A NOVA ORDEM MUNDIAL E SEUS ANTECEDENTES 1- Desde os anos 1990 que os estudiosos, os governantes e a imprensa em geral falam em uma nova ordem mundial. O que significa isso? Uma ordem geopolítica mundial significa uma correlação de forças no plano internacional, ou seja, o equilíbrio mundial de poder entre os Estados nacionais. 1.1- Para entendermos melhor essa idéia, temos de recordar que existem, atualmente, cerca de 200 Estados na superfície terrestre e que cada um deles tem a sua soberania, o que significa que, em tese, cada um pode fazer o que bem entender em seu espaço. Mas apenas em tese, pois nenhuma nação atual é auto-suficiente; todas dependem das demais e muitos atos praticados por um Estado ou país podem chocar ou agredir, direta ou indiretamente, outras sociedades nacionais: explosões de bombas nucleares, grandes queimadas em florestas, a existência de trabalho escravo, a poluição ou uma barragem num rio que fornece água a um país vizinho, etc. 1.2- Além disso, os Estados são completamente diferentes entre si: uns têm uma população enorme (China, Índia), enquanto outros têm uma população minúscula, muitas vezes até menor que uma única grande cidade desses Estados muito populosos; alguns possuem uma economia e um poderio militar muito fortes (Estados Unidos, por exemplo), enquanto dezenas de outros tem economia e poderio militar extremamente frágeis. Isso significa que existe uma hierarquia entre os Estados: alguns são extremamente poderosos – são as chamadas grandes potencias – e outros bastante frágeis do ponto de vista econômico, militar e, às vezes, até populacional. É exatamente essa hierarquia entre os Estados, que pode mudar radicalmente de um período para o outro, que constitui a correlação de forças ou a ordem mundial. 1.3- Uma ordem geopolítica mundial, portanto, é essa situação, sempre provisória, de equilíbrio de poder em termos internacionais, no nível das relações – econômicas, diplomáticas e militares – entre os Estados nacionais. Para entendermos a atual ordem mundial, temos que compreender a ordem bipolar que existiu na segunda metade só séc. XX e a sua crise no fim dos anos 1980. essa ordem bipolar foi um resultado da Segunda Guerra Mundial, que ocorreu entre 1939 e 1945. Antes de conhecermos a ordem bipolar, vejamos, resumidamente, a ordem mundial que prevaleceu antes dessa guerra. 2- No inicio do séc. XX, antes da Segunda Guerra Mundial, havia uma ordem mundial multipolar. Isso quer dizer que existiam múltiplas grandes potências mundiais, que disputavam a hegemonia internacional. Essas potências eram o Reino Unido (principalmente), a Alemanha, o Japão, os Estados Unidos e a Rússia, que, mais tarde, em 1922, se transformou na União Soviética. Entre elas existia um equilíbrio, pois nenhuma delas era forte o bastante para impor-se às demais. 2.1- Alguns países europeus possuíam muitas colônias na áfrica e na Ásia, mas continuavam disputando terras nesses continentes. A própria Inglaterra (Reino Unido), que tinha sido a principal potência militar e econômica dos séculos XVIII e XIX, começou a se enfraquecer desde o fim desse último século. Por sua vez, os Estados Unidos, a Rússia e a Alemanha cresciam economicamente e ameaçavam a hegemonia mundial da Inglaterra, que ainda tinha na França sua grande adversária no continente europeu. Além disso, o Japão continuava a sua investida, iniciada no fim do séc XIX, pela supremacia no Extremo Oriente. 2.2- A partir de 1945, a ordem mundial existente antes da Segunda Guerra Mundial desmoronou completamente. Os impérios coloniais das potencias européias pouco a pouco foram ruindo. Ocorreu a descolonização das nações africanas e asiáticas. 3- Após a Segunda Guerra Mundial, o quadro geopolítico mundial mudou completamente. Nasceu uma nova ordem mundial, a ordem bipolar. 3.1- Os países europeus, principalmente a França e a Inglaterra, sofreram perdas enormes com a guerra. A Alemanha, a grande perdedora, acabou sendo dividida em duas repúblicas independentes – a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental – situação que perdurou até 1989. o Japão também ficou arrasado em 1945, pois foi o único país do mundo a sofrer os efeitos da recém-inventada bomba atômica, lançada pelos Estados Unidos em agosto de 1945, sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. 3.2- Com o fim da guerra, os Estados Unidos e a ex-União Soviética surgiram como os grandes vencedores. A atividade industrial dos Estados Unidos desenvolveu-se muito, e o dólar, a moeda norte-americana, passou a ser a moeda mais usada no comércio internacional, em substituição à libra esterlina, a moeda inglesa. Por sua vez, a União Soviética, apesar de ter sofrido violentas perdas com a guerra, saiu fortalecida no final: o exército soviético, o mais poderoso do mundo naquele momento, ocupava quase a metade do continente europeu. 3.3- A bipolaridade, ou ordem bipolar, portanto, significou um mundo dominado por duas grandes potências mundiais – ou superpotências, termo criado nesse período para se referir ao enorme poderio militar representado pelo desenvolvimento dos armamentos nucleares. 4- Outra mudança importante que ocorreu no mundo após a Segunda Guerra Mundial foi o surgimento do chamado bloco socialista. Até 1945, apenas a União Soviética e a Mongólia adotavam o socialismo e a economia planificada. A Rússia foi o primeiro país do mundo a adotar o socialismo, em 1917; a Mongólia fez o mesmo em 1924. com a guerra, e depois dela, vários países seguiram o exemplo soviético: a antiga Iugoslávia, Albânia, Alemanha Oriental e Bulgária, em 1945; Polônia e Romênia, em 1947; ex-Tchecoslováquia e Coréia do Norte, em 1948; China e Hungria, em 1949; mais tarde, Cuba, Vietnã, Laos, Camboja e outros. 4.1- Com isso, o mundo passou a ser dividido em dois blocos político-militares: o bloco ocidental, ou capitalista, liderado pelos Estados Unidos; e o bloco comunista, ou socialista, liderado pela União Soviética. Essas duas superpotências – Estados Unidos e União Soviética –, cada qual com a sua área de influência (os seus aliados e as suas periferias), passaram a exercer uma grande influência em todo o mundo. Isso originou uma constante tensão entre as duas superpotências conhecida como guerra fria. 4.2- A guerra fria consistiu, primeiramente, numa grande rivalidade entre as duas superpotências, numa disputa pela hegemonia mundial. Mas não foi um conflito militar direto, uma guerra quente ou mortífera, mas uma disputa econômica, política e até psicológica, na qual cada superpotência procurava mostrar superioridade, na tentativa de conseguir mais aliados. 4.3- Assim, de 1945 até o fim dos anos 1980, a União Soviética procurou enfraquecer os governos aliados aos Estados Unidos. Por isso, sustentava os movimentos guerrilheiros ou os grupos que eram contrários a esses governos e que apoiavam a política soviética. Da mesma forma, os Estados Unidos mantinham uma política semelhante em relação aos governos aliados à União Soviética. 4.4- Cada uma das superpotências usava argumentos mais ou menos parecidos para justificar as suas atitudes: a União Soviética dizia representar o socialismo e defender o mundo contra a exploração capitalista e a agressividade norte-americana. Os Estados Unidos, por sua vez, garantiam que batalhavam pela democracia e pela liberdade e que defendiam o mundo contra o totalitarismo soviético. 4.5- Na realidade, porém, nenhuma das duas superpotências estava preocupada com as aspirações, as necessidades e os valores dos povos em geral. Que elas buscavam, de fato, era a hegemonia, a supremacia internacional. 4.6- Assim, podemos afirmar que a guerra fria foi também uma conivência ou uma operação tácita entre as duas superpotências, uma forma de elas controlarem – ou tentarem controlar, pois isso nunca foi totalmente conseguido – o restante do mundo. Tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética usavam o “perigo” representado pelo opositor como desculpa para interferir na política dos países que se encontravam sob a sua influencia. 5- O mundo bipolar – o das duas superpotências e da guerra fria – entrou em colapso nos anos 1980, principalmente entre 1989 e 1991. esse colapso da bipolaridade foi o resultado, principalmente, de dois fatores conjugados: o esgotamento das economias planificadas ou a crise do mundo socialista – e o surgimento de novos pólos de poder: a União Européia, o Japão e, mais recentemente, a China. 6- As economias planificadas, que constituíam o principal alicerce do socialismo, esgotaram-se ou ingressaram numa profunda crise dos anos 1980 por vários motivos. 5.1- Em primeiro lugar, elas não conseguiram acompanhar a Terceira Revolução Industrial, que se iniciou em meados de 1970. Eram economias muito centralizadas e burocratizadas, e essa nova revolução técnico-científica exige empresas flexíveis, com tomadas de decisões rápidas e descentralizadas. É por isso que, no lugar da forma piramidal de empresas – a matriz ditando as regras para as filiais –, o que predomina hoje são as redes de empresas coligadas, todas elas com relativa autonomia. 5.2- Em segundo lugar, a planificação centralizada nunca foi muito eficiente, pois determinava de baixo para cima tudo o que cada empresa tudo o que cada empresa deveria fazer num período de cinco anos – durante a vigência dos famosos planos qüinqüenais – e, muitas vezes, fatos inesperados aconteciam e atrapalhavam a realização desses planos. 5.3- Em terceiro lugar, havia uma falta de motivação para a inovação tecnológica das empresas: todas eram estatais e, portanto, não havia concorrência entre elas. 5.4- E, por fim, a relativa homogeneização salarial – quase todos os trabalhadores ganharem salários idênticos, moravam em residências semelhantes, etc. – não motivava as pessoas a aprimorar o seu trabalho. Como todos tinham mais ou menos uma renda equivalente – quer se esforçassem ou não, quer fizessem corpo mole ou trabalhassem direito –, não existia a possibilidade de progredir na carreira em razão de competência. 5.5- A única forma de se diferenciar nessas sociedades socialistas, de dispor de uma casa de campo ou de praia, de poder comprar nas lojas especiais (nas quais não existiam filas nem falta de produtos, algo que eram muito comuns nas lojas normais), de obter um passaporte ou um automóvel com motorista, era ter um alto cargo na direção do partido único e oficial, o partido comunista. Essa situação se tornou intolerável nessas mencionadas décadas, em especial no fim no fim dos anos 1980, ocasião em que inúmeras economias planificadas ou socialistas voltaram a adotar o capitalismo ou a economia de mercado. 5.6- e o fim da União Soviética, em dezembro de 1991, quando as antigas quinze repúblicas dessa superpotências se tornaram independentes, foi o golpe final nesse mundo socialista. Depois disso, praticamente todo o mundo vive sob o sistema capitalista, embora existam no mundo capitalista algumas áreas ricas ou desenvolvidas – os países centrais ou do Norte – e inúmeras regiões pobres ou subdesenvolvidas – os países periféricos do sul. 7- Um outro motivo da crise da bipolaridade e do nascimento da nova ordem mundial foi o advento de novas potencias econômicas no globo. No auge da ordem bipolar, nos anos 1950 e 1960, o PNB dos Estados Unidos era maior que os PNBs de todos os países da Europa Ocidental somados ao do Japão. E o PNB da União Soviética era maior que a soma de todas as demais economias planificadas. Mas nos anos de 1970 e 1980, isso foi mudando, com um maior crescimento do Japão, da Alemanha, da França e, mais recentemente – nos anos 1990 e no início do séc XXI –, da China. 7.1- Como o poderio militar normalmente está associado ao econômico, mais cedo ou mais tarde a bipolaridade teria de ceder lugar a uma multipolaridade, isto é, à existência de inúmeros pólos mundiais de poder. Uma das bases ou alicerces da bipolaridade, a existência de apenas duas grandes potências econômicas e tecnológicas mundiais, deixou de existir a partir dos anos 1970 e 1980. 8- Com a crise do mundo socialista e com o advento de novos pólos ou centros econômicos mundiais, ingressamos novamente numa era multipolar. Mas alguns autores preferem denominar a nova ordem mundial de unimultipolar, pois, no aspecto militar, só existe uma superpotência atuante nos vários recantos do globo – os Estados Unidos –, e, no aspecto econômico e tecnológico, que é o mais importante atualmente, existem vários centros mundiais de poder: a União Européia, os Estados Unidos, o Japão e a China. 8.1- Do ponto de vista militar, a Rússia, em tese, ainda é uma superpotência com capacidade para exterminar praticamente toda a humanidade. Mas apenas em tese, pois a crise econômica e social da Rússia foi tão intensa nos anos 1990 e no início do séc XXI que milhares de cientistas, que garantiam tecnologia nuclear, emigraram para países onde os salários eram maiores; inúmeros militares tornaram-se traficantes de armas ou de drogas, etc.; e manter intacto todo aquele arsenal nuclear exige manutenção constante e custa muito dinheiro, algo que a Rússia atual não dispõe. 8.2- Quanto à China, à primeira vista ela não deveria constar nesses centros mundiais de poder, pois ocupa apenas o sétimo lugar entre os maiores PNBs do globo. Todavia é a economia nacional que mais cresce no mundo atualmente e, nesse ritmo, em breve ela deverá superar a produção total da Itália, do Reino Unido e da França. Além disso, a China também é uma potencia militar, provavelmente a segunda do mundo (atrás apenas dos Estados Unidos, pois a Rússia vive uma crise econômica e uma situação de anarquia e desestruturação de suas forças armadas), é o país mais populoso do globo – o que significa que seu desenvolvimento econômico ainda tem um enorme potencial de expansão – e vem modernizando com rapidez os seus armamentos. ATIVIDADES I- Explique, com suas próprias palavras, o que é uma ordem mundial. II- Mencione dois traços da ordem bipolar de 1945 a 1991. III- O que significa nova ordem mundial? Como ela pode ser definida? Por quê?