ORDEM, CONVITE E PERSUASÃO NO DISCURSO PUBLICITÁRIO. Elis Tayná Pacheco (UNICENTRO), Denise Gabriel Witzel (Orientadora) e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências Humanas Letras e Artes, Departamento de Letras, Guarapuava, Paraná. Palavras-chave: efeitos de sentido, linguagem, publicidade, sujeito, verbos . Resumo: Pensando que a publicidade não possui apenas o intuito da venda de determinados produtos, mas também é capaz de criar um mundo onde os sonhos, as idealizações fazem-se presentes, este trabalho visa identificar o poder que a publicidade produz ao usar uma linguagem altamente sedutora, regada ao uso de algumas categorias gramaticais, neste caso nos atemos ao uso dos verbos que na maioria das vezes são usados a fim de persuadir o interlocutor. Introdução Que efeitos de sentido são produzidos nos discursos enunciados em propagandas que dão uma ordem ou expressam um convite? Instigados por essa questão e pelo fato de que a publicidade, muitas vezes, joga com os verbos no modo imperativo, para criar efeitos de ordem e/ou convite, interessamo-nos em observar analiticamente o jogo de relações linguísticodiscursivo provocado por tal categoria gramatical. Visando à função e finalidade básica da propaganda, ou seja, persuadir um público-alvo particular a transformar seu desejo em compra, ela cria poderosas estratégias que exaltam as vantagens de se escolher um produto ou serviço. Muitas vezes, esse aconselhamento se reveste de um discurso autoritário. Para isso, vale-se de recursos linguístico-discursivos que nossa língua dispõe, procurando dizer exatamente o que o leitorconsumidor gostaria de ouvir; argumentando, invariavelmente, que o produto modificará positivamente sua vida. Os efeitos discursivos pretendem provocar o interesse do consumidor; estimular o desejo de compra; imprimir o nome do produto no imaginário, criando a convicção de que é necessário adquiri-lo. Dentre os recursos engenhosamente utilizados, ganha especial relevo a categoria dos verbos. Este estudo sobre o funcionamento discursivo dos verbos permitirá desenvolver reflexões de ordem teórica e analítica que, certamente, contribuirão em três pontos cruciais no estudo da linguagem: gênero textual, a partir de considerações sobre o texto publicitário; classe gramatical dos verbos; a relação entre o linguístico e o discursivo. Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – 2238-7358 Material e Métodos A pesquisa tomará como norte dois procedimentos teórico-metodológicos: tratará inicialmente da questão gramatical dos verbos e, depois, da questão discursiva tendo em conta a relação entre língua, discurso e sujeito. Com relação aos verbos, é necessário lembrar que estamos tratando de uma das dez classes de palavras, conforme segmentação da GT. Segundo Bechara (2009. p.209), entende-se por verbo a unidade de significado categorial que se caracteriza por ser um molde pelo qual organiza o falar seu significado lexical. Eles exprimem um processo, isto é, uma ação que o sujeito faz ou sofre. Podem também exprimir a e existência do sujeito, seu estado, exaltando a relação entre predicativo e o sujeito. Para Azeredo (2008, p. 180), verbo “é uma espécie de palavras que ocorre nos enunciados sob distintas formas (vocábulos morfossintáticos) para a expressão das categorias de tempo, aspecto, modo, número e pessoa”. Sobre a Análise do Discurso (AD), trata-se de um campo edificado por Michel Pêcheux na França, a partir da década de sessenta. Nasceu do questionamento sobre o “corte saussureano” e a epistemologia da Linguística imanente, dedicada ao estudo da língua enquanto abstração. Para a AD, ao contrário, a linguagem só interessa porque há uma inevitável relação entre a língua e a exterioridade, na medida em que os sujeitos estão inscritos em posições sociais e, portanto, submetidos às conjunturas históricas. Orlandi (2006), ao explicar que a Análise do Discurso se constitui como uma disciplina de entremeio entre a linguística e as ciências sociais, argumenta que a AD desloca a dicotomia entre língua e fala, na medida em que propõe uma relação não dicotômica entre língua e discurso. Isso porque, no discurso, coexiste o linguístico, o social e histórico de forma indissociada. Considerando, pois, que não há uma separação estanque entre o lugar em que acontece a linguagem (o linguístico) e a exterioridade (sujeito e história) necessária para que se possa apreender o seu funcionamento, partimos do princípio de que as reflexões de Michel Foucault sobre a relação entre discurso e história, que tem demonstrado sua relevância em inúmeros trabalhos científicos desenvolvidos no interior da AD, possibilitam-nos investigar o funcionamento linguístico discursivo dos verbos a serem arregimentados para esta investigação, na esteira dos trabalhos de Gregolin (2004). Feito este breve esclarecimento teórico a respeito da pesquisa, visto que essa visa identificar os efeitos de sentidos que os verbos instauram na publicidade, selecionei duas peças publicitárias, que foram retiradas da Revista Veja nos anos de 2008 e 2009, as quais foram analisadas pelo viés da AD de linha francesa. Destaco nesse corpus o uso de variações verbais, algumas ordenando, outras remetendo à sedução e, por fim, as que buscam persuadir o receptor. Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – 2238-7358 Figura 1- PP da revista Superinteressante Figura 2-PP de perfume Resultados e Discussão Na primeira peça, tem-se no primeiro momento uma maçã com o seguinte enunciado: Para um feirante, 4 reais o quilo; no segundo momento, o que vemos é uma maça em pedaços, com o seguinte enunciado: para quem lê a Super. Em seguida, cada pedaço possui informações de determinados momentos históricos, entre eles: Nenhuma vez a maça é citada na Bíblia como o fruto proibido..., Uma maçã tem 12 substâncias que previnem e combatem o cânce”, entre outros enunciados. Ao final da página temos enxergue super, em que o verbo no imperativo determina uma ordem ao leitor. Nessa determinação, a colocação em discurso do verbo convoca outros sentidos advindos de uma rede de memória formulada em torno do leitor competente, ou seja, do leitor que interpreta e estabelece relação entre o que é dito e o que não é dito (os implícitos). O efeito promessa reside no ‘convite’ para que o consumidor, pressupostamente ainda um leitor que não enxerga “super”, a enxergar o que ninguém mais consegue enxergar, tornando-se um sujeito mais informado, aquele que não vê apenas o que está diante dos seus olhos e isso só será possível, segundo a peça em questão, se o leitor cumprir a ordem, comprar e ler a revista Superinteressante. A segunda peça é uma publicidade de perfume. Nela observamos um homem cercado por várias e lindas mulheres, com o seguinte enunciado: Como conquistar as mulheres em 10 passos: primeiro você usa Zaad e depois dá os outros 9 passos na direção delas. Zaad .Prepare-se para conquistar. Os verbos usa e dá não estão no imperativo, mas juntamente com o imperativo prepare-se estão exprimindo ordens ao leitor/consumidor. Observar-se, no efeito promessa desse discurso, o atravessamento de outros enunciados que falam do poder de sedução masculino, possibilitando uma linha de análise que dá visibilidade à constituição identitária do sujeito homem na modernidade. Nas estratégias mobilizadas, mais precisamente no uso dos verbos orientando o consumidor para o que ele deve fazer, cerceando suas condutas, ressaltam-se as atualizações de discursos idealizadores do modo de ser homem desde tempo quase imemoriais: aquele capaz de ter muitas mulheres a sua volta. Para que isso aconteça, ele, o homem, deve ser seduzido pela propaganda a comprar o perfume e assim poder conquistar. Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – 2238-7358 Conclusões A publicidade é um campo onde várias linguagens são convocadas, e por meio dessa linguagem ela consegue estimular a venda de produtos a determinado público. Olhando o uso dos verbos, verificamos que na maioria dos casos essa categoria gramatical é usada a fim de convencer, persuadir o interlocutor a obter determinado produto, e que grande parte das vezes esses verbos ordenam o receptor a fazer algo que a publicidade lhe impõe. Podemos dizer, então, que a publicidade age também sobre os comportamentos e sobre as práticas identitárias de seu público, pois mostra o que devemos vestir, o que devemos comer, o que devemos comprar e como devemos agir. Daí concluirmos que o discurso publicitário é, antes de tudo, um prática discursiva prescritiva que se impõe no nosso cotidiano. Agradecimentos À Professora Denise Gabriel Witzel, quem me proporcionou mergulhar nesse mundo mágico da AD e pelo incentivo à pesquisa. Referências AZEREDO, José Carlod. Gramática Houaiss da língua Portuguesa.São Paulo: Publifolha, 2008 BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. CARRASCOZA, João Anzanello. A evolução do texto publicitário: a associação de palavras como elemento de sedução na publicidade. São Paulo: Futura, 1999. CARVALHO, Nelly. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 2004. COURTINE, Jean-Jacques. Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. São Carlos: EdUFSCar, 2009. CUNHA, Celso. CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 5.ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2008. FERNANDES, Cleudemar Alves. Análise de discurso: reflexões introdutórias. 2.ed. são Paulo: Claraluz, 2007. FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. _____. 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