Laboratório de Neurofisiologia, DFF, CCB, UFPE. 1 Eletromiografia Eletromiografia é o estudo dos fenômenos bioelétricos que ocorrem nas membranas celulares das fibras musculares esqueléticas durante o repouso, o esforço mínimo quando se tenta isolar a unidade motora, ou ainda ver várias unidades motoras trabalhando isoladas e o esforço contrátil máximo. Unidades motoras se compõem de um neuronio do corno anterior, um axônio, suas junções neuromusculares, e todas as fibras musculares inervadas por este axônio. O axônio simples conduz um impulso para todas as suas fibras musculares, fazendo com que sofram despolarização de modo relativamente simultâneo. A despolarização produz atividade elétrica, que se manifesta como potencial de ação da unidade motora que é graficamente registrada como eletromiograma. O eletromiógrafo registra a atividade elétrica presente no músculo em contração, a qual é decorrente da ativação neuromuscular em condições normais. O registro eletromiográfico é importante pois permite observar o comportamento eletrofisiológico do músculo em diferentes condições fisiológicas, analisando-se a influência da temperatura corpórea, idade, sexo, esforço (intensidade do exercício, freqüência com que se pratica o mesmo e quantidade de contrações em um determinado tempo) e do percentual de fibras musculares rápidas e lentas. A eletromiografia tem sido largamente usada para o estudo do movimento humano. Médicos, odontólogos, fisioterapeutas e profissionais esportivos que se valem do exame dizem que ele oferece um bom diagnóstico das contrações musculares. Este estudo da função de músculos enquanto estrutura viva, baseia-se num princípio estabelecido há mais de 200 anos pelo engenheiro elétrico Luigi Galvani, segundo o qual um músculo esquelético se estimulado eletricamente se contrai e, por outro lado, produz corrente elétrica quando contraído voluntariamente. Como se faz o registro O método consiste em registro da atividade eletromiográfica utilizando um sistema de captação do sinal biológico (placa de aquisição dos sinais, amplificador, sistema de canais, eletrodos) e um software para processamento do sinal (Figura 1). São usados para captação do sinal eletrodos de agulha ou eletrodos superficiais: Eletromiografia 2 1) Eletrodos de agulha que uma vez inseridos na musculatura , enviam ao eletromiógrafo sinais elétricos que correspondem a trocas iônicas ocorridas a nível celular e podem registrar a atividade de unidades motoras isoladas em repouso ou em atividade. 2) Ou eletrodos superficiais (ativo, de referência e terra) capazes de registrar de forma mais generalizada a atividade de um maior número de fibras musculares, ativadas em condições de esforço mínimo, médio e máximo. O eletrodo ativo deve estar situado sobre a região a ser estudada, o eletrodo referência pode ser colocado sobre um grupo muscular distinto do estudado e o terra em qualquer outro lugar que não seja entre o referência e o ativo. O eletrodo ativo é para captar a atividade do músculo, o referência para distinguir o grupamento a ser estudado do não estudado e o terra para prevenir interferências ambientais e para dar segurança ao paciente (Figura 2). Os sinais são amplificados e registrados na tela do computador . Laboratório de Neurofisiologia, DFF, CCB, UFPE. 3 Fisiologia Do ponto de vista fisiológico, durante uma contração muscular voluntária, a atividade gerada no córtex cerebral ativa o neurônio motor periférico localizado no tronco cerebral ( núcleos de pares cranianos motores) ou na medula espinhal e este faz contato sináptico com os músculos, despolarizando a placa motora (local de sinapse neuromuscular), gerando a contração simultânea das várias fibras musculares que compôem uma unidade motora. O registro eletromiográfico que o eletrodo vai detectar no interior do músculo é a soma dos potenciais de ação de todas as fibras musculares da unidade motora que entram conjuntamente em atividade porque são inervados pelo mesmo neurônio motor. A eletromiografia é o estudo desses potenciais de ação analisando suas diferentes características fisiológicas, assim como suas alterações patológicas. Achados eletromiográficos São mostrados registros com ondas de amplitude e freqüência características dos diferentes tipos de fibras musculares ativadas. As fibras musculares lentas apresentam registros com ondas de alta amplitude e baixa freqüência enquanto que as fibras musculares rápidas, ondas de baixa amplitude e alta freqüência. Por exemplo, o bíceps que é um músculo com predominância de fibras rápidas (atividade fásica), durante uma flexão com velocidade e sem resistência (Figura 3A), vai apresentar um registro eletromiográfico com potenciais de alta freqüência e baixa amplitude (Figura 3B). No entanto, durante uma contração lenta que exija força Eletromiografia 4 (Figura 4A) o seu registro indicará o recrutamento de fibras lentas com potenciais de baixa freqüência e alta amplitude (Figura 4B). Figura 3A – Eletromiograma do músculo bíceps em flexão do braço durante um esforço mínimo (sem resistência). Laboratório de Neurofisiologia, DFF, CCB, UFPE. 5 Figura 3B – Histograma de freqüência versus amplitude de um eletromiograma de bíceps em esforço mínimo. Fibras de baixa amplitude mostram uma alta freqüência de disparo. Eletromiografia 6 Figura 4A – Eletromiograma do músculo bíceps em flexão do braço durante um esforço máximo. Laboratório de Neurofisiologia, DFF, CCB, UFPE. 7 Figura 4B – Histograma de freqüências do músculo bíceps em esforço máximo. O histograma apresenta uma diminuição da freqüência nas baixas amplitudes e ocorre o incremento e aparecimento de freqüências em amplitudes mais elevadas. Quando se introduz um eletrodo agulha a reposta normal consiste de um breve período de despolarização, devida a irritação mecânica das fibras musculares. A contração voluntária mínima produz potenciais de ação de unidades motoras individuais. O aumento da contração voluntária gera padrão completo de interferência, criado pela descarga assincrônica de muitas fibras musculares (Figura 5A). Se a membrana muscular estiver instável, devido a denervação, ao trauma, a desequilíbrio eletrolítico ou a lesão do motoneurônio superior, suas fibras ficam hipersensíveis à acetilcolina, do que resultam fibrilações ( contrações espontâneas ao acaso de fibras musculares individuais). Ocorrem fibrilações quando a pessoa pretende que o músculo fique inativo, em repouso. Se o músculo é reinervado, são registrados potenciais musculares, com amplitude acima do normal, devido aos axônios estarem inervando numero maior que o normal de fibras musculares (Figura 5B). Na doença primária do músculo (miopatia), os axônios inervam numero abaixo Eletromiografia 8 do normal de fibras musculares, resultando em registro dos potenciais de ação de pequena amplitude. A miopatia é indicada por potenciais musculares de curta duração e pequena amplitude durante a contração voluntária, pela falta de atividade espontânea do músculo ( fibrilações, fasciculações) e pela ausência de participação sensorial. Não ocorre atividade espontânea na miopatia . Nas miopatias, notamos durante o esforço mínimo, uma elevação da velocidade de recrutamento das unidades motoras com aumento do numero de fibras recrutadas em relação ao esforço realizado, assim como diminuição da amplitude e da duração dos potenciais, com aumento proporcional do numero de potenciais polifásicos pequenos e curtos. Durante o esforço máximo, apesar do padrão de recrutamento completo, chama a atenção a diminuição da duração e da amplitude dos potenciais, que é tão mais acentuada quanto mais severo for o acometimento (Figura 5C). Laboratório de Neurofisiologia, DFF, CCB, UFPE. 9 Figura 5: Figura reproduzida do livro Diagnóstico Diferencial em Neurologia, John Patten A B C Eletromiografia 10 USO DA ELETROMIOGRAFIA NAS DIVERSAS ÁREAS DE SAÚDE FISIOTERAPIA Exame da função muscular; padrões de resposta muscular, início e fim da atividade, e o nível de resposta muscular em relação ao esforço, tipo de contração muscular rápida ou lenta. Avaliação da capacidade dos exercícios em facilitar ou inibir a atividade muscular durante o procedimento terapêutico. Avaliação da atividade muscular durante a marcha, se a instrumentação permite um acompanhamento simultâneo e coordenado da atividade; por exemplo, filme, vídeo tape, eletrogoniômetros, ou interruptores de contato e de apoio. Além disso, permite uma melhor avaliação da etiologia implicada para definição de um tratamento mais adequado, é útil na pesquisa da predominância de fibras fásicas ou tônicas na composição do músculo esquelético, auxilia na pesquisa dos músculos que integram o movimento além dos motores principais. MEDICINA Permite um melhor diagnóstico diferencial entre uma contração fisiológica e uma patológica. Orienta também no estudo de patologias musculares de origem degenerativa e inflamatória e no reconhecimento de distúrbios do músculo associado a doenças metabólicas. Obs. Na medicina o exame mais usado é o eletroneuromiograma que serve para diferenciar os distúrbios do nervo, da junção neuromuscular, e do músculo sendo que este não diagnostica qual o motivo da lesão, apenas mostra que ela existe. EDUCAÇÃO FÍSICA Laboratório de Neurofisiologia, DFF, CCB, UFPE. 11 Permite avaliar a eficácia de equipamentos de musculação, indicando as melhores posições para se trabalhar um determinado músculo; Compara, de acordo com um caminhar normal, se um indivíduo está ou não com uma falha mecânica na execução do movimento; Analisa o deslocamento da freqüência de disparo das fibras musculares que, com o aparecimento da fadiga, disparam em freqüências mais baixas. Evita que se chegue ao ponto de quebra que é o ponto de fadiga, diagnosticando qual é o ponto de fadiga da pessoa, pode-se aproveitar o máximo da sua capacidade. Acompanhamento melhor da evolução de um atleta verificando o crescimento do número de unidades motoras recrutadas. Pesquisa-se a atividade de outros músculos que atuam em um determinado movimento, além do músculo principal. Em avaliações físicas auxilia na análise de predominância de fibras fásicas ou tônicas. Dessa maneira pode-se encaminhar o atleta para o esporte que ele, por sua condição genética, desempenhará melhor. FONOAUDIOLOGIA Avalia-se melhor as condições iniciais do paciente e a progressão do mesmo em relação a músculos da expressão facial, deglutição, respiração e mastigação . ODONTOLOGIA É útil na investigação da etiologia da dor em síndromes das articulações têmporo-mandibulares, quando suspeita-se da existência de um tensionamento muscular. Ela capta a ativação do músculo elaborando um gráfico dessa ação, registrando as alterações intrínsecas dos potenciais elétricos. Avalia se os músculos da ATM estão trabalhando no momento certo e com a devida intensidade. Eletromiografia 12 Além da função de diagnosticar, o exame eletromiográfico funciona como bio-feedback, educando a pessoa para autocuidados. TERAPIA OCUPACIONAL Terapeuta ocupacional trabalha com músculos agonistas e antagonistas de forma dinâmica pois estuda movimentos cognitivos. Ajuda tanto em uma avaliação como para ver o resultado de um tratamento. Os profissionais da área de saúde precisam usar sabiamente a eletromiografia, reconhecendo, contudo, suas limitações como instrumento de mensuração. A EMG fornece informações durante o tratamento ou avaliação que podem aumentar a eficácia destes atuando como um mecanismo de feedback em várias situações fisiológicas e patológicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS