contribuição de novas possibilidades voltadas para a valorização do capital humano, a questão norteadora deste trabalho é a seguinte: 16 • Qual a contribuição da Neurociência para a gestão das organizações, de acordo com a opinião de especialistas relacionados a esta área do conhecimento? 1.2 Objetivos Para responder a questão norteadora desta pesquisa, foram definidos os seguintes objetivos: 1.2.1 Objetivo Geral • Analisar a contribuição da Neurociência para a gestão organizacional segundo a opinião de especialistas relacionados a esta área do conhecimento. 1.2.2 Objetivos Específicos 1) Caracterizar o novo paradigma de Administração, que tem como fundamento a valorização do capital humano. 2) Investigar o ponto de vista de especialistas relacionados às áreas de Neurociência e que considerem sua aplicação à Gestão organizacional. 3) Propor, como produto técnico, a criação de uma página no facebook, com a finalidade de disponibilizar um espaço para a interação entre os saberes da Administração (especialmente na área de gestão de pessoas) e da Neurociência fazendo divulgação de pesquisas, descobertas, cursos, que possam vislumbrar inovação para a gestão organizacional. 1.3 Justificativa A contribuição que este trabalho pretende oferecer para a academia será um enriquecimento do campo de estudos sobre a gestão organizacional associado a ideias (insights) da nova área do conhecimento, a Neurociência. A união entre essas duas áreas - Administração (gestão organizacional) e Neurociência - pode, 17 através deste trabalho, ser facilitada, visando à melhoria do funcionamento organizacional. Para as organizações, o estudo deve oferecer mais uma ferramenta para gestores organizacionais no sentido de melhor compreenderem o ser humano, considerando também a ótica cerebral. Para a autora, este trabalho oferece oportunidade de conhecimento que possa propiciar uma vida melhor, mais saudável, especialmente em termos profissionais. Verificou-se a preocupação com o desenvolvimento do ser humano e a urgente necessidade de se inovar a gestão organizacional, pelas abordagens feitas por estudiosos, a exemplo de Vergara e Branco (1993); Drucker (2002, 2007), Gaulejac (2006), Ortega e Vidal (2007), Hamel (2007; 2010), Goleman (2014), Winograd (2011), Ribeiro (2013), dentre outros. A relevância do tema desta pesquisa se evidencia também pela produção científica encontrada nos sites investigados, como Capes, Scielo, e em periódicos como PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva-RJ, Psicologia em Estudo, RAE - Revista de Administração de Empresas, REVISTA USP, dentre outros. 1.4 Estrutura do texto Este trabalho está estruturado do seguinte modo: na Introdução apresenta-se o tema, identifica-se a questão norteadora da pesquisa e definem-se seus objetivos. O segundo capítulo aborda o Referencial Teórico, envolvendo os temas Administração, Neurociência, Estudos da NC aplicáveis à Administração e a relação da Ética com a Neurociência. O terceiro capítulo apresenta a metodologia adotada para a realização da presente pesquisa, caracterizando a modalidade do estudo, o instrumento de coleta de dados, os sujeitos da pesquisa e a técnica de interpretação dos dados. O quarto capítulo aborda os resultados obtidos mediante a aplicação do instrumento de coleta de dados, valendo-se de uma apresentação dos especialistas que foram entrevistados e da seleção de trechos de suas falas 18 que representem esta contribuição. O quinto e último capítulo apresenta as Considerações Finais, revendo o alcance dos objetivos, as limitações do estudo feito e as sugestões para novas pesquisas. 19 2 REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico deste trabalho aborda as seguintes temáticas: por se tratar de uma dissertação de Mestrado em Administração, decidiu-se iniciar por uma análise do enfoque contemporâneo da Administração, detendo-se na ênfase que atualmente se dá à gestão de pessoas, em vista da significativa valorização do capital humano. A segunda temática se refere à Neurociência, devendo-se abordar o conceito desta área de conhecimento, um breve histórico, uma referência ao funcionamento do cérebro humano e estudos recentes de Neurociência passíveis de aplicação ao campo da Administração e a relação da Ética com a Neurociência. 2.1 O modelo contemporâneo de Administração: um novo paradigma Alberto Guerreiro Ramos foi um dos precursores do pensamento crítico em Administração, tendo proposto o modelo do chamado Homem Parentético1, em oposição ao homem organizacional, considerado pelo autor a somatória da evolução do homem ao longo da transformação do modus operandi das organizações. Este ideal de homem, que possui consciência crítica da realidade, valores éticos e coletividade social, é exposto pelo autor como uma superação da concepção de homem operacional e reativo, remanescente das escolas anteriores, dentro das organizações e da sociedade (PAES DE PAULA, 2007). 1 O adjetivo “parentético” deriva da noção de “suspensão”, de estar “entre parênteses”. Ele faz uma distinção entre uma atitude natural e uma crítica. “Natural” é a atitude do homem “ajustado”, despreocupado com a racionalidade noética e aprisionado em seu imediatismo. Já a atitude “crítica” suspende ou põe “entre parênteses” a crença no mundo comum, permitindo ao indivíduo atingir um nível de reflexão conceitual e, portanto, de liberdade (a racionalidade noética - derivada do grego “nous”, significa MENTE, inteligência ou formas intuitivas de conhecimento-, compreende os imperativos imanentes da própria razão, entendida como uma faculdade específica do homem e que exclui a obediência cega às exigências de eficiência) (GUERREIRO RAMOS,1984, p.7). 20 As primeiras teorias de Administração abordavam o homem como um indivíduo passivo, detentor do emprego, capaz de atender às expectativas e anseios da sociedade e da organização em que está inserido, porém, moralmente fragilizado. De acordo com essa concepção, o indivíduo vai se despersonalizando à medida que se socializa, até tornar-se alienado. Enquanto isso, a organização formal adquire aspectos do indivíduo e passa a ser estudada a partir de conceitos que só poderiam ser atribuídos à vida individual (GUERREIRO RAMOS, 1984). Uma reavaliação da teoria administrativa sugere a análise de diferentes modelos de homem como ponto de referência: “homem operacional”, “homem reativo” e “homem parentético”. Na teoria administrativa clássica, o “homem operacional” é equivalente ao ‘Homo economicus’ que se reduz a um recurso organizacional, a ser maximizado em termos de produto físico mensurável, ou seja, o homem é visto como instrumento do processo produtivo. O modelo de “homem reativo”, oriundo do enfoque humanista, identifica o homem como membro de seu grupo social, que precisa ser ajustado ao contexto de trabalho, e não ao seu crescimento individual. Essa teoria reativa baseia-se em uma visão ingênua da natureza dos insumos e produtos. Ela considera como insumos as pessoas, os materiais e a energia, mas desconsidera os fatores éticos e valorativos do ambiente e sua racionalidade e legitimidade. O “homem parentético”, por sua vez, é considerado participante da organização, mas justamente por tentar ser autônomo, não pode ser psicologicamente enquadrado como indivíduo que se comporta de acordo com os modelos reativo e operacional. Ele possui uma consciência crítica das premissas de valor presentes no dia a dia (GUERREIRO RAMOS, 1984, p.3-5). Navarro (1986, p.81) afirma que o perfil de homem ideal não chegou a ser consolidado ou definido. Acrescenta que Sócrates, na tentativa de responder a pergunta sobre qual lhe parecia a melhor tarefa para o homem, afirmou: “Viver bem, [...] alcançar o seu fim por meio do estudo e do exercício”. Durante as últimas décadas do século XX, começou a despontar a visão de homem que substituiria os trabalhadores industriais. Assim, emergiram o que 21 Drucker (2002) denominou “trabalhadores do conhecimento”, que representam, nos países desenvolvidos, pelo menos um terço da força de trabalho. Esses trabalhadores ocupam as vagas no mercado de trabalho graças à sua educação formal e capacidade de aplicar conhecimentos teóricos e analíticos, além de demandarem um hábito de aprendizado contínuo. A organização aprende como fruto do aprendizado dos seus valores humanos e esse aprendizado inclui saber que é ela o seu próprio centro de desempenho, sem que o indivíduo seja visto apenas como um número na planilha de custos. Dessa forma, as organizações assumem que sua ação primordial é prover a renovação dos conhecimentos dos seus componentes. Além disso, faz parte da aprendizagem das organizações saber que, assim como a sociedade do conhecimento é uma sociedade de organizações, seu órgão central e distintivo é a gerência. Como gerenciar é uma função social, a essência do gerenciamento consiste em tornar os conhecimentos produtivos, o que é alcançado apenas através das pessoas. Logo, as funções gerenciais exigem, de quem as exerce, uma visão geral mais abrangente e completa, tanto do negócio quanto de todo o cenário (DRUCKER, 2002, p.162-163). O que restringe o desempenho de uma organização não é o modelo de negócios, não é o modelo operacional, mas sim o modelo de gestão. É preciso reinventar princípios, processos e práticas de gestão para a Era Pós-Moderna, como defendem Hamel e Breen (2007). Hamel (2006) argumenta sobre a desconstrução de posturas ortodoxas na gestão, em que o excesso de supervisão sufoca a inovação, citando a Google, que busca promover um ambiente que gera pequenos projetos de raiz, que um dia podem se converter em produtos de alto valor. Esta empresa busca pessoas que têm hobbies inusitados e interesses não convencionais e as incentiva a criarem atividades que, a seu ver, possam trazer benefícios para usuários e anunciantes (HAMEL, 2006, p.52). 22 Drucker (1981), um dos pioneiros de gestão de empresas e defensor da emergência do gerenciamento como um acontecimento central da história social, escreveu que: [...] a administração por ser o órgão da sociedade especificamente incumbido de tornar os recursos produtivos - isto é, responsável pelo progresso econômico organizado - reflete o espírito predominante da era moderna. Ela é na realidade indispensável, o que explica o fato de, uma vez instituída, ter crescido tão rapidamente e com tão pouca oposição. (DRUCKER, 1981, p.4). Se uma empresa é considerada apenas como produtora de lucro, sua rede de conexões com pessoas que trabalham nela, as comunidades em que ela opera, seus consumidores e clientes e a sociedade de um modo geral são ignorados (GOLEMAN, 2014, p.244). Gaulejac (2006) apresenta uma crítica aos fundamentos da ideologia da gestão, na qual considera que coexistem pelo menos cinco paradigmas principais que orientam a maneira de pensar os problemas e as soluções administrativas. Conforme este autor, tem-se pensado a gestão centrada unicamente na otimização do funcionamento da empresa, quando seria indispensável pensar a gestão como uma forma de contribuir para a melhoria do bem estar coletivo e a emergência de uma sociedade de sujeitos. Ele realça que “o homem não é um agente mais ou menos bem adaptado às organizações que o empregam, e sim um sujeito, cuja contribuição é necessária para a criação das organizações e a produção da sociedade” (GAULEJAC, 2006, p.414). A gestão, desde o momento em que foi criada, tem sido dominada por uma concepção física de empresa, representada como um conjunto mecânico que obedece a leis precisas de funcionamento e, por isto, tornou-se uma disciplina multiforme, sem um corpus próprio. Gaulejac (2006) considera necessário mostrar que, por trás das ferramentas, dos procedimentos, dos dispositivos de informação, encontra-se uma visão do mundo e um sistema de crenças. Seria oportuno, portanto, examinar os paradigmas sobre os quais se funda a gestão. 23 De acordo com a definição proposta por Kuhn2, segundo o qual um paradigma é “um conjunto de postulados, crenças, hipóteses e métodos que os membros de uma comunidade científica partilham em dado momento”, Gaulejac (2006) identifica cinco paradigmas no campo da gestão: o modelo objetivista, o funcionalista, o experimental, o utilitarista, e o recursos humanos. Ele estabelece as características de cada um desses modelos e conclui pela proposta de que se adote um novo paradigma para fundar a gestão. O paradigma objetivista, que tende a ser o dominante, foi identificado com a abordagem científica e considera que compreender é modelizar, medir, calcular e a linguagem nesse processo é a matemática. No mundo da racionalidade formal, todas as variáveis são mensuráveis e, portanto, pode-se prever o comportamento, otimizar as escolhas, submeter ao cálculo os diferentes aspectos dos programas. Este modelo autoriza os pesquisadores a não se preocuparem com a observação concreta da condição humana, evadindo para o universo abstrato das equações matemáticas. A linguagem matemática, que constitui uma representação abstrata da realidade, quando aplicada à organização, mantém a ilusão do rigor e da neutralidade. Esta preocupação com a objetividade leva ao uso de estatísticas, dados financeiros e instrumentos de controle de gestão, de forma a evitar o subjetivismo. Martinet (1990, p.21) alerta, contudo, que todas as ferramentas de gestão defendidas por este paradigma – balanços, contas de resultados para a contabilidade, entre outros recursos – induzem comportamentos, decisões e influenciam a ação do homem sobre o homem. Portanto, infere-se que este paradigma torna a gestão voltada para resultados mensuráveis e desconhece o homem como sujeito. O paradigma funcionalista, por sua vez, tende a reduzir os fenômenos sociais às funções que eles parecem desempenhar. Identificado com a fisiologia, o modelo funcionalista considera a organização como um dado, um sistema, uma entidade que tem funcionamento normal ou lógico e cuja finalidade é garantir sua 2 Thomas S. Kuhn. The Structure of Scientific Revolutinos. 3. ed. Chicago: University of Chicago Press, 1997. 24 reprodução. Nesse contexto, os conflitos são vistos como disfunções. A abordagem funcionalista busca menos analisar a realidade do funcionamento do indivíduo e da organização do que encontrar meios para adaptar melhor um ao outro (GAULEJAC, 2006). Portanto, na perspectiva do funcionalismo, reduz-se a análise das condutas humanas aos mecanismos de adaptação e de desvio e, portanto, elas são subordinadas ao poder. Deve-se lembrar que todo poder impõe normas, regras implícitas e explícitas, enfim, uma ordem à qual os agentes devem se submeter. O paradigma experimental procura leis causais entre os diversos elementos a partir de experiências que podem ser repetidas indefinidamente e que chegam a resultados similares. Entre as contribuições deste modelo, a organização científica do trabalho pode ser considerada um exemplo. Nesse caso, o trabalhador é objeto de uma observação atenta e sistemática por parte de peritos que tirarão conclusões operatórias. O objetivo desta observação consiste em definir procedimentos ótimos para a execução das tarefas a serem cumpridas, tendo em vista a produtividade e o lucro. Os trabalhadores são considerados como engrenagens de uma máquina ou agentes de um sistema do qual eles não passam de “elementos”. Para Gaulejac (2006), este paradigma representa o triunfo da racionalidade instrumental, que consiste em fazer operar um conjunto de métodos e técnicas capazes de medir a atividade humana, transformá-la em indicadores, adequá-la em função de parâmetros precisos e canalizá-la para atender às exigências da produtividade. Este paradigma considera os trabalhadores como objetos, sobre os quais são realizadas experimentações diversas. Eles são tratados como cobaias, desprovidos da capacidade de produzir um saber ou intervir numa situação que exija tomada de posição, pensamento. O paradigma utilitarista considera que cada ator busca maximizar suas utilidades, ou seja, otimizar a relação entre os resultados pessoais de sua ação e os recursos a ela dedicados. A preocupação da utilidade é voltada para a eficiência e a rentabilidade e é preciso ser cada vez mais eficaz e produtivo para sobreviver. Nesse contexto, o conhecimento só é considerado pertinente na medida em que 25 gera soluções operacionais e, portanto, o pensamento crítico só tem sentido se a crítica for construtiva, ou seja, se gerar resultados úteis para a organização. Logo, o conformismo é uma decorrência deste modelo. O paradigma dos recursos humanos, como o próprio nome indica, considera o humano um fator da empresa. Nesse contexto, só o lucro faz sentido e a gestão, entendida como a ciência do capitalismo, tem como característica essencial o impulso em direção a um domínio que se apresenta como fundamental (CASTORIADIS, 1975). Quando se afirma que o humano é um fator da empresa, se é levado a inverter as relações entre o econômico e o social, já que a empresa, como construção social, é uma produção humana e não o inverso. Existe neste paradigma uma confusão das causalidades, expressão complementar do primado da racionalidade dos meios sobre os fins. Considerar o humano como um recurso da mesma natureza das matérias primas, do capital, das ferramentas de produção ou das tecnologias é colocar o desenvolvimento da empresa como uma finalidade em si, independentemente do desenvolvimento da sociedade. Gaulejac (2006) conclui sua análise propondo um novo paradigma, no qual sejam substituídas as visões dos modelos apresentados. Nesse sentido, a proposta que ele esboça, consiste nas mudanças ou passagens, conforme apresentado no quadro 1. 26 Quadro 1: Proposta de mudança de paradigma de gestão e respectivas características, de acordo com Gaulejac. CARACTERÍSTICA PROPOSTA DE MUDANÇA Do paradigma objetivista à análise antropológica Passar-se-ia da visão objetivista para uma visão de historicidade, na qual o indivíduo seria capaz de compreender seu passado, situar-se melhor no presente e projetar-se no futuro. Da abordagem funcionalista à Em oposição à visão funcionalista, a perspectiva análise dialética dialética admite que o humano e o social são permeados por contradições, conflitos e tensões. Admite-se, pois, a transformação e a continuidade que devem caracterizar a sociedade. Do método experimental ao procedimento clínico Em lugar de ater-se ao experimental, a abordagem clínica se propõe a compreender os diferentes pontos de vista, combinando a perspectiva fenomenológica e uma análise do contexto. Do primado do utilitarismo ao primado do simbólico Esta mudança consiste em retomar uma dimensão fundamental do ser humano, que é a ordem simbólica, ou seja, a expressão de suas necessidades através de crenças, desejos, imaginação, paixões, que dão sentido à sua existência. Do indivíduo recurso ao indivíduo sujeito Quando se toma o ser humano como sujeito, está-se admitindo que seres humanos não são coisas. Eles podem contribuir como sujeitos do conhecimento; como sujeitos históricos, que constroem a sociedade, como sujeitos de direito, dotados de dignidade e sujeitos de desejo. Fonte: Gaulejac (2006) - adaptação da autora É impulsionado pelo estímulo proposto por Gaulejac (2006) que este trabalho parte de uma visão diferente de gestão, que não considera o ser humano como coisa, como fator da empresa, como número, mas como cérebro, capaz de construir a organização, de gerenciá-la através de seu pensamento e de sua ação e, sobretudo, de trazer sua contribuição para uma sociedade melhor. 27 2.2 Neurociência Há milênios, o homem manipula o conteúdo do crânio dos seus semelhantes por motivos variados. Fazia-se trepanação (do grego trupanon, broca), a mais antiga entre as cirurgias, por inúmeras razões – especulando, as mais prováveis seriam por rituais mágicos e religiosos, para trazer sorte ou realizar sacrifícios; terapias feitas por curandeiros; tratamento médico de fraturas no crânio; obtenção das placas de osso retiradas do crânio (rondelles), para a composição de beberagens, isto é, para finalidades terapêuticas (KOLB; WHISHAW, 2002). Hipócrates, o pai da Medicina, escreveu instruções detalhadas sobre como fazer trepanações para várias indicações médicas. Ensinou que a vida e a saúde correlacionavam-se ao equilíbrio decorrente de combinações variáveis entre os quatro humores que compunham o corpo: fleuma, bile negra, bile amarela e sangue; o cérebro, constituído de fleuma úmida, era sensível aos excessos de umidade que, caso ocorressem, ocasionariam convulsões e alterações de conduta. Provavelmente, esta foi a primeira relação escrita entre cérebro e comportamento (CASTRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Em Platão, consolidou-se a noção do cérebro como sede da inteligência e das emoções, o local onde os deuses depositavam uma semente divina para que o homem, constituído por um corpo formado pelos quatro humores e por uma alma, esta imortal (porque divina), nele implantada e por ele abrigada durante a vida, pudesse compreender o mundo, ouvindo e vendo para, depois, raciocinar. Portanto, em última análise, o raciocínio refletia a própria harmonia do universo (CASTRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Thomas Willis, neuroanatomista inglês e seus seguidores, no final do século XVII, prenunciaram uma nova era: “Era Neurocêntrica, em que o cérebro não é apenas a essência do corpo, mas a visão que temos de nós mesmos”. A constatação de semelhanças entre cérebros de sapos, lagartos, coelhos, cães, macacos e homens, Thomas Willis transformou o cérebro e os nervos em alvos para os estudos neurocientíficos; ao negar ao fígado e ao coração papel mais importante 28 na fisiologia humana do que aquele que esses órgãos realmente exercem. O autor tirou desses órgãos a condição de residências de almas, concentrando tal privilégio no cérebro, ao reconhecer que as emoções, as percepções e a memória sediavam-se nos tecidos encefálicos. Ao tornar interdependentes uma alma sensitiva e uma alma racional e correlacioná-las, ele traçou os caminhos da ciência no século XXI (ZIMMER, 2004, p.20-21). A Neurociência dos dias atuais conjectura que o metabolismo cerebral é uma medida da atividade mental, mesmo porque o consumo de oxigênio e glicose aumenta proporcionalmente ao incremento da atividade celular. Na segunda década do século passado, o psiquiatra alemão Hans Berger inventou o Eletroencefalograma, descobrindo que a atividade mental provocava o bloqueio das ondas alfa no traçado do EEG e permitindo-se deduzir que, se a alteração das ondas elétricas cerebrais corresponde a um aumento da excitação neuronal, a atividade mental deveria corresponder a um aumento do metabolismo cerebral (LENT, 2010, p.591). Um novo avanço veio em 1961, com Louis Sokolov demonstrando um aumento do fluxo sanguíneo em uma localização específica no cérebro de um gato, através da estimulação luminosa da retina, através de marcação por um composto de glicose radioativa. “Representando a medida da radioatividade segundo um código de cores sobre uma imagem do cérebro, era possível obter um mapa funcional colorido da atividade cerebral” (LENT, 2010, p.593). Para a Neurociência contemporânea, o cérebro é visto como a fronteira final (GREENFIELD, 1997, p.3) no que diz respeito ao entendimento do ser humano. Neste órgão, que pesa cerca de um quilo e trezentos gramas, estariam guardados os últimos mistérios da natureza humana, sendo visto como o órgão pessoal por excelência, aquele que de fato define e carrega identidades individuais. A tarefa da ciência neural é a de fornecer explicações do comportamento em termos da atividade cerebral, de explicar como bilhões de células neurais individuais, atuam para produzir o comportamento e como, por sua vez, elas são 29 influenciadas pelo meio ambiente, assim como pelo comportamento de outras pessoas (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL, 1997, p.5). O impacto da Neurociência se dá em diferentes planos que se articulam: no plano teórico, com o fortalecimento de concepções fisicalistas de intenso colorido reducionista, que fazem do cérebro a base explicativa da experiência subjetiva; no plano clínico, com a aproximação da Psiquiatria e da Psicopatologia ao campo da Neurologia, incluindo o surgimento de uma perspectiva na qual as duas se fundiriam numa só disciplina; e, no plano social, com a emergência dessa nova figura antropológica, o sujeito cerebral, ou seja, a crescente percepção do cérebro como detentor de propriedades e funções antes atribuídas à pessoa, ao indivíduo ou ao sujeito (Ehrenberg3, 2004, apud DAVIDOVICH; WINOGRAD, 2010, p.808). Os principais desafios da Neurociência atual são: de um lado, pragmático e aplicado, há pressa em se arquitetarem recursos terapêuticos que curem ou amenizem o sofrimento daqueles que padecem de alguma disfunção do sistema nervoso (de uma cegueira congênita a um traumatismo na juventude, a alterações de humor na maturidade, às degenerações da velhice); de outro lado, conceitual e indissociável da ciência básica, encontra-se o desafio de compreender o sistema nervoso em sua plenitude, seu passado evolutivo, sua presente complexidade funcional e a natureza do processo consciente (BRITTO; BALDO, 2007, p.32-41). A Neurociência entende a cognição social como várias faixas neurais de processamento de informações que podem ser recrutadas de diversas formas (dependendo das circunstâncias que estão envolvidas) que integram e, que são coordenadas pela pessoa, para assim regular o seu comportamento social (ADOLHS, 2003). Uma importante descoberta da Neurociência, que se bem aproveitada pela administração de pessoas poderá elevar o nível de aprendizado e a qualidade cognitiva, é a afirmação de que, em algumas regiões do cérebro (uma delas o 3 EHRENBERG, A. Le sujet cerebral. Esprit, 309, 130-155 (2004). 30 hipocampo) novos neurônios continuam a nascer (neurogênese) ao longo da vida (HERCULANO-HOUZEL, 2007, p.139). Gerir pessoas deve envolver um foco mais abrangente, observando não somente o profissional para a empresa, mas também o cidadão e sua saúde cognitiva. Se dois indivíduos participarem do mesmo curso e/ou treinamento, poderão relatar lembranças muitas vezes incompletas, tendenciosas e distorcidas. “Há muitos lados da história, porque cada pessoa armazena e recupera memórias do evento de maneira diferente” (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p.217). A finalidade primeira da memória é fornecer informações para guiar as ações presentes. Para fazer isso com eficiência, geralmente, a pessoa retém apenas as experiências que são úteis de algum modo. Portanto, as lembranças são seletivas (PINTO, 2009, p.170-172). Izquierdo (2011) se refere à memória como: Aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só “grava” aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação, lembrança, recuperação. Só lembramos aquilo que gravamos, aquilo que foi aprendido. [...] O acervo de nossas memórias faz com que cada um de nós seja o que é: um indivíduo, um ser para o qual não existe outro idêntico. (IZQUIERDO, 2011, p.11) O hipocampo tem papel importante na formação de novas memórias. E a memória trata da capacidade do sistema nervoso adquirir, reter e utilizar conhecimentos. O aprendizado de novas habilidades está presente para promover a plasticidade cerebral. “Envolve a formação de novas conexões entre conglomerados de neurônios em diferentes partes cerebrais. Isso fortalece o cérebro, tornando-o saudável”. Pode-se, assim, inferir que aprender é bom (PINTO, 2009, p.173). Para Herculano-Houzel (2009), a Neurociência compreende o aprendizado sob três fatores: 31 [...] repetição, base das mudanças sinápticas que implementam a nova maneira de agir, pensar ou sentir; retorno negativo, que informa quando se erra e é preciso tentar de novo de outra maneira; e retorno positivo, que sinaliza quando se fez a coisa certa que deve ser repetida no futuro (HERCULANO-HOUZEL, 2009, p.23). Um dos principais debates da Neurociência em particular, e das ciências humanas em geral, é a dicotomia inato x aprendido no que se refere à condição saudável e patológica do funcionamento da atividade mental humana. Especificamente, as causas dos transtornos emocionais têm sido objeto de grande interesse e especulação. Acrescentam ainda que, por outro lado, a plasticidade de nosso sistema nervoso permite atenuar, ou mesmo, reverter certos quadros patológicos. O homem é sempre o resultado dos bons e maus encontros entre sua constituição e o ambiente em que vive (WINOGRAD; COIMBRA; LADEIRA-FERNAND, 2007, p.414-422). Por sua própria arquitetura, o sistema nervoso não contradiz o caráter autônomo do ser vivo e, sim, o ressalta. Logo, o processo do conhecer funda-se necessariamente no organismo como uma unidade e no fechamento operacional de seu sistema nervoso. (MATURANA; VARELA, 1995, p.194). O conhecimento de como funciona o cérebro humano tem importância fundamental para a Neurociência. As imagens cerebrais desempenham um papel preponderante no estudo do funcionamento do cérebro e diferentes técnicas são utilizadas pela Neurociência. A física e a engenharia auxiliam o conhecimento do funcionamento do cérebro através de recursos como: o Eletroencefalograma (electroencephalogram - EEG), a Ressonância Magnética funcional (function magnetic resonance imaging - fMRI), a Magnetoencefalografia (magnetoencephalogram - MEG) e a Tomografia por emissão de positrões (posítron emission tomography - PET) (ROSE, 2006, p.12). 32 2.3 Estudos da Neurociência aplicáveis à Administração Desde o século XIX, o cérebro tem funcionado como um mediador e como uma superfície de projeção. Após o rápido crescimento da discussão a respeito do impacto social da Neurociência, termos como “cerebralidade” e “sujeito cerebral” podem auxiliar a desenvolvimentos conectar processos científicos e sociais, desenvolvimentos representações em culturais, medicina, filosofia, educação, mídia e outros campos, que historiadores, filósofos, antropólogos e sociólogos têm estudado a partir de outras perspectivas. “Sujeito cerebral” é a figura antropológica que incorpora a ideia de que o ser humano é essencialmente reduzível a seu cérebro (ORTEGA; VIDAL, 2007, p.257-258). Para Marino Júnior (2010), Nosso cérebro [...] é, sem dúvida, a sede do que consideramos ser a nossa humanidade, nossa pessoalidade, bem como da ética, da moral, das emoções e sentimentos, do que é certo ou errado, bom ou mau. O cérebro nos torna único como indivíduos e nos empresta nossa personalidade, individualidade, caráter, ideais, memórias, habilidades criativas e nosso Eu ou self, nossa mente e tantas outras funções (MARINO JÚNIOR, 2010, p.109). O cérebro é o único entre todos os órgãos do corpo capaz de evoluir pessoalmente. Uma criança de cinco anos que aprende a ler está evoluindo, do ponto de vista da fisiologia do cérebro. Um cérebro adulto está evoluindo quando a pessoa aprende a controlar a raiva, a pilotar um jato ou a ter compaixão. A rica possibilidade de mudança demonstra como a evolução funciona realmente (CHOPRA; TANZI, 2013, p.125). O cérebro não é imutável nem estático; na verdade, ele é remodelado continuamente pela vida que se leva. Trata-se de uma propriedade chamada neuroplasticidade, que é a capacidade de modificar de forma considerável sua estrutura e seus padrões de atividade (DAVIDSON, 2013, p.162). A neuroplasticidade é uma reorganização da dinâmica do sistema nervoso, um novo crescimento neural gerado pela exposição a novas experiências e pelo aprendizado de novas capacidades (CHOPRA; TANZI, 2013, p.28-33). 33 Algumas aplicações da NC são abordadas a seguir: o funcionamento do cérebro humano (limitações do cérebro; a lógica de atuação do cérebro), a importância do relaxamento (relaxamento x estresse crônico; respiração; sono, meditação), a importância das pausas (pico gama; ócio criativo). 2.3.1 O funcionamento do cérebro humano Kahneman (2012, p.20) divide o pensamento humano em duas formas: a primeira é rápida, criativa, intuitiva e emocional. A outra é lenta, analítica, deliberativa e lógica. O cérebro humano trabalha coordenando os dois mecanismos. O rápido é responsável por captar as impressões imediatas de uma situação e fazer uma interpretação prévia. Em seguida, ele repassa as informações ao sistema lento de pensamento, que as processa com maior profundidade e detalhamento. O grande problema apontado por Kahneman é que, frequentemente, o sistema rápido sugere ao sistema lento impressões sobre as situações que nem sempre são as melhores ou mais corretas. De certa forma, o pensamento intuitivo é o que diferencia o ser humano dos robôs. É ele que permite ao cérebro processar informações na velocidade necessária. "Ele é mais influente. É o autor secreto de muitas decisões e julgamentos que a pessoa faz", explica Kahneman. De maneira análoga, Goleman (2014) discorre sobre os tipos de atenção que se formam em nossa mente: a atenção superior e a atenção inferior. A atenção superior é analítica e devagar (sistema “devagar” na concepção de Kahneman), examina as opções antes de dar uma resposta, opera de “cima para baixo” (sistema descendente), situando-se no córtex pré-frontal. É o que diferencia o ser humano das demais espécies animais, é a possibilidade de pensar a longo prazo, de ponderar situações e de escolher a mais adequada às próprias circunstâncias. Os circuitos descendentes tiveram maturação plena depois do sistema ascendente, há algumas centenas de milhares de anos, do ponto de vista evolutivo da espécie humana. 34 A atenção inferior é intuitiva e rápida (sistema rápido na concepção de Kahneman), age em questão de segundos, operando em um sistema ascendente, e foi o produto de milhões de anos de evolução da espécie humana. Os movimentos são automáticos: agir sem pensar muito (por exemplo, na reação de fuga, ao sentir que um perigo está se aproximando, a atenção inferior é a responsável por executar esse tipo de comportamento). Kahneman (2012, p.43) afirma que o cérebro é inerentemente preguiçoso e prefere tentar usar os circuitos já gravados para lidar com qualquer demanda, antiga ou nova. A operação consciente consome mais energia e é mais lenta que a operação inconsciente. Para economizar energia e agir mais rapidamente, o cérebro prefere atuar de forma inconsciente (automática). A maioria dos comportamentos físicos e mentais do ser humano é iniciada e ocorre à revelia da consciência. A percepção do ser humano baseia-se quase exclusivamente em circuitos gravados e usados de forma automática. O sistema nervoso consome mais glicose do que outras partes do corpo, e a atividade mental trabalhosa parece ser mais dispendiosa no consumo da glicose. O cérebro não trabalha unicamente a partir da mais recente informação sensorial, mas desenvolve previsões, simula internamente o que acontecerá se alguma ação, sob condições específicas, for realizada. O cérebro faz pressupostos para poupar tempo e recursos e tenta ver o mundo apenas na medida em que ele precisa (EAGLEMAN, 2012, p.58-60). Por vezes, o cérebro estabelece memórias que são falsas na sua origem, normalmente porque um evento é interpretado de maneira errada. Memória que se imaginou (esperou ver) e não do que de fato esteve (algo parecido e confundido); também podem ser criadas durante o que parece ser uma recordação (a pessoa está convencida que algo aconteceu, pode reformular o evento a partir de esboços de outras memórias e, então, vivenciá-la como se fosse uma recordação real) (CARVALHO; HENNEMANN, 2012). 35 O cérebro funciona como um simulador de ação: ensaia ou imita mentalmente toda ação que observa. Damásio (2004, p.92) entende que o cérebro humano é mais complexo que o de qualquer primata, porque tem a consciência do eu, a intencionalidade dos atos, que reconhecem a alteridade do outro. Explica a particularidade humana de ter percepção daquilo que se está fazendo, de desenvolver sentimento de culpa, e se sentir responsável, por meio de uma categoria biológica do próprio cérebro, os neurônios espelho. Os neurônios espelho são responsáveis pela imitação mimética do comportamento humano, possibilitando a aprendizagem. “Descobertos” por Giacomo Rizzolatti, Vittorio Gallesw e Leonardo Fogasi, no início da década de 1990, os neurônios espelho se ativam ao ver agir um outro indivíduo, normalmente da mesma espécie, impulsionando-o a fazer o mesmo ato, imitando o comportamento do outro como se ele mesmo estivesse realizando a ação. Os neurônios espelho possibilitam o reconhecimento do outro, estimulam a empatia, constituindo-se na base fisiológica do sentimento de pertença ao grupo e da identidade coletiva (GASCHLER, 2009, p.48). O cérebro é considerado um sistema principalmente fechado, que dirige sua própria atividade, gerada internamente. Como exemplos deste tipo de atividade, têm-se a respiração, a digestão e a locomoção que são controladas por geradores de atividade autônomos no tronco encefálico e na medula espinhal. Durante os sonhos, o cérebro é isolado de seu input normal, assim a ativação interna é a única fonte de estímulo cortical. No estado de vigília, a atividade interna é a base da imaginação e das alucinações. O aspecto mais surpreendente deste sistema é que os dados internos não são gerados por dados sensoriais externos, mas apenas modulados por eles (EAGLEMAN, 2012, p.54). Vários comportamentos e funções biológicas apresentam uma variação rítmica, com ciclos que se repetem periodicamente e que refletem uma adaptação evolutiva dos organismos aos fenômenos de um ambiente que apresenta mudanças recorrentes, tais como o dia e a noite. Assim, é possível que o organismo se antecipe às alterações ambientais e se prepare para responder 36 adequadamente, garantindo a variabilidade necessária para sua sobrevivência (MARQUES; MENNA-BARRETO, 2003). Os ritmos circadianos são ritmos biológicos que variam em torno de 24 horas e podem ser eventos bioquímicos, fisiológicos ou comportamentais importantes para sobrevivência. São controlados por sincronizadores externos como a luz, a alimentação, entre outros, mas também persistem sem estas pistas ambientais, o que os caracterizam como ritmos gerados endogenamente (PEREIRA; TUFIK; PEDRAZZOLI, 2009). O ser humano é um animal diurno. Para isso, diversas variáveis fisiológicas estão em seus níveis máximos durante o dia: cortisol sanguíneo (hormônio envolvido na mobilização dos estoques de glicose em situações de estresse, especialmente logo após o despertar), temperatura corporal, pressão arterial, nível de atenção, disponibilidade de glicose, colesterol, entre outras. Enquanto isso, outras variáveis estão no seu nível mais baixo: melatonina (hormônio liberado nos períodos de escuro, que está envolvido na regulação do ciclo vigília-sono), hormônio de crescimento, nível de atenção, etc. À noite, durante o sono, a situação se inverte. Com base nessa organização temporal interna, confirma-se que o ser humano tem horários ótimos para se alimentar, para dormir, para fazer exercícios e para realizar atividades cognitivas (VALENTINUZZI, 2011). 2.3.2 A importância do relaxamento Quando há momentos de relaxamento na rotina, o sistema imunológico funciona melhor (em razão da diminuição da quantidade de algumas substâncias na circulação, principalmente, a adrenalina e o cortisol - os hormônios do estresse). O cérebro registra que haverá um tempo livre e relaxante, produz uma sensação de prazer e tranquilidade prévios, como se já vivesse nessa situação, e a mente e o corpo descansam por antecipado. Um valor psicológico especial do relaxamento parece ser o de restabelecer um equilíbrio adequado da excitabilidade entre as várias partes do sistema nervoso (GUYTON; HALL, 2002, p.60). 37 Na visão de Hermógenes (2008), Relaxar é afrouxar-se. É desligar-se. É abandonar-se. É derramar-se passivamente. Ausentar-se por uns instantes da ansiedade e da luta. Relaxar é economizar esforços. É despojar-se da normal e eficiente estressante autoafirmação. Relaxar é gozar repouso. É amolecer-se. É desfrutar os inefáveis prazeres de fazer absolutamente nada (HERMÓGENES, 2008, p.74) Através do relaxamento, busca-se melhorar a relação com o meio ambiente, uma vez que este atua sobre a mente, produzindo tranquilidade e por correlação de funções, uma descontração muscular geral. As técnicas do relaxamento permitem perceber as tensões musculares e, em seguida, as controlar e as inibir (LAPIERRE, 1982, p.55). Muitos dos males da vida moderna são consequências do estresse crônico. Fisicamente, o estresse é definido como toda força que, aplicada a um objeto, provoca uma alteração; logo, diz respeito a todo acontecimento que provoca mudança rápida do corpo e do cérebro. Portanto, é o que preserva a vida, pois prepara o corpo para agir ou reagir em caso de emergência de forma inconsciente e involuntária. Todavia, o estresse é prejudicial quando se torna crônico e se estende por vários dias, pois aumenta a liberação do hormônio cortisol no sangue, causando diversos males, como doenças cardiovasculares, disfunções endócrinas, distúrbios sexuais, aceleração do envelhecimento e inúmeros danos cerebrais. Pausas de dez a vinte minutos, durante as quais a pessoa consegue se desligar de seu entorno e de suas preocupações, retiram ou pelo menos diminuem a sobrecarga de substâncias como cortisol e adrenalina no cérebro. Isso repousa os neurônios de forma que eles possam restabelecer as relações neurotransmissoras e se revitalizarem (HERCULANO-HOUZEL, 2007, p.85-148). O estresse crônico prejudica o bem-estar na vida moderna e um de seus agravantes mais terríveis é a sensação de impotência diante dos acontecimentos, a sensação de falta de controle sobre aquilo que se deseja dominar - a frustração (HERCULANO-HOUZEL, 2007, p.134). 38 A respiração é essencial à vida e, feita de forma adequada, é um antídoto contra o estresse, reduzindo a ansiedade, a depressão, a irritabilidade, a tensão muscular e a fadiga (DAVIS; ESHELMAN; MIKARY, 1996, p.61). A maioria das pessoas tensas respira mal, tem pouca capacidade vital e elasticidade torácica. Isto sucede porque a rigidez dos músculos do tronco bloqueia a caixa torácica, esta perde a elasticidade e o pulmão não pode cumprir sua função com toda normalidade. A função respiratória está intimamente ligada com a harmonia da circulação sanguínea e, portanto, é assim denominada de aparato cardiopulmonar. A reeducação do movimento respiratório combate vícios respiratórios e restaura a via nervosa correspondente, através da força voluntária durante o treinamento (VECCHIO, 1963, p.61). Durante o relaxamento, o número de respirações por minuto diminui, o que significa que a extensão de cada ciclo respiratório (conjunto de movimentos que se repetem a cada respiração) se prolonga quanto mais profundo for o relaxamento e qualquer que seja a técnica empregada. No nível fisiológico, observa-se redução do débito sanguíneo cerebral, um aumento do oxigênio arterial com relação ao oxigênio venoso e uma alcalinização do sangue em consequência da redução do gás carbônico. Fora os casos patológicos, a educação respiratória através do relaxamento parece ser, antes de tudo, uma educação dos mecanismos da respiração corrente: uma educação das percepções respiratórias, um aprendizado do controle voluntário, depois automático, da amplitude e da frequência no repouso e no esforço, um domínio das influências neuro e psicomotoras (AURIOL, 1985, p.62). São inúmeros os métodos e as técnicas de relaxamento existentes, podendo-se destacar a Yoga e a Meditação. A Yoga, na Índia, reúne um grande número de técnicas, doutrinas e variações, e tem como objetivo reforçar a homeostase fisiológica e psicológica, e é baseada em métodos que ensinam a respirar melhor, como trabalhar o corpo através de exercícios saudáveis, como relaxar (descontrair-se), como se concentrar melhor (DE ROSE, 1995, p.67). 39 Para Hermógenes (2008) Uma das definições clássicas de yoga é “a excelência na ação”. A ação eficaz, bem-sucedida, completa, sem resíduos, sem defeitos e também sem desgastes desnecessários, pode ser chamada de ação perfeita ou ação yóguica. [...] As ações a realizar em nossa existência devem ser perfeitas, sem o que ficamos endividados e, portanto, presos a elas, obrigados a repeti-las. A ação ióguica é libertadora (HERMÓGENES, 2008, p.53). A prática da meditação produz efeitos no cérebro que proporcionam respostas benéficas ao corpo como um todo. Através da estimulação contínua de complexos circuitos cerebrais que alteram a frequência das suas ondas e estimulam áreas no cérebro que ajudam a transpor o excesso de pensamentos e a acalmar a mente para que ela se torne focada e alerta. O efeito produzido pelo treinamento é algo que se deve à chamada plasticidade cerebral (MASCARO, 2008). Muitos praticantes de meditação adquirem uma espécie de percepção panorâmica, na qual estão conscientes de seus pensamentos e sentimentos, além do ambiente externo. Se a mente estiver calma, facilita a recepção dos estímulos, o que é expresso pela sincronia de fase das oscilações corticais a esses estímulos (DAVIDSON, 2013, p.226). Goleman (2013) comenta que, Ao meditar, Jobs (Steve Jobs) entrava no estado de consciência aberta. Experimentos sugerem que estar nesse estado, que é dar atenção a tudo o que está passando na mente, é a fonte dos pensamentos mais criativos. É ir além de reunir informações e ter uma atenção seletiva, num processo que usamos para resolver um problema particular. É liberar o cérebro para fazer as associações acidentais que levam a novas percepções. Artistas e inventores costumam praticar devaneios produtivos (GOLEMAN, 2013). Independente de método ou da técnica utilizada o treinamento do relaxamento se inicia como um exercício mental de concentração interna, que consiste em ficar tranquilo, pondo o corpo em maior estado de passividade (ZENTELEIT, 1968, p.68). 40 O processo de relaxamento deve se aplicar em todos os momentos da vida, a fim de adquirir um domínio de si mesmo, que capacitará o indivíduo a alcançar diversos objetivos, combatendo os maus hábitos e adquirindo outros novos e saudáveis, por meio de uma reeducação baseada no aspecto mental do relaxamento (DAVIS; ESHELMAN; MIKARY, 1996, p.68). Repousar é bom e saudável. Todavia, é necessário ouvir as necessidades do cérebro. O sono é muito mais do que um simples descanso e proporciona benefícios para o cérebro que resultam do seu modo diferente de funcionar nesse estado. Não adianta insistir em mais horas de raciocínio se os neurônios que cuidam do assunto já se esgotaram. O sono é um período de atividade intensa no cérebro, diferente do período de vigília: a consciência esta desligada, os sonhos estão ativados de vez em quando, os músculos são desativados, as memórias são passadas a limpo (o cérebro, protegido da influência dos sentidos, passa a limpo e armazena as novas informações adquiridas ao longo do dia). É o período em que o cérebro desliga os quadros associados ao estresse crônico (HERCULANO-HOUZEL, 2007, p.149). O sono é um estado de consciência, em que há repouso normal e periódico, caracterizado por um padrão de ondas cerebrais típico. Começa com uma fase de sonolência, o sono superficial, que dura de cinco a quinze minutos, e passa ao sono profundo, quando há um relaxamento dos músculos e cai a temperatura corporal. Decorridos aproximadamente noventa minutos de sono, tem início a fase dos sonhos - sono REM 4 -, durante o qual está suspensa toda a atividade muscular O primeiro período de sono REM dura apenas alguns minutos e é substituído por um novo ciclo de sono com a mesma sequência de tipos de sono: sono superficial, sono profundo e sono REM. Um ciclo de sono dura de 90 a 110 minutos e repete-se três a cinco vezes durante a noite. Os sonhos são mais comuns na fase de sono REM (TOLDBOD, 2000, p.52-54). O sono serve para restaurar as energias gastas durante a vigília, restaurar o sistema imunitário, restaurar as capacidades mentais, fazendo uma limpeza cerebral. A sigla REM vem do inglês, e significa movimento rápido dos olhos, pois neste estágio do sono os olhos da pessoa se mexem. 4 41 2.3.3 A importância das pausas A pausa permite que a engrenagem cerebral funcione melhor e que as informações sejam consolidadas. A pausa é importante para a criatividade e para a sanidade do ser humano. A cultura da pressa faz parte da realidade das pessoas no mundo contemporâneo, mas aos poucos a ciência tem mostrado que trabalhar demais é prejudicial para a saúde. Encontrar equilíbrio entre produtividade no trabalho e manter a saúde mental é um dos principais desafios da sociedade atual. O ser humano precisa de um momento, no trabalho e na vida, para parar e pensar. Sem concentração equilibrada perde-se o controle dos pensamentos. O período de interrupções no trabalho diário, o sono, prestar atenção na própria respiração, meditar, relaxar, proporcionam ativação do circuito cerebral responsável pela concentração (GOLEMAN, 2013). Santos (2014) considera que uma das descobertas mais importantes da Neurociência na última década foi o estudo dos mecanismos neurais de como a mente divaga – MW, do inglês Mind Wandering. O autor afirma que a neurofenomenologia do MW classicamente tem apontado esse estado cognitivo como prejudicial em tarefas que requerem atenção seletiva, interpretação de textos e memória. O MW é dependente de um grupo de áreas do cérebro (lobo frontal, principalmente) que envolvem córtex pré-frontal medial, cingulado posterior e córtex temporo-parietal. Mas estudos recentes de neuroimagem em humanos têm mostrado que o MW desempenha papel crucial na formação da autobiografia de um indivíduo e na resolução criativa de problemas diversos. O mais intrigante é que a rede formada pelas áreas citadas está bastante ativa no MW quando o indivíduo não tem ideia de que sua mente está divagando. O autor afirma que pode-se concluir que o MW parece ser aquele momento necessário para que uma nova ideia seja incubada, um tempo importante para a reorganização de circuitos neurais subjacentes à automatização de rotinas. As regiões reveladas pelos exames de neuroimagem como ativas durante a divagação da mente (lobo frontal, principalmente) são consideradas fundamentais para manter a pessoa focada numa tarefa. Os exames mostram que, em ambos 42 os casos, mente focada e mente divagando, tais regiões estão ativadas (GOLEMAN, 2014, p.46). Cientistas cognitivos veem a mente divagadora como o modo-padrão do cérebro – aonde ele vai quando não está trabalhando em alguma tarefa mental. Uma mente à deriva permite que sua essência criativa flua e os insights aconteçam. Entre as outras funções positivas da divagação da mente estão a geração de cenários para o futuro, a autorreflexão, a capacidade de se relacionar em um mundo social complexo, a incubação de ideias criativas, a flexibilidade do foco, a ponderação do que se está aprendendo, a organização das lembranças ou a mera meditação sobre a vida – e também a possibilidade de dar aos circuitos de foco mais intensivo uma pausa revigorante (GOLEMAN, 2014, p.45-46). Rocha (2014) diz que este é um tema instigante. A pesquisa que revela dados sobre o Mind Wandering é interessante e atesta como o devaneio se apoia num complexo arranjo de funções cerebrais. Outro dado interessante: que é uma atividade que aumenta na medida em que a mente não está sob a pressão de uma tarefa por realizar (ROCHA, 2014). Em momentos criativos menos frenéticos, pouco antes de um insight, o cérebro costuma descansar em um foco aberto e relaxado, caracterizado por um ritmo alfa. Isso sinaliza um estado de devaneio ou sonho acordado. Como o cérebro armazena diferentes tipos de informações em circuitos de amplo alcance, uma consciência vagando livremente aumenta as chances de associações em serendipidade5 e novas combinações. A consciência aberta cria uma plataforma mental para descobertas criativas e insights inesperados. A serendipidade vem primeiro com a abertura da possibilidade e, depois, com a concentração em aplicar um insight. Quando um momento imaginário ganha vida na mente, o cérebro quase que certamente gera um pico gama. Os picos gama ocorrem rotineiramente durante operações mentais e antes de insights criativos (GOLEMAN, 2014, p.47-49). 5 Serendipidade envolve fazer descobertas por obra do acaso e sagacidade, de coisas pelas quais não se está procurando (GOLEMAN, 2014, p.47). 43 O início do insight é uma inesperada atividade cerebral (pulso de ritmo gama, a mais alta frequência elétrica gerada pelo cérebro). Acredita-se que esse pulso gama é gerado pela junção elétrica de milhares de neurônios distribuídos em regiões diversas do córtex, que não costumam se comunicar entre si, mas passam a criar uma nova rede elétrica capaz de entrar na rede consciente. No entanto, para que esses neurônios gerem o pulso gama, o córtex precisa “relaxar” e desfocar para que associações mais remotas sejam recolhidas por essas eventuais sinapses errantes. O relaxamento parece ser essencial, e isso explicaria porque muitas pessoas relatam que tiveram insights durante o banho ou logo após acordar (MUOTRI, 2008). Imediatamente depois do pico gama, a nova ideia surge na consciência. Esses picos gama indicam que o cérebro teve um novo insight. Momentos espontâneos de insights criativos podem parecer realmente vir do nada. Mas, é possível supor que ocorreu esse mesmo processo, em que havia algum grau de envolvimento em um problema criativo, e em seguida, durante o “tempo ocioso”, circuitos neurais fizeram novas associações e conexões (ROMANTINI, 2013). Um modelo clássico dos estágios da criatividade representa três modalidades de foco: o foco orientado, quando se busca e se mergulha em qualquer tipo de dado; a atenção seletiva, no desafio criativo específico; e a consciência aberta, quando a pessoa se entrega à associação livre para permitir que surja uma solução. E então, se concentra na solução. Por isso, as pessoas precisam de tempo livre no qual possam manter uma consciência aberta. O tempo livre deixa o espírito criativo florescer. Insights criativos fluem quando as pessoas têm objetivos claros e também liberdade nos meios usados para atingi-los (GOLEMAN, 2014, p.48-51). Um dos maiores defensores da teoria de que o cérebro precisa de uma pausa para funcionar bem é o sociólogo italiano Domenico De Masi, que elaborou o conceito de ócio criativo. Segundo ele, é possível estabelecer uma rotina equilibrada e fazer com que o trabalho, o estudo e o lazer se cruzem de maneira tão harmoniosa que a pessoa praticamente não consiga distinguir de qual deles 44 está se ocupando em determinado momento. De acordo com De Masi, o ócio não é caracterizado por momentos inertes, mas justamente pela ocupação do tempo de forma gratificante e criativa (DE MASI, 2000, p.16). Para De Masi (2000), A espécie humana passou da atividade física para a intelectual, da atividade intelectual do tipo repetitivo à atividade intelectual do tipo criativo, do trabalho-labuta nitidamente separado do tempo livre e do estudo do ócio criativo, no qual estudo, trabalho e jogo acabam coincidindo cada vez mais (DE MASI, 2000, p.10). Em boa parte dos dicionários, o ócio aparece como sinônimo para a preguiça, caracterizada pela inatividade física e mental e a falta de produtividade. Entretanto, o tempo livre capaz de aumentar a criatividade ocorre em situações que levam uma pessoa ao contato com habilidades não utilizadas na rotina diária ou a desenvolver melhor aquelas que já são usadas. A civilização grega pôde se dedicar ao trabalho intelectual porque havia condições para ociar, ou seja, produzir ideias filosóficas, artísticas e políticas e, sob esse olhar, era preciso levar uma vida com mente e corpo sãos. Para desenvolver a criatividade, torna-se importante cuidar da máquina mental e da física, pois a criatividade está mais ligada à capacidade de acolher e de elaborar, do que aos recursos disponíveis, mesmo que haja forte troca de ideias em um grupo criativo (DE MASI, 2000, p.16). A dialética entre o direito ao trabalho e o direito ao ócio é um dos temas fundamentais na história das relações de trabalho e do movimento operário. Em contraposição à bandeira de direito ao trabalho que a classe trabalhadora começa a reivindicar no século XIX, Paul Lafargue 6 levanta a proposta de direito à preguiça, criticando vigorosamente as longas jornadas e condições de trabalho nas fábricas, na fase de expansão do capitalismo e do neocolonialismo. Lafargue cria outra ética: a preguiça como valor positivo. Essas ideias, apesar de 6 Paul Lafargue nasceu no México e foi genro de Karl Marx. Seu livro “O Direito à Preguiça” foi escrito em 1880 e publicado em 1883. Morreu em 1911, aos 70 anos, por suicídio, declarando que não iria aceitar os infortúnios da velhice. Além de destaque na literatura socialista, encontra forte ressonância na área específica do “lazer” - SILVA, José Henrique P.. O Direito à Preguiça (Paul Lafargue). Disponível em <http://estudosqualitativos.wordpress.com/psicologia-social/o-direito-apreguica-p-lafargue/>. Acesso em 07 out. 2014. 45 centenárias, soam revolucionárias e instigantes, pois, ao longo do século XX, a ideologia trabalhista foi hegemônica na sociedade industrial, seja ela burocráticocapitalista ou socialista-burocrática (BONFIM, 2008, p.101-102). A partir da premissa do caráter histórico e social do lazer, ressaltam-se as considerações sobre o ócio feitas por René Descartes (1596-1650), reconhecido como um dos precursores da ciência moderna. Nas discussões que Descartes executa sobre os caminhos para um conhecimento claro e distinto, o ócio é tema recorrente. Na construção dos argumentos para fomentar uma ciência com bases seguras, aparecem alusões ao lazer, ao repouso e ao descanso como condições para a realização de seus trabalhos. Uma das necessidades que Descartes possuía para se empreender na busca de uma ciência admirável era exatamente que seu lazer não fosse interrompido para não impedir a efetivação das suas metas de trabalho. Além disso, os benefícios provindos do conhecimento das leis e forças da natureza, ao invés de provocar trabalhos ardilosos e difíceis, devem permitir o desfrute dos benefícios do repouso e do lazer, sendo que um desses benefícios é poder entregar-se a trabalhos em busca do bem coletivo (NOGUEIRA, 2009, p.12). Mesmo sendo o lazer uma prática distinta do ócio, a maneira como esse último se apresenta em Descartes abre espaços para compreender as incidências dos sentidos de ambos nos dias de hoje. O lazer em Descartes está próximo da conotação de ‘ter tempo para’ ou ‘ter repousado suficiente para’ superar batalhas, chegar ao conhecimento verdadeiro e aquietar o espírito agitado pelas paixões da alma. Por causa disso, há uma grande preocupação no filósofo francês com o impedimento de seu lazer o qual é, ao mesmo tempo, o impedimento de sua tranquilidade para se dedicar aos desígnios aos quais se propôs. O ócio, em Descartes, se distancia do sentido de uma experiência contemplativa de pura criação e de prazer estético, desprendida da utilizada prática, para se aproximar do sentido de repouso do espírito, do descanso e da tranquilidade como indispensáveis para produzir conhecimentos seguros e capazes de promover o bem coletivo. Por esse motivo, o ócio cartesiano não é algo desinteressado, mas altamente comprometido com o bem de todos (NOGUEIRA, 2009, p.18-20). 46 O ócio pode ser muito bom, principalmente quando as pessoas se colocam de acordo com o sentido da palavra trabalho. Para os gregos, por exemplo, a palavra tinha uma conotação estritamente física – o trabalho era tudo aquilo que fizesse suar, com exceção do esporte. Quem trabalhava, isto é, suava, ou era escravo ou era cidadão de segunda classe. “As atividades não-físicas como a política, o estudo, a poesia e a filosofia eram consideradas ociosas, ou seja, como expressões mentais, dignas somente dos cidadãos de primeira classe”. A sociedade industrial permitiu que o trabalhador usasse o corpo para agir, mas não havia tempo ou liberdade para expressar-se com a mente. A sociedade pós-industrial ofereceu uma nova liberdade: depois do corpo, liberta a alma. Entende-se que é da alma que saem os ensinamentos que permitem aos indivíduos lidar com a própria realidade. É na alma que reside o que é belo (DE MASI, 2000, p.10). De Masi (2000) vai além da crítica ao modelo industrial, que ele considera arcaico e ultrapassado, e sugere um novo modelo de gestão – o Ócio Criativo, que se materializa como proposta de um novo modelo de gestão pela natural combinação de três variáveis: Trabalho, Estudo e Lazer (ou Prazer). A proposta de De Masi é conciliar uma atividade que possa ser exercida (Trabalho), que nela perceba-se e encontre-se uma forma permanente de aprendizado (Estudo) e que possa conferir uma agradável sensação de realizar algo prazeroso (Prazer) (LOUREIRO, 2013, p.82). 2.4 Ética e estudos de Neurociência O progresso advindo das contribuições da Neurociência trouxe desafios éticos, legais e sociais, principalmente pela possibilidade da aplicação dessas tecnologias tornar possível o acesso ao pensamento humano, quando se deve manter o respeito à privacidade e confidencialidade do ser humano (KIPPER, 2011, p.397). 47 A Neuroética surge como uma nova especialidade que levará ao estudo das implicações éticas de intervenções sobre o cérebro: os presentes e futuros desafios a monitorar, mapear, estimular ou alterar as funções cerebrais por meio de imagens radiológicas, fármacos ou técnicas neurocirúrgicas avançadas, que modificam a cognição, humor, afetividade e, até mesmo, invadem a privacidade dos pensamentos do ser humano – como os modernos detectores de mentira empregados em assuntos forenses ou em grupos antiterroristas (MARINO JÚNIOR, 2010, p.117). A Neurociência está se configurando, neste início de século XXI, como mais um caminho viável para a investigação do comportamento humano nas Ciências Sociais Aplicadas. Os cientistas e formadores de opinião precisam ter clara a importância do diálogo genuíno com a sociedade sobre o que fazem e pensam, sabedores que tal atitude é determinantemente crítica para a promoção de uma sociedade justa e participativa (KIPPER, 2011, p.409). Torna-se urgente considerar a necessidade de se desenhar um modelo normativo e institucional que, num futuro próximo, trate não somente de viabilizar o acesso de todos, por igual, a benefícios provenientes da revolução neurocientífica, como, especialmente, evitar que alguns (ou muitos) possam ser prejudicados por um particular uso e aplicação desses novos avanços (FERNANDEZ; FERNANDEZ, 2008, p.72). 48 3 METODOLOGIA Para se atingir os objetivos propostos para a pesquisa, a metodologia adotada neste trabalho é explicitada a seguir. O modelo teórico-metodológico que se adotou nesta pesquisa foi de natureza qualitativa, com vista a identificar possíveis contribuições da Neurociência para a gestão das organizações. A pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo (GODOY, 1995, p.58). As técnicas qualitativas podem proporcionar uma oportunidade para as pessoas revelarem seus sentimentos (ou a complexidade e intensidade dos mesmos); o modo como falam sobre suas vidas é importante; a linguagem usada e as conexões realizadas revelam o mundo como é percebido por elas (SPENCER, 1993). Quanto aos fins, foi utilizado o método exploratório, que se justifica quando o tema é pouco explorado e/ou se pretende levantar questões para outras pesquisas (GOULART, 2013). No caso presente, verifica-se que os estudos de Neurociência são recentes e são poucos os pesquisadores que têm apresentado sugestões sobre a aplicação desse conhecimento à Administração. Além disso, a autora deste trabalho pretende utilizar as informações obtidas para a construção de novos processos de pesquisa. Quanto aos meios, este estudo constitui uma pesquisa de campo. De acordo com Gil (2007), trata-se de uma técnica muito utilizada nos estudos sociais, que se caracteriza pela busca das informações previstas no objetivo geral no espaço em que elas acontecem. 49 Como sujeitos da pesquisa, foram selecionados seis especialistas no estudo da Neurociência: um biólogo, com atuação em Neurociência e comportamento; dois médicos, um com atuação em saúde, estresse e criatividade e outro com atuação em Neuropsicologia; um psicólogo com atuação em coaching, que utiliza em palestras e treinamentos conceitos ligado à Neurociência; um advogado, especialista em Neuroética e um sociólogo, com estudos em Neuromarketing e Neuroeconomia. Para se efetuar a escolha dos sujeitos, foram investigados artigos produzidos (ver Apêndice 4) e entrevistas das quais participaram na mídia, assim como a indicação de professores que atuam com os mesmos em cursos de pós-graduação na Universidade Federal de Minas Gerais. Trata-se, portanto, de uma amostra não-probabilistica, intencional, porquanto é constituída para se obter informações que caracterizam uma área de conhecimento. Após o contato da pesquisadora com os sujeitos da pesquisa, foram agendadas as entrevistas e solicitada autorização dos mesmos para gravá-las. O instrumento utilizado para coleta de dados foi uma entrevista aberta, a qual foi aplicada usando-se a seguinte estimulação: “Estou realizando uma pesquisa sobre as contribuições da Neurociência para a Administração. Sabendo que o senhor desenvolve estudos sobre este assunto, queria ouvi-lo a respeito.” A utilização da entrevista aberta aplicada aos já mencionados sujeitos, teve a intenção de permitir que cada um deles elaborasse narrativas sobre seus estudos, experiências e convicções, além da referência à sua percepção sobre as contribuições da Neurociência para a Administração. Evitou-se, com este recurso, limitar a exposição feita a uma área apenas, deixando que cada um expusesse seu ponto de vista sobre uma ou várias áreas da Neurociência. Uma vez gravadas as entrevistas, foram as mesmas transcritas pela pesquisadora, a fim de que fossem submetidas à análise. O período dedicado a cada entrevista durou, em média, 30 minutos. A interpretação das entrevistas adotou um modelo de análise de conteúdo que pareceu mais adequado a este tipo de trabalho, o qual é denominado análise da 50 enunciação e seguiu as seguintes etapas: - Leitura de cada uma das entrevistas. - Seleção no texto gravado da parte de cada entrevista que contém referência à contribuição da Neurociência para a Administração. - Transcrição das partes selecionadas no item anterior e correlação com os textos teóricos sobre o tema. Não se adotou a categorização, porque os entrevistados não se ativeram a um ramo específico da Neurociência, mas abordaram pontos diversificados de sua experiência. Considerou-se, por este motivo, preferível dar ênfase à visão de cada um deles. Desse modo, optou-se por apresentar um currículo reduzido de cada entrevistado, seguido de sua fala sobre a contribuição da Neurociência para a Administração. É oportuno realçar que as entrevistas na íntegra estão registradas em texto que será preservado pela pesquisadora e poderá ser disponibilizado para outras pesquisas e/ou para outros pesquisadores. 51 4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS Neste capítulo, são apresentados dados referentes à identificação acadêmica de cada um dos entrevistados e partes de suas entrevistas que indicam a contribuição da Neurociência para a Administração, de acordo com o ponto de vista de cada um deles. Como não houve a vinculação de cada fala a um ramo da Neurociência (Neuromarketing, Neuroeconomia, entre outros), optou-se por apresentar separadamente partes das falas de cada um dos entrevistados, estabelecendo, em seguida, a relação do que era dito com a produção científica abordada no referencial teórico deste trabalho. Entrevistado 1: Bruno Rezende de Souza É Professor Adjunto do Departamento de Fisiologia e Biofísica da Universidade Federal de Minas Gerais. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2002), especialização em Neurociência e Comportamento pela UFMG (2003), mestrado (2005) e doutorado (2007) em Farmacologia Bioquímica e Molecular pela UFMG. Realizou pósdoutorado em neurofarmacologia pela UFMG, em neurodesenvolvimento pela University of Toronto e neurogenética pelo SickKids Hospital. Atua na área de Neurociência, com ênfase em Neurodesenvolvimento, Neuropsicofarmacologia e Biologia Molecular. Atualmente é coordenador do Curso de Especialização em Neurociência e suas Interfaces da UFMG, e diretor de Educação e Transferência de Conhecimento da rede Alumni Canada Brasil.7 As partes mais relevantes da entrevista deste especialista se referem à neurobiologia do estresse, importante quando se aborda a saúde do trabalhador e à criatividade, face à competitividade nas organizações. O entrevistado aborda, ainda, a neuroplasticidade e o processo evolutivo da memória. 7 CV: http://lattes.cnpq.br/5006741787749124 52 Na parte de saúde o que mais vem tendo avanços na NC, é a neurobiologia do estresse, principalmente na questão do ambiente estressor que leva a patologias, como úlcera e ansiedade. Uma coisa importante para criatividade dentro de uma empresa é o ambiente não estressor. O ambiente estressor causa uma hiperativação de uma região do cérebro que se chama amígdala. E essa amígdala, de uma forma bem não científica inclusive, é meio dominante (durante a evolução do ser humano foi importante ativar a amígdala para que o ser humano tivesse medo, e tendo medo não se expusesse a perigos, a fim de sobreviver). A amígdala ativa muito rapidamente. Se o indivíduo estiver num ambiente muito estressor, de muita pressão, vai ativar muito o sistema amigdalar, e ativando o complexo amigdalar vai inibir a criatividade. Então dessa forma, ativando o sistema amigdalar, a pessoa fica focada naquele circuito que é o circuito que está causando o estresse. Não são muitos estudos da NC relacionados à criatividade, mas tem alguns resultados interessantes que mostram como o córtex frontal, uma região do cérebro que está envolvida, principalmente, como se fosse uma filtragem de informações da atividade cortical, pega as informações dos circuitos neurais e traz a tona. O córtex frontal está envolvido numa coisa que na NC nem fala muito, que é o livre arbítrio. Para NC, nos aspectos biológicos, a ideia, a hipótese, é de que não existe livre arbítrio. Tudo é determinado pela atividade cortical. No momento em que se tem uma ideia nova, a pessoa vai relacionar circuitos neurais que são diferenciados. São momentos de mais relaxamento, em que a pessoa está numa fase que a gente chama de fase sonhadora, em que ela vai buscando várias ideias ao mesmo tempo e, então, ela correlaciona essas ideias. Isso acontece com muitas pessoas quando estão tomando banho, quando estão num automatismo - os circuitos neurais motores estão sendo ativados para lavar a cabeça, lavar o corpo, eles não ficam planejando para a pessoa tomar uma decisão de apertar o frasco de shampoo para lavar o cabelo. Nesse momento, a pessoa vai pensando, vai lembrando de várias memórias, e pode ser que isso leve a uma ideia nova, o tão falado momento HEUREKA (quando emerge a ideia nova pelos circuitos neurais que estão sendo ativados ao mesmo tempo). É o que a gente chama de pensamento divergente, que é o contrario do pensamento convergente (quando se tem que fazer uma solução matemática e vai eliminando a atividade de outros circuitos para ativar um circuito especifico para se ter uma solução). No pensamento divergente tem-se um aumento dessa atividade. Sabemos que toda informação que a gente tem no circuito neural do cérebro provém de experiências sensoriais. Essas experiências sensoriais são consolidadas através do hipocampo, através de ativação dos circuitos neurais, e são esses circuitos neurais ativados que fazem emergir a criatividade no córtex frontal. Para que se tenha criatividade é muito importante, e a psicologia já trouxe essa informação até mesmo antes da NC, e a NC acabou pegando emprestado, é muito importante que a pessoa tenha experiências diversas – então uma viagem é importante, o fato de uma pessoa ter um hobby é importante, tudo isso faz com que a pessoa tenha experiências diversas que facilita a ativação dos circuitos para levar a uma ideia nova. É impossível ter uma ideia nova se a pessoa não tiver experiências diversas. O importante para a criatividade é que se tenha uma atividade no córtex em geral, para que haja uma ativação paralela, ao invés de uma ativação 53 só focada na solução de um problema, que é o caso do estresse no trabalho. O ambiente estressor tem uma redução, uma diminuição da atividade para a criatividade. A gente vê isso muito nessas empresas de agora, no Google (por exemplo), em que as pessoas são altamente criativas. Elas têm uma sala com videogame, uma sala com esporte... Esporte é outra coisa extremamente importante. Toda atividade física, e isso é importante para o trabalho, faz com os neurônios liberem uma coisa chamada Fator neurotrófico derivado do cérebro, chamado de BDNF. O fator neurotrófico ajuda a formar circuitos neurais. A pessoa que faz uma atividade física libera o fator neurotrófico. Quando ela estuda ou trabalha, esse fator neurotrófico facilita a formação de circuitos neurais e leva à criatividade. É importante que a pessoa tenha essa experiência, até mesmo através da atividade física, para formar circuitos neurais mais fortes, para consolidar informações, consolidar memórias. Então são vários fatores que a NC vem trazendo para várias áreas de conhecimento - áreas de trabalho, ou na escola, ou no trabalho e na gestão, e até mesmo na empresa para um líder de empresa - porque são coisas que a NC está ensinando detalhes de como funciona. Por exemplo, o que ajuda na formação de memória é perfeito para a escola, é perfeito para o trabalho. O que mais facilita a formação de circuitos neurais para que tenha essas ativações paralelas são as experiências positivas (as negativas também). Aquelas pessoas que se enfurnam em casa têm menor possibilidade de ter processos criativos do que aquelas pessoas que estão mais expostas a ambientes diferentes, a experiências de vida diferentes, que possibilitam a formação de circuitos neurais que vão levar a processos criativos. O processo criativo envolve, basicamente, criar competições entre circuitos, criar atividades paralelas para que tenha a emergência de um fenômeno que é uma ideia nova. Geralmente, as pessoas que têm ideias geniais, falam que as ideias emergem num momento em que estão relaxadas; elas podem não estar relaxadas no sentido de estarem sentadas, podem estar velejando ou surfando ou concentradas numa coisa que não exija tanto do córtex motor. Quanto mais treinada a pessoa estiver numa tarefa, menos atividade no córtex motor vai haver (a pessoa fica mais competente numa tarefa com menor atividade do córtex motor). Esse automatismo é como se fosse um circuito neural ativando fortemente sem precisar ativar outro circuito neural para achar erro, porque sabe que aquele circuito neural vai dar certo. Por exemplo, num trabalho recente, foi feito um experimento com o pé do Neymar: compararam o Neymar mexendo o pé com outro jogador de futebol, que não é craque, mexendo o pé. O córtex motor do Neymar ativa menos do que o córtex motor daquele indivíduo que não é tão bom jogador. Ou seja, aquele jogador que fica pensando em como vai mexer o pé, mesmo sendo um jogador profissional, não é tão automatizado, não é tão forte, tão bem treinado quanto o Neymar. É uma ideia muito antiga de que nós não utilizamos 100% do cérebro, o que é mentira, porque se a gente utiliza 100% do cérebro acontece uma epilepsia. Às vezes, o excesso de atividade é ruim para o cérebro. Então, no caso do Neymar ele é genial porque ele ativa pouco o córtex motor, ele é mais funcional, ele é perfeito na função dele. Outro exemplo clássico é o anel de benzeno: um bioquímico no século XIX, estava tentando resolver qual era o problema de uma estrutura química do benzeno, e não conseguia (ele ficava o tempo todo fazendo matemática, estrutura química no quadro e não resolvia). Um dia, ele 54 sonhou com uma cobra mordendo o próprio rabo e ai ele falou “ta aí a estrutura química do anel de benzeno”. Depois que ele acordou, foi fazer a estrutura e deu certo. Hoje nós sabemos o que é o anel de benzeno num momento de relaxamento, no caso o sono, uma atividade constante que está ativando várias memórias diferentes faz com que se tenha correlação de um circuito neural com outro; naquele momento, acaba levando a uma solução. Lembramos que nem todas as ativações paralelas vão levar a soluções. Quanto mais ideias você tiver maior é a chance de você ter uma ideia boa. Outra coisa que é interessante é que o cérebro tem uma memória evolutiva: se eu chegar e parar na frente de uma criança e sorrir, essa criança vai sorrir. Ela não associou ainda o sorriso ao prazer, mas sabe copiar o que a mãe está fazendo. Isso é automático. Esse mimetismo é uma coisa automática e acontece em macacos, acontece com aves. O que a gente chama de instinto na verdade, hoje na biologia, a gente chama de memória evolutiva. Até mesmo o processo de ativação amigdalar é um processo evolutivo, que a gente chama de instinto, mas nem sempre eu vou ter o instinto de ter medo, mas o instinto de ter medo existe. A neuroplasticidade é outra coisa sensacional porque mostra esse dinamismo do cérebro. Toda vez que você tem uma experiência diferente você fortalece uma sinapse ou você forma uma nova sinapse. Essa formação de sinapses é que a gente chama de plasticidade. A fala desse entrevistado corrobora a teoria analisada em vários aspectos: no que se refere à importância do relaxamento (item 2.3.2), a importância das pausas (item 2.3.3), na posição de diversos autores pesquisados que confirmam que o “ambiente estressor leva a patologias”. Portanto, de acordo com a exposição deste entrevistado e a produção científica analisada, para que haja criatividade dentro de uma empresa é importante que o ambiente não seja estressor. Além disso, o exposto pelo entrevistado concorda com De Masi (2000), Goleman (2013; 2014), Rocha (2014), Santos (2014), que defendem a ideia de que “momentos de mais relaxamento”, momentos de experiências diversas, momentos de Mind Wandering, em que a pessoa está numa fase dita “sonhadora”, são propícios ao surgimento de ideias novas, insights criativos. Logo, confirmando o exposto na teoria, este entrevistado aponta que ideias geniais emergem em momentos de relaxamento, como o exemplo citado da descoberta do anel de benzeno. Da mesma forma, ao citar o exemplo do pé do Neymar, o que foi exposto por este entrevistado está de acordo com Kahneman (2012) e Goleman (2014) (item 55 2.3.1). A atuação automática do cérebro é rápida, criativa, intuitiva e emocional. É econômica no que se refere ao gasto de energia (glicose) pelo cérebro. É o que diferencia o ser humano dos robôs e dos outros animais. Na abordagem dos neurônios espelhos e da neuroplasticidade o exposto pelo entrevistado está em consonância com Damásio (2004) e Gaschler(2009) (item 2.3.1) e Chopra (2013) e Herculano-Houzel (2007) (item 2.3), respectivamente, que mostram a dinâmica funcional do cérebro. A aplicabilidade das informações prestadas pelo entrevistado à Administração é evidente, uma vez que o mesmo valoriza a organização do ambiente para a produção de insights, fala da criatividade e da forma de produzi-la, realçando a importância da competição, o que é aplicável às organizações. O autor se refere ainda às condições emocionais que levam a provocar o comportamento de imitação e menciona a produção do estresse no ambiente de trabalho e mostra que sob efeito do estresse reduz-se a criatividade do sujeito. Entrevistado 2: Guilherme da Cunha Messias dos Santos O entrevistado tem Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006). Realizou Mestrado (2008-2009) em Ciências Biológicas (Fisiologia e Farmacologia) pelo Núcleo de Neurociência do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB-UFMG (Bolsista CNPq CAPES 7). Membro do Center For Excellence in Surgical Outcome da DUKE University. Interesse em Neurociência especialmente Neurofisiologia de sistemas e pesquisa clínica. Professor da Faculdade de Medicina da FASEH. Vem atuando em projetos de Ciências da Informação voltados para Medicina, como Extração e Recuperação de informação em saúde, processamento de linguagem natural e ontologias. Co-Fundador do Neurocurso.com, startup de educação médica à distância.8 Estudando a história da ciência, constata-se que grandes mentes sempre associavam a criatividade ao lazer. E o lazer hoje é uma coisa que você tem cada vez menos. Outra coisa que eu considero muito importante para criatividade é o sono, que no mundo moderno se tem 8 CV: http://lattes.cnpq.br/4857102786198655 56 cada vez menos, ou pelo menos se tem sono ele é muito precário especialmente, com o uso de drogas, a qualidade do sono fica deteriorada e com isso a criatividade também. A Neurociência é muito recente e com relação à criatividade a gente sabe muito pouca coisa. Mas eu acredito que a criatividade é uma essência do ser humano. Como estimular a criatividade? Não há uma receita de bolo para isso. É claro que algumas coisas podem contribuir. Com relação à criatividade, naquela entrevista que eu dei para o Estado de Minas (jornal), a gente viu lá que ela pode ser melhorada com algumas situações. Estimular um indivíduo ao ócio (eu não estou falando de nenhuma viagem) é benéfico à criatividade e tem vários estudos mostrando isso (desde a psicologia, nas últimas duas décadas isso ficou muito mais patente). O ócio é aquilo de você divagar, explorar seu inconsciente de forma sistemática, diária, um exercício de repetição. Acho que isso estimula bastante a criatividade. Não sei se dentro da psicologia existem técnicas específicas para se fazer isso. Acredito que sim. Mas essa mente divagadora ela por si só traz a criatividade. Li alguns trabalhos mostrando que a livre associação de ideias, o ócio, o lazer são capazes de recrutar áreas no cérebro que não estão tão ativas quando o indivíduo está com uma atenção seletiva muito intensa. A atenção seletiva está muito presente num trabalho, quando se está focado numa tarefa. Na realização de atividades executivas, essas áreas ficam latentes, e com o ócio, o lazer, essas áreas podem se tornar mais ativas - são áreas do lobo temporal (circuitos fronto-temporais estão mais associadas à criatividade do que áreas associadas a atenção seletiva). Alguns fatores que podem contribuir com a criatividade: sono, lazer, divagação de ideias. Como isso vai ser empregado em grandes empresas, num ambiente corporativo, é uma coisa a ser estudada. Se você olhar hoje grandes empresas, principalmente do ramo de tecnologia, empresas que trabalham com empreendedorismo serial, eles precisam de pessoas, de cabeças pensantes. É o empreendedorismo disruptivo, ou seja, a empresa está num rumo, chega uma pessoa e fala assim: “olha, o mercado está andando pra outro lugar, vocês estão andando para o lugar errado”. Essas empresas de tecnologia precisam dessas pessoas porque esse é um ramo específico que muda muito rápido. Empresas como Google, Yahoo, Amazon, Sisco, são empresas de tecnologia que precisam dessas pessoas. No Vale do Silício, lá nos Estados Unidos, o maior polo tecnológico do mundo, eles buscam pessoas desse tipo. Inclusive, há formas de atrair pessoas que tenham esse perfil. Então, se você olhar essas empresas, o ambiente de trabalho não é um ambiente de trabalho convencional. Qualquer startup, empresas de base tecnológica, com grande potencial de crescimento, empresas nascentes, têm ambiente de trabalho completamente não ortodoxo - você vai encontrar uma sala com videogame, você vai encontrar rede (rede de deitar) para descansar, as pessoas lá podem trabalhar com traje que quiserem (claro que respeitando determinadas regras, você pode ir de chinelo, de bermuda, de camiseta, boné, não tem problema). Você vê engenheiros, pessoas altamente bem formadas, indo trabalhar de chinelo, camiseta, jogando videogame. Eles colocam aquelas lousas brancas, em diversas salas da estrutura física. Então, o cara está andando, tomando um café, ele para... “bom, tive uma ideia aqui...”, escreve, vem outras pessoas adicionam. Esse ambiente de trabalho, não ortodoxo, que estimula a 57 discussão entre departamentos, entre pessoas diferentes, é um ambiente propício à criatividade. Não é mais aquela workstation em que o indivíduo assenta, com uma pilha de papel, o computador na sua frente, aquela estação de trabalho em que ele não consegue enxergar mais ninguém que está perto dele, isso está acabando. E isso começou nessas empresas de alta tecnologia. Se você for no Google você vai ver tudo colorido, poltronas no chão, as pessoas deitadas naqueles pufes e redes, jogando videogame, sinuca, totó, e isso é um ambiente de trabalho que estimula a criatividade. Eles não estão fazendo isso à toa. Não gosto muito do termo “humanização do ambiente de trabalho”. Acho que não seria essa a palavra. Talvez criativização do ambiente de trabalho, flexibilização o ambiente do trabalho. Tornar o meio de trabalho mais lúdico, talvez isso sim contribua para esse ponto que nós estamos falando da criatividade, de como a criatividade tem impacto numa empresa, por exemplo. Lembrei-me de um exemplo, pelo menos isso é experiência minha: o trabalho em que tenho que bater ponto, assim que bato ponto, eu vou embora pra casa e não me lembro de dez segundos do que eu fiz durante o dia. Agora, aquele trabalho em que eu vou para casa pensando no que eu fiz, a hora que eu quero eu saio (de novo as empresas de tecnologia fazem isso), a pessoa leva o problema pra casa, ela sonha com o problema, ela acorda, anota num caderno do lado. Isso é criatividade, isso estimula a resolução de problemas. Sobre estresse no trabalho: existe a síndrome de Burnout que é a síndrome do esgotamento. O indivíduo que tem sintomas graves de estresse a criatividade, então, passa longe. O indivíduo que está sob estresse no trabalho tem ativação do eixo do hipotálamo, hipófise e adrenal. A ativação desse eixo libera uma série de substâncias, catecolaminas, esteroides, que tem efeito deletéril sobre os neurônios, são neurotóxicos. Já tem vários estudos mostrando que a ativação do eixo HPA (hipotálamo, hipófise e Adrenal) no estresse crônico causa danos ao hipocampo. O hipocampo é uma área de consolidação de memória. O indivíduo que tem estresse ele não tem memória. Então, estresse no trabalho prejudica a memória, prejudica a atenção, prejudica a criatividade, prejudica a capacidade de resolução de problemas. Então, se tem que ter um ambiente estressante o ambiente de trabalho deveria ser o ultimo deles, porque o indivíduo vai trabalhar, mas não vai produzir. Ele vai chegar lá, vai bater ponto, vai assinar papel, vai digitar carta, mas ele não vai produzir. Então o ser humano não pode ser tratado como uma máquina – e até uma máquina precisa de manutenção. Qual é a manutenção nossa? Boa nutrição, lazer, sono é a nossa manutenção e as pessoas estão perdendo isso cada vez mais. Então a gente precisa de manutenção e essa manutenção vem dessas coisas. Então pra uma máquina render ela precisa estar bem “azeitada”. O entrevistado 2, assim como o entrevistado 1, está em consonância com os autores abordados no item 2.3 do referencial teórico deste trabalho, que 58 preconizam a importância do lazer, do descanso, do ócio, da mente divagadora para tornar o ser humano criativo e saudável. Ao comentar o estresse, o burnout, o tratamento do ser humano como máquina, este entrevistado aproxima-se de autores que anseiam por um novo paradigma na gestão (item 2.1), a exemplo de Hamel (2007; 2010), Gaulejac (2006) e Drucker (1981; 2002). Ao abordar o “empreendedorismo disruptivo”, citando como exemplo algumas empresas, o entrevistado vai ao encontro das ideias de Hamel (2006) (item 2.1), que, em entrevista dada à revista Harvard Business Review, argumentou sobre a desconstrução das posturas ortodoxas na gestão, usando também como exemplo de um novo modelo de gestão, o Google. Concluindo, pode-se afirmar que este entrevistado evidencia a importância da criatividade, menciona como ela se processa no cérebro e comenta de que forma o ambiente de trabalho pode facilitá-la ou constituir um impedimento a ela. O entrevistado faz referência, ainda à importância da nutrição, do sono, lazer, divagação de ideias como fatores que podem ser empregados em grandes empresas, num ambiente corporativo, visando a preservar a memória e facilitar o funcionamento mental. Ele cita, ainda, empresas que estão se valendo dessas condições de trabalho para obterem respostas mais criativas e contribuições novas, especialmente na área tecnológica. Entrevistado 3: - Ramon Moreira Cosenza É médico pela Universidade Federal de Minas Gerais (1971), com mestrado e doutorado em Ciências (Morfologia) pela UFMG. Tem atuação na área de Neurociência, com ênfase em Neuroanatomia e Neuropsicologia. Foi diretor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG e da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade FUMEC.9 9 CV: http://lattes.cnpq.br/7832300062369054 59 Toda a nossa atividade fisiológica é cíclica. E um dos ritmos mais importantes que nós temos é exatamente o ritmo chamado ritmo circadiano, ou seja, tem cerca de um dia de duração. Esses ritmos são regulados internamente pelo sistema nervoso, principalmente uma área do sistema nervoso que é núcleo do hipotálamo. O interessante é que esse núcleo recebe informações da retina, de tal forma que os ritmos internos são sincronizados com o ritmo claro-escuro da natureza. Praticamente, todas as nossas atividades, as nossas funções, variam nesse ciclo de 24 horas. Então, se você pegar os batimentos cardíacos, eles variam, a temperatura corporal varia, a secreção dos nossos hormônios é feita em determinadas horas (em determinadas horas o nível de nossos hormônios está mais alto, ou mais baixo). Inclusive, a glândula pineal participa dos ritmos circadianos e secreta um hormônio chamado melatonina. A melatonina é secretada à noite, quando está escuro e circula pelos diversos órgãos e informa que é noite, que é hora de dormir, que é hora de secretar determinados hormônios, que é hora de fazer isso, que é hora de fazer aquilo. Outro hormônio é o cortisol, que é secretado pela suprarrenal, no final da noite, de tal forma que ele está bem alto na hora em que a gente acorda. O cortisol é muito importante para defender o organismo de certas agressões. É muito importante, por exemplo, no estresse – quando nosso cortisol está alto, nós resistimos melhor ao estresse. O interessante é que o cortisol é secretado antes de acordamos, de tal forma que, quando acordamos pela manhã nosso cortisol está alto e ao longo do dia ele vai diminuindo e quando chega à noite, começa a secretar novamente. Outro ritmo circadiano é o ritmo de sono e de vigília. A gente dorme a noite e acorda de manhã. Somos animais diurnos, somos programados para atuar durante o dia. A temperatura corporal, por exemplo, começa a subir antes de acordarmos, vai se elevando até lá pelas 3-4 horas da tarde e depois vai caindo, de forma que à noite a gente está com a temperatura mais baixa, o que é mais propício para dormir. Então, os nossos ritmos são acoplados - por exemplo, a temperatura é acoplada com o ritmo vigília-sono. Algumas pessoas tem um desacoplamento desses ritmos – dizem: “levanto de manhã to ruim ainda, só começo a ficar bom lá pelas 11 a meio-dia. E à noite tô ligadão”. Isso acontece porque quando elas acordam de manhã a temperatura está ainda muito baixa. Então, elas não estão ainda prontas para enfrentar o dia a dia. À medida que a temperatura vai subindo, elas vão se sentindo melhor, e à noite, como a temperatura ainda está alta, elas não têm aquele sono, ainda estão ativas. Isso também está acoplado com uma série de outros ritmos, por exemplo, a frequência cardíaca, alguns hormônios, que fazem com que a pessoa seja mais ativa em determinado momento. Isso tem muita importância para pessoas que trabalham em plantões noturnos. Elas têm que reciclar o relógio biológico – nós não somos capazes, por exemplo, de trabalhar hoje num plantão noturno, amanhã noutro plantão diurno, depois de amanhã em outro plantão noturno, porque isso enlouquece nossa noção biológica. Então, aqueles que trabalham em plantão noturno, têm que trabalhar, pelo menos, uma semana, duas, em determinado turno, e aí sim, podem trocar de turno. As pessoas que mudam muito de turno costumam ter problemas, principalmente na fisiologia cardiovascular, e na fisiologia gastrointestinal. Em linhas gerais é isso. 60 A NC tem uma contribuição a dar nessa questão do respeito aos ritmos biológicos, que é muito importante num ambiente de trabalho, na produtividade das pessoas. Sabemos também que nossa atenção vai melhorando ao longo da manhã, tem um pico no início da tarde e depois vai caindo. A gente vai ficando fatigado e a atenção diminuindo. A mesma coisa é a memória. Tanto que a capacidade de aprendizagem também tem um ritmo. Nós aprendemos melhor até lá para o meio da tarde e aí tendemos a ir diminuindo. Isso é fisiológico. Os ritmos circadianos variam também ao longo da vida – o recémnascido dorme muito e tem um sono polifásico (dorme, acorda, dorme de novo); à medida que vamos amadurecendo vamos tendo um sono bifásico; e na velhice a quantidade de sono diminui consideravelmente (é mais superficial e com uma quantidade menor em relação à vigília). Uma das fases do sono, o chamado sono paradoxal (o sono de movimentos oculares rápidos) é exatamente onde ocorre a consolidação da aprendizagem, a consolidação da memória. Então se a gente não tem essa fase do sono, se não passamos por ela, a gente tem dificuldade de consolidar a aprendizagem. O respeito aos ritmos biológicos é extremamente importante para a manutenção da atenção. Nós temos uma tendência ao chamando Mind wandering. Nossa mente é andarilha. Se nós não estamos com o nível adequado de descanso e atenção, aí é que nós não conseguimos fixar nossa atenção por muito tempo. A tendência é ficarmos indo para um lado e para o outro. Divagando. Todos nós temos uma mente divagadora. Essa é a regra. Inclusive, nós temos um circuito cerebral, chamado circuito cerebral padrão, que determina o tipo de funcionamento da nossa mente. É padrão porque é assim. Quando estamos divagando, temos maior facilidade de fazer associação de ideias, isso muitas vezes leva a uma atividade criativa – liga uma coisa com outra coisa que aparentemente não tinha relação. Mas, eu não diria que é a mente divagadora que leva à criatividade. Todo mundo tem uma mente divagadora, mas nem todo mundo é criativo. Agora, estão surgindo pesquisas fazendo vínculo entre meditação e atenção. A meditação é uma das técnicas mais poderosas para modificar o cérebro e para aumentar a capacidade de atenção. Este entrevistado foi um dos primeiros a desenvolver estudos de Neurociência e o fez em pesquisas desenvolvidas principalmente no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Seu trabalho influenciou diversos pesquisadores, que continuam a desenvolver pesquisas sobre os temas iniciados por ele. As ponderações feitas elucidam o tema “ritmos circadianos”, tratado no item 2.3.1, e evidenciam a importância do respeito aos ritmos biológicos. 61 Levando em conta suas observações, é oportuno registrar que o ser humano é predominantemente diurno, sendo sua produtividade maior durante o dia e devese realçar que a prática frequente de acumular plantões pode determinar adoecimento e causar estresse ao trabalhador. Faz-se referência aos turnos de trabalho, fenômeno que interessa particularmente aos administradores, principalmente aqueles que atuam na área de administração em que há trabalho noturno, como, por exemplo, empresas hospitalares, empresas de segurança, dentre outras. Faz referência também ao melhor momento para se aprender, respeitando os ritmos circadianos e realça o caráter divagador da mente, que preside a associação de ideias e a consequente produção de coisas novas a partir de aspectos já vivenciados. Em concordância com autores como Goleman (2014), De Masi (2000) (item 2.3.3) afirma que a mente divagadora tende a facilitar a associação de ideias, o que, muitas vezes, leva a uma atividade criativa. Afirma que todos nós temos uma mente divagadora. O que o entrevistado afirma concorda com Davidson (2013) ao se referir às novas pesquisas sobre meditação que têm comprovado tratar-se de uma das técnicas mais poderosas para modificar o cérebro e para aumentar a capacidade de atenção. Vale lembrar que especialistas em Yoga têm sido contratados por organizações, visando a promover melhor funcionamento cerebral dos funcionários, especialmente daqueles ligados à gestão. Entrevistado 4: Júnior Cesar Fialho é palestrante, líder coaching, treinador organizacional e psicólogo. Promoveu dinâmica comportamental em 28 out. 2014 na UFMG, no evento “Semana do Servidor da UFMG 2014 – diversidade e políticas afirmativas”, em comemoração à Semana do Servidor 201410. 10 INSTITUTO COACHING & VIDA - http://institutocoachingevida.com.br/. (Telefone 11-4545-4045 - Cel. 11-96365-0695). 62 Destacarei o uso de novas tecnologias de pessoas embasadas na NC, de maneira especial na Liderança. Os jogadores de futebol, cirurgiões, pilotos de F1 e astronautas usam regularmente exercícios de simulação para prepará-los para situações desafiadoras. A NC na gestão de pessoas, de maneira especial, no desenvolvimento de liderança sugere que simulações também podem ajudar os líderes empresariais a pensar mais claramente sobre estresse e tomar decisões mais eficazes em situações desafiadoras. Existem muitas pesquisas espalhadas pelo mundo onde são realizadas "experiências de liderança", onde participantes de faixa etária entre 26 e 55 anos participaram de simulações com aparelhos de frequência cardíaca, pressão, biofeedback e neurofeedback, desafiando experiências em nível de Diretoria, onde em ambiente controlado lidam com conflitos, gerenciam crises e apaziguam ânimos. Tais pessoas são monitoradas continuamente durante dois dias, inclusive durante o sono. Os resultados colhidos são posteriormente analisados e combinados com outros dados recolhidos através de testes psicométricos para dar um insight sobre reações fisiológicas das pessoas para uma variedade de cenários. Neurobiologicamente, quando uma situação estressante é percebida como um desafio, o cérebro e o corpo se tornam moderadamente "excitados", otimizando as funções cerebrais, tais como a tomada de decisão, aprendizagem e formação da memória. Mas se a situação é percebida como uma ameaça, as pessoas se tornam acuadas e se preparam para o recuo, reduzindo o funcionamento cognitivo. Acredito que o uso de aparelhos de frequência cardíaca, neurofeedback e biofeedback são fundamentais para preparar os novos líderes e desenvolver pessoas fazendo uso do arcabouço teórico da NC. Em momentos de alta tensão, os líderes precisam tomar as melhores decisões possíveis, mas nesses momentos eles são mais propensos a serem prejudicados cognitivamente, através do pânico, onde as decisões podem ser tomadas de maneira emotiva. Emoções como medo, ansiedade, estresse e raiva estreitam nosso foco e inibem a nossa concentração. Quando estamos estressados ou com medo, por exemplo, lutamos para pensar com clareza, mas não é tão simples manter o equilíbrio. Se os gestores têm a oportunidade de lidar com situações emotivas e tentar algo diferente em um ambiente seguro, eles vão pensar e reagir de forma mais adequada quando voltar a entrar no local de trabalho. É uma maneira poderosa para aumentar o êxito e fornecer maior chance de equilíbrio e boas escolhas, bem como aprendizagem e mudança de vida. As descobertas da NC estão ajudando a ligar os pontos entre a interação humana e práticas de liderança eficaz. Atualmente, podemos saber melhor como o cérebro funciona; o desafio é fazer com que os líderes usem esse conhecimento para conduzir melhor as pessoas e organizações. Os estudiosos de gestão de pessoas que usam a NC como ferramenta, estão olhando para o desenvolvimento de pessoas de uma forma totalmente nova. Acredito que essa viagem apenas começou. 63 O depoimento deste entrevistado foi relacionado diretamente à importância da contribuição da Neurociência para a Administração, focalizando a possibilidade de melhorar a atuação das lideranças, realçando o significado da simulação no desenvolvimento de tomadores de decisão, e apontando a influência indesejável do estresse. Afirma que emoções como medo, ansiedade, estresse e raiva estreitam nosso foco e inibem a nossa concentração e que quando estamos estressados ou com medo, lutamos para pensar com clareza, mas não é tão simples manter o equilíbrio. O exposto pelo entrevistado concorda com a posição de diversos autores pesquisados e outros especialistas entrevistados, como Cosenza e Santos (entrevistados 3 e 2, respectivamente), que confirmam que o “ambiente estressor leva a patologias” e que a hiperativação da amígdala produz emoções negativas que interferem no equilíbrio do ser humano. Entrevistado 5: Renato César Cardoso É Professor Adjunto na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, nos cursos de Direito, de Ciências do Estado e no Programa de PósGraduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (2008) e Mestre em Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004). Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001), Bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2001). Professor universitário e pesquisador, dirige suas investigações principalmente às áreas de Filosofia do Direito, Neurodireito, Neuroética, Filosofia da Mente, História da Filosofia do Direito, Psicologia Jurídica, Filosofia do Estado, Antropologia, Filosofia do Trabalho, Relações Internacionais e Hermenêutica. Tem pós-doutorado pela Faculdade de Filosofia, da Universidade de Barcelona. É membro da Associação Internacional de Neuroética e Coordenador do Grupo de Estudos em Neuroética, da Faculdade de Direito da UFMG.11 11 CV: http://lattes.cnpq.br/0182414888427256 64 Eu tenho direcionado minhas pesquisas, nos últimos tempos, principalmente para a filosofia da mente, o que me levou a descobrir a NC. Então, a partir disso, eu comecei a estudar bastante as implicações éticas da NC, a NC da ética, as implicações jurídicas da NC. São dois campos relativamente novos: a Neuroética e o Neurodireito. Nos últimos 30 anos, tivemos um avanço enorme na NC. Até então, o que havia era uma caixa preta. A gente não conseguia saber de que maneira o cérebro trabalhava. A não ser naqueles raros casos em que alguém tinha uma psicopatia, ou alguma patologia neuronal, esperava-se que essa pessoa morresse e, numa necropsia, descobriam qual a área do cérebro naquela pessoa tinha sido afetada. Mas existiam vários problemas. Acontece que, a partir de uns 30 anos pra cá, é que a tecnologia se desenvolve demais, principalmente com os EEGs, e mais ainda, com o desenvolvimento de uma outra ferramenta que é a ressonância magnética. Com isso nós conseguimos ver o cérebro de uma pessoa viva. E mais: há algum tempo nós temos o que se chama a ressonância magnética funcional (fMRI), que possibilita vermos o cérebro das pessoas em funcionamento, enquanto elas estão fazendo uma tarefa, como por exemplo: resolvendo um problema ético, resolvendo um problema organizacional, resolvendo um problema matemático, um problema social, ou até uma tarefa motora ou qualquer coisa assim. Hoje, não precisamos esperar que uma pessoa morra para examinarmos seu cérebro, não precisamos ficar só especulando acerca de como a mente funciona. Podemos ver ao vivo, ou quase ao vivo, o cérebro de uma pessoa trabalhando. E isso é uma ferramenta fantástica. Mudou completamente o que a gente conhecia e todos os estudos do cérebro. De uma hora para a outra, o mundo se abriu na nossa frente. Isso tem um potencial fantástico em todas as áreas porque todas as ciências que trabalham com comportamento, humano de alguma forma, notaram que poderiam ganhar muito com a NC, mas com a NC como um enfoque. São várias as possibilidades que a gente pode pensar de uso da NC na gestão. Algumas até bastante preocupantes. E aqui entra a Neuroética. A Neuroética vem nos dizer o que podemos ou não fazer. Porque é possível, vamos imaginar, que um gestor passe a querer obrigar aos seus funcionários a passarem por um enhancement, um melhoramento neurocientífico, neurocientificamente embasado. Por exemplo, ele pode forçar que todos os funcionários tomem uma ritalina antes de entrar na empresa. Com isso aumentaria, segundo alguns, a produtividade, a atenção dos seus trabalhadores. É uma utilização possível. Mas será que isso é ético? Quais são os limites disso? Outra coisa muito interessante, que hoje já se discute muito principalmente nos Estados Unidos, é uma tecnologia que antigamente não funcionava muito bem, que é o polígrafo, o detector de mentiras. Hoje já há empresas especialistas em polígrafos com as novas tecnologias da NC. Então, tem-se um detector de mentiras neurocientífico que é uma ressonância magnética funcional que vai analisar como o cérebro se comporta quando a pessoa está falando mentiras. Vai estabelecer um padrão quando se está falando verdades. Depois de estabelecer um padrão no cérebro, para mentiras e para verdades, consegue-se saber, em tese, quando a pessoa está mentindo ou não. Ainda há muita discussão acerca da validade dessas conclusões. Agora imagina a aplicação disso pelo RH de uma empresa. 65 Olha que coisa complicada. Será que isso é possível? Quais os limites disso? Existe uma pesquisa muito interessante de um professor americano, que se chama Joshua Greene, que fez exatamente isso: ele pegou um problema ético, antigo, que é o problema do trem, que é o seguinte: - Tem cinco pessoas no trilho do trem. O trem está desgovernado e vai atropelar aquelas cinco pessoas. Você tem a possibilidade de puxar uma alavanca, desviar o trem, e, com isso, o trem mataria, não aquelas cinco pessoas, mas apenas uma pessoa que estava nesse outro trilho. Não há uma resposta certa. Mas o interessante é ver como que as pessoas trabalham, quais são os módulos cerebrais, os mecanismos cerebrais que elas recrutam para resolver esse problema. Descobriu-se com a NC que a maior parte das pessoas resolve esse problema utilizando aquelas partes do cérebro que são mais usadas para pensamento abstrato, para pensamento matemático, pensamento lógico, para considerações espaciais. O caso é que existe uma segunda versão desse problema, que também foi estudada, que é o seguinte: o trem está vindo e vai atropelar cinco pessoas. Mas, desta vez, para salvar cinco pessoas você precisa não só apertar uma alavanca. Você nota que tem uma pessoa mais obesa passando na frente do trem, e, basta que você dê um empurrãozinho nessa pessoa para que ela caia na frente do trem. Ao atropelar essa pessoa obesa, o trem vai parar (frear), salvando, então, a outras cinco pessoas. Em tese, o raciocínio é o mesmo: você sacrifica uma pessoa para salvar cinco. Mas, confrontado esse segundo caso, a maior parte das pessoas tem uma rejeição enorme com a ideia de empurrar alguém, mesmo aquelas que tranquilamente disseram, no primeiro exemplo, que puxariam a alavanca de forma tranquila. Qual é a diferença? A Filosofia e a Ética durante muito tempo tentou explicar porque é que os casos pareciam diferentes quando, no final das contas, as consequências são tão parecidas. O que acontece é que com a NC conseguimos ver as pessoas tentando resolver isso e o que notamos é que, se no primeiro caso as pessoas usam considerações matemáticas, lógicas, no segundo caso, elas recrutam aquelas partes do cérebro que estão mais associadas a emoção, estão mais associadas à empatia, associabilidade. Então, apesar dos casos parecerem iguais, no segundo caso, o fato de se ter que tocar a pessoa (empurrá-la) para evitar matar cinco pessoas, torna a percepção da situação como completamente diferente. O cérebro trabalha de uma forma completamente diferente com os dois casos. Este é um exemplo clássico de como que a NC está mudando profundamente a nossa concepção da ética – de onde ela vem, como ela funciona e tudo o mais. Muito se tem discutido hoje no nível do Neurodireito acerca de um direito à privacidade mental. A pessoa tem direito à privacidade mental, a não ser submetido a esses testes, seja numa entrevista, seja num .... porque podemos pensar que é algo que já se faz, que já se usa comumente em entrevistas de emprego, como essas análises de personalidade. O pessoal de RH normalmente vê qual o cargo que estão precisando (se é alguém com característica mais de seguir ordens, ou mais de liderança, com comportamento mais extrovertido, menos). São os grandes traços de personalidade - os Big Five que a gente chama. Agora, você consegue com os instrumentos da NC fazer uma análise muito mais aprofundada, muito mais detalhada disso. Mas até que ponto 66 isso é desejável, até que ponto é juridicamente possível. Isso nós vamos ter que discutir. Vamos ter que discutir num futuro muito próximo. Porque a ciência pode nos dizer o que é possível que façamos, mas o que devemos ou não fazer não é a ciência que diz, é a Ética. O uso da ciência, como ele vai ser feito, não pode ser regulado pelos próprios cientistas. Com a NC é a mesma coisa. A NC vai nos dar inúmeras ferramentas de enhancement, de melhoramento, de maior conhecimento das pessoas. Agora, nós temos que lutar profundamente para que o enhancement não se torne uma forma de exclusão. Nós temos que lutar bravamente para que esse maior conhecimento que nós podemos ter da psique, das características neurobiológicas das pessoas não se torne uma forma de preconceito. Esses são os grandes desafios da Neuroética. Inclusive como se aplicam à questão da gestão. Não podemos cair naquele otimismo ingênuo de que a ciências são só boas. O uso que a gente pode fazer delas pode ser perigoso também. É por isso que a gente estuda Neuroética. É para gente pensar na ética da NC. Usando uma frase do filme “O homem aranha” bastante interessante: “com grande poder vem grandes responsabilidades.” A energia atômica, por exemplo. A energia atômica pode ser usada para destruir cidades ou para iluminar cidades, para trazer energia limpa, ou relativamente limpa, para grande parte da população. Agora, a energia atômica não é nem boa nem ruim. Bom ou ruim são os usos que fazemos dela. Este entrevistado enfoca questões abordadas no item 2.4 deste trabalho e alerta que as descobertas feitas com base nas técnicas de mapeamento e registro cerebral não são mais eventos de ficção científica. A possibilidade que se tem de analisar o funcionamento cerebral de pessoas vivas, através de recursos como a ressonância magnética e outras tecnologias, vai além daqueles estudos do cérebro que eram realizados com órgãos de pessoas falecidas. Afirma, em consonância com o estudo, que a Neuroética assume um caráter importante no debate e controle das ações no âmbito da Neurociência. A solução de um problema tanto pode ser associada a áreas cerebrais responsáveis pelo pensamento lógico quanto a áreas cerebrais ligadas às emoções e à ética. Em consequência, a forma de encaminhamento da solução de um problema depende essencialmente da ativação de uma dessas áreas. Esclarece que o avanço dos estudos na área de NC desperta preocupações dentro e fora da comunidade científica, devido à complexidade dos sujeitos envolvidos e dos procedimentos adotados. Trata-se de uma área potencialmente 67 capaz de dar respostas às novas maneiras dos homens relacionarem-se com a natureza física e com a sua própria natureza. Além da manipulação cerebral, que avança fortemente na direção do enhancement cognitivo, outro ponto preocupante levantado por esse entrevistado refere-se à utilização de fármacos para potencializar as capacidades intelectuais e o desempenho dos indivíduos. Um ponto importante levantado pelo entrevistado diz respeito ao uso que se pode fazer do conhecimento científico, que pode ser até perigoso. Nesse caso, ele realça a necessidade de se aplicar a Neuroética. Realça, ainda, que o conhecimento que se tem hoje do psiquismo humano, das características neurobiológicas das pessoas deve servir à Administração de maneira ponderada, evitando que tal conhecimento atue como uma forma de preconceito. Infere-se, portanto, da exposição feita, que a gestão organizacional pode valer-se de várias contribuições da Neurociência, mas deve fazê-lo com parcimônia, evitando generalizações indevidas e deixando de admitir que a ciência sempre fornece contribuições boas. Essas contribuições precisam ser avaliadas eticamente antes de serem adotadas e implantadas nas organizações. Entrevistado 6: Carlos Magno Machado Dias É sociólogo, Doutorando do Programa de Pós- Graduação em Neurociência da UFMG, tem Mestrado em Ciências Sociais - Gestão de Cidades, na área de Políticas Públicas pela PUC Minas. Atualmente tem se dedicado aos estudos sobre formação de preferências eleitorais a partir da Neurociência, Neuromarketing e Neuroeconomia.12 Provavelmente em razão de sua formação, este entrevistado adota um discurso crítico, que é oportuno registrar, e, de acordo com sua visão, as descobertas da Neurociência vem servindo ao modelo de Administração trazido pelo Capitalismo. 12 CV: http://lattes.cnpq.br/9450411173054440 68 Eu sou um tanto cético com relação à humanização do espaço profissional. O processo capitalista necessariamente desumaniza a relação do trabalho. Os autores clássicos vão mostrar isso para a gente: Os funcionalistas vão dizer que o capitalismo coisifica e na medida em que coisifica, ele desumaniza. Marx fala sobre a exploração da mais valia e a alienação. Weber fala das relações de dominação. Cada vez mais, somos dominados por um conjunto de regras e o que sentimos e queremos importa menos diante das regras. As três grandes abordagens sociológicas trabalham na perspectiva dessa desumanização. Uma opinião minha: o que acontece é que a ciência da gestão, ao longo do século XX e agora no século XXI, tem buscado mecanismos de driblar não a desumanização, mas a percepção dela. O objetivo do capitalismo é extrair mais valia. Ele não mudou o objetivo. Na medida em que o capitalismo vai extraindo isso da gente, ele tem que buscar estratégias de não matar a galinha dos ovos de ouro. Aí é que vem essas estruturas de valorização do indivíduo. E dentro dessas estratégias, uma aplicação de instrumentos de NC nas organizações é extremamente pertinente. Hoje a gente já sabe que determinadas cores produzem determinados efeitos emocionais, determinados odores produzem, determinadas temperaturas produzem... Então, simplesmente ao controlar o ambiente, você pode gerar condições de extrair melhor a mais valia do outro. O objetivo do negócio não é esse? Isso aí é humanizar? Esse conceito é um tanto carente dessa definição – alguns conceitos vão caindo no uso rotineiro, cotidiano e vão perdendo o sentido, a palavra vai esvaziando, vai perdendo o significado. A humanização será adotar uma cadeira ergonômica, que não vai produzir uma doença no trabalhador; e aí isso é bom para o trabalhador ou menos ruim para o patrão? As técnicas e estratégias podem ser usadas e oferecer os estímulos externos que potencializem o aumento da produtividade do trabalhador. Sair daquela relação meramente contratual do trabalho, agregar um condicionante emocional nessa relação e a partir desse condicionante emocional ampliar as relações de dominação (como Weber expôs para nós lá nas obras dele). Isso é a lógica do sistema. O que eles querem não é a valorização do servidor. O que eles querem é extrair uma quantidade maior da mais valia, querem que o empregado entregue mais trabalho pelo mesmo tanto. Não se fala em humanização do trabalho discutindo o limite da produtividade (quanto é que você deve entregar pelo trabalho que você recebe?). Discute-se como pode melhorar o quanto você entrega. Então, como estou sendo humanizado? Estão sim, é descobrindo uma forma de me secar mais. A NC é riquíssima de conhecimento que se pode trabalhar. Por exemplo, determinadas comunidades respondem melhor ao medo. Então determinadas corporações vão funcionar muito bem com o medo. Obviamente que tem seus prejuízos, mas isso é adotado. Hoje sabemos que grande parte dos grandes gestores tem traços de psicopatia bem definidos. Os melhores gestores são psicopatas clássicos. Sabíamos disso instintivamente. Hoje, com o que já se sabe, é possível adotar alguns mecanismos e a partir dessas características aumentar a produtividade. 69 O gestor é valorizado hoje pelo foco que ele tem nos resultados. Quanto mais foco no resultado há menos preocupação com pessoas Tem gestores que tem prazer em demitir, destruir sonhos e fazem isso sem peso na consciência. A NC tem ferramentas hoje para as empresas escolherem os tipos de profissionais que elas querem na direção. Tem softwares que capturam até as expressões faciais das pessoas, que ajudam a selecionar melhor o profissional. A opinião do entrevistado 6, de que o processo capitalista necessariamente desumaniza a relação do trabalho, confirma a expectativa de Gaulejac (2006) (item 2.1), sobre a necessidade de se ter uma mudança de paradigma na gestão onde a proposta seria a mudança da visão do indivíduo como recurso (coisa) para a visão do indivíduo como sujeito (dotados de dignidade e desejo). Este entrevistado afasta-se da visão de Drucker (1981; 2002) e Hamel (2007; 2010) (item 1 e 2.1), teóricos que defendem a ideia de um modelo de gestão que se concentre numa relação de harmonia entre a organização e o trabalhador. Na sua exposição, marcadamente crítica, ele considera que é impossível esta harmonização de interesses tão divergentes. O discurso do entrevistado aborda a liderança e realça que grande parte daqueles que exercem o mando o fazem alinhados com um comportamento patológico, neurótico ou mesmo psicótico. 70 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Administração contemporânea é marcada por mudanças provocadas pela revolução nas comunicações, na tecnologia, na modernização resultante da globalização, as quais fazem com que as empresas tenham que romper paradigmas e criar novas posturas para encarar a dinâmica organizacional. Essas transformações determinam o desenvolvimento de novas atitudes empresariais para transformar a empresa numa organização capaz de ter uma visão global e sistêmica de seus processos, desenvolvendo capacidades importantes. A área da Neurociência visa à compreensão do funcionamento do sistema nervoso e de como ele se relaciona com o comportamento humano, podendo oferecer subsídios ao conhecimento e melhoria do desempenho da organização. Trata-se de uma área caracteristicamente interdisciplinar, na qual as contribuições têm vindo não só das Ciências Biológicas e da Saúde, mas também das Ciências Físicas e Humanas. Conhecer o conjunto mente–cérebro–corpo ajuda no entendimento da estrutura do comportamento humano, e, por consequência, da dinâmica organizacional. Os pontos estudados neste trabalho corroboram a importância da observação, por parte das organizações, da emergente importância atribuída às pessoas para confrontar as adversidades no presente e no futuro. A modernização na forma de gerir pessoas permitirá à organização avaliar a possível contribuição de todos os seus colaboradores, bem como deve possibilitar a conciliação de expectativas entre a organização e as pessoas de maneira mais dinâmica. No momento em que foi produzido este trabalho, era notória a preocupação com o desenvolvimento do ser humano, que na Era do Conhecimento passou a constituir uma imposição, uma vez que o investimento no capital humano é considerado atualmente o suporte fundamental de uma organização. 71 Este trabalho teve como objetivo analisar a contribuição (as descobertas, estudos, pesquisas) da Neurociência para a gestão organizacional segundo a opinião de especialistas relacionados a esta área de conhecimento. A fundamentação científica do trabalho foi buscada tanto em livros e periódicos que tratam do assunto quanto em sites disponíveis na internet. Utilizando-se as palavras-chave Gestão organizacional, Comportamento organizacional. Gestão de pessoas. Neurociência, foram buscadas dissertações, teses e artigos científicos publicados em revistas especializadas como Harvard Business Review, PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva-RJ, Psicologia em Estudo, RAE – Revista de Administração de Empresas, RAC – Revista de Administração Contemporânea, RAUSP – Revista de Administração da USP, RAM – Revista de Administração Mackenzie, dentre outras. Os sites consultados foram os seguintes: http://www.anpad.org.br (ANPAD); http://capesdw.capes.gov.br/capesdw (Banco de teses da CAPES); http://scholar.google.com.br/ (Google Acadêmico); http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_home&lng=pt&nrm=iso (SCIELO); http://www.teses.usp.br, site da Universidade de São Paulo-USP, dentre outros. O primeiro objetivo específico - Caracterizar o novo paradigma de Administração, que tem como fundamento a valorização do capital humano - foi alcançado, na medida em que foi abordada a caracterização da gestão na atualidade, sob o efeito das transformações advindas da globalização da economia, da internacionalização do poder, da expansão da informação e do conhecimento. O segundo objetivo específico - investigar o ponto de vista de especialistas relacionados às áreas de Neurociência - também foi alcançado, através da análise dos depoimentos de entrevistados. Tais falas foram submetidas à análise e confrontadas com a produção científica levantada, tendo corroborado pontos tratados no referencial teórico. 72 O terceiro objetivo específico - Propor, como produto técnico, a criação de uma página no facebook, com a finalidade de disponibilizar um espaço para a interação entre os saberes da Administração (especialmente na área de gestão de pessoas) e da Neurociência fazendo divulgação de pesquisas, descobertas, cursos, que possam vislumbrar inovação para a gestão organizacional – a página foi construída pela pesquisadora (ver Apêndice 5). As limitações da presente pesquisa são relacionadas ao fato de se tratar de uma área muito nova, ainda pouco explorada, com escassas fontes bibliográficas (livros, artigos, pesquisas) que abordem o tema. A possibilidade de aplicação dos estudos da Neurociência à Administração requer uma reflexão e uma avaliação sobre a gestão das organizações, e ainda há pouca representatividade de especialistas relacionados a tais estudos. Daí pode-se incorrer em reduzido número de contribuições em relação ao estudo proposto, uma vez que este trabalho se restringiu a entrevistas com especialistas da área de Neurociência. Restam, pois, outras especialidades que poderão constituir objeto de novas pesquisas. Como sugestão para novos trabalhos recomenda-se que sejam ouvidos outros especialistas, vinculados a organismos de pesquisa em outras regiões do Brasil e no exterior; que sejam convocados pesquisadores a participarem de fóruns de discussão onde se apresente projetos em desenvolvimento; que pós-graduandos em Administração sejam convidados a levantar questões, construir projetos de pesquisa em grupos de estudo voltados à temática explorada neste trabalho. 73 REFERÊNCIAS ADOLPHS, R.. 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A identificação dos respondentes não é obrigatória e os dados considerados confidenciais não serão divulgados. Estarei no aguardo de sua manifestação para combinarmos o horário e local em que V.Sa. poderá receber-me para realizarmos a entrevista. Desde já, agradeço pela atenção e coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários nos e-mails: [email protected] ou [email protected], ou por telefone (31) 8781-8062. SUA PARTICIPAÇÃO É MUITO IMPORTANTE. Atenciosamente, Alva Benfica da Silva Mestranda em Administração Profissional – Centro Universitário UNA Profa. Dra. Iris Barbosa Goulart Orientadora da Pesquisa – Professora do Centro Universitário UNA 80 APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO DO ENTREVISTADO Eu, _______________________________________, RG ________________, declaro ter sido informado(a) sobre a pesquisa a ser conduzida pela mestranda Alva Benfica da Silva e sobre minha participação através de um depoimento verbal que será gravado. Tenho conhecimento de que o conteúdo de meus depoimentos será utilizado para fins de publicação científica. Data _________________________________ Participante 81 APÊNDICE C ROTEIRO DA ENTREVISTA Título da Dissertação: A GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES E A NEUROCIÊNCIA: ANÁLISE DE ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES. Pesquisadora: Alva Benfica da Silva Orientadora: Profa. Dra. Iris Barbosa Goulart Coorientadora: Profa. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Objetivo: Analisar a contribuição (as descobertas, estudos, e pesquisas) da Neurociência para a gestão organizacional segundo a opinião de especialistas nas áreas estudadas. IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO: - Nome: ________________________________________________________ - Área de atuação: _______________________________________________ _______________________________________________________________ - Contatos: _____________________________________________________ _______________________________________________________________ A participação do entrevistado – A pesquisadora utilizará de uma entrevista aberta aplicada a especialistas nas áreas estudadas, de modo que se possibilite ao sujeito elaborar narrativas sobre seus estudos, experiências e convicções, com um olhar de embasamento e causalidades nas quais estas estiveram implicadas. Não haverá busca de representatividade com relação ao tema abordado como um todo e tampouco será adotado um critério amostral. Trata-se de uma amostra intencional, não probabilística, formada por sujeitos representativos 82 de cada categoria. O foco de análise está nos aspectos estruturais da percepção do entrevistado em relação ao tema abordado. - Foi solicitado consentimento do entrevistado para que a entrevista fosse gravada para posterior interpretação e esclarecimentos do foco dominante da pesquisa. A gravação que expuser contribuições por ele identificadas como úteis para a gestão das organizações será transcrita e apresentada integralmente no texto da dissertação, a fim de se preservar o apresentado pelo entrevistado. Observação: Para a identificação do entrevistado na transcrição da entrevista serão utilizados dados constantes no resumo de apresentação de seu Currículo Lattes. Estou ciente e de acordo. Local ........................................................................ Data: ........ / ......../ 2014. .............................................................................................................................. Assinatura do entrevistado: A ENTREVISTA Duração prevista: 15 a 30 minutos Hora de início: ...................................... Hora de término: ................................... Mestranda: ALVA BENFICA DA SILVA - Telefone: (31) 8781-8062 - E-mail: [email protected] ou [email protected] 83 APÊNDICE D PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS ENTREVISTADOS DISPONÍVEL NO MOMENTO DA PESQUISA • COSENZA, Ramon Moreira - Artigos completos publicados em periódicos: COSENZA, Ramon Moreira. Espíritos, Cérebros e Mentes. Revista Cérebro e Mente, Brasil, v. 16, 2002. DINIZ, Leandro F M; CRUZ, Maria de Fátima; TORRES, Virginia M; COSENZA, Ramon Moreira. O teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey: normas para uma população brasileira. Revista Brasileira de Neurologia, Brasil, v. 36, p. 79-83, 2000. 34 Citações: COSENZA, Ramon Moreira. Evolução das Ideias sobre as funções cerebrais. Revista Médica de Minas Gerais, v. 7, n.1, p. 45-51, 1997. COSENZA, Ramon Moreira; MINGOTI, Sueli A.. Season of birth and handedness revisited. Perceptual and Motor Skills. Perceptual and Motor Skills , EUA, v. 81, p. 475-480, 1995. Citações: 10| 11 SOUSA NETO, Julio Anselmo de; COSENZA, Ramon Moreira. Efeitos do vinho no sistema cardiovascular. Revista Médica de Minas Gerais, Brasil, v. 4, n.3, p. 27-32, 1994. COSENZA, Ramon Moreira; MINGOTI, Sueli A. Career choice and handedness: A survey among university applicants. Neuropsychologia Oxford , Inglaterra, v. 31, n. 5, p. 487-497, 1993. Citações: 12| 12 SOUSA NETO, Julio A; COSENZA, Ramon Moreira. A gota de chumbo no vinho. Revista Médica de Minas Gerais, Brasil, v. 3, n.2, p. 115-117, 1993. COSENZA, Ramon Moreira; SOUSA NETO, Julio Anselmo de; MACHADO, Angelo Barbosa Monteiro. The pineal recess of the opossum: A scanning and transmission electron microscope study. Microscopia Eletronica Y Biologia Celular, Argentina, v. 14, n.2, p. 101-114, 1990. COSENZA, Ramon Moreira. An ultrastructural study of the geniculosuprachiasmatic projection in the rat. Microscopia Eletronica Y Biologia Celular, Argentina, v. 11, n.2, p. 159-165, 1987. 84 COSENZA, Ramon Moreira; MOORE, Robert Yates. Afferent connections of the ventral lateral geniculate nucleus in the rat: an HRP study. Brain Research , EUA, v. 310, p. 367-370, 1984. Citações: 36| 23 COSENZA, Ramon Moreira; MACHADO, Conceição Ribeiro da Silva; MACHADO, Angelo Barbosa Monteiro. Noradrenaline content of the hypothalamus and brain-stem of rats inoculated with Trypanosoma cruzi. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo , Brasil, v. 26, n.5, p. 243-246, 1984. Citações: 4 SOUZA, Fernando Pimentel de; COSENZA, Ramon Moreira; CAMPOS, Gilberto Belizário; JOHNSON, John I. Somatic sensory cortical regions of the agouti Dasyprocta aguti. Brain, Behavior and Evolution , Suiça, v. 17, p. 218-240, 1980. - Livros publicados/organizados ou edições COSENZA, Ramon Moreira; GUERRA, L. B.. Neurociência e Educação: Como o cérebro aprende. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. v. 1. 151p. FUENTES, D. (Org.); MALLOY-DINIZ, L. F. (Org.); CAMARGO, C. H. P. (Org.); COSENZA, Ramon Moreira (Org.). Neuropsicologia, teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008. v. 1. 430p. LIMA, E. M. (Org.); CHAHUD, E. (Org.); CORREA, O. M. (Org.); BASTOS, M. A. R. (Org.); DEMO, P. (Org.); SILVA, E. M. P. (Org.); COSENZA, Ramon Moreira (Org.). Pesquisa Iniciação Científica: A experiência da Universidade FUMEC. Belo Horizonte: Universidade FUMEC, 2007. v. 01. 141p. COSENZA, Ramon Moreira. Fundamentos de Neuroanatomia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. v. 01. 147p. COSENZA, Ramon Moreira. Fundamentos de Neuroanatomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. v. 01. 143p. COSENZA, Ramon Moreira (Org.). ICB 30 Anos: Memórias do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. 1. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. v. 1. 355p. COSENZA, Ramon Moreira. Fundamentos de Neuroanatomia. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990. v. 01. 138p. - Capítulos de livros publicados COSENZA, Ramon Moreira. Memória e suas alterações no envelhecimento normal e patológico. In: Almir Tavares (Org.). Compêndio de Neuropsiquiatria Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, v. , p. -. 85 COSENZA, Ramon Moreira. Bases Estruturais do Sistema Nervoso. In: Viviam Maria Andrade; Flavia Heloísa dos Santos; Orlando F. A. Bueno. (Org.). Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004, v. , p. 37-59. GIANNETTI, Alexandre V; COSENZA, Ramon Moreira. Estruturas Cerebrais Profundas. In: A Petroianu (Org.). Anatomia Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999, v. , p. 48-55. CISALPINO, Eduardo O; COSENZA, Ramon Moreira. O Instituto de Ciências Biológicas. In: Edson J Correa; Sebastião N S Gusmão (Org.). 85 Anos da Faculdade de Medicina da UFMG. Belo Horizonte: Cooperativa Editora Médica COOPMED, 1997, v. , p. 147-149. COSENZA, Ramon Moreira; MACHADO, Angelo B M. Catecholaminecontaining nerve terminals in the brain stem of the opossum Didelphis albiventris Lund, 184l. In: C E Rocha-Miranda; Roberto Lent. (Org.). Opossum Neurobiology. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 1978, v. , p. 269288. • SOUZA, Bruno Rezende de: - Artigos completos publicados em periódicos BARROS, Alexandre Guimarães De Almeida; Bridi, Jessika Cristina; SOUZA, B. R.; DE CASTRO JÚNIOR, Célio; DE LIMA TORRES, Karen Cecília; MALARD, Leandro; JORIO, Ado; DE MIRANDA, Débora Marques; ASHRAFI, Kaveh; ROMANO-SILVA, M.A.. Dopamine Signaling Regulates Fat Content through βOxidation in Caenorhabditis elegans. Plos One , v. 9, p. e85874, 2014. BRITO-MELO, Gustavo E.A.; NICOLATO, Rodrigo; DE OLIVEIRA, Antonio Carlos P.; MENEZES, Gustavo B.; LÉLIS, Felipe J.N.; AVELAR, Renato S.; SÁ, Juliana; BAUER, Moisés Evandro; SOUZA, Bruno R.; TEIXEIRA, Antonio L.; REIS, Helton José. Increase in dopaminergic, but not serotoninergic, receptors in T-cells as a marker for schizophrenia severity. Journal of Psychiatric Research , v. 46, p. 738-742, 2012. Citações: 4| 6 MIRANDA, D. M.; MAMEDE, M.; SOUZA, B. R.; BARROS, A. G. A.; MAGNO, LAV.; MAGNO, LA; ALVIM-SOARES JR, A.; ROSA, Daniela V.F.; CASTRO, C. J.; MALLOY-DINIZ, L.; GOMEZ, M. V.; DE MARCO, L. A.; Correa, H.; ROMANOSILVA, Marco A.. Molecular medicine: a path towards a personalized medicine. Revista Brasileira de Psiquiatria (São Paulo. 1999. Impresso) , v. 31, p. 82-91, 2012. Citações: 1 SOUZA, Bruno R.; TORRES, K. C. L.; MIRANDA, D. M.; MOTTA, B. S.; CAETANO, F. S.; ROSA, D. V. F.; SOUZA, R. P.; GIOVANI JÚNIOR, A.; 86 CARNEIRO, D. S.; GUIMARÃES, M. M.; MARTINS-SILVA, C.; REIS, H. J.; GOMEZ, M. V.; JEROMIN, A.; ROMANO-SILVA, M. A.. Downregulation of the cAMP/PKA Pathway in PC12 Cells Overexpressing NCS-1. Cellular and Molecular Neurobiology , v. 31, p. 135-143, 2011. Citações: 1| 4 SOUZA, B. R.; ROMANO-SILVA, M. A.; TROPEPE, V.. Dopamine D2 Receptor Activity Modulates Akt Signaling and Alters GABAergic Neuron Development and Motor Behavior in Zebrafish Larvae. The Journal of Neuroscience , v. 31, p. 5512-5525, 2011. Citações: 17| 22 SOUZA, Bruno Rezende; TROPEPE, V.. The role of dopaminergic signalling during larval zebrafish brain development: a tool for investigating the developmental basis of neuropsychiatric disorders. Reviews in the Neurosciences , v. 22, p. 107-119, 2011. Citações: 7| 12 PEREIRA, P. A.; ROMANO-SILVA, M. A.; BICALHO, M. A. C.; DE MARCO, L. A.; CORREA, H.; CAMPOS, S. B.; MORAES, E. N.; TORRES, K. C. L.; SOUZA, Bruno Rezende; MIRANDA, D. M.. Association Between Tryptophan Hydroxylase-2 Gene and Late-Onset Depression. The American Journal of Geriatric Psychiatry (Print) , v. 19, p. 1, 2011. Citações: 2| 2 TORRES, Karen C.L.; PEREIRA, P. A.; LIMA, G. S.; SOUZA, B. R.; MIRANDA, D. M.; BAUER, M. E.; ROMANO-SILVA, M. A.. Imunossenescência. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia (UnATI. Impresso), v. 5, p. 163-169, 2011. CORDEIRO, Q.; VALLADA, H.; SOUZA, Bruno Rezende; CORREA, H.; ROMANO-SILVA, M. A.; GUINDALINI, C.; HUTZ, M. H.. Population stratification in European South-American subjects and its importance to psychiatric genetics research in Brazil. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia (Impresso), v. 32, p. 92-94, 2010. 2| 3 Citações: SOUZA, Bruno R; TORRES, K. C. L.; MIRANDA, D. M.; MOTTA, B. S.; SCOTTIMUZZI, E.; GUIMARÃES, M. M.; CARNEIRO, D. S.; ROSA, D. V. F.; SOUZA, R. P.; REIS, H. J.; JEROMIN, A.; ROMANO-SILVA, M. A.. Lack of effects of typical and atypical antipsychotics in DARPP-32 and NCS-1 levels in PC12 cells overexpressing NCS-1. Journal of Negative Results In Biomedicine, v. 9, p. 4, 2010. Citações: 3 ROSA, D. V. F.; SOUZA, R. P.; SOUZA, Bruno R.; LIMA, F. F.; VALVASSORI, S. S.; GOMEZ, M. V.; QUEVEDO, J.; ROMANO-SILVA, M. A.. Inhibitory avoidance task does not change NCS-1 level in rat brain. Brain Research Bulletin , v. 82, p. 289-292, 2010. 87 CAMPOS, S. B.; MIRANDA, D. M.; SOUZA, Bruno Rezende; PEREIRA, P. A.; NEVES, F. S.; BICALHO, M. A. C.; MELILLO, P. H. C.; TRAMONTINA, J.; KAPCZINSKI, F.; ROMANO-SILVA, M. A.. Association of polymorphisms of the tryptophan hydroxylase 2 gene with risk for bipolar disorder or suicidal behavior. Journal of Psychiatric Research , v. 44, p. 271-274, 2010. Citações: 8| 13 CAMPOS, S. B.; MIRANDA, D. M.; SOUZA, Bruno Rezende; PEREIRA, P. A.; NEVES, F. S.; TRAMONTINA, J.; KAPCZINSKI, F.; ROMANO-SILVA, M. A.; CORREA, H.. Association study of tryptophan hydroxylase 2 gene polymorphisms in bipolar disorder patients with panic disorder comorbidity. Psychiatric Genetics , v. n/a, p. n/a-n/a, 2010. Citações: 7| 7 TORRES, K. C. L.; SOUZA, B.R.; MIRANDA, D. M.; NICOLATO, R.; NEVES, F. S.; BARROS, A. G. A.; DUTRA, W. O.; GOLLOB, K. J.; CORREA, H.; ROMANOSILVA, M. A.. The leukocytes expressing DARPP-32 are reduced in patients with schizophrenia and bipolar disorder. Progress in NeuroPsychopharmacology & Biological Psychiatry , v. 33, p. 214-219, 2009. 18| 20 Citações: TORRES, K. C. L.; SOUZA, B. R.; MIRANDA, D. M.; SAMPAIO, A. M.; NICOLATO, R.; NEVES, F. S.; BARROS, A. G. A.; DUTRA, W. O.; GOLLOB, K. J.; CORREA, H.. Expression of neuronal calcium sensor-1 (NCS-1) is decreased in leukocytes of schizophrenia and bipolar disorder patients. Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry , v. 33, p. 229234, 2009. Citações: 11| 13 CORDEIRO, Q.; SOUZA, Bruno Rezende; CORREA, H.; GUINDALINI, C.; HUTZ, M. H.; VALLADA, H.; ROMANO-SILVA, M. A.. A review of psychiatric genetics research in the Brazilian population. Revista Brasileira de Psiquiatria (São Paulo) , v. 31, p. 154-162, 2009. Citações: 10| 7| 11 SOUZA, R. P.; SOARES, E. C.; ROSA, D. V. F.; SOUZA, B. R.; GOMES, K. M.; VALVASSORI, S. S.; REUS, G. Z.; INACIO, C. G.; MARTINS, M. R.; GOMEZ, M. V.. Cerebral DARPP-32 expression after methylphenidate administration in young and adult rats. International Journal of Developmental Neuroscience , v. 27, p. 1-7, 2009. Citações: 2| 2 SOUZA, Bruno R.; MOTTA, B. S.; ROSA, D. V. F.; TORRES, K. C. L.; CASTRO, A. A.; COMIM, C. M.; SAMPAIO, A. M.; LIMA, F. F.; JEROMIN, A.; QUEVEDO, J.; ROMANO-SILVA, M. A.. DARPP-32 and NCS-1 Expression is not Altered in Brains of Rats Treated with Typical or Atypical Antipsychotics. Neurochemical Research , v. 33, p. 533-538, 2008. Citações: 13| 15 88 ROSA, D. V. F.; SOUZA, R. P.; SOUZA, B. R.; GUIMARÃES, M. M.; CARNEIRO, D. S.; VALVASSORI, S. S.; GOMEZ, M. V.; QUEVEDO, J.; ROMANO-SILVA, M. A.. DARPP-32 Expression in Rat Brain After an Inhibitory Avoidance Task. Neurochemical Research , v. Epub, p. Epub, 2008. Citações: 8| 8 SOUZA, R. P.; SOARES, E. C.; ROSA, D. V. F.; SOUZA, B. R.; REUS, G. Z.; BARICHELLO, T.; GOMES, K. M.; GOMEZ, M. V.; QUEVEDO, J.; ROMANOSILVA, M. A.. Methylphenidate alters NCS-1 expression in rat brain. Neurochemistry International , v. 53, p. 12-16, 2008. Citações: 7| 7 ROSA, D. V. F.; SOUZA, R. P.; SOUZA, B. R.; MOTTA, B. S.; CAETANO, F. S.; JORNADA, L. K.; FEIER, G.; GOMEZ, M. V.; QUEVEDO, J.; ROMANO-SILVA, M. A.. DARPP-32 expression in rat brain after electroconvulsive stimulation. Neurochemical Research , v. 32, p. 81-85, 2007. Citações: 12| 12 PIMENTA, F. J.; HORTA, M. C. R.; VIDIGAL, P. V.; SOUZA, B. R.; DE MARCO, L. A.; ROMANO-SILVA, M. A.; GOMEZ, R. S.. Decreased expression of DARPP32 in oral premalignant and malignant lesions. Anticancer Research , v. 27, p. 2339-2343, 2007. Citações: 2| 2 ROSA, D. V. F.; SOUZA, R. P.; SOUZA, B. R.; MOTTA, B. S.; CAETANO, F. S.; JORNADA, L. K.; FEIER, G.; JEROMIN, A.; GOMEZ, M. V.; QUEVEDO, J.; ROMANO-SILVA, M. A.. NCS-1 expression in rat brain after electroconvulsive stimulation. Neurochemical Research , v. 32, p. 81-85, 2007. 7| 7 Citações: REIS, H. J.; ROSA, D. V. F.; GUIMARÃES, M. M.; SOUZA, B. R.; BARROS, A. G. A.; PIMENTA, F. J.; SOUZA, R. P.; TORRES, K. C. L.; ROMANO-SILVA, M. A.. Is DARPP-32 a potential therapeutic target? Expert Opinion on Therapeutic Targets , v. 11, p. 1649-1661, 2007. Citações: 13| 14 SOUZA, B. R.; SOUZA, R. P.; ROSA, D. V. F.; GUIMARÃES, M. M.; CORREA, H.; ROMANO-SILVA, M. A.. Dopaminergic intracellular signal integrating proteins: relevance to schizophrenia. Dialogues in clinical neuroscience, v. 8, p. 95-100, 2006. 13 Citações: SOUZA, R. P.; ROSA, D. V. F.; SOUZA, B. R.; ROMANO-SILVA, M. A.. DARPP32. AfCS-Nature Molecule Pages, v. 1, p. 1, 2006. Citações: 1 89 - Capítulos de livros publicados ROSA, D. V. F.; MAGNO, L. A.; SOUZA, B. R.; ROMANO-SILVA, M. A.. DARPP32. In: Sangdun Choi. (Org.). Encyclopedia of Signaling Molecules. 1. ed.: New York, NY, 2013, v. 1, p. 509-. - Textos em jornais de notícias/revistas SOUZA, B.R.; MASSENSINI, A. R.. Além dos 5 sentidos. Revista Petrobras Conhecer. • SANTOS, Guilherme da Cunha Messias dos: - Artigos completos publicados em periódicos REZENDE, R. S. P.; CALDEIRA, I. R.; GONTIJO, R. P.; BRITO, M. M. O.; SANTOS, G. C. M.. Hiperidrose compensatória, uma revisão: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Revista Médica de Minas Gerais, v. 23, p. 18, 2013. TAN, S.; KOH, G. C. H; DING, YW.; MALHOTRA, R.; HA, T.C.; PIETROBON, R.; Kusumaratna, R.; Tie, R. N.; SANTOS, G. C. M.; Martins, H; SEIM, A.; ALTERMATT, F.; BIDERMAN, A.; PUOANE, T.; CARVALHO, E.; Ostbye, T.. Inclination towards a research career among first year medical students: an international study. South East Asian Journal of Medical Education, v. 5, p. 4959, 2011. COOK, Chad; SANTOS, G. C. M.; LIMA, Raquel; PIETROBON, Ricardo; JACOBS, Danny O.; RICHARDSON, William. Geographic variation in lumbar fusion for degenerative disorders: 1990 to 2000. The Spine Journal, Estados Unidos, v. 7, p. 552-557, 2007. 13| 16 Citações: SANTOS, G. C. M.. A percepção da clientela sobre as condições da sala pediátrica do Pronto Atendimento do Hospital das Clínicas da UFMG. Revista Médica de Minas Gerais, v. 14, p. 232-238, 2004. - Capítulos de livros publicados Cofiel, L; BRENTANI, H.; CINTRA, W.; BARROS, J.; ZAVERI, A.; CARVALHO, E.; SHAH, J.; FEREIRA, A. P. B.; SANTOS, G. C. M.; URIONA-MALDONADO, M.; RAJGOR, D.; MIGUEL FILHO, E. C.; PIETROBON, Ricardo. Internet e Tecnologia da Informação como Ferramentas da Pesquisa em Psiquiatria. In: Miguel, E.C; Gentil Filho, V; Gattaz, W.F. (Org.). Clínica Psiquiátrica. Barueri: Manole, 2010, v. , p. -. 90 SANTOS, G. C. M.. Dos Neurônios à Cognição: Avanços Sobre a Neurociência da Linguagem. In: Andréa de Melo Cesar; Simone Maksud (Org.). Fundamentos e Práticas em Fonoaudiologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2008, v., p. - Textos em jornais de notícias/revistas SANTOS, G. C. M.. Divulgação Científica - NEUROLAB. Mente & Cérerbro (Scientific American) Ed. 169, 01 fev. 2007. SANTOS, G. C. M.. UFMG lança NEUROLAB. NEURONEWS da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNec), 04 jan. 2007. SANTOS, G. C. M.. O que se passa nessa cabeça? SIte divulga informações sobre o cérebro para leigos e iniciados. BOLETIM UFMG, UFMG, p. 6 - 6, 11 set. 2006. SANTOS, G. C. M.. Rejeição amorosa causa dores físicas no ser humano Blog Revista Veja. Blog Diz o Estudo da Revista Veja. SANTOS, G. C. M.; MONTEIRO, L.. Estamos na Platéia: Neurociência do Livre-Arbítrio. Estado de Minas, Caderno Bem Viver. • CARDOSO, Renato César - Livros publicados/organizados ou edições CARDOSO, Renato César. (Org.); MATOS, A. S. M. C. (Org.). Contra-história da filosofia e do estado. 1. ed. 2012. CARDOSO, Renato César. O Trabalho e o Direito: reflexões acerca da evolucão histórico-filosófica do trabalho. 2. ed. Belo Horizonte: Líder, 2010. 156p. CARDOSO, Renato César. A Ideia de Justiça em Schopenhauer. 1. ed. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2008. v. 1. 160p. CARDOSO, Renato César. O Trabalho e o Direito; reflexões acerca da evolução histórico-filosófica do trabalho enquanto objeto das relações jurídicas e da sua crise no Direito do Trabalho na contemporaneidade. 1. ed. Belo Horizonte: Líder, 2008. v. 1. 156p. - Capítulos de livros publicados CARDOSO, Renato César; GOMES, Alexandre Travessoni. A Escola da Jurisprudência dos Interesses. In: Alexandre Travessoni Gomes. (Org.). Dicionário de teoria e Filosofia do Direito. São Paulo: LTR, 2010, v. , p. -. 91 • DIAS, Carlos Magno Machado - Artigos completos publicados em periódicos FRANCO, G.; Rabelo E. M.; AZEVEDO, V.; PENA, H.; ORTEGA, J.; SANTOS, T.M.; MEIRA, W. S.; RODRIGUES, N.; DIAS, Carlos Magno Machado; HARROP, R.; WILSON, A.; SABER, M.; ABDEL-HAMID, H.; MS, M. F.; MARGUTTI, M. E.; PARRA, J. C.; PENA, S.. Evaluation of cDNA libraries from Different Developmental Stages of Schistosoma mansoni for Production of Expressed Sequence Tags (ESTs). DNA Research , v. 4, p. 231-240, 1997. Citações: 50 - Livros publicados/organizados ou edições DIAS, Carlos Magno Machado. Sociologia. Belo Horizonte: Pitágoras, 2010. v. 1. aprox 100p . FERNANDES, S. G.; DIAS, Carlos Magno Machado. Convergência. Comunicação e sociedade: Primeiros artigos de jovens publicitários. 1. ed. Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2008. v. 500. 285p. -Textos em jornais de notícias/revistas DIAS, Carlos Magno Machado. No Devido Lugar. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, 12 ago. 1998. DIAS, Carlos Magno Machado. O Movimento Universitário. Jornal O tempo, Belo Horizonte, 14 abr. 1998. 92 APÊNDICE E PRODUTO TÉCNICO - PÁGINA NO FACEBOOK • Descrição da página: - A página foi desenvolvida como produto dessa dissertação de mestrado. Uma ferramenta destinada à integração entre os saberes da Administração e da Neurociência – a Administração inovando a gestão organizacional com o auxílio da Neurociência. Pretende ser um espaço de informações, troca de ideias, interação (e integração) com pesquisas e pesquisadores, conexões com outros espaços que possam agregar conhecimento. Seu objetivo será, portanto, explorar estudos da Neurociência que apresentem aplicações à Administração - utilizar a Neurociência para inovar a Gestão organizacional. • Dados sobre a página: - Nome: Administração / Neurociência - Endereço: https://www.facebook.com/administracaoeneurociencia