A Gestão Morreu! Viva o Marketing! A gestão morreu. Não porque tenha deixado de existir. Não porque tenha deixado de fazer sentido. Não porque não exista a necessidade dela ou porque já não existam gestores. A gestão morreu, porque foi ultrapassada pelo marketing. Encontramos no desenvolvimento da gestão o nascimento do marketing. Este surge inicialmente com o seu foco direccionado para as vendas. Era necessário colocar nos mercados a produção em massa, crescente. Esta derivava do desenvolvimento e exploração das economias de escala que possibilitam custos unitários progressivamente mais baixos, que permitem vender cada vez mais produtos a preços incrementalmente reduzidos e ainda assim, proporcionar lucros mais elevados (é o milagre da gestão industrial). Desenvolveram-se assim: a publicidade, a comunicação, as relações públicas, a gestão e dinamização de equipas de vendas, as técnicas de vendas (principalmente de “hardselling”) entre outras áreas de intervenção da ciência do marketing. Mais recentemente, com a massificação das produções industriais e a entrada na era da abundância de produtos (na qual, genericamente, a oferta global num mercado é superior à procura global nesse mercado), foi necessário ao marketing reorientar a sua atenção e socorrer-se de mais e mais diversas ferramentas, desenvolver novas metodologias e criar novos padrões e métricas de análise e diagnóstico. Mas agora, completamente centrados nos clientes. Na verdade, hoje em dia, o marketing não é mais uma técnica(s) de comercialização dos produtos nos mercados de destino. Nestes cem anos o marketing evoluiu para áreas completamente distintas das que lhe deram origem. Esta evolução foi exponencial porque resultou de um crescimento orgânico e de âmbito do marketing. Por um lado o marketing socorreu-se do “framework” científico, primeiro da gestão e depois de outras ciências (sociais ou humanas e matemáticas), para validar as suas metodologias de diagnóstico (estudos de mercado, estatística, macroeconomia, cálculo financeiro e modelos econométricos, p.e.); para garantir a replicabilidade de modelos e teorias e controlar a performance das ferramentas de intervenção correctiva (marketing estratégico, marketing operacional, comportamento do consumidor, p.e.). Por outro lado o marketing ampliou o seu âmbito de aplicação, utilização e validação, para outras tarefas e funções que não só as ligadas às actividades empresariais. Passou também a desbravar por mérito próprio, novos caminhos e horizontes em áreas onde a criação de valor e a entrega desse valor a quem dele necessita são as funções críticas. Neste sentido, temos actualmente o marketing político, o marketing social, o marketing estratégico, o marketing industrial, o marketing operacional, o marketing de serviços, o “marketing one to one”, o marketing de relacionamento, o marketing Público, entre outros, que podemos encontrar em empresas comerciais, de serviços, industriais, entidades públicas, associações e ONG’s. Desta forma, o marketing tendo claramente nascido do desenvolvimento da ciência da gestão, actualmente evoluiu. Primeiro ganhando espaço dentro da gestão, depois autonomizando-se e distinguindo-se dela. E finalmente ganhando preponderância sobre a gestão. Esta conquista de importância verifica-se porque o marketing consegue dar um sentido, uma orientação à gestão. A gestão através das suas ferramentas habilita os seus profissionais a conjugar ou a decidir entre recursos – por definição escassos – e com isso obter resultados (criação de valor). Mas o marketing vai mais longe, antes de se apropriar da gestão (isto é utilizar as ferramentas e métodos da gestão), o marketing primeiro descobre o que é necessário; o que desejam os consumidores (o mercado alvo) ou destinatários de uma mensagem e que pode ser bem feito (com vantagens competitivas) pela empresa ou organização com os seus recursos totais (disponíveis e mobilizáveis). Desta forma dá um sentido para a acção da gestão, ou um sentido para a criação de valor. No “momento da verdade” da gestão, as opções feitas entre recursos (ou acções) passam a ter uma orientação, ou um sentido, em função dos objectivos que foram definidos, com base naquilo que se identificou como as necessidades (latentes ou explícitas) do mercado alvo. O marketing está hoje em dia em todas as funções, tarefas e papéis, dos sistemas de trocas de mercado e em geral nas economias das democracias ocidentais. Em resultado das economias de escala e reduções de custos proporcionados pelo desenvolvimento tecnológico em geral e das TI’s em particular, que permitem novos produtos de maior valor e mais baratos. O marketing identifica necessidades e expectativas dos consumidores, adequando melhor os produtos já existentes, ou criando mesmo novos produtos e serviços. Desta forma gera-se e usufrui-se de uma maior procura dos bens e serviços, que geram novas reduções de custos (economias de escala e curva de experiência). O milagre industrial – que não pode ser confundido com a “Armadilha Industrial” que se verifica quando se procura reduzir os custos unitários de produção através do aumento da quantidade produzida - pode realizar-se quando a gestão das empresas persegue princípios éticos de responsabilidade social e de “governança” (government), que garantem eqüidade de remuneração ou compensação entre os vários grupos de interesse (stakeholders) que rodeiam a empresa (ou organização). Lisboa, 27 de Abril de 2006 Fernando Caria (*) (*) Fernando Caria é licenciado em Organização e Gestão de Empresas, pelo ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão da UTL – Universidade Técnica de Lisboa. É pós-graduando em Marketing Management pelo ISEG. Pode ser contactado pelo endereço electrónico: [email protected]