UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ESPECIALIZAÇÃO EM DIDÁTICA E METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR CAMILA MONTEIRO TISCOSKI SAAVEDRA ANÁLISE SOBRE A NECESSIDADE DA INTRODUÇÃO DE CONCEITOS DE MARKETING NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ARQUITETO CRICIÚMA, 2005 CAMILA MONTEIRO TISCOSKI SAAVEDRA ANÁLISE SOBRE A NECESSIDADE DA INTRODUÇÃO DE CONCEITOS DE MARKETING NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ARQUITETO Monografia apresentada à Diretoria de PósGraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção do título de especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior. Orientador: Prof. Paulo Barrios CRICIÚMA, 2005 AGRADECIMENTOS Ao meu marido, Ricardo, que comigo compartilha sonhos, ideais e conquistas. Aos meus filhos, Luis Ricardo e Valentina, pelos momentos de espera e pelo colorido especial que trazem à vida. Aos amigos e companheiros de sonhos de fazer da Arquitetura mais que um meio de vida, mas uma prática prazerosa de realização pessoal e profissional. Ao professor, Paulo Barrios, pelo apoio, incentivo e trabalho dedicado, ajudando a solucionar dificuldades. Aos clientes que venho atendendo nesses anos de experiência profissional, que me ajudam a conhecer na prática o que vim buscar na teoria, me fazendo crescer nos erros e nos acertos. A eles, também dedico este trabalho e a vontade de mais aprender para melhor atendê-los. RESUMO Entende-se que um escritório de Arquitetura e Urbanismo precisa prezar pelo atendimento, compreender profundamente seu mercado e clientes, apresentar orçamentos claros e objetivos, adequar honorários às realidades mercadológicas. Além, é claro, de oferecer produtos de qualidade, cumprindo os prazos previamente estabelecidos, sempre com muita responsabilidade sobre os serviços prestados. Em outras palavras é indispensável ao futuro arquiteto e/ou urbanista conhecer os fundamentos e filosofia do marketing. Partindo destas premissas, o objetivo deste trabalho foi de perceber a real necessidade de conteúdos de Marketing no fluxo curricular dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase para esse curso na Universidade de Extremo Sul Catarinense. Entre as metas específicas, escolheu-se: conhecer detalhes sobre a importância do Marketing como um todo; verificar as principais necessidades da Arquitetura e Urbanismo hoje; e apresentar fundamentos para a inserção de conteúdos ligados ao mercado na faculdade em questão. Como metodologia foi adotada a pesquisa bibliográfica, e a pesquisa qualitativa de descrição. Após revisar conteúdos sobre o Marketing, abordou-se aspectos sobre a Arquitetura e, na seqüência, apresentou-se o Estudo de Caso do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC, quando então se justificou a sugestão da inserção de conteúdos de Marketing em seu fluxo curricular, verificando-se, também, considerações sobre as diretrizes curriculares do curso no país, teoria e prática da atividade. Concluiu-se que o profissional de Arquitetura, hoje, como em outras áreas, necessita incorporar uma visão mais direcionada ao seu produto ou serviço, buscando enriquecer de certa forma essas trocas, otimizando potencialidades e minimizando diferenças. Além disso, foi possível confirmar a hipótese que sustentou o trabalho: é indispensável a inclusão de conteúdos de Marketing no fluxo curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, a fim de facilitar o sucesso profissional de seus egressos, à medida que lhe confere, entre outros pontos, o estudo das necessidades e desejos de seus futuros clientes. Palavras chave: Marketing. Arquitetura. Urbanismo. UNESC. Grade Curricular. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6 2 MARKETING ............................................................................................................ 9 2.1 Definições .............................................................................................................. 9 2.2 Trocas ..................................................................................................................15 2.3 Mercados .............................................................................................................17 2.4 Segmentações .....................................................................................................18 2.5 Mercados-alvo .....................................................................................................20 2.6 Necessidades ......................................................................................................21 2.7 Desejos ...............................................................................................................25 2.8 Produtos ..............................................................................................................26 2.9 Serviços ...............................................................................................................27 2.10 Satisfação do cliente e aplicações do Marketing ................................................ 30 2.11 Mix e Funções do Marketing ............................................................................... 35 3 A ARQUITETURA ..................................................................................................40 3.1 Origem e evolução ............................................................................................... 40 3.2 Arquitetura no Brasil ............................................................................................. 47 3.3 A Arquitetura no mundo hoje ................................................................................52 4 ESTUDO DE CASO DO CURSO DE ARQUITETURA DA UNESC ..................... 57 4.1 Desenho Metodológico ........................................................................................57 4.2 Arquitetura - teoria e prática .................................................................................58 4.3 Aspectos sobre os cursos de Arquitetura e Urbanismo ........................................60 4.4 Diretrizes curriculares dos cursos de Arquitetura e Urbanismo .............................63 4.5 Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC ........................................... 67 4.6 O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC ................................................. 70 4.7 Conteúdos sugeridos no fluxo curricular ...............................................................75 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................80 REFERÊNCIAS ........................................................................................................84 6 1 INTRODUÇÃO Hoje, é totalmente evidente a crise da redução do mercado de trabalho em todas as áreas, tanto pelos problemas econômicos quanto pelo excesso de profissionais. No que tange à Arquitetura e Urbanismo, esta questão também se encontra evidente. Nesta área profissional, como em várias outras, o relacionamento eficaz com os clientes é uma das melhores e mais eficientes formas de se manter e se consolidar em ambientes cada vez mais competitivos e dinâmicos. Isto, definitivamente, não é uma tarefa fácil. Porém, o profissional de Arquitetura e Urbanismo que desenvolver estas habilidades, provavelmente obterá resultados fantásticos. Deste modo, em um mercado cada vez mais competitivo, os profissionais podem usar as ferramentas da administração de Marketing, para agilizar a formação de uma imagem positiva e garantir um eficiente posicionamento diante do mercado de trabalho. Isto inclui a pesquisa, a análise e o continuo conhecimento das necessidades e desejos dos consumidores – a essência do sucesso de mercado. Assim sendo, um dos melhores caminhos para garantir que os arquitetos disponham destes fundamentos é através de cursos de graduação, que, ao incorporar conteúdos de Marketing, passam a fornecer aos futuros profissionais instrumentos necessários à compreensão dos princípios e filosofias de Marketing, tão importantes nos dias de hoje, diante da crescente globalização da economia, e a par de uma competitividade progressiva. Isso porque conteúdos de Marketing, nos curso de Arquitetura e Urbanismo, tenderão a possibilitar aos alunos a construção de conhecimentos essenciais de mercado, quer estratégico, quer tático, quer operacional. E, sobretudo, de relacionamento e 7 interação com seus futuros clientes. Desta forma, a presente investigação elege como tema: “A necessidade de conteúdos de Marketing no fluxo curricular dos cursos de arquitetura e urbanismo”. O estudo delimita-se a um Estudo de Caso do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC – Universidade de Extremo Sul Catarinense. Parte do pressuposto que é indispensável a inclusão de conteúdos de Marketing no fluxo curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, a fim de facilitar o sucesso profissional de seus egressos, à medida que lhe confere, entre outros pontos, o estudo das necessidades e desejos de seus futuros clientes. Afinal, entende-se que um escritório de Arquitetura e Urbanismo precisa prezar pelo atendimento, compreender profundamente seu mercado e clientes, apresentar orçamentos claros e objetivos, adequar honorários às realidades mercadológicas. Além, é claro, de oferecer produtos de qualidade, cumprindo os prazos previamente estabelecidos, sempre com muita responsabilidade sobre os serviços prestados. Desse modo, o objetivo geral deste trabalho é o de perceber a real necessidade de conteúdos de Marketing no fluxo curricular dos cursos de arquitetura e urbanismo. Em especial, no da Universidade de Extremo Sul Catarinense. Entre as metas específicas, escolhe-se: conhecer detalhes sobre a importância do Marketing como um todo; verificar as principais necessidades da Arquitetura e Urbanismo hoje; e apresentar fundamentos para a inserção de conteúdos ligados ao mercado na faculdade em questão. A metodologia desta investigação envolveu pesquisa bibliográfica, consultas em revistas especializadas e sites da internet, além de pesquisa qualitativa de descrição, que utiliza um Estudo de Caso do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unesc. No capítulo 2 são apresentadas considerações a respeito de Marketing, 8 pontuando-se aspectos sobre definições, necessidades, desejos, trocas, satisfações, produtos, serviços, entre outros. No capítulo 3 faz-se referência à Arquitetura e ao Urbanismo, onde se contempla origem e evolução no mundo, dados sobre ciência e profissão no Brasil e tendências nacionais e internacionais. No capítulo 4 é realizado um Estudo de Caso do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC, quando então se justifica a sugestão da inserção de conteúdos de Marketing em seu fluxo curricular, verificando-se, primeiramente, considerações sobre as diretrizes curriculares do curso no país, teoria e prática da atividade. 9 2 MARKETING 2.1 Definições No atual contexto, de rápidas mudanças no mercado, inovações tecnológicas e competição intensa, o conceito de Marketing surge como resposta para tornar a empresa e o profissional aptos a atuarem no competitivo ambiente do século XXI. É uma palavra da língua inglesa, derivada de market, que significa mercado. É utilizada para expressar a ação organizacional voltada para o cenário mercadológico. Segundo Kotler e Armstrong (1999, p. 03), “muita gente pensa em Marketing apenas como Vendas e Propaganda”. O mesmo Kotler (2005, p. vii) explica que ele representa um conjunto fundamental de conhecimentos para profissionais das mais diversas áreas, e interessa a todos que precisam promover bens, serviços, propriedades, pessoas, lugares, eventos, informações, idéias ou organizações. Assim, entende-se que Marketing é uma das mais poderosas armas para se ampliar e fortalecer vendas, negócios e lucros de qualquer empresa ou profissional, encontrando-se na literatura várias definições para esse termo, sendo algumas destacadas a seguir. Churchill Júnior e Peter (2003, p. 04), para explicar seu conceito consideram: Você liga a TV e um comercial do sabão em pó OMO aparece na tela, seguido por outro que incentiva você a não dirigir depois de beber. Você caminha por um corredor de supermercado e pega um cupom de desconto para o molho de salada Hellmann’s numa promoção. No final do corredor, experimenta uma amostra da batata frita sem gordura Pringles. De volta para casa, você atende a um telefonema convidando-o a participar de uma pesquisa sobre audiência de rádio. Na faculdade, você visita a seção de estágios para verificar as oportunidades de emprego. Em seu trabalho, você mantém o controle dos suprimentos do 10 escritório e encomenda reposições quando necessário, enquanto um amigo pede conselhos sobre comercializar um novo programa de software. De acordo com os autores, todas essas situações envolvem Marketing. Assim, ele pode ser conceituado como “o processo de planejar e executar a concepção, estabelecimento de preços, promoção e distribuição de idéias, produtos e serviços a fim de criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais” (CHURCHILL JÚNIOR e PETER, 2003, p. 04). Os autores também entendem que a essência do Marketing representa o desenvolvimento de trocas em que organizações e clientes participam voluntariamente de transações destinadas a trazer benefícios para ambos. Conforme Kotler (2005, p. 15), ele pode ser visto como o desenvolvimento de trocas, o ato de se obter alguma coisa de alguém oferecendo algo em contrapartida, e do qual participam indivíduos e organizações, a fim de que estas transações proporcionem satisfação e tragam benefícios para ambos os lados. Para Mattar (1997, p. 89), Marketing “é o negócio do ponto de vista do consumidor”, não do ponto de vista do empresário. Se o administrador dirige sua empresa segundo o interesse, a visão e o querer do consumidor, e não segundo seus próprios interesses, está fazendo Marketing. Esse entendimento também é dividido com McKenna (2001, p. 35-36), que afirma: “o conceito de Marketing significa que uma organização dirige todos os seus esforços no sentido de satisfazer seus clientes e obter lucro”. Conceito semelhante é fornecido novamente por Kotler (1996, p. 152): Marketing é uma orientação de administração que visa a proporcionar a satisfação do cliente e bem-estar do consumidor em longo prazo, como forma de satisfazer os objetivos e as responsabilidades da organização. É a chave para atingir os objetivos da empresa e consiste em determinar as necessidades e os desejos dos mercados-alvo e satisfazê-los mais eficaz e eficientemente do que os concorrentes. 11 Vavra (1993, p. 26) o conceitua como “o [...] processo social e gerencial pelo qual os indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e mudança de produtos, bens e serviços de valor entre si”. Kotler e Fox (1994, p. 25) definem Marketing como mais do que o uso de venda, propaganda e promoção para criar ou manter demanda. É a habilidade de se planejar e administrar as relações de troca com seus vários públicos: Marketing é análise, planejamento, implementação e controle de programas, cuidadosamente formulados para proporcionar trocas voluntárias de valores com mercados-alvo, com o propósito de atingir objetivos institucionais. Envolve a empresa ao estudar as necessidades do mercado-alvo, planejamento de programas, produtos e serviços adequados, utilizando formulação de preço, comunicação e distribuição eficazes para informar, motivar e atender o mercado. Dickson (2001, p. 29) acredita que ele facilita o processo de troca ao desempenhar uma série de atividades que beneficiam igualmente o consumidor, seja ele direto ou indireto. Segundo o autor, as atividades de Marketing incluem: - Compra: os profissionais de Marketing adquirem sortimentos de muitos fabricantes diferentes que são disponibilizados aos clientes em um mesmo local. - Venda: disponibilizando uma variedade de produtos em um ponto-de-venda, estes profissionais vendem a numerosos clientes em um só lugar, diminuindo a necessidade de consumidores negociarem, com fabricantes individuais, cada um dos produtos que desejem adquirir. - Transporte: os profissionais de Marketing facilitam o transporte dos produtos fornecendo as mercadorias que os clientes querem, onde e quando eles as desejam. - Estocagem: estes profissionais estocam produtos de modo que os clientes não precisem fazê-lo, e de modo que os fabricantes não necessitem manter tudo o que eles produzem nos seus próprios estoques, até que o produto seja vendido. 12 - Financiamento: os profissionais de Marketing oferecem planos especiais de pagamento e acordos que permitem a mais clientes ter acesso aos produtos que desejam adquirir. - Assumir riscos: ao adquirir os produtos do fabricante, antes que sejam vendidos aos clientes, estes profissionais assumem o risco de que a mercadoria realmente será vendida no mercado. - Padronização e graduação: os profissionais de Marketing desempenham um papel na padronização e na graduação da qualidade e quantidade de produtos disponíveis para os clientes. - Obtenção de informações do mercado: estes profissionais coletam informações sobre os compradores e fornecedores para aumentar a eficiência e efetividade do processo de troca. De posse destes conceitos, pode-se entender Marketing como a análise, planejamento, implementação e controle de programas cuidadosamente formulados, que visam proporcionar trocas voluntárias de valores ou utilidades com o mercado-alvo, tendo o propósito de realizar os objetivos organizacionais. Observando eses pontos fundamentais, o profissional pode confiar no “delineamento da oferta da organização, em termos das necessidades e dos desejos do mercado-alvo, e no uso eficaz de política de preços, comunicações e distribuição, a fim de informar, motivar e prestar serviços aos mercados” (KOTLER, 2005, p. 19). Ferreira (1995, p. 64) resume a atividade de forma interessante: “O objetivo do Marketing é conhecer e entender o consumidor, tão bem, que a empresa ou produto se venda sozinho”. Diante desta visão, considera-se que a prática contínua, eficaz e competente da função de Marketing possibilita o crescimento sólido das receitas e dos lucros da 13 empresa, bem como a realização plena de sua contribuição social. De acordo com Kotler, Hayes e Bloom (2002), deve ser ressaltado que, durante a maior parte de sua existência, o Marketing foi mal compreendido. Alguns indivíduos encaram a atividade como algo manipulativo, destrutivo, invasivo e pouco profissional. Para os autores, essa percepção continua a impedir que a atividade seja eficientemente implementada fora do universo convencional dos negócios. Em função disso, Kotler (1999, p. 33) apresenta duas idéias equivocadas (mas muito freqüentes), a respeito do Marketing: “Marketing é vender” e “Marketing é, acima de tudo, um departamento”. Na visão do autor, a percepção de que Marketing e Vendas são a mesma coisa é o tipo mais comum de equívoco, por parte não apenas do público em geral, como também de muita gente ligada à administração. É claro que vender faz parte do Marketing, mas o Marketing abrange muito mais que Vendas. Quando o Marketing é bem-sucedido, as pessoas gostam do novo produto, a novidade corre de boca em boca e pouco esforço de venda se faz necessário. Marketing não pode ser o mesmo que vender porque começa muito antes de a empresa ter o produto. Marketing é a tarefa, assumida pelos gerentes, de avaliar necessidades, medir sua extensão e intensidade e determinar se existe oportunidade para lucros. A venda ocorre somente depois que um produto é fabricado. O Marketing continua por toda a vida do produto, tentando encontrar novos clientes, melhorar o poder de atração e o desempenho do produto, tirar lições dos resultados das vendas do produto e gerenciar as vendas repetidas aos mesmos clientes. Outra visão limitada acerca do Marketing, segundo Kotler (1999, p. 34), é aquela que o considera, em essência, apenas um dos setores da empresa. É verdade que as organizações possuem departamentos de Marketing, onde se concentra grande parte de suas idéias e esforços. Entretanto, se as atitudes e o trabalho de Marketing se localizassem apenas neste setor, a empresa acabaria muito mal. Uma organização pode ter o melhor departamento de Marketing e Vendas de sua área e ainda assim fracassar 14 no mercado. Desta forma, O Marketing é importante demais para ficar por conta apenas do departamento de Marketing. Qualquer departamento pode tratar bem ou mal os clientes, e isso afetará seu futuro interesse na empresa. Um cliente pode telefonar para a empresa e encontrar dificuldades para obter uma informação ou localizar a pessoa certa. O produto solicitado pode chegar às mãos dele defeituoso ou danificado, devido a normas de fabricação pouco rígidas ou falhas na embalagem. O produto pode ser entregue com atraso devido a informações erradas no estoque. A fatura pode deixar o cliente confuso porque o departamento de contabilidade acrescentou débitos inexplicáveis. Todos esses contratempos podem acontecer quando os outros departamentos não se dedicam a satisfazer o cliente (KOTLER, 1999, p. 34). Por isso, Keegan e Green (2000, p. 02) afirmam que a empresa deve assumir o conceito de “Marketing sem fronteiras”, tornando todos os que nela trabalham responsáveis pela atividade e atuantes nela. “E ‘todos’ inclui recepcionistas, projetistas, operários e representantes do atendimento aos consumidores”, enfatizam os autores. Deste modo, organizações avançadas buscam fazer com que todos seus departamentos sejam orientados para o cliente, ou mesmo que funcionem, em razão deste. E que todas as atividades devem ser cumpridas com duas metas fundamentais em mente: criar valor para o consumidor e atingir vantagem competitiva. Devido a isso, o Marketing na sua abordagem mais atual, pretende identificar as necessidades, desejos e expectativas de mercados-alvo selecionados, no intuito de melhor que satisfazê-los, encantá-los, de modo mais rápido e eficiente que a concorrência, visando à lealdade dos clientes sem negligenciar o bem-estar da sociedade em longo prazo. Essa idéia é a que, na essência, converte-se em real vantagem competitiva, considerando a satisfação dos consumidores como melhor indicador dos lucros de longo prazo. É relevante entender e discutir um novo conceito, ou como está se processando a sua evolução influenciada pelas inovações tecnológicas e pelo atual perfil do consumidor. Desta forma, Vendas e Propaganda, para Kotler e Armstrong (1999, p. 03), 15 são meras partes de um grande “composto de Marketing”, que leva em conta diversos termos importantes, tais como necessidades, desejos, demandas, produtos, valor, satisfação, qualidade, troca, transações, relacionamentos, mercados etc. 2.2 Trocas O Marketing, como atividade aplicada na prática empresarial, utiliza conceitos originários de outras disciplinas e ciências como Economia, Estatística, Psicologia e Sociologia. Segundo Limeira (2004, p. 03), um dos fundamentos do conceito de Marketing é a teoria da escolha individual, formulada pelo economista clássico Adam Smith, em 1776, cujo pressuposto é que o bem-estar da sociedade é o resultado da convergência entre os interesses individuais do comprador e os do vendedor, por meio da troca voluntária e competitiva. Essa teoria engloba quatro princípios: 1º. As pessoas buscam experiências que valham à pena; 2º. A escolha individual determina o que vale à pena; 3º. As pessoas são responsáveis pelas suas ações e escolhem o que é melhor para elas (princípio da soberania do consumidor); 4º. Por meio da troca livre e competitiva, os objetivos individuais serão realizados. Nesse contexto, Marketing ocorre quando as pessoas decidem satisfazer necessidades e desejos, por meio de uma troca. A troca, segundo Dickson (2001, p. 29) “é uma atividade na qual duas ou mais partes dão algo de valor umas às outras para satisfazer necessidades percebidas”. Para Kotler e Armstrong (1999, p. 06), “a troca é o 16 ato de obter-se um objeto desejado dando alguma coisa em retribuição”, sendo, por isso, “o conceito central do Marketing”. Analisando o processo de troca, Kotler (1994, p. 25) estabelece cinco condições necessárias à sua existência: 1º. Que haja pelo menos duas partes envolvidas; 2º. Que cada parte possua algo que pode ser de valor para a outra; 3º. Que exista capacidade de comunicação e entrega (distribuição); 4º. Que cada parte seja livre para aceitar ou rejeitar a oferta; 5º. Que cada parte acredite estar em condições de lidar com a outra. Sobre isso, Kotler e Armstrong (1999, p. 06) afirmam: Essas condições tornam a troca possível. Mas para que a troca realmente ocorra, é preciso que as partes cheguem a um acordo. Se concordarem entre si, devemos concluir que o ato da troca deixou ambas as partes em melhor situação, ou, pelo menos, não em pior. Afinal de contas, cada uma teve liberdade de rejeitar ou aceitar a oferta. Nesse sentido, a troca cria valor, da mesma forma que a produção, dando às pessoas mais possibilidades de consumo. Em consonância com esta percepção, Churchill Junior e Peter (2003, p. 03), apontam que há dois tipos de clientes que participam de trocas comerciais. Em primeiro lugar, há os compradores organizacionais, que adquirem bens e serviços para empresas, órgãos governamentais e outras instituições como hospitais e escolas. Estes compram produtos para o funcionamento de suas próprias empresas (como suprimentos de escritório, máquinas e redes de computador) ou para vender a outras organizações ou consumidores. Em segundo lugar, há os consumidores, que adquirem bens e serviços para seu próprio uso ou para presentear outras pessoas. Estes incluem indivíduos e famílias que fazem compras para satisfazer suas necessidades e desejos, resolver problemas 17 ou melhorar a vida. Neste ponto, Richers (1991, p. 130) faz uma observação necessária: por mais ampla que possa ser a gama dos objetos transacionados: não é qualquer tipo de troca que merece ser caracterizada como mercadológica. Segundo o autor, é necessário que haja o intuito da continuidade no processo de câmbio entre as partes. Desta maneira, para ser considerado objetivo de Marketing, o processo de troca deve ser ao mesmo tempo intencional, sistemático e voltado a uma expectativa de resultados previsíveis, sejam eles qualificáveis ou não. 2.3 Mercados O conceito de troca leva ao conceito de Mercado, também fundamental para a prática do Marketing. Originalmente, de acordo com Kotler e Armstrong (1999, p. 07), o termo Mercado referia-se ao lugar onde os compradores e vendedores se reuniam para trocar bens, como por exemplo, a praça de um vilarejo. Na atualidade, segundo os autores, os economistas usam o termo para referir-se a um conjunto de compradores e vendedores que fazem transação em razão de uma classe específica de produto. No entanto, os profissionais de Marketing vêem os vendedores como uma indústria e os compradores como um mercado, segundo demonstrado na figura a seguir: Comunicação Indústria (conjunto de vendedores) Produtos/serviços Mercado (conjunto de compradores) Dinheiro Informações Figura 1: Vendedores e compradores no ambiente mercadológico Fonte: Kotler e Armostrong (1999, p. 7) 18 Neste modelo, vendedores e compradores ligam-se através de quatro fluxos. Os vendedores vendem produtos, serviços e emitem comunicações ao mercado, e em troca recebem dinheiro e informações. A linha interna mostra uma troca de dinheiro por mercadorias; a externa, uma troca de informações. Para Limeira (2004, p. 03), entende-se pessoas e/ou organizações como conjuntos cujas necessidades podem ser satisfeitas por produtos ou serviços e que dispõem de renda para adquiri-los. Deste conceito derivam as noções de mercado de consumo, referente a pessoas, e de mercado organizacional, ligado a organizações. Segundo Kotler e Armstrong (1999, p. 07): O mercado é o grupo de compradores reais e potenciais de um produto. Esses compradores têm uma necessidade ou desejo específico, que pode ser satisfeito através de uma troca. Assim, o tamanho de um mercado depende do número de pessoas que apresentam necessidades, têm recursos para fazer trocas e estão dispostas a oferecer esses recursos em troca do que desejam. Kotler (1994, p. 28) avalia que mercado “consiste em todos os consumidores potenciais que compartilham de uma necessidade ou desejo específico, dispostos e habilitados para fazer uma troca que satisfaça essa necessidade ou desejo”. O autor ressalta que tal definição guarda diferença para o mercado entendido como segmento geo-econômico, que os economistas e estatísticos costumam dividir segundo a especialização de produção, o pagamento que se recebe por essa produção e os bens que se adquire com este dinheiro. 2.4 Segmentações Percebe-se, na atualidade, que empresas e profissionais dos mais diversos setores vêm compreendendo que atuar de forma diferenciada, buscando-se atender a 19 diferentes necessidades de diversos grupos de clientes, é uma das melhores políticas a ser adotada. Sendo assim, ganhar competitividade através da oferta de serviços de qualidade não significa precisar oferecer elevados níveis de serviço/produto indiscriminadamente para todos os clientes. Isto porque, recursos podem estar sendo gastos com grupos de clientes que não valorizam tais serviços, o que significa estar tornando o processo mais oneroso, sem que isto seja percebido como um diferencial. Da mesma forma, clientes mais exigentes podem não estar sendo atendidos em suas necessidades de serviço ou de produtos. O fundamento da segmentação de mercado, na visão de Dickson (2001, p. 42), é relativamente simples. Baseia-se na idéia de que um produto comum não pode satisfazer necessidades e desejos de todos os clientes. O motivo também é simples: os consumidores são muitos, dispersos em diversas regiões, têm hábitos de compra variados, gostos diferenciados e distinguem-se em suas necessidades, desejos e preferências. Kotler (2005, p. 06) exemplifica: Nem todo mundo gosta do mesmo refrigerante, carro, faculdade ou filme. Assim, o Marketing identifica e traça o perfil de grupos distintos de compradores que poderão preferir ou exigir produtos e mix de Marketing variados. Esses segmentos de mercado podem ser identificados analisando-se diferenças demográficas, psicográficas e comportamentais existentes entre os compradores. A empresa decide então quais segmentos apresentam as maiores oportunidades. Assim sendo, não se pode tratar a todos da mesma forma, bem como não se pode tratá-los de forma diferente. O que se pode fazer é tentar reunir grupos de pessoas com características, preferências e gostos semelhantes, e tratá-los como se fossem iguais. Como se percebe, o centro de toda a discussão é que existem diferenças entre os consumidores, distinções estas que devem ser consideradas no processo decisório 20 da empresa. Segundo Gordon (2001, p. 25), por meio da segmentação de mercado podese conhecer melhor as necessidades e desejos dos consumidores. Tal conhecimento se aprofunda à medida que novas variáveis de segmentação são combinadas entre si, proporcionando conhecimento mais individual do cliente. O objetivo básico da segmentação, expresso por Kotler (2005, p. 07), é concentrar esforços de Marketing em determinados alvos, que a empresa entende como favoráveis para serem explorados comercialmente, em decorrência de sua capacidade de satisfazer a demanda dos focos, de maneira mais adequada. Cada segmento deverá ser constituído por grupos de consumidores que apresentem o mínimo de diferenças entre si, do ponto de vista das características adotadas, e o máximo de diferenças em relação aos demais segmentos. Para Dickson (2003, p. 42), definido o domínio competitivo da organização, estabelecida sua missão, determinados os objetivos e metas corporativos e as estratégias de crescimento pretendidas para a empresa como um todo, parte-se para a identificação dos segmentos mercadológicos. Portanto, a segmentação de mercado é uma estratégia de Marketing que identifica grupos de clientes potenciais de acordo com uma ou mais características – geográficas, psicográficas, demográficas, comportamentais – tendo como objetivo elaborar programas de Marketing mais eficientes e orientados para um ou mais segmentos selecionados. 2.5 Mercados-alvo Uma vez que a empresa tenha definido as oportunidades do seu segmento 21 de mercado, deve avaliar os vários nichos e decidir quantos e quais deles ter como alvo. Nos segmentos avaliados, deve observar os indicadores de atratividade, seus objetivos e recursos. Mercado-alvo, então, de acordo com Limeira (2004, p. 04), é um grupo de consumidores com necessidades e características comuns entre si, mas diferentes em relação a outros grupos, o que exige estratégia e programa de Marketing distintos. Na visão de Dickson (2003, p. 46), primeiro segmenta-se o mercado. Em seguida, escolhe-se o alvo com que se quer trabalhar, diferenciando-se produtos e serviços de modo a atender necessidades e desejos do público-alvo. E, posteriormente, posicionase o produto como forma de expressar as diferenças existentes. Como se pode perceber, a segmentação, no conjunto, representa a base de toda a estratégia de Marketing. Kotler (2005, p. 6) considera: “Para cada mercado-alvo escolhido, a empresa desenvolve uma oferta ao mercado. A oferta é posicionada na mente dos compradoresalvo como possuidora de um ou mais benefícios fundamentais”. Assim, a segmentação de mercado-alvo é considerada como uma abordagem mais moderna para orientar uma estratégia de Marketing. O processo tem início com a identificação dos diversos grupos de compradores (ótica de Marketing), ao invés da distinção das qualidades do produto (ótica do produto). 2.6 Necessidades Necessidade, segundo Kotler e Armstrong (1999, p. 03), é o elemento mais básico e inerente do Marketing. Conforme os autores: 22 Necessidades são estados de carências percebidas. O homem tem muitas necessidades complexas. [...] Essas necessidades não são criadas pelos profissionais de Marketing, são uma parte básica da constituição humana. Quando uma necessidade não é satisfeita, ele tenta reduzi-la ou procura um objeto que a satisfaça. Os que pertencem a sociedades menos desenvolvidas possivelmente tentam reduzir seus desejos e satisfazê-los com o que for possível. O homem das sociedades industriais poderá tentar encontrar ou desenvolver objetos que irão satisfazer suas necessidades. Kotler e Armstrong (1999) baseiam-se na Teoria da Motivação Humana, criada por Maslow, na qual uma necessidade de ordem superior surge somente quando a de ordem inferior foi relativamente satisfeita. Essa teoria é representada através de uma pirâmide hierárquica de necessidades e apresenta uma escala de necessidades humanas, divididas em segmentos, como mostra a figura a seguir, cuja ordem de satisfação, pelo ser humano, se dá de baixo para cima. HIERARQUIA DAS NECESSIDADES HUMANAS SEGUNDO MASLOW ESTIMA PRIMÁRIAS SOCIAIS SEGURANÇA FISIOLÓGICAS Figura 2: Pirâmide das necessidades básicas Fonte: Maslow (apud KOTLER e ARMOSTRONG, 1999, p. 7) SECUNDÁRIAS AUTO REALIZAÇÃO 23 As necessidades estão organizadas em cinco níveis, na seguinte escala de valores: As necessidades fisiológicas são aquelas ligadas à sobrevivência e à manutenção fisiológica do corpo. São as que originariamente têm a força mais alta, até o ponto em que sejam satisfeitas. Por exemplo, um homem faminto relega tudo o mais em favor do alimento. A satisfação é tão importante quanto a privação, pois libera o organismo do domínio das necessidades fisiológicas, permitindo o aparecimento de outros impulsos ou motivos. São representadas por estados como: fome, sede, abrigo, sono etc. As necessidades de segurança manifestam-se a partir de uma razoável satisfação das necessidades fisiológicas. Refere-se à garantia de proteção contra o perigo e a privação. Estas necessidades originaram-se da proteção contra agressões da natureza e animais selvagens, tornando-se necessária na sociedade humana, na busca de proteger o ser humano de seus semelhantes. Englobam as prevenções de acidente, guerra, vício, doença, envelhecimento e outros. No ambiente organizacional, a insatisfação desse tipo de necessidade pode referir-se ao tipo de ambientação ou ambiente de trabalho mal estruturado. As necessidades sociais consistem na busca de aceitação pelos amigos, companheiros, procura de filiação a grupos, troca de amizades, entre outros. Portanto, é a necessidade de participar de associação, de identificação. Vivendo em sociedade, o homem precisa ser aceito por seu meio e obter, neste, percepção de sua importância pessoal. As necessidades de auto-estima estão ligadas ao ego, ao desejo de realização do próprio potencial, de estar em contínuo desenvolvimento e de ser criativo. São estes os motivos que levam a um aperfeiçoamento profissional constante, bem como 24 à busca de novos conhecimentos, para um crescimento e amadurecimento pessoal. Visando a satisfação destas necessidades, o homem busca destacar-se nos ramos de atividades a que se dedica, para obtenção de relevância, domínio, reputação e prestígio. Por último, há as necessidades de realização, isto é, todo indivíduo busca sucesso e auto-desenvolvimento. Através delas aparecem os anseios de conhecer, compreender, sistematizar, organizar e construir um sistema de valores. Surge a busca do ser humano pelo conhecimento e capacidade ampla de compreensão do mundo que o rodeia, para que possa agir de acordo com princípios e valores que organizem seu viver, que lhe permita o estabelecimento de objetivos de vida superior. Com base nestes conceitos, pode-se entender necessidade como um estado de carência ou privação de sentido, que provoca a motivação para o consumo como meio de superar tal estágio. Segundo Limeira (2004, p. 04), a necessidade pode ser de dois tipos: inata ou adquirida. - A necessidade inata, também chamada de genérica, é aquela inerente à natureza humana e que não pode ser esgotada, como as necessidades de natureza física ou biológica – fome, sede, calor. - A necessidade adquirida é a derivada do ambiente cultural e social, isto é, depende da experiência, das relações e da evolução da sociedade. E pode ser esgotada ou saturada, por estar associada a um produto ou serviço, que evolui no tempo. Como exemplo tem-se o desejo de pertencer a um grupo, ser reconhecido e valorizado, a ânsia de ter um trabalho, status ou prestígio. Em termos mercadológicos, a satisfação de uma necessidade é atingida quando o resultado do desempenho de um produto ou serviço se iguala à expectativa do 25 consumidor ou a supera. O conceito de Valor representa a diferença entre os benefícios obtidos e seus custos. Estes podem ser: - De natureza econômica: preço pago. - De natureza física: espera, deslocamento, esforço físico, mal-estar. - De natureza emocional: medo, insegurança, risco, constrangimento. Portanto, o Valor decorre da relação custo-benefício percebida pelo consumidor. Quanto maiores os benefícios percebidos em relação aos custos incorridos, maior o Valor do produto para o cliente. 2.7 Desejos No que se refere aos desejos, Kotler (1994, p. 25) afirma que “são carências por satisfações específicas para atender às necessidades mais profundas”, os quais, em seu entendimento, sofrem transformações em função da influência social. Em outras palavras, desejos são as necessidades humanas moldadas pela cultura e pelas características individuais. Kotler e Armstrong (1999, p. 04) exemplificam: Quem tem fome nos Estados Unidos poderá desejar comer hambúrguer com batata frita e tomar uma Coca Cola. Quem tem fome em Bali poderá desejar comer mangas, leitão e feijão. Os desejos são como objetos que satisfazem às necessidades. À medida que a sociedade evolui, os desejos de seus membros aumentam. À medida que o homem vai sendo exposto a objetos que despertem seu interesse e desejo, as empresas tentam fornecer produtos e serviços que satisfaçam seus desejos. Kotler e Armstrong (1999, p. 04) prosseguem explicando que o ser humano 26 tem desejos quase ilimitados, mas recursos limitados. Portanto, deve escolher produtos que lhe ofereçam maior valor e satisfação pelo dinheiro gasto. Nesse sentido, segundo Kotler (2005, p. 08), quando os desejos podem ser comprados, eles se tornam demandas. Por isso, as empresas devem avaliar não apenas quantas pessoas desejam seus produtos, mas também quantas efetivamente estão dispostas e aptas a adquiri-los. 2.8 Produtos As pessoas satisfazem suas necessidades e desejos com produtos. Segundo Kotler e Armstrong (1999, p. 05), produto é qualquer coisa que possa ser oferecida ao mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo. Desse modo, qualquer coisa capaz de satisfazer uma necessidade pode ser chamada de produto. Na visão de Limeira (2004, p. 04), produto é um termo genérico que designa o que satisfaz a necessidade e o desejo do cliente, seja um bem tangível (alimento, roupa, carro), um bem intangível (serviço) ou outro meio de satisfação (pessoas, idéias, emoções, por exemplo). Portanto, o conceito de produto inclui bens físicos, serviços e uma variedade de outros elementos que possam satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores. “Quando o termo produto parece não ser adequado, podemos substituílo por solução, recurso ou oferta” (KOTLER e ARMSTRONG, 1999, p. 05). Os atributos do produto são suas características funcionais (desempenho, sabor, temperatura, velocidade etc.), formais (tamanho, cor, peso) ou estéticas (design, estilo), percebidas e conhecidas, ou não, pelo cliente. 27 Benefícios do produto são os resultados obtidos com seu uso ou consumo, que satisfazem os desejos e as necessidades dos clientes. Podem ser de natureza física (saciar a fome), emocional (provocar elogios), psicológica (proporcionar segurança) ou social (gerar aceitação pelo grupo). Os consumidores, em geral, compram benefícios e não atributos. Estes são meios para que os benefícios sejam alcançados. 2.9 Serviços Um serviço é um bem intangível, uma ação ou um desempenho, que cria valor por meio de uma mudança desejada no cliente ou em benefício dele. Kotler (2005, p. 248) ensina: “Um serviço é qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer à outra, e que não resulta na propriedade de nada. Sua execução pode estar ou não relacionada a um produto concreto”. Para Bateson e Hoffman (2001, p. 33), é extremamente difícil definir um produto ou um serviço puro. Um produto puro implica que o consumidor obtenha benefícios somente do produto, sem nenhum valor agregado pelo serviço. Da mesma forma, um serviço puro assume que não há um elemento “produto” no serviço que o consumidor recebe. Para Lehtinen (apud GRÖNROOS, 1993, p. 35), “um serviço é uma atividade ou uma série de atividades que tem lugar nas interações com uma pessoa de contato, ou com uma máquina física, e que provê satisfação ao consumidor”. Grönroos (1993, p. 36) define serviços como “uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou menos intangível [...] que é fornecida como solução ao(s) problema(s) do(s) cliente(s)”. 28 Lovelock & Wright (2001, p. 05) capturam a essência dos serviços em duas definições: Serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte à outra. Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade de nenhum dos fatores de produção. Serviços são atividades econômicas que criam valor e fornecem benefícios para clientes em tempos e lugares específicos, como decorrência da realização de uma mudança desejada no – ou em nome do – destinatário do serviço. A classificação dos serviços pode ajudar na organização da discussão a respeito da administração de serviços e nas definições estratégicas e operacionais do negócio em si. Schmenner (1999, p. 45) propõe uma classificação dos serviços considerando duas dimensões: grau de interação e customização, e grau de intensidade de mão-de-obra. Ambas interferem, significativamente, no processo de atendimento aos clientes. Desta classificação derivam quatro tipos de serviços: 1º. Fábrica de serviços: a intensidade de mão-de-obra é relativamente baixa. Apresenta maior significância de custos associada aos aspectos tangíveis da empresa – instalações e equipamentos. E baixo grau de interação com o cliente e customização. Ex: companhias aéreas e hotéis. 2º. Loja de serviços: o grau de intensidade de mão-de-obra ainda é relativamente baixo. Porém, aumenta o grau de interação com o cliente e exige a necessidade de customização da oferta para o mercado. Neste momento, a operação de fluxo de linha dá lugar à operação de atendimento de pedidos. Ex: hospitais e serviços de reparos. 3º. Serviços de massa: apresentam alto grau de intensidade de mão-deobra. Contudo, um grau muito baixo de interação com o cliente e de customização. Ex: varejo, atacado e escolas. 4º. Serviços profissionais: associam alto grau de intensidade de mão-de- 29 obra com grau de interação e customização igualmente altos. Ex: médicos, engenheiros, advogados. Na literatura, há uma relativa convergência ao serem determinadas as principais características dos serviços. Grönroos (1993), Gianesi e Corrêa (1994), Schmenner (1999), Lovelock & Wright (2001), Bateson & Hoffman (2001), e Kotler (2005) distinguem, basicamente, quatro características dos serviços: 1º. Intangibilidade: os serviços são intangíveis. Ao contrário de produtos físicos, eles não podem ser vistos, sentidos, ouvidos, cheirados ou provados antes de serem adquiridos. 2º. Perecibilidade: uma vez que o serviço é uma ação ou realização, e não um artigo tangível que o cliente guarda, ele é perecível e não pode ser estocado. 3º. Simultaneidade ou Inseparabilidade: de modo geral, os serviços são produzidos e consumidos simultaneamente. Além disso, o fato de produção e consumo serem simultâneos, eliminam-se oportunidades para intervenções do controle de qualidade. 4º. Heterogeneidade ou Variabilidade: em razão de dependerem de quem os fornece, além de onde e quando são fornecidos, os serviços são altamente variáveis. Esta característica cria uma das maiores dificuldades para o gerenciamento dos serviços, que é o “como manter um nível de qualidade uniforme dos serviços produzidos e entregues aos clientes?” (GRÖNROOS, 1993, p. 40). A essas características, Cobra e Zwarg (1994, p. 06) acrescentam o fato de os serviços, via de regra, não poderem ser protegidos por patentes e serem de difícil estabelecimento de preço. Assim, a satisfação do cliente é o elemento fundamental da noção do serviço, e depende de um grande número de fatores subjetivos. 30 Kotler (2005, p. 248) informa que uma das maiores tendências, nos últimos anos, tem sido o crescimento fenomenal dos serviços. Segundo o autor, nos Estados Unidos, as profissões ligadas a serviços são atualmente responsáveis por 79% do total de empregos, e 74% do total do Produto Interno Bruto (PIB). Por outro lado, no entanto, desde o ano de 1994, a satisfação dos clientes com bancos, empresas aéreas, hotéis, entre outros, tem diminuído. Esses fenômenos têm levado a um interesse crescente nos desafios e oportunidades especiais do Marketing de Serviços. 2.10 Satisfação do cliente e aplicações do Marketing A satisfação do cliente, ensinam Kotler e Armstrong (1999, p. 06), depende do desempenho do produto percebido, em relação ao valor relativo das expectativas de seu comprador. Se o desempenho fizer jus às expectativas, o consumidor ficará satisfeito. Se exceder, ficará encantado. Ainda, conforme os autores: As companhias e os profissionais voltados para o Marketing desviam-se do seu caminho para manter seus clientes satisfeitos. Clientes satisfeitos repetem suas compras e falam aos outros sobre suas boas experiências com o produto ou serviço. A chave é equilibrar as expectativas do cliente com o desempenho da empresa. As empresas inteligentes têm como meta encantar os clientes, prometendo somente o que podem oferecer e depois oferecendo mais do que prometeram. Neste ponto é interessante destacar o valor de uma vantagem competitiva. Ela refere-se a uma competência exclusiva da empresa, que não pode ser copiada por seus concorrentes e que gera uma posição de mercado superior e duradoura. Resulta da capacidade da empresa em criar valor para o cliente e para os stakeholders, ou seja, os diversos públicos interessados, ou direta ou indiretamente afetados pelas ações de uma empresa, como órgãos governamentais, organismos 31 sociais, partidos políticos, sindicatos de trabalhadores, acionistas, fornecedores, parceiros etc. Este conceito foi criado, em 1985, pelo professor Michael Porter, em seu livro “Vantagem Competitiva”. A primeira aplicação do Marketing a se considerar é o chamado Marketing Direto. Ele surgiu há muito tempo. A existência dos catálogos, por exemplo, vem desde a Idade Média, logo após Johann Gutemberg ter inventado a imprensa. A peça mais antiga de que se tem notícia é de 1498, quando Aldus Manutius ofereceu quinze livros de autores gregos e latinos, publicados por ele, através de um primitivo catálogo. A primeira forma de “satisfação garantida ao cliente”, nasceu com Benjamin Franklin, que imprimiu um catálogo de mais de 600 livros, onde figurava a seguinte declaração: “As pessoas que vivem longe, ao enviar seus pedidos e dinheiro ao citado Sr. B. Franklin, podem se sentir da mesma forma como se presentes estivessem. Os produtos têm qualidade e a satisfação é garantida.” Isto ocorreu em 1730. Em 1872, Aaron Ward produziu seu primeiro catálogo, e assim nasceu a era dos pedidos pelo correio, como conhecemos hoje. Ele teve a idéia de comprar grandes quantidades de mercadorias com desconto, direto do fabricante, e vendê-las aos fazendeiros norte-americanos. Em 1904, Richard Sears e Alvah Roebuck assumiram a liderança das vendas pelo correio, quando a circulação de seu catálogo atingiu um milhão de exemplares. Os pioneiros do Velho Oeste dependiam do catálogo Sears & Roebuck para todas suas necessidades: roupas, instrumentos agrícolas, utensílios domésticos, brinquedos, pratos, potes e panelas. O que precisavam podia ser adquirido dessa maneira. A partir da década de 1960 a atividade passou a ser praticada por grandes lojas norte-americanas. Sendo, inicialmente, um artifício de comunicação direta com o consumidor. Evoluiu para uma estratégia de comunicação e comercialização de produtos 32 ou serviços com o cliente, sem intermediação de meios ou canais de terceiros. Originalmente, os programas de Marketing Direto utilizavam listas de clientes – as mailing lists – e catálogos enviados pelo correio – malas-diretas – solicitando uma resposta direta do cliente, que resultava, em geral, na venda por telefone – televenda. Também eram usavam cupons de desconto distribuídos por anúncios em jornais e revistas, em folhetos, nas lojas ou porta-a-porta. Atualmente, os meios para a execução do Marketing Direto se ampliaram e podem contar com vendedores, televendas, teleMarketing e call-centers – centrais de atendimento telefônico – CAT. São equipes de profissionais marcando visitas, realizando telefonemas, utilizando correio tradicional e eletrônico – e-mails – e outros meios eletrônicos, como a televisão e a Internet, para atender ao cliente, buscando estabelecer um relacionamento e realizar vendas. (KOTLER, 2005, p. 15). Com a evolução da informática, na década de 1980, surgiu o sistema de gerenciamento de bancos de dados – Database Management System – DBMS. São mecanismos informatizados – via software e hardware – que registram e tratam um grande número de informações, coletadas em tempo real, sobre os eventos da empresa, como também os contatos e eventos de relacionamento com os clientes. Surge, então, o conceito de Database Marketing System – DBMS, também conhecido como Marketing de Banco de Dados, que resulta da aplicação da tecnologia de sistemas de bancos de dados para implementar, mais eficazmente, estratégias e programas. A informática continua evoluindo, e novas aplicações de sistemas surgem para auxiliar o gerente de Marketing. Os sistemas de datamining, por exemplo, permitem, por meio de técnicas estatísticas e matemáticas – árvores de decisão, redes neurais – o tratamento e a análise de grandes quantidades de dados, para reconhecimento de padrões, tendências e correlações, visando produzir modelos preditivos que antecipem 33 as reações dos clientes e os resultados das ações mercadológicas. O Marketing de Relacionamento é um conceito surgido na década de 1990, como uma evolução do Marketing Direto e do Database Marketing, motivado por pesquisas que indicavam que conquistar um novo cliente custava, em média, cinco vezes mais do que retê-lo. É definido como uma estratégia que visa construir uma relação duradoura com o cliente, baseada em confiança, colaboração, compromisso, parceria, investimentos e benefícios mútuos, resultando na otimização do retomo para a empresa e clientes. Esse conceito foi desenvolvido pelos professores Marcos Cobra e Áurea Ribeiro (2000) na obra “Marketing: magia e sedução”, e também por outros autores, como Terry Vavra (1993) e Merlin Stone (2000). Na visão de Kotler (2005, p.50), tal estratégia é mais adequada para clientes que compram grandes volumes e apresentam um bom potencial de venda e lucro para a empresa em longo prazo. Para realizar o Marketing de Relacionamento, a organização deve selecionar os clientes que apresentam maior lifetime value – valor patrimonial de longo prazo, que é estimado pela projeção do aumento do valor de um cliente futuramente. Este é calculado com base na projeção de lucros futuros a serem gerados pelo relacionamento. Em geral, tais consumidores são grandes organizações que adquirem produtos e serviços de alto valor agregado, ou pessoas físicas com elevado poder aquisitivo. Alguns bancos, por exemplo, aplicam essa estratégia ao procurarem implementar o relacionamento com seus clientes de maior valor patrimonial por meio de serviços e programas de atendimento, chamados de Private Banking ou Asset Management. O Marketing de Fidelização ou de Retenção é o primeiro nível do Marketing de Relacionamento. É definido como a estratégia para fidelizar ou reter o cliente por 34 meio de ações integradas, sistemáticas e contínuas de comunicação e promoção, gerando freqüência e repetição de compra por parte dos consumidores, recompensandoos por isso. Representa a estratégia mais adequada para ativar e reter segmentos de clientes selecionados, cujo potencial de negócios poderá ou não evoluir ao longo do tempo. O Marketing de Fidelização tem sido bastante utilizado por administradoras de cartão de crédito – através de programas de prêmios por freqüência de uso e volumes comprados com cartões – e por companhias aéreas – via programas de milhagens gratuitas para os passageiros que mais usam os serviços da companhia. O Marketing Um a Um – One to One, ou Marketing Individualizado, é o estágio mais avançado do Marketing de Relacionamento, em que cada cliente é tratado individualmente e a oferta da empresa é totalmente customizada1 para o cliente. Nesse caso, a organização e o consumidor adotam políticas de colaboração que resultam, por exemplo, em investimentos conjuntos em tecnologia e desenvolvimento de produtos. O setor de autopeças e seus clientes, as montadoras de automóveis, são exemplos de aplicação desse tipo de estratégia. A evolução da informática tem contribuído para a implementação eficaz dessas estratégias. Nesse sentido, no final da década de 1990, surgiram os sistemas de Customer Relationship Management – CRM, ou Gerenciamento do Relacionamento com o Cliente, para otimizar a gestão integrada do relacionamento com os consumidores. Segundo Battista (2000), o conceito de CRM refere-se ao desenvolvimento de uma estratégia de relacionamento e à implementação de processos operacionais baseados em infra-estrutura computacional e de telecomunicações, visando adquirir, servir 1 Customização representa o processo de se adaptar produtos e serviços ao gosto do cliente, gerando um atendimento que visa sua satisfação. Ou seja, significa personalizar uma mercadoria para o consumidor. A origem da palavra é inglesa: customer – cliente. 35 e reter os clientes. Para Bretzke (2000), o CRM representa uma estratégia que possui raízes no Marketing de Relacionamento e impacta a gestão da empresa, sendo sua implantação assentada sobre dois pilares: - Um processo de trabalho orientado para o cliente, que permeia e é compartilhado por toda a empresa. - E o uso intensivo de informações sobre o cliente, suportadas pela informatização de Vendas, Marketing e Serviços. 2.11 Mix e Funções do Marketing O Marketing na perspectiva aqui adotada, de função empresarial, integra o conjunto de atividades desempenhadas na empresa, como produção, finanças, logística, recursos humanos, sistemas de informação, engenharia de produtos, pesquisa tecnológica, entre outras, que gerenciam recursos e geram resultados para agregar valor econômico ao processo empresarial como um todo (KOTLER, 2005, p. 52). Portanto, a, função de Marketing engloba a tomada de decisões, a gestão de recursos, a coordenação de processos e a avaliação de resultados, como qualquer outra atividade empresarial. As decisões e ações específicas desta função, que compõem o chamado Composto de Marketing (também conhecido como Marketing Mix ou 4 Ps), referem-se a quatro variáveis: produto, preço, (praça) distribuição e promoção. 36 Figura 3: Mix de Marketing Fonte: Kotler (2005, p. 15) O Gerente de Marketing é o profissional responsável pelas decisões relativas a essas quatro variáveis. As decisões de produto englobam a identificação de oportunidades de lançamento de mercadorias e serviços, a adequação destes às necessidades e desejos dos clientes, a formulação das estratégias de produto e linhas de produtos (como diferenciação, posicionamento etc) e a administração do ciclo de vida da mercadoria, entre outras. As decisões de preço envolvem a seleção da estratégia de preço que gere vantagem competitiva e diferenciação para cada produto ou linha de produto, e que maximize o retomo para a empresa e para os parceiros do canal de distribuição. As decisões da variável distribuição (originariamente, tradução da palavra place, em inglês) englobam a escolha dos canais de vendas e distribuição para que o produto esteja no lugar certo, no momento certo, e o cliente possa realizar sua compra e 37 satisfazer necessidades. As decisões de promoção são aquelas relativas aos investimentos em estratégias e atividades de comunicação (propaganda, marketing direto. relações públicas, publicidade, eventos, seminários) e promoção de vendas (sorteios, prêmios ao consumidor, descontos de preços, brindes etc). Assim, o Gerente de Marketing é responsável pelo planejamento, organização e controle das atividades estratégicas e táticas mercadológicas, visando otimizar o valor para o cliente e, simultaneamente, para o acionista. Mesmo que muitos não acreditem na possibilidade de se atingir um ponto de equilíbrio entre esses dois objetivos, considerados conflitantes, o crescimento e a solidez da empresa em longo prazo depende destes fatores. Para Kotler (2005, p. 56), as quatro grandes áreas de responsabilidade do Gerente de Marketing podem ser resumidas assim: 1ª. Análise de Marketing: ele deve analisar os riscos e as oportunidades do mercado. 2ª. Planejamento de Marketing: ele deve selecionar o mercado-alvo e criar estratégias de Marketing. 3ª. Implementação de Marketing: ele deve desenvolver o Composto de Marketing. 4ª. Controle de Marketing: ele deve avaliar os resultados das estratégias e dos programas. Em muitas organizações, o Gerente de Marketing desempenha os seguintes papéis: - Analisa o mercado e identifica as oportunidades de negócios a serem desenvolvidas. 38 - Persuade a alta direção da empresa a respeito da atratividade da oportunidade e dos investimentos a serem realizados. - Formula as estratégias e táticas de produto, preço, pontos de distribuição e promoção (o Mix de Marketing), visando criar vantagem competitiva e gerar Valor para o cliente. - Lidera a organização na orientação para o mercado e na criação de Valor para o cliente. Dentro deste contexto, o Gerente de Marketing assume a posição de líder, estimulando a inovação, coordenando processos de mudança, assumindo riscos, apoiando e orientando equipes, integrando as várias funções organizacionais, representando a empresa perante comunidades e órgãos do governo, e zelando pelos interesses dos clientes diante dos acionistas da organização. Seu relacionamento com as outras áreas funcionais resume-se em: - Finanças: compartilha as decisões de custo produto/serviço, margem de lucro, preço, estimativa e financiamento das vendas, investimentos em produção, tecnologia e Marketing; - Pesquisa e Desenvolvimento: compartilha as decisões de atributos e benefícios de produtos/serviços e embalagens; tecnologia de produção e materiais; custo e lançamento de produtos; testes de conceitos; protótipos; - Recursos Humanos: compartilha a seleção, treinamento e avaliação das equipes operacionais e de Marketing; valores e políticas da empresa ligadas à sua imagem, a atitude dos funcionários e os resultados; - Produção: compartilha as decisões de custo; tempo de produção; qualidade e atributos do produto e da embalagem; plano de produção e estoque de segurança; tempo de resposta/entrega; logística de distribuição; localização de depósitos; custos; 39 - Suprimentos: compartilha as decisões de custo e qualidade de materiais; fornecimento e estoque de segurança de materiais; estimativa de vendas; tecnologia. Desta forma, como se pode perceber, o Marketing é uma função que orienta e integra as decisões e ações da empresa e de profissionais, visando criar Valor para clientes e stakeholders, tirando o melhor proveito das condições competitivas do mercado. Ou seja, é fundamental para o bom desempenho de atividades individuais e organizacionais. 40 3 A ARQUITETURA 3.1 Origem e evolução A ciência chamada de Arquitetura é uma subdivisão da História da Arte, responsável pelo estudo da evolução histórica dos princípios, idéias e realizações da Arquitetura. Na maioria dos casos, os períodos estudados pela História da Arquitetura correm paralelos aos da História da Arte (REBELLO e BOGÉA, 2001, p. 85). As primeiras obras de Arquitetura remontam à Antiguidade, mas é possível traçar as origens do pensamento arquitetônico em períodos pré-históricos, quando foram erigidas as primeiras construções humanas. Durante a Pré-História surgiram os primeiros monumentos e o homem começou a dominar a técnica de trabalhar pedras. À medida que as comunidades humanas evoluíam e aumentavam, acometidas pelas ameaças bélicas constantes, a primeira modalidade arquitetônica a se desenvolver foi essencialmente a militar. Nesse período, surgiram as primeiras cidades, e suas configurações estavam atreladas à existência de muralhas, protegendo-as de ameaças externas. Outra tipologia bastante desenvolvida foi a Arquitetura Religiosa. A humanidade confrontava-se com um mundo povoado por deuses vivos, gênios e demônios: um mundo que ainda não conhecia nenhuma objetividade científica. O modo como os indivíduos lidavam com a transformação de seu ambiente imediato era então bastante influenciado pelas suas crenças. Muitos aspectos da vida cotidiana estavam baseados no respeito ou na 41 adoração ao divino e ao supernatural. O poder divino, portanto, equiparava-se (ou mesmo superava) o secular, fazendo com que os principais edifícios das cidades fossem os palácios e os templos. Esta importância fazia com que a figura do “arquiteto” estivesse associada aos sacerdotes (como no Egito) ou aos próprios governantes. E a execução dos edifícios era acompanhada por diversos rituais que simbolizavam o contato do homem com o divino. As cidades marcavam uma interrupção da natureza selvagem, consideradas o espaço sagrado em meio ao natural. Da mesma forma, os templos marcavam a morada dos deuses em meio ao ambiente humano. As necessidades de infra-estrutura daqueles primeiros povoados também tornaram necessário o progresso técnico das obras de engenharia. Para Stevenson (1998, p. 42), a Arquitetura e o Urbanismo praticados pelos gregos e romanos destacava-se bastante dos egípcios e babilônios na medida em que a vida cívica passava a ganhar importância. A cidade tornou-se o elemento principal da vida política e social destes povos. Os gregos desenvolveram-se em cidades-estado e o Império Romano surgiu de uma única cidade. O arquiteto grego, Hipódamo de Mileto, é considerado o primeiro urbanista da história. Durante os períodos e civilizações anteriores, os assuntos religiosos eram eles mesmos o motivo e a manutenção da ordem estabelecida. No período greco-romano o mistério religioso ultrapassou os limites do templo-palácio e tornou-se assunto dos cidadãos (ou da pólis). Surgiu, então, a palavra “política”, absolutamente relacionada à idéia de cidade. Enquanto os povos anteriores desenvolveram apenas as arquiteturas militar, religiosa e residencial, os gregos e romanos foram responsáveis pelo desenvolvimento de espaços próprios à manifestação da cidadania e dos afazeres cotidianos. A ágora 42 grega definia-se como um grande, espaço livre público destinado à realização de assembléias, rodeada por templos, mercados, e edifícios públicos. O espaço da ágora tornou-se um símbolo da nova visão de mundo que incluía o respeito aos interesses comuns e incentivador do debate entre cidadãos, ao invés da antiga ordem despótica. Assuntos religiosos, contudo, ainda possuíam um papel fundamental na vida mundana, mas a partir de então foram incorporados aos espaços públicos da pólis. Os rituais populares tomaram lugar em espaços construídos para tal, em especial a acrópole1 . Cada lugar possuía sua própria natureza, inserido em um mundo que convivia com o mito. Os templos passaram a ser construídos no topo das colinas (criando um marco visual na cidade baixa e possibilitando um refúgio à população em tempos de guerra). Os principais fatos a influenciar a produção arquitetônica medieval foram o recrudescimento das cidades (conseqüente ruralização da Europa e criação de feudos) e a ascensão da Igreja Católica. À medida que o poder secular submetia-se ao papal, passava a ser a Igreja aquela que detinha o capital necessário ao desenvolvimento das grandes obras arquitetônicas. A tecnologia do período desenvolveu-se principalmente na construção das catedrais, estando o conhecimento tectônico sob o controle das corporações de ofícios (STEVENSON, 1998, p. 86). Durante praticamente todo o período medieval, a figura do arquiteto (como sendo o criador solitário do espaço arquitetônico e da construção) não existiu. A construção das catedrais, principal esforço construtivo da época, foi acompanhada por toda a população e inseriu-se na vida da comunidade ao seu redor. O conhecimento construtivo foi guardado pelas corporações, as quais reuniam dezenas de mestresobreiros (os arquitetos de fato) que conduziam a execução das obras mas também as elaboravam. 43 A Cristandade definiu uma nova visão de mundo, que não só submetia a vontade humana aos desígnios divinos como esperava que o indivíduo buscasse o divino. Em um primeiro momento, e devido às limitações técnicas, a concepção do espaço arquitetônico dos templos voltou-se ao centro, segundo um eixo que incitava ao percurso. Mais tarde, com o desenvolvimento da Arquitetura Gótica, buscou-se alcançar os céus através da indução da perspectiva para o alto. O Renascimento abriu a Idade Moderna rejeitando a estética e a cultura medievais, propondo uma nova posição do homem perante o Universo. Antigos tratados arquitetônicos romanos foram redescobertos pelos novos arquitetos, influenciando profundamente a nova Arquitetura. A relativa liberdade de pesquisa científica que se obteve permitiu algum avanço nas técnicas construtivas, garantindo novas experiências e a concepção de novos espaços. O espírito renascentista evocou as qualidades intrínsecas existentes no ser humano. O progresso do homem – científico, espiritual, social – tornou-se um objetivo importante para o período. O Classicismo, redescoberto, e o Humanismo surgiram como um guia para a nova visão de mundo que se manifestou nos artistas do período. Segundo Glancey (2001, p. 22), a cultura renascentista mostrou-se multi e interdisciplinar. O que importava ao homem renascentista era o culto ao conhecimento e à razão, não havendo para ele separação entre as ciências e as artes. Tal cultura mostrouse um campo fértil para o desenvolvimento da Arquitetura, uma matéria que, da mesma forma, não viu limite entre as duas áreas. A Arquitetura Renascentista mostrou-se clássica, mas não se pretendeu neoclássica. Com a descoberta dos antigos tratados (incompletos) da Arquitetura Clássica (dentre os quais, o mais importante foi De Architetura de Vitrúvio, base para o tratado 44 De Re Aedificatoria de Alberti), deu-se margem a uma nova interpretação daquela arquitetura e sua aplicação aos novos tempos. Conhecimentos obtidos durante o período medieval (como o controle das diferentes cúpulas e arcadas) foram aplicados de uma nova forma, incorporando os elementos da linguagem clássica. A descoberta da perspectiva foi um aspecto importante para se entender o período (e especialmente a perspectiva central). A idéia de infinito trazida pela manipulação do ponto-de-fuga foi bastante utilizada como elemento cênico na concepção espacial daqueles arquitetos. A perspectiva representou uma nova forma de entender o espaço como algo universal, compreensível e controlável através da razão do homem. O desenho tornou-se o principal meio de projetação, assim como surgiu a figura do arquiteto solitário (diferente da concepção coletiva dos edifícios medievais). Os novos meios de concepção de projeto influenciaram a concepção espacial dos edifícios, no sentido em que a concepção visual foi sendo controlada, direcionada para um ponto de vista específico. O poder da perspectiva, de representar universalmente a realidade, não se limitou a apenas descrever a experiência, mas também a antecipá-la projetando a imagem de volta à realidade. Com o desenrolar do Renascimento, e o constante estudo e aplicação dos ideais clássicos, começou a surgir, entre os artistas do período, um certo sentimento anticlássico, ainda que suas obras continuassem, em essência, predominantemente clássicas. Neste momento, surgiu aquele que foi chamando de Maneirismo (GLANCEY, 2001, p. 63). Os arquitetos maneiristas (que rigorosamente podem continuar sendo chamados de renascentistas) apropriaram-se das formas clássicas, mas começaram a desconstruir seus ideais. Entre os exemplos do Maneirismo, percebe-se que as normas 45 clássicas pregavam que as colunas de um edifício não podiam ter altura maior do que um andar. Os maneiristas construíram edifícios nos quais as colunas constituíram um jogo de verticais, ultrapassando as alturas clássicas, mas mantendo, rigorosamente, seus detalhes. Michelângelo foi um dos arquitetos renascentistas que podem ser chamados de maneiristas. Os séculos seguintes ao Renascimento assistiram a um processo cíclico de constante afastamento e reaproximação do ideário clássico. O Barroco, em um primeiro momento, potencializou o descontentamento do Maneirismo pelas normas clássicas e propiciou a gênese de um tipo de arquitetura inédita, ainda que freqüentemente possuísse ligações formais com o passado. Da mesma forma que o Barroco representou uma reação ao Renascimento, o Neoclassicismo, mais tarde, constituiu uma reação ao Barroco e uma forte tendência ao passadismo e à recuperação do Clássico. Este período de dois séculos, portanto, foi marcado por um ciclo de dúvidas e certezas a respeito da validade das idéias clássicas. A ostentação formal, nos espaços do Barroco e do Rococó Barroco, surgiu no cenário artístico europeu em dois contextos bastante claros durante o século XVII. Primeiramente, havia a sensação de que, com o avanço científico representado pelo Renascimento, o Classicismo, ainda que tivesse alavancado este progresso, não mais tinha condições de oferecer todas as respostas necessárias às dúvidas do homem. Conforme Rebello e Bogéa (2001, p. 96), o Universo não era mais o mesmo, o mundo havia se expandido e o indivíduo queria experimentar um novo tipo de contato com o divino e o metafísico. As formas luxuriantes do Barroco, seu espaço elíptico, definitivamente anti-euclidiano, foram uma resposta a estas necessidades. O segundo contexto foi o da Contra-Reforma promovida pela Igreja Católica. 46 Com o avanço das igrejas protestantes, a antiga ordem romana cristã (que, em certo sentido, havia incentivado o advento do mundo renascentista) estava sendo suplantada por novas visões de mundo e novas atitudes perante o Sagrado. A Igreja sentiu a necessidade de renovar-se para não perder os fiéis, e viu na promoção de uma nova estética a chance de identificar-se neste novo mundo. As formas do Barroco foram promovidas pela instituição em todo o mundo (especialmente nas colônias recém-descobertas), tornando-o o estilo católico, por excelência. No fim do século XVIII e início do XIX, a Europa assistiu a um grande avanço tecnológico, resultado direto dos primeiros momentos da Revolução Industrial e da Cultura Iluminista. Foram descobertas novas possibilidades construtivas e estruturais, de forma que os antigos materiais (como a pedra e a madeira) passaram a ser substituídos gradativamente pelo concreto (e mais tarde pelo concreto armado) e pelo metal. Paralelamente, profundamente influenciados pelo contexto cultural do Iluminismo Europeu, os arquitetos do século XVIII passaram a rejeitar a religiosidade intensa da estética anterior e o exagero luxuriante do Barroco. Buscou-se uma síntese espacial e formal mais racional e objetiva, mas ainda não se tinha uma idéia clara de como aplicar as novas tecnologias em uma nova Arquitetura. Inseridos no contexto do Neoclassicismo nas Artes, aqueles arquitetos viram na Clássica a Arquitetura ideal para os novos tempos. O Neoclassicismo não se pretendeu, de fato, um estilo novo (diferente da Arte Clássica Renascentista). Ocorreu muito mais uma cópia do repertório formal clássico e menos uma experimentação desta forma, tendo como diferença a aplicação das novas tecnologias. 47 O arquiteto francês Le Corbusier (apud GLANCEY, 2001, P. 59), foi o profeta das vanguardas que acabou por estabelecer os princípios da nova arquitetura, feita para o novo homem: a Arquitetura modernista, da planta pura, limpa, dos pilotis. Isto representou a receita para se traduzir um momento histórico onde a funcionalidade exigida pela vida moderna estava acima de tudo e todos. A Arquitetura Contemporânea surgiu como um ato de rebeldia que se iniciou no final dos anos 60, contra os cânones impostos pelas vanguardas modernistas. A herança pós-moderna deixou uma época de muita liberdade, com alguma permissividade e muita dificuldade de se pautar uma crítica da Arquitetura Contemporânea. O que se percebe é que, em todos os períodos históricos, a Arquitetura foi e tem sido uma das mais significativas expressões da cultura que a produziu. As pirâmides egípcias, por exemplo, como túmulos reais, traduziram a visão de mundo do povo que as construiu: a esperança de uma vida eterna após a morte, em enormes e duradouros edifícios de pedra. Os impressionantes vestíbulos em colunas do palácio real em Persépolis foram construídos para demonstrar o poder e a majestade dos antigos reis da Pérsia. Os modernos arranha-céus de vidro refletem a sociedade industrial e comercial, com suas altas densidades demográficas. Ou seja, houve uma evolução progressiva no sentido de acompanhar tendências dos respectivos mercados, cada vez mais representados por consumidores e por necessidades humanas. 3.2 Arquitetura no Brasil Na visão de Glancey (2001, p. 99), a linha de tempo, a seguir, resume os 48 principais fatos relacionados à Arquitetura no Brasil: Século XVII: com a colonização das terras brasileiras, foram construídas as primeiras edificações não-indígenas no país. Colégios e igrejas surgiram em Salvador, em Olinda e no Rio de Janeiro, por influência dos jesuítas. O enriquecimento resultante da economia açucareira fez aparecer as casas-grandes e as senzalas. 1630-1654: a presença holandesa, no Recife, introduziu um planejamento urbano desconhecido pela colônia. A cidade se expandiu para a ilha de Antônio Vaz com um traçado regular, que diferiu da ocupação espontânea da época. Século XVIII: tardiamente em relação à Europa, o Barroco Brasileiro atingiu o auge após a descoberta de ouro em Minas Gerais. Fachadas simples, decoradas com pedra-sabão em substituição ao mármore europeu, passaram a abrigar interiores opulentos, apresentando ornamentados com ouro e prata. A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG), é hoje considerada a mais bem elaborada construção do estilo. Foi erguida a pedido dos franciscanos, no final do século XVIII, representando a obra-prima de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Além de ser o autor do projeto, esculpiu os medalhões de pedra-sabão da fachada e importantes detalhes do interior, como parte do altar-mor e do púlpito. No forro da igreja, a pintura de um dos maiores artistas da época, Manuel da Costa Ataíde, mostra uma Nossa Senhora cercada de anjos. A composição da cena é brasileiríssima: todos são mulatos. Outros exemplos importantes se encontram em Salvador e no Rio de Janeiro. 1816: a vinda da Missão Artística Francesa, ao Rio de Janeiro, transformou o Neoclassicismo em estilo oficial do Império. Integrante da missão, o arquiteto Grandjean de Montigny projetou várias obras para a cidade e instituiu o ensino oficial da Arquitetura. 49 Baseados nas formas clássicas, os edifícios ganharam caráter monumental e grandioso, em que predominam colunas e paredes lisas. 1902: teve início a construção da Vila Penteado, em São Paulo, um dos marcos do estilo art nouveau no país. A primeira casa foi projetada pelo arquiteto sueco Karl Ekman, a pedido de Antônio Álvares Penteado. Com formato da letra U, que mantém a simetria dos volumes principais, o prédio foi decorado com motivos florais, orgânicos e curvilíneos. Doada em 1947, para a Universidade de São Paulo (USP), a casa abriga atualmente o setor de pós-graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo. 1914: o arquiteto Ricardo Severo inaugurou o movimento Neocolonial. Ele criticou a mistura e a importação de formas e estilos e tentou elaborar um gênero próprio brasileiro, com base na recuperação e estilização das características arquitetônicas das obras do período colonial. Um dos exemplos desse movimento foi a Escola Normal do Rio de Janeiro (1926-1930), de Angelo Bhruns e José Cortez. 1929: a construção do edifício “A Noite”, no Rio de Janeiro (RJ), marcou a chegada do art déco ao Brasil. Outras obras importantes desse estilo foram a Estação Central do Brasil, também no Rio de Janeiro, e o Elevador Lacerda, em Salvador (BA). 1930: a inauguração da Casa Modernista em São Paulo (SP), obra do arquiteto russo Gregóri Varchávchik, assinalou a introdução da Arquitetura Modernista no Brasil. Esse estilo se tornou muito conhecido com a construção do Ministério da Educação e Saúde (1936-1945), atual Palácio da Cultura, no Rio de Janeiro (RJ). O projeto dos arquitetos Lúcio Costa, Afonso Reidy, Carlos Leão, Ernani Mendes de Vasconcelos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer contou com a consultoria do francês de origem suíça Le Corbusier. 1960: com a inauguração de Brasília, surgiu a maior referência da Arquitetura 50 Modernista no Brasil. Construída para ser a nova capital do país, a cidade teve projeto urbanístico de Lúcio Costa e edifícios governamentais desenhados por Oscar Niemeyer. 1962: João Batista Vilanova Artigas, arquiteto brasileiro premiado internacionalmente, desenhou o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Com linhas modernas, é sua obra mais conhecida. 1968: o novo prédio do Museu de Arte de São Paulo (Masp), projeto de Lina Bo Bardi, foi inaugurado. De concreto e vidro, com linhas simples, a construção tornouse um dos principais marcos arquitetônicos da cidade de São Paulo. O museu se destaca pelo seu vão livre de 70 metros, que permite manter a vista original do local e não sobrecarrega o túnel localizado embaixo do edifício. Década de 70: permaneceu a arquitetura do concreto, ligada à criação de estruturas cada vez mais sofisticadas. O grande crescimento econômico brasileiro, nessa época, permitiu a elaboração de obras monumentais, que mostraram o salto da riqueza do país. Um exemplo é o prédio da Petrobrás, no Rio de Janeiro (RJ). Década de 80: os movimentos de crítica ao Modernismo, como o Regionalismo Crítico, o Contextualismo e o Pós-modernismo, se fortaleceram no Brasil. As receitas formais começaram a ser abandonadas. Houve um maior cuidado em relação ao uso que o edifício iria ter e ao lugar onde ele se inseria. O prédio do Sesc Fábrica da Pompéia, em São Paulo (1977-1986), projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, é considerado um exemplo dessa linha. Começou a ser introduzido o uso estrutural do aço, como na Estação Largo Treze de Maio, em São Paulo (SP), idealizada por João Walter Toscano. Também se retomou o uso das estruturas de madeira em substituição ao concreto armado, como no Centro de Proteção Ambiental de Balbina, em Manaus (AM), obra de Severiano Porto, 51 e nas construções residenciais de Marcos Acayaba, em São Paulo (SP). Ganharam força os planos de reurbanização, como em Curitiba (PR), e de recuperação de centros históricos, como o do Rio de Janeiro (RJ). Década de 90: a tendência de reurbanização acentuou-se. Em São Paulo (SP) aconteceu um processo de revitalização do centro, que incluiu a mudança da prefeitura para o Palácio das Indústrias, a reforma da Pinacoteca do Estado, a reciclagem da antiga agência dos Correios e a transformação da Estação Júlio Prestes em sala de concertos. Na Bahia, Lina Bo Bardi assinou o projeto-piloto para a recuperação do centro histórico de Salvador. A Arquitetura do final da década se caracterizou por criações individuais, como residências particulares e edifícios institucionais e industriais. Destacaram-se arquitetos como Paulo Mendes da Rocha, idealizador do Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo (SP), e João Filgueiras Lima, que desenvolveu processos de construção industrial que permitiram uma arquitetura mais leve. 1999: a 4ª Bienal Internacional de Arquitetura, realizada em São Paulo (SP), entre 20 de novembro e 25 de janeiro de 2000, teve como tema a violência urbana e as propostas arquitetônicas para atenuá-la. Os homenageados foram o ex-diretor da escola Bauhaus, Mies van der Rohe, e o arquiteto italiano Andrea Palladio. Entre os brasileiros, os destaques foram o baiano João Filgueiras Lima e o paulistano Paulo Mendes da Rocha. A Bienal de Arquitetura passou a ser um evento independente da Bienal Internacional de Artes em 1973. 52 3.3 A Arquitetura no mundo hoje Atualmente, a Arquitetura e Urbanismo trazem consigo reflexões sobre a essência da arquitetura no mundo atual, baseadas nos rumos da tecnologia e do próprio desenvolvimento da sociedade. Estas modificações implicam em transformações no modo de vida do homem, que a própria arquitetura deverá incorporar (www.unicamp.br). Do arquiteto são esperadas soluções criativas, confortáveis e econômicas para atender às necessidades de acomodação de atividades e de mercado. Para conseguir atender esta expectativa, o profissional necessita, além da criatividade e habilidade inerentes, comportamento ético, compromisso social, sensibilidade, conhecimentos técnicos e humanísticos, e domínio de instrumental. A ênfase deve ser a atividade projetual, sempre embasada nas necessidades do mercado. Para atingir este objetivo o domínio múltiplo faz-se necessário pelo encontro do conhecimento das ciências exatas e humanas e o espírito artístico. A inserção do domínio tecnológico e das ciências exatas é essencial. Mas o conhecimento de mercado também é fundamental para uma Arquitetura contemporânea, cultural, social e construtivamente viável. O conjunto de conhecimentos adquiridos nas várias disciplinas, de caráter tecnológico, social e artístico, possibilita ao profissional desenvolver sua capacidade de assimilação da teoria e das ferramentas de projeto. Este abrange o ambiente construído e seus objetivos: edificações, desenho e planejamento urbano, desenho industrial e paisagismo. O arquiteto deve aplicar métodos analíticos, comparar alternativas e desenvolver soluções conceituais com técnicas específicas e atualizadas. Isto propicia um ambiente de investigação e aplicação da síntese do 53 conhecimento adquirido. Tudo, calcado na tecnologia da construção, nos sistemas estruturais, conforto ambiental, topografia, informática aplicada, artes plásticas, desenho, técnicas retrospectivas, história das artes, da arquitetura e do urbanismo, estética e os estudos sociais e ambientais. Somada às necessidades mercadológicas, a Arquitetura deve atuar entre as áreas de conhecimento tecnológico, social e artístico. A abrangência característica da profissão exige uma sólida formação em ciências humanas, acompanhada de uma visão tecnológica e cultural que permita o desenvolvimento de trabalhos integrados ao ambiente construído priorizando a funcionalidade, o conforto, a economia e a estética, cujos efeitos incidem na cultura das gerações e qualidade de vida. A capacidade de direcionamento de sua atuação, através de ênfases específicas, como projeto, capacitação em ferramentas de informática, todas as demais tecnologias aplicadas à Arquitetura, e conscientização da atuação social, devem constituir o perfil atual do profissional. O arquiteto tem hoje um campo de trabalho de grande amplitude. Ele poderá operar como profissional liberal ou em órgãos públicos e empresas privadas, atuando nas áreas de projeto e planejamento, na administração de obras, comunicação visual, desenho industrial e de interiores, na informática aplicada, consultor e pesquisador em várias especialidades técnicas, avaliações pós-ocupação de edificações bem como áreas da arte e do patrimônio histórico (www.unicamp.br). A Arquitetura é uma atividade artística, técnica e científica que desde o início da civilização desenvolveu conceitos essenciais e elementos que direcionam a criação do ambiente construído. Assim, comodidade, firmeza e encanto, foram seus elementos mestres, de acordo com Vitruvius, na época de Cristo. Estes conceitos ainda hoje são diretrizes projetuais que, associados aos conhecimentos de mercado, antropologia e 54 sociologia, propiciam um entendimento maior do homem e seu meio. A idéia de Arquitetura apresenta-se segundo diferentes interpretações caracterizada pela dinâmica e temporalidade. Le Corbusier, arquiteto reconhecido mundialmente concebia Arquitetura como “um jogo magnífico dos volumes sob a luz”. Já o urbanista brasileiro Lúcio Costa, autor do plano-piloto de Brasília, diz: “Arquitetura é construção concebida com intenção de ordenar plasticamente o espaço em função de determinada época, determinado meio, determinada técnica e determinado programa.” Para o arquiteto projetar é muito mais que construir edifícios. Arquitetura engloba o conhecimento das emoções, da luz, do som, do movimento para a criação de espaços da beleza e liberdade. Siegbert Zanetini, arquiteto contemporâneo nacional, apresenta nas suas obras a integração perfeita da criatividade, funcionalidade e tecnologia. Arquitetura para este profissional está relacionada com qualidade na construção e na concepção. Assim a construção de qualidade deve atender racionalmente às necessidades fisiológicas, sociais e econômicas do homem. Porém, a Arquitetura vai além: é encantamento, magia e sedução. Para uma definição de qualidade nesta área Zanetini enfatiza a sua adequação à cultura, aos usos e costumes de cada época, ao ambiente na qual a obra se insere, à evolução científica, tecnológica e estética, à satisfação das necessidades físicas e psíquicas – à razão e a emoção do homem. Coloca ainda que o arquiteto de hoje, deve ser um profissional na mais plena acepção da palavra: íntegro, ético, honesto, competente, pesquisador, estudioso e dotado de uma visão de mundo e da cultura a mais abrangente possível. O arquiteto brasileiro é reconhecido no cenário nacional e internacional pela sua criatividade e riqueza de linguagens volumétrica e formal. No entanto, as novas 55 relações mundiais impõem uma reformulação em sua atuação, exigindo capacitação e conhecimento de novas técnicas e ferramentas que lhe permitam enfrentar com maior competitividade e produtividade os desafios deste novo cenário (www.unicamp.br). O estágio dos conflitos sociais e ambientais urbanos necessita uma atuação mais próxima da sociedade quanto às soluções para os graves problemas das aglomerações. Isto exige que a formação profissional priorize o aspecto tecnológico em parceria com as preocupações humanísticas e ambientais. As soluções serão possíveis com o conhecimento científico e humanístico acompanhado da criatividade. Assim, o estímulo à criatividade e ao conhecimento do mercado é o centro da formação do arquiteto. O período atual é de reflexões e questionamentos sobre a posição do homem em relação às mudanças na sociedade industrial, causadas pela globalização. As grandes possibilidades de comunicação, que se refletem na vida humana, trazem, portanto, expectativas de profunda modificação na Arquitetura e no desenho urbano. Ao mesmo tempo, o crescimento populacional, a concentração da população em grandes centros e as condições econômicas desfavoráveis, têm criado condições de vida desumanas, onde a atuação do arquiteto é vista como essencial na busca de soluções para estas questões. Nestas condições, o profissional do terceiro milênio necessita de uma formação onde, a produtividade e a criatividade, precisam ser aplicadas na busca de solução dos problemas de abrigo para as atividades humanas e para que possam ser exercidas com dignidade. Essa formação inclui essencialmente tecnologias avançadas, pois somente assim será possível encontrar soluções para as dimensões dos problemas existentes. Os desafios em projeto são muitos, com múltiplas variáveis a serem consideradas. O homem, com as suas necessidades fisiológicas, psicológicas, sociais e econômicas, é o centro destas considerações. Em suas atividades, estas variáveis 56 essenciais devem estar presentes, não apenas como conhecimento teórico ou técnico, mas formando a base da discussão de projeto no curso como um todo. As questões ambientais criam novas reflexões na arquitetura de hoje. A simples aplicação da tecnologia não é suficiente, como por exemplo, o esgotamento de materiais não renováveis e a necessidade do uso eficiente da energia são temas essenciais. São necessárias, além da resolução da complexidade, a aplicação da invenção e a efetiva comunicação de idéias. Estas habilidades necessitam de um ambiente onde o raciocínio de projeto possa ser desenvolvido com lógica, metodologia e técnicas de comunicação eficazes. 57 4 ESTUDO DE CASO DO CURSO DE ARQUITETURA DA UNESC 4.1 Desenho Metodológico As investigações científicas podem utilizar mais de um método ou técnica. Ou seja, todos que o pesquisador entender como necessários. Na maioria das vezes, há uma combinação de dois ou mais. Na definição do problema em questão, partiu-se do pressuposto que é indispensável a inclusão de conteúdos de Marketing no fluxo curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, a fim de facilitar o sucesso profissional de seus egressos, à medida que lhe confere, entre outros pontos, o estudo das necessidades e desejos de seus futuros clientes. Afinal, entende-se que um escritório de Arquitetura e Urbanismo precisa prezar pelo atendimento, compreender profundamente seu mercado e clientes, apresentar orçamentos claros e objetivos, adequar honorários às realidades mercadológicas. Além, é claro, de oferecer produtos de qualidade, cumprindo os prazos previamente estabelecidos, sempre com muita responsabilidade sobre os serviços prestados. indispensável a inclusão de conteúdos de Marketing no fluxo curricular do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Para pesquisar a pertinência desta hipótese optou-se pelo seguinte desenho metodológico, o qual envolveu: A - Pesquisa Bibliográfica: que operou a partir de material já elaborado, disponível em livros, o qual constitui parte do acervo bibliográfico da humanidade, sendo enriquecido com a coleta de informações pertinentes em revistas especializadas e sites da internet. 58 B - Pesquisa Qualitativa de Descrição: que, além dos dados bibliográficos, utilizou um Estudo de Caso. Ou seja, uma análise de um objeto – no caso o Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unesc, de forma a conseguir seu detalhado conhecimento, comparando a oferta de seus conteúdos com as necessidades atuais do mercado. As fases do trabalho foram divididas da seguinte maneira, sendo contempladas ao longo desta pesquisa, não necessariamente nesta ordem: a. Definição do problema; b. Estudo do desenho metodológico; c. Delimitação da unidade-caso; d. Construção dos instrumentos da coleta de dados. e. Análises de documentos e informações. f. Redação das conclusões. O objetivo geral do trabalho foi o de perceber a real necessidade de conteúdos de Marketing no fluxo curricular dos cursos de arquitetura e urbanismo. Em especial, no da Universidade de Extremo Sul Catarinense. Entre as metas específicas, escolheu-se: conhecer detalhes sobre a importância do Marketing como um todo; verificar as principais necessidades da Arquitetura e Urbanismo hoje; e apresentar fundamentos para a inserção de conteúdos ligados ao mercado na faculdade em questão. 4.2 Arquitetura - teoria e prática Zabala (1998, p. 42) afirma que duas concepções referentes às relações, entre teoria e prática, ainda são bastante comuns no meio profissional e acadêmico. Uma delas separa os arquitetos em dois tipos: os teóricos e os práticos. A outra, oriunda da 59 Academia de Belas Artes Francesa, do século XIX, sustenta a suposição ingênua de que existe uma teoria geral separada da prática. Em conjunto, as duas concepções sugerem a independência entre teoria e prática, fugindo do único objetivo da teoria, que deve ser o de incidir sobre o trabalho prático. É preciso ter muito claro que, entre teoria e prática, não existe contraposição e, menos ainda, exclusão, mas plena complementaridade. A teoria, basicamente, trata de uma análise de resultados da prática, e esta necessariamente apóia-se em reflexões de caráter teórico. Para o autor, outro mal-entendido clássico é a visão da teoria como algo que precede e orienta a prática de projeto. A rigor, teoria, história e crítica, são partes integrantes do processo projetual. As últimas décadas do século XX se caracterizaram pelo desaparecimento dos discursos hegemônicos em todas as áreas do conhecimento e das atividades humanas. O inimigo passou a ser a arbitrariedade. O que se esperou do processo de aprendizado ao longo dos cursos de Arquitetura é que o conhecimento adquirido, através da prática projetual, informada por atividades de teoria, história e crítica, pudesse contribuir para evitar a arbitrariedade da Arquitetura inconseqüente. A Arquitetura está muito mais séria e erudita: o estudo de sua história e teoria voltou a ser prioritário, e já não se admite uma Arquitetura sem um pensamento que lhe estruture. Mais do que ensinar os estudantes a projetar, o objetivo da escola de Arquitetura deve ser o de preparar o espírito crítico do acadêmico para lidar com uma diversidade de situações problemas que o mercado porventura irá lhe proporcionar (ZABALA, 1998, p. 25). 60 Tal conhecimento específico sugere a incorporação de conteúdos ligados ao Marketing, nas escolas de Arquitetura, para que venham a salientar a importância de se pesquisar e atender necessidades de mercado. Isto, em paralelo às atividades vinculadas à teoria, história e crítica desta atividade. A teoria, a história e a crítica se encontram na base de toda metodologia para se fazer Arquitetura. Por isso, sua separação oficial da prática de projetos não pode ter bons resultados. Uma disciplina de Marketing, por exemplo, pode tratar de uma ciência pautada em fatos reais mercadológicos, acabando por trazer a realidade a essa atual fragmentação do conhecimento, representando uma atividade necessária à compreensão e desenvolvimento dos conteúdos de prática de projetos. Diante de tudo isso, o profissional-arquiteto deve ter um bom embasamento sobre como lidar com essas variáveis, o que vêm ao encontro do tema abordado como uma forte justificativa acerca da incorporação de uma disciplina de Marketing nos cursos de Arquitetura. Neste capítulo, apresenta-se uma proposta de inserção de conteúdos de Marketing ao currículo das escolas de Arquitetura e Urbanismo. Inicialmente, entretanto, demonstra-se aspectos sobre o curso. Na seqüência, discute-se sobre os objetivos das disciplinas aplicada à área em questão, finalizando-se com conteúdos que se julga conveniente a serem contemplados pelo programa sugerido. 4.3 Aspectos sobre os cursos de Arquitetura e Urbanismo A produção e o aprendizado da Arquitetura no Brasil-Colônia ocorreu junto às corporações de ofício ou em um canteiro de obras, a exemplo dos trabalhos de Antonio Francisco Lisboa. Excepcionalmente, encontrava-se alguns profissionais habilitados, na 61 maioria das vezes em academias militares, desenvolvendo projetos arquitetônicos ou urbanísticos (GLANCEY, 2001, p. 22). Somente após a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, foi criada a Academia de Artes e Ofícios, que só começou a funcionar em edifício próprio em 1826, já como Academia Imperial. Iniciou-se, assim, o ensino regular de Arquitetura, como um dos cursos da Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios. O arquiteto Grandjean de Montigny, que veio na Missão Francesa, em 1816, foi indicado como responsável pelo curso. Grandjean também foi o autor do novo edifício, especialmente projetado e construído para este fim, na Avenida Passos, no centro do Rio de Janeiro, hoje desaparecido. A partir de 1890, já na República, as diretrizes do curso foram alteradas dissociando cada vez mais o ensino de Arquitetura das demais Belas-Artes. No início do século XX, junto com as propostas de melhoramentos da então Capital Federal, foi idealizado e construído um novo e imponente edifício, inspirado no Louvre, projeto do professor-arquiteto Morales de Los Rios, para abrigar a Escola de Belas Artes, na então recém inaugurada Avenida Central, hoje Rio Branco. O arquiteto do início do século poderia, diariamente, respirar o ar das reformas urbanas e conviver com o espaço eclético, repleto de referências acadêmicas e historicistas, fontes constantes de referência e inspiração. A reforma de 1931, introduzida pelo então diretor, o arquiteto Lucio Costa, passou a apresentar uma definida orientação modernista, contrariando parte do corpo docente, ainda vinculado a modelos conservadores, o que provocou seu afastamento da direção do curso. Foi nesta reforma que se incluiu a cadeira de Urbanismo, antes desconhecida 62 da maioria. A inovação acabou por provocar, em 1945, a separação definitiva do Curso de Arquitetura, da Escola de Belas Artes, sendo criada a Faculdade Nacional de Arquitetura, pelo Decreto nº 7918, de 31 de agosto, que acabou sendo transferida para outro edifício, o antigo Hospício Pedro II, então recuperado, localizado na Praia Vermelha – Rio de Janeiro. Com novo currículo, autonomia e uma cidade universitária, mais uma vez a Faculdade Nacional de Arquitetura mudou de endereço. Desta vez, para um edifício exclusivamente projetado para seu uso, pelo arquiteto Jorge Machado Moreira. A partir da Reforma Universitária introduzida pela Lei de Diretrizes e Bases de 28/11/68, o Curso de Arquitetura sofreu nova modificação para atender às características do sistema de créditos, então implantado. Às antigas cadeiras anuais corresponderam as novas disciplinas do currículo que vigorou até 1996. O atual currículo, implantado a partir de 1998, é o resultado de uma avaliação crítica do então currículo, revisão esta iniciada ainda na década de 1980, conseqüente de uma nova realidade social e econômica que se impôs na área do conhecimento e da prática da Arquitetura e do Urbanismo. Esta reforma curricular também procurou atender às diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo do curso, então fixados pela Portaria nº 1.770, de 21 de dezembro de 1994, do Conselho Federal de Educação, e da nova Lei de Diretrizes e Bases de 23 de dezembro de 1996. De acordo com a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – ABEAU (2004), o número de cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil vem sofrendo um aumento considerável nos últimos anos, refletindo a demanda crescente da sociedade por arquitetos e urbanistas e a política atual do Ministério da Educação - MEC de ampliar o número de matrículas do ensino superior. 63 Segundo dados da ABEAU, a área de Arquitetura e Urbanismo conta hoje com aproximadamente 40.000 alunos e cerca de 5.000 docentes. Do total de cursos em funcionamento (178), 85 já estão devidamente reconhecidos pelo MEC e são responsáveis pela educação de cerca de 4.000 profissionais arquitetos e urbanistas que ingressam, por ano, no diversificado e competitivo mercado de trabalho brasileiro. 4.4 Diretrizes curriculares dos cursos de Arquitetura e Urbanismo De acordo com as Diretrizes Gerais do Curso de Arquitetura e Urbanismo (1994), apresentadas pelo Ministério da Educação e Cultura, o conjunto de atividades e disciplinas que um curso oferece aos alunos, nele matriculados, é denominado currículo pleno daquela instituição. O currículo pleno é composto pela reunião das matérias exigidas pelas diretrizes curriculares obrigatórias para todos os cursos, mais o conjunto dos conteúdos que aquela determinada instituição deseja oferecer aos seus alunos, dentro do seu projeto pedagógico. Os exercícios profissionais, de arquitetos e urbanistas, são regulamentados no Brasil por lei, desde 1933. Atualmente, a regulamentação se dá através da Lei nº 5194/66, que define as atribuições e atividades dos arquitetos e urbanistas. A habilitação é única, ou seja, não existem modalidades na profissão, e isto se dá pelo registro do diploma e histórico escolar, onde devem constar, obrigatoriamente, a aprovação nas matérias e o cumprimento das exigências do currículo mínimo, que qualificam o egresso para o exercício profissional. A responsabilidade técnica está prevista na mesma lei, e a responsabilidade social no Código de Ética (letra “n” do Art. 64 27 da Lei nº 5194/66 e Resolução n° 205/71) do CONFEA – Conselho Federal de Arquitetura. Do ponto de vista legal, compete ao arquiteto e urbanista o exercício de todas as atividades referentes a edificações, conjuntos arquitetônicos e monumentos, arquitetura paisagística e de interiores, urbanismo, planejamento físico, urbano e regional. É um espectro bastante amplo que exige, da formação profissional, um esforço capaz de qualificar o arquiteto e urbanista na abrangência de suas competências legais, com o aprofundamento indispensável para que possa assumir as responsabilidades nelas contidas. O curso envolve a preparação de profissionais voltados para o desenvolvimento de projetos arquitetônicos e urbanísticos, desde a concepção inicial até o desenvolvimento detalhado e execução. E exige o domínio de disciplinas diferenciadas, envolvendo vários campos do conhecimento. Estas foram agrupadas em três áreas de concentração, segundo as Portaria nº 1770 do Ministério da Educação e Cultura (BRASIL, 1994): [...] Art. 2º - O conteúdo mínimo do Curso de Arquitetura e Urbanismo dividese em três partes interdependentes: I) Matérias de Fundamentação, constituindo-se em conhecimentos fundamentais e integrativos de áreas correlatas; II) Matérias Profissionais, constituindo-se em conhecimentos que caracterizam as atribuições e responsabilidades profissionais; III) Trabalho Final de Graduação. [...] Art. 3° - São matérias de Fundamentação: Estética, História das Artes. 65 Estudos Sociais e Ambientais. Desenho. Art. 4° - São Matérias Profissionais: História e Teoria da Arquitetura e Urbanismo. Técnicas Retrospectivas. Projeto de Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo. Tecnologia da Construção. Sistemas Estruturais. Conforto Ambiental. Topografia. Informática Aplicada à Arquitetura e Urbanismo. Planejamento Urbano e Regional. [...] Art. 6° - Será exigido um Trabalho Final de Graduação objetivando avaliar as condições de qualificação do formando para acesso ao exercício profissional. Constitui-se em trabalho individual, de livre escolha do aluno, relacionado com as atribuições profissionais, a ser realizado ao final do curso e após a integralização das matérias do currículo mínimo. Será desenvolvido com o apoio de professor orientador escolhido pelo estudante entre os professores arquitetos e urbanistas dos departamentos do curso e submetido a uma banca de avaliação com participação externa à Instituição à qual estudante e orientador pertençam. Toda a legislação de regulamentação profissional tem caráter nacional, isto é, cumpridas as diretrizes e exigências curriculares gerais e as leis de regulamentação profissional, os arquitetos podem exercer sua profissão em qualquer parte do país, independentemente do lugar onde fizeram seu curso. Por tais razões, é imprescindível o cumprimento das exigências curriculares, sob pena de prejuízos e impedimentos aos exercícios profissionais de arquitetos e urbanistas. Estes profissionais também guardam, entre os habilitados pelo sistema de fiscalização profissional CONFEA/CREAs, a particularidade de preferir exercer a profissão na condição de liberais, através de seus “escritórios”. O assalariamento da categoria dá-se por imperativo econômico externo aos seus anseios. Os arquitetos procuram manter o exercício de sua profissão de forma liberal, e grande número deles 66 desempenha a profissão em atividades paralelas como assalariado – no setor privado ou público – e como autônomo. Assim sendo, a profissão de arquiteto desfruta o privilégio do exercício privativo decorrente de uma determinada formação, que requer conhecimentos especializados a fim de garantir a segurança dos futuros usuários de seu serviço profissional. Esta formação também deve ser controlada porque tem como objetivo reproduzir o privilégio disciplinar do exercício privativo. Contudo, mesmo em que pese a real necessidade de conhecimentos técnicocientíficos para o desenvolvimento das atribuições e atividades do arquiteto e urbanista, evitando as intenções de “reserva de mercado”, e apostando na responsabilidade técnica e social da profissão como a verdadeira chave do reconhecimento e valor junto à sociedade, os cursos de Arquitetura e Urbanismo parecem não contemplam disciplinas a fim de habilitar o profissional a atuar em um mercado cada vez mais exigente, com inúmeras particularidades (GLANCEY, 2001, p. 13). Desse modo, acredita-se que as diretrizes curriculares gerais têm por objetivo qualificar o estudante para o exercício profissional, proporcionando ao futuro arquiteto e urbanista o domínio essencial das matérias necessárias à sua atuação, garantindo a habilitação única e fortalecendo seus conhecimentos especializados. Mas, poderiam ser incorporadas disciplinas que favorecessem a inserção e a manutenção desses profissionais no mercado, sendo o Marketing uma área elementar para incorporar tais atribuições a estes profissionais, que hoje são lançados sem uma noção real de mercado. A intenção é mostrar que a academia pode ser, ao mesmo tempo, um espaço de experimentação, sem deixar de contextualizar a realidade do mercado e da atuação a este futuro profissional. 67 Para exercer atividades como supervisão, orientação técnica, coordenação, planejamento, projetos, especificações, direção ou execução de obras, ensino, assessoria, consultoria, vistoria, perícia, avaliação (Lei 5.194/66), necessário se faz que a formação do futuro profissional contemple habilidades complexas e em campos bastante diversificados. Assim sendo, a formação do arquiteto e urbanista, em função das características da profissão, requer o desenvolvimento de competências para compreender, agir e decidir, em contextos diversificados e com a influência de vários agentes, simultaneamente, exigindo posturas de interação, diálogo, contraposição e tomada de decisão, o que justifica contemplar fundamentos de Marketing na sua formação. 4.5 Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC A Fundação Educacional de Criciúma – FUCRI, mantenedora da UNESC – foi criada pela lei n. 697, de 22 de junho de 1968, com cursos voltados para o Magistério. No decorrer de suas atividades, percebendo o constante crescimento do Sul do Estado de Santa Catarina, a instituição resolveu criar outras faculdades, visando satisfazer à crescente demanda empresarial (www.unesc.net). Sofreu alteração estatutária em 1973 e em 1988, e foi reconhecida de utilidade pública pelo Decreto Federal n. 72454/73, pelo Decreto Estadual n. 4336/69 e pelo Decreto Municipal n. 723/69. Começou a operar nas dependências do Colégio Madre Tereza Michel, com o curso pré-vestibular. Em 1971, passou a funcionar na Escola Técnica General Oswaldo Pinto da Veiga, atual SATC – Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão. Em junho de 1974, mudou para o atual Campus Universitário, 68 localizado no Bairro Universitário em Criciúma - SC. A FUCRI é a mantenedora da primeira escola de nível superior criada no Sul de Santa Catarina. A entidade emergiu de um movimento comunitário regional que culminou com a realização de um seminário de estudos pró-implantação do ensino superior no Sul Catarinense. O evento contou com a participação de educadores, intelectuais, políticos, magistrados, lideranças comunitárias da sociedade civil organizada e imprensa. Até setembro de 1991, a FUCRI mantinha quatro Unidades de Ensino: A FACIECRI, a ESEDE, a ESTEC e a ESCCA. Com o desencadeamento do Processo de Universidade, algumas ações foram executadas. Entre elas, a unificação regimental e a criação da UNIFACRI – União das Faculdades de Criciúma, resultante da integração das quatro escolas. Em novembro de 1991, foi protocolado, na SENESU/MEC, a Carta-Consulta com vistas à transformação da FUCRI em Universidade: UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense, sendo aprovada também pelo Conselho Estadual de Educação para extensão, em Araranguá, dos cursos de Ciências Contábeis e Pedagogia, a partir de 1992. Em 19 de fevereiro de 1993, o Conselho Estadual da Educação constituiu a Comissão de Acompanhamento, para efetivamente acompanhar o processo de sua transformação em universidade. Em 03 de junho de 1997, o Conselho Estadual da Educação aprovou por unanimidade o parecer do Conselheiro Relator, e em sessão plenária no dia 17 de junho, também por unanimidade aprovou, definitivamente, a transformação da FUCRI em UNESC, que definiu como sua missão “promover o desenvolvimento regional para melhorar a qualidade do ambiente de vida”. 69 No dia 11 de agosto daquele ano, a universidade recebeu sua homologação, o que equivale à sua “certidão de nascimento”, assinada pelo secretário de Educação, João Mattos, com a presença do vice-governador José Augusto Hülse. No dia 18 de novembro ocorreu a instalação oficial da UNESC, no Teatro Elias Angeloni, com a participação de autoridades, empresários, professores, alunos e funcionários da instituição. Voltada, prioritariamente, para a consolidação de sua concepção filosófica e para a incessante busca de aprimoramento da qualidade dos resultados em Ensino, Pesquisa e Extensão, nos últimos anos a UNESC realizou vultosos investimentos em sua infra-estrutura. Sua área construída saltou de 14.022m2, em 1997, para 41.238m2 em 2004. Por todo o campus, salas de aulas se multiplicaram, dezenas de laboratórios de última geração foram disponibilizados. A UNESC, hoje, está inserida em uma região onde o desenvolvimento econômico, durante anos, teve como alavanca a indústria da mineração de carvão. A mudança radical deste panorama, nas últimas décadas, com a economia voltando-se à diversificação, fez surgir novas demandas, para as quais a universidade tem procurado atender. Muitos dos cursos oferecidos tem esta peculiaridade, como os de Tecnologia em Cerâmica, Tecnologia em Automação Industrial, Tecnologia em Eletromecânica e Tecnologia em Moda e Estilo, criados por meio de parcerias com a comunidade. Até 1983, o diretor-presidente da FUCRI era eleito indiretamente. O partido político a que pertencia o prefeito indicava um ou mais nomes de sua preferência e o chefe do executivo municipal homologava. Dessa forma, a ingerência partidária na vida da, então, Fundação Educacional de Criciúma, era completa (www.unesc.net). 70 O direito de alunos e professores, em participar efetivamente, era sufocado completamente. Lideranças estudantis deflagraram um movimento histórico na vida universitária do Brasil. Greves e paralisações reivindicavam maior participação de alunos e professores na vida acadêmica. Em 1983, após uma greve de cerca de 90 dias, o resultado foi esta conquista histórica: de ser a primeira universidade do Estado a eleger seu dirigente por voto direto, universal e de igual peso. Seus fóruns permanentes, além de serem um diferencial da UNESC, representam um passo a mais na democracia representativa oriunda do voto universal. O atual reitor, Antônio Milioli Filho, aponta que os fóruns, além do aperfeiçoamento do processo democrático, são o fator mais sólido de garantia de participação. Representam um espaço democrático onde a participação se dá de forma efetiva, e onde todos podem contribuir igualitariamente nas decisões que definem o destino da universidade. 4.6 O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC O curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC é oferecido em turno vespertino, e sua habilitação oferece ao acadêmico o título de Arquiteto e Urbanista. Tem duração de cinco anos. Opera na Universidade do Extremo Sul Catarinense, situada na av. Universitária, 1105 - Bairro Universitário – em Criciúma – SC. Seu principal objetivo é o de formar o profissional em Arquitetura e Urbanismo tendo como base os seguintes princípios (www.unesc.net): - A qualidade de vida dos habitantes dos assentamentos humanos e a qualidade material do ambiente construído e sua durabilidade; - O uso da tecnologia em respeito às necessidades sociais, culturais, estéticas 71 e econômicas das comunidades; - O equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável do ambiente natural e construído; - A valorização e preservação da arquitetura, do urbanismo e da paisagem como patrimônio e responsabilidade coletiva. O mercado de trabalho de seus egressos está ligado aos setores públicos e privados, envolvidos no desenvolvimento patrimonial em maior escala, no setor econômico da construção e edificação, constituído por aqueles que contratam, conservam, projetam, constróem, mobiliam, financiam, regulam e operam no meio ambiente construído, para satisfazer as necessidades da sociedade. Seus futuros arquitetos podem trabalhar em uma variedade de situações e estruturas organizacionais. Por exemplo, operar autonomamente ou como membros de escritórios públicos ou privados. O fluxo curricular do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC conta com as seguintes disciplinas: 72 Disciplinas PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO A, B, C, D I HISTÓRIA E TEORIA DA ARTE, ARQUITETURA E URBANISMO I INTRODUÇÃO A SOCIOLOGIA ANÁLISE AMBIENTAL URBANA DESENHO E GEOMETRIA DESCRITIVA I ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO E REGIONAL ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA I INTRODUÇÃO A INFORMÁTICA NA ARQUITETURA E URBANISMO PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO A, B, C, D II HISTÓRIA E TEORIA DA ARTE, ARQUITETURA E URBANISMO II DESENHO E GEOMETRIA DESCRITIVA II ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA II HISTÓRIA E TEORIA DA ARTE, ARQUITETURA E URBANISMO BRASILEIRA CONFORTO AMBIENTAL E ERGONOMIA INTRODUÇÃO A TECNOLOGIA DA ARQUITETURA E URBANISMO METODOLOGIA CIENTÍFICA E DA PESQUISA I PROJETO DE ARQUITETUAR E URBANISMO A, B, C, D III HISTÓRIA E TEORIA DA ARTE, ARQUITETURA E URBANISMO III TEORIA E ESTÉTICA DA ARQUITETURA I CONFORTO AMBIENTAL, ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL SISTEMAS CONSTRUTIVOS E INSTALAÇÕES I SISTEMAS ESTRUTURAIS I COMPUTAÇÃO GRÁFICA APLICADA NA ARQUITETURA E URBANISMO ANTROPOLOGIA PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO A, B, C, D IV HISTÓRIA E TEORIA DA ARTE , ARQUITETURA E URBANISMO IV SISTEMAS CONSTRUTIVOS E INSTALAÇÕES II SISTEMAS ESTRUTURAIS II CONFORTO AMBIENTAL TÉRMICO PSICOLOGIA METODOLOGIA CIENTÍFICA E DA PESQUISA II MAQUETARIA TÓPICOS ESPECIAIS EM PROJETOS I PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO A, B, C, D V HISTÓRIA E TEORIA DA ARTE, ARQUITETURA E URBANISMO V SISTEMAS ESTRUTURAIS III FILOSOFIA PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO E TÉCNICA RETROSPECTIVA 73 DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO CONFORTO AMBIENTAL E ACÚSTICA PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO A, B, C, D VI SISTEMAS ESTRUTURAIS IV TOPOGRAFIA E INFORMAÇÕES GEOGRÁFICA PARA ARQUITETURA ASSENTOS URBANOS POPULARES COMUNICAÇÃO VISUAL NA ARQUITETURA E URBANISMO ANÁLISE CRÍTICA DA ARQUITETURA MODERNA LINGUAGEM FOTOGRÁFICA NA ARQUITETURA PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO A, B, C, D VII TEORIA E ESTÉTICA DA ARQUITETURA II ANÁLISE CRÍTICA DA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA I SISTEMAS CONSTRUTIVOS ALTERNATIVOS SOCIOLOGIA URBANA GERÊNCIA DE PROJETOS E OBRAS PLANEJAMENTO E GESTÃO URBANA PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO A, B, C, D VIII ANÁLISE CRÍTICA DA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA II TÓPICOS ESPECIAIS EM PROJETOS II SISTEMA DE INFRA-ESTRUTURA URBANA LEGISLAÇÃO E ÉTICA PROFISSIONAL ENSAIO TEÓRICO E HISTÓRICO ARQUITETURA E URBANISMO ESTÁGIO SUPERVISIONADO I ESTÁGIO SUPERVISIONADO II ANÁLISE CRÍTICA DA ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO I – TFG I TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II - TFG II Entende-se que, em seu fluxo curricular, fazem-se necessários conteúdos ligados ao Marketing, conforme serão demonstradas a seguir. Justamente em função das pesquisas realizadas neste trabalho, e em conformidade com os objetivos do próprio curso de Arquitetura e Urbanismo da UNESC. Entre eles, por exemplo, destaca-se: “usar tecnologia em respeito às necessidades sociais, culturais, estéticas e econômicas das comunidades” (www.unesc.net). 74 4.7 Conteúdos sugeridos no fluxo curricular Para que se possa melhor abordar o tema, a desmistificação do termo se faz necessária. A definição que se pretende salientar nesta pesquisa é a da visão do Marketing como envolvimento natural entre cliente, profissional e fornecedores – no sentido de detectar e atender necessidades, viando-se a satisfação. O Marketing para a Arquitetura não é meramente comercial, da compra e venda de produtos, até porque se está lidando com serviços, onde esta troca torna-se muito mais pessoal, em função de suas características. Neste sentido, pode-se afirmar que existem inúmeras lacunas na formação do arquiteto, principalmente no que diz respeito à humanização. Entende-se que a academia, por vezes, tem formado profissionais aptos a desenvolver projetos hipotéticos, para seres irreais. Mas, não capacita o profissional a relacionar-se, a ter aptidão para lidar com pessoas, dos mais variados níveis: clientes, fornecedores, concorrentes, prestadores de serviço, entre outros. No entanto, para a construção de um posicionamento profissional, é necessário que ele tenha habilidade para “vender” sua imagem, seu serviço. A imagem parece ser ainda mais importante para o novo profissional, pois pouco pode mostrar de seu trabalho pela pouca produção realizada. Assim, ele precisa de muito mais competência para convencer um cliente de que é a pessoa certa para desenvolver seu projeto. Neste contexto, o Marketing, entendido como uma atitude ou filosofia de gestão, que tem por objetivo promover a satisfação das necessidades e desejos do consumidor, pode auxiliar os novos profissionais a apresentarem-se aos mercados mais preparados, a fim de que possam atuar desde o início com maior eficiência. Isso porque, a atividade 75 representa uma prática que consiste em detectar, reconhecer, e/ou antecipar as necessidades ou desejos do consumidor. A seguir, visa alcançar a satisfação dessas necessidades ou desejos através da criação e oferta no mercado de um produto certo, no momento certo, no local certo e ao preço certo, usando os meios de comunicação adequados. O ponto de partida é, portanto, as necessidades, os desejos, os motivos e as procuras específicas dos clientes em potencial. Assim, os prestadores de serviços, entre eles os arquitetos e urbanistas, tal como as organizações, devem procurar manter relações de troca com o seu público. Por isto, necessitam conhecer técnicas que auxiliem esse relacionamento com o mercado, ou seja, com os seus clientes, pelo fato de que esses profissionais atuam em um ambiente mercadológico e estão em constante relação com ele. Cabe, portanto, também incorporar na proposta dos conteúdos a serem sugeridos conhecimentos referentes a noções sobre gestão, ética profissional e social, contrato, posicionamento de mercado e honorários. Assim, um fluxo curricular que contemple conteúdos de Marketing, aplicado a cursos de Arquitetura e Urbanismo, deve ter como objetivo fundamental: - Desenvolver a compreensão e a capacidade da tomada de decisão para formulação de estratégias de relacionamento e interação com os clientes, nas situações complexas que caracterizam os serviços profissionais desse ramo. Além deste objetivo geral, outras metas podem ser elencadas: - Proporcionar uma formação especializada para o setor específico de Arquitetura e Urbanismo; - Estimular a reflexão e a aplicação prática de conceitos à análise das 76 situações estruturais e conjunturais da área; - Compreender princípios e conceitos centrais de Marketing; - Dotar os alunos com os conceitos e instrumentos básicos associados às decisões sobre os serviços que irão prestar, bem como sobre os elementos do Marketing Mix: Produto, Preço, Distribuição (Praça) e Comunicação (Promoção); - Desenvolver qualidades de tomada de decisão aplicando conceitos de Marketing a problemas reais durante o relacionamento com o cliente; - Obter experiência no desenvolvimento de estratégias comerciais para os serviços em várias fases do ciclo de vida do produto; - Favorecer o desenvolvimento de qualidades de comunicação com o cliente, promovendo o debate de idéias e a partilha de conhecimentos. Com base nestas metas, acredita-se que os conteúdos de Marketing no curso em questão devem englobar os seguintes pontos básicos: A. Conceitos gerais de Marketing: - Marketing não é apenas Promoção (propaganda e publicidade). - O que é Marketing. - Objetivos do Marketing. - Fundamentos do Marketing. - Marketing de Relacionamento e interação com o cliente. - Como o Marketing reduz a importância da questão do preço na relação com o mercado. B. Fundamentos de um “bom vendedor” de serviços (arquiteto): - Pequenos e grandes detalhes que fazem diferença na hora da negociação. 77 - Os principais obstáculos da negociação. - Os principais problemas enfrentados pelos profissionais durante o processo de negociação e venda dos seus produtos. - Ética e responsabilidade social do arquiteto e urbanista. - As alternativas para mais interessantes de mídia para os serviços de arquitetura. C. Orçamento, negociação e contrato: - As múltiplas utilidades de um orçamento. - A forma de apresentação de um orçamento. - O conteúdo básico de um orçamento eficiente. - Como transformar um orçamento em um contrato. Estes conteúdos deverão ser ministrados através de aulas teóricas, leituras, discussões de casos, resoluções de exercícios práticos e da elaboração de um Plano de Marketing na área de prestação de serviços. Neste sentido, acredita-se que, com conteúdos desta natureza em seu currículo de formação, o futuro arquiteto e urbanista será capaz de, mais eficientemente: - Identificar seu mercado-alvo, conhecer a fundo seus clientes e criar produtos e serviços que atendam às suas necessidades; - Identificar seus concorrentes, seus pontos fortes e fracos, e o rumo que estão tomando, para desenvolver uma estratégia de sucesso competitivo; - Descobrir as tendências do mercado para planejar com antecedência as mudanças de direção; - Identificar oportunidades para a criar novos serviços inéditos, baseados nos anseios do mercado; - Definir quais ações tomar para alcançar o melhor resultado, no menor prazo 78 e com um mínimo de investimentos; - Criar a seleção mais eficiente de canais e ações de propaganda e publicidade, deixando de gastar naquilo que não traz resultados; - Ter em mãos o desenho da possibilidade de maior sucesso em sua profissão. Além disso, acredita-se que, conhecendo os fundamentos de Marketing o arquiteto será capaz de analisar a fundo todo e qualquer aspecto de seu negócio. Posicionamento, preços, distribuição, promoção e seu perfil no mercado – tudo com uma meta clara e definida: construir o melhor negócio e obter a maior lucratividade. 79 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na Arquitetura há um verdadeiro relacionamento profissional e é, justamente nesta troca, entre o cliente e o profissional, que os projetos acontecem. Seu sucesso depende muito do grau de envolvimento neste relacionamento. O projeto é o foco principal, porém o sucesso do arquiteto só pode ser medido pela satisfação das expectativas do cliente. Ao final desta investigação acredita-se que fica confirmada a hipótese que sustentou todo o trabalho: é indispensável a inclusão de conteúdos de Marketing no fluxo curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, a fim de facilitar o sucesso profissional de seus egressos, à medida que lhe confere, entre outros pontos, o estudo das necessidades e desejos de seus futuros clientes. Seu objetivo geral também foi atingido: percebeu-se a real necessidade de conteúdos de Marketing no fluxo curricular dos cursos de arquitetura e urbanismo. Em especial, no da Universidade de Extremo Sul Catarinense. Da mesma forma, com relação a suas metas específicas: conheceu-se detalhes sobre a importância do Marketing como um todo; verificou-se as principais necessidades da Arquitetura e Urbanismo hoje; e apresentou-se fundamentos para a inserção de conteúdos ligados ao mercado na faculdade em questão. O profissional de Arquitetura, hoje, como em outras áreas, necessita incorporar uma visão mais direcionada ao seu produto ou serviço, buscando enriquecer de certa forma essas trocas, otimizando potencialidades e minimizando diferenças. A identificação do cliente, com o arquiteto, dependerá da abertura, da 80 sensibilidade e da busca pela essência, do aprofundamento no cliente, do envolvimento natural entre as partes. O profissional arquiteto já parte de um envolvimento natural com o cliente, pelo simples fato de penetrar, de certa forma, em sua privacidade, para que possa compreender suas reais necessidades, anseios, individualidades. Cada cliente é único, e a maior dificuldade do trabalho é que na Arquitetura lida-se sempre com pessoas, e estas são extremamente diferentes umas das outras. Para que se possa atender suas expectativas, a dedicação do profissional na compreensão do cliente será seu diferencial. O profissional de serviços, onde se inserem os arquitetos e urbanistas, que atuam em um mercado globalizado e competitivo, necessita ter conhecimento e adotar técnicas de Marketing, pelas suas características particulares de ofertar um bem intangível. Isto porque toda empresa ou profissional atua em ambientes que, geralmente, têm como característica a instabilidade. As modificações que ocorrem são freqüentes e sugerem que se conheçam fundamentos de Marketing para que possa adaptar às novas situações. Na verdade, nesta nova economia, os clientes são cada vez mais sofisticados e exigentes, o que requer o conhecimento dos conceitos e ferramentas de Marketing em qualquer profissão. Portanto, a Arquitetura não podia ficar alheia a esta problemática, devendo seguir o que vem acontecendo em outros setores da economia, onde o Marketing tem demonstrado a sua aplicabilidade. Contudo, mesmo que a referência ao Marketing esteja normalmente associada ao mundo dos negócios e, de fato, às técnicas de Marketing desenvolveram-se na área empresarial, estas podem ser adotadas nas empresas de serviços e por seus profissionais. Entende-se que o arquiteto que deseja vencer e sobreviver neste ambiente precisa desenvolver uma nova filosofia de trabalho. Apenas as empresas e os profissionais 81 orientados para os consumidores vencerão. Serão aqueles que podem oferecer valor superior a seus consumidores-alvos. Somente as empresas cujo objetivo for o de encantar o cliente é que vencerão no mercado. Assim sendo, é através de conteúdos de Marketing que os futuros profissionais terão melhor relação com o mercado, podendo conhecer e atender às necessidades e desejos dos consumidores, a fim de que possam criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais. Porém, é interessante destacar que o que se pretendeu a partir deste trabalho, não é, de forma alguma, minimizar a importância da qualidade dos projetos arquitetônicos. Mas, sim, tentar auxiliar os profissionais que apresentam trabalhos de qualidade a aplicarem os conceitos de Marketing em seus escritórios, para otimizar sua prestação de serviço. Partiu-se do pressuposto de que um escritório de Arquitetura precisa prezar pelo atendimento, compreender profundamente seu mercado e clientes, apresentar orçamentos claros e objetivos, adequar honorários às realidades mercadológicas. Além, é claro, de oferecer produtos de qualidade, cumprindo os prazos previamente estabelecidos, sempre com muita responsabilidade sobre os serviços prestados. Assim, os prestadores de serviços, entre eles os arquitetos e urbanistas, tal como as organizações lucrativas, devem procurar manter relações de troca com o seu público. Por isto, necessitam conhecer técnicas que auxiliem essa relação com o mercado, ou seja, com os seus clientes, pelo fato de que estes profissionais possuem um mercado e estão em constante relação com ele. Concebe-se, desse modo, que, usando da capacidade de planejamento de um urbanista e da visão espacial de um arquiteto, o Marketing ajudará a planejar seu 82 posicionamento no mercado, através de técnicas eficientes de atração, manutenção, relacionamento e encantamento com seus clientes. A intenção foi a de mostrar que a academia pode ser, ao mesmo tempo, um espaço de experimentação, contextualizando a realidade do mercado e a atuação dos atuais e futuros profissionais desta área. Enfim, o Marketing, entendido como uma atitude ou filosofia de gestão, tem por objetivo promover a satisfação das necessidades e desejos do consumidor. Pode ser de grande utilidade se incorporada na formação dos futuros arquitetos. Isso porque é uma prática que consiste em detectar, reconhecer e antecipar as expectativas do mercado. Este pode ser satisfeito através da adaptação de projetos e ofertas de produtos ou serviços, desenvolvido de forma diferenciada, no momento certo, no local indicado e a preço compatível. 83 REFERÊNCIAS BATESON, John E. G.; HOFFMAN, K. Douglas. Marketing de serviços. 4.ed. Porto Alegre : Bookman, 2001. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. COMISSÃO DE ESPECIALISTAS DE ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO. Expansão, Reconhecimento e Verificação Periódica dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo, Diretrizes Curriculares Gerais. Portaria Nº 1.770 - MEC , de 21 de Dezembro de 1994. COBRA, Marcos; ZWARG, Flávio A. Marketing de serviços: conceitos e estratégias. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1994. CHURCHILL JUNIOR; PETER, J. Paulo. Marketing: criando valor para os clientes. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. 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