OCORRÊNCIA DE Botryosphaeria spp. EM Vitis - IFRS

Propaganda
OCORRÊNCIA DE Botryosphaeria spp. EM Vitis vinifera E V. labrusca EM
VINHEDOS DA REGIÃO DA SERRA GAÚCHA DO ESTADO RIO GRANDE
DO SUL, BRASIL.
Oliveira, M. R.1, Rusin, C.2, Ragazzi, R. C. M.1, Martinelli, G. T.3, Almança, M. A. K.4.
1
Estudante, Curso Tecnologia em Viticultura e Enologia, IFRS Câmpus Bento
Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-000, Bento Gonçalves, RS,
[email protected], [email protected].
2
Tecnóloga em Horticultura, Bolsista DTI/CNPq, IFRS Câmpus Bento Gonçalves, Av.
Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-000, Bento Gonçalves, RS, [email protected].
3
Técnica em Viticultura e Enologia, Bolsista DTI/CNPq, IFRS Câmpus Bento
Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-000, Bento Gonçalves, RS,
[email protected].
4 Eng.º Agrônomo, Prof. Doutor, IFRS Câmpus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha,
540, CEP 95.700-000, Bento Gonçalves, RS. Fone (54) 3455-3200,
[email protected].
RESUMO
Atualmente diversos fatores afetam a produção de uvas da região da Serra Gaúcha,
entre estes fatores o complexo de declínio/morte das videiras é preocupante. A esse
complexo são associados vários fungos patógenos, como diversas espécies de
Botryosphaeria. O objetivo deste trabalho foi estudar a distribuição de Botryosphaeria
spp. em diferentes cultivares e parte das plantas de vinhedos da região da Serra Gaúcha.
Em 20 diferentes vinhedos foram coletadas 21 plantas de cultivares Vitis vinifera (14 de
Chardonnay e 7 de Cabernet Sauvignon) e 14 plantas de cultivares Vitis labrusca ( 10
de Bordô e 4 de Niágara). As plantas foram levadas ao laboratório e foram isoladas 5
partes diferentes da planta, colo, meio e topo do tronco, braço e esporão e, para cada
sintoma interno (sintoma em “V”, escurecimento, linha escura, pontuações escuras e de
tecido macio e esponjoso). Quatro fragmentos pequenos, de cada sintoma, foram
colocados em meio BDA com tetraciclina (0,4%) e as placas foram colocadas em BOD
(25 ºC) por 30 dias.
A incidência de Botryosphaeria spp. variou de 4,61 a 27,08% nas cultivares V. labrusca
e de 4,84 a 9,82% nas cultivares V. vinífera. Nas diferentes partes da planta, observouse variação na incidência de 7,45 a 11,76%. Finalmente quando consideramos os
diferentes sintomas internos, Botryosphaeria spp. foi isolada mais frequentamente de
sintoma em “V” (25,0%), seguida de escurecimento (6,74%), de linha escura (5,06), de
pontuações escuras (4,0) e de tecido macio e esponjoso (1,66).
PALAVRAS-CHAVE: podridão descendente, morte de videira, declínio.
INTRODUÇÃO
Atualmente diversos fatores afetam a produção de uvas da região da Serra
Gaúcha, entre estes fatores o complexo de declínio/morte das videiras. Esse complexo
provoca principalmente declínio lento das plantas, redução de produção, diminuição da
vida produtiva das plantas e aumento dos custos de manejo no parreiral (Munkvold et
al., 1994; Mugnai et al., 1999; Creaser & Wicks, 2001).
A esse complexo são associados vários fungos patógenos, Urbez-Torres et al.
(2009) observaram os fungos Lasiodiplodia theobromae, Botryosphaeria dothidea,
Neofusicoccum parvum, Diplodia seriata, Diplodia corticola, Phomopsis viticola,
Eutypella vitis, Diatrypella sp., Truncatella sp., Pestalotiopsis uvicola e Pestalotiopsis
sp. associados a plantas de videira com sintoma de declínio. Garrido et al. (2004) em
trabalho realizado na Serra Gaúcha com cultivares americanas, viníferas e híbridas,
isolaram com maior frequência os fungos Cylindrocarpon sp., Phaeoacremonium sp.,
Verticillium sp., Botryosphaeria sp., Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis, Graphium
sp. e Cylindrocladium sp. Em vinhedos, sintomas de declínio e morte de plantas,
redução na produção, murcha e redução do comprimento de brotações, murcha de
cachos, necrose entre nervuras nas folhas (MUGNAI et al., 1999; FUSSLER et al.,
2008; LECOMTE et al., 2012). No Nordeste do Brasil, em levantamento feito em uvas
de mesa com sintomas de declínio, em Petrolina/PE, foi observada a ocorrência de
Botryosphaeria mamane em plantas da cultivar Red Globe, V. vinifera (Correia et al,
2013). Em trabalho realizado por Armengol et al. (2001) na Espanha, muitos fungos
foram encontrados associados a sintomas de declínio, sendo que em cerca de 61,4% dos
parreirais estudados houve isolamento de
Botryosphaeria obtusa e com menor
frequência foram isolados Botryosphaeria dothidea (6,4%), além de diversos outros
fungos patógenos. O objetivo deste trabalho foi verificar a ocorrência de
Botryosphaeria spp. em vinhedos da região da Serra Gaúcha, com sintomas de declínio,
a partir de diferentes cultivares, sintomas internos, e diferentes parte das plantas.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Laboratório de Fitossanidade do Instituto Federal do
Rio Grande do Sul (IFRS), no Campus de Bento Gonçalves. Foram coletadas em 20
diferentes vinhedos, com idade de 3 a 50 anos, foram coletadas 21 plantas de cultivares
Vitis vinifera (14 de Chardonnay e 7 de Cabernet Sauvignon) e 14 plantas de cultivares
Vitis labrusca (10 de Bordô e 4 de Niágara), na região da Serra Gaúcha, com sintomas
de morte e/ou declínio (redução e inexistência de brotação, folhas com necrose
entrenervuras, murcha da parte aérea). Após a coleta, as amostras foram cortadas, no
laboratório, em tamanhos menores, e lavadas em água corrente. Em seguida, foram
fotografados os sintomas internos das amostras e realizada a desinfestação em sequência
de soluções de etanol 70%, por 30 segundos, hipoclorito de sódio 3,5% por 1 minuto e
novamente em etanol 70% por 30 segundos (Almança et al. 2013). Para tecidos macios
ou esponjosos utilizou-se desinfecção externa do tecido através de uma aspersão
superficial da amostra com etanol 70% e após flambagem. Depois de realizada a
desinfestação, foram retiradas na câmara de fluxo laminar, com o auxílio de um bisturi,
fragmentos da região sintomática para a inoculação em placas de Petri, com o meio
BDA (batata-dextrose-ágar) comercial. Foram colocados quatro fragmentos em cada
placa, com três repetições. As placas foram incubadas em uma câmera BOD, à 25ºC.
Observaram-se as placas diariamente até o crescimento das colônias. O percentual de
colônias de Botryosphaeria spp. calculado em relação ao número de fragmentos de
tecido vegetal isolado, relacionando com o sintoma interno observado, sintoma em “V”,
escurecimento, linha escura, pontuações escuras e de tecido macio e esponjoso (Figura
1), cultivar e parte da planta de onde foi feito o isolamento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um isolado obtido neste trabalho já foi identificado, em análise morfológica e
molecular, como Botryosphaeria dothidea. Entretanto, como os demais ainda não foram
identificados, no artigo referimos sempre a Botryosphaeria spp.
Todos os sintomas descritos na Tabela 1 e apresentados na Figura 1 foram
observados nas amostras em todos eles houve isolamento de Botryosphaeria spp. A
frequência maior foi observada nos sintomas em formato de “V”, onde foi observado
que em 52,38% das amostras com isolamento fúngico. Quando observamos o resultado
no total de fragmentos, Botryosphaeria spp. foi isolada de 25,0% das amostras com
sintoma de “V” (Tabela 1).
Tabela 1. Frequência (%) de Botryosphaeria spp. a partir de fragmentos de tecido interno
com sintomas em forma de V, escurecimento, linha escura, pontuações escuras e de tecido
macio e esponjoso de plantas de videira de cultivares de Vitis vinífera (Chardonnay e
Cabernet Sauvignon) e V. labrusca (Bordô e Niágara) com sintoma externo de
declínio/morte.
Tipo de sintoma
interno
Pontuações
escuras
Tecido macio e
esponjoso
Escurecimento
Linha escura
Sintoma em “V”
Número de
fragmentos
totais
Botryosphaeria
spp. em
fragmentos totais
(%)
Fragmentos
com
crescimento
fúngico (%)
Botryosphaeria
spp. em
fragmentos com
crescimento
fúngico (%)
900
4,0
33
12,12
60
1,66
15
11,11
608
296
44
6,74
5,06
25,0
21,54
26,68
47,72
31,29
18,98
52,38
Figura 1. Seções tranversais de caule de videira mostrando sintomas internos
observados: (1) Pontuações escuras, (2) Tecido macio e esponjoso, (3) Escurecimento,
(4) Linha escura e (5) Sintoma em “V”.
Para as cultivares, a percentagem de Botryosphaeria spp. isolada em fragmentos
totais variou de 4,61 a 27,08%, com uma maior ocorrência sendo verificada na cultivar
Niágara. Se observarmos somente os fragmentos que apresentaram crescimento fúngico
na cultivar Niágara, verifica-se uma ocorrência de 56,03% de colonização com
Botryosphaeria spp. (Tabela 2).
Tabela 2. Frequência (%) de Botryosphaeria spp. a partir de cultivares de Vitis vinífera
(Chardonnay e Cabernet Sauvignon) e V. labrusca (Bordô e Niágara) com sintoma
externo de declínio/morte.
Cultivares
Bordô
Niágara
Chardonnay
Cabernet
Sauvignon
Número de
fragmentos
totais
Botryosphaeria
spp. em
fragmentos
totais (%)
Fragmentos com
crescimento
fúngico (%)
Botryosphaeria
spp. em
fragmentos
com
crescimento
fúngico (%)
672
240
928
4,61
27,08
4,84
39,73
48,33
19,39
11,61
56,03
25,00
448
9,82
31,25
31,42
Nas diferentes partes da planta, observou-se isolamento de Botryosphaeria spp.
em todas as partes, com a ocorrência variando entre 7,45 e 11,76%. A maior presença
de Botryosphaeria spp. no esporão, com ocorrência de Botryosphaeria spp. em 40,0%
dos fragmentos que apresentaram crescimento fúngicos o que pode indicar a entrada do
fungo pelos ferimentos de poda (Tabela 3).
Tabela 3. Frequência (%) de Botryosphaeria spp. em diferentes partes de isolamento da
planta, colo, topo do tronco, ponto de enxertia, braço e esporão, a partir de cultivares de
Vitis vinífera (Chardonnay e Cabernet Sauvignon) e V. labrusca (Bordô e Niágara) com
sintoma externo de declínio/morte.
Partes da planta
Colo
Topo do tronco
Ponto de
Número de
fragmentos
totais
Botryosphaeria
spp. em
fragmentos
totais (%)
Fragmentos
com
crescimento
fúngico (%)
Botryosphaeri
a spp. em
fragmentos
com
crescimento
fúngico (%)
432
492
456
9,86
7,92
7,45
32,96
23,78
31,35
12,8
33,33
23,77
Enxertia*
Braço
Esporão
480
408
8,12
11,76
32,08
29,41
25,32
40,0
* Nas plantas que não eram enxertadas, fez-se o isolamento na altura aproximada que seria o ponto de
enxertia.
White et al. (2011) observaram a presença de fungos Botryosphaeriaceos (que
inclui Botryosphaeria e suas fases assexuais) em 10,7% das amostras com sintoma em
“V”. Dos outros tipos de sintoma como tecido macio e esponjoso, linha escura e
escurecimento, verificaram percentuais variando de 0,4 a 2,1%. Luque et al. (2009)
observaram uma baixa ocorrência de Botryosphaeria dothidea em braços e tronco de
plantas de videira com sintomas internos em formato de “V”. No Brasil, em
levantamento feito em uvas de mesa em Petrolina, PE, foi observada a ocorrência de
Botryosphaeria mamane em plantas da cultivar Red Globe, V. vinifera (Correia et al,
2013). Entretanto, estes autores não realizaram levantamento com isolamento em
diferentes posições da planta. Garrido et al. (2004) em trabalho realizado na Serra
Gaúcha com cultivares americanas (V. labrusca), viníferas (V. vinífera) e híbridas,
observaram uma maior frequência Botryosphaeria sp. em cultivares de V. labrusca do
em V. vinífera e nas cultivares híbridas. Garrido et al. (2004) também observaram a
frequência mais alta de Botryosphaeria sp. na cultivar Niágara, comparando com
cultivares americanas e viníferas.
CONCLUSÕES
Considerando as condições em que foi realizado este trabalho, pode-se concluir
que Botryosphaeria spp.: (A) ocorre em todas as cultivares estudadas com sintomas
externos de declínio, com uma ocorrência maior na cultivar Niágara; (B) ocorre em
todas as partes das plantas, com um certo predomínio nos esporões e; (C) é mais
frequente em videiras com sintomas internos em formato de “V”.
REFERÊNCIAS
ALMANÇA, M. A. K.; ABREU, C. M.; SCOPEL, F. B.; BENEDETTI, M.;
HALLEEN, F.; CAVALCANTI, F. R. Evidências morfológicas da ocorrência de
Phaeomoniella chlamydospora em videiras no estado do Rio Grande do Sul. Bento
Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2013. (Embrapa Uva e Vinho. Comunicado Técnico
134).
ARMENGOL, J.; VICENT, A.; TORNÉ, L.; GARCÍA-FIGUERES, F.; GARCÍAJIMÉNEZ, J. Fungi associated with esca and grapevine declines in Spain: a three-year
survey. Phytopathologia Mediterranea,v.40, p.325-329. 2001.
CORREIA, K. C.; CÂMARA, M. P. S.; BARBOSA, M. A. G.; SALES JUNIOR, R.;
AGUSTÍ-BRISACH, C.; GRAMAJE, D.; GARCÍA-JIMÉNEZ, J.; ABADCAMPOS,
P.; ARMENGOL, J.; MICHEREFF, S. J. Fungal trunk pathogens associated with table
grape decline in Northeastern Brazil. Phytopathologia Mediterranea, v.52, n.2,
p.380−387, 2013.
CREASER, M.; WICKS, T. Yearly variation in Eutypa dieback symptoms and the
relationship to grapevine yield. The Australian and New Zealand Grapegrower and
Winemaker, v.452, p.50-52. 2001.
FUSSLER, L., et al. A characterization of grapevine trunk diseases in France from data
generated by the National Grapevine Wood Disease Survey. Phytopathology, v.98,
p.571-579, 2008.
GARRIDO, L.R.; SÔNEGO, O. R.; GOMES, V. N. Fungos associados com o declínio e
morte de videiras no Estado do Rio Grande do Sul. Fitopatologia Brasileira, v.29, n.3,
p.322-324. 2004.
LECOMTE, P. New insights into Esca of grapevine: the development of foliar
symptoms and their association with xylem discoloration. Plant Disease, v.96, n.7,
p.924-934, 2012.
LUQUE, J.; MARTOS, S.; AROCA, A.; RAPOSO, R.; GARCIA-FIGUERES, F.
Symptoms and fungi associated with declining mature grapevine plants in Northeast
Spain. Journal of Plant Pathology, v.91, n.2, p.381-390, 2009.
MUGNAI, L.; GRANITI, A.; SURICO, G. Esca (black measles) and brown woodstreaking: two old and elusive diseases of grapevines. Plant Disease, v.83, p.404-418.
1999.
MUNKVOLD, G.P.; DUTHIE, J.A.; MAROIS, J. J. Reduction in yield and vegetative
growth of grapevines due to Eutypa dieback. Phytopathology, v.84, p.186–192. 1994.
ÚRBEZ-TORRES, J. R.; GUBLER, W. D. Pathogenicity of Botryosphaeriaceae species
isolated from grapevine cankers in California. Plant Disease, v.93, p.584-592. 2009.
WHITE, C. L.; HALLEEN, F.; MOSTERT, L. Symptoms and fungi associated with
esca in South African vineyards. Phytopathologia Mediterranea, v.50, p.236-246.
2011.
Download