a evolução urbana em londrina na obra literária “terra vermelha”

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A EVOLUÇÃO URBANA EM LONDRINA NA OBRA LITERÁRIA
“TERRA VERMELHA” DE DOMINGOS PELLEGRINI
Carolina Zundt Correa
[email protected]
Graduanda do Curso de Geografia da UEL
INTRODUÇÃO
O presente estudo procura identificar a relação entre a Geografia e a Literatura, na
produção regional paranaense, tomando como base de análise, um escritor que vivenciou o
crescimento urbano da cidade de Londrina, tanto na vida social, econômica, como política. O
autor, Domingos Pellegrini, nascido em Londrina-PR, detentor do Prêmio Jaboti duas vezes,
acompanhou a evolução rural, urbana e regional do Norte do Paraná e, particularmente, da
cidade de Londrina.
O recorte de análise será a utilização de uma de suas obras, de 500 páginas,
denominada “Terra Vermelha”, do gênero romance, onde o autor relata os acontecimentos
rurais e urbanos, da região, utilizando-se dos personagens “José” e “Tiana” e suas atividades,
seu cotidiano, seus sonhos, decepções, etc, em cujos relatos é possível identificar um
processo civilizatório urbano e rural, com alguns detalhes que não são percebidos pela
população, caso não se detenha perante alguns relatos capciosos do romance.
A obra foi escrita em 1998, isto é, há 12 anos. Nessa época a cidade de Londrina já
era uma metrópole regional com mais de 400 mil habitantes, principalmente localizada na área
urbana. Entretanto grande parte da sua população é procedente de áreas rurais da região.
OBJETIVO E O DELINEAMENTO METEODOLÓGICO
O principal objetivo desta comunicação é estudar e fazer uma análise do espaço
vivido pelos personagens da obra Terra Vermelha, escrita por Domingos Pellegrini.
Qual seria então, outros objetivos buscados para compreender o espaço geográfico
pela análise romanesca regional? Esta questão foi identificada através das referências que
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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procuramos na fenomenologia que deu suporte, metodológico para compreender a
importância de um romance e através dele compreender a inserção dos personagens no
processo civilizatório do homem no seu ambiente.
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo onde as referencias ou inferências
foram sendo identificadas no romance Terra Vermelha estudado, apoiando-nos nos
pensamentos memória, diálogos relatados pelo autor. Não nos prendemos em nenhuma linha
teórica ou metodológica, que nos deu certa liberdade científica, pois compreender de que
forma o lugar ou a região vivida pelos personagens se inserem no contexto romanesco foi de
fundamental importância para compreender a relação entre arte e ciência, intuição e razão.
Acreditamos que não há uma separação definida entre estes aspectos, mas uma integração e
uma correspondência possível de ser verificada, quando alguns aspectos abordados pela
fenomenologia são trazidos para nos dar suporte para perceber não só o visível, mas os
aspectos invisíveis e importantes da relação entre a Literatura e a Geografia.
DESENVOLVIMENTO DO CONTEUDO E ALGUNS RESULTADOS
Alguns resultados parciais podem ser assinalados conforme relatamos abaixo.
No imaginário desse escritor, através do cotidiano relatado minuciosamente, tanto no
espaço rurais como no urbano, através dos dramas, sonhos, e expectativas vividos pelos
personagens, foi possível perceber o crescimento local e regional, pois no seu romance a uma
integração e muitas vezes junção entre o rural e o urbano.
A correlação entre os personagens desse romance permitiu compreender o processo
de urbanização da cidade de Londrina, em razão da riqueza de detalhes e acontecimentos da
narrativa através de personagens, atitudes, pensamentos e comportamentos que foram se
desenrolando pela narrativa romanesca.
Não só no Brasil, mas pesquisadores, historiadores, geógrafos filósofos e psicólogos
retratam a riqueza do conteúdo romanesco como fundamentais na compreensão da natureza
humana.
Apesar de ser de cunho literário, a obra Terra Vermelha de Domingos Pellegrini
descreve com veracidade o surgimento e desenvolvimento urbano de Londrina. Através da
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história de José, o autor ilustra-nos os acontecimentos e fenômenos políticos, econômicos e
sociais ocorrentes entre as décadas de 1930 e 1980. Através da visão romanesca da
literatura, é expresso o sentimento de vínculo do personagem com a terra em que vive, assim
como as expectativas de crescimento urbano.
Em algumas passagens do livro, o autor nos demonstra as transformações por que
passaram Londrina, como as expressões a seguir:
“Novas casas brotavam todo dia da terra, e a Companhia já tinha aberto meia dúzia
de novas cidades.[...] Agora não se via mais mata no horizonte, e assim o vento não tinha
freio, ventava mais na cidade.”(PELLEGRINI, 1998)
Ao buscarmos dados dos números de edificações de Londrina nas décadas de 1940
a 1950 podemos citar a tabela a seguir, que demonstra um crescimento significativo do
número de edificações, pois em menos de 10 anos praticamente dobrou o numero de
edifícios. Nessa época Londrina ainda era uma cidade bem provinciana, considerada como
área de expansão demográfica, de grande dinamicidade.
Crescimento de edificações entre o ano de 1944 e 1950:
Ano
Número
de
edifícios
1944
3708
1947
5027
1949
6000
1950
6212
Elaborado por Prandini, 1954.
Dessa forma, ao compararmos dados da expansão urbana e populacional da obra de
Pellegrini com dados de órgãos oficiais e artigos científicos, podemos perceber a proximidade
dos mesmos. E compreender de forma mais integrada o espaço vivido com as especificidades
locais e regionais relatadas pelo autor.
Apoiado nos conceitos e na metodologia de abordagem relacionada à Geografia e à
Literatura, o presente estudo se refere às vinculações espaciais e temporais e a questão do
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lugar, que podem ser identificados na obra “Terra Vermelha”. Portanto, o principal objetivo é
fazer uma aproximação inicial na inter-relação existente entre a literatura e o conhecimento
geográfico.
Embora a produção literária seja ficcional, quando se trata de uma obra de cunho
regional, e, quando se elege alguma obra clássica que discorra sobre os acontecimentos da
região, é possível identificar e decodificar as temporalidades e espacialidades, tão claras e
importantes para o aprofundamento da ciência geográfica.
Da seleção de obras que servirão como apoio ou como uma das bases de análise,
para compreender os fatos da evolução histórica de uma região, os recursos e as ferramentas
existentes hoje, permitem que a relação entre a Literatura e a Geografia, possam desvendar o
nosso ambiente.
O relato abaixo nos informa importantes detalhes ambientais, locais e regionais como
também as atividades presentes à época estudada por Pellegrini.
“Andando pelas trilhas do Rio Tibagi, ouvia falar das terras de Londrina: ‘a cidade
dos Ingleses, um verdadeiro Eldorado do café’; pessoas do mundo inteiro procuravam
Londrina. Esse foi um relato tecido com informações históricas.” (HABWACHS, 2006).
A Literatura pode, por muitos caminhos, transmitir um conteúdo de forma tão vívida e
estimulante que a ciência não é capaz de alcançar. Desta maneira, analisar a urbanização do
Município de Londrina, apoiando-se em conceitos e metodologias de abordagem relacionada
à Geografia e à Literatura, pode-se estabelecer às vinculações espaciais e temporais e a
questão do lugar.
Aproximando a Geografia da Literatura, este trabalho possibilitou a compreensão do
aspecto humanístico na construção do espaço. Ao utilizarmos como ponto de referência a
perspectiva literária de um autor local, onde seu sentimento de lugar e seu vinculo com a
cidade de Londrina é bastante expressivo, podemos analisar as diferentes maneiras de se
analisar o espaço, que não pelo método cientifico tradicional.
Ao analisarmos uma obra literária na perspectiva geográfica, fica fácil entendermos a
urbanização pela visão leiga, uma vez que, o autor, assim como seus personagens, possuem
um vínculo com o espaço vivido muito mais efetivo do que em qualquer outra obra de cunho
cientifico.
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Domingos Pellegrini expressa em seu livro Terra Vermelha as razões e os sentimentos
dos personagens ao migrarem de uma região em busca de melhores condições de vida.
Comparando-se com a realidade histórica, Londrina em sua gênese na década de 30, foi um
pólo atrativo de muitos imigrantes brasileiros, advindo de outros estados; e estrangeiros, com
sua predominância em japoneses.
Na trama, José e sua mulher Tiana, personagens principais da obra de Pelegrini,
buscam a estabilidade do casamento em meio às grandes transformações ocorrentes no
mundo e em Londrina.
Durante a saga do herói, temos como plano de fundo as dinâmicas espaciais e
populacionais na cidade. Londrina como uma cidade nova e próspera, cresce de maneira
acelerada, principalmente nas décadas de 50 e 60, impulsionada pelo cultivo do café. É
notável seu crescimento econômico e político, tornando-se uma das principais cidades do Sul
do país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É notável também a fidelidade com que Domingos Pellegrini narra este começo de
urbanização londrinense. Atualmente, o autor reside em uma chácara a uns km de Londrina
chamada Terra Vermelha.
Como nos revela Bailly (1989, apud Claval, 2002):
“O homem é ator geográfico e o lugar é seu espaço de vida em que as relações se
misturam num emaranhado de laços, onde estão presentes os sentimentos pessoais, as
memórias coletivas e os símbolos. A partir daí, pode-se entender o espaço como
‘reservatório de significados’ a ser interpretado pelos geógrafos.”
Consideramos o presente ensaio como um início das nossas preocupações sobre a
relação entre a Literatura e Geografia, pois os apoios teórico-metodológicos já utilizados por
outros autores não só nacionais como estrangeiros assinalam que a Literatura pode ajudar
muito a compreender a vida do homem no seu habitat tanto local como regional. Uma das
efetivas razões dessa relação é o vínculo que o homem tem com o seu ambiente, as atividades
que desenvolve e os sonhos que podem emanar desse espaço-tempo.
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REFERENCIAS
ALMEIDA, Maria Geralda de; CHAVEIRO, Eguimar Felício; BRAGA, Helaine da Costa
(Orgs.). Geografia e cultura: os lugares da vida e a vida dos lugares. Goiânia: Editora
Vieira, 2008.
BEIRO, Douglas. Paisagens de migrantes rural-urbanos e memória: Pós-graduação em
Geografia (Mestrado) – IGCE/UNESP, Rio Claro.
BONI, Paulo César. Fincando estacas : a história de Londrina (década de 30) em textos e
imagens. Londrina, [Ed. do autor], 2004.
CLAVAL, Paul. A volta do cultural na geografia. Université de Paris IV-Sorbonne. v.1,
n.1, 2002.
CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia Cultural - Passado e Futuro: Uma Introdução. In:
ROSENDAHL e CORRÊA, Roberto Lobato. Manifestações da Cultura no Espaço. Rio
de Janeiro, EDUERJ, 1999
MARANDOLA, Janaína A. M. S. O Geógrafo e o Romance: aproximações com a
cidade. v.31, n.1, jan/abr de 2006.
PASSOS, Viviane Rodrigues de Lima. A verticalização de Londrina:1970/2000: a ação
dos promotores imobiliários, Londrina, 2007.
PELLEGRINI, Domingos. Terra Vermelha; 2. ed., São Paulo: Geração Editorial, 2008.
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P.S.: Iniciamos o desenvolvimento deste trabalho como estagiária do laboratório de
Pesquisas Urbanas e Regionais do CCE (Dpto de Geociências), sob a orientação da Profa.
Yoshiya Nakagawara Ferreira.
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