A história da medicina se confunde com a própria história da

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Discurso
Deputado
proferido
Geraldo
pelo
Resende
(PMDB/MS) em Sessão no dia
20/10/2009.
A MEDICINA E A EVOLUÇÃO DOS TEMPOS
Senhor presidente,
Senhoras e senhores deputados,
A história da medicina se confunde com a própria
história da humanidade. Desde as civilizações mais remotas,
com maior ou menor fundamentação teórica, o homem busca
maneiras de sanar seus problemas físicos e prolongar a
longevidade de seu bem-estar. Por ser uma prática de raízes
tão remotas e de diferentes perspectivas, a medicina
vivenciou enorme evolução ao longo dos séculos, tanto em
sua metodologia quanto em seus valores.
O dia 18 de outubro é considerado o dia do
médico em muitos países, como Brasil, Portugal, França,
Espanha, Itália, Bélgica, Polônia, Inglaterra, Argentina,
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Canadá e Estados Unidos. Esta data foi escolhida por ser o
dia consagrado a Lucas, o "amado médico", segundo o
apóstolo Paulo.
Lucas teria estudado medicina em Antioquia,
além de ser pintor, músico e historiador; um dos mais
intelectuais discípulos de Cristo. A tradição de ter Lucas
como o patrono dos médicos se iniciou por volta do século
XV.
A origem do sentido da medicina que se admite
atualmente é atribuída ao grego Hipócrates, que estudou os
sintomas característicos das doenças e o histórico delas em
outros pacientes para fundamentar métodos de investigação
sobre os problemas físicos, na Grécia antiga.
A contribuição fundamental de Hipócrates para a
medicina moderna foi criticar a corrente filosófica, que partia
de uma hipótese e determinava uma causa única para todas
as doenças. Ele foi determinante para fazer a medicina se
tornar uma atividade dos homens e não dos deuses.
A Medicina evoluiu de forma incontestável,
principalmente nos últimos 100 anos. No século passado
deu-se um passo decisivo sobre o conhecimento da mente
humana através da publicação da "Interpretação dos
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Sonhos" de Sigmund Freud. Nada influenciou tanto o
comportamento humano como a psicanálise.
Na época em que o trabalho revolucionário de
Freud era publicado, as principais causas de morte do
homem eram a pneumonia, a tuberculose e a diarréia. As
doenças do coração e o câncer ocupavam o quarto e o
quinto lugares respectivamente.
A partir dessa época observam-se também
modificações importantes tanto no estudo das doenças como
na área do comportamento do médico frente às doenças e
aos doentes.
Foi durante o último século que os médicos
passaram a receber noções de Medicina Social no curso de
graduação e desta maneira passaram a ter informação sobre
a importância da prevenção das doenças. Passou-se a
observar o comportamento social das pessoas o que serviu
de base para a criação de políticas de saúde pública
baseadas em três aspectos: saúde, doença e comportamento
social.
Ao longo do tempo, a saúde tornou-se um
importante índice que avalia o desenvolvimento econômico
de um país. Os países mais ricos apresentam classicamente
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os melhores índices que apontam para melhor qualidade de
saúde e expectativa de vida. Não por coincidência, esse
quadro tem relação direta com o volume de investimento dos
governos no setor.
A prosperidade econômica, entretanto, não traz
necessariamente melhores níveis de saúde. Estudos que
comparam entre si países de baixa renda per capita e
diferentes níveis de educação, mostram que os melhores
índices de saúde se encontram entre aqueles de melhor nível
educacional.
Outro
aspecto
relevante
na
avaliação
da
prosperidade sócio-econômica é a mortalidade infantil,
considerada atualmente um dos mais importantes índices
médicos e indicador do progresso de um país. O combate à
mortalidade infantil é uma das mais importantes conquistas
ocorridas no milênio. Por centenas de anos a mortalidade
infantil era altíssima e sua importância desprezada.
A morte infantil era considerada uma coisa
natural. Somente há 200 anos, com o surgimento da
Pediatria, cresceu também a preocupação com a saúde
infantil e com o controle das doenças infecciosas e
contagiosas das crianças. Por volta dos anos 40 do século
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passado, passou-se também a dar importância para a criança
no seu contexto psicossocial.
A relação médico-paciente também sofreu
grandes transformações nas últimas centenas de anos. Há
mil anos os médicos eram confundidos com mágicos e
depois
com
religiosos,
sempre
ligado
a
poderes
sobrenaturais. A partir do século XI a Medicina passou a ser
desvinculada da Igreja surgindo em Salerno a primeira escola
médica.
Em todas as épocas, entretanto, a postura do
médico sempre foi superior ao paciente, ora era o pai, ora o
religioso, ora o sábio. No século XX isto modificou-se
radicalmente, impulsionando o desenvolvimento da ciência
médica. Hoje o médico coloca-se no mesmo nível do
paciente, fazendo parte de uma equipe de saúde, que assiste
as pessoas. A verdade médica é questionada com freqüência
por todos, que procuram avidamente a informação em todos
os cantos, inclusive na internet.
O humanismo tem aproximado os profissionais
de saúde dos doentes, com resultados muito positivos. O
surgimento da Bioética, importante fórum de debate em que
participam pessoas das mais diferentes origens profissionais,
contribuiu também para a melhoria das relações médicas,
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permitindo a discussão ampla das questões mais polêmicas,
como a morte, o abortamento, a clonagem e a inseminação
artificial, por exemplo.
Além
dessas
importantes
modificações
das
relações da doença com a Sociedade e com o Médico,
observam-se também modificações consideráveis quanto ao
seu diagnóstico, o aparecimento de novos medicamentos e
novos tratamentos e conseqüentes mudanças significativas
na evolução de inúmeras doenças.
Aproveito esta oportunidade para propor uma
reflexão sobre esse momento em que homenageamos os
médicos e vivemos um período especial na relação da
medicina com este parlamento. Recentemente, aprovamos
aqui o que chamamos popularmente de “ato médico”, uma
regulamentação das atividades que cabem exclusivamente
ao profissional médico.
Aparte à polêmica que o tema ainda provoca em
determinados setores, acho sinceramente que avançamos.
Com a ajuda desta casa, demos um passo importante para
deixar mais claras as responsabilidades dos médicos com os
seus pacientes. E para definir o que só pode ser feito por
profissionais médicos, na área da saúde.
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Mas quero fechar essa fala enaltecendo o
trabalho de tantos companheiros parlamentares, que também
são médicos como eu, e que se dedicam incansavelmente a
defender a saúde no Brasil, ajudando a fazer leis, a corrigir
distorções, a tornar verdadeiro o objetivo de alcançar uma
saúde de qualidade para todos os brasileiros, sem distinção
de raça, cor, credo ou nível social.
Faço
um
destaque
especial
aos
meus
companheiros da Frente Parlamentar da Saúde pela
capacidade de superar o cansaço e pela determinação em
ver aprovada a regulamentação da Emenda Constitucional
29. É, de fato, um momento especial. Sairá das nossas
mãos, ou melhor, das nossas consciências, o voto que vai
definir o futuro da saúde no Brasil.
O meu apelo é para que não fujamos da nossa
responsabilidade. Cada dia a mais em que deixamos de votar
questões como essa significa mais sofrimento e angústia
para milhões de brasileiros que esperam receber um
tratamento de saúde digno na rede pública. Antes de ser
objeto de crítica desmedida, o SUS – Sistema Único de
Saúde é um exemplo de exercício democrático da saúde
pública invejado por muitos países.
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As falhas que ainda enfrentamos não decorrem
do sistema em si. Elas existem e são inegáveis, mas não são
suficientes para diminuir os avanços que conquistamos num
país de dimensões continentais como o Brasil. Para superar
as dificuldades que ainda persistem a receita passa pela
seriedade como nós parlamentares devemos enfrentar esse
tema.
E o bom resultado desse embate virá quando
superarmos as nossas divergências e assumirmos a questão
da saúde no Brasil não como uma disputa política, mas como
um direito sagrado e constitucionalmente assegurado a todo
cidadão brasileiro.
Muito obrigado.
GERALDO RESENDE
Deputado Federal PMDB/MS
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