A Doutrina de que Cristo foi Pecável é Heresia por W. E. Best As instituições religiosas que aceitam a doutrina de que Cristo foi pecável, são organizações de Laodicéia. Como a igreja de Laodicéia, de Apocalipse 3:14-22, elas podem ser ricas, terem enriquecido, sem sentirem necessidade de coisa alguma. Porém, são espiritualmente desgraçadas, miseráveis, pobres, cegas e nuas. Pertencem a Laodicéia, porque fecharam a porta para o Cristo impecável das Sagradas Escrituras. Por isso, o Cristo impecável da Bíblia está à porta destas instituições religiosas, batendo para entrar. Cristo não bate à porta dos corações dos não-regenerados, mas à porta dos corações dos regenerados, para que se arrependam e saiam para fora como um testemunho contra os apóstatas — aqueles que viraram as costas para a verdade bíblica da impecabilidade de Cristo. É absolutamente impensável imaginar que o Espírito Santo, que regenera os eleitos, poderia levar estes mesmos a aceitar um Cristo pecável. Ninguém pode ter uma verdadeira experiência de conversão, crendo num salvador pecável. Jesus Cristo entra e tem comunhão somente com aqueles que O recebem como o Salvador impecável. O ensinamento de que Cristo foi pecável tornou-se uma doutrina popular entre os religiosos. A seguinte lista detalha brevemente as crenças de alguns que ensinam que Cristo poderia pecar: 1. Alguns crêem que, no nascimento de Cristo, foi-Lhe impartida a depravação, fazendo possível para Ele pecar e sofrer pelo pecado. Assim, Ele esteve mais simpatizado conosco em nossa depravação. 2. Outros crêem que Cristo, como homem, poderia ter pecado, ainda que não o tenha cometido e tenha sido tentado, porém sem ceder. A assim chamada tentação de Cristo é considerada real como uma apelação genuína a Ele, como um homem. 3. Todavia, outros crêem que esteve no plano de Deus o dar uma oportunidade à Satanás de tentar fazer Cristo pecar. Passar por esta prova, demonstraria que Cristo é o Deus-Homem qualificado. 4. Algumas pessoas dizem que Cristo, ao ser humano, achou atrativas as ofertas de Satanás, e, ainda que não tenha cedido, podia ter escolhido pecar. 5. A opinião final é mais sutil. Ainda que Ele não tenha experimentado o pecado, Ele foi submetido à tentação. Assim, Sua intercessão por nós é com um entendimento maior. Sua capacidade de sentir nossas necessidades é maior, pois Ele experimentou a força da tentação para pecar. Como alguém pode sentir o que não experimentou? A Pessoa de Cristo deve ser distinguida da pessoa do homem. Em contraste com a criação do homem, a Pessoa de Cristo não foi criada. Cristo não assumiu uma pessoa pecaminosa, assim como Deus não fez uma deidade do homem. Jesus Cristo é o Homem de Deus pela encarnação, porém Adão foi o homem de Deus pela criação. Jesus Cristo é o Filho “unigênito” de Deus — o único ou exclusivo de Sua espécie; o homem não é único em sua espécie. A natureza divina essencial de Jesus Cristo não podia crescer; mas a natureza semelhante a Deus, no crente, cresce (2 Pedro 1:4-8). Jesus Cristo não nasceu da virgem com um ego voltado contra Deus; o homem nasce com um ego voltado contra Deus. Havia somente um ego em Cristo, o qual sempre agradou ao Pai. Por outro lado, o ego depravado do homem nunca agrada a Deus. É incapaz de fazê-lo. Cristo é o primogênito (Lucas 2:7; Colossenses 1:15; Apocalipse 1:5). Primogênito não tem referência à origem da existência de Cristo. Ele é Aquele que trouxe tudo à existência. Portanto, Ele é o primogênito que criou o homem (João 1:1-3). Jesus Cristo é as primícias (1 Coríntios 15:23). A palavra grega aparche denota primariamente uma oferta de primícias. Embora a palavra esteja no plural na versão King James [assim como na ARA, ARC e outras], no texto grego ela está no singular. Jesus Cristo é o primeiro de acordo com a dignidade, causalidade, ressurreição e influência. Os crentes, por outro lado, são uma espécie de primícias das criaturas de Deus (Tiago 1:18). A palavra grega tina (tis) é um pronome indefinido que significa certa pessoa, alguma pessoa, ou um tipo de pessoas. Embora seja verdade que Cristo foi “feito semelhante aos homens” (Filipenses 2:7), é também verdade que Ele é muito diferente dos homens. Demandas para um paralelo completo entre Cristo e o homem não podem ser realizadas. Na concepção e no nascimento de Cristo, houve uma união do Filho eterno com a natureza humana (João 1:1,14). Isto foi muito diferente da concepção e nascimento do homem. O homem é a criatura criada de Deus; portanto, ele não é eterno. Além do mais, desde Adão, o homem é o produto da procriação. A concepção de Cristo foi sem um pai humano. Sua natureza humana veio de Deus o Pai, através do Espírito Santo, e no ventre da virgem (Hebreus 10:5; Mateus 1:18-21; Lucas 1:35). O homem é o produto de um homem e uma mulher, que concebem um homem em pecado (Salmos 51:5). A iniciação humana foi completamente excluída na concepção de Cristo, o que nos capacita a compreender a ausência total de qualquer capacidade de pecar na Pessoa e Vida de Cristo. Ele permaneceu fora de Adão e da geração ordinária. Contrariamente, o homem deve sua existência à iniciação humana na providência de Deus. Ele é um pecador por natureza. A vida e o ministério terreno de Cristo nunca foram identificados com a degradação dos pecadores. Ele Se identificou com os títulos e designações que provam Sua identificação com os eleitos, com os objetos da graça divina. Sugerir que Jesus Cristo foi identificado com a humanidade caída, exceto em Sua obra redentora, seria blasfemo. Por conseguinte, o Filho de Deus nunca se identificou com a natureza humana caída, até que o fez sacrificialmente no Calvário. Somente no Calvário “o Santo” se identificou pessoalmente com o pecado. Ali, sobre a cruz, Cristo se identificou vicariamente e sacrificialmente com o pecado. O escritor inspirado de Hebreus falou da encarnação: “Por isso convinha que em todas as coisas fosse semelhante aos irmãos...” (Hebreus 2:17). “Todas as coisas” (kata panta) deveria ser entendido como “feito semelhante”. Embora Jesus tenha compartilhado algumas experiências dos homens, não se deve faz vistas grossas à verdade de que houve algumas coisas que Ele não compartilhou. A mesma construção grega é usada em Hebreus 4:15 — “...porém, um que, como nós, em tudo [kata panta] foi tentado [pepeirasmenon — tendo sido provado], mas sem pecado”. Portanto, nem “feito semelhante” nem “em todas as coisas” pode ser entendido significar isso no seu sentido absoluto. Ambos são qualificados, se não no contexto imediato, no contexto geral da Escritura. A concepção e o nascimento de Cristo foi diferente da dos Seus irmãos, porque Ele foi concebido pelo Espírito Santo e nascido de uma virgem. Além do mais, Sua vida foi diferente, porque, diferente dos Seus irmãos, Ele era impecável. Finalmente, Sua morte foi diferente, porque Ele morreu pelos pecados de Seus irmãos — os eleitos. Se Jesus Cristo foi feito, na encarnação, semelhante aos Seus irmãos “em todas as coisas”, sem qualificação, Seus irmãos estariam sem um padrão acima deles mesmos. Quando alguém examina o texto (Hebreus 2:17) com atenção, ele observará pontos ordenados em sua devoção a Cristo. Primeiro, “por isso convinha que em todas as coisas fosse semelhante aos irmãos”. A palavra grega homoiothenai é o primeiro aoristo passivo infinitivo de homoioo, que quer dizer fazer semelhante, causar ser semelhante; passivamente, ser feito semelhante, tornar-se semelhante ou parecido. Quem foi feito semelhante aos Seus irmãos? Foi o “unigênito de Deus [theos]” (João 1:18, NASB). Aqui, vemos Sua natureza divina, uma Pessoa trinitária. Segundo, nós vemos Sua natureza humana. Ele tinha um espírito humano, uma alma humana e um corpo humano. Terceiro, a união das duas naturezas está expressa no infinito passivo “ser feito”. Isto assinala a união das duas naturezas numa Pessoa. A semelhança de Cristo com Seus irmãos não é a que os homens mortais poderiam imaginar. Sua forma essencial não tomou a forma de um servo dEle, nem esta união modificou Sua igualdade com o Pai. Finalmente, o propósito da união das duas naturezas está expresso nas palavras “para expiar os pecados do povo”. Há uma diferença entre o Santificador e os santificados, ainda que os santificados sejam feitos um com o Santificador, pela graça (Hebreus 2:9-11). Convinha que Cristo fosse semelhante aos Seus irmãos. A palavra grega para “convinha” é opheilen, o imperfeito ativo indicativo de opheilo, que significa dever dinheiro, serviço ou amor; dever ou obrigação. Tem sido dito que dar um presente e chamá-lo de dívida não é nosso uso normal de linguagem, mas esta é a linguagem do céu. A palavra implica uma necessidade. O Filho de Deus foi obrigado por um decreto eterno. Ele devia ocupar-se com os negócios de Seu Pai. Visto que o Santificador foi obrigado a ser feito semelhante a nós, Seus irmãos, os irmãos estão obrigados a serem semelhantes ao Santificador. Conclusivamente, se o Santificador tivesse sido feito semelhante “em todas as coisas”, sem qualificação, os eleitos nunca poderiam ter sido santificados, pois o próprio Santificador teria necessidade de santificação.