O SR. DR. JORGE SILVA (PROS – ES) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, minha formação médica sempre me aproxima da temática da saúde, embora, evidentemente, minha atuação parlamentar a ela não se restrinja. Neste pronunciamento, desejo chamar a atenção desta Casa, e do País, para epidemia que avança em nosso território de maneira insidiosa, revelando nossa frágil estrutura ante doenças que, se entendia, estavam erradicadas ou, pelo menos, controladas. Refiro-me à epidemia de sífilis, doença que, não tratada, compromete o sistema nervoso central e também o sistema cardiovascular. A maioria dos casos se dá em decorrência do contato sexual – a chamada sífilis adquirida –, mas também pode ser congênita, pois bebês são contaminados ainda na gestação. E a tragédia, como já apontamos, está em que grande parte dos infectados nem sabe que está atuando como agente de transmissão, pois lesões, surgidas cerca de três 2 semanas após a contaminação, desaparecem e, por isso, não são associadas a outros quase imperceptíveis sintomas que se seguem. E o diagnóstico correto só se dará por meio de exame de sangue específico. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, cerca de sete pessoas são infectadas diariamente pela bactéria causadora da sífilis. Os dados apontam ainda que, em seis anos, o número de adultos contaminados aumentou mais de 600%! Entre as grávidas, a alta também atinge nível desesperador: enquanto, em 2005, houve registro de 1.863 casos, em 2013, foram 21.382 deles. Em oito anos, o quantitativo de mulheres infectadas cresceu mais de 1.000%! No mesmo período, a sífilis congênita aumentou mais de 130% – de 5.832 para 13.705 casos. Há quem argumente que esses amargos números se devem à extensão da notificação compulsória de todos os casos desde 2010, registro que se fazia apenas quanto às ocorrências de sífilis em gestantes e em recém-nascidos. 3 Isso pode ser parte da resposta. Mas, segundo especialistas da área, o verdadeiro motor da explosão de casos reside no descuido quanto ao uso de preservativo nas relações sexuais. Infectologistas afirmam que a preocupação com a Aids encontrou alívio no emprego do coquetel anti-HIV e, em consequência, a camisinha tem sido posta de lado, o que abre a porta para outras doenças sexualmente transmissíveis, entre elas a sífilis, que, apesar de possuir alto índice de cura, não gera imunidade. Da sífilis congênita, a falta de diagnóstico precoce e de tratamento adequado da gestante infectada faz com que os bebês de até um ano de idade sejam contaminados, durante a gravidez, no parto e até mesmo na amamentação. Nobres Colegas, considerando que apenas uma dose de antibiótico pode reduzir em até 90% o contágio de mãe para filho, o quadro se revela tenebroso se considerarmos que a transmissão vertical eleva o risco de aborto/morte do 4 feto a 40% e que cegueira, surdez e retardo mental podem afetar bebês de até um mês de vida não tratados. Como o Brasil, em pleno século XXI, chegou a essa situação, Senhoras e Senhores Deputados? Pesquisas em nível acadêmico revelam que duas estratégias precisam andar de mãos dadas: melhoria na condição socioeconômica das pessoas e emprego de medidas de saúde pública eficazes. Dos governos espera-se, pois, grandes e sérios investimentos em políticas públicas que conversem entre si, notadamente as de saúde pública, contemplando o cidadão não apenas de modo curativo, como tem ocorrido, mas, sobretudo, de modo preventivo. Registro aqui, como médico, como cidadão e como parlamentar, minha preocupação com a epidemia de sífilis, em especial a congênita, que furtivamente assola o Brasil. 2015_15417