LUCIANA MARIA ARAÚJO RABÊLO EFEITOS DE UM INIBIDOR DO

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LUCIANA MARIA ARAÚJO RABÊLO
EFEITOS DE UM INIBIDOR DO TIPO
KUNITZ DE SEMENTES DE Mimosa regnellii Benth SOBRE
EVENTOS CELULARES DA LINHAGEM TUMORAL B16-F10
NATAL
2016
LUCIANA MARIA ARAÚJO RABÊLO
EFEITOS DE UM INIBIDOR DO TIPO
KUNITZ DE SEMENTES Mimosa regnellii Benth SOBRE
EVENTOS CELULARES DA LINHAGEM TUMORAL B16-F10
Tese apresentada à Universidade
Federal do Rio Grande do Norte –
como requisito parcial para obtenção
do título de Doutor em Bioquímica.
Orientador:
Santos.
NATAL
2016
Elizeu
Antunes
dos
II
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Biociências - CB
Rabelo, Luciana Maria Araújo.
Efeitos de um inibidor do tipo Kunitz de sementes de Mimosa
regnellii Benth sobre eventos celulares da linhagem tumoral B16-F10 /
Luciana Maria Araújo Rabelo. - Natal, 2016.
135 f.: il.
Orientador: Prof. Dr. Elizeu Antunes dos Santos.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica
1. Inibidor de tripsina - Tese. 2. Apoptose - Tese. 3. Melanoma Tese. 4. Mimosa regnellii Benth - tese. 5. Potencial de membrana
mitocondrial - Tese. I. Santos, Elizeu Antunes dos. II. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE-CB
CDU 577.1
III
IV
Dedico esta obra
A Deus, meus pais, irmãos e amigos pelo incentivo e apoio.
V
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, gostaria de agradecer a Deus, por todos os momentos (bons e
ruins) que vivi ao percorrer esta estrada da pós-graduação, que teve início em 2009,
com o ingresso no mestrado em Bioquímica. Cada experiência foi essencial para
minha formação acadêmica/pessoal e sou muito grata a Ele por ter me guiado por
este percurso.
Um agradecimento especial vai à minha família, que sempre me deu suporte
para que este trabalho pudesse ser concluído. Da maneira deles, sempre estiveram
presentes, e sem eles eu não seria capaz de prosseguir com êxito.
Não poderia deixar de agradecer ao meu filho, sempre muito carinhoso,
compreensivo, disponibilizando tempo para que eu pudesse me dedicar ao trabalho
e, muitas vezes, abdicando da minha presença em momentos importantes em sua
vida. Eu te amo muito e sei que você entende essa ausência temporária.
Rodrigo, você recebe um agradecimento mais que especial... Meu
companheiro de todas as horas, o presente que a bike proporcionou. Sem a sua
paciência e ajuda, tanto no desenvolvimento deste trabalho, quanto nos momentos
em que eu precisava viajar para dar aula nos interiores, passando dias sem se ver
foram importantíssimos; Mesmo distante você sempre estava marcando presença,
me tranquilizando com suas palavras de apoio. Muito obrigada por ser essa pessoa
maravilhosa. Te amo.
Agradeço à família LQFPB: a antiga formação, composta por Anderson,
Jonalson, Paula, Tici, Serquiz, Antônio e Cleysyvan, e os novos componentes: Dani,
Geovanna, Yago, John, Leandro, Igor... o meu muito obrigada por nossa
convivência, brincadeiras, experimentos, confissões, brigas... Todos esses
momentos marcaram minha estadia pelo Departamento de Bioquímica, sem vocês
nada disso teria graça!
Às minhas bests Fernanda (Fedida) e Ruth... não importa o quão distante
estamos, sempre encontramos um jeito de ficarmos unidas! A amizade de vocês me
fez uma pessoa melhor, tenho certeza que terei a presença das duas em muitos
outras fases importantes da vida. Amo vocês, horrorosas!
A toda família BIOPOL, o meu muito obrigada! Rafael, Raniere, Karol, Day,
Moacir, Roninho, Vinicius, Ivan, Leandro, Arthur… Nada melhor que trabalhar em um
ambiente descontraído, onde sempre podemos contar com a ajuda dos amigos!
Valeu!
Gostaria de agradecer aos meus amigos da UNIFESP: Sheyla, Dayse e Leo,
muito obrigada pela ajuda, tanto na parte experimental como na parte pessoal...
vocês foram e são muito importantes para mim!
Agradeço à profa. Doutora Helena Nader, por ter me recebido em seu
laboratório e ter permitido que eu desenvolvesse em colaboração os experimentos
finais deste trabalho.
VI
Não poderia deixar passar um dos agradecimentos mais especiais... Ao
professor Elizeu, meu orientador, não só da pós-graduação, mas meu orientador de
vida. Pode-se dizer que é meu segundo pai (não se ofenda pela idade), pois sempre
o procuro para me orientar sobre qualquer assunto (qualquer um mesmo!)... Temos
uma sintonia que não se encontra com facilidade, e espero que ela não se perca
nunca. Os meus sinceros agradecimentos e que esta parceria perdure por muito
tempo!
Agradeço a todos do Departamento de Bioquímica (Rogério, Ricardo, Jonas,
Angela, Eliene, Ana Katarina e muitos outros) por todos os momentos de
descontração que tivemos pelos corredores... Esses momentos são muito
importantes para um bom andamento da tese!
Aos meus amigos do IFRN (Campus Pau dos Ferros, Ipanguaçu e em
especial aos amigos do campus Lajes) o meu muito obrigado! Sem o apoio de
vocês, os momentos de descontração e os conselhos nas horas difíceis eu não teria
conseguido controlar a tensão pré-defesa!
Meus agradecimentos aos órgãos de fomento que viabilizaram esta pesquisa
(CAPES e CNPq).
Mais uma etapa que finaliza, e que esta seja apenas mais um degrau para o
contínuo aperfeiçoamento como docente!
MUITO OBRIGADA!
VII
"Em algum lugar, alguma coisa incrível
está esperando para ser descoberta.”
Carl Sagan
VIII
RESUMO
O câncer é um termo utilizado para representar um conjunto de mais de 200
patologias, incluindo tumores malignos de diferentes localizações. Vários são os
mecanismos que contribuem para a carcinogênese: sinal proliferativo sustentado,
desregulação da energia celular, evasão a apoptose, indução a angiogênese,
replicação ilimitada, entre outros. Dentre os principais tipos de câncer existentes, o
câncer de pele se destaca: surge nos melanócitos e é o mais frequente no Brasil,
correspondendo a 30% de todos os tumores malignos registrados no País.
Melanomas em estágio inicial podem, na maioria das vezes, ser tratados apenas
com cirurgia, porém os cânceres mais avançados requerem outros tratamentos.
Neste trabalho, um inibidor de tripsina do tipo Kunitz foi purificado de sementes da
leguminosa Mimosa regnellii Benth (ITJ), parcialmente caracterizado e avaliado
quanto sua toxicidade frente a linhagens de células tumorais, atuando
especificamente com um IC50 de 0,65 µM em linhagem celular B16-F10, não
apresentando toxicidade frente a linhagens de células não transformadas. Sua
capacidade de induzir morte celular pela via de apoptose em células de melanoma
de camundongo B16-F10 também foi avaliada, através de citometria de fluxo com os
marcadores Anexina V-FITC/PI, induzindo cerca de 45% das células a apoptose.
Além disso, o inibidor também foi avaliado quanto a sua capacidade de: alterar o
potencial de membrana mitocondrial, visualizado por experimentos em citometria de
fluxo utilizando a sonda Rodamina123 e microscopia confocal com o marcador
Mitotracker Red, onde foi capaz de alterar de forma significativa o ΔΨm; Liberar
espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, através de sondas específicas
visualizadas por técnicas de microscopia, causando liberação de ROS na
concentração de IC50, porém não influenciando liberação de ERNs; Liberar cálcio
citosólico, evento que influencia na ativação de apoptose, com efeito significativo em
células B16-f10; Inibir atividade angiogênica de células endoteliais de coelho,
através de experimentos de inibição de formação de novos vasos em matrigel,
análise da expressão de VEGF por técnicas de western Blotting e redução da
expressão de IL-6 analisado por microscopia confocal; Inibir o processo de migração
celular em ensaio de indução de ferimento e análise em microscopia e, por fim, a
alterar a morfologia celular de B16-F10, analisada por incubação com anticorpos
específicos para componentes da matriz extracelular e filamentos intermediários das
células de melanoma, realizados em microscopia de fluorescência. Todos esses
resultados reunidos favorecem a proposição de um possível mecanismo de ação de
ITJ na indução de morte celular por apoptose em células B16-F10, onde o inibidor
atuaria inicialmente aumentando os níveis de cálcio citosólico e ROS, alterando
posteriormente a expressão de p53 em 36h de incubação, que agiriam alterando o
metabolismo mitocondrial, ativando vias de apoptose dependentes da participação
de caspases; ITJ também atuaria inibindo processos migratórios até 18 horas de
exposição, além de influenciar de forma tardia na inibição do processo angiogênico
in vitro. Estes resultados sugerem que ITJ apresenta potencial para ser utilizado
como fármaco em tratamento adjuvante contra melanomas, devido a sua
especificidade e baixa dosagem quando comparado a outras moléculas bioativas.
Palavras-chave: Mimosa regnellii Benth; Inibidor de tripsina; Melanoma; Apoptose;
Angiogênese; Migração celular; Potencial de membrana mitocondrial.
IX
ABSTRACT
Cancer is a term used to represent a set of more than 200 diseases, including
malignant tumors of different localizations. There are several mechanisms that
contribute to carcinogenesis: sustained proliferative signals, deregulation of cellular
energy, evasion of apoptosis, angiogenesis induction and unlimited replication,
among others. Among the main types of cancer, skin cancer stands out: arises in
melanocytes and is the most common in Brazil, accounting for 30% of all malignant
tumors registered in the country melanomas at an early stage can, in most cases,. It
is treated with surgery, but the most advanced cancers require other treatments. In
this work a Kunitz-type trypsin inhibitor was purified from Mimosa regnellii Benth (ITJ)
legume seeds, partially characterized and evaluated for their toxicity front tumor cell
lines, specifically acting with an IC50 of 0.65 µM in B16-F10 cell line, showing no
toxicity compared to non-transformed cell lines. Its ability to induce cell death by
apoptosis pathway in mouse B16-F10 melanoma cells was evaluated by flow
cytometry with Annexin V-FITC / PI markers, inducing about 45% apoptosis of cells.
In addition, the inhibitor was also evaluated for their ability to: change the
mitochondrial membrane potential, visualized by flow cytometry experiments using
Rhodamine123 probe and confocal microscopy with Mitotracker Red marker, which
was able to significantly change the ΔΨm; Release of ROS and RNs through specific
probes visualized by microscopy techniques, causing release of ROS in the
concentration of IC50, but not influencing release RNS; Liberation of cytosolic
calcium, an event that influences the apoptosis activation, with significant effect on
B16-F10 cells; Inhibition of angiogenic activity on rabbit endothelial cells through
experiments of inhibition of new vessel formation in Matrigel, analysis of VEGF
expression by western blotting techniques and reduction of IL-6 expression analyzed
by confocal microscopy; Inhibition of cell migration process in wound induction assay
and microscopy analysis and, finally, to alter the cellular morphology of B16-F10
analyzed by incubation with specific antibodies to extracellular matrix components
and intermediate filaments of melanoma cells, conducted in fluorescence
microscopy. All these combined results favor the proposal of a possible ITJ action
mechanism in the induction of cell death by apoptosis in B16-F10 cells, where the
inhibitor initially act by altering the p53 expression in 36h of incubation, increasing
calcium cytosolic levels and ROS, which would act changing the mitochondrial
metabolism, activating dependent apoptosis pathways of caspase participation; ITJ
also act by inhibiting migration processes up to 18 hours of exposure, as well as
influence belatedly in inhibiting the angiogenic process in vitro. These results suggest
that ITJ has the potential to be used as a drug adjuvant treatment for melanomas,
due to their specificity and low-dose when compared to other bioactive molecules.
Keywords: Mimosa regnellii Benth; Trypsin inhibitor; Melanoma; Apoptosis;
Angiogenesis; Cell migration; Mitochondrial membrane potential.
X
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO ................................................................................. 17
1.1.
CÂNCER DE PELE – MELANOMA CUTÂNEO............................................................. 17
1.1.1.
1.2.
MECANISMOS DE MORTE CELULAR ....................................................................... 26
1.2.1.
1.3.
Apoptose ............................................................................................................ 27
BIOMA CAATINGA ................................................................................................ 31
1.3.1.
1.4.
Aspectos gerais ................................................................................................... 17
Juquiri (Mimosa regnellii Benth) ........................................................................ 32
PROTEASES ........................................................................................................... 33
1.4.1.
Proteases serínicas ............................................................................................. 34
1.4.2.
Inibidores de proteinases ................................................................................... 35
1.5.
INIBIDORES DE PROTEASES SERÍNICAS................................................................... 38
1.6.
INIBIDORES DE PROTEASES E CÂNCER ................................................................... 41
2.
JUSTIFICATIVA ............................................................................... 43
3.
OBJETIVOS ..................................................................................... 44
3.1.
OBJETIVO GERAL................................................................................................... 44
3.2.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 44
4.
MATERIAL E MÉTODOS ................................................................. 45
4.1.
4.2.
5.
MateriaL............................................................................................................... 45
4.1.1.
Equipamentos..................................................................................................... 45
4.1.2.
Materiais Biológicos ........................................................................................... 46
Metodologia ......................................................................................................... 47
4.2.1.
Preparação dos extratos proteicos..................................................................... 47
4.2.2.
Fracionamento Proteico com Sulfato de Amônio .............................................. 48
4.2.3.
Quantificação das proteínas ............................................................................... 48
4.2.4.
Ensaios de inibição de atividade enzimática ...................................................... 49
4.2.5.
Cromatografias ................................................................................................... 51
4.2.6.
Eletroforese em gel de poliacrilamida................................................................ 52
4.2.7.
Estabilidade estrutural na presença de agentes desnaturante e redutor ......... 53
4.2.8.
Determinação da sequência de aminoácidos .................................................... 53
4.2.9.
Ensaios em cultura de células ............................................................................ 54
RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................... 63
XI
5.1.
Isolamento, purificação e caracterização do inibidor de tripsina das sementes de
Mimosa regnellii Benth (ITJ)........................................................................................................ 63
5.1.1.
Determinação da atividade inibitória sobre proteases serínicas em frações
proteicas de M. regnellii ............................................................................................................... 63
5.1.2.
Processos cromatográficos ................................................................................. 64
5.1.3.
Caracterização estrutural e funcional do inibidor de tripsina purificado de
Mimosa regnellii Benth (ITJ) ......................................................................................................... 69
5.2.
Determinação da constante de inibição e do mecanismo de inibição de ITJ ............ 72
5.3.
Determinação da sequência aminoacídica do inibidor............................................ 72
5.4.
Ensaios DE AVALIAÇÃO DE EVENTOS CELULARES ................................................... 73
5.4.1.
Ensaios colorimétricos de viabilidade celular .................................................... 74
5.4.2.
Efeito de ITJ na proliferação de células de melanoma (B16-F10) através da
avaliação da incorporação de bromo-desoxi-uridina (BrdU) ....................................................... 79
5.4.3.
Quantificação de marcadores para morte celular utilizando técnicas de
citometria de fluxo, microscopia de fluorescência e Western Blotting ....................................... 80
6.
CONCLUSÃO ................................................................................ 114
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................... 115
8.
ANEXOS ........................................................................................ 133
XII
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Etapas do processo de formação de tumores. .................................................................... 20
Figura 2 - Fases do ciclo celular. .......................................................................................................... 22
Figura 3 - Alterações bioquímicas que ativam o gatilho angiogênico, estimulando a progressão
tumoral. ......................................................................................................................................... 24
Figura 4 - Mecanismos que contribuem para a carcinogênese (VIEIRA, 2013). .................................. 27
Figura 5 - Esquema mostrando as alterações progressivas na célula em apoptose. .......................... 28
Figura 6 - Ilustração esquemática das vias de morte celular por apoptose. ........................................ 29
Figura 7 - FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS INIBIDORAS DE SERINOPROTEASES. ................................ 39
Figura 8 - Juquiri (Mimosa regnellii Benth). .......................................................................................... 46
Figura 9 - Esquema de extração e fracionamento DE PROTEÍNAS DE SEMENTES DE JUQUIRI com
sulfato de amônio. ........................................................................................................................ 48
Figura 10 – Ensaio inibitório de ITJ contra proteinases serínicas (tripsina e quimotripsina). ............... 64
Figura 11 - Perfil de Eluição de F2 em cromatografia líquida de afinidade em Tripsina-Sepharose 4B.
...................................................................................................................................................... 65
Figura 12 - Perfil de eluição em cromatografia líquida de troca-iônica. ................................................ 66
Figura 13 – Perfil eletroforético das frações proteicas de juquiri. ......................................................... 67
Figura 14 - Perfil cromatográfico de ITJ em cromatografia líquida de alta eficiência de fase reversa
(HPLC-RP) C8. ............................................................................................................................. 68
Figura 15 - Eletroforese DESNATURANTE DAS FRAÇÕES PROVENIENTES DA hplc-rp................ 68
Figura 16 - Determinação da massa molecular aparente do inibidor de tripsina de juquiri (ITJ) por
eletroforese. .................................................................................................................................. 70
Figura 17 - Eletroforese de ITJ em condições desnaturante e redutora............................................... 70
Figura 18 - Determinação da IC50 de ITJ. ............................................................................................ 71
Figura 19 - Determinação do valor da Ki de ITJ. .................................................................................. 72
Figura 20 - Sequência N-terminal parcial de ITJ e Alinhamento Múltiplo. ............................................ 73
Figura 21 - Avaliação da atividade hemolítica de ITJ. .......................................................................... 75
Figura 22 - Avaliação da citotoxicidade de ITJ contra linhagem de fibroblastos murinos. ................... 76
Figura 23 - Avaliação da viabilidade celular de RAEC após incubação com ITJ. ................................ 77
Figura 24 - Avaliação da citotoxicidade de ITJ contra células B16-F10. .............................................. 78
Figura 25 - Incorporação de BrdU em células de melanoma (B16-F10) tratadas com ITJ. ................. 79
Figura 26 - Marcação de células de melanoma por Anexina V e iodeto de propídeo sob ação de ITJ.
...................................................................................................................................................... 82
Figura 27 – Expressão de proteínas envolvidas na parada de ciclo celular de células B16-F10 sob
ação de ITJ. .................................................................................................................................. 85
Figura 28 - Possível mecanismo de ação de ITJ na ativação de proteínas relacionadas à parada de
ciclo celular em células de melanoma B16-F10. .......................................................................... 87
Figura 29 - Análise citométrica do efeito de ITJ no potencial de membrana mitocondrial das células
B16-F10. ....................................................................................................................................... 88
Figura 30 – Análise microscópica confocal do efeito de ITJ no potencial de membrana mitocondrial
das células B16-F10. .................................................................................................................... 89
Figura 31 – Efeito de ITJ sobre a liberação de EROs por células de melanoma. ................................ 92
XIII
Figura 32 - Efeito de ITJ sobre a liberação de ERNs por células de melanoma. ................................. 93
Figura 33 - Influência de ITJ nos níveis de Ca
2+
citosólico. .................................................................. 94
Figura 34 - Immunoblotting de proteínas envolvidas na morte celular por apoptose (p21, p53, p-Erk)
em células B16-F10 expostas a ITJ. ............................................................................................ 96
Figura 35 – Expressão de caspase 3 em células B16-F10 após tratamento com ITJ. ........................ 98
Figura 36 (página anterior) - Efeito de ITJ no processo de migração celular de B16-F10. ................ 101
Figura 37 – Efeito de ITJ sobre a angiogênese. ................................................................................. 103
Figura 38 – Efeito de ITJ sobre a expressão de IL-6 em células B16-F10. ........................................ 105
Figura 39 – Expressão de vimentina em células B16-F10 expostas a ITJ. ........................................ 106
Figura 40 – Efeito de ITJ sobre a expressão de condroitim sulfato em células B16-F10 ITJ............. 107
Figura 41 – Expressão de versican em células B16-F10 após tratamento com ITJ. ......................... 108
Figura 42 – Expressão de N-acetil-glicosamina e de ácido N-acetilneuramínico em células B16-F10
após tratamento com ITJ. ........................................................................................................... 109
Figura 43 – Padrão de expressão de Faloidina e COX IV em células B16-F10 após tratamento com
ITJ. .............................................................................................................................................. 110
Figura 44 - Possível mecanismo de ação de ITJ na indução de apoptose em células de melanoma.
.................................................................................................................................................... 113
XIV
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Classificação das principais classes de proteinases. .......................................................... 34
Tabela 2 - Família de inibidores de proteinases de plantas. ................................................................ 38
Tabela 3 - Tabela de purificação do inibidor de tripsina de juquiri (ITJ). .............................................. 69
Tabela 4 - Avaliação de parada de ciclo celular das células de melanoma após exposição a ITJ. ..... 84
XV
LISTA DE ABREVIAÇÕES
Ang1: Angiopoietina 1
Ang2: Angiopoietina-2
BApNa: Benzoil-DL-arginil-p-nitroanilida
BrdU:5-Bromo-2-Deoxiuridina
COX-2: Ciclo-oxigenase 2
DAPI: 4',6-diamidino-2-fenilindol
DTT: Ditiotreitol
EROS: Espécies Reativas de Oxigênio
FGF: Fator de Crescimento Fibroblástico
FITC: Isotiocianato de Fluoresceína
HGF: Fator de Crescimento de Hepatócitos
IAPs: Proteínas Inibidoras de Apoptose
IL-12: Interleucina-12
IL-18: Interleucina-18
IL-4: Interleucina-4
INCA: Instituto Nacional de Câncer
MCP-1: Proteína Quimiotática de Monócitos 1
MEC: Matriz Extracelular
NAD(P): Fosfato de Dinucleotídeo Nicotinamida Adenina
NOS: Nitrogen Oxidative Species
PBS: Tampão Fosfato Salino
PI: Iodeto de Propídeo
PVDF: Fluoreto Polivinidileno
SDS: Dodecil Sulfato de Sódio
Smac: Segundo Ativador Mitocondrial de Caspase
XVI
TEMED: Tetrametiletilenodiamina
Tie2: Receptor Tirosino-Quinase de Angiopoietina 1
TRAIL: Apoptose induzida por ligante relacionado à TNF
TSP-1: Trombospondina-1
UV: Ultra-violeta
VEGF: Fator de Crescimento Endotelial Vascular
VEGFR1: Receptor do Fator de Crescimento Endotelial Vascular
17
1. INTRODUÇÃO
1.1. CÂNCER DE PELE – MELANOMA CUTÂNEO
1.1.1. Aspectos gerais
Câncer é um termo utilizado para designar o conjunto de mais de 200
doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, causadas por
alterações nos programas de proliferação celular. Portanto, o tumor é resultante do
desenvolvimento anormal das células, pois mesmo que o organismo possua
mecanismos de defesa para evitar seu surgimento, as células cancerosas
encontram uma maneira de resistir a esses mecanismos e sobreviver, enquanto
células normais seguem programadas para manter o funcionamento do organismo
(WEINBERG, 2000). Os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer podem
ser hereditários ou encontrados no meio ambiente, como o meio ambiente em geral
(água, terra e ar), ambiente ocupacional (quando insalubre), o ambiente social e
cultural (estilo e hábitos de vida) e o ambiente de consumo (alimentos,
medicamentos). As mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem
podem determinar os diferentes tipos de câncer (ALMEIDA, 2005).
Os tipos de câncer estão agrupados em cinco categorias, de acordo com o
tipo de célula onde se iniciam:

Carcinoma - câncer que começa na pele ou nos tecidos que revestem ou
cobrem órgãos internos. A maioria dos cânceres de pele se encaixa na
categoria carcinoma, com exceção do melanoma, que se desenvolve a partir
de células embrionárias. Há um número de subtipos, incluindo o
adenocarcinoma, o carcinoma das células basais, carcinoma de células
escamosas e carcinoma de células transicionais;

Sarcoma - câncer que começa no tecido conectivo ou de apoio, tais como
osso, cartilagem, gordura, músculo, ou vasos sanguíneos;

Leucemia - câncer que começa nos tecidos formadores das células
sanguíneas, tais como a medula óssea, e faz com que um grande número de
células anormais do sangue passe a ser produzidas;

Linfoma e mieloma - câncer que começa nas células do sistema imunitário;
18

Câncer de cérebro e medula espinhal - estes são conhecidos como os
cânceres do sistema nervoso central.
Os cânceres também podem ser classificados de acordo com o local onde
começam no corpo, tais como câncer de mama ou câncer de pele.
Os cânceres de pele são nomeados de acordo com a célula a partir da qual
eles surgem, além do comportamento clínico do tumor. Os três tipos mais comuns
são os carcinomas de células basais, carcinomas de células escamosas (também
conhecidos como cânceres de pele não-melanocíticos) e melanomas malignos
cutâneos (D’ORAZIO et al., 2013; ARMSTRONG; KRICKER, 2001; NARAYANAN;
SALADI, 2010). A incidência do câncer de pele aumenta significativamente com a
idade, refletindo presumivelmente o tempo de latência entre exposição cancerígena
e estabelecimento do câncer, como acontece com muitos outros cânceres cujas
etiologias ambientais, neste caso a radiação ultravioleta (UV) contribuíram para seu
desenvolvimento (D’ORAZIO et al., 2013). O melanoma cutâneo é um tipo de câncer
de pele que tem origem nos melanócitos (células produtoras de melanina,
substância que determina a cor da pele) e tem predominância em adultos brancos.
Embora o câncer de pele seja o mais frequente no Brasil e corresponda a
30% de todos os tumores malignos registrados no país, o melanoma representa
apenas 4% das neoplasias malignas do órgão, apesar de ser o mais grave devido à
sua alta possibilidade de metástase (INCA; 2016). A estimativa de novos casos no
Brasil é de 5.670, sendo 3.000 homens e 2.670 mulheres, de acordo com
estatísticas obtidas pelo INCA (2016). O prognóstico desse tipo de câncer pode ser
considerado bom, se detectado nos estágios iniciais.
Nos últimos anos, houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes
com melanoma, principalmente devido à detecção precoce do tumor, porém, existe
apenas um número limitado de opções de tratamento disponíveis (JERANT, 2000).
A quimioterapia é apenas eficaz em cerca de 25% dos pacientes com melanoma
(ETON, 2002). Assim, cirurgia continua a ser o melhor tratamento na maioria dos
casos de melanoma metastático. Terapias adjuvantes, tais como: imunoterapia
utilizando IL-2, estimulando a produção de células LAK (lymphokine activated killer),
que detectam e lisam diferentes tipos de células tumorais (DAVEY et al., 2016);
terapia utilizando anticorpo monoclonal anti-CTLA4 Ipilimumab, que se liga aos
receptores CTLA-4 de células T ativadas, bloqueando a ligação de CD86 e
aumentando a atividade e taxa de sobrevivência das células T, atuando na
19
identificação e destruição das células tumorais, com taxas de resposta variando de 5
a 15% (ROBERT et al., 2011; HERSH et al., 2011; KAPLAN et al., 2011; LUKE et al.,
2013); e vacinas, estimulando a resposta imune do indivíduo contra células tumorais
por meio de diferentes abordagens, tais como: vacinas de DNA, vacinas de
peptídeos (LENS, 2008; TERANDO et al., 2007), vacinas de células completas,
vacinas de células dendríticas, dentre outros, têm apresentado bons resultados
contra melanomas.
As vacinas são bem toleradas, porém não apresentaram
sucesso em reduzir a progressão de tumores (GUO et al., 2013). A vacina mais
promissora para melanoma é a vacina oncolítica derivada de uma forma modificada
de vírus do herpes simplex conhecida como T-VEC, pois os vírus oncolíticos
preferencialmente infectam e destroem células tumorais (DAVEY et al., 2016).
Recentemente, o bloqueio da via PD-1 / PDL-1 mostrou grande promessa em
estudos clínicos como imunoterapia, porém só foi eficaz em 38% dos pacientes que
têm alta expressão de PD-1 / PDL-1 (HAMID, 2013). Terapias com inibidores BRAF,
utilizando Vemurafenib ou Dabrafenib são bem toleradas por pacientes, eficazes,
porém a durabilidade da resposta é limitada devido à resistência e progressão da
doença (SHI et al., 2014; WAGLE et al., 2011). LGX818, outro potente inibidor BRAF
está em fase de desenvolvimento, onde estudos clínicos em fase III estão sendo
realizados até o momento (STUART et al., 2012; DUMMER et al., 2013). Inibidores
MEK, tais como Trametinib, atuam bloqueando a via BRAF/MEK/ERK, a qual leva a
proliferação e sobrevivência de células tumorais quando ativada, destruindo estas
células; terapias conjuntas utilizando combinações de inibidores BRAF/MEK estão
sendo exploradas no intuito de aumentar a durabilidade de resposta a terapias
direcionadas, utilizando calendários de doses intermitentes para atrasar a seleção
de células tumorais resistentes (FLAHERTY et al., 2012; THAKUR et al., 2013). Os
tratamentos para a ampla gama de mutações oncogênicas dirigidas estão ainda a
ser desenvolvidos. A medida que se descobre mais sobre a biologia do melanoma,
mais de deseja investigar abordagens para atingir especificamente estas mutações.
Atualmente, a resistência devido à natureza hipermutável do genoma do melanoma
é um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento de um tratamento bem
sucedido (DAVEY et al., 2016). A alta taxa de heterogeneidade relatada no
melanoma desempenha um papel significativo na resistência a todas as formas de
tratamento conhecidas. Combinações de terapias tradicionais, que possuem
décadas de estudos funcionais, toxicidade e dados de ensaios clínicos com técnicas
20
mais recentes, como imunoterapias, que apresentam alvos moleculares mais
eficazes é um passo inovador para progressão do tratamento de melanoma
metastático.
1.1.1.1.
Etapas de desenvolvimento do câncer
Em geral, o desenvolvimento do câncer ocorre lentamente, podendo formar
um tumor apenas muito tempo após a exposição a agentes carcinogênicos, como
incidência
de
radiação
UV,
uso
inadequado
de
medicamentos,
agentes
mutagênicos, dentre outros. Esse processo é classicamente dividido em três
estágios principais: a iniciação, promoção e progressão (Figura 1). No estágio de
iniciação, as células apresentam alterações genéticas em decorrência da exposição
a agentes carcinogênicos, no entanto, ainda não é possível identificar o tumor
clinicamente. No estágio de promoção, a célula afetada inicia, lentamente, o
processo de transformação maligna caracterizado pela expressão de oncogenes.
Por fim, o estágio de progressão caracteriza-se pela proliferação descontrolada e
irreversível das células, formando uma massa tumoral no local. Nesse último estágio
algumas células podem entrar em metástase, ou seja, invadir a corrente sanguínea
e se instalar em outros tecidos do organismo (BRENTANI et al., 2003).
Figura 1 – Etapas do processo de formação de tumores.
(Adaptada de: http://www.tuasaude.com/como-surge-o-cancer/).
21
Alterações em vias de transdução de sinal, importantes na regulação do
ciclo celular e da sobrevivência da célula, são obrigatórios para o estabelecimento
de todos os tipos tumorais. Dessa forma, essas vias constituem pilares em comum
para o estabelecimento e desenvolvimento do câncer (EVAN et al., 2001). O vasto
catálogo dos genótipos de células tumorais são uma manifestação de seis
alterações essenciais na fisiologia celular, que coletivamente ditam sinais de
crescimento malignos: insensibilidade aos sinais inibidores do crescimento, evasão
da morte celular programada (apoptose), potencial replicativo ilimitado, angiogênese
sustentada, invasão de tecidos e metástases.
1.1.1.2.
Alterações na fisiologia de células normais
1.1.1.2.1.
Divisão celular e câncer
Durante o desenvolvimento normal, intrincados sistemas de controle gênico
regulam o balanço entre o surgimento de novas células e sua morte em resposta a
determinados mecanismos de sinalização, dentre eles os sinais estimulantes e
inibitórios de crescimento e sinais direcionados à morte celular. Em tecidos
específicos, a proliferação celular ocorre de forma contínua, como uma estratégia de
renovação tecidual. Contudo, em determinados tecidos, as células não proliferam,
exceto durante processo de regeneração. O câncer se desenvolve devido às falhas
nos mecanismos que geralmente controlam o crescimento e proliferação celular
(WEINBERG; HANAHAN, 2000).
O ciclo celular tem quatro fases sequenciais. Separando as fases S e M
existem dois intervalos, referidos como G1 e G2 (Figura 2). G1 vem na sequência da
mitose e é um momento em que a célula está sensível a estímulos positivos e
negativos de redes de sinalização para o crescimento. G2 é o intervalo após a fase
S, quando a célula se prepara para a entrada em mitose (MURRAY, HUNT; 1993).
G0 representa um estado em que as células podem ser retiradas de forma reversível
do ciclo de divisão celular em resposta à densidade celular elevada ou privação de
agentes mitogênicos (ZETTERBERG, LARSSON; 1985). Alternativamente, as
células podem retirar-se irreversivelmente do ciclo celular em estados diferenciados
terminalmente ou senescentes.
22
Figura 2 - Fases do ciclo celular.
(Adaptado de http://images.slideplayer.es/11/3334472/slides/slide_5.jpg).
A progressão por meio do ciclo celular é impulsionada pela família de
quinases dependentes de ciclina (CDK) de serina / treonina-quinases e as suas
parceiras ciclinas reguladoras (MALUMBRES, BARBACID; 2006). Os complexos
Ciclina D-CDK4, Ciclina D-CDK6 e Ciclina E-CDK2 direcionam a progressão de G1
por meio do ponto de restrição, obrigando a célula a completar o ciclo (Figura 2)
(PLANAS-SILVA, WEINBERG; 1997). A fase S é iniciada pela Ciclina A-CDK2 e
Ciclina B-CDK1, que regulam a progressão G2 para a entrada em mitose (NIGG;
2001). O ciclo celular possui dois pontos de checagem principais entre as fases
G1/S e G2/M. Esses pontos têm a finalidade de verificar se a célula em divisão
apresenta tamanho adequado, nutrientes suficientes e nenhuma alteração na
replicação do DNA. Erros durante a replicação do DNA ocorrem, mas em sua
maioria são reconhecidos e reparados pela maquinaria celular. No entanto, caso não
seja possível reparar o erro, vias de transdução de sinal induzem o bloqueio no ciclo
celular e a morte da célula por apoptose. Esses mecanismos previnem a
propagação de mutações ao longo das gerações da célula impedindo a formação de
tumores (HANAHAN, 2000).
23
O câncer geralmente resulta de mutações que surgem durante certo período
de exposição a carcinógenos, tais como alguns reagentes químicos e radiação ultravioleta. Está claro que milhões de mutações pontuais, translocações, amplificações
e deleções contribuem para o desenvolvimento do câncer, e que o alcance
mutacional pode diferir mesmo dentro de tumores histopatologicamente idênticos
(STRATTON; CAMPBELL; FUTREAL, 2009). Raramente, a mutação em apenas um
gene culmina no desenvolvimento de câncer; séries de mutações em múltiplos
genes geram uma proliferação celular acelerada que difere da proliferação celular
normal, dando oportunidade ao aparecimento de mutações adicionais. Os clones
dessas células se desenvolvem em tumores, porém para que estes tumores se
expandam, é necessária a obtenção de um suprimento de sangue, proveniente do
crescimento de novos vasos capilares a partir de veias sanguíneas preexistentes
(angiogênese); este processo depende da ativação, migração e proliferação de
células endoteliais, rompimento da lâmina basal vascular e a subsequente
maturação de veias sanguíneas.
1.1.1.2.2.
Angiogênese
A angiogênese é um processo dinâmico que ocorre durante a embriogênese
e o desenvolvimento tecidual normal. Através de uma série de eventos regulados, a
angiogênese permite a formação de novos vasos a partir de vasos pré-existentes
com o intuito de suprir as necessidades fisiológicas durante processos reparativos,
tais como cicatrização de feridas. Uma diversidade de fatores pró-angiogênicos e
anti-angiogênicos estão envolvidos na resposta angiogênica; com o desbalanço
destes reguladores, o ambiente fisiológico estável pode sofrer graves alterações,
onde ocorrerá a ativação de células que antes estavam inativas e o favorecimento
do crescimento de novos vasos que serão redirecionados para dentro do
microambiente do tumor em formação.
A angiogênese foi inicialmente considerada maligna há, aproximadamente,
100 anos (GOLDMANN, 1907). Este processo facilita o crescimento e sobrevivência
celular, demonstrado experimentalmente em células tumorais avasculares de córnea
cultivadas de coelho, em que foi observada a atração de novos capilares e
vascularização do tumor em expansão (GIMBRONE et al., 1972). Em 1978, Gullino
mostrou que células pré-cancerosas adquirem capacidade angiogênica em uma
24
sequência, levando ao câncer (GULLINO, 1978), conduzindo a um conceito de
"interruptor angiogênico" (KANDEL et al., 1991). Isto foi postulado como sendo
crucial para a angiogênese, com o interruptor "off" quando as moléculas próangiogênicas são equilibradas por moléculas anti-angiogênicas, e "on" quando este
equilíbrio é desfeito (HANAHAN & WEINBERG, 2000; BOUCK, STELLMACH, HSU,
1996). Estes gatilhos incluem baixa pO2 (TAHERGORABI, KHAZAEI; 2011), baixo
pH, hiper / hipoglicemia ou hipertermia (VAN DER ZEE, 2002), estresse mecânico,
resposta imune / inflamatória e mutagênicas (Figura 3) (KERBEL, 2000;
CARMELIET, 1999).
Figura 3 - Alterações bioquímicas que ativam o gatilho angiogênico, estimulando a progressão
tumoral.
VEGF – Fator de crescimento endotelial vascular; FGF – Fator de crescimento de fibroblastos;
PDGF – Fator de crescimento derivado de plaquetas.
A angiogênese é fortemente controlada por fatores pró-angiogênicos (VEGF,
Ang1 e Tie2, FGF, HGF, MCP-1, NOS, COX-2, quimiocinas) e anti-angiogênicos
(VEGFR, Ang2, TSP-1, angiostatina, endostatina, VEGI, IL-4, IL-12, IL-18, maspina)
que são acionados por uma gama de fatores de crescimento e citocinas. O fator de
crescimento endotelial vascular (VEGF) é um dos fatores mais estudados,
apresentando a capacidade de regular tanto angiogênese fisiológica quanto
patológica (DELGADO et al, 2011; CARMELIET; JAIN, 2000), promovendo a
proliferação celular endotelial, sobrevivência, migração celular, vasodilatação e
25
vasculogênese
pelo
recrutamento
de
células
hematopoiéticas
progenitoras
derivadas da medula óssea (RAFII et al., 2002; LYDEN et al., 2001). VEGF é um
polipeptídio dimérico que apresenta cinco diferentes isoformas, originárias de
splicing alternativo. Estas isoformas diferem na sua massa molecular e propriedades
biológicas, tais como a sua capacidade para se ligar a diferentes proteoglicanos da
superfície celular (NEUFELD et al., 1999). Estudos mostraram que as isoformas
VEGF165 e VEGF121 são predominantes no melanoma (XING; SAIDOU; WATABE,
2010).
De acordo com os estágios de progressão do câncer, o tumor se torna um
órgão anormal, incrivelmente adaptado ao crescimento e à invasão de tecidos
adjacentes, processo denominado metástase.
1.1.1.2.3.
Invasão de tecidos e metástases
Um aspecto importante do câncer é a formação rápida de células incomuns
que crescem longe de suas margens naturais. Elas podem, em seguida, atacar os
componentes adjacentes do corpo e se espalhar para outros órgãos. Este processo
é referido como a metástase que é a causa de 90% de todas as mortes por câncer e
exibe uma situação extraordinariamente diferente de características clínicas (KHAN;
MUKHTAR, 2010). A metástase no melanoma pode ocorrer tanto pela via linfática
quanto pela via hematogênica. A apresentação inicial da disseminação acontece por
três diferentes maneiras: metástase satélite e em trânsito (intralinfática), regional
(linfonodal) ou à distância. Considera-se satélite a metástase que ocorre em um raio
de até 2 cm da borda do tumor primário. Além deste limite até o primeiro linfonodo
da cadeia linfática, a metástase é denominada em trânsito. Já a metástase regional
é aquela que acomete a primeira cadeia de linfonodos da drenagem linfática do
tumor. A metástase à distância acomete o restante dos tecidos e órgãos do corpo
(MERVIC, 2012; MEIER et al., 2002).
Para sair do tumor primário e se deslocar para órgãos distantes, células
cancerosas metastáticas devem perder a capacidade de aderir a células tumorais
adjacentes primeiro e expandir suas capacidades migratória e invasiva. Isto ocorre
por diversas alterações na expressão de genes e funções, tais como uma diminuição
nos marcadores epiteliais e um aumento em marcadores mesenquimais (THIERY;
SLEEMAN, 2006). Sabe-se que grandes volumes de células tumorais entram na
26
circulação, porém apenas uma pequena parcela é capaz de desenvolver
metástases. A maioria das células são apoptóticas e necróticas, incapazes de
sobreviver em outros tecidos. Mais surpreendentes são as descobertas de que o
sistema imunológico não consegue prevenir a formação de colônias secundárias
pelas células eficientes, apenas daquelas células apoptóticas (IRELAND et al., 2011;
BOCKHORN; JAIN; MUNN, 2007; NGUYEN; BOS; MASSAGUÉ, 2009). Alguns
trabalhos mostram que as células são capazes de se agrupar em microêmbolos e se
recobrir por plaquetas e leucócitos, desviando-se da detecção pelo sistema
imunológico e permitindo longos períodos de sobrevivência na circulação (NGUYEN;
BOS; MASSAGUÉ, 2009; PATERLINI-BRECHOT; BENALI, 2007). O estudo do
processo metastático em âmbito genético, molecular, bioquímico e citológico é
fundamental
para
a
compreensão
dos
motivos
pelos
quais
melanomas
completamente excisados ou mesmo melanomas in situ são capazes de
metastatizar. Além disso, permite a elaboração de métodos diagnósticos mais
precisos e opções terapêuticas mais eficazes, capazes de aumentar a sobrevida dos
doentes, como a indução de morte celular pela ação de moléculas de origem natural
(IRELAND et al., 2011).
1.2. MECANISMOS DE MORTE CELULAR
O câncer pode ser visto como o resultado de uma sucessão de alterações
somáticas; dentre elas, destacam-se as alterações genéticas, bioquímicas e
morfológicas, como por exemplo, a replicação ilimitada de células, a angiogênese
continuada, sucessivas mutações nos genes relacionados ao controle de
proliferação celular, evasão a mecanismos de morte celular, dentre outros (Figura 4)
(GROSS; MCDONNELL; KORSMEYER, 1999).
27
Figura 4 - Mecanismos que contribuem para a carcinogênese (VIEIRA, 2013).
Os processos de morte celular podem ser classificados de acordo com suas
características morfológicas e bioquímicas em: apoptose, autofagia, necrose e
cornificação, além dos tipos de morte celular atípicos, como a mitose catastrófica,
anoikis, excitotoxicidade, degeneração Waleriana, paraptose, piroptose, pironecrose,
partanatos e entose (GALLUZZI, 2012; OKADA; MAK, 2004; DIMRI, 2005;
CASTEDO et al., 2004). Desde 1970, KERR e colaboradores tinham relacionado a
apoptose como um mecanismo de eliminação de células potencialmente malignas,
hiperplasia e progressão tumoral.
1.2.1. Apoptose
KEER e colaboradores (1972), em um estudo pioneiro, observaram um novo
tipo de morte celular, denominado “apoptose”, que parecia ser diferente da morte
celular necrótica de hepatócitos induzida por toxinas. De fato, a apoptose pode ser
vista como um processo que elimina células que sofreram mutações supérfluas,
ectópicas ou com danos. Como mostrado por microscopia eletrônica, células
apoptóticas formam pequenos corpos arredondados, cercados por membranas,
contendo organelas citoplasmáticas intactas ou partes do núcleo. Estes corpos
resultam da progressiva condensação celular, as quais são eventualmente
28
englobadas por células fagocíticas (Figura 5) (KROEMER; GALLUZZI; BRENNER,
2007).
Figura 5 - Esquema mostrando as alterações progressivas na célula em apoptose.
Fonte: Adaptado de: Robbins & Cotran Pathologic Basis of Desease (4 de Setembro de 2005).
As mudanças morfológicas que caracterizam a morte celular por apoptose
são a retração celular, formação de núcleos picnóticos (condensação da cromatina),
cariorréxis (fragmentação nuclear), formação de “bolhas” e destruição da membrana,
fagocitose por células vizinhas e formação de corpos apoptóticos (KROEMER;
GALLUZZI; BRENNER, 2007; LIU et al., 2011). Além das mudanças morfológicas,
mudanças bioquímicas das células destinadas à morte celular por apoptose são
também observadas, como modificações no citoesqueleto e na membrana celular
para a retração das células, alterações na distribuição dos carboidratos na superfície
celular e a perda da simetria fosfolipídica, resultando na externalização de
fosfatidilserina, facilitando o reconhecimento das células por macrófagos e
29
promovendo ligação diferencial dos macrófagos às células apoptóticas (HANAYAMA
et al., 2004).
Diversos fatores podem desencadear a apoptose, como a ligação de
moléculas aos receptores de membrana, agentes quimioterápicos, radiação
ionizante, danos no DNA, choque térmico, privação de fatores de crescimento, baixa
quantidade de nutrientes e níveis aumentados de espécies reativas de oxigênio
(EROS) (HENGARTNER, 2000). Após o estímulo inicial, uma intricada cascata de
sinalização pode ativar várias vias para apoptose em células de mamíferos,
destacando dentre estas vias duas principais, a via extrínseca e a intrínseca (Figura
6).
Figura 6 - Ilustração esquemática das vias de morte celular por apoptose.
(Figura adaptada de KROEMER, 2007). PMM – permeabilidade de membrana mitocondrial; Cit
C – Citocromo C; dATP – deoxi-ATP; RE – Retícuo endoplasmático.
Ambas as vias de morte apoptótica podem ser divididas em pelo menos três
fases distintas: iniciação, integração/decisão e execução/degradação. A ativação de
uma classe específica de proteases, as caspases (de cysteinyl aspartate-specific
proteases), são requeridas para a execução da apoptose. Contudo, nem todas as
caspases são requeridas para a apoptose e o processo geralmente resulta da
ativação de um número limitado de caspases, particularmente as caspases-3, -6 e -7
(KROEMER, 2007).
30
Na via extrínseca, receptores de superfície formam um complexo de
sinalização de morte induzida (DISC), resultando na ativação da procaspase-8. Em
células tipo I, a caspase-8 ativa a procaspase-3, a qual cliva proteínas alvo, levando
a apoptose. Em células tipo II, a caspase-8 cliva Bid, a qual induz a translocação,
oligomerização e inserção de Bax e/ou Bak no interior da membrana externa
mitocondrial. A partir desta translocação, há uma liberação de várias proteínas que
pertencem ao espaço intermembranar da mitocôndria, especialmente o citocromo c,
que, na presença de dATP, forma um complexo citosólico com Apaf-1 (fator de
ativação para apoptose-1) e procaspase-9, denominado apoptossomo. Isto resulta
na ativação da procaspase-9, e, por consequência, na ativação da procaspase-3. A
caspase-3, assim produzida, age na cascata de sinalização da apoptose na via
extrínseca.
Na via intrínseca, os sinais de morte agem direta ou indiretamente na
mitocôndria, causando a liberação de proteínas pró-apoptóticas em seu espaço
intermembranar. Esta via de morte celular é controlada pela família de proteínas Bcl2 (regulação da liberação de citocromo c), proteínas inibidoras de apopotose (IAPs)
(inibição de caspases), ativador secundário mitocondrial de caspases (Smac), e Omi
(regulador negativo de IAPs). Bcl-2 é o protótipo da família de proteínas que contêm
pelo menos um domínio de homologia Bcl-2 (BH). Por medidas de classificação, a
família pode ser dividida em proteínas de multidomínio anti-apoptótico (protótipos:
Bcl-2, Bcl-XL), as quais contêm quatro domínios BH (BH1, BH2, BH3 e BH4);
proteínas multidomínio pró-apoptótico (protótipos: Bax, Bak), as quais contêm três
domínios BH (BH1, BH2 e BH3); e proteínas pró-apoptóticas de apenas um domínio,
BH3 (Bid, Bad) (LETAI et al., 2002). O sítio principal de ação das proteínas Bcl-2-like
é provavelmente a membrana mitocondrial (KROEMER; REED, 2000). Como regra,
as proteínas de multidomínio pró-apoptóticas ou contendo os domínios BH1, BH2,
BH3 e BH4 ou Bcl-2 e Bcl-XL residem principalmente na membrana externa da
mitocôndria, onde protegem a mitocôndria contra a permeabilização de membrana,
presumivelmente por meio da ligação e neutralização de outras proteínas próapoptóticas da família Bcl-2, que, ao contrário, induzem a permeabilização da
membrana da mitocôndria.
Em inúmeros modelos, a mitocôndria é um ponto de checagem crucial para
o controle da apoptose, devido a integração de vários sinais, incluindo fatores
endógenos (concentrações de prótons do citosol e organelas, Ca 2+, Mg2+, K+ e Na+,
31
metabólitos como ATP, ADP, NAD(P), glutationa, segundos mensageiros lipídicos e
múltiplas proteínas incluindo quinases e fosfatases) assim como fatores exógenos
(proteínas específicas virais ou xenobióticos). As organelas mitocondriais reúnem os
sinais que induzem e protegem de morte celular em nível de membrana e, a partir do
momento em que os sinais de indução de morte superam os de sobrevivência,
ocorre a permeabilização de membrana mitocondrial.
Dentre os tipos de morte celulares descritos, a apoptose é o mecanismo
melhor aplicado na prática clínica, sendo alvo para um potencial uso terapêutico ou
para a compreensão dos mecanismos de resistência a radioterapia e a quimioterapia
(NICHOLSON, 2000; KIM et al., 2003). A elucidação dos mecanismos moleculares
da apoptose abrem perspectivas de modulação desses processos. As estratégias se
baseiam na indução de morte em células tumorais por meio do bloqueio de genes
com oligonucleotídeos antisense e fármacos convencionais, ou ainda a substituição
de função desses genes com o uso de moléculas recombinantes (NICHOLSON,
2000). A determinação de vias de morte celular através da indução de biomoléculas
como peptídeos (HSU et al., 2011), carboidratos (COSTA et al., 2011), lectinas (LIU
et al., 2008) e inibidores de protease (VENTURA et al., 2013) têm sido pesquisada.
Atualmente, desde a publicação de trabalhos a partir da década de 90, vem
sendo constatado o valor de estudos dirigidos na investigação de compostos
químicos
de
plantas
com
potencial
atividade
farmacológica,
baseado
no
conhecimento acumulado de uma determinada cultura para a cura de doenças
(ALBUQUERQUE, HANAZAKI; 2006). Desde então, a principal estratégia das
grandes companhias farmacêuticas é incentivar pesquisas com o intuito de descobrir
novas drogas a partir de produtos naturais utilizados em comunidades tradicionais
(SEIDL; 2002).
1.3. BIOMA CAATINGA
A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, ocupando uma área de
aproximadamente 844,453 km2, sendo o principal ecossistema da região nordeste
(MMA, 2012a). O território brasileiro é recoberto por uma vegetação xerófila decídua
na qual a produção de folhas e flores é dependente das chuvas que são muito mal
distribuídas em termos de volume e distribuição ao longo do ano (ARAÚJO et al.,
2007; ALBUQUERQUE et al., 2007; ARAÚJO et al., 2008). De acordo com o
32
Ministério do Meio Ambiente, a biodiversidade da Caatinga compreende 932
espécies de plantas, 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79
espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas, sendo muitas espécies
endêmicas. GIULIETTI e colaboradores (2004) demostraram que, dentre as 932
espécies de plantas vasculares presentes na Caatinga há endemismo de 18 gêneros
e 318 espécies, o que chama atenção para a grande importância em se desenvolver
estudos que ressaltem a vasta fonte de moléculas bioativas em plantas exclusivas
do Brasil.
O Laboratório de Química e Função de Proteínas Bioativas (LQFPB)/UFRN
apresenta histórico em realizar prospecção de proteínas bioativas em sementes de
plantas da Caatinga, além de avaliar atividades heterólogas destas proteínas em
diversos modelos, relacionados tanto a atividade bioinseticida (AMORIM et al., 2008;
MACEDO et al., 2008), como a atividades anti-inflamatória (FOOK et al., 2005), antinutricional (RIBEIRO et al., 2015), aglutinante de microrganismos (MEDEIROS et al.,
2009) e antitumoral (RABELO et al., 2012). .
1.3.1. Juquiri (Mimosa regnellii Benth)
Forma biológica: arbusto ou arvoreta perenifólia e inerme. As arvoretas
maiores atingem dimensões próximas a 4 metros de altura e 10 cm de DAP
(diâmetro à altura do peito, medido a 1,30 m do solo), na idade adulta. A maior altura
conhecida é de 10 metros, obtida em plantios, em Colombo, PR. O tronco é tortuoso,
às vezes com presença de multitroncos; a ramificação é racemosa, a copa é
pequena, densa e irregular; as folhas são bipinadas, com seis a dez jugas,
multifoliadas; os folíolos apresentam de 12 a 33 pares por pina, aproximados e
lineares; a inflorescência ocorre em racemos apicais robustos, multicapitulados,
medindo de 14 cm a 67 cm de comprimento e as flores se apresentam em capítulos
globosos e ovoides, de coloração rósea ou lilás, medindo de 6 mm a 7 mm de
diâmetro (sem os estames).
O Juquiri é utilizado em recuperação de ecossistemas degradados para fins
ambientais, principalmente em terrenos hidromórficos. Há restrições quanto ao seu
uso como madeira, devido a sua pequena dimensão; Eventualmente pode ser
utilizado em pequena escala como lenha, principalmente em uso doméstico e, além
disso, apresenta potencial melífero, sendo suas flores atrativas e muito visitadas por
33
abelhas e outros insetos, produzindo pólen e néctar. Não há estudos suficientes
sobre as atividades biológicas de compostos isolados/purificados de origem proteica
a partir de sementes de Juquiri, destacando a importância deste trabalho na
identificação de novas moléculas bioativas com potencial farmacológico oriundos de
espécies nativas da Caatinga.
1.4. PROTEASES
Proteases, também denominadas peptidases, são enzimas proteolíticas que
catalisam a clivagem hidrolítica da ligação peptídica presentes em outras proteínas e
polipeptídeos, resultando em peptídeos menores ou aminoácidos (NEURATH,
1993). Elas contabilizam cerca de 2% do genoma humano, e estão envolvidas em
numerosos processos fisiológicos importantes, como por exemplo, a síntese de
todas as proteínas, o controle do tamanho da proteína, liberação de hormônios
precursores, translocação através de membranas, reaproveitamento de aminoácidos
(turnover), digestão, sinalização celular, coagulação sanguínea, fertilização,
diferenciação e crescimento celular, resposta imune e apoptose (POWERS, 2002;
CHOU, 2006).
As proteases são classificadas de acordo com a Enzyme Commission of
International Union of Biochemistry and Molecular Biology - IUBMB - dentro do grupo
3 (hidrolases), subgrupo 4, sendo assim denominadas EC 3.4. Elas podem ser
classificadas com base em três critérios: (1) tipo de reação catalisada, (2) natureza
química do sítio catalítico e (3) relação evolutiva de acordo com a estrutura
(BARRETT, 1994).
De acordo com o mecanismo de catálise, similaridade na sequência de
aminoácidos e análise dos resíduos de aminoácidos posicionados em torno do sítio
ativo da molécula, as proteases são divididas em quatro classes principais: as
proteinases
aspárticas,
proteinases
serínicas,
proteinases
cisteínicas
e
metaloproteinases (Tabela 1) (RAWLINGS et al., 2006). As proteinases serínicas e
cisteínicas possuem aminoácidos fortemente nucleofílicos em seu sítio catalítico
(serina e cisteína, respectivamente). O mecanismo de ação destas enzimas é a
catálise covalente, que envolve a formação de um intermediário covalente entre a
enzima e o substrato (BARRETT et al., 2004; RAWLINGS et al., 2006).
34
As serinoproteases representam o grupo das enzimas proteolíticas mais
bem caracterizadas (HEDSTROM, 2002; GETTINS, 2002). Devido ao fato das
enzimas proteolíticas serem potencialmente perigosas para o ambiente onde estão
inseridas, suas atividades devem ser muito bem controladas. Para isso os
organismos utilizam inibidores de proteases como a principal ferramenta para
controlar as atividades proteolíticas, complexando e bloqueando a ação dessas
proteases (BODE & HUBER, 2000; BRANDEN & TOOZE, 1999).
Tabela 1 - Classificação das principais classes de proteinases.
Classe
Proteinases serínicas
(EC 3.4.21)
Proteinases
cisteínicas
(EC 3.4.22)
Proteinases
aspárticas
(EC 3.4.23)
Metaloproteinases
(EC 3.4.24)
Proteinases
Sítio ativo
pH ótimo
Ser, His, Asp
7-9
Cys
4–7
Pepsina, catepsinas D
e E, renina
Asp, Try
Abaixo de 5
Carboxipeptidases A e
B, aminopeptidases,
termolisina
Íons metálicos
(geralmente Zn)
7-9
Tripsina,
quimotripsina,
elastase, trombina,
catepsinas A e G
Papaína, bromelaína,
caspases, catepsinas
B, C, H, K, L, O, S e W
E.C., código dado às enzimas pelo Comitê de Nomenclatura da União Internacional de
Bioquímica e Biologia Molecular. 3 representa a classe hidrolase; 4, a subclasse enzimas que
hidrolisam ligações peptídicas; 21 representa a subclasse das proteases serínicas; 22
representa a subclasse das proteases cisteínicas; 23 representa a subclasse das proteases
aspárticas; 24 representa a subclasse das metaloproteinases. (ADAPTADO de SANTOS et al.,
2012).
1.4.1. Proteases serínicas
A classe das serino proteases compreende duas famílias distintas, a família
da quimotripsina, que inclui enzimas de mamíferos como tripsina, quimotripsina e
elastase, e a família da subtilisina, que inclui enzimas bacterianas, como a subtilisina
(Tabela 1). Embora as estruturas tridimensionais características dessas duas
famílias sejam distintas, a geometria do sítio ativo de ambas é semelhante e a
catálise ocorre por meio do mesmo mecanismo. Três resíduos de aminoácidos
formam uma tríade catalítica essencial para a atividade da enzima: um resíduo de
35
serina (nucleófilo), um resíduo de histidina (base doadora de prótons) e um resíduo
de ácido aspártico (orientador da histidina) (BARRETT et al., 2004).
As massas moleculares das serinoproteases variam de 19 a 110 KDa, mas a
maioria possui massa entre 60 e 80 KDa. Em geral, a atividade destas enzimas é
otimizada em pH alcalino (7.0 – 11.0) e em temperaturas de 20 – 50 ºC. A base do
mecanismo de ação das serinoproteases envolve a transferência de um grupo acil
de um substrato para um grupo funcional da enzima (característica que é
compartilhada com outras transferases). Os dois passos básicos de catálise por este
grupo de enzimas incluem (a) a formação de um éster entre o átomo de oxigênio e o
grupo acil do substrato, produzindo um intermediário tetraédrico e liberando a parte
amino do substrato; (b) o ataque da água ao intermediário acil-enzima, que promove
a quebra e liberação do produto acídico, retomando a forma original da enzima
(ANTÃO & MALCATA, 2005).
As proteases serínicas têm sido reconhecidas como as principais
participantes de uma ampla gama de fatores biológicos, incluindo os processos de
sinalização celular, progressão do ciclo celular, digestão, as respostas imunitárias,
coagulação do sangue e a cicatrização de feridas. O seu papel na fisiologia de
muitas doenças humanas, que vão desde o câncer e distúrbios inflamatórios até
doenças degenerativas, representa um recurso cada vez mais importante desta
família de enzimas. As proteases são firmemente controladas por meio de uma série
de diferentes mecanismos, incluindo a regulação de expressão gênica, o
reconhecimento do substrato pelo sítio ativo, por regulação da atividade de
pequenas moléculas, alterações na localização celular, modificações póstraducionais, interação com outras proteínas e / ou por meio da inibição da proteólise
por inibidores de protease (IP). Este último mecanismo geralmente envolve a
competição com o substrato para o acesso ao sítio ativo da enzima e a formação de
complexos
inibitórios.
Uma
compreensão
do
papel
desempenhado
pelas
serinoproteases e seus inibidores específicos em doenças humanas e oferece novas
oportunidades desafiadoras para intervenção preventiva e / ou terapêutica.
1.4.2. Inibidores de proteinases
Os principais inibidores naturais de proteases são proteínas, glicosiladas ou
não (CAVALCANTI et al., 2002; AZARKAN et al., 2006), que ocorrem em todos os
36
seres vivos, como principal forma de controle dessas enzimas. (NEURATH, 1989;
RYAN, 1990; BRZIN; KIDRIC, 1995). Em vegetais superiores, os inibidores de
proteinases
foram
isolados
e
purificados
de
diferentes
espécies
de
monocotiledôneas e dicotiledôneas. Entre as monocotiledôneas, as investigações
foram dirigidas particularmente para os vegetais da família das gramíneas,
atualmente denominada família Poaceae, tendo como principais representantes:
arroz, cevada, milho, trigo, centeio e sorgo. Entre as dicotiledôneas, a família das
solanáceas, representada pelo tomate, batata e tabaco, e a família das leguminosas
(ou família Fabaceae), representada pelos feijões, soja e ervilha, têm recebido
especial atenção. (BRZIN; KIDRIC, 1995; SCHULER et al., 1998; RICHARDSON,
1991).
Em diferentes tecidos e órgãos vegetais foram detectados, isolados e
purificados inibidores de proteinases, como em polpa de frutas (ARAÚJO et al.,
2004), raízes, caules, folhas e, particularmente, em tubérculos e sementes (BRZIN;
KIDRIC, 1995; GOMES et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2003). Estes últimos tecidos
são ricas fontes de inibidores, correspondendo de 1 a 10% do total de proteínas
(USSUF; LAXMI; MITRA, 2001). Os níveis desses inibidores nos vegetais são
variáveis e dependem do estágio de maturação, da sua localização nos tecidos, do
tempo de colheita e de armazenamento, como, também, da variedade da planta,
podendo coexistir diferentes classes de inibidores em um único tecido ou órgão
(RYAN, 1990; RICHARDSON, 1991; BRZIN; KIDRIC, 1995).
O alto teor dos inibidores de proteases nas sementes de muitas espécies de
plantas tem despertado o interesse quanto à sua função fisiológica, sugerindo
atuação no armazenamento de nutrientes, ação protetora contra o ataque de
animais predadores, insetos e microrganismos (CARLINI, 2002; LOPES, 2006;
LAWRENCE & KOUNDAL, 2002).
Além de atuarem no mecanismo de defesa contra fungos, insetos e outros
parasitas (BREITENEDER; RADAUER, 2004) e como proteínas de reserva, os
inibidores podem ainda desempenhar funções fisiológicas no controle das enzimas
proteolíticas durante a dormência e a germinação, prevenindo a hidrólise prematura
do material de reserva, controlando assim, a mobilização de proteínas durante estes
períodos (BRONSE, 1990; BROADWAY, 1995).
Os inibidores de proteases de plantas são primeiramente classificados de
acordo com a classe mecanística das enzimas que eles inibem. Dessa forma, quatro
37
classes de inibidores de proteinases foram estabelecidas: Inibidores de proteinases
serínicas, cisteínicas, aspárticas e de metalo-proteinases, sendo os inibidores de
proteinases serínicas os mais estudados (RICHARDSON, 1991; RYAN, 1990)
(Tabela 2).
38
Tabela 2 - Família de inibidores de proteinases de plantas.
Proteinases
Classes de inibidores
Famílias de inibidores
Bowman-Birk
Kunitz
Batata I
Serínicas
Inibidores de proteases
serínicas
Batata II
Superfamília de Cereais
Taumatina
Ragi I-2/milho
Cisteínicas
Inibidores de proteinases
cisteínicas
Fitocistatinas
Aspárticas
Inibidores de proteinases
aspárticas
Inibidores de proteinases
aspárticas
Metaloproteinases
Inibidores de metaloproteinases
Inibidores de carboxipeptidases
AeB
(FONTES: RYAN, 1990; RICHARDSON, 1991).
1.5. INIBIDORES DE PROTEASES SERÍNICAS
Os inibidores de serino proteases apresentam uma inibição estritamente
competitiva e de estequiometria 1:1 na formação do complexo enzima-inibidor. De
forma contrária aos complexos enzima-substrato ou enzima-produto que se
dissociam muito rapidamente, o complexo enzima-inibidor é altamente estável, com
valores de KA entre 108 e 1013 M-1 (RICHARDSON, 1991). Muitos compostos inativam
as serinoproteases pela formação de um intermediário acil-enzima estável. O
mecanismo de ação de muitas classes de inibidores de proteases é formar um
tetraedro estável que imita o complexo intermediário tetraédrico da reação das
enzimas
(HEDSTROM,
2002).
O
oxiânion
do
intermediário
tetraédrico
é
frequentemente estabilizado pela interação com muitas pontes de hidrogênio.
Baseado em sua sequência primária, estrutura tridimensional e mecanismo
de inibição, os inibidores de protease são classificados em pelo menos 17 famílias
(ZHAO et. al., 2005), reunidas na Figura 7 (LASKOWSKI Jr & QASIM, 2000). Em
plantas, a distinção entre as famílias foi realizada com base na identidade da
estrutura primária, na localização das ligações dissulfeto e na posição dos sítios
reativos (RICHARDSON, 1991).
39
Figura 7 - FAMÍLIAS DE PROTEÍNAS INIBIDORAS DE SERINOPROTEASES.
Modificado a partir de Laskowski Jr & Qasim, 2000.
Apesar da grande variedade de famílias de inibidores de proteases serínicas,
os mais estudados pertencem às famílias Kunitz e Bowman-Birk (ARAÚJO et al.,
2004; BAUDYS et al., 1991; GOMES et al., 2005b; LAWRENCE, KOUNDAL, 2002;
KOIWA, BRESSAN, HESEGAVA, 1997; USSUF; LAXMI; MITRA, 2001). Os estudos
são, principalmente, direcionados para aqueles encontrados em sementes da família
das fabáceas (NORIOKA et. al., 1988). Norioka e colaboradores (1988) sugeriram a
existência de uma relação entre inibidores de proteinases serínicas de fabáceas e a
evolução dessas plantas. Nesse estudo, foi investigada a presença de inibidores de
proteinases serínicas da família Bowman-Birk e Kunitz em sementes de 34 espécies
de leguminosas. Em sementes das subfamílias de leguminosas mais evoluídas
(Caesalpinoideae e Mimosoideae), foram encontrados principalmente inibidores da
família Kunitz, no entanto, na subfamília Papilionoideae, que é mais primitiva, foram
encontrados apenas inibidores da família Bowman-Birk.
A família Bowman-Birk é a segunda classe de inibidores de proteases
serínicas mais estudadas e é comumente encontrada em sementes de leguminosas.
Em geral, esses inibidores são moléculas de baixo peso molecular, entre 8 e 10 kDa,
de cadeia única, com dois sítios reativos e apresentam um padrão característico de
14
resíduos
de
cisteína,
todos
formando
ligações
dissulfeto
intracadeia
40
(CHAUDHARY et. al., 2008; PRAKASH et. al., 1996; RICHARDSON, 1991;
SCARAFONI et. al., 2008). Esse arranjo conservado de sete ligações dissulfeto
desempenha um papel importante na estabilização da estrutura tridimensional da
molécula (QI; SONG; CHI, 2005; SCARAFONI et. al., 2008).
Os inibidores Bowman-Birk inibem simultaneamente tripsina e quimotripsina
(BIRK, 1985). Recentemente estudos têm demonstrado que esses inibidores podem
desempenhar importantes papeis na cura e/ou prevenção de diversas doenças
(SCRAFONI et al., 2008), podendo vir a ser ferramentas alternativas no tratamento
de patologias humanas tais como hemorragia, inflamação e câncer (CHEN et al.,
2005; FOOK et al., 2005; OLIVA et al., 2000).
Os inibidores tipo Kunitz são proteínas com massa molecular que variam de
18 a 26 kDa, constituídos por uma ou duas cadeias polipeptídicas, 180 resíduos de
aminoácidos, possuindo baixo conteúdo de ligações dissulfeto (BATISTA et al.,
1996; PARK et al., 2005; LEDOIGT et al., 2006; JAMAL et al., 2013) e, em geral,
contendo apenas um sítio reativo. Devido a este aspecto estrutural, eles são
conhecidos como inibidores de uma cabeça (“single headed”) (RICHARDSON,
1991). A maioria dos inibidores tipo Kunitz têm quatro resíduos de Cys conservados
que formam duas ligações dissulfeto em polipeptideos únicos ou de cadeia dupla.
No que diz respeito ao teor de cisteína, os inibidores de protease tipo Kunitz de
origem vegetal são divididos em quatro grupos: os desprovidos de resíduos de
cisteína, pertencentes a (I03.16); um resíduo de cisteína (I03.12) (http: // merops .
sanger.ac.uk), dois resíduos de cisteína (inibidores Bauhinia-tipo II) e mais de dois
resíduos de cisteína (inibidores tipo-Bauhinia), envolvidos em ligações cisteínacisteína (OLIVA et. al., 2010).
Em relação à especificidade, os membros da família Kunitz possuem maior
atividade
inibitória
contra
proteases
serínicas,
principalmente
tripsina
e
quimotripsina. No entanto, eles também inibem outras proteases, incluindo a
protease aspártica Catepsina D e a protease cisteínica papaína (HABIB; FAZILI,
2007; OLIVEIRA, 2001).
Os inibidores do tipo Kunitz podem ser agrupados de acordo com o tipo de
protease que inibem: inibidores de tripsina, inibidores de quimotripsina, inibidores de
elastase pancreática e, mais recentemente, inibidores de elastase de neutrófilos
(SIEDLE et. al., 2003). Apesar de detectada presença de inibidores protéicos de
elastase em extratos de mais de 30 espécies de vegetais (HOJIMA, PISANO,
41
COCHRANE, 1983), a caracterização bioquímica desses inibidores ainda não foi
bem elucidada, em comparação com inibidores proteicos de tripsina, que
apresentam evidências sobre sua possível utilização como promissores agentes
terapêuticos em diversas fisiopatologias de caráter inflamatório, coagulação,
fibrinólise e câncer.
1.6. INIBIDORES DE PROTEASES E CÂNCER
Os inibidores de proteases são considerados uma classe de proteínas
altamente promissoras como agentes quimioterápicos. Existem evidências de que
esses inibidores suprimem vários estágios da carcinogênese, incluindo iniciação,
promoção e progressão.
Embora muitos estudos tenham sido realizados para determinar as vias de
ação que explicariam os efeitos anticarcinogênicos dos inibidores de proteases,
mecanismos precisos pelos quais os inibidores de protease suprimem a
carcinogênese
são
desconhecidos.
Várias
hipóteses
sobre
a
atividade
anticarcinogênica dos inibidores de protease são discutidas (KENNEDY ar. New
York: Plenum Press, 1993) e diferentes mecanismos foram propostos. Muitas teorias
para explicar os mecanismos de ação anticarcinogênica dos inibidores de proteases
estão relacionadas ao fato desses agentes prevenirem o aumento de radicais
superóxido e do peróxido de hidrogênio em leucócitos polimorfonucleares, que
funcionam como agentes pró-tumorais. O excesso de radicais livres é uma das
causas do câncer, sobretudo, na promoção e início do desenvolvimento do tumor.
Alimentos antioxidantes são aqueles ricos em substâncias que podem eliminar os
radicais livres, evitando danos à membrana celular, proteínas e o DNA da célula. Os
inibidores de proteases funcionam como antioxidantes, prevenindo a produção de
radicais livres nas células e, consequentemente, diminuindo o dano oxidativo.
O crescimento de muitas células depende de sua ancoragem a proteínas da
matriz extracelular que possuem o tripeptídeo arginina-glicina-ácido aspártico (RGD)
como sítio de reconhecimento celular. Assim, esta sequência pode ser considerada
uma potencial ferramenta no desenho de fármacos que inibem a interação célulamatriz, já que os IPs poderiam interagir nestas regiões de forma específica,
impedindo a interação célula-célula (TEMMING et al, 2005; RUOSLAHTI, 2003).
42
As proteases também apresentam papel central na regulação da expressão
gênica. Vários trabalhos têm indicado que inibidores de protease naturais
interrompem o processo de transformação maligna revertendo a expressão dos
proto-oncogenes c-myc e c-fos (DITTMANN; MAYER; RODEMANN, 2003). Estudos
mostraram que os inibidores reduzem o nível de expressão de c-myc em células
tratadas com carcinógenos (KENNEDY, 1993), além de normalizar níveis de c-myc
elevado por carcinógenos. Acredita-se que os IPs afetam um ou mais pontos de
checagem central envolvidos no processo de transformação maligna (KENNEDY,
1998a). A radiação e carcinógenos químicos induzem a atividade proteolítica
envolvida na regulação do c-myc (BILLINGS et al., 1987; MESSADI et al., 1986).
Neste caso, as proteases são capazes de destruir a proteína regulatória envolvida
na regulação de c-myc que se ligaria à região promotora do gene. A hipótese é que
tratamentos com carcinógenos aumentariam os níveis de proteases, que levaria à
diminuição da proteína regulatória, culminando com o aumento de c-myc. Os IPs
anticarcinogênicos atuariam inibindo as proteases que destroem a proteína
regulatória, reduzindo os níveis elevados de c-myc, induzido pelos carcinógenos in
vivo (MESSADI, et al., 1986) e in vitro (BILLINGS, et al., 1987).
Dentre os inibidores de proteinases trabalhados no LQFPB/UFRN,
destacam-se os inibidores de tripsina EvTIb (MACHADO et al., 2013), que
apresentou atividade anticoagulante e atividade moduladora em sepse induzida por
ligadura e perfuração cecal, não apresentando efeito citotóxico ou antimicrobiano; O
inibidor de tripsina ITT (FOOK et al., 2005), que não apresentou toxicidade nem
atividade hemolítica sobre células do sangue periférico humano, porém inibiu
seletivamente a liberação de elastase neutrofílica humana após indução por PAF
e/ou fMLP; O inibidor de tripsina SKTI (RIBEIRO et al., 2010), que foi capaz de inibir
ambas as vias de liberação de elastase neutrofílica humana estimuladas por PAF e
fMLP, atuando também de forma eficaz no processo de injúria pulmonar aguda
induzida por LPS, diminuindo edema pulmonar, eventos hemorrágicos e níveis de
atividade
elastásica,
não
apresentando
camundongos, dentre outros.
efeitos
tóxicos
ou
deletérios
em
Apesar do considerável número de inibidores
purificados no nosso laboratório, nenhum estudo mais detalhado sobre efeitos
antitumorais causados por ação de inibidores de proteinases foi realizado até o
presente momento.
43
2. JUSTIFICATIVA
Atualmente um dos mais promissores campos de bioprospecção envolve a
busca de biomoléculas com potencial atividade farmacológica. Estudos com
espécies endêmicas da Caatinga vêm sido desenvolvidos ao longo dos anos no
Laboratório de Química e Função de Proteínas Bioativas (LQFPB), na UFRN, onde
vários compostos proteicos foram purificados e suas atividades heterólogas foram
avaliadas. No Nordeste brasileiro, à primeira vista, as vastas áreas do bioma
caatinga parecem não apresentar uma grande biodiversidade, mas ao contrário,
preserva e abriga uma grande fonte de espécies ainda não pesquisadas e
investigadas quanto ao seu potencial biotecnológico. Junto ao bioma Caatinga,
também outros como o bioma Mata Atlântica do Rio Grande do Norte, Bioma
Dunas/Praias e bioma Mangue são ecossistemas com potenciais de interesse
bioquímico.
As investigações dos complexos mecanismos de defesa das plantas por
vezes revelam a existência de biomoléculas que são singulares e que, mediante a
utilização de técnicas apropriadas, podem ser transformados em produtos de
interesse na área biotecnológica, abrangendo interesses botânicos, bioquímicos,
genéticos e farmacêuticos. Alguns agentes químicos proteicos envolvidos nestes
complexos mecanismos de defesa foram identificados e seus modos de ação
caracterizados. Dentre eles se destacam os inibidores proteicos de enzimas
serínicas (Kunitz e Bowman-Birk). A identificação, isolamento e caracterização
destas biomoléculas têm se tornado um objetivo de vários grupos de pesquisa do
Brasil e também de grupos espalhados por todo o planeta.
Este trabalho é motivado principalmente pelo estudo desses inibidores
purificados de fontes naturais como em sementes da leguminosa Juquiri e a (s)
sua(s) ação(ões) como possíveis moléculas candidatas a fármacos no tratamento do
câncer, tanto como agentes adjuvantes aos tratamentos convencionais, como
atuando isoladamente, conferindo maior eficácia na regressão do tumor ou até em
sua eliminação via mecanismos de morte celular.
44
3. OBJETIVOS
3.1. OBJETIVO GERAL
Extrair, purificar e avaliar a ação de um inibidor de protease obtido de
semente de leguminosa Juquiri (M. regnellii Benth) nos eventos celulares
relacionados a apoptose em linhagem de células tumorais B16-F10.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar a presença de atividade inibitória das enzimas tripsina e
quimotripsina nas frações proteicas da semente de M. regnellii.

Purificar e caracterizar parcialmente um inibidor de protease serínica da
leguminosa;

Determinar a sequência parcial de aminoácidos do inibidor purificado;

Avaliar efeito de ITJ sobre eritrócitos humanos;

Avaliar o efeito de ITJ sobre a capacidade de influenciar a proliferação de
diferentes linhagens de células tumorais;

Analisar o processo de morte celular utilizando marcação com anticorpos
Anexina V-FITC (marcador de fosfatidilserina externalizada) e iodeto de
propídeo (marcador de DNA fragmentado);

Analisar efeito de ITJ sobre a progressão do ciclo celular de B16-F10;

Avaliar efeito de ITJ sobre a medição dos níveis de espécies reativas de
oxigênio e nitrogênio;

Avaliar a alteração de liberação de Ca2+ citosólico pela ação de ITJ;

Analisar o efeito de ITJ sobre a alteração de potencial de membrana
mitocondrial em células de melanoma;

Avaliação da inibição do efeito angiogênico e migratório in vitro pela
incubação com ITJ;

Analisar a influência de ITJ no padrão de expressão de componentes do
citoesqueleto e MEC de B16-F10;

Propor um mecanismo de ação de ITJ na indução de morte celular em
linhagens de células B16-F10.
45
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. MATERIAL
4.1.1. Equipamentos
Além dos aparelhos usuais do laboratório, pode-se destacar:

Banho Maria (Tecnal – Te 056)

Balança analítica eletrônica - BEL Engineering

Balança eletrônica – Tecnal (mod. B-tec 2200)

Centrífuga refrigerada HITACHI CR G

Cuba de eletroforese BIORAD

Espectrofotômetro Pharmacia Biotec (mod, ultrospec 2100 – pro)

Purificador de água Milli-Q® Water System (Millipore Corp.)

PowerPacTM Power Supply; MiniPROTEAN® Tetra Cell; Mini Trans-blot
Cell® (BIORAD, mod. Power PAC 300)

HPLC (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência) (GE Healthcare BioSciences Corp.)

Bancada de Fluxo Laminar (PACHANE Pa300)

Incubadora Thermoforma Serie II Water CO2 Incubator HEPA Filter Model
3110

Liofilizador TERRONI FAUVEL – LB 1500 TT

Microcentrífuga para eppendorf 5410

Microcentrífuga para hematócrito (Modelo spin 1000)

Microscópio invertido NIKON Eclipse TE300

Peagâmetro Analyser (pH 300)

Citômetro de Fluxo modelo FACSCANTO, BD Bioscience

Microscópio de Fluorescência OLYMPUS BX41
 Leitor de microplacas Flex Station 3
46
4.1.2. Materiais Biológicos
4.1.2.1.
Sementes
A espécie Mimosa regnellii Benth (Figura 8), popularmente conhecida como
Juquiri, está classificada cientificamente como (EMBRAPA):
Divisão: Angiospermae
Clado: Eurosídeas I
Ordem: Fabales
Família: Fabaceae
Subfamília: Mimosoideae
Gênero: Mimosa
Espécie: Mimosa regnellii Benth
Figura 8 - Juquiri (Mimosa regnellii Benth).
A) Fruto de Juquiri; B) sementes da leguminosa Juquiri.
As sementes da leguminosa Juquiri (Mimosa regnellii) foram fornecidas pela
Divisão Técnica do banco de sementes da Floresta Nacional de Nísia Floresta,
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio/MMA.
47
4.1.2.2.
Sangue
Os eritrócitos humanos foram obtidos através de doações de bolsas de
sangue pelo HEMOCENTRO – RN. As bolsas fornecidas encontravam-se fora do
prazo de validade para transfusões.
4.1.2.3.
Linhagens Celulares
B16-F10, uma linhagem celular de melanoma de camundongo (ATCC
número CRL-6475) e 3T3, uma linhagem fibroblástica normal de camundongo
(ATCC número CL-173) foram obtidas da American Type Culture Colletion (ATCC,
Rockville, MD, USA). Outra linhagem celular utilizada nos experimentos, a Raec,
composta por células endoteliais de aorta de coelho, foram gentilmente
disponibilizadas pela profa. Doutora Helena Bonciani Nader, UNIFESP/SP.
As
linhagens B16-F10 e 3T3 foram cultivadas em meio DMEM (Dulbecco’s Modified
Eagle’s Medium), suplementadas com 10% de soro fetal bovino. Ao meio DMEM
foram adicionados estreptomicina (5000 µg/mL) / penicilina (5000 ui). As células
foram mantidas em ambiente estéril com 5% de CO2, enquanto a linhagem Raec foi
cultivada em meio F12 GIBCO (Grand Island, NY, EUA): mistura nutriente contendo
L-glutamina 2 mm, bicarbonato de sódio 3,7 g.L-1, penicilina 10,000 u/L e
estreptomicina 10 mg/L (Sigma Chemical CO. , St. Louis, MO, EUA). O meio de
cultura F12 foi suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB) (Cultilab,
Campinas, São Paulo, Brasil). As células foram mantidas em ambiente estéril com
2,5 % de CO2.
4.2. METODOLOGIA
4.2.1. Preparação dos extratos proteicos
As sementes foram descascadas e os cotilédones triturados em um
processador até a obtenção de uma farinha de granulação fina. Em seguida, a
farinha foi homogeneizada em tampão Tris-HCl 0,05M, pH 7,5, na proporção 1:10
(p/v), sob agitação constante por 3 horas à temperatura ambiente. O homogenato foi
48
centrifugado a 8,000 x g por 30 min a 4 ºC. O sobrenadante resultante dessa
centrifugação foi denominado Extrato Bruto (EB).
4.2.2. Fracionamento Proteico com Sulfato de Amônio
O Extrato Bruto foi fracionado por precipitação em três faixas de
concentração de sulfato de amônio: 0-30%, 30-60%, 60-90%, denominadas F1, F2 e
F3, respectivamente. Após a adição de sal em cada etapa de precipitação, as
suspensões permaneceram a 4 ºC por aproximadamente 20 horas e posteriormente
foram centrifugadas a 8,000 x g por 30 minutos. Os precipitados obtidos foram
dissolvidos em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5. As soluções assim obtidas foram
congeladas para posterior utilização e denominadas de acordo com a faixa de
concentração de sal utilizada para sua obtenção (Figura 9).
Farinha de sementes
Extração: tampão Tris-HCl, 0,05 M,
pH 7,5 - 3 horas.
Precipitado
Extrato bruto (EB)
Precipitação proteica com sulfato de amônio nas concentrações de 030%, 30-60% e 60-90%
Reservadas por cerca de 20 horas
o
Centrifugação: 8,000 x g – 4 C por 30 min
Dissolvidas em tampão de extração
F1
F2
F3
Figura 9 - Esquema de extração e fracionamento DE PROTEÍNAS DE SEMENTES DE JUQUIRI
com sulfato de amônio.
4.2.3. Quantificação das proteínas
49
As proteínas foram quantificadas pelo método de BCA (ácido bicinconínico,
Thermo Scientific) (SMITH, P.K., et al, 1985), utilizando albumina sérica bovina
(BSA) como padrão, sendo as leituras das absorbâncias realizadas a 562 nm.
4.2.4. Ensaios de inibição de atividade enzimática
4.2.4.1.
Atividade anti-tríptica
A atividade anti-tríptica do extrato bruto e das frações obtidas pelo
fracionamento com sulfato de amônio foi determinada utilizando uma solução de
azocaseína 1% como substrato. Alíquotas de 10 µL de solução de tripsina bovina
(0,3 mg/mL em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5) foram pré-incubadas por 15 minutos
a 37 ºC, com 120 µL de HCl 0,0025 M, 320 µL de tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5 e
50 µL do inibidor. Após esse período, a reação foi iniciada adicionando-se 200 µL de
azocaseína 1%. A reação prosseguiu por mais 30 minutos nas mesmas condições
de incubação, sendo interrompida adicionando-se 300 µL de ácido acético 20%. A
formação de p-nitroanilina foi monitorada em espectrofotômetro a 440 nm. Provas
em branco foram realizadas e os ensaios foram feitos em triplicata e repetidos três
vezes. Os resultados foram expressos em UI (unidade de inibição) /mg de proteína
ou em percentual de inibição.
A atividade anti-tríptica das frações provenientes de passos finais de
purificação foi determinada utilizando BApNA como substrato (KAKADE et al, 1969).
Alíquotas de 10 L de solução de tripsina bovina (0,3 mg/mL em tampão Tris-HCl
0,05 M pH 7,5) foi pré-incubadas por 10 minutos a 37 ºC, com 120 L de HCl 0,0025
M, 270 L de tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5 e 100 L do inibidor. Após esse
período a reação foi iniciada adicionando-se 500 L de BapNA. A reação prosseguiu
por mais 15 minutos nas mesmas condições de incubação, sendo interrompida
adicionando-se 120 L de ácido acético 30%. A formação de p-nitroanilina foi
monitorada em espectrofotômetro a 410 nm. Provas em branco foram realizadas e
os ensaios foram feitos em triplicata e repetidos três vezes. Os resultados foram
expressos em UI/mg de proteína.
50
4.2.4.2.
Atividade anti-quimotríptica
A atividade inibitória do extrato bruto e das frações obtidas pelo
fracionamento com sulfato de amônio sobre a quimotripsina foi determinada
utilizando 10 µL de solução de quimotripsina bovina (0,2 mg/mL em tampão Tris-HCl
0,05 M, pH 7,5, contendo CaCl 0,02 M) que foi pré-incubada com tampão Tris-HCl
0,05 M, pH 7,5, contendo CaCl 0,02 M e 500 µL do inibidor por 15 minutos a 37 ºC.
Após esse período a reação foi iniciada adicionando-se 200 µL de azocaseína 1%.
Decorridos 30 minutos, a reação foi interrompida adicionando-se 300 µL de solução
de TCA 20%. A mistura de reação foi centrifugada a 12,000 x g por 10 minutos e o
sobrenadante alcalinizado com NaOH 2N na proporção de 1:1, e a absorbância foi
medida em espectrofotômetro a 440 nm. Provas em branco foram realizadas e os
ensaios foram feitos em triplicata e repetidos três vezes (XAVIER-FILHO et al.,
1989). Os resultados foram expressos em UI/mg de proteína ou em percentual de
inibição.
4.2.4.3.
Propriedades inibitórias e determinação da constante de
inibição
4.2.4.3.1.
Determinação da IC50 para tripsina bovina
A concentração do inibidor que inibe 50% da atividade (IC 50) da tripsina
bovina foi determinada pela construção de uma curva de inibição, que relaciona o
percentual de inibição da tripsina e concentração de inibidor. Para a construção
dessa curva, concentrações crescentes de inibidor (0,04, 0,08, 0,16, 0,33, 0,65, 1,3,
2,6, 10,5 e 21 µM) foram incubadas com alíquotas de 25 µL e 35 µL de tripsina, as
quais interagem com uma respectiva concentração de substrato (1,25mM e
0,625mM). O ensaio foi realizado como descrito no item 4.2.4.1, utilizando o BApNa
como substrato específico para a reação. O percentual de inibição da atividade da
Tripsina bovina para cada concentração de inibidor foi utilizado na construção de
uma curva de titulação e determinação da IC50; a curva foi construída utilizando o
software Microsoft Excel 2010, e o valor exato correspondente ao IC 50 foi calculado
por meio do software IBM SPSS Statistics 20.
51
4.2.4.3.2.
Determinação
da
constante
de
inibição
e
do
mecanismo de inibição para tripsina bovina
Para determinar o mecanismo de inibição e a constante de inibição (Ki) foi
construído o gráfico de acordo com DIXON et al., 1979, onde o eixo das abscissas
(X) corresponde às concentrações crescentes de inibidor e o eixo das ordenadas (Y)
corresponde ao inverso dos valores da velocidade máxima. O ensaio enzimático
com tripsina para a determinação da Ki foi realizado na presença de duas
concentrações de BApNa (0,0025 e 0,00625 M). Os ensaios foram realizados como
descritos no item 4.2.4.1. O valor de Ki foi obtido da intersecção das duas linhas
correspondentes às concentrações dos substratos.
4.2.5. Cromatografias
4.2.5.1.
Cromatografia líquida de afinidade CNBr-ativada Sepharose
4B
A fração proteica F2 apresentou o maior potencial de inibição para tripsina e
foi aplicada numa coluna de afinidade de Tripsina-Sepharose CNBr-ativada 4B. O
material não-retido da coluna foi eluído com o tampão Bórax 0,02 M, pH 7,5. Já as
proteínas retidas na matriz foram eluídas com HCl 0,1 M com um volume de
fracionamento de 4 mL a um fluxo de 2 mL/min. O perfil proteico foi acompanhado
por espectrofotometria com leitura a 280 nm. As frações da cromatografia foram
submetidas a diálise contra tampão (Bórax 0,02 M, pH 7,5) e realizados os ensaios
de inibição para tripsina utilizando substrato inespecífico (Azocaseína 1%).
4.2.5.2.
Cromatografia líquida de troca-iônica (DEAE-Sephadex)
O eluato obtido da cromatografia de afinidade Tripsina-Sepharose dialisado
contra Bórax 0,02 M, pH 7,5 com atividade inibitória para tripsina foi aplicado na
coluna de troca-iônica DEAE-Sephadex. O material não-retido da coluna foi eluído
com o tampão Bórax 0,02 M, pH 7,5. Já as proteínas retidas na matriz, por sua vez,
foram eluídas com um gradiente linear de NaCl (0-1 M de NaCl) com um volume de
fracionamento de 4 mL a um fluxo de 2 mL/min. O perfil proteico foi acompanhado
52
por espectrofotometria com leitura a 280 nm. As frações da cromatografia foram
submetidas a ensaio de inibição contra tripsina utilizando substrato inespecífico
(Azocaseína 1%). Após a obtenção do perfil cromatográfico, foi realizada uma nova
cromatografia em Stepwise, onde faixas de NaCl (0,1 M, 0,2 M, 0,3 M, 0,4 M, 1M)
foram determinadas para a eluição das proteínas retidas na matriz. O material com
atividade inibitória para tripsina e quimotripsina foi dialisado contra água destilada,
concentrado com sulfato de amônio em uma faixa de saturação de 90%, novamente
dialisado contra água destilada, quantificado e liofilizado para experimentos
posteriores.
4.2.5.3.
Cromatografia Líquida de fase reversa de alta eficiência em
Sistema HPLC C8
O material adsorvido nas cromatografias de afinidade foi submetido à
cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) de fase reversa (C8) para purificação
do inibidor. A coluna foi previamente equilibrada com ácido trifluoracético (TFA)
0,1% em água. A fase líquida foi formada por dois solventes aquosos, denominados
solução A (TFA 0,1%) e solução B (80% de acetonitrila em TFA 0,1%). O inibidor
purificado, denominado ITJ, foi eluído em um gradiente contínuo de 0-100% da
solução B, submetido à liofilização e utilizado em ensaios posteriores para avaliação
de potencial citotóxico contra linhagens celulares.
4.2.6. Eletroforese em gel de poliacrilamida
Com o intuito de avaliar o grau de pureza das amostras proteicas, as
mesmas foram submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida a 15% em
presença de SDS, de acordo com a metodologia descrita por LAEMMLI (1970). O
gel de separação foi preparado com 7,5 mL de acrilamida-bisacrilamida 30%; 3,8 mL
de tampão Tris-HCl 1,5 M, pH 8,8; 3,5 mL de água destilada; 150 µL de SDS 10%; 6
µL de TEMED concentrado e 150 µL de persulfato de amônio 10%. O gel de
concentração continha 0,67 mL de acrilamida-bisacrilamida 30%; 1 mL de tampão
Tris-HCl 0,5 M, pH 6,8; 2,2 mL de água destilada; 40 µL de SDS 10%; 4 µL de
TEMED e 40 µL de persulfato de amônio 10%. O tampão de corrida consistia de Tris
0,025 M; glicina 0,192 M e SDS 10%. Uma vez diluída em tampão de amostra Tris-
53
HCl 0,0625 M, SDS 2%, glicerol 10% (v/v) e 0,01% de azul de bromofenol, num
volume de 20 µL, a alíquota foi aplicada no gel (10 x 14 cm, com espaçadores de
0,75 mm), o qual foi submetido a uma corrente constante de 20 mA por,
aproximadamente, 2 horas. O gel foi corado em solução de Coomassie Blue R 250 a
1%, etanol 40% e ácido acético 10% em água. As bandas proteicas foram
descoradas após a imersão do gel em solução descorante (etanol 30% e ácido
acético 10%). Para determinar a massa molecular da proteína isolada, foram
utilizados marcadores padrão de proteínas e análise através de cálculos de
regressão linear.
Após a eletroforese, o gel foi desidratado gradativamente, por três lavagens
consecutivas com a solução de etanol 50%, tendo cada lavagem a duração de 20
minutos. Uma solução de tiossulfato de sódio (0,2 mg/mL) foi adicionada em seguida
e mantida sob agitação por 1 minuto. Posteriormente, foram feitas três lavagens
rápidas com água destilada, adicionando, logo em seguida, uma solução de nitrato
de prata (200 mg de nitrato de prata + 74 µL de formaldeído em 100 mL de água
destilada), mantendo sob agitação por 20 minutos. O gel foi lavado rapidamente em
água destilada (três vezes), e imerso em solução reveladora (6 g de carbonato de
sódio + 50 µL de formaldeído + 2 mL de tiossulfato de sódio 0,2 mg/mL para um total
de 100 mL de água destilada). Para cessar a revelação foi utilizado ácido acético
13%, logo após o aparecimento das bandas proteicas.
4.2.7. Estabilidade estrutural na presença de agentes desnaturante e
redutor
Para avaliar a estabilidade do inibidor de tripsina de sementes de M. regnellii
(ITJ) na presença do agente desnaturante SDS (dodecil sulfato de sódio) e do
agente redutor DTT (25 mM), seguiu-se a metodologia descrita por CRUZ (2008),
com modificações. Amostras do inibidor (1 mL) foram incubadas em banho-maria,
separadamente, com SDS 10% e DTT 25mM por 30 minutos, à 100 ºC. Após
resfriamento das amostras a 4 ºC uma eletroforese em gel de poliacrilamida a 15%
foi realizada para análise do padrão de bandeamento proteico.
4.2.8. Determinação da sequência de aminoácidos
54
A obtenção da sequência de aminoácidos de ITJ por espectrometria de
massas foi realizada por meio de processos de redução e alquilação seguidas de
processamento por tratamento enzimático. Para isso, foi realizada tripsinização em
gel de ITJ em um gel de poliacrilamida de acordo com SHEVCHENKO (1996). A
banda proteica do gel contendo o inibidor foi excisada, cortada em quatro pedaços e
transferida para tubos de microcentrífuga. O corante Coomassie Blue foi retirado do
gel com três lavagens feitas com solução aquosa de etanol 30% (em volume) no
agitador por 20 minutos até descorar completamente. Em seguida o gel foi lavado
por 15 minutos em 400 µL de ACN 50% e NH4CO3 25 mM no agitador. Logo após
adicionar 200 µL de ACN 100% e deixar entre 5 a 10 minutos sob agitação até ficar
opaco, retirou-se o excesso de ACN e o gel foi seco por 20 minutos. A digestão de
tripsina foi realizada adicionando 15 µL de solução de tripsina, deixando no gelo por
30 minutos, após adicionar 40 µL de NH4CO3 e incubar overnight. Em seguida as
amostras foram levadas ao espectrômetro de massas. Estas sequências foram
determinadas em um sequenciador automático PPSQ-23 Sequencer da Shimadzu
Co, que foram realizadas no Instituto de Ciências Biológicas (ICB-BSB/GO), sob
orientação do Dr. Marcelo Bemquerer. As sequências foram comparadas com banco
de dados non redundant (NR), de sequência de aminoácidos, disponível no site do
GenBank (National Center for Biotechnology Information) usando a ferramenta
BLAST (BLASTP e tBLASTn; Altschul et al., 1997; 2005).
4.2.9. Ensaios em cultura de células
4.2.9.1.
Avaliação da atividade citotóxica de ITJ
4.2.9.1.1.
Atividade hemolítica
A avaliação de atividade hemolítica foi realizada de acordo com
JOHANSSON (2002). Hemácias humanas foram separadas do plasma por
sedimentação e lavadas três vezes com tampão PBS 0,150 M, pH 7,4. O mesmo
tampão foi utilizado para preparar uma suspensão 1% (v/v) de hemácias e solubilizar
as amostras. Em tubos de 1,5 mL, 100 µL da suspensão de hemácias foram
incubadas com 100 µL do inibidor em diferentes concentrações por 60 minutos à
temperatura ambiente. Foi também incubado com 100 µL da suspensão de
55
hemácias e 100 µL Triton X-100 1% (v/v), constituindo a referência de 100% de
hemólise e 100 µL do tampão PBS, referência para 0%. Após a incubação, os tubos
foram centrifugados a 8000 x g por 3 minutos e alíquotas de 100 µL dos
sobrenadantes foram transferidas para placas de microtitulação de 96 poços e
analisadas a 405 nm em leitor de ELISA.
4.2.9.1.2.
Avaliação da atividade antiproliferativa in vitro –
ensaio MTT
As linhagens celulares foram tratadas com diferentes concentrações do
inibidor de protease purificado e avaliado pelo método colorimétrico de MTT
([brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio]) (MOSMANN, 1983). 5 X
103 células foram cultivadas em placas de Elisa estéril de 96 poços para um volume
final de 100 μL de meio DMEM 10% de soro fetal bovino. Posteriormente, as células
foram incubadas com diferentes concentrações do inibidor purificado. Após 24, 48 e
72 horas, o reagente MTT (1 mg/mL) foi adicionado às células, e incubado por mais
4 horas. Após este período, o meio foi aspirado e foram adicionados 100 μL de
dimetilsulfóxido P.A. para dissolução dos cristais de formazan precipitados. A
quantificação da absorbância foi realizada em leitor de microplacas, em um
comprimento de onda de 570 nm. O cálculo de inibição da proliferação celular foi
realizado em comparação com o controle contendo células não tratadas com o
inibidor de protease, conforme a fórmula a seguir:
I% =
A570C - A570A
x 100
A570C
Onde: I%, percentual de inibição; A570C, absorbância a 570 nm do controle e A570A,
absorbância a 570 nm da amostra.
4.2.9.1.3.
Ensaio de viabilidade celular – Alamar Blue
Para a realização deste ensaio de viabilidade celular a linhagem endotelial
aórtica de coelho (Raec) foi utilizada. As células foram cultivadas (104 células/poço)
em placas de 96 poços e, após sincronização e aplicação do inibidor (0,325, 0,65 e
1,3 µM) por 24, 48 e 72 horas de exposição, o sal de resazurina (44 µm) foi então
56
aplicado e incubado por 2-4 horas para posterior análise em leitor de fluorescência a
590 nm.
4.2.9.1.4.
Incorporação de bromo-desóxi-uridina (BrdU)
Para o monitoramento da síntese de DNA e da proliferação celular, as
células foram marcadas com o BrdU. Aproximadamente 1 x 10 4 células foram
colocadas em placa estéril de 96 poços para um volume final de 100 µL de meio F12K suplementado com 10% de soro fetal bovino. Após 24 horas, o meio foi
removido e as células foram carenciadas por 24 horas com meio sem soro.
Posteriormente, o meio foi aspirado e as células foram estimuladas a sair de G 0 pelo
acréscimo de meio com SFB 10% na ausência (controle) e na presença de ITJ. Após
72 horas de tratamento foi adicionada às células uma solução de BrdU 10µM e, em
seguida, as células permaneceram em contato por 6h com essa solução para
incorporação do mesmo. Após esse período, a incorporação do BrdU foi
determinada como recomendada pelo fabricante, utilizando leitor de microplacas
Flex Station 3. Para análise dos dados, o software Softmax Pro 5.3 (Roche Applied
Science) foi utilizado.
4.2.9.2.
Quantificação de indicadores de morte celular por análise
com Citômetro de Fluxo
4.2.9.2.1.
Quantificação dos indicadores de morte celular por
incubação com Anexina V-FITC/ Iodeto de Propídeo
Para a avaliação dos efeitos do inibidor purificado sobre a morte celular, foi
utilizado o kit FITC/Annexin V Dead Cell Apoptosis Kit with FITC Annexin and PI, for
Flow Cytometry (Invitrogen, Catalog no V13242). As células foram cultivadas em
placas de 6 poços até atingirem a confluência de 2 x 105 células/mL, carenciadas
com meio sem soro e estimuladas a sair de G0 na presença do inibidor purificado. As
células foram expostas à IC50 do inibidor (0,65 µM) purificado por 72 horas e, após
este período, elas foram tripsinizadas, coletadas e lavadas com tampão PBS gelado.
O sobrenadante foi descartado e as células ressuspendidas em 200 µL de Tampão
de Ligação 1X. Foram adicionados 5 µL de Anexina V – FITC e 1 µL da solução de
57
PI a 100 µg/mL a cada 100 µL de suspensão celular. As células ficaram sob
incubação por 20 min, à temperatura ambiente e mantidas sob proteção de luz. Após
o período de incubação, foram adicionados 250 µL de tampão de ligação para
Anexina V 1X e as células foram analisadas em citômetro de fluxo (FACSCANTO,
BD Bioscience), medindo a emissão de fluorescência para Anexina V (530/575 nm)
e PI (630/22 nm). A população foi separada em 4 grupos: células viáveis (baixos
níveis de fluorescência), células em estágio inicial de apoptose (fluorescência
verde), células em estágio final de apoptose (fluorescência em verde e vermelho) e
células em necrose (fluorescência vermelha). A porcentagem de células em
apoptose foi determinada a cada 20 mil eventos e os gráficos obtidos no
experimento representaram dados oriundos de três experimentos independentes.
Para análise dos dados, o software FlowJo v. 7.6.3 (Tree Star, Inc., CA, USA) foi
utilizado.
4.2.9.2.2.
Avaliação do potencial de membrana mitocondrial
(ΔΨm)
As mudanças no potencial de membrana interna mitocondrial (ΔΨ m) nas
células testadas após incubação com o inibidor purificado, utilizando a IC50, foram
analisadas por citometria de fluxo, de acordo com método descrito por SUN et al
(2006). Após tripsinização, as células foram coletadas e lavadas duas vezes com
PBS e então a concentração da suspensão celular foi ajustada para 1 x 106
células/mL. 100 µL de solução de Rodamina 123 (Rh123) (505/535 nm) (20 µg/mL)
foram adicionados às células coletadas e incubadas a 37 ºC no escuro, por 30
minutos. Posteriormente as células foram lavadas com PBS novamente e coradas
com solução de Iodeto de Propídeo (PI) (100 µg/mL), lavadas com tampão fosfato
salino duas vezes e dispostas para análise em citômetro de fluxo (FACSCANTO, BD
Bioscience). Todos os dados foram coletados, armazenados e analisados com o
software FlowJo v. 7.6.3 (Tree Star, Inc., CA, USA).
4.2.9.2.3.
Análise do Ciclo Celular
Para a avaliação dos efeitos do inibidor sobre o ciclo celular, as células
foram lavadas com tampão PBS gelado e o sobrenadante foi descartado. As células
58
foram então incubadas com paraformaldeído 2% por meia hora, lavadas com PBS
gelado e permeabilizadas com saponina 0,01% por 15 minutos. Após este
procedimento, as células foram incubadas com 10 µL de RNAse (4 mg/mL) a 37ºC
por 30 min. Foram adicionados 5 µL de Iodeto de Propídeo (25 mg/mL), juntamente
com 200 µL de PBS gelado às células e levadas ao citômetro de fluxo
(FACSCANTO, BD Bioscience) para análise de parada de ciclo celular (630/22 nm).
A porcentagem de células em morte celular foi determinada a cada 20 mil eventos.
Para análise dos dados, o software FlowJo v. 7.6.3 (Tree Star, Inc.) foi utilizado.
4.2.9.3.
Imunofluorescência
Para detecções citoquímicas, as células tumorais B16-F10 foram cultivadas
sobre lamínula circular de 12 mm de diâmetro a uma concentração de 10 4
células/lamínula e mantidas em placa de 24 poços. Os experimentos foram
realizados com células cultivadas por 3 dias. Em seguida o meio foi removido e as
células foram incubadas com novo meio na presença ou ausência de 0,65 µM de
ITJ. Após o período necessário, o meio foi removido, as células lavadas 5 vezes em
PBS (0,1 M, pH 7,4) a 4 ºC e então realizado o ensaio. As células foram incubadas
com diversos marcadores:

Lectina WGA conjugada com FITC (5mg/ml) (W11262- Lot 997854);

Faloidina (A12379)

COX – 4 (48505)

Β-actina

Β-tubulina

VEGF

Vimentina (SC-73259)

Fibronectina (SC-6953)

Caspase-3 (#9664S)

Versican (SC-25831)

Condroitim (370615)

IL-6 (SC-130326)

Mitotracker Red (M22425)
59
Estes marcadores foram aplicados nas células em PBS por 1 hora a 4 ºC. A
seguir, as células foram lavadas 5 vezes com PBS, e fixadas com formaldeído 2%
em PBS, por 30 min à 25 ºC. Posteriormente, as células foram sequencialmente
lavadas 2 vezes em PBS, 1 vez em PBS contendo glicina 0,1M e 2 vezes em PBS.
4.2.9.3.1.
Coloração do núcleo, montagem e visualização das
lâminas.
Após as devidas marcações as células foram permeabilizadas utilizando uma
solução de PBS contendo 0,01% de saponina. Em seguida as lamínulas foram
lavadas por 5 vezes em PBS, novamente lavadas utilizando água bidestilada e
montadas em lâminas histológicas utilizando meio de montagem Prolong gold
antifade contendo DAPI, o que propiciou a coloração do núcleo. As imagens foram
obtidas em um microscópio confocal Leica SP8.
4.2.9.4.
Avaliação da indução e produção de espécies reativas de
nitrogênio (ERNs) e espécies reativas de oxigênio (ROS)
A linhagem de células de melanoma (B16-F10, ATCC) foram cultivadas em
placas de petri descartáveis estéreis (35 x 10 mm), sobre lamínulas de vidro a uma
proporção de 3 x 104 células/lamínula, utilizando meio DMEM suplementado com
10% de soro fetal bovino a 37 ºC, sob atmosfera úmida de 5% de CO 2. Após
sincronização e incubação com o inibidor de tripsina (0,65 µM), as células foram
analisadas e o efeito do inibidor na liberação de óxido nítrico e radicais livres totais
foi avaliada nos tempos de 30 min, 6 horas e 72 horas de exposição através de
microscopia de fluorescência (Leica CTR HS – TIRF).
Para o ensaio de liberação e quantificação de óxido nítrico, o reagente DAFFM-diacetato (4-amino-5-metilamino-2’,7-difluoresceína diacetato) (Invitrogen, Life
Technologies), na concentração de 10 µM, foi utilizado em meio HBSS (Solução
balanceada de Hank’s). A sonda foi incubada por 30 min em incubadora a 37 ºC, em
atmosfera úmida de 5% de CO2 e, após o tempo de incubação, as células foram
observadas em microscópio de fluorescência. Para o ensaio de quantificação de
espécies reativas de oxigênio (ROS), a sonda H2DCFDA (Invitrogen, Life
Technologies) na concentração de 5 µM foi utilizada em HBSS. A sonda foi incubada
60
por meia hora em incubadora a 37 ºC, em atmosfera úmida de CO2 5% e, após o
tempo de incubação, as células foram observadas em microscópio de fluorescência.
4.2.9.5.
Avaliação de liberação de Ca2+
As células de melanoma foram cultivadas em placas de 96 poços (1 x 104
células por poço) por três dias e o cálcio citoplasmático foi, então, determinado
utilizando o kit Fluo4 Direct™ (MEDEIROS et al., 2012b). Para isso as placas
contendo as células e meio de cultura foram incubadas por 60 min a 37 °C com uma
solução de Fluo4 Direct. Uma solução de ITJ foi adicionada à placa na concentração
final de 0,65 µM, no tempo de 20 segundos e a fluorescência foi acompanhada por
no mínimo 300 segundos. O experimento foi realizado em um leitor de microplacas
na temperatura de 37 °C.
4.2.9.6.
Western Blotting
As células em cultura foram plaqueadas numa concentração de 9,6 x 10 5
células/garrafa e incubadas por 24 horas para adesão. Após esse período, o meio foi
removido e as células foram carenciadas por mais 24 horas com meio sem soro.
Posteriormente, esse meio foi removido e as células estimuladas a sair do estado G 0
pela adição de meio suplementado com 10% SFB na ausência (controle) ou
presença da IC50 do inibidor purificado, em tempos diferentes de incubação. As
células foram lavadas em gelo com PBS e removidas com 200 µL de tampão de lise
[Tris-HCl 0,05 M (pH 7,4); Tween 20 1%; desoxicolato de sódio 0,25%; NaCl 0,15 M;
EGTA 1 mM; Na3VO4 1 mM; NaF 1 mM e inibidores de proteases: 1 µg/mL de
aprotinina, 10 µg/mL de leupeptina e fluoreto de fenilmetanosulfonila 1 mM] por 2
horas em gelo. Os extratos proteicos totais foram obtidos por centrifugação e
sonicação, onde a concentração de proteínas foi determinada usando o método de
BCA (1985). Alíquotas equivalentes (20 µg) dos extratos proteicos dos diferentes
tratamentos foram adicionadas separadamente a um volume igual de tampão de
amostra concentrado 2x com SDS (Tris-HCl 0,1 M, pH 6,8, DTT 0,2 M, SDS 4%, azul
de bromofenol 0,1% e glicerol 20%) que foram, em seguida, fervidas por cerca de 5
min. O gel de poliacrilamida, na presença de SDS, foi produzido seguindo
metodologia já estabelecida (LAEMMLI, 1970). O gel de separação foi preparado a
61
12%, enquanto que o gel de concentração a 4% de acrilamida. A eletroforese foi
processada em uma amperagem constante de 30 mA durante 1 hora e 30 min.
Os extratos proteicos resolvidos eletroforeticamente foram transferidos para
uma membrana de PVDF (Millipore, Bedford, MA, USA) (PLUSKAL et al., 1986).
Após a transferência, as membranas foram submetidas a bloqueio de seus sítios
inespecíficos com Tampão de Bloqueio [1% de leite desnatado ou 2% de soro fetal
bovino (BSA) em tampão salino Tris (TBS) com Tween 20 0,05% (TBST)],
permanecendo nesta solução por uma hora; e então, foram incubados por cerca de
12 horas a 4 ºC com apropriado anticorpo primário diluído em tampão bloqueador na
proporção de 1:1000. Após lavagem em TBST, as membranas foram incubadas com
anticorpo secundário, em tampão de bloqueio por 1 hora. A detecção foi realizada
usando quimioluminescência (FERREIRA, C. V. et al., 2004).
Para construção do gráfico da expressão relativa, as bandas obtidas foram
quantificadas por densitometria e posteriormente foi calculada a razão entre o valor
obtido no tempo zero (controle) para todas as proteínas e o valor obtido para a βactina também no tempo zero. Este cálculo foi feito sucessivamente para todos os
tempos. Para a construção do gráfico, cada valor encontrado entre a razão
proteína/β-actina foi dividido por sua razão no tempo de 0 horas (controle).
4.2.9.7.
Análise de morte celular utilizando técnicas de microscopia
4.2.9.7.1.
Ensaio de Migração celular
Para avaliação da estimulação da migração celular devido à ação de ITJ, foi
realizado o ensaio de migração celular. As células tumorais B16-F10 foram
cultivadas em placas de 24 poços (Corning Inc.). Após a adesão e proliferação
celular até o estado de confluência monocamada favorável ao desenvolvimento do
ensaio, o meio de cultura foi substituído por DMEM sem suplementação com soro
fetal bovino e um risco diametral foi feito utilizando uma ponteira esterilizada p-1000
(Axygen) em cada poço. As placas foram lavadas para remoção de possíveis células
soltas e então as diferentes concentrações de ITJ foram aplicadas às células (0,325,
0,65 e 1,3 µM), onde o efeito do inibidor foi avaliado nos seguintes tempos de
exposição: 0, 3, 6, 18 e 24 horas. Células sem o tratamento com o inibidor foram
utilizadas como controle para avaliação do potencial de migração celular. Após cada
tempo de exposição, as células foram observadas em microscópio de contraste de
62
fase e fotografadas utilizando uma câmera (Sony Cyber-Shot). A distância da
migração celular foi determinada através da medição da largura da “ferida”,
subtraindo metade deste valor do valor inicial da largura a meia altura inicial da
ferida. A largura média da ferida pode ser obtida a partir da área da ferida pela
divisão da área pelo comprimento da região analisada. As larguras das feridas
obtidas foram representadas graficamente contra o tempo utilizando o software
Microsoft Excel (Redmond, WA) e um ajuste linear foi gerado para cada conjunto de
dados. A inclinação do ajuste linear foi utilizada como uma medida da migração
celular. Cada experiência foi realizada em triplicata.
4.2.9.7.2.
Ensaio de formação de estruturas tipo capilar em
membrana basal reconstituída (matrigel)
Placas de 96 poços foram previamente incubadas com 50 µL de lâmina
basal reconstituída (10-15 mg/mL de proteína) a 37 ºC em ambiente de CO2 a 2,5%,
por 3 horas. Após este período, 5 x 104 células/poço foram plaqueadas em presença
de 200 µL de meio F12 contendo 10% de SFB e incubadas por 12 horas a 37 ºC
com CO2 2,5%. As células foram observadas e analisadas em microscópio óptico
invertido de contraste de fase. Os resultados foram expressos com base na
quantificação do número de vasos formados e no comprimento dos mesmos. O
matrigel utilizado neste experimento foi produzido pelo laboratório e a purificação
das proteínas de matriz do tumor EHS (Engelbreth-Holm-Swarm) para a preparação
do matrigel foi realizada de acordo com o método de KLEINMAN (2001).
4.2.9.8.
Análise Estatística
Todos os dados representam, pelo menos, três experimentos independentes
e foram expressos com média ± DP (Desvio Padrão). Foram consideradas
diferenças significativas quando o valor de p foi inferior a 0,05 e 0,01. Foi utilizado o
teste de análise paramétrica de análise de variância (ANOVA) seguido do teste de
Tukey (Nível de significância de p < 0,05) no software.
63
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. ISOLAMENTO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO INIBIDOR DE
TRIPSINA DAS SEMENTES DE Mimosa regnellii Benth (ITJ)
No presente estudo, foi possível investigar os efeitos de ITJ, um inibidor de
tripsina purificado a partir das sementes de Juquiri (Mimosa regnellii Benth) em
células de melanoma de camundongo.
O inibidor de tripsina ITJ foi purificado a partir de extratos totais de
sementes, por meio de precipitação com sulfato de amônio e cromatografias de
afinidade, troca-iônica e fase reversa em sistema HPLC (RICHARDSON, 1991).
Estas técnicas são amplamente utilizadas no processo de purificação de inibidores,
como, por exemplo: o inibidor de tripsina e quimotripsina de Caesalpinia bonduc
(BHATTACHARYYA; BABU, 2009), e Solanum tuberosum (KIM et al., 2005), o
inibidor do tipo Kunitz de Archidendron ellipticum (BHATTACHARYYA et al., 2006),
Tamarindus indica (ARAÚJO, et al., 2005), Erythrina velutina (MACHADO, J.A. et al.,
2013) dentre outros.
5.1.1. Determinação da atividade inibitória sobre proteases serínicas em
frações proteicas de M. regnellii
Apesar das frações F1 (35,9% contra tripsina e 77,9% contra quimotripsina)
e F3 (nenhuma inibição contra tripsina e 30,7% de inibição contra quimotripsina)
apresentarem atividade inibitória contra tripsina e quimotripsina, a fração proteica F2
foi a fração com maior atividade inibitória contra tripsina, apresentando um
percentual de inibição de 82,41% ± 1,17 (Figura 10-A). Além de apresentar atividade
para tripsina, também foi capaz de inibir quimotripsina, apresentando um percentual
de inibição de 87,80% ± 3,27 (Figura 10-B). A partir da detecção da presença de
inibidor, a F2 foi submetida às demais etapas de purificação, por apresentar maior
percentual de inibição e maior quantidade de proteínas solúveis, o que já era
esperado, pois os inibidores são uma classe de proteínas estruturalmente
semelhante às albuminas e que são solúveis nesta faixa de concentração do sal.
64
Figura 10 – Ensaio inibitório de ITJ contra proteinases serínicas (tripsina e quimotripsina).
A) Ensaio de inibição de tripsina x azocaseína 1%; B) Ensaio de inibição de quimotripsina x
azocaseína 1%.
5.1.2. Processos cromatográficos
Para isolamento e purificação do inibidor de M. regnellii Benth, a F2 foi
submetida a vários passos cromatográficos. O monitoramento das etapas
cromatográficas foi realizado após cada etapa através de eletroforese em gel de
poliacrilamida, bem como ensaios de inibição para tripsina e, eventualmente,
quimotripsina, foram realizados após cada etapa cromatográfica para monitorar o
inibidor que, ao final da purificação, foi denominado ITJ.
5.1.2.1.
Cromatografia
líquida
de
afinidade
CNBR
–
ativada
Sepharose 4B
A fração proteica F2, que apresentou maior atividade inibitória contra
enzimas serínicas foi então aplicada em uma cromatografia líquida de afinidade
Tripsina-Sepharose CNBr-ativada 4B. Para determinar a capacidade da coluna, foi
feita uma calibração aplicando diferentes quantidades de F2. O material não-retido
na coluna foi eluído com tampão Bórax 0,02 M, pH 7,5 e o retido foi eluído com HCl
0,1 M. Após a cromatografia de afinidade, para avaliar a presença do inibidor de
tripsina no eluato da coluna, foi realizado o ensaio de inibição para tripsina, com
65
atividade específica de 33 UI/mg. Também foi realizado o ensaio de inibição da
quimotripsina no eluato. A quantidade de proteínas escolhida para aplicação em
coluna de afinidade foi 5 mg de fração proteica – F2, com um volume de
fracionamento de 4 mL a um fluxo de 2 mL/min. Esse passo da purificação teve
como objetivo excluir os inibidores de quimotripsina presentes na fração F2 que
poderiam
inibir
também
tripsina.
O
perfil
proteico foi acompanhado
por
espectrofotometria com leitura a 280 nm (Figura 11), em que as frações retidas na
coluna foram coletadas, dialisadas contra Bórax 0,02 M, pH 7,5 e submetidas a
ensaio de inibição da tripsina.
Figura 11 - Perfil de Eluição de F2 em cromatografia líquida de afinidade em TripsinaSepharose 4B.
A coluna foi previamente equilibrada com tampão Bórax 0,02 M, pH 7,5. Proteínas adsorvidas
foram eluídas com HCl 0,1 M e as frações proteicas (4 mL/tubo) foram monitoradas a 280 nm.
Diversos relatos na literatura mostram que outros inibidores de proteases
também foram isolados por técnicas de cromatografia de afinidade semelhantes,
como o inibidor de tripsina purificado de sementes de Crotalaria pallida CpaTI
(GOMES et al., 2005); o inibidor de tripsina purificado de sementes de Albizia
kalkora AKTI (ZHOU et al., 2008); o inibidor bifuncional do tipo Bowman-Birk
purificado a partir de sementes de Vigna mungo BgPI (PRASAD et al., 2010); o
inibidor de tripsina purificado a partir de sementes de Tamarindus indica L. ITT
(RIBEIRO et al., 2015), dentre outros.
66
5.1.2.2.
Cromatografia líquida de Troca-iônica DEAE-Sephadex
O eluato obtido na cromatografia de afinidade foi submetido à diálise contra
tampão Bórax 0,02 M, pH 7,5 e aplicado em cromatografia de troca-iônica, utilizando
a resina DEAE-Sephadex. O material não-retido na matriz foi eluído com o tampão
de lavagem Bórax 0,02 M, pH 7,5 com um volume de fracionamento de 1 mL a um
fluxo de 1 mL/min, enquanto o material aderido à matriz foi eluído em sistema de
gradiente linear de NaCl 0-1 M. A concentração ideal de NaCl (0,3 M) utilizada para
eluir o inibidor da matriz foi determinada por ensaios de inibição da atividade
enzimática. Após a determinação da faixa de eluição ideal para a separação do
inibidor de tripsina, foi realizada a cromatografia de troca iônica em sistema
Stepwise para obtenção de grande quantidade de inibidor para posteriores passos
de purificação. O eluato foi submetido a ensaios de inibição para tripsina e,
posteriormente, foi reunido e submetido à diálise contra água destilada e liofilizado.
O perfil proteico foi acompanhado por espectrofotometria com leitura a 280 nm
(Figura 12).
Figura 12 - Perfil de eluição em cromatografia líquida de troca-iônica.
A amostra (9 mg de proteína) foi aplicada numa DEAE-Sephadex e eluída com um gradiente
linear de 0-1 M de NaCl.
67
Ao final da cromatografia líquida de troca-iônica, as amostras foram
analisadas por eletroforese em gel de poliacrilamida na concentração de 15% para
avaliação dos passos de purificação alcançados (Figura 13).
Figura 13 – Perfil eletroforético das frações proteicas de juquiri.
Eletroforese desnaturante (SDS) em gel de poliacrilamida a 15%, revelada com nitrato de prata.
M – marcador de peso molecular [PageRuler Prestained Protein Ladder (10 – 170 kDa) Cat#
SM0671]; EB – Extrato Bruto; F2 – Fração 2; Af – Retido Tripsina-Sepharose; DEAE – Retido
0,3 M DEAE-Sephadex.
5.1.2.3. Cromatografia líquida de alta eficiência de fase
reversa (HPLC-RP) em coluna C8
O eluato obtido na cromatografia de troca-iônica foi submetido à diálise
contra água destilada, liofilizado e 50 µg do inibidor isolado foi aplicado em
cromatografia líquida de fase reversa de alta eficiência (HPLC-RP) em coluna C8. A
corrida cromatográfica foi desenvolvida em um sistema de gradiente linear 0-100%
de acetonitrila em que foram detectados, em 280 nm, picos referentes a proteínas
com tempos de retenção de 32, 35, 37 e 87 minutos, correspondendo a cada pico
obtido, respectivamente na HPLC (Figura 14). Foi realizado um ensaio de inibição
para determinação da presença do inibidor purificado com os picos obtidos e o pico
3 (P3 – 37 minutos) mostrou um percentual de 100% de inibição para tripsina. Além
disso, foi realizada uma eletroforese em gel de poliacrilamida a 15% para verificação
68
da pureza do material obtido em sistema HPLC, confirmando a presença de apenas
um componente proteico, que passou a ser denominado ITJ (Inibidor de Tripsina de
Juquiri) (Figura 15). Este material foi liofilizado e armazenado para realização das
etapas de caracterização estrutural e funcional do inibidor.
500
UV
LucianaITJuquiri21429112012
LucianaITJuquiri21429112012.dat
1000
450
900
400
800
700
350
600
300
250
bar
mAU
500
400
200
300
200
150
100
100
0
50
-100
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
0
120
Minutes
Figura 14 - Perfil cromatográfico de ITJ em cromatografia líquida de alta eficiência de fase
reversa (HPLC-RP) C8.
Eluição em gradiente linear crescente (0-100% de acetonitrila).
Figura 15 - Eletroforese desnaturante das frações provenientes da HPLC-RP.
Gel (15% de poliacrilamida em SDS) revelado utilizando protocolo para marcação com solução
de nitrato de prata. Marcador de peso molecular [PageRuler Prestained Protein Ladder (10 –
170 kDa) Cat# SM0671]; P1 – pico 1, tempo de retenção de 3 seg.; P2 – pico 2, tempo de
retenção de 12 seg.; P3 – pico 3, tempo de retenção de 22 seg.; P4 – pico 4, tempo de retenção
de 24 seg.
69
A partir dos volumes das frações obtidas em cada passo de purificação e de
suas respectivas quantificações de proteína e unidades inibitórias (UI) foi construída
uma tabela de purificação de ITJ (Tabela 3). O extrato bruto (EB), obtido na primeira
etapa do processo de purificação, foi utilizado como referência para as demais
frações proteicas. O valor de purificação 1 e o rendimento de 100% foram atribuídos
a essa fração. O grau de purificação das demais frações foi calculado como sendo a
razão entre sua atividade específica e a do extrato bruto. E a percentagem de
rendimento das demais frações foi calculada com base na razão entre a sua
atividade inibitória e a atividade inibitória do extrato bruto. A atividade específica foi
calculada como a razão entre a atividade inibitória da fração e o valor da proteína
total dessa fração. A Tabela 3 mostra que o grau de purificação de ITJ foi de 623,8
vezes, com uma recuperação de 10,8% no penúltimo passo de purificação que,
devido ao seu grau de isolamento, foi utilizado na análise dos efeitos de ITJ nas
linhagens de células tumorais.
Tabela 3 - Tabela de purificação do inibidor de tripsina de juquiri (ITJ).
TABELA DE PURIFICAÇÃO - ITJ
Vol.
(mL)
EB
F2
A
D
62
Proteína
(mg/mL)
1,9627
Prot. Total
(mg)
121,685
Ativ.
(UI/mL)
11,9
AEsp
(UI/mg)
0,1
Ativ. total
(UI)
737,8
Purific.
(x)
1,0
18
1,2053
21,696
12,8
0,6
230,4
6,0
31,2
26
0,0093
0,242
8
33,1
208,0
338,5
28,2
Rend.(%)
100,0
8
0,0021
0,016
10
609,4
80,0
623,8
10,8
EB: Extrato Bruto; F2: Fração 2; A: Afinidade; D: DEAE-Sephadex; Vol.: Volume; Prot.: Proteina; Ativ.:
Atividade; AEsp.: Atividade específica; Ativ. Total: atividade total; Purific.: Purificação; Rend.:
Rendimento.
5.1.3. Caracterização estrutural e funcional do inibidor de tripsina
purificado de Mimosa regnellii Benth (ITJ)
5.1.3.1.
Determinação da massa molecular e estabilidade estrutural
na presença de agentes redutores e desnaturantes
A massa molecular aparente de ITJ foi calculada a partir da corrida
eletroforética. Por SDS-PAGE foi possível observar uma banda proteica que
apresentou uma massa molecular de aproximadamente 10 kDa, calculada por
regressão linear (Figura 16), tendo por base proteínas com padrão de massas
moleculares conhecidas.
70
Para avaliar a estabilidade química de ITJ, amostras do inibidor foram
adicionadas a soluções distintas contendo os agentes desnaturante (SDS 10%) e
redutor (DTT 25 mM). A análise eletroforética em gel de poliacrilamida a 15% das
amostras tratadas mostrou que os agentes químicos não promoveram o surgimento
de novas bandas proteicas, indicando que ITJ não apresenta estrutura composta por
subunidades unidas por pontes dissulfeto ou interações hidrofóbicas (Figura 17).
Figura 16 - Determinação da massa molecular aparente do inibidor de tripsina de Juquiri (ITJ)
por eletroforese.
A massa molecular de ITJ (10,23 kDa) foi determinada por eletroforese em gel de poliacrilamida
em SDS O marcador de peso molecular utilizado foi o PageRuler Prestained Protein Ladder (10170 kDa, Cat# SM0671). As proteínas foram reveladas com Nitrato de Prata. Log Mr – logaritmo
da massa molecular.
Figura 17 - Eletroforese de ITJ em condições desnaturante e redutora.
71
Gel submetido a tratamento com 10% de SDS; B) Gel submetido a tratamento com 25 mM de
DTT. Gel corado utilizando protocolo para marcação com solução de coomassie blue. Marcador
de peso molecular [PageRuler Prestained Protein Ladder (10 – 170 kDa) Cat# SM0671]; ITJ –
Inibidor de Tripsina de Juquiri.
5.1.3.2.
Determinação das propriedades inibitórias e constante de
inibição (Ki) de ITJ
5.1.3.2.1.
Determinação de IC50 de ITJ
A concentração de ITJ que inibe 50% da atividade da tripsina (IC 50) foi
determinada pela construção de uma curva de titulação que relaciona percentual de
inibição da tripsina e concentração de ITJ (Figura 18). Na construção dessa curva,
alíquotas com concentrações crescentes de inibidor (0,00004, 0,00008, 0,00016,
0,00033, 0,00065, 0,0013 µM) foram incubadas com alíquotas de 35 μL de tripsina e
o ensaio procedeu como descrito no item 4.2.4.1. Foi determinado o percentual de
inibição da atividade da tripsina para cada concentração de inibidor utilizada e
construída a curva de titulação, onde o valor da IC50 foi determinado como sendo 2 x
10-4 mM.
120
Percentual de Inibição (%)
100
80
60
1,25 mM BapNa
40
0,625 mM BapNa
20
0
-20
0
0,0002 0,0004 0,0006 0,0008
0,001
0,0012 0,0014
Concentração de proteína ( µM)
Figura 18 - Determinação da IC50 de ITJ.
Curva de titulação utilizando concentrações crescentes de ITJ: 0,00004, 0,00008, 0,00016,
0,00033, 0,00065, 0,0013 µM e concentração fixa de tripsina. Linha vermelha – BapNa 0,625
mM; Linha azul - BapNa 1,25 mM.
72
5.2. DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE INIBIÇÃO E DO MECANISMO DE
INIBIÇÃO DE ITJ
Para a determinação do mecanismo de inibição de ITJ sobre a enzima
tripsina foi construído um gráfico duplo recíproco de Lineweaver-Burk, onde foram
realizados ensaios com concentrações variáveis de inibidor e substrato (0,625 mM e
1,25 mM). ITJ inibiu a tripsina de modo competitivo. Este tipo de inibição é
caracterizado pela inalteração da velocidade máxima (dada pela intersecção da reta
com o eixo Y) e mudança no valor de Km (Constante de Michaelis-Menten), dada
pela intersecção da reta acima do eixo X.
Para a determinação do valor da constante de inibição (Ki), foi construído um
gráfico de Dixon (DIXON et al., 1979). Na figura 19 está representada a curva de
inibição da tripsina por ITJ (concentrações crescentes) em ensaios utilizando BapNa
com concentrações de 0,625 nM e 1,25 mM, respectivamente. A análise do gráfico
confirma que ITJ é capaz de inibir a tripsina de modo competitivo e com um valor de
Ki de 1,7 x 10-6M.
70,000
1/[Velocidade]
60,000
50,000
40,000
30,000
20,000
Ki
10,000
0,000
0
0,5
1
-10,000
1,5
2
2,5
3
[ITJ] µM
1/V [1,25 mM]
1/V [0,625 mM]
Figura 19 - Determinação do valor da Ki de ITJ.
A constante de inibição de ITJ é de 1,7 x 10-6M; Linha vermelha – BapNa 0,625 mM; Linha azul
- BapNa 1,25 mM.
5.3. DETERMINAÇÃO DA SEQUÊNCIA AMINOACÍDICA DO INIBIDOR
73
A identificação da estrutura primária de ITJ foi realizada por meio das técnicas
de espectrometria de massas como sequenciamento de peptídeos gerados por
tratamento enzimático, em que a sequência de peptídeos que compõem o inibidor foi
analisada (Figura 20), indicando que ITJ apresenta sequência aminoacídica
homóloga a inibidores tipo Kunitz. Os inibidores que apresentaram maior grau de
identidade foram: PjTI (Inibidor de tripsina tipo Kunitz de Prosopis juliflora), com 73%
de identidade e e-value de 4e-07; DE5 (Isoinibidor de tripsina tipo Kunitz majoritário
de Adenanthera pavonina L.), com 68% de similaridade e e-value de 3e-06; EcTI
(Inibidor de tripsina tipo Kunitz de Enterolobium contortisiliquum), com 77% de
identidade e e-value de 9e-09; e ECI (Inibidor de quimotripsina de Erythrina
variegata), com 67% de identidade e e-value de 6e-06. O e-value representa a
probabilidade de que o alinhamento da sequência de interesse e as outras
sequências alinhadas encontradas tenham sido ao acaso. Um e-value igual ou
próximo a zero significa que essa possibilidade é nula (ou muito perto disso).
ITJ
PjTI
DE5
EcTI
ECI
GGGLEVAKQTGTETGPLSVVQA
GGGLELAK-TEGETCPLTVVQA
GGGLELAR-TGSETCPRTVVQA
GGGLELAK-TGDETCPLNVVQA
GGGIEAAR-TGKETCPLTVVQ
Figura 20 - Sequência N-terminal parcial de ITJ e Alinhamento Múltiplo.
Após o sequenciamento de ITJ por espectrometria de massa, foi realizado o alinhamento
utilizando
a
ferramenta
BLASTP,
disponível
no
site
NCBI
(http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi?PROGRAM=blastp&PAGE_TYPE=BlastSearch&LINK_LO
C=blasthome). ITJ: Inibidor de tripsina de Juquiri; PjTI: Inibidor de tripsina tipo Kunitz de
Prosopis juliflora; DE5: Isoinibidor de tripsina tipo Kunitz majoritário de Adenanthera pavonina L.;
EcTI: Inibidor de tripsina tipo Kunitz de Enterolobium contortisiliquum; ECI: Inibidor de
quimotripsina de Erythrina variegata. Letras em vermelho: aminoácidos que apresentam
identidade entre sequências; traços horizontais: representação gráfica de “gaps” nas
sequências.
5.4. ENSAIOS DE AVALIAÇÃO DE EVENTOS CELULARES
Uma varredura foi realizada no intuito de determinar possíveis atividades
farmacológicas com o material purificado. O inibidor de tripsina isolado foi testado
para avaliação de suas atividades citotóxicas em cultura de células, sendo seu efeito
avaliado tanto contra células tumorais quanto células de linhagens normais. Ensaios
para avaliação de liberação de ROS, inibição de processo de angiogênese em
74
matrigel, migração celular, determinação de mecanismos de morte celular através de
ensaios em citômetro de fluxo, alterações no metabolismo mitocondrial e ciclo celular
e análise dos marcadores de morte celular por imunohistoquímica e microscopia
confocal foram realizados.
5.4.1. Ensaios colorimétricos de viabilidade celular
Após sua purificação e caracterização, o inibidor de tripsina de sementes de
Juquiri (ITJ) foi avaliado quanto à capacidade de induzir morte celular em linhagens
de células tumorais in vitro. Uma varredura com as linhagens celulares tumorais
HeLa, HepG2 e B16-F10, além de células não transformadas 3T3 e Raec, foi
realizada com intuito de avaliar a toxicidade induzida pela incubação com ITJ. Após
este procedimento, foi possível observar que ITJ atua de maneira tóxica e específica
para uma determinada linhagem de células tumorais, a B16-F10, uma linhagem de
melanoma de camundongo, não apresentando toxicidade quando incubado
juntamente com linhagens de células normais, como hemácias, células fibroblásticas
(3T3) e células endoteliais (Raec).
5.4.1.1.
Avaliação da atividade hemolítica e da citotoxicidade de ITJ
sobre linhagens de células não transformadas (3T3 e Raec)
A toxicidade de ITJ isolado foi avaliada contra eritrócitos humanos, nas
concentrações de 0,1, 0,5, 1, 1,5, 2 e 2,5 µM, através do ensaio de atividade
hemolítica. ITJ não apresentou toxicidade contra as células do sangue humano
quando avaliadas em ensaio colorimétrico, analisado em espectrofotômetro a 405
nm (Figura 21). Resultados semelhantes foram encontrados para os inibidores de
tripsina de Coccinia grandis (SATHEESH, L.S.; MURUGAN, K. 2010), EvTI
purificado a partir de sementes de Erythrina velutina (MACHADO, R.J.A. et al., 2013)
e xb-KTI de Xanthosoma blandum (LIMA, T. B. et al., 2011), indicando uma baixa
toxicidade destes inibidores contra células do sangue periférico humano, o que é
bastante promissor quando se pensa na utilização de ITJ como uma forma de
tratamento adjuvante contra melanoma, porém estudos adicionais, incluindo estudos
de mutagênese e alergenicidade, dentre outros, são necessários para confirmar a
segurança do uso deste inibidor como agente farmacológico.
75
Figura 21 - Avaliação da atividade hemolítica de ITJ.
ITJ foi testado nas concentrações de 0,1-2,5 µM; Triton-x 100 a 1% foi utilizado como controle
positivo (100% de hemólise), enquanto a solução salina a 0,9% foi utilizada como controle
negativo (sem hemólise) do experimento. (*) P < 0,001. Os valores são expressos como a média
± desvio padrão (n = 3) quando comparados ao controle positivo.
A viabilidade de células 3T3 foi analisada após incubação por 72 horas com
concentrações crescentes de ITJ (0,003 a 1 μM), através do ensaio de MTT
(MOSMANN, T.; 1983). Após este período foi possível observar que ITJ não
apresentou toxicidade em nenhuma das concentrações testadas em fibroblastos de
camundongo (Figura 22). Resultados semelhantes utilizando a mesma linhagem
celular foram observados com o inibidor do tipo Kunitz purificado de sementes de E.
contortisiliquum (PAULA, C. A. et al., 2012).
Além de avaliar a ação do inibidor contra células 3T3, outro ensaio de
viabilidade celular foi realizado através do teste Alamar Blue, utilizando a linhagem
de células endoteliais derivadas de aorta de coelho (RAEC), em que ITJ foi aplicado
nas concentrações de 0,325 µM, 0,65 µM e 1,3 µM, que corresponde à metade da
IC50, à IC50 e o dobro da IC50, respectivamente (Figura 23). A viabilidade das células
endoteliais não foi afetada pela incubação de ITJ nas concentrações testadas.
Outros inibidores do tipo Kunitz apresentaram resultados semelhantes quando
testados contra linhagens de células endoteliais, como o inibidor PIVL (MORJEN, M.
et al., 2014), que não apresentou toxicidade após 72 horas de incubação em células
HMEC-1 (linhagem celular de endotélio microvascular dérmico humano – ATCC®
CRL-3243™) com várias concentrações diferentes (0-1000 nM); e o inibidor BmTI-A,
76
purificado do carrapato Rhipicephalus microplus, que também não apresentou
toxicidade contra células HUVEC (linhagem celular umbilical endotelial humana ATCC® CRL -1730™) após 24 horas de exposição, nas concentrações de 0,1 µM 10 µM (SOARES, T. S. et al., 2016).
Figura 22 - Avaliação da citotoxicidade de ITJ contra linhagem de fibroblastos murinos.
ITJ testado nas concentrações de 0,003-1 µM; Células sem a presença do inibidor foram
utilizadas como controle negativo do experimento. (*) P < 0,001. Os valores são expressos como
a média ± desvio padrão (n = 3) quando comparados ao controle (sem tratamento).
Estes resultados são importantes, já que muitos dos agentes quimioterápicos
tradicionais exibem toxicidade severa contra células normais, causando efeitos
colaterais indesejáveis e dessa forma limitando sua aplicação no campo clínico.
Além disso, muitos dos agentes terapêuticos administrados na prática clínica ou não
conduzem à cura ou possibilitam a sobrevivência, em longo prazo, de muitos tipos
de câncer, o que provavelmente permite o desenvolvimento de mecanismos de
resistência pelas células tumorais à doença. Por essa razão, fica clara a
necessidade de novos agentes com diferentes mecanismos de ação que possam ser
utilizados no tratamento direto dessas doenças e/ou como adjuvantes no
aperfeiçoamento da terapia do câncer (CRAGG et al., 2006; REN, 2005).
77
Figura 23 - Avaliação da viabilidade celular de RAEC após incubação com ITJ.
Células endoteliais de aorta de coelho (RAEC) foram expostas ao ITJ nas concentrações de
0,325, 0,65 e 1,3 µM, e avaliada a viabilidade celular por Alamar Blue nos tempos de: A) 24
horas; B) 48 horas e C) 72 horas de exposição.
78
5.4.1.2.
Avaliação da toxicidade de ITJ sobre linhagens de células
tumorais
O inibidor ITJ foi avaliado pelo ensaio de MTT (MOSMANN, T.) contra
células tumorais HeLa (adenocarcinoma cervical humano, ATCC CCL-2TM), HepG2
(Hepatoma humano ATCC HB-8065TM) e B16-F10 (melanoma derivado de
camundongo CRL-6475TM), apresentando toxicidade apenas contra células de
melanoma, com um IC50 de 0,65 µM (Figura 24).
Figura 24 - Avaliação da citotoxicidade de ITJ contra células B16-F10.
Células de melanoma de camundongo (B16-F10) foram expostas por diferentes tempos (24, 48
e 72 horas) ao ITJ e avaliadas pelo ensaio de MTT.
Este resultado mostra que ITJ é muito superior em toxicidade quando
comparado a outros inibidores purificados de sementes de leguminosas, como por
exemplo, os inibidores de quimotripsina de Acacia confusa (LAM, Ng; 2010) e o de
tripsina purificado de sementes de Vigna unguiculata, denominado BTCI (JOANITTI,
G.A.; AZEVEDO, R. B.; FREITAS, S. M.; 2010), que foram citotóxicos contra células
tumorais MCF-7 com um IC50 de 10,7 ± 4,2 µM e 200 µM, respectivamente; o inibidor
de tripsina purificado de sementes de Nephelium lappaceum (FANG, E.F.;
NG,T.B.,2015), que apresentou toxicidade frente a uma variedade de linhagens
tumorais, como MCF-7 (IC50 = 130,7 µM), HepG2 (IC50 = 215,3 µM ) CNE-1 (IC50 =
277,0 µM) e CNE-2 (IC50 = 30,0 µM); e o inibidor de tripsina purificado de um
cultivar de Phaseolus vulgaris (CHAN, Y.S. et al.; 2014) que apresentou toxicidade
contra células MCF-7 e HepG2 numa concentração de 125 µM.
79
Devido à alta incidência de melanoma na população brasileira, a toxicidade
específica de ITJ sobre este tipo de células e a redução significativa da proliferação
celular, a linhagem B16F10 foi utilizada para ensaios posteriores.
5.4.2. Efeito de ITJ na proliferação de células de melanoma (B16-F10)
através da avaliação da incorporação de bromo-desoxi-uridina
(BrdU)
Para verificar uma possível ação antiproliferativa decorrente da incubação
com o inibidor, utilizou-se o BrdU como marcador proliferativo (Figura 25) em células
de melanoma de camundongo. ITJ foi capaz de inibir a proliferação das células
tumorais de forma significativa na concentração de IC50 (0,65 µM). ITJ apresentou
ação muito mais efetiva em inibir a proliferação celular que outros inibidores, como o
EcTI, que apresentou efeito significativo na viabilidade de células tumorais gástricas
(Hs746T), com redução de viabilidade em até 37% nas concentrações testadas (0150 µM), porém não influenciou na proliferação de nenhuma das células testadas
quando incubadas por 24 e 48 horas (PAULA, C. A. et al., 2012).
Figura 25 - Incorporação de BrdU em células de melanoma (B16-F10) tratadas com ITJ.
As células foram tratadas por 72 h, utilizando o IC50 do inibidor para avaliação da inibição e
analisadas por meio do método de incorporação de BrdU. (*) P < 0,001. Os valores são
expressos como a média ± desvio padrão (n = 3).
80
5.4.3. Quantificação de marcadores para morte celular utilizando
técnicas de citometria de fluxo, microscopia de fluorescência e
Western Blotting
A morte de células por apoptose pode ser desencadeada por uma grande
variedade de condições de estresses intracelulares, incluindo danos no DNA, o
estresse oxidativo, sobrecarga de Ca2+ citosólico, excitotoxicidade leve (que seria a
neurotoxicidade associada a altas concentrações de glutamato exógeno ou de
agonistas de receptores glutamatérgicos), a acumulação de proteínas desdobradas
no retículo endoplasmático (RE) e muitos outros.
Especificamente,
características
morfológicas
de
apoptose
incluem
encolhimento citoplasmático, condensação nuclear e formação de bolhas de
membrana (EARNSHAW, 1995; MARTINS e EARNSHAW, 1997); os eventos
bioquímicos envolvem o influxo de cálcio, a exposição de fosfatidilserina, e ativação
de proteases específicas e fragmentação do DNA, primeiramente, a fragmentos de
cerca de 50 kb e, em seguida, a fragmentos nucleossômicos menores. Embora as
cascatas de sinalização que desencadeiam a apoptose intrínseca sejam altamente
heterogêneas, eles estão todos ligados a um mecanismo de controle centrado na
mitocôndria.
Após comprovar a toxicidade e atividade antiproliferativa de ITJ em células
de melanoma de camundongo, o mecanismo pelo qual o inibidor é capaz de induzir
a morte dessas células foi analisado. Experimentos utilizando técnicas de citometria
de fluxo foram realizados, com intuito de determinar o mecanismo de morte celular
ativado após a incubação com o inibidor. Pôde-se concluir que ITJ estimulou a
ativação da via apoptótica em B16-F10 após um período de 72 horas de incubação,
com dupla marcação para os fluoróforos Anexina V-FITC/PI, permeabilização de
membrana mitocondrial, com liberação de ROS e íons Ca2+, aprisionamento das
células em um estágio específico do ciclo celular (G0/G1) e análise da expressão
das proteínas relacionadas ao controle do ciclo celular e ativação dos mecanismos
apoptóticos. Todos estes indícios são importantes na formulação de um possível
mecanismo de ação do inibidor para a redução da quantidade de células de
melanoma.
81
5.4.3.1.
Indução de morte celular por ITJ em células B16-F10 por
incubação com Anexina-V/FITC e Iodeto de Propídeo
Apoptose é um processo de morte celular altamente regulado, ocorrendo
normalmente como um componente normal do desenvolvimento. A distinção entre
apoptose e necrose está relacionada a mudanças morfológicas e bioquímicas,
incluindo a compactação e fragmentação nuclear da cromatina, retraimento do
citoplasma e perda da assimetria da membrana. Em células viáveis, a fosfatidilserina
está localizada na superfície citoplasmática da membrana celular. Contudo, em
células apoptóticas, ela é translocada para a folha externa da membrana plasmática,
ficando exposta para o ambiente externo da célula. A anexina V é uma proteína de
35-36 kDa, dependente de Ca2+, capaz de se ligar com alta especificidade à
fosfatidilserina. Marcada com um fluoróforo ou biotina ela pode identificar células
apoptóticas pela ligação à fosfatidilserina exposta na membrana externa. O iodeto
de propídeo é um marcador nuclear que penetra exclusivamente em células que
apresentam a membrana celular danificada, permitindo a identificação de células em
estágio final de apoptose/necrose. A capacidade de ITJ em induzir a apoptose foi
visualizada através de citometria de fluxo, com marcação para anexina V-FITC/PI.
As células de melanoma foram expostas ao ITJ a 0,65 µM e, em seguida,
marcadas com os fluoróforos Anexina V-FITC/PI para indicação do possível
mecanismo de ação pelo qual o inibidor estaria induzindo as células à morte celular
(Figura 26). Pelos dados da citometria de fluxo, pôde-se perceber que não há
diferença significativa no padrão de marcação das células controle ou tratadas com
ITJ durante 24 e 48 horas. Porém, no tempo de 72 horas, o inibidor apresentou forte
indicativo de induzir a morte celular em linhagem de células B16-F10, com marcação
dupla positiva para Anexina V-FITC/PI de, aproximadamente, 34%, sendo
observadas células tanto em estágio inicial de morte celular por apoptose (marcação
positiva para Anexina V-FITC) como também em estágio de apoptose tardia (positiva
para Iodeto de Propídeo). Aproximadamente 10% das células tumorais submetidas à
ação de ITJ foram marcadas positivamente para Anexina V-FITC, indicando que
estas se encontravam em estágio inicial de apoptose, ou seja, comparando as
células controle com as submetidas ao inibidor, cerca de 50% das células de alguma
forma estavam ativando seu mecanismo de morte celular por apoptose.
82
Figura 26 - Marcação de células de melanoma por Anexina V e iodeto de propídeo sob ação de
ITJ.
A) Células controle 24 horas; B) células tratadas com 0,65 µM de ITJ por 24 horas; C) Células
controle 48 horas; D) células tratadas com 0,65 µM de ITJ por 48 horas; E) Células controle
72 horas; F) células tratadas com 0,65 µM de ITJ por 72 horas. FL2H- Filtro referente ao
Iodeto de Propídeo. FL1H- Filtro referente à Anexina V-FITC. Os resultados representam a
83
média de três experimentos realizados em separado. Q1 – Anexina V-FITC -/PI +; Q2 –
Anexina V-FITC +/PI +; Q3 - Anexina V-FITC +/PI -; Q4 - Anexina V-FITC -/PI-.
BPLTI, um inibidor purificado de sementes de Bauhinia purpúrea L. foi capaz
de induzir morte celular por apoptose em linhagem de células hepáticas HepG2
(FANG et al., 2011) quando incubadas em uma variedade de concentrações (0 –
150 µM); VFTI-G1, um inibidor isolado de Vicia faba cv. Giza 843, também foi capaz
de induzir células da linhagem tumoral HepG2 à morte celular por apoptose, em
várias dosagens (7,5 - 90 µM), após um período de 24 horas de exposição; já o
inibidor BCTI induziu morte celular com marcação para Anexina V-FITC, após 72
horas de incubação e utilizando uma concentração de 200 µM em células MCF-7
(JOANITTI, AZEVEDO, FREITAS, 2010), porém ITJ se mostrou muito mais eficaz
em induzir apoptose na concentração testada (0,65 µM). Um inibidor de serino
protease tipo Kunitz, Amblyomin-X (TAVASSI et al., 2010), apresentou resultados
semelhantes ao encontrado neste trabalho, após incubação (0,5 – 1 µM) por 24 e 48
horas de exposição a linhagens de células de melanoma e adenocarcinoma de
pâncreas; os tempos de respostas diferentes dos inibidores sobre as células
tumorais pode ser explicado por possíveis diferenças em seus mecanismos de ação,
o que explicaria o rápido efeito de Amblyomin-X em comparação ao efeito tardio de
ITJ na indução de morte celular por apoptose em células B16-F10.
5.4.3.2.
Efeito de ITJ sobre o curso do ciclo celular e da expressão
de proteínas relacionadas ao ciclo celular de células de
melanoma
A homeostase tecidual é dependente do perfeito balanço entre proliferação e
morte celular, que são eventos intimamente acoplados. Alguns reguladores do ciclo
celular participam em ambos os processos, morte celular programada e divisão
celular. A relação entre ciclo celular e morte celular é reconhecida pelos genes que
codificam as proteínas c-Myc, p53, pRb, Ras, PKA, PKC, Bcl-2, NF-κB, CDK, ciclinas
e CKI. Após estimulação, estas proteínas podem induzir proliferação celular, parada
do ciclo ou morte celular. A parada do ciclo celular pode ser promovida
a partir do
momento em que surgem possíveis situações fisiológicas estressantes à célula;
portanto, foi analisado o efeito do inibidor sobre a distribuição das células nos
diferentes estágios do ciclo celular.
84
Após a incubação por 72 horas com ITJ, numa concentração final de 0,65
µM, observou-se o acúmulo de células aprisionadas na fase G1 do ciclo celular
(85,41%), característica que indica o direcionamento das células tumorais a
iniciarem o processo de morte celular por apoptose (Tabela 4).
Tabela 4 - Avaliação de parada de ciclo celular das células de melanoma após exposição a ITJ.
Após 72 horas de tratamento com a ITJ, as células B16-F10 foram fixadas, tratadas com
RNAse, coradas com Iodeto de Propídeo e analisadas em citometria de fluxo para avaliação da
distribição do ciclo celular. A análise dos dados para parada de ciclo celular foram realizados
utilizando o software FlowJo v. 7.6.3.
Existem alguns inibidores de tripsina que são capazes de induzir morte
celular por apoptose sem necessariamente influenciar na regulação do ciclo celular;
é o que acontece com os inibidores PDTI e SBTI quando testadas em células Jukart
(células do sangue periférico humano, ATCC® TIB-152™) por um período máximo
de 24 horas de incubação, utilizando 25 µM de cada inibidor (TRONCOSO et al.,
2007). O inibidor do tipo Kunitz Amblyomin-X, (nas concentrações de 0,5-1 µM),
diferentemente dos inibidores PDTI e SBTI, inibiu a progressão do ciclo celular em
linhagens de células SKMel-28 ( células de melanoma humano, ATCC® HTB-72™) e
Mia-PaCa-2 (carcinoma de pâncreas humano, ATCC® CRL-1420™). O teor de DNA
avaliado por incubação com iodeto de propídeo revelou aumento do percentual de
células em G0/G1 e diminuição percentual nas fases S ou G2/M após tratamento
Amblyomin-X por 24 e 48 horas, em comparação com o controle não tratado
(TAVASSI et al., 2010).
85
Li e colaboradores (2014), utilizando técnicas de citometria de fluxo para
análise do ciclo celular, observaram que o número de células em fase G1/G0 foi
aumentado, ao passo que as células em fase G2/M diminuíram após tratamento
GBP-TI (proteína de fusão contendo o péptido de ligação WIFPWIQL GRP78 e o
inibidor de tripsina de feijão Mungo) durante 12 e 24 horas com até 20 µM, indicando
que o inibidor é capaz de aprisionar as células DLD1 na fase G0/G1 do ciclo celular,
porém de forma menos efetiva que ITJ na concentração testada.
Os resultados obtidos para os ensaios de viabilidade celular, citometria de
fluxo e análise da parada de ciclo celular sugerem morte celular por apoptose. A
técnica de Western Blotting foi utilizada para analisar a expressão de proteínas
relacionadas ao ciclo celular (expressão de ciclinas B1, D1, D3, E e p21) sob ação
de ITJ. Uma concentração final de ITJ (0,65 µM) foi incubada juntamente com as
células B16-F10 (Figura 27), em diferentes tempos de exposição (controle, 24, 36,
48, 60 e 72 horas).
2
1,8
Densidade Relativa
1,6
1,4
Controle
1,2
24h
1
36h
0,8
48h
0,6
60h
0,4
72h
0,2
0
Ciclina B1
Ciclina D1
Ciclina D3
Ciclina E
(He12)
p21
p53
Figura 27 – Expressão de proteínas envolvidas na parada de ciclo celular de células B16-F10
sob ação de ITJ.
Dados obtidos a partir da densitometria do Western Blotting com as proteínas Ciclina B1, Ciclina
D1, Ciclina D3, Ciclina E, p21 e p53 em células de melanoma (B16- f10) após exposição a ITJ
nos tempos de 24, 36, 48, 60 e 72 horas.
O controle do ciclo celular é realizado, principalmente, por proteínas que
apresentam a capacidade de fosforilar outras proteínas, inibindo-as; as ciclinas são
um grupo de proteínas relacionadas que contêm uma região homóloga conservada
86
(CLURMAN & ROBERTS, 1998), enquanto as CDKs são proteínas de 30 a 40 kDa
que possuem mais de 40% de identidade de sequência, além de grandes
similaridades funcionais e regulatórias (PERRY & LEVINE, 1993). Existem quatro
tipos de CDKs ativadas: a CDK G1/S, que permite que o DNA se duplique, a CDK S,
que também é importante para a duplicação do DNA, a CDK M, que promove vários
eventos da mitose e a CDK G1, que promove a passagem da célula pela fase G1
sem que esta entre em quiescência. A CDK G1/S precisa da Ciclina E para ser
ativada, a CDK S precisa da Ciclina A, a CDK M necessita da Ciclina B e por fim a
CDK G1 precisa da Ciclina D (ALBERTS et al., 2002). Em situações metabólicas
normais, a ciclina D1, em associação com a quinase dependente de ciclina (CDK)
fosforila a proteína retinoblastoma (RB), bloqueando a sua atividade inibidora do
crescimento, promovendo a liberação fator de transcrição E2F (OLASHAW,
PLEDGER, 2002; SHERR, ROBERTS, 1999). Estes eventos facilitam a ativação da
ciclina E-CDK2 e ciclina A-CDK2, moléculas necessárias para a entrada e conclusão
da fase S (GIRARD et al., 1991).
Após a incubação com ITJ, as ciclinas D1, D3 e E tiveram sua expressão
reduzida, porém, estranhamente, a Ciclina B1 teve sua expressão aumentada,
principalmente no último tempo avaliado. A redução da expressão das ciclinas D e E
causada pelo inibidor deve ter induzido a parada das células de melanoma na fase
G1 do ciclo celular, corroborando a teoria de apoptose sugerida neste trabalho. Além
de alterar de forma significativa a expressão das ciclinas, ITJ também foi eficiente
em aumentar a expressão das proteínas p21 e p53, relacionadas à inibição da
proliferação celular em resposta a danos no DNA. p53, ao ser ativada no tempo de
36 horas, induz a expressão da proteína p21, que se liga e inibe a atividade de
quinase dependente de ciclina, impedindo a fosforilação de substratos de quinases
dependentes de ciclinas críticos, bloqueando a progressão do ciclo celular (Figura
27). Apesar de aumentar sua expressão no tempo de 36 horas, a proteína p53 tem
sua expressão reduzida nos tempos subsequentes, indicando que, possivelmente,
esta teve participação na ativação de p21, porém não foi determinante para que a
expressão de p21 perdurasse. Devido à alta expressão, p21 inibe a atividade da
quinase do complexo Ciclina D-CDK4, corroborando o resultado obtido no Western
Blotting (Figura 28).
87
Figura 28 - Possível mecanismo de ação de ITJ na ativação de proteínas relacionadas à parada
de ciclo celular em células de melanoma B16-F10.
RB
–
Proteína
Retinoblastoma;
P
http://p53.free.fr/p53_info/p53_Pathways.html).
5.4.3.3.
Avaliação
da
–
alteração
fosfato.
do
(Figura
potencial
modificada
de
de:
membrana
mitocondrial (ΔΨm) induzido por ITJ
O efeito de ITJ sobre a alteração no potencial de membrana mitocondrial foi
avaliado através de técnica citométrica (utilizando a sonda Rodamina 123) ou por
microscopia confocal (empregando a sonda Mito Tracker Red). O fluorocromo
Rodamina 123 é um fluorocromo verde permeável às células, catiônico, que é
sequestrado por células que apresentam as mitocôndrias viáveis, sem causar
toxicidade. Levando em consideração que a cadeia respiratória está localizada nas
membranas mitocondriais, e sendo as membranas celulares importantes alvos da
lesão por radicais livres, é natural supor que a destruição das membranas celulares
resultará no impedimento da fosforilação oxidativa, portanto a técnica de análise da
sonda Rodamina 123 por citometria de fluxo permite analisar a viabilidade ou
atividade metabólica de mitocôndrias, fornecendo parâmetros como viáveis (ativas
metabolicamente) e inviáveis (inativas metabolicamente), em que as células
permanecem preservadas ou sofrem alterações que levam à morte por apoptose ou
necrose.
88
As células B16-F10 foram separadas em dois grupos: um grupo submetido ao
tratamento com ITJ na concentração de 0,65 µM e outro sem tratamento, o qual foi
utilizado como controle negativo. Após a incubação com Rodamina 123 pôde-se
observar que ITJ foi capaz de reduzir significativamente o potencial elétrico
mitocondrial, mesmo após 72 horas de tratamento, revelando a toxicidade do inibidor
para essas células (Figura 29). A sobreposição dos histogramas obtidos por meio do
software FlowJo v. 7.6.3 (Tree Star, Inc., CA, USA) foi utilizado para demonstrar a
eficácia do tratamento com o inibidor na concentração de IC 50 em relação ao grupo
controle.
Para a segunda metodologia foi utilizada a sonda MitoTracker Red como
indicador de alteração do potencial de membrana mitocondrial, visualizado em
microscópio confocal Leica SP8. Para a marcação das mitocôndrias, as células são
simplesmente incubadas com sondas MitoTracker®, que se difundem passivamente
por meio da membrana plasmática e se acumulam nas mitocôndrias ativas. A partir
do momento em que ocorre uma alteração neste potencial de membrana, a sonda
não é capaz de marcar as mitocôndrias, ou seja, não há detecção de fluorescência.
Dessa forma, as células B16-F10 foram incubadas com a sonda MitoTracker Red
após tratamento (ou não) com ITJ (na concentração da IC50) e analisadas por
microscopia confocal. A análise mostrou que o potencial de membrana mitocondrial
das células tumorais foi perdido após 72 h de exposição ao inibidor (Figura 30).
Figura 29 - Análise citométrica do efeito de ITJ no potencial de membrana mitocondrial das
células B16-F10.
Histograma representativo das populações celulares adquiridas pelo software FlowJo v. 7.6.3
(Tree Star, Inc., CA, USA) da linhagem de células tumorais B16-F10 marcadas com a sonda de
fluorescência Rodamina 123. Linha vermelha – grupo controle, sem tratamento com ITJ; Linha
azul – grupo tratado com ITJ na concentração de 0,65 µM, correspondente à IC50.
89
Figura 30 – Análise microscópica confocal do efeito de ITJ no potencial de membrana
mitocondrial das células B16-F10.
A e C: Células não tratadas (Controle); B e D: Células tratadas por 72 horas com ITJ 0,65 µM; C
e D: Zoom de 1.5x; Vermelho – Mitocôndria tratada com Mito Tracker Red; Azul – núcleo corado
com DAPI.
Comparativamente ao tratamento com ITJ, 200 µM de BCTI foi utilizado para
os ensaios de avaliação do potencial de membrana mitocondrial em células MCF-7;
após incubação com o fluoróforo Rodamina 123, BCTI foi capaz de induzir a
despolarização da membrana mitocondrial de células tumorais MCF-7, após 72
horas de incubação (JOANITTI, AZEVEDO, FREITAS, 2010); outro inibidor testado
quanto à influência na despolarização da membrana mitocondrial foi o GBP-TI, que
foi capaz de causar alterações no potencial de membrana mitocondrial após 24
horas de exposição com uma concentração de 20 µM de inibidor (LI et al., 2014);
estes resultados foram bem menos efetivos que o encontrado para ITJ, afirmando a
alta toxicidade e efetividade deste inibidor quando ministrado em baixas dosagens
(0,65 µM) na alteração do potencial de membrana mitocondrial (ΔΨm) em células de
melanoma de camundongo. ITJ manifesta a capacidade de induzir a perda de ΔΨm
90
concomitante ao elevado número de células apoptóticas, revelando a importância da
despolarização mitocondrial por ITJ na mediação da apoptose.
5.4.3.4.
Influência de ITJ na liberação de Espécies Reativas de
Oxigênio (EROs) e Nitrogênio (ERNs)
Espécies Reativas de Oxigênio (EROS) são essenciais para a vida devido
ao seu papel em muitos processos vitais, como a transdução de sinal e a
capacidade dos fagócitos em desempenhar sua atividade bactericida. EROS incluem
os radicais livres, tais como radicais hidroxila e superóxido, que são substâncias com
um ou mais elétrons com estados desemparelhados de rotação, e outros radicais,
incluindo peróxido de hidrogênio e oxigênio atômico. Embora os processos de
produção de EROS sejam controlados, muitas atividades celulares resultam na
geração de espécies reativas. Um local importante desta geração não essencial de
EROS, que constitui o estresse oxidativo, é o sistema de transporte de elétrons, que
ocorre dentro da membrana interna das mitocôndrias (CONKLIN, 2004).
Todos os agentes antineoplásicos geram EROs, uma vez que induzem
apoptose em células tumorais. Isto ocorre porque uma das vias de apoptose
induzida por fármacos envolve a liberação do citocromo c da mitocôndria. Quando
isso ocorre, os elétrons são desviados da cadeia respiratória para o oxigênio,
através da NADH desidrogenase e coenzima Q reduzida, resultando na formação de
radicais superóxido (CONKLIN, 2004). A formação de EROs não é o único evento
responsável pela toxicidade de muitos fármacos contra células tumorais. A alteração
do estado redox pela depleção de substâncias redutoras, a inibição dos
sequestradores de EROs ou a ação direta de espécies produtoras de EROs também
contribuem para citotoxicidade dos fármacos. Assim sendo, a manipulação do
estado redox celular pode proporcionar uma melhor eficácia quimioterapêutica (JING
et al., 2006).
A produção intracelular de EROs pelo inibidor de protease foi avaliada pelo
método de acetato de diclorofluoresceína (H2DCFDA), que é transformada em
diclorofluoresceína reduzida (DCFH) no citoplasma e é oxidada pelas EROs a
diclorofluoresceína (DCF), a qual emite fluorescência.
ITJ apresentou um potente efeito pró-oxidante nas células B16-F10 após 30
minutos, 2 horas e 72 horas de exposição a uma concentração de 0,65 µM (Figura
91
31), sendo o efeito mais efetivo no primeiro tempo avaliado; O inibidor recombinante
de trigo rBTI também foi examinado por WANG et al (2015) quanto a capacidade de
induzir a liberação de EROs, utilizando a sonda H2DCFDA para a análise em
microscopia. 50 µg/mL de inibidor foram utilizados no ensaio, havendo um aumento
na produção de EROs após o tratamento com RBTI por apenas meia hora; os níveis
de ROS aumentaram continuamente durante 2 h depois exposição; ROS aumentou
acentuadamente entre 2 e 4 h e atingiu um nível máximo em 18 horas. Os níveis de
ROS, em seguida, caíram após 24h, mas ainda assim eram superiores aos níveis do
controle, onde os tempos avaliados foram os mesmos. Comparando a ação de rBTI
com a ação de ITJ, nota-se que este foi muito mais eficaz em induzir o estresse
oxidativo por liberação de espécies reativas de oxigênio que o rBTI. Outro composto
capaz de induzir a produção de EROs é a estaurosporina, um indutor de apoptose
de origem alcaloide originalmente isolado de Streptomyces staurosporeus, que há
tempos vem sendo usada in vitro como iniciador de apoptose em diversas linhagens
celulares (ZHANG et al., 2016). Este composto, na concentração de 1 µM, foi capaz
de induzir a produção de espécies reativas de oxigênio, avaliado pelo mesmo
método que o utilizado para ITJ, porém o inibidor de tripsina foi bem mais efetivo e
gerar EROs que a estaurosporina, ressaltando sua potência e eficiência em induzir
danos por estresse oxidativo a células de melanoma.
92
Figura 31 – Efeito de ITJ sobre a liberação de EROs por células de melanoma.
A liberação de EROs por células B16-F10, sob ação de ITJ, foi determinada por método de
H2DCFDA. A) Células tratadas com ITJ por 30 min; B) Células tratadas com ITJ por 2h; C)
Células tratadas com ITJ por 72 horas de exposição. ****P < 0,0001; **P < 0,05.
ITJ não foi capaz de alterar a expressão de ERNs, em nenhum tempo
avaliado,
como
observado
(difluorofluoresceína) (Figura 32).
após
incubação
com
a
sonda
DAF-FM
93
Figura 32 - Efeito de ITJ sobre a liberação de ERNs por células de melanoma.
A liberação de ERNs por células B16-F10, sob ação de ITJ, foi determinada por método de
DAF-FM. A) Células tratadas com ITJ por 30 min; B) Células tratadas com ITJ por 2h; C) Células
tratadas com ITJ por 72 horas de exposição.****P < 0,0001; **P < 0,05.
5.4.3.5.
ITJ influencia no aumento dos níveis de Cálcio em células
B6-f10
Muitas funções celulares dependem do cálcio, mas em concentrações
adequadas. Graças à toxicidade de elevadas concentrações citosólicas de Ca2+,
basta uma sutil alteração nas vias sinalizadoras para provocar consequências
devastadoras nas funções celulares: o excesso ou deficiência de Ca 2+ no local
errado podem levar à morte celular por necrose ou à indução da morte celular
programada; contudo, o mecanismo preciso que leva à resposta apoptótica ainda
não é bem conhecido. Apenas se sabe que concentrações de cálcio intracelular
([Ca2+]i) muito elevadas são pró-apoptóticas, enquanto que [Ca2+]i moderadas
parecem ser anti-apoptóticas.
As células B16-F10 foram incubadas com o reagente Fluo-4 Direct™ por 1h
a 37ºC para incorporação e, em seguida, foi realizada a leitura da fluorescência no
94
leitor de microplacas a cada 2 segundos, por no mínimo 300 segundos. Foi feita uma
injeção da amostra (ITJ) para que a mesma normalizasse sua concentração no
tempo de 20 segundos, onde foi possível observar que, na concentração de 0,65
µM, houve um aumento mais expressivo no conteúdo de Ca2+ citosólico quando
comparado às outras concentrações testadas (0,325 e 1,3 µM) (Figura 33), o que
possivelmente está relacionado ao início do processo de morte celular das células
B16-F10 através de mecanismos de sinalização, juntamente com a liberação de
EROs. Após 72 horas de exposição ao inibidor, não houve alteração nos níveis de
Ca2+ citosólico.
Figura 33 - Influência de ITJ nos níveis de Ca
2+
citosólico.
Ensaio realizado utilizando o Fluo-4 Direct™ Calcium Assay Kits (F10471, Invitrogen, UK). P <
0,0001.
Outros inibidores de proteases também foram capazes de influenciar nos
níveis de cálcio citosólico, como o BbCI (inibidor do tipo Kunitz purificado de
Bauhinia bauhinioides), que na concentração de 100 µM causou um aumento
significativo dos níveis de cálcio citosólico após 30 min de incubação em células
HUVEC (BILGIN et al., 2010), sendo bem menos efetivo que ITJ; resultados
semelhantes ao alcançado com o inibidor de tripsina de Mimosa regnellii foram
obtidos pela incubação de Amblyomin-X a 0,5 µM, nos tempos de 5 e 24 horas em
células RENCA (adenocarcinoma renal de camundongo, ATCC® CRL-2947™)
(MARIA et al., 2013).
95
As alterações mitocondriais que levam à liberação de fatores apoptóticos
podem
incluir
inibição
respiratória,
formação
de
EROS
e
transição
de
permeabilidade de membrana (GUNTER et al., 1994; PASTORINO et al., 1995;
NIEMINEN et al., 1995; KROEMER et al., 1997). Proteínas da família Bcl-2 também
estão inteiramente relacionadas ao processo de morte. Estas proteínas causam
poros na membrana mais externa da mitocôndria e induzem a liberação de
moléculas pró-apoptóticas para o citoplasma, como citocromo c, AIF (fator indutor de
apoptose), endonucleases e a proteína Smac/Diablo (NUTT et al., 2002). A liberação
destes fatores pode ativar as vias das caspases, resultando no processo de morte
(JEONG; SEOL, 2008). Os gatilhos para tais alterações mitocondriais não foram
estabelecidos, mas podem incluir continuadas elevações de [Ca+2]i (HENNET et al.,
1993; BINDOKAS et al., 1996). O desacoplamento de transporte de elétrons
dependente de cálcio a partir da produção de trifosfato de adenosina (ATP) em
mitocôndrias isoladas pode resultar em formação substancial de radicais livres
(CHACON e ACOSTA, 1991; DYKENS, 1994) e pode estar associado com a fixação
do cálcio (MURPHY et al., 1996). Curiosamente, o bloqueio da absorção de cálcio
mitocondrial diminui a apoptose induzida por TNFα (HENNET et al., 1993),
sugerindo ligações importantes entre o cálcio, EROS mitocondrial e a apoptose.
5.4.3.6.
Ação de ITJ na modulação de proteínas indutoras de morte
celular por apoptose em células de melanoma
Uma das proteínas relacionadas à promoção da morte celular é a p53, que
atua como um supressor tumoral em muitos tipos de tumores; induzindo a parada do
crescimento ou a apoptose, dependendo das circunstâncias fisiológicas e tipo de
célula em que está sendo expressa. Está envolvida na regulação do ciclo celular
como um transativador, atuando na regulação negativa da divisão celular por meio
do controle de um conjunto de genes necessários para este processo. Uma função
importante da p53 é atuar como um fator de transcrição que se liga a uma sequência
consenso de DNA específica em genes responsivos (ZAMBETTI & LEVINE, 1993),
aumentando a síntese de p21 ou Bax (EL-DIERY et al., 1994; MIYASHITA & REED,
1995). A superregulação de p21 resulta na inibição da progressão do ciclo celular de
G1 para a fase S do ciclo celular. Por outro lado, a superregulação de Bax altera a
relação de Bcl-2 / Bax no microambiente celular e provoca a liberação do citocromo
96
c das mitocôndrias para o citosol. Citocromo c, em seguida, liga-se a Apaf-1 e ativa
a caspase-3 por meio de caspase-9, que é responsável pelo último processo de
apoptose.
Após a exposição ao inibidor de tripsina, p53 é estimulada, induzindo as
células B16-F10 a pararem de se proliferar e a iniciar o processo de morte celular
por apoptose, porém nos últimos tempos de exposição, sua expressão sofre uma
pequena diminuição (Figura 34).
2,0
1,8
Densidade relativa
1,6
1,4
Controle
1,2
24h
1,0
36h
0,8
48h
0,6
60h
0,4
72h
0,2
0,0
p21
p53
p-Erk 44
p-Erk 42
Figura 34 - Immunoblotting de proteínas envolvidas na morte celular por apoptose (p21, p53, pErk) em células B16-F10 expostas a ITJ.
Dados densitométricos do Western Blotting das proteínas p21, p53, p-Erk expressas em células
de melanoma (B16- F10) após exposição a ITJ nos tempos de 24, 36, 48, 60 e 72 horas.
Além de alterar a expressão de p53 nas céulas tumorais, ITJ reduziu a
expressão de Erk, influenciando na indução de morte das células B16-F10 testadas
após 72 horas de exposição (Figura 34). Há uma evidência crescente que sugere
que a ativação da via de sinalização de Ras-Raf-MEK-ERK é importante na
patogênese do melanoma. A inibição da via de sinalização de Ras-Raf-MEK-ERK no
melanoma ocorre através de múltiplos mecanismos. Um deles seria a inibição de
ERK1 / 2, que atuaria na indução de apoptose no melanoma; esta indução é
facilitada através da promoção mudanças de conformação de Bax e sua
transferência para mitocôndrias (ZHAN G et al., 2003). Outra forma de sinalização
para apoptose seria a interação de TRAIL com os seus dois receptores de morte,
DR4 (TRAIL-R1) e DR5 (TRAIL-R2) é o passo inicial para apoptose induzida por
97
TRAIL (PAN et al., 1997; WALCZAK et al., 1997). A ligação de TRAIL leva a
trimerização dos receptores de morte e a ativação de via de morte mediada por
receptor. Os receptores de morte ativados recrutam e ativam uma proteína
adaptadora chamada domínio de morte por Fas associado (FADD) através de
interações entre o domínio de morte (DD) sobre os receptores de morte e FADD. O
domínio efetor de morte (DED) de Fadd recruta e ativa caspase-8, levando à
formação do complexo de indução de sinalização de morte (DISC). Em células do
tipo I, a presença de caspase-8 ativada é suficiente para induzir a ativação de um ou
mais caspases efetoras (por exemplo, caspase-3 ou -7), que, em seguida, atuam
sobre os substratos de morte finais para apoptose (7EGGERT et al., 2001; DANIEL
et al., 2001). No entanto, nas células do tipo II, mesmo uma pequena quantidade de
caspase-8 ativada, embora não seja suficiente para ativar as caspases efetoras, é
suficiente
para
desencadear
uma
amplificação
apoptótica
dependente
de
mitocôndrias ativando Bid, o que induz a acumulação de Bax nas mitocôndrias, a
liberação de citocromo c, a ativação de caspase-9, caspase-3, e caspase-7, e,
finalmente, a morte celular programada.
O padrão de alterações morfológicas e bioquímicas celulares associadas à
morte celular por apoptose devido à indução de um determinado composto ou
estímulo físico inclui a formação de vacúolos citoplasmáticos, encolhimento e
diminuição do contato entre células vizinhas, fragmentação da membrana nuclear e
condensação da cromatina (WYLLIE; KERR; CURRIE, 1980; MCCONKEY, 1998;
MELO et al., 2000), despolarização de membrana mitocondrial, fragmentação
internucleossomal do DNA e alterações na assimetria de fosfolipídios de membrana
plasmática (CURTIN; DONOVAN; COTTER, 2002). A maioria destas alterações
morfológicas é causada por uma série de cisteíno proteases, chamadas caspases,
que são ativadas especificamente em células em apoptose (COHEN, 1997; MINKO;
KOPECKOVÁ; KOPECEK, 2001). Estas enzimas possuem um resíduo de cisteína
no sítio ativo e clivam substratos que possuem resíduos de ácido aspártico em
sequências específicas. A especificidade pelos seus respectivos substratos é
determinada por quatro resíduos amino-terminais no sítio de clivagem (JACOBSON;
EVAN, 1994; STENNICKE; SALVESEN, 1998; THORNBERRY; LAZEBNIK, 1998;
HENGARTNER, 2000). A ativação das caspases promove o aparecimento das
alterações celulares que caracterizam a apoptose, como desmontagem da
membrana nuclear e do arcabouço de lâminas, hipercondensação da cromatina e
98
degradação proteolítica das estruturas nucleares e citoplasmáticas. Estas alterações
são comuns a todas as células em apoptose explícita, independentemente do
agente indutor do processo. Isso significa que a ação dessas caspases representa
uma via final comum que opera em todas as células programadas para morrer
(THORNBERRY; LAZEBNIK, 1998; HENGARTNER, 2000).
O inibidor de protease ITJ foi capaz de induzir de forma significativa a
ativação da caspase efetora 3, após um período de 72h de exposição (Figura 35).
Figura 35 – Expressão de caspase 3 em células B16-F10 após tratamento com ITJ.
As células foram plaqueadas sobre lamínulas (13 mm de diâmetro) e cultivadas por três dias
como descrito em métodos, sendo posteriormente incubadas na presença ou ausência de ITJ. A
marcação de caspase-3 foi obtida utilizando o anticorpo Cleaved Caspase-3 (Asp175) (5A1E)
(#9664) Rabbit mAb. As imagens foram capturadas em um microscópio confocal Leica SP8.
Núcleo corado com DAPI (azul), caspase-3 (verde). Imagens representativas de 3 ensaios
separados. A – Controle; B – Tratamento com ITJ (0,65 µM) em 72h de exposição;
5.4.3.7.
Análise dos efeitos de ITJ na migração celular de B16-F10 e
na angiogênese
5.4.3.7.1.
Efeito de ITJ sobre a migração de células B16-F10
A migração celular possui papel fundamental em vários processos biológicos
e patológicos, tais como embriogênese, resposta inflamatória, reparo e regeneração
tecidual, câncer e defeitos congênitos. A migração pode ser entendida como um
ciclo de vários passos, que são: extensão de uma protusão, formação de adesão
estável na borda mais avançada da protusão – realizada por receptores de adesão -,
99
translocação do corpo celular para frente, soltura da adesão e retração da parte
posterior da célula (WEBB, PARSONS e HORWITZ, 2002; ROSE, ALON e
GINSBERG, 2007).
A Figura 36 ilustra o percentual de migração das células B16-F10 com
diferentes concentrações de ITJ (0,325, 0,65 e 1,3 µM) nos diferentes tempos de
exposição (0, 3, 6 e 18 horas). Tanto a IC50 quanto o dobro da IC50 apresentaram
efeito significativo nos processos de migração celular quando comparados aos seus
respectivos controles, porém foram inferiores ao resultado obtido com 0,325 µM de
ITJ.
A pré-incubação de 0,65 µM de ITJ foi muito mais efetiva em retardar o
processo de migração celular que outros inibidores de protease, como o EcTI
(inibidor de tripsina de Enterolobium contortisiliquum) que, numa concentração de
100 µM, foi capaz de reduzir em aproximadamente 30% o percentual de migração
de
células
Hs746T
de
câncer
gástrico
(DE
PAULA
et
al.,
2012).
A eficiência de ITJ em inibir o processo de migração de células de melanoma
também foi comprovada quando comparada a alguns inibidores de compostos
proteicos conhecidos em promover angiogênese, diferenciação celular e migração.
De acordo com SAUNDERS et al (2008), a autotaxina (ATX) é uma enzima
prometastática inicialmente isolada a partir do meio condicionado de células de
melanoma humano que estimulam uma miríade de atividades biológicas, incluindo a
angiogênese e a promoção do crescimento celular, a sobrevivência e a
diferenciação através da produção de ácido lisofosfatídico (LPA). Inibidores de ATX
como o hexaclorofeno (10 µM), bitionol (10 µM), merbromina (10 µM) e NSC48300
(0,1 µM) foram incubados isoladamente e combinados com ácido lisofosfatídico
(LPA) para avaliação da atividade migratória de diversas linhagens de melanoma.
ITJ, na concentração de IC50, apresentou maior eficácia em inibir o processo
migratório de células de melanoma, numa concentração bem inferior à utilizada
pelos inibidores de ATX, com exceção de NSC48300, que se mostrou mais eficiente
que ITJ em inibir a migração celular.
100
101
Figura 36 (página anterior) - Efeito de ITJ no processo de migração celular de B16-F10.
Uma cultura em monocamada de B16-F10 foi estabelecida, onde uma injúria foi feita e
posteriormente tratada com ITJ numa concentração fixa de 0,65 µM, em várias faixas de tempos
de exposição (0, 3, 6 e 18 horas). A injúria foi medida e comparada entre os vários tratamentos
e tempos de exposição ao inibidor. (A) Representação gráfica (quantitativa) dos dados. (B)
Imagens das culturas.
5.4.3.7.2.
Efeito de ITJ na angiogênese e análise da expressão
de VEGF em B16-F10
Para que uma célula modifique seu funcionamento normal e se torne uma
célula neoplásica é necessária a ocorrência de uma série de mutações, as quais
envolvam genes que expressem proteínas que estejam relacionadas ao controle do
ciclo celular. Porém, apenas a alteração de genes normais à oncogenes nas células
não é suficiente para a formação de um tumor capaz de ameaçar a vida de um
indivíduo. Para que um determinado aglomerado de células consiga manter um
desenvolvimento sustentado é necessário um suprimento constante de sangue,
promovido por processos de vascularização do tumor, o que caracteriza o processo
angiogênico.
Foi feita a análise da influência de ITJ na formação de novos vasos em
linhagem de células RAEC. Foi comprovado que ITJ inibe a angiogênese nas
concentrações equivalentes ao IC50 (0,65 µM) e a metade da IC50 (0,325 µM), não
havendo diferença estatística entre estas dosagens, porém, a partir do momento em
que foi aplicada uma concentração equivalente ao dobro da IC50 foi possível
observar um efeito estimulador de formação de novos vasos nas células testadas, o
que indica que o efeito inibidor de angiogênese, verificado pela utilização do inibidor,
atua de forma dose ideal (Figura 37-A). Nos últimos anos, uma quantidade
significativa de evidências tem demonstrado que o fator tecidual (TF) e o complexo
TF/FVIIa podem promover o crescimento tumoral, metástase e angiogênese
(BROZE, GJ Jr, 1995). TF é superregulado em células endoteliais dentro do câncer
de mama e seus níveis elevados estão relacionados com um fenótipo de carcinoma
invasivo. O principal inibidor fisiológico do complexo TF/FVIIa é o inibidor da via do
fator tecidual (TFPI). TFPI é uma proteína de múltiplos domínios que consiste em
três inibidores de proteinase tipo Kunitz independentemente dobrados (KPI), além de
apresentar uma extremidade carbóxi-terminal altamente básica. TFPIc23 inibiu o
102
crescimento de vasos sanguíneos de uma forma dose dependente, com uma
inibição superior a 90% a 10 ug/disco , que foi a dose mais elevada testada (1 µg – 5
µg – 10 µg/disco). Inibição semelhante foi observada no ensaio de plug de Matrigel
em ratos após 6 dias de tratamento com 100 ou 500 ug/disco TFPIc23. Como em
todos os ensaios anteriores, TFPIc23 mostrou uma resposta dose dependente, com
uma inibição máxima de 65% a uma dose diária de 500ug (P < 0,05) (HEMBROUGH
et al., 2004). Apesar de apresentar uma resposta antiangiogênica efetiva, TFPIc23
foi menos eficaz em reduzir o processo angiogênico que ITJ, comprovando a
potência deste inibidor em reduzir a formação de vasos sanguíneos para nutrição de
tumores. Vixapatin (VP12), uma lectina do tipo-C purificada a partir de veneno de
Vipera xantina palestinae (MOMIC, et al., 2012) obteve resultados semelhantes ao
encontrado por ITJ, porém, utilizando uma dosagem um pouco superior; 1 µM de
Vixapatin foi capaz de causar uma redução no processo de formação de vasos em
quase 70%, enquanto ITJ apresentou uma redução de quase 50% na concentração
de IC50.
VEGF é um fator de crescimento ativo na angiogênese, na vasculogênese e
no crescimento de células endoteliais. Induz a proliferação de células endoteliais,
promove a migração celular, inibe a apoptose e induz a permeabilização de vasos
sanguíneos. Após 72 horas de exposição ao inibidor (0,65 µM), foi possível observar
uma queda na expressão de VEGF, que, juntamente com o ensaio de inibição de
formação de estruturas tipo capilar em matrigel indicam uma redução no processo
angiogênico em células de melanoma (Figura 37 A-B). Alguns polifenóis, como o
resveratrol (TRAPP et al., 2010), também apresentam a capacidade de reduzir os
níveis de expressão de VEGF em culturas de células, porém, numa dosagem bem
superior (50 µM) à utilizada por ITJ; o inibidor de protease que apresenta um potente
efeito em reduzir os níveis do fator de crescimento VEGF seria o inibidor do tipoKunitz Amblyomin-X (DREWES et al., 2012) que, após 72h de tratamento e numa
dosagem de 10 ng/µL é capaz de reduzir em quase 50% a formação de vasos.
103
Figura 37 – Efeito de ITJ sobre a angiogênese.
A) Células endoteliais (RAEC) foram cultivadas sobre matrigel polimerizado na presença de
meio F12 contendo 10% de SFB por 72 horas na presença de diferentes concentrações de ITJ.
A formação dos tubos foi examinada em microscópio de luz invertida utilizando objetiva de 5X.
B) Inibição da expressão de VEGF após 72 horas de incubação com ITJ na concentração de
IC50; ensaio realizado utilizando a técnica de Western Blotting, onde a análise da proteína foi
normalizada pela β-tubulina em células B16-F10. Foi realizada a densitometria da proteína
expressa através do software ImageJ.
O processo angiogênico é altamente controlado por uma diversidade de
reguladores positivos e/ou negativos, que são compostos por fatores de
crescimento, citocinas, metabólitos lipídicos e fragmentos críticos de proteínas
104
hemostáticas, e vários desses fatores são inicialmente caracterizados para outras
atividades biológicas. Níveis alterados de fatores pró-inflamatórios e próangiogênicos podem ser observados em vários tipos de tumor, incluindo o
melanoma (SUNILA, E.S.; KUTTAN, G., 2006). Dentre os fatores pró-inflamatórios,
destaca-se a citocina IL-6, que pode contribuir de várias maneiras para a
transformação maligna e progressão do câncer. A IL- 6 tem sido encontrada
desempenhando um papel importante em vários comportamentos tumorais,
incluindo a proliferação e diferenciação de células tumorais, a apoptose, invasão e
crescimento de tumores malignos, a migração de células e a ligação que conduz a
metástase. Além disso, a IL - 6 é um potente modulador do sistema imunitário, o que
aumenta o crescimento do tumor, bloqueando os mecanismos mediados por células
responsáveis por identificar e destruir o tumor. A IL- 6 tem também sido associada à
resistência a drogas antitumorais. Esta citocina serve como um fator de
multiresistência a drogas que combatem diversos tipos de células tumorais
(KACHOIE, POURGHOLAMI, MORRIS; 2013).
O tratamento com o inibidor ITJ foi capaz de reduzir a expressão de IL-6 de
maneira significativa em células de melanoma após 72h de tratamento (Figura 38).
Este resultado, juntamente com a redução da formação de capilares em matrigel,
pode indicar a participação de ITJ na inibição do processo angiogênico, de forma
direta ou indireta, através da redução da expressão da citocina pró-inflamatória IL-6.
Pode-se observar a inibição de IL-6 em células PC-3 tratadas com extrato
metanólico de Salvia triloba (STE), numa concentração de 287 µg/mL após 72 horas
de exposição, influenciando no avanço do processo angiogênico nesta linhagem
celular (ATMACA, BOZKURT; 2016); O extrato etanólico de Aerva Ianata foi capaz
de inibir a expressão de várias citocinas pró-inflamatórias, dentre elas a IL-6, numa
concentração de 25 µg/mL após 48 horas de exposição (SIVEEN, KUTTAN; 2013),
dosagem essa bem superior à utilizada por ITJ.
105
1
1
Figura 38 – Efeito de ITJ sobre a expressão de IL-6 em células B16-F10.
A – Controle; B – Tratamento com ITJ (0,65 µM) em 72h de exposição; As células foram
plaqueadas sobre lamínulas (13 mm de diâmetro) e cultivadas por três dias como descrito em
métodos, sendo posteriormente incubadas na presença ou ausência de ITJ. A marcação da
interleucina-6 foi obtida utilizando o anticorpo IL-6 (SC-130326) e as imagens foram capturadas
em um microscópio confocal Leica SP8. Núcleo corado com DAPI (azul), IL-6 (verde). Imagens
representativas de 3 ensaios separados.
5.4.3.8.
ITJ altera a expressão dos filamentos intermediários que
compõem a MEC das células de melanoma
A maioria das células de um organismo multicelular está organizada em
grupos cooperativos. Além dos filamentos do citoesqueleto presente nestas células
existe outra estrutura chamada de matriz extracelular, que é secretada ao redor das
células, dando força e sustentação aos tecidos. A matriz extracelular é dividida em
dois tipos: a matriz celular fibrilar, formada pelas fibras de colágeno e do sistema
elástico; e a matriz não fibrilar, composta por glicosaminoglicanos livres,
proteoglicanos, glicoproteínas, fatores solúveis, água, gases e nutrientes.
Os filamentos intermediários presentes no citoesqueleto constituem um
grupo de proteínas que são expressos de maneira tecido-específica. Um tipo de
filamento intermediário, a vimentina, é um marcador generalista de células formadas
no mesênquima. A vimentina é co-expressa juntamente com outros membros da
família dos filamentos intermediários em neoplasmas como o melanoma ou o
carcinoma de mama.
106
Após um período de 72h de exposição foi possível observar que ITJ, na
concentração de 0,65 µM, foi capaz de inibir a expressão de vimentina de maneira
significativa (Figura 39), sugerindo sua atuação como inibidor da progressão do
melanoma em células B16-F10.
O condroitim sulfato é sintetizado como um glicosaminoglicano que compõe
a cadeia lateral de proteoglicanos. Ele é sintetizado numa região tetrassacarídica
comum (GlcA-Gal-Gal-Xil-), chamada de região de ligação GAG-proteína, a qual se
prende a resíduos específicos serínicos no núcleo da proteína, porém esta estrutura
se diferencia em cadeias maduras com estruturas e funções distintas após vários
mecanismos de ação. Várias evidências sugerem a participação do condroitim
sulfato, assim como o heparan sulfato no desenvolvimento do sistema nervoso
central, no reparo de feridas, em processos infecciosos, sinalização de fatores de
crescimento, morfogênese e processos de divisão celular (SUGAHARA, K. et al.,
2003).
Figura 39 – Expressão de vimentina em células B16-F10 expostas a ITJ.
As células foram plaqueadas sobre lamínulas (13 mm de diâmetro) e cultivadas por três dias
(ver Métodos), sendo posteriormente incubadas na presença ou ausência de ITJ. A marcação
do filamento intermediário vimentina foi obtida utilizando o anticorpo Vimentin (sc-73259)
conjugado com Alexafluor® 594 e as imagens foram capturadas em um microscópio confocal
Leica SP8. Núcleo corado com DAPI (azul), vimentina (verde). Imagens representativas de 3
ensaios separados. A) Controle; B) Tratamento com ITJ (0,65 µM) em 72h de exposição;
Após um período de 72h de exposição, foi possível observar uma redução
na expressão de condroitim sulfato nas células de melanoma, acompanhado de uma
alteração no padrão de expressão ao longo da estrutura das células, onde
inicialmente notava-se uma distribuição mais arredondada e, após o contato com o
107
inibidor, as células assumiram um arranjo alongado, semelhante a agulhas (Figura
40).
Versican é um proteoglicano presente na matriz extracelular envolvido nos
processos de crescimento e diferenciação das células. É importante como uma
molécula estrutural, criando matrizes frouxas e hidratadas durante eventos chave no
desenvolvimento do indivíduo, como na regulação da sobrevivência e adesão
celular, proliferação e migração celular e na montagem da matriz extracelular, assim
como em doenças. O versican é expresso de forma diferenciada nos melanomas,
desenvolvendo um papel crucial no desenvolvimento do tumor e pode servir como
um valioso marcador para diagnose clínica.
Figura 40 – Efeito de ITJ sobre a expressão de condroitim sulfato em células B16-F10 ITJ.
Após 72h de tratamento, o padrão de organização dos filamentos intermediários das células de
melanoma é alterado, modificando a morfologia celular. A – Controle; B – Tratamento com ITJ
(0,65 µM) em 72h de exposição; As células foram plaqueadas sobre lamínulas (13 mm de
diâmetro) e cultivadas por três dias como descrito em métodos, sendo posteriormente incubadas
na presença ou ausência de ITJ. A marcação do filamento intermediário condroitim sulfato foi
obtida utilizando o anticorpo condroitin (370615) conjugado com Alexafluor® 594 e as imagens
foram capturadas em um microscópio confocal Leica SP8. Núcleo corado com DAPI (azul),
condroitim sulfato (verde). Imagens representativas de 3 ensaios separados.
ITJ, após 72h de exposição, e na concentração de 0,65 µM, foi capaz de
reduzir o grau de expressão do proteoglicano versican (Figura 41), quando
comparado ao controle. De acordo com TOUAB e colaboradores (TOUAB, M. et al,
2002), o versican expresso pela maioria dos melanomas indiferenciados pode
facilitar o desprendimento do tumor e promover o crescimento do mesmo,
108
contribuindo
para
o
comportamento
agressivo
biológico
dos
melanomas
indiferenciados. Portanto pode-se sugerir que o inibidor, por reduzir a quantidade de
versican presente nas células B16-F10, também atue de forma indireta reduzindo o
processo de formação de matriz extracelular, influenciando na progressão e
migração tumoral.
A WGA (Wheat Germ Agglutinin) é um tipo de lectina normalmente utilizada
para detecção de glicoconjugados, devido ao fato desta proteína se ligar de forma
reversível a resíduos de N-acetil-glicosamina e ácido N-acetilneuramínico.
O inibidor de protease, na concentração de IC50, foi capaz de alterar os
padrões de glicosilação de N-acetil-glicosamina e/ou ácido N-acetilneuramínico
expostos na superfície celular de forma significativa, como indicado na Figura 42.
Figura 41 – Expressão de versican em células B16-F10 após tratamento com ITJ.
A – Controle; B – Tratamento com ITJ (0,65 µM) em 72h de exposição; As células foram
plaqueadas sobre lamínulas (13 mm de diâmetro) e cultivadas por três dias como descrito em
métodos, sendo posteriormente incubadas na presença ou ausência de ITJ. A marcação do
versican foi obtida utilizando o anticorpo versican (SC-25831) conjugado com Alexafluor® 594 e
as imagens foram capturadas em um microscópio confocal Leica SP8. Núcleo corado com DAPI
(azul), versican (verde). Imagens representativas de 3 ensaios separados.
109
Figura 42 – Expressão de N-acetil-glicosamina e de ácido N-acetilneuramínico em células B16F10 após tratamento com ITJ.
A – Controle; B – Tratamento com ITJ (0,65 µM) em 72h de exposição; As células foram
plaqueadas sobre lamínulas (13 mm de diâmetro) e cultivadas por três dias como descrito em
métodos, sendo posteriormente incubadas na presença ou ausência de ITJ. A marcação de
WGA foi obtida utilizando o anticorpo WGA conjugada com FITC (5mg/ml) (W11262) e as
imagens foram capturadas em um microscópio confocal Leica SP8. Núcleo corado com DAPI
(azul), versican (verde). Imagens representativas de 3 ensaios separados.
Actinas são componentes essenciais na formação do citoesqueleto, tendo
participação chave numa diversidade de processos celulares, incluindo migração
celular, divisão celular e regulação da expressão gênica (BUNNELL et al., 2011). A
alteração na intensidade de expressão de β-actina juntamente com a análise da
alteração morfológica da disposição da actina nas células de melanoma (Figura 43)
corroboram o resultado obtido ao se averiguar a influência do inibidor de protease no
processo de migração celular (Figura 36), ou seja, quando há uma alteração no
padrão de expressão da actina é provável que também exista uma alteração no
padrão de migração celular.
110
A
B
_
____
_
____
Figura 43 – Padrão de expressão de Faloidina e COX IV em células B16-F10 após tratamento
com ITJ.
A – Controle; B – Tratamento com ITJ (0,65 µM) em 72h de exposição; As células foram
plaqueadas sobre lamínulas (13 mm de diâmetro) e cultivadas por três dias como descrito em
métodos, sendo posteriormente incubadas na presença ou ausência de ITJ. As marcações de
faloidina e COX IV foram obtidas utilizando os anticorpos Faloidina conjugada com Alexa Fluor®
488 (A12379) e COX – IV (48505). As imagens foram capturadas em um microscópio confocal
Leica SP8. Núcleo corado com DAPI (azul), faloidina (verde) e COX IV (vermelho). Imagens
representativas de 3 ensaios separados.
A faloidina é um peptídeo bicíclico pertencente à família das toxinas isoladas
do cogumelo Amanita phalloides e é comumente utilizada para marcação de
imagens, devido ao fato de se ligar de forma seletiva à F-actina. Este anticorpo
fluorescente tem vantagens sobre os marcadores usuais de actina, apresentando
fotoestabilidade e alta sensibilidade.
É possível observar que, após um período de 72h de incubação com ITJ na
concentração de 0,65 µM, houve uma mudança no arranjo das fibras de actina nas
células de melanoma; nas células controle, a actina encontra-se presente disposta
em fibras, porém, após a exposição ao inibidor, ocorre uma mudança na
organização destas proteínas, inibindo a organização destas, fazendo com que as
moléculas de actina se organizem de forma dispersa, influenciando diretamente na
morfologia das células B16-F10.
O citocromo c oxidase ou COX IV catalisa o estágio final do processo de
transferência de elétrons mitocondrial, sendo considerado um dos mais importantes
sítios reguladores da fosforilação oxidativa. Esta enzima é codificada tanto pelos
111
genomas mitocondriais como nucleares. A expressão suprimida de COX IV revela
uma perda de montagem do complexo citocromo c oxidase e, correspondentemente,
uma redução da respiração dependente do citocromo c oxidase e uma redução na
respiração total. Além disso, o citocromo c oxidase disfuncional nas células conduz a
um potencial de membrana mitocondrial comprometido, um nível diminuído de ATP
e incapacidade de crescer em meio de galactose. Curiosamente, supressão da
expressão de COX IV também sensibiliza as células para apoptose. Na Figura 43 foi
possível observar uma leve redução na expressão de COX IV, corroborando com os
dados obtidos na alteração de potencial mitocondrial, levando a crer que as células
B16-F10 estão realmente sendo induzidas à morte celular devido à ação de ITJ.
Os filamentos de actina, os filamentos intermediários e microtúbulos são os
principais componentes do citoesqueleto em células eucarióticas. As funções destas
proteínas do citoesqueleto incluem a manutenção da morfologia, motilidade celular,
fagocitose, transporte intracelular, localização de organelas citoplasmáticas e
formação do fuso mitótico durante a divisão celular (ALBERTS et al., 1989). O
citoesqueleto desempenha também um importante papel nos processos de
crescimento e diferenciação e pode estar envolvido na modulação da transdução de
sinal. Além disso, alterações na interação entre diferentes proteínas do citoesqueleto
podem ocorrer durante a maturação (LEUNG, et al., 1992). A actina, um dos
principais constituintes do citoesqueleto em células eucarióticas, está envolvida na
locomoção de células, alterações na forma da célula, enrugamento da membrana e
formação
de
lamelipódios
(ABERCROMBIE,
1980).
Os
componentes
do
citoesqueleto, em particular, os microtúbulos estão envolvidos na organização e
distribuição do retículo endoplasmático e outras organelas dentro a célula
(WATERMAN-STORER, SANGER, SANGER; 1993). Os filamentos de vimentina e
microtúbulos são intimamente associados e a perturbação de microtúbulos pode
também afetar a organização dos filamentos intermediários (GRZANKA, GRZANKA,
ORLIKOWSKA; 2003).
A clivagem de proteínas do citoesqueleto, tais como a gelsolina, fodrina,
lamina, e quinectina tem sido encontrada em células apoptóticas, porém o
mecanismo pelo qual a degradação destas proteínas leva à fragmentação celular
ainda não está claro. Não é razoável considerar que apenas uma degradação é
necessária para a fragmentação, uma vez que a inibição da polimerização da actina
por citocalasinas suprime a formação de corpos apoptóticos em células que sofrem
112
apoptose. Esse fato implica que o citoesqueleto sofre uma reorganização durante a
apoptose. Por outro lado, danos ao citoesqueleto por agentes químicos muitas vezes
induz apoptose em várias células, como exemplificado pela ruptura da actina e
desmontagem de microtúbulos. Deve haver estreitas relações entre o estado do
citoesqueleto e o progresso do processo apoptótico. Yamazaki e colaboradores
(YAMAZAKI et al., 2000) confirmaram que a supressão contínua da polimerização
da tubulina pelo colcemida (CL) e polimerização de actina por ação da citocalasina D
(CD) acelerou grandemente a ativação de caspase-3 mediante indução por AD e
que a interferência na estrutura do citoesqueleto composto por tubulina e actina
causa diferentes alterações ultraestruturais antes da formação de corpos
apoptóticos. Portanto, a incubação com o inibidor de protease purificado de
sementes de Juquiri causa uma perturbação na configuração original dos
microtúbulos, filamentos intermediários e componentes da matriz extracelular, o que
converge para a ativação da morte celular por apoptose em células de melanoma.
De acordo com os dados obtidos, é possível sugerir que ITJ induz morte
celular por apoptose em células de melanoma, por meio de via dependente de
caspases, onde a indução de apoptose se daria inicialmente por meio de aumento
nos níveis de cálcio citosólico; este aumento influencia diretamente no aumento da
produção de ROS após 30 minutos de exposição ao ITJ; Os níveis de cálcio e ROS
alterados atuam de forma conjunta com ITJ para influenciar na alteração dos níveis
de p53 em 36 horas, que funcionará como gatilho de ativação para aumento de
expressão de p21, após 48 horas de exposição ao inibidor. Esta proteína
superexpressa, juntamente com a inibição da expressão de ciclinas relacionadas à
progressão de ciclo celular no intervalo G1 irão causar um aprisionamento das
células de melanoma, um processo associado à indução de morte celular
programada. Concomitante a isto, ITJ também promove alteração do potencial de
membrana mitocondrial, liberação de fatores apoptóticos como o citocromo c, que,
ao se complexar com Apaf-1 e a prócaspase-9, formando o apoptossomo, ativa
caspases efetoras que induzem as células tumorais à morte. Além de influenciar na
ativação de p53, a liberação de EROS e o desbalanço nos níveis de cálcio citosólico
favorecem essa alteração do potencial de membrana mitocondrial; Em conjunto, ITJ
inibe processos migratórios de células de melanoma nas primeiras 18 horas de
exposição, e, de forma tardia, após 72 horas, inibe processos angiogênicos,
reduzindo os níveis de VEGF e IL-6, e, além de induzir alterações na morfologia
113
celular de B16-F10, características presentes nos processos de apoptose (Figura
44).
Figura 44 - Possível mecanismo de ação de ITJ na indução de apoptose em células de
melanoma.
Experimentos complementares são necessários para determinar com
precisão a via de apoptose ativada por ITJ, porém pode-se sugerir uma participação
tanto na via intrínseca, com participação da formação do complexo apoptossomo,
por meio da liberação de citocromo c e montagem de complexo com Apaf-1 e
procaspase-9, ativando as caspases efetoras, como na via extrínseca, onde as
células B16-F10 se comportariam como células do tipo II, na indução de apoptose
em células de melanoma.
114
6. CONCLUSÃO

Um inibidor de tripsina (ITJ) foi purificado de sementes da leguminosa Mimosa
regnellii Benth, utilizando uma metodologia baseada em extração com sulfato
de amônia e cromatografias líquidas seriadas, além de ser parcialmente
caracterizado;

ITJ apresentou potencial antiproliferativo frente à linhagem de células tumoral
B16-F10, agindo de forma dose e tempo dependente, não apresentando
atividade hemolítica ou toxicidade contra células normais, em várias
concentrações testadas;

ITJ induz a morte celular de linhagem de células B16-F10 via apoptose,
ativando tanto apoptose em estágio inicial quanto em estágio tardio em
células de melanoma;

A via de ativação apoptótica envolve a participação de caspases, onde a
mitocôndria tem papel fundamental na indução de morte celular, por meio da
despolarização de membrana mitocondrial;

A liberação de EROS, juntamente com o desbalanço nos níveis de cálcio
citosólico contribuem para a ativação da via apoptótica em células B16-F10;

ITJ apresentou efeito anti-angiogênico, com redução nos cíveis de VEGF e IL6, além de retardar a migração celular após 72 horas de exposição, numa
concentração de 0,65 µM;

ITJ provocou alterações na morfologia celular de linhagem de células B16F10, observadas por meio de microscopia confocal, analisando as expressões
de marcadores de matriz extracelular e filamentos intermediários;

ITJ pode atuar tanto na via intrínseca, com participação da formação do
complexo apoptossomo e das caspases efetoras, como na via extrínseca,
onde as células B16-F10 se comportariam como células do tipo II, com
ativação da caspase-8, Bid e coomplexo apoptossomo na indução de
apoptose em células de melanoma;

Estudos mais aprofundados para a identificação dos componentes das vias
de apoptose induzidas por ITJ são necessários futuramente.
115
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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133
8. ANEXOS
Sequências parciais de ITJ obtidas a partir de espectrometria de massas,
determinadas em um sequenciador automático PPSQ-23 Sequencer da Shimadzu
Intens. [a.u.]
Co.
x104
1328.8
P
8
Y
Y
I/L
I/L
P
V
H
18.14
R
508.3
27.98
27.98
27.96
473.3
6
H
V
P
17.02
I/L
I/L
17.03
Y
17.02
17.04
Y
P
G
G
G
D
17.05
17.01
17.00
16.91
175.1
1443.9
295.2
4
710.3
2
318.2
547.2
823.4
682.3
621.4
110.1
252.2
70.1
86.1
155.1
233.2
211.2
1399.9
595.3
334.2
734.5
424.2
384.2
466.3
567.3
795.4
897.5
1157.6
936.4
651.3
987.5
1214.7 1271.7
1060.6 1114.5
1354.8
1370.8
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
m/z
Intens. [a.u.]
134
x104
2331.0
175.0 G
G
G
I/L
E
27.99
28.00
869.1
K
V
A
27.99
T
G
T
GP
I/L
2295.3
2.0
A
17.01
Q
V
17.01
V
S
17.01
17.02
I/L
P
G
T
17.0417.01
17.04
E
T
G
17.13
T
K
A
V
17.07
17.05
E
I/L
G
G
G
F
G
926.2
1.5
205.0
1027.2
2288.4
1.0
2251.0
572.0
112.0
0.5
70.0
473.0
413.9
1314.2
659.0
373.9
246.0
441.9
211.0 299.9
825.1
717.0
513.0
1713.5
1156.2
689.0
1415.2
788.0
983.2
972.1
2243.2
1614.4
1257.2
1073.2
1527.3
2126.9
2195.3
2012.8
1842.7
1202.1
0.0
Intens. [a.u.]
250
500
750
1000
1250
1500
1750
2000
2250
m/z
x104
869.5
5
A
17.11
Q
V
17.01
V
17.03
S
I/L
17.08
P
C
17.03
T
17.02
E
17.07
T
G
T
K
A
V
E
I/L
G
G
G
16.93
4
3
2
175.1
1
2378.5
1073.5
2334.9
972.4
112.1
246.1
374.1
572.3
473.2
442.2 513.2
1360.6
1202.5
659.3
788.3
926.4
1017.4
1303.5
1759.9
1461.6
1660.8
1889.0
2059.3
2173.3
2288.6
0
250
500
750
1000
1250
1500
1750
2000
2250
m/z
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