Antropologia Cultural

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Antropologia
Cultural
Autora
Priscila Rezende
2009
Esse material é parte integrante do Aulas Particulares on-line do IESDE BRASIL S/A,
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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
R467
Rezende, Priscila.
/
Antropologia Cultural.
/
Priscila Rezende. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.
92 p.
ISBN: 978-85-7638-853-1
1. Etnologia. 2. Antropologia. 3. Etnocentrismo. I. Título.
CDD 306
Todos os direitos reservados.
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel
80730-200 • Curitiba • PR
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Sumário
Introdução aos estudos antropológicos | 7
Delimitações da Antropologia Cultural | 7
Trabalho: atividade humana | 8
Cultura: definição | 8
Principais acepções do termo cultura | 13
Cultura material | 13
Cultura imaterial | 14
Cultura real (ação e pensamento) | 18
Cultura ideal (filosofia correta em termos teóricos) | 18
Endoculturação | 18
Aculturação | 18
Subcultura | 19
Sincretismo cultural | 19
Raça | 19
Etnia | 19
Relativismo cultural | 19
Etnocentrismo | 20
Mito: elemento da cultura | 23
Mitologia nórdica | 24
Folclore | 24
Psicologia Social | 25
A questão do outro | 29
A conquista da América | 29
Colombo: o observador da natureza | 30
Colombo e os indígenas | 30
A conquista da Cidade do México | 31
A comunicação como arma do dominador | 32
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A conquista da América e as formas de dominação espanhola | 35
Os espanhóis e os signos | 35
A escravidão gerada pelo colonialismo | 36
O indígena como o “alien”(estranho) para os espanhóis | 37
Diego Durán e a cultura asteca | 37
Bernardino de Sahagún | 38
Onde estava o povo civilizado? | 39
Conquista do Brasil: historiografia e educação | 43
O conflito entre indígenas e portugueses | 43
A conquista e a proteção da “nova terra” | 44
A história dominante nos livros didáticos | 45
O educador e o ensino crítico | 46
O enfrentamento dos mundos | 51
A chegada do europeu na “Ilha Brasil” | 51
Fontes oficiais | 53
A Carta, de Pero Vaz de Caminha | 54
Composição étnica do Brasil | 59
Os brasilíndios | 59
Os afro-brasileiros | 60
Cultura nacional e identidade | 65
A busca da identidade nacional na década de 1920 | 65
A configuração da nação | 66
A História do Brasil e os livros didáticos | 67
O modernismo e a identidade brasileira | 68
A intolerância gerada pelo etnocentrismo | 73
Nazismo: um breve relato | 73
A figura de Hitler | 76
Gabarito | 81
Referências | 87
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Apresentação
Como o ser humano
um dia fez uma pergunta
sobre si mesmo, tornou-se o
mais ininteligível dos seres.
Clarice Lispector
Este livro, Antropologia Cultural, foi organizado para que você, aluno, tenha acesso aos principais conceitos de cultura, processo de humanização, inserção do indivíduo no grupo social, dominados e dominantes, as
matrizes étnicas formadoras do povo brasileiro, a aceitação das diferenças
culturais, intolerância e etnocentrismo.
O livro foi elaborado para proporcionar um ensino moderno, dinâmico e atualizado. Ele é dividido por aulas que foram baseadas em diversos referentes teóricos atuantes nas Ciências Humanas como: antropólogos, historiadores, cientistas sociais, teóricos da educação etc.
A escolha de referentes teóricos que atuam em diversas áreas foi
proposital, posto que, não podemos entender a complexidade humana, objeto de estudo da Antropologia, se não perscrutarmos as potencialidades,
comportamentos, mentalidades dos seres humanos. Assim sendo, todas as
áreas de conhecimento precisam se unir, cada uma dentro do seu limite de
investigação, para que seja possível compreendermos melhor este grande e
enigmático “quebra-cabeça” que somos todos nós. Portanto, podemos afirmar que este livro é interdisciplinar, pois proporciona o diálogo com diversas áreas do conhecimento.
No plano didático, a principal preocupação foi a de despertar a participação de você, aluno, na reflexão sobre os assuntos discutidos. Nesse
sentido, o livro traz textos complementares e questões reflexivas sobre os
assuntos abordados em cada aula. Além disso, há indicações bibliográficas importantes, para que você possa se aprofundar mais nos estudos e
buscar outras fontes para o seu aprimoramento intelectual.
Espero que você, por meio da reflexão antropológica, amplie sua
consciência de que todos nós, seres humanos, estamos unidos, embora
tenhamos maneiras diferentes de viver. Aprender com o diferente é aceitá-lo e amá-lo incondicionalmente. Somente assim poderemos vencer a
intolerância que é fruto do desconhecimento.
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A conquista da América
e as formas de
dominação espanhola
Os espanhóis e os signos
Os espanhóis, ao conquistarem a Cidade do México, procuraram formas para dominar mais facilmente os astecas e não se importavam em aceitar a cultura deles, pois afirmavam que eles eram
selvagens e sem “cultura”. Para o colonizador Hernán Cortés (ou Fernando Cortés) e seus homens o que
importava era coletar a maior quantidade possível de ouro.
Cortez, para conseguir mais ouro, procurava entender os rituais astecas para dominá-los facilmente. Sua expedição se iniciou na busca de informações. Para isso, conseguiu a ajuda de um espanhol
que vivia junto com os indígenas, Jerônimo de Aguilhar. Aguilhar era componente de expedições anteriores a de Cortez, além da língua espanhola falava a língua dos maias. A segunda personagem essencial
para que Cortez pudesse coletar o maior número de informações possível sobre os astecas foi Malinche.
Malinche era uma mulher asteca que tinha sido vendida para os maias. Cortez falava para Aguilhar que
traduzia para Malinche que, por sua vez, se dirigia para o interlocutor asteca.
Malinche, aos poucos, aprendeu a língua espanhola e ajudou Cortez ensinando-o tudo sobre o
povo asteca, o que facilitou muito a sua conquista. Foi definitivamente graças ao domínio dos signos
dos homens que Cortez garantiu seu controle sobre a antiga confederação asteca.
A compreensão da cultura asteca para Cortez não fez com que ele simpatizasse por ela, pelo contrário, suscitou nele um desejo de aniquilação.
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Antropologia Cultural
Cortez mostrou interesse pela arquitetura e organização artística dos astecas, no entanto, considerava os objetos e não os mexicas (astecas).
Para Cortez os indígenas não tinham direito a nada, e a escravidão era vista por
ele como uma forma de grandes lucros. Como os indígenas eram considerados mercadorias e não sujeitos, deveriam submeter-se espontaneamente ou pela força.
Wikipédia.
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O tomar leva a destruir. Milhões de indígenas foram exterminados por meio
de formas macabras, por este motivo, podemos falar que foi um genocídio. As
causas da diminuição da população indígena executada pelos espanhóis, segun- Fernando Cortez.
do o autor Tzvetan Todorov, são três. Vejamos cada uma delas:
Por assassinato direto, durante as guerras ou fora delas: número elevado, mas relativamente pequeno; responsabilidade direta.
Devido a maus tratos: Número mais elevado; responsabilidade (ligeiramente) menos direta.
Por doença pelo “choque microbiano”: a maior parte da população; responsabilidade difusa e indireta. (TODOROV,
1999, p. 159)
Os espanhóis submetiam os indígenas aos mais tortuosos métodos. Cortavam-lhes as mãos, as
pernas, os braços, os seios das mulheres etc., eles eram mutilados e depois friamente assassinados. Os
espanhóis faziam isso para que os indígenas ficassem com medo de tamanha crueldade e os levassem
até o suposto esconderijo dos tesouros, ou seja, o lugar que tinha ouro e pedras preciosas. De qualquer
modo, o desejo de enriquecer não pode explicar esse comportamento sanguinário dos espanhóis. Vejamos o que diz Todorov (1999, p. 170) acerca desse fato: “É tudo como se os espanhóis encontrassem
um prazer intrínseco na crueldade, no fato de exercer poder sobre os outros, na demonstração de sua
capacidade de dar a morte”.
Para os espanhóis, os indígenas eram seres inferiores que estavam a meio caminho entre os
homens e os animais. Isso justifica a submissão que deveriam mostrar diante dos “civilizados” espanhóis.
Se os povos indígenas recusassem em conceder seus territórios aos espanhóis estariam desobedecendo a “lei” da Igreja que visava catequizar e destruir tudo o que era “pagão” e, desse modo, seriam dignos
da escravidão.
Os espanhóis se intitulavam juízes dos mexicas, afirma Todorov (1999, p. 179):
Os espanhóis, à diferença dos índios, não são unicamente parte, mas também juízes, já que são eles que escolhem os
critérios segundo os quais o julgamento será pronunciado; decidem, por exemplo, que o sacrifício humano diz respeito
à tirania, mas o massacre não.
Os indígenas, para os espanhóis, eram vistos como animais selvagens, ou seja, eram seres animados, porém, não possuíam alma, assim, eram dignos de submissão. Essa foi a mesma justificativa dada
pelos europeus quando escravizaram os negros.
A escravidão gerada pelo colonialismo
O cristianismo foi o elemento principal para rotular àqueles que o seguiam, segundo a Igreja
Católica, como superiores e àqueles que o desconheciam, como inferiores. Os espanhóis se sentiam superiores, também, por serem cristãos e terem os sacramentos da Igreja. Eles se auto-reconheciam como
instrumentos para a salvação dos indígenas e os livrariam da “barbárie” e das “heresias”.
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A conquista da América e as formas de dominação espanhola
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Frei Bartolomé de las Casas nasceu em Sevilha em 1474. Foi um frade dominicano, cronista,
teólogo, bispo de Chiapas (México), considerado o primeiro sacerdote ordenado na América. Ele
vai “defender” os indígenas em nome do cristianismo, no entanto, a libertação do indígena não foi
cogitada por ele.
Las Casas tinha uma teoria um tanto quanto curiosa, para ele os indígenas não precisavam ser bons
cristãos, mas deveriam agir como se fossem. Isso porque, ser cristão era sinônimo de ser “civilizado”.
Os espanhóis queriam transformar os mexicas com referência nos moldes europeus, no entanto, nunca perguntaram se eles queriam seus modelos, simplesmente os impuseram, aí reside a
violência cultural.
O indígena como o “alien”(estranho) para os espanhóis
O “descobrir” está relacionado a terras e não aos homens que nela habitam. Isso explica a razão
pela qual os espanhóis não buscavam depreender os costumes e as crenças dos nativos.
Para os espanhóis eram os mexicas que tinham que compreender a cultura européia, pois esta
era superior. A prova de inferioridade desses povos, segundo os espanhóis, eram os sacrifícios executados em alguns rituais astecas. Para os espanhóis, a crença dos astecas era um culto ao demônio
– o inimigo de Deus na religião cristã católica. Dessa maneira, os espanhóis incorporaram o papel de
“guerreiros” em defesa da fé cristã contra as “heresias” do mundo.
Os conquistadores não viam os indígenas como eles realmente eram, mas sim como queriam
que fossem, ou seja, seres que estavam prontos para abraçar a religião, hábitos e costumes europeus.
Os espanhóis, sejam eles padres ou não, nunca quiseram entender o que pensavam ou o que
sentiam os indígenas. O mais importante para eles era encontrar riquezas e usar os nativos como mercadoria escrava. Assim, podiam ascender socialmente na sociedade européia chegando alguns espanhóis
a escrever livros para criticar e abominar as práticas dos mexicas.
Os conquistadores espanhóis nunca se identificaram completamente com os costumes dos
mexicas. Dessa maneira, a intolerância era a base da relação entre os dois povos.
Diego Durán e a cultura asteca
Diego Durán nasceu na Espanha por volta de 1537, mas, diferente de muitos outros personagens
marcantes dessa época, foi viver no México quando tinha de cinco para seis anos de idade.
A experiência de Diego Durán foi interessante, pois resultou numa compreensão interna da cultura indígena que não foi igualada por ninguém do século XVI.
Pouco antes de morrer, em 1588, Durán redigiu uma Historia de las Indias de Nueva España e Isla
de la Tierra Firme.
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Antropologia Cultural
Diego Durán era dominicano, a convivência e a intimidade com a cultura indígena foi o ponto
sine qua non para o cumprimento de seu objetivo, ou seja, propagar a religião cristã. Para conseguir
isso, Durán, perscrutou minuciosamente as práticas “pagãs” dos astecas assim poderia questioná-las e
destruí-las.
Segundo Todorov (1999, p. 248-249), o que mais irritava Durán era o sincretismo incorporado na
religião cristã pelos indígenas. Vejamos:
O sincretismo é um sacrilégio, e é a este combate específico que se atém a obra de Durán [...] Durán chega a se perguntar se os que vão à missa na catedral da Cidade do México não o fazem, na verdade, para poder adorar os antigos
deuses, já que suas representações na pedra foram usadas para construir o templo cristão: as colunas da catedral, nessa
época, repousam sobre serpentes emplumadas!
Como visto acima, Durán abominava o sincretismo religioso, entretanto, ele próprio na sua obra
ressalta as semelhanças que, segundo ele, haviam entre a religião cristã e as crenças dos astecas. Hipoteticamente, Duran aponta duas explicações para essas supostas semelhanças: os indígenas já haviam
tido contato com outros pregadores cristãos antes dele ou, e esta é a mais improvável das hipóteses, o
demônio os havia persuadido para executarem os ritos católicos em sua honra. Duran não suportava
essa dúvida e em seu livro afirma que os astecas eram uma das tribos perdidas de Israel.
Ao escrever a história do povo asteca, Durán incorporou nela valores pessoais e relatou os fatos
de acordo com o que ele achava que deveria ser registrado e até inventou muitas coisas. Portanto, sua
obra precisa ser criticamente analisada.
Bernardino de Sahagún nasceu na Espanha em 1499. Quando adolescente estudou na Universidade de Salamanca e, posteriormente, ingressou
na ordem dos franciscanos. Em 1529 chegou ao México onde permaneceu
até sua morte em 1590. Sahagún aprendeu a língua nahuatl e tornou-se
professor de gramática latina no Colégio de Tlatelolco desde a sua fundação, em 1536.
Wikipédia.
Bernardino de Sahagún
Para facilitar a expansão do cristianismo, Sahagún se propôs a descrever em detalhes a antiga religião dos mexicanos. Ao escrever sua obra, Sahagún desejava preservar a cultura nahuatl. Ele opta pela fidelidade integral, já
que reproduz os discursos que ouviu, e acrescenta sua tradução em vez de
substituí-los por ela. Entretanto, Sahagún intervinha com seus valores nos Bernardino de Sahagún.
textos de seu livro. Dessa forma, “corrigia” os costumes astecas dizendo serem
eles “pagãos” e condenáveis aos olhos de Deus.
Sobre a obra de Bernardino de Sahagún diz o autor Tzvetan Todorov (1999, p. 288):
Pode-se dizer que, a partir dos discursos dos astecas, Sahagún produziu um livro; ora, o livro é, nesse contexto, uma
categoria européia. E, no entanto, o objetivo inicial é invertido: Sahagún tinha partido da idéia de utilizar o saber dos
índios para contribuir na propagação da cultura dos europeus; e acabou por colocar seu próprio saber a serviço da
preservação da cultura indígena. [...]
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A conquista da América e as formas de dominação espanhola
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Onde estava o povo civilizado?
O que mais chama a atenção na obra do autor Tzvetan Todorov é a clareza dos prismas europeus
e dos indígenas.
O etnocentrismo (supervalorização de uma cultura em detrimento de outra) calcado nos moldes
europeus é explícito. Aliás, os eurocentristas não reconhecem até hoje que na América Latina pudesse
ter vivido algum povo “civilizado”. Ora, no caso dos colonizadores espanhóis o que eles julgavam por
civilizados? Será que era civilizado queimar pessoas inocentes na fogueira da “santa” inquisição? Será
que eles pensavam que a fumaça dessas fogueiras ascendiam ao céu e seu odor era agradável ao seu
Deus? Será que era civilizado mutilar um outro ser humano cortando-lhe orelhas, braços, dedos, seios
das mulheres e, muitas vezes, cortando com a espada o ventre de uma indígena grávida ou até mesmo,
para ver se a espada estava afiada o suficiente, cortar ao meio o primeiro indígena que eles avistavam,
segundo os relatos da época? Forma mais macabra ou demoníaca quanto essa não é sinal da mais pura
“barbárie”?
Os indígenas estavam satisfeitos com seus modos, crenças e costumes, assim, não precisavam
sofrer tamanha violência cultural e física para serem considerados “seres civilizados”.
Por que é tão difícil aceitar e compreender o diferente? Que tipo de igualdade e amor mútuo os
colonizadores europeus queriam passar por meio do cristianismo aos indígenas? Esse pseudo amor
ao próximo dos espanhóis violentou mulheres, mutilou adultos e crianças e assassinou milhares de
indígenas.
Sinceramente não é compreensível a superioridade humana que há nisso. Os mexicas faziam sacrifícios humanos em seus rituais sim, mas era em favor do grupo que faziam. Há nisto uma identidade
social que os colonizadores europeus não compreenderam, pois estavam muito preocupados consigo
mesmos e de que forma poderiam acumular mais riquezas.
Infelizmente os eurocentristas ainda não são capazes de perceber a cultura do resto do mundo,
em que constituíram-se povos distintos com suas especificidades.
Salve a América Latina e seus povos que tanto sofreram e sofrem por causa da ganância alheia!
Texto complementar
A sociedade asteca
A sociedade Asteca estava dividida de uma maneira curiosa e um pouco diferente da das sociedades européias que lhe foram contemporâneas. Se desenhássemos uma pirâmide dela, teríamos sete divisões: no topo estariam os governantes, compostos pelo Tlatocan, pelos três maiores
sacerdotes e pelos dois governantes; depois viriam os grandes dignatários e os altos sacerdotes;
abaixo estariam as elites dos Calpulli (bairros, formados por membros do mesmo clã); abaixo destes
estariam, num mesmo patamar, as duas castas (imóveis) da sociedade asteca: os pochtecas (comerciantes) e os toltecas (artesãos); abaixo destes estavam os moradores livres e proprietários de terras
dos Calpulli, ou seja, o povo; abaixo do povo, havia um número cada vez maior de servos, ou seja,
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Antropologia Cultural
cidadãos que haviam perdido suas terras por dívidas, tendo se convertido em servos de outros, mas
ainda assim livres, os servos trabalhavam por dinheiro, se assemelhando a trabalhadores assalariados; abaixo dos servos estava o estamento (por ter pouca mobilidade social) dos escravos, estes,
apesar de serem utilizados como força de trabalho, não tinham nesta a sua principal função, pois
eram destinados ao sacrifício. Havia duas maneiras de alguém se converter em escravo: a primeira
era também a mais comum, ou seja, os vencidos nas guerras, mas a segunda, apesar de pouco usual, também existia, e eram as dívidas, ou seja, quando alguém que já havia perdido suas terras e se
convertido num servo se endividava, tinha que vender a própria liberdade para pagar a dívida, se
convertendo num escravo.
Quando cito classes, castas e estamentos, pressuponho que o leitor esteja compreendendo
o que digo, mas para aqueles que não estiverem familiarizados com os termos, aqui vão suas definições: uma sociedade de classes é como a sociedade brasileira, ou seja, onde todos os cidadãos,
independentemente de condição social, classe, ou qualquer outra coisa, são iguais perante a lei,
sendo assim, é totalmente possível a ascensão (ou o declínio) social, dependendo unicamente das
oportunidades e do esforço do indivíduo para que isso aconteça; já numa sociedade de estamentos,
os homens não são iguais perante a lei, apenas perante os deuses, sendo, portanto passíveis de salvação, no entanto sua condição (geralmente determinada pelo nascimento, o que não é o caso no
único estamento asteca) só pode ser mudada (ou seja, ocorrer elevação ou declínio social) devido
a um fato muito inusitado, como o casamento com alguém de outra casta, ou um ato de extrema
bravura. Um exemplo de sociedade de estamentos (ou estamental) era a sociedade da Europa Medieval; numa sociedade de castas, as pessoas são diferentes em tudo, tanto perante a lei, quanto
perante os deuses, sendo assim, não há nenhuma mobilidade social, o nascimento determina a
posição do indivíduo na sociedade e não há nada que possa mudar isso, nem para melhor, nem para
pior; um exemplo de sociedade de castas é a Índia.
Agora que compreendemos os conceitos utilizados, podemos continuar com a análise da sociedade asteca. Tratava-se de uma sociedade de classes, pois exceto pelas duas castas e pelo único
estamento, a mobilidade social só dependia do esforço de cada um. Mas espere, você deve estar
se perguntando, todos nós sabemos que para ascender socialmente, a única maneira é estudando,
freqüentando a escola e assim, tendo a possibilidade de crescer na vida, certo? Certo. Então, como
os astecas faziam para ascenderem socialmente?
Da mesma maneira que nós. Deixe-me explicar. Em cada calpulli, e existiam quatro, havia
uma escola denominada Telpochcalli, para ela, as crianças (tanto homens quanto mulheres)
iam ao completarem oito anos. Lá, tanto meninos quanto meninas aprendiam o básico da escrita asteca e as tradições de seus clãs, porém, a outra metade do ensino era dividida, pois as
meninas aprendiam a tecer, a costurar, a cozinhar e a cuidar de crianças, enquanto os meninos
aprendiam a guerrear.
Aos 21 anos, tanto meninos quanto meninas abandonavam a escola e estavam formados, os
meninos tornavam-se guerreiros (sendo assim, todos os homens livres de Tenochtitlán eram guerreiros), e as meninas iam se casar. Geralmente o homem se casava mais tarde, por volta dos 25 anos.
A poligamia masculina era permitida, mas não muito difundida, ao que parece apenas alguns poucos homens muito ricos tinham mais que uma esposa [...].
(FIGUEIREDO, Danilo José. Disponível em: <www.klepsidra.net/klepsidra6/astecas.html>. Acesso em: 25 jan. 2008.)
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A conquista da América e as formas de dominação espanhola
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Atividades
1.
Cortez, para conseguir mais ouro, procurava entender os rituais astecas para dominá-los
facilmente. Sua expedição se iniciou na busca de informações. Explique como ele conseguiu
essas informações.
2.
Explique a expressão “o tomar leva a destruir” em relação à colonização asteca.
3.
Por que podemos afirmar que os colonizadores Diego Durán e Bernardino de Sahagún não
escreveram obras que expressavam a cultura asteca?
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