CORREIOBRAZILIENSE Caderno Cidades - 20/dezembro/2007 BRASÍLIA LEGAL Concessões vencidas Igrejas e templos ocupam terrenos públicos sem autorização ou com documentos antigos. GDF e MP estudam regularização Helena Mader Da Equipe do Correio Depois do início da regularização dos condomínios, o governo Fotos: Adauto Cruz/CB estuda uma forma de resolver o problema dos terrenos ocupados 17/12/2007 por igrejas e templos. Quase todos os lotes onde há instituições religiosas no Distrito Federal estão irregulares. A estimativa da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) é que quase 1 mil igrejas católicas e evangélicas funcionam em áreas públicas sem contrato de concessão de uso ou com a autorização vencida. Tanto o GDF como as lideranças religiosas querem colocar um ponto final nessa irregularidade. Para isso, o governo e o Ministério Público vão assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que vai Igrejas católicas e evangélicas, estabelecer as novas regras para a regularização dessas como a Sara Nossa Terra no instituições. Há cerca de 800 templos evangélicos e 180 igrejas Sudoeste, ocupam irregularmente católicas com irregularidades fundiárias no Distrito Federal. terrenos públicos. Terracap quer legalizar Na semana passada, o presidente da Terracap, Antônio Gomes, reuniu-se com o procurador-geral de Justiça do DF, Leonardo Bandarra, e com promotores das áreas de defesa do patrimônio público e da ordem urbanística. Ele apresentou a proposta do governo para regularizar os terrenos ocupados por igrejas e se comprometeu a elaborar uma minuta do acordo, que deve ficar pronta até o início de janeiro. O governo também vai enviar à Câmara Legislativa um projeto de lei, com as normas para a legalização desses terrenos. A São Pio é uma das 180 igrejas católicas que espera a assinatura A idéia do GDF é fazer concessões de direito real de uso às igrejas do acordo entre governo e promotores para continuarem a ocupar os terrenos por um prazo de 30 anos renováveis. Com a concessão, os beneficiados pagariam uma taxa anual ao governo, pelo uso da área. Mas nem todos os templos serão beneficiados. “Nossa intenção é resolver o problema das igrejas, mas nem todos os terrenos são passíveis de regularização. Além disso, há templos em áreas residenciais, cuja regularização vai exigir outras discussões. A maioria das igrejas da cidade está com contrato vencido ou não tem contrato nenhum”, explica o presidente da Terracap, Antônio Gomes. Acordo O governo procurou o Ministério Público para estabelecer normas de regularização que não sejam questionadas no futuro. “Por isso tivemos a idéia de fazer um TAC, a exemplo do que fizemos para acelerar a legalização dos condomínios. É preciso discutir cada caso. Há igrejas com outras atividades no terreno, como escolas ou emissoras, por exemplo. Vamos decidir como será a solução de cada um desses problemas”, esclarece o presidente da Terracap. 1 CORREIOBRAZILIENSE Caderno Cidades - 20/dezembro/2007 O promotor Libânio Rodrigues, assessor de políticas institucionais do Ministério Público, explica que o MP vai analisar os mecanismos legais apropriados para a regularização dos terrenos ocupados por igrejas. “Há muitos anos, várias instituições receberam concessões de direito real de uso, que venceram e não puderam ser renovadas. Hoje, há entidades que recebem muitas contribuições e poderiam comprar o terreno do governo. Mas sabemos que há várias instituições que não têm condições para comprar o lote. Por isso, pedimos ao GDF um levantamento completo sobre a situação. Precisamos conhecer a realidade dessas igrejas”, explica o promotor. “Também é nosso interesse resolver essa situação”, acrescenta Libânio. Alívio Para o presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal, Josimar Francisco da Silva, a regularização dos templos vai beneficiar os religiosos e a cidade. “Lutamos por isso há anos e estamos acompanhando todas as negociações sobre o assunto. A solução para esse problema seria um grande alívio, já que cerca de 800 das 2 mil igrejas da cidade têm problemas com terrenos”, explica o pastor. “Já fizemos o cadastro de todas as igrejas de Brasília e enviamos ao governo. Há terrenos em áreas da Terracap, da União e outros em áreas residenciais. Cada um terá uma solução apropriada”, diz o pastor. O arcebispo de Brasília, dom João Braz de Aviz, concorda com a urgência em regularizar a situação. Ele acredita que a legalização dos terrenos será um alívio. “Fizemos uma reunião com todos os padres da Arquidiocese e com o governador José Roberto Arruda, que nos garantiu que levaria esse projeto adiante. Esperamos que haja uma solução rápida, todos estão na expectativa”, explica o arcebispo. Dom João destaca ainda a importância de o governo destinar terrenos para igrejas no momento de planejar os novos bairros. “Pedimos ao governador para que haja uma reserva de terrenos para igrejas, quando forem criadas novas áreas residenciais”, acrescenta o arcebispo de Brasília. O NÚMERO O problema 1 mil é o número de lotes ocupados indevidamente Memória O problema das igrejas surgiu em 2001, quando a Câmara Legislativa aprovou a lei 2.688, que autorizava a doação de lotes para entidades religiosas, culturais e assistenciais. Em contrapartida, as instituições teriam que prestar serviços à comunidade. Com base nessa legislação, centenas de terrenos foram doados para a construção de templos católicos, evangélicos e ortodoxos, que ergueram as igrejas dentro da legalidade. Mas em 2002, o Ministério Público questionou a lei 2.688 e a Justiça considerou a matéria inconstitucional. O entendimento foi de que a doação fere os princípios de isonomia, impessoalidade, moralidade e de interesse público. O TJ argumentou ainda que a constituição veda a subvenção a cultos religiosos e igrejas. 2 CORREIOBRAZILIENSE Caderno Cidades - 20/dezembro/2007 Com o julgamento, os terrenos das instituições caíram na ilegalidade. A Terracap tentou licitar os lotes, mas as entidades religiosas questionaram o processo, já que muitas não teriam condições de dar lances pelos terrenos. Um lote ocupado pela igreja evangélica Sara Nossa Terra no Sudoeste, por exemplo, foi avaliado em 2002 por R$ 4 milhões. Também localizada no Sudoeste, a paróquia São Pio, na EQRSW 2, também depende do TAC das igrejas para regularizar sua situação fundiária. 3