RECÉM-NASCIDO COM SÍFILIS CONGÊNITA EM AMBULATÓRIO ESPECIALIZADO: ESTUDO DE CASO Sabino, Leidiane Minervina Moraes de¹; D´Alencar, Érica Rodrigues; Costa, Samira Cavalcante; Araújo, Thábyta Silva de; Alencar, Ana Júlia Couto; Cardoso, Maria Vera Lúcia Moreira Leitão. A sífilis é uma patologia infecciosa, causada pelo Treponema pallidum. Sua transmissão se processa, principalmente, por relações sexuais desprotegidas. Em sua fase mais avançada pode comprometer a pele, coração, fígado e sistema nervoso central. Durante o período gestacional as mulheres realizam exames específicos para a detecção de casos de sífilis, pois quando a transmissão passa da mãe para o filho, processo chamado de transmissão vertical, a criança pode apresentar sífilis congênita. A sífilis congênita ocorre quando há disseminação hematogênica do T. pallidum, através da via transplacentária, em gestantes infectadas e não tratadas ou tratadas de forma inadequada, podendo também haver transmissão direta no canal de parto, infectando, dessa forma, o concepto. Para que o tratamento seja considerado completo, a gestante deve realizar o tratamento com penicilina, com as doses de acordo com o estadiamento da patologia, seguindo rigorosamente a freqüência das medicações e tratando concomitantemente o seu parceiro sexual. Além disso, o tratamento deve ser finalizado pelo menos trinta dias antes do parto, apenas dessa forma o bebê pode ficar menos exposto. Os recémnascidos diagnosticados com sífilis congênita devem realizar o tratamento com penicilina. Os esquemas podem variar de acordo com o tratamento prévio da mãe e as manifestações clínicas e laboratoriais do RN. O diagnóstico deve ser realizado de acordo com avaliação clínica, laboratorial e epidemiológica. Os exames realizados para verificar a presença da infecção, são divididos em dois grupos, os nãotreponêmicos, que são: o VDRL (Venereal Diseases Research Laboratory) e o RPR (Rapid Plasma Reagin) e os treponêmicos, que são: TPHA (Treponema pallidum Hemaglutination); FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody - Absorption), e ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay). Deve-se realizar a busca ativa de gestantes diagnosticadas com sífilis, em busca de concretizar o tratamento de forma adequada e evitar a contaminação do RN. Diante disso, o estudo tem como objetivo relatar a vivência de um estudo de caso de recém-nascido com sífilis congênita em ambulatório especializado. Trata-se de um estudo descritivo do tipo estudo de caso, realizado durante o estágio da disciplina de Enfermagem no Proces so de Cuidar da ¹Acadêmica de Enfermagem do 7º semestre da Universidade Federal do Ceará. Bolsista de Iniciação à Docência. E-mail: [email protected] Criança II em Ambulatório Especializado de Pediatria de um hospital universitário de Fortaleza-CE. O estudo foi realizado em recém-nascido (RN) de 23 dias de vida de mãe com diagnóstico médico de sífilis durante pré-natal. As informações foram obtidas por meio de um formulário semiestruturado, composto por: dados de identificação da mãe e do RN; promoção da saúde; nutrição; eliminação e troca; atividade/repouso; percepção/cognição; autopercepção; papéis e relacionamentos; sexualidade (pais); enfrentamento/tolerância ao estresse; princípios de vida; segurança/proteção; conforto; crescimento/desenvolvimento e exame físico. Após a coleta dos dados, as informações foram analisadas e organizadas de acordo com a Taxonomia II da NANDA Internacional, assim como para o estabelecimento das possíveis atividades, seguiu-se às intervenções da Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC). O estudo atendeu às diretrizes e às normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, preservando os quatro referenciais básicos da bioética: beneficência, não maleficência, autonomia e justiça. A mãe encontrava-se com 26 anos, ensino fundamental incompleto, natural de Fortaleza, católica, doméstica, vivendo em união consensual. Morava com o parceiro e duas outras filhas, de 14 e 8 anos. Negou alergia, tabagismo, etilismo e uso de drogas. G4P3A1, com dois partos normais e um cesáreo. Realizou duas consultas de pré-natal devido à descoberta tardia da gravides, aos seis meses de gestação. Gravidez não planejada. Realizou os exames de Toxoplasmose, VDRL, anti-HIV, Hepatite B e fez reforço vacinal da antitetânica, além de referir uso de ácido fólico, sulfato ferroso e medicação para infecção urinária. Relatou Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG) e sífilis (VDRL reagente 1:8) na gestação. Fez tratamento com três doses de Penicilina G benzatina IM, refez exame (VDRL reagente 1:4). Realizou novo tratamento, porém referiu fazer aplicação de apenas uma dose. Parceiro não fez tratamento e nem o teste de VDRL. A descoberta da patologia gerou conflito familiar com o companheiro. Dados do RN: 23 dias de vida, sexo masculino, IG: 38 sem, Apgar: 8 (1º min) / 10 (5º min), teste do reflexo vermelho normal. Nasceu de parto cesáreo, permaneceu em alojamento conjunto por 10 dias para antibioticoterapia, esquema vacinal completo até o dia da consulta, em aleitamento materno exclusivo com sucção e deglutição normal, regurgita por plenitude gástrica. Eliminação urinária de 10 vezes/dia com coloração límpida e eliminação gastrointestinal mais de uma vez/dia de consistência semi pastosa e coloração amarelada. RN com boa higiene e vestuário adequado às condições climáticas. Mãe refere RN com sono tranquilo em horário diurno/noturno. Ao exame físico, constatou-se: RN alerta, normocefálico, fontanela anterior 2x2 pd e posterior 1x1 pd. Olhos, pupilas e ouvidos sem alteração, acuidade visual e auditiva preservadas, boca e pescoço sem modificação, tórax simétrico e com boa expansibilidade, ausculta pulmonar com murmúrios vesiculares, ausculta cardíaca com presença de bulhas normofonéticas, abdome globoso, musculatura eutrófica, unhas higienizadas, MMSS e MMII com sensibilidade e força mantida, pele morna e coloração rosada. Sinais vitais: P= 3.440g; E= 52cm; PC= 36cm; PT= 33cm; FC= 136bpm; FR= 37irpm. Reflexos presentes: Babinski, sucção, apreensão palmar e plantar, moro, marcha, busca, extrusão, engatinhar. Os diagnósticos de Enfermagem do binômio mãe-filho identificados foram: Amamentação eficaz; Conflito no desempenho do papel do pai/mãe; Conhecimento deficiente e Controle familiar ineficaz do regime terapêutico. As intervenções relacionadas aos diagnósticos citados foram: Aconselhamento para Lactação; Manutenção do processo familiar; Ensino procedimento/tratamento; Suporte à família e Ensino: processo de doença. Observa-se com esse estudo que ainda há falhas no acompanhamento da gestante em uma consulta de pré-natal, principalmente na unidade básica, como orientá-las da relevância da consulta, da realização dos testes sorológicos e da continuidade do acompanhamento binômio mãe-filho. Essas lacunas estão presentes tanto no paciente quanto nos próprios profissionais de saúde. Por isso é importante haver uma abordagem completa ao paciente e uma busca ativa pertinente para que o tratamento e o acompanhamento de uma gestação sejam satisfatórios. Descritores: Sífilis congênita. Cuidados de Enfermagem. Estudos de Casos.