1 Princípios de evolução organizacional decorrentes do

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Princípios de evolução organizacional decorrentes do modelo evolutivo biológico
Autoria: Francisco Cristino de França Junior, Francisco Correia de Oliveira
Resumo
A Evolução das organizações é a missão de maior importância para os administradores,
chegando a se confundir com a própria razão de ser desses profissionais. Este estudo
promove a conversão de conhecimentos da evolução biológica para os estudos da evolução
organizacional. Através da conveniente “tradução“ das observações darwinianas a respeito da
evolução natural, são gerados dez novos princípios aplicáveis à ciência administrativa,
complementando os conceitos concebidos pelos ecologistas organizacionais. Trata-se de
conclusões dedutivas e teóricas que demonstram forte assentamento à prática administrativa,
apoiando tarefas relacionadas a estratégia e a institucionalização da cultura organizacional.
Dentre os conceitos elucidados, a diferenciação da organização se coloca como o principal
mecanismo da evolução empresarial e integra todas as habilidades da organização. De acordo
com esta constatação, o estudo conclui que o quadro de estratégias genéricas do modelo de
Porter se torna invalidado, justificando, assim, porque algumas pesquisas não conseguem
consistir resultados coerentes com as hipóteses. Para este estudo a principal lição do modelo
evolucionista é o princípio de “não parar” dada a fatalidade caótica da heterotrofia ambiental
que obriga todos a trabalharem pela sobrevivência.
Introdução
O que é evolução, uma mudança acompanhada de melhorias? para quem seriam
dedicadas essas melhorias, para o meio ou para os indivíduos? Evolução seria um ponto de
acumulação, um ponto em que se depositam vantagens ou um resultado observado de um
processo bem sucedido? A evolução é fixa como um ponto de chegada, um objetivo a ser
alcançado, ou é uma dinâmica de estados variados? Ainda mais, a evolução é absoluta ou
relativa? Tais respostas remetem a um abismo filosófico que há décadas desafia o
pensamento científico contemporâneo. Na torrente das explicações atuais, ela poderia ser
encarada como um fenômeno caótico e complexo. Contudo, diante de forte relativismo a
compreensão da evolução conduz para visões e significados que ora redundam, ora divergem.
Recorrendo a Física, a evolução poderia ser definida como a luz, ora partícula, ora onda.
Como partícula ela seria um objetivo de sucesso a ser alcançado. Caso fosse uma onda, a
evolução representaria um processo de repetição, de auto-reprodução de melhorias, seja este,
continuado ou descontinuado. Destarte, o único aspecto não tolerado pela evolução seria a
não variação, a estagnação. Então, sem olvidar Popper, escolhendo a negação por expressar
melhor que a afirmação, a evolução seria a não imutabilidade.
Para os administradores a missão de realizar a evolução empresarial chega a se
confundir com a própria razão de ser desses profissionais. Esta importância é justificada com
a presença do crescimento e do desenvolvimento neste processo, acrescido do fato de ela
estar imbricada com a sobrevivência das organizações. Os gestores, mentores do destino
organizacional, são identificados como os principais responsáveis pela evolução ou falência
de uma organização. Para apóia-los nesta missão, este estudo requisitou à ciência biológica
os princípios de evolução da natureza, convenientemente transpostos para a ciência das
organizações. Desta feita, este estudo adotou como objetivo a extração de novas aplicações
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do modelo orgânico, ampliando o leque de idéias já levantadas desse manancial de conceitos
científicos chamado evolucionismo.
Este estudo retira dez princípios da teoria evolucionista de Darwin, traduzindo-os para
a Ciência Administrativa. Apesar de contribuições similares, principalmente as de as de
Baum, as de Freeman e Hannan, Carrol e Delacroix, e de Suàrez e Utterbac, e dos ecologistas
organizacionais, este estudo adota critérios diferentes dos tradicionais que se referem a
investigações sobre a suscetibilidade das falências e crescimento das indústrias em relação à
idade, porte, especialidade das estratégias, origem da fundação, densidade populacional e
processos tecnológicos
As pesquisas dos ecologistas organizacionais diferem das cumpridas neste estudo
porque aquelas se referem a pesquisas empíricas a respeito da suscetibilidade das falências e
fundações, e das implicações da idade, porte, origem da fundação e densidade populacional,
enquanto este estudo elabora um rol de princípios deduzidos por correlação contextual e
lingüística dos conceitos da biologia. De acordo com este objetivo, são aprofundadas as
questões ligadas diretamente ao crescimento e ao desenvolvimento das organizações
conectadas também à institucionalização da cultura organizacional. Estes princípios são
consistentes porque são baseados diretamente nos conceitos darwinianos e naqueles que
demonstraram clara correspondência no campo das organizações. Os princípios obtidos
foram escolhidos entre os que não sofreram nenhuma revisão da moderna teoria sintética,
selecionados somente depois de consideradas as principais restrições ao darwiniano clássico.
A principal finalidade destes princípios é esclarecer e organizar uma hierarquia de
condutas e prioridades regentes da evolução organizacional. Essa relação consiste uma linha
mestra de conduta da tarefa de transformar organizações em empresas evoluídas. Deste
modo, os princípios obtidos formam um modelo com orientações gerais a respeito da
fundamental missão administrativa de evoluir organizações.
O modelo evolucionista
A ciência da evolução na natureza é fortemente marcada pela contribuição de Darwin
(WAIZBORT(2001:632), CURTIS(1977:3)). Os fundamentos do mecanismo proposto no
evolucionismo revelam que os seres vivos possuem uma elevada condição para reproduzir,
todavia, o número de indivíduos de cada espécie tende a permanecer constante. A
conseqüência destes fatos leva a crer que exista um mecanismo natural regulador da
reprodução. Como todos os seres vivos tendem a se modificar, não há dois seres vivos
absolutamente iguais e devido a essa diferença alguns indivíduos são beneficiados e outros,
prejudicados. Caso a variação manifestada represente uma desvantagem para a sobrevivência
ou para a reprodução, a espécie não receberá a carga genética desse indivíduo. Se ocorrer o
contrário, a evolução será produzida pela manutenção das características dos sobreviventes,
que terão a oportunidade de reproduzirem. Atuando incessantemente, de geração em geração,
acumulam-se pequenas diferenças que originam as espécie, e resultam na evolução. As
condições da natureza escolhe os animais pela sua resistência, pela sua aparência e pelas
aptidões relativas as condições do meio. Os que falecem perdem a oportunidade de
reproduzir e de fixar as suas características na identidade da espécie ( WAIZBORT
(2001:637), GAROZZO (1974:140), MAYR(1977:11), CURTIS(1977:13) ).
O modo como Darwin e as demais teorias modernas reconhece a evolução convergiu
para dois sujeitos do mecanismo evolutivo: a diferenciação e a seleção. A diferenciação é o
termo que correspondente ao que Darwin de chama de “variedade”, a teoria genética de
“mutação” e a teoria molecular de “replicação de erros de cópia” (CURTIS(1977:11), MAYR
(1977:11) ).
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Na seleção natural não há como desconsiderar as contingências ambientais que
invalidam os estereótipos de virtude, uma vez que não há predição ou critérios para a
adaptação de padrões, pois, o que beneficia um indivíduo hoje, pode não beneficiá-lo
amanhã. Por este motivo, não é prudente apostar que determinado atributo seja mais
importante do que outro, desconsiderando-se as contingências, o que mostra que a seleção
não sugere a valorização deste ou de outro atributo (força, agressividade, etc), mas a
conveniência de um caráter em uma situação que é mutante (CURTIS(1977:11),
MAYR(1977:11)).
Depois de Darwin, os estudos da evolução biológica se desenvolveram em um espiral
dialético que conciliou teorias e princípio divergentes. Corrente contrária ao evolucionismo
darwiniano surgiu com as descobertas de Mendel que mostravam que as características
genéticas permanecem na natureza. A conclusão obvia desta experiência é que a genética
estaria demonstrando a fixidez das espécies e negando a mutabilidade. Nasce então, o
principal contraponto da teoria da seleção natural. Entretanto, a experiência de Hardy e de
Weinberg revelou que a recombinação sexual não modifica a composição global do pool
genético e que o simples cruzamento de organismos não destrói a variabilidade, mas, de fato,
a preserva. Esta variedade amplia a possibilidade de diferenças que, segundo os conceitos
genéticos de Mendel, deveria ser reduzida. O princípio de Hardy-Weinberg conduziu o
evolucionismo clássico na direção da Teoria Sintética da Evolução, versão atualizada do
evolucionismo que concilia genética e evolucionismo (WAIZBORT(2001:632),
CURTIS(1977:11), MAYR (1977:11)).
Dentro do campo da teoria sintética da evolução surgem os termos genótipo e fenótipo
que representam, respectivamente, a característica interna e a aparência do indivíduo. Nesta
visão atualizada, as espécies são pools genéticos isolados no espaço e no tempo,
representando as unidades evolutivas, tal como observado nos trabalhos de Richard Dawkins,
Daniel Dennett, Stephen Jay Gould, Richard Lewontin, Noam Chomsky e Theodosius
Dobzhansky . Mais recentemente, Ernest May, Ricardo Waizbort, James G. Lennox, o de
Edson Pereira da Silva, Anna Carolina K. P. Regner, e Maurício Vieira Martins
(MARTINS(2001:740), WAIZBORT(2001:632)).
A outra importante corrente dos estudos evolutivos advém da molécula química
responsável pela transmissão dos caracteres genéticos chamada DNA. O campo de
conhecimento desenvolvido em torno deste assunto gerou a Teoria Molecular dos Genes. O
DNA é um plano explícito que descreve o modo como o genótipo se transformará em
fenótipo. Seguindo os experimentos de Frederick Griffith em 1928, de Avery, MacLeod e
McCarty em 1944, James Watson e Francis Crick propuseram um modelo molecular para o
DNA (ácido desoxirribonucléico), após um ano e meio dedicados na Universidade de
Cambridge, que lhes renderam o prêmio Nobel de medicina. (CURTIS(1977:11),
MAYR(1977:11)).
Bastante atacado por religiosos e cientistas, o evolucionismo se mantém, no decorrer de
mais de 140 anos, em condições de confronto com os que buscam refreá-lo. Ataques
dogmáticos, ressentimentos históricos, principalmente aqueles marcados pelo mau uso de
seus conceitos pelos darwinistas sociais, acompanham a trajetória dessa teoria. Apesar de
bem estabelecido na ciência moderna, o evolucionismo ainda é contestado por três tipos de
críticas: os que consideram que a natureza não é fruto de nenhum processo evolutivo, mas
resultado direto dos atos do Criador, em conformidade com a narração bíblica e chamada de
Criacionismo; a que considera a evolução um processo interno ao sistema e, portanto, de
cunho mais ontológico que evolutivo; e a que responsabiliza as idéias de Darwin por questões
de incitação a atitudes egoístas, competitivas e segregacionistas (WAIZBORT(2001:632),
CURTIS(1977:11), MAYR(1977:11), SATHOURIS(2000)).
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A obra “Dança da Terra” de Elisabeth Sathouris concentra importante crítica ao
evolucionismo darwiniano. O argumento chave de SATHOURIS se baseia na necessidade
uma nova visão do mundo que priorize a cooperação, esquecendo ao máximo a proposta de
competição. Segundo a autora, Darwin teria deixado de lado a importância da cooperação
como parte do processo evolutivo, tendo isto, contribuído para a legitimação da agressividade
e da subjugação de indivíduos justificados por um único caminho possível para o crescimento
e o desenvolvimento. Sathouris fala do Homem, dos animais e da Terra em uma saga
denominada como “Dança da Terra” (MARTINS(2001:740), WAIZBORT(2001:632),
MAYR(1977:11)).
Para SATHOURIS(2000), Darwin desenvolveu sua teoria sobre as bases de uma luta
pela sobrevivência entre indivíduos e espécies, fundamentando sua teoria na competição e
deixando de lado outras motivações, como a vontade própria dos organismos de cooperarem.
“Everything seemed clear now. Large numbers in the face of too little food produced
competition, and competition led to natural selection. The selection itself was based on the
natural variety of creatures, some of which were fitter than others”. Outrossim, a nova
proposta seria a competição se transformando em cooperação conforme o modelo proposto
de individuação => competição => conflito => negociação => resolução => cooperação
=> transformado os novos níveis de individualidade. Assim, a competição e a cooperação
seriam fases diferentes deste ciclo, onde a base mais evoluída estaria na cooperação. Uma
espécie animal ou uma organização social (sociedade) em uma fase mais jovem se
encontraria no estágio mais próximo dos níveis iniciais, aproximadas à competição e a
individualidade predatória. O encontro de uma espécie com a outra, geraria o conflito que
desenvolveria a competição por espaço e recursos. As negociações, por sua vez, conduziriam
a cooperação provando que ela é útil a todas as espécies e que representa um estágio mais
maduro de convivência comum.
Sathouris afirma:
“It took a century and more after Darwin's theory was published for us to understand that environments
are not ready-made places that force their inhabitants to adapt to them, but ecosystems created by living things
for living things. All the living things belonging to an ecosystem, from tiny bacteria to the largest plants and
animals, are constantly at work balancing their lives with one another as they transform and recycle the
materials of the Earth's crust. (…) Now we can see that Darwinism is a misleading way of seeing nature. (...)
The social view of individual people pitted against one another in such struggle makes little more sense as an
ideal than the notion that our bodies' cells are competing with one another to survive in hostile bodies“.
Apesar disso, em um outro ponto do texto Sathouris afirma que a junção de pontos de
vista distintos conjugam uma teoria completa.
“Darwin saw evolution as driven by competition among individuals. Later evolutionists noted
cooperation and altruism within species, suggesting that evolution must be driven by competition among species
for ecological niches in which to flourish. Richard Dawkins then proposed that both these theories were
incorrect, as evolution was really driven by selfish genes that struggled to maximize their expression in the
overall gene pool. What none of them had the vision to see was that they were all right, but only together. Self
interest at all levels -- species, individual and gene -- motivates nature's creativity and health”
Como golpe de misericórdia contra o evolucionismo, a autora de “Dança da Terra”
afirma que a seleção natural não é uma teoria e que os conceitos apresentados não têm e não
tiveram serventia para a ciência: “Nor does natural selection amount to a real theory, since it
tells us little more than that some creatures die before they reach the age of reproduction“.
Para Sathouris, a nova visão do mundo cooperativo é baseada em modelos orgânicos de
sociedades como as dos insetos que apesar de coordenarem diversas atividades em comum,
agem de modo rígido em suas comunidades. Enfim, a proposta de Sathouris para a
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construção de organizações e sociedades cooperativas decorre de uma tomada de posição por
parte da humanidade a favor dos conceitos ensinados pelas religiões pacifistas como a cristã,
o budismo ou o maometismo.
“The great teachers of our world, such as Jesus, Mohammed and Buddha, gave us ethical systems based
on this kind of perception -- ethical systems showing such universal interconnectedness that what is done to
others is done to yourself. Now western physicists showing us non-timespace and non-locality begin to teach the
same thing”
No entanto, convém esclarecer alguns dos contrapontos feitos por Sathouris. Quando
ela afirma que algumas espécies, "autopoéticamente" (MATURANA e VARELA(1997) não
“quiseram mudar”, esta pesquisa entende que algumas espécies passaram por processos
evolutivos cuja adaptação foi menos necessária. A lacuna da cooperação, apontada como o
“grande defeito”
do evolucionismo darwiniano merece uma análise parcimoniosa.
Cooperação e competição são conceitos reversíveis. O sentido de conceito reversível é
untado a sua condição de relatividade. Cooperação e competição são reversíveis porque
depende do lado que está se efetivando o benefício da ação. Se a cooperação ocorre para
beneficiar um grupo em detrimento a outros, então ela estará sendo usada como um recurso
de concorrência entre grupos. Um grupo de empresários que cooperam na formação de um
cartel estará colaborando para reduzir a competição e ao mesmo tempo para explorar o
mercado de forma agressiva ou especulativa. O benefício que este grupo busca para a sua
indústria não é um benefício social, mas individual. Ao mesmo tempo, quando a política
econômica de uma nação procura defender o consumidor de práticas especulativas como
essas, ela procura fortalecer a livre competição e a concorrência. Portanto, se a grande crítica
ao evolucionismo darwiniano repousa na argumentação da cooperação como a grande lacuna
teórica, esta consideração remove de forma suficiente e necessária qualquer fundamento
deste pressuposto.
Quando os homens não se vêm como parte de uma família, de uma nação ou de uma
organização, eles não têm nenhum motivo para se dedicarem a um objetivo de convivência
tal como o conceito do companheirismo e dos objetivos comuns de SENGE(1996)). O
darwinismo tem sido rotulado como a representação da competitividade e considerada por
Sathouris como um mal para a sociedade a ser substituído pela cooperação. Mas o bem da
cooperação também está intrínseco nas quadrilhas que seqüestram pessoas, no crime
organizado e nas conspirações terroristas, tanto quanto nas campanhas de caridade.
Portanto, a cooperação em um sentido mais amplo e fundamental não é fruto de um
processo que parte da competição e resulta na cooperação, ela é sim um fenômeno
fundamentado no sentimento de pertença dos grupos ou dos organismos, Quando células se
agrupam em um mesmo organismo, elas cooperam. Quando o organismo ameaça não conter
a sua funcionalidade plena, as partes demonstram debandar em atividades individuais e
descomprometidas com o resto do corpo. Um exército sem comando é um exército em
retirada. Enfim, a cooperação não é uma função que transforma a competição em negociação,
mas é o resultado da integração de partes identificadas com fins comuns.
Há um equivoco acreditar que basta negociar para se chegar à cooperação. A
negociação é na verdade uma conformação, uma renúncia em troca de algo que se quer ter.
Entretanto, a cooperação não nasce do conflito, mas de uma motivação interna de um grupo,
uma identidade coletiva que gera um sentimento de pertença que induz as pessoas a quererem
cooperar em prol da missão desta unidade. O único modo de cooperação que existe é quando
a organização evolui englobando as partes em forma de um único organismo em interações
integradas.
Contrapontos como o de Sathouris revisam muitas questões pertinentes aos estudos das
ciências biológicas e sociais, no entanto, essa crítica ao evolucionismo não parece correta. A
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seqüência sugerida em que a cooperação é a evolução da competição, permeada pela
negociação é um equivoco. A negociação é um instrumento para a decisão de ceder por
interesses, todavia, quando não há interesses não há o efeito da negociação,
conseqüentemente, não há cooperação. A negociação prescinde o interesse, que requer
objetivos comuns, que depende do sentimento de pertença, da mesma identidade, e aí existirá
a condição para uma negociação em prol da cooperação(SENGE(1996)).
Evoluir compõe uma teia feita de organismo e meio onde ambos não ficam imunes às
alterações, sejam elas boas ou ruins. Se um organismo cresce maculando a teia, não haverá
ambiente favorável para que ele viva nela. Caso o ambiente esteja sendo favorável a um
organismo, melhor que ele busque outras localizações neste tecido. Como o tecido une tempo
e espaço, o passado poderá vir cobrar o seu ônus nas conseqüências dos atos de todos os que
habitam a teia, assim como o futuro bom poderá estar presente para os que plantaram boa
vontade. Genericamente, promover a evolução é plantar um presente de acordo com o que se
queira colher no futuro e os frutos advirão, bons ou ruins, conforme a semeadura.
Os conceitos evolucionistas expostos por Darwin em “A Origem das Espécies” a
respeito da seleção das espécies, compõe aqui a matéria prima para o desenvolvimento de um
modelo de aplicação para a ciência administrativa. Por analogia, são comparados os termos
que possuam correspondência lógica entre os campos organizacionais e biológicos. O método
utilizado para processar esta conversão é semelhante a um processo de tradução lingüística.
São tomados os pontos de intercessão e são considerados os devidos contextos.
Preliminarmente é considerado que uma organização seja correspondente a um organismo,
um indivíduo corresponda a uma organização, as espécies compreendam uma indústria (ramo
de empresas) e que os ambientes correspondam aos mercados. Transpondo o que é dito no
evolucionismo a respeito de organismos, espécies e meio, para o campo das empresas,
obtém-se uma espécie de “tradução” das conclusões de Darwin para a ciência das empresas.
Durante o século XX, muitos estudos e analogias foram feitos com este objetivo, tendo
esta área de estudo recebido o nome de Ecologia Organizacional. No entanto, este estudo
realiza a sua própria analogia do evolucionismo, não se conformando com a análise
previamente elaborada pelos ecologistas, por supor ser possível encontrar novas
contribuições ainda não notadas até aqui por estes estudiosos. Este trabalho tem também o
objetivo de ampliar a fundamentação dos estudos empíricos dos ecologistas organizacionais
através dessa revisão analítica dos princípios evolucionistas (BAUM( 1999:138),
MAYR(1977:11)).
Novas aplicações do modelo evolucionista
O princípio básico a ser apreendido com o evolucionismo é que para evoluir, necessitase do equilíbrio entre as forças de construção e de destruição (MAYR(1977:11)). Não basta
saber que o mais apto é o vencedor, isto é um fato consumado. Falta perceber porque o mais
apto é mais apto. A resposta está no segundo mecanismo da seleção das espécies, a
diferenciação. Na natureza a diferenciação é fruto da sorte do indivíduo, mas nas
organizações pode ela é definida pelo Administrador. Entretanto, o ato de diferenciar é o ato
de elaborar a estratégia da empresa. Esta tarefa exige, dentre outras habilidades, sensibilidade
para identificar os atributos que capazes de promover o crescimento e o desenvolvimento da
empresa. Esta situação incorre em decisões presentes para usufruto em situações que
ocorrerão no futuro. Ao termo destes fatos, diferenciar, mesmo sendo efetuado
conscientemente, também se beneficia da sorte.
Ao contrário do chavão de que o evolucionismo se reduz a “lei do mais apto”, o que
esta teoria ensina de mais importante é que a evolução das organizações depende da arte da
diferenciação. A organizacional depende deste recurso tanto para evoluir como para
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continuar existindo. Em outros termos, compreende-se a lição evolucionista como uma
necessidade constante de manter as chances de evolução viabilizada por procedimentos de
contínua diferenciação.
Darwin tinha a peculiar capacidade de notar o que outros não souberam fazer. No
entanto, estas notas precisam ser identificadas para que o estudo da ecologia organizacional
não desperdice conceitos que possam ter utilidade para os Administradores. Desta feita,
relaciona-se adiante o conteúdo resgatado através da exploração do evolucionismo e da sua
aplicação nos estudos de estratégia, desempenho e cultura organizacional. Os pontos do
evolucionismo considerados como aplicáveis à Administração de Empresas são indicados a
seguir em forma de dez princípios:
1)
Princípio da Adaptação: (DARWIN(1996:22)) A escolha detalhada das
habilidades é contingêncial para organizações e razoavelmente preditiva para a indústria como
um todo (TACHIZAWA e RESENDE(2000)). Infelizmente não se tem a priori o tipo de
diferenciação ideal para definir uma estratégia vencedora e este princípio define a
diferenciação organizacional como a única e principal estratégia genérica organizacional.
2)
Princípio do Conceito de Negócio: (DARWIN(1996:23)) Uma empresa
normalmente se diferencia nas atividades relacionadas às suas potencialidades principais
(PRAHALAD e HAMEL(1995)). Isto significa, criar um conceito de negócio dentro da
vocação existente e mediante uma avaliação sistêmica das possibilidades de sucesso deste
conceito para a empresa. Mas se o conceito de negócio define a diferenciação, esta define
aquele. Do mesmo modo as habilidades da organização devem ser direcionadas para enfrentar
as condições do meio econômico, pois, precisa ser avaliado antes de qualquer esforço neste
sentido, o potencial do mercado em relação ao conceito de negócio escolhido.
3)
Princípio do Uso e Desuso: (DARWIN(1996:17)) A evolução empresarial
dependerá da capacidade corporativa para empreender a conexão entre os investimentos e a
diferenciação pleiteada. As habilidades nas empresas dependerão dos investimentos
realizados nas áreas selecionadas. Áreas abandonadas não desenvolverão atividades de modo
eficaz e terão suas funções atrofiadas implicando em ineficiência. Este princípio regula a
dedicação e investimento no prioritário.
4)
Princípio da Imitação: (DARWIN(1996:18)) Estilos gerenciais que passaram
por experiências que puseram à prova a eficiência de alguns procedimentos, são transmitidos
no tempo e no espaço das organizações. Atitudes da liderança, boas ou não, podem ser
reproduzidas por toda a cadeia de comando das corporações sem tempo definido para se
extinguir (WAIZBORT(2001:645), MAYR(1977:11), TOLBERT e ZUCKER(1997:198),
WOOD JR(1995) ). Um mesmo comportamento compulsivo pode ser observado na cultura de
filiais, grupos empresariais, empresas de uma nação ou de um povo. Reproduzir atitudes tanto
se refere ao espaço das corporações (filiais, divisões e departamentos) como ao tempo. Atos
que se repetem revelam uma constância de comportamento que pode ser identificada como
reflexos de construção cultural (NONAKA E TAKEUCHI(1997). Assim, as atitudes e
mudanças ocorridas em longo prazo constituem o processo de institucionalização da cultura
organizacional de modo gradual por acumulação de hábitos. Uma repetição de
comportamentos imitativos em busca de reproduzir o sucesso de uma organização é o modo
como são estabelecidas as indústrias (KELLY(1999)). Logo, a morfologia das indústrias é
decorrente do processo de imitação compulsiva, motivo pelo qual se classificam as indústria
pelas empresas do mesmo ramo. A evolução representa exatamente a efetividade da estratégia
e da institucionalização cultural, em longo prazo (TOLBERT e ZUCKER(1997;198)).
5)
Princípio do Estágio Ovo: (DARWIN(1996:24)) O estágio ovo mostra que a
natureza elimina grande parte dos embriões e jovens organismos. Para uma organização
crescer ela precisa de recursos e cuidados mínimos. Esta conclusão mostra a influência dos
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estágios iniciais no resultado final das espécies e que configura o sistema empresarial como
suscetível às condições iniciais e o caracterizando como um sistema sujeito ao caos. Empresas
jovens de qualquer porte podem desenvolver uma próspera realidade econômica caso lhes
sejam dadas o apoio técnico e financeiro necessário, não se tratando aqui de sugestão de
apoio à pequena empresa, mas às novas empresas, sejam pequenas ou não
(SUSSUMAN(1967)). Contudo, deve ser considerado que esta fase deve prezar pelo
desenvolvimento das indústrias, salientando que no caso da implantação de programas de
incentivo indiscriminado a criação e desenvolvimento das empresas existe o risco da geração
desordenada de organizações na mesma indústria que podem levar a falência e perda de
recursos de pelo excesso delas. O excesso de estímulo é tão pernicioso a estrutura econômica
quanto à negligência de não apoiar as novas fundações. Em outras palavras, deve-se observar
que este é um remédio a ser empregado com ponderação, pois, devido a sua alta proficiência é
preciso que haja controle no crescimento da indústria. Este princípio está relacionado ao
ponto caótico de saturação chamado por CAPRA(1995) como ponto de mutação e por
LAND(1999) como ponto de transformação ( BERGÊ At all.(1996;63), BERTALANFFY
(1968), FERRARA (1977: 75), BAUER(1999) , BAUM( 1999:138) ).
6)
Princípio da Diferenciação Integrada: (DARWIN(1996:26)) A estrutura de
um organismo é formada por um processo gradativo de seleção que torna o indivíduo capaz
de conviver nas condições que o meio historicamente vem permitindo. Reproduzir este
processo artificialmente e corretamente no campo das organizações é um problema complexo
e não solúvel por uma análise linear, imediata e cartesiana. Darwin revela a deficiência
humana pela necessidade de se compreender o processo endógeno e teleológico dos
organismos e que, ao se reverter para o campo das organizações, insurge na necessidade da
visualização da complexidade, que dificulta a tarefa de definir a diferenciação organizacional.
Esta decisão requer a seleção de habilidades úteis no presente e, ao mesmo tempo, úteis no
futuro ( MINTZBERG(1994:5), SENGE(1996) ). Isto se constitui em um desafio para a
administração estratégica. Algumas empresas se preocupam em realizar pesquisas para o
auto-conhecimento, a avaliação do desempenho e do mercado (KAPLAN e NORTON(1997).
Estes procedimentos são necessários à sobrevivência das empresas porque permitem o
feedback das condições empresariais e orientarão a organização para que ela continue
evoluindo. Este fenômeno na teoria sintética da evolução é chamado de pleiotropia
(CURTIS(1977:11), MAYR(1977:11)). Este conceito se confronta e invalida a proposta das
estratégias genéricas alternativas de PORTER(1997), que afirma ser possível classificar
(corretamente) as estratégias de empresas em uma matriz que separa custos, enfoque e
diferenciação. Na verdade esta classificação não procede, pois, a diferenciação cria uma efeito
que obriga a formação de uma estrutura que integra todos estes aspectos simultaneamente.
Pesquisas feitas a partir do modelo de Porter costumam gerar resultados dispares e pouco
assentados com a realidade empresarial, como empresas stuck in the middle (sem
posicionamento) apresentarem bons resultados e empresas “com posicionamento” não
gerarem resultados favoráveis como se espera que ocorra (SILVA,2001). Estas disparidades
costumam ser atribuídas a falhas no levantamento dos dados, mas a culpa não recai aos
pesquisadores, mas ao erro conceitual do modelo de Porter que desconsidera o efeito da
pleiotropia. (MAYR(1977:11), CURTIS(1977:11) ).
7)
Princípio da Habilidade Atípica: (DARWIN(1996:27)) A estrutura ou a
especialização em qualquer sistema não precisa motivar o bloqueio de uma habilidade atípica,
pois essa habilidade, além de não comprometer os recursos deste sistema, pode agregar
benefícios para ele. Diversos exemplos mostram como empresas ou populações empresariais
perceberam a vantagem do desenvolvimento de habilidades atípicas. Por exemplo: os postos
de combustíveis situados nos centros das cidades tinham a tradição de somente fornecer
produtos para abastecimento de veículos automotores, mas atualmente desenvolveram a
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prática de fornecer produtos de consumo para os condutores de veículos através das lojas de
conveniência.
8)
Princípio da Parte Instintiva: (DARWIN(1996:28)) A cultura organizacional
gera hábitos conscientes e automáticos que podem ser automatizados com o tempo, sejam eles
positivos ou negativos. Independente de quem ensine ou ordene algo em uma organização,
uma atitude pode ocorrer por efeito da cultura implantada e as organizações podem fazer uso
efetivo deste recurso. Este espécie de “piloto automático” tem sido empregado e
desenvolvido em grandes corporações do mundo (BERNICK(2001)). As atitudes, ativadas
por um núcleo central de cultura seguem a analogia da genética e por isso, nunca se perde.
Um novo campo da ciência está sendo criado com base nesta analogia e que vem agregando
importantes conclusões para as ciências sócias como um todo, esta ciência é chamada
Memética (WAIZBORT(2001:645).
9)
Princípio da Velocidade de Substituição: (DARWIN(1996:30)) Implantar
novos procedimentos é mais difícil do que suplantá-los. A demora na implantação de
procedimentos, não decorre da má vontade de equipes ou de uma cultura organizacional, é um
fenômeno geral e passivo de ocorrer em qualquer corporação. Empresas que sofrem de
mudanças bruscas em suas estruturas e processos são seriamente penalizadas quando
desconhecem este fenômeno. A Petrobrás vem investindo altas somas em consultorias
multidisciplinares e altamente qualificados para tentar encontrar a causa de seus erros, no
entanto, ela não parece ter identificado que o princípio da velocidade substituição foi e poderá
ainda estar sendo o grande responsável por estes problemas.
10)
Princípio da Continuidade Obrigatória: (DARWIN(1996:31)) A economia
da natureza não difere da economia das organizações. A participação de uma empresa é
sempre uma posição relativa. Sempre existirão agentes que disputarão os recursos de uma
organização. Por isso todas as empresas precisam evoluir para não perderem as posições
conquistadas. Como já foi analisada antes, se não há chances de evoluir, o destino é ser
substituído. Este princípio chama atenção para as práticas de melhoria, tanto quantitativas
(graduais) como qualitativas (revoluções). Assim, não se deve questionar se um destes
procedimentos é importante para uma organização, pois, ambos são indispensáveis, em uma
hora ou outra e as empresas necessitam continuar seguindo o movimento global. A
competição que provoca a busca constante da superação dos próprios limites forçando a
evolução organizacional para um processo inevitável e irreversível. Continuar progredindo é
um ato obrigatório e exige de modo geral e específico, melhoraria e inovação, sempre
((KELLY (1999), PRAHALAD e HAMMEL (1995), FERRARA (1977;75), BAUER (1999),
BAUM (1999:138), ULBALDI (1997), LAND (1995), CAPRA (1997))).
Em Every Business Is a Growth Business, de Ram Charam e Noel M. Tichy, os autores
defendem que as estratégias de desenvolvimentos devem ser sempre executadas,
independente da fase que a organização se encontra. Há outros exemplos ao longo do tempo
que mostram a adaptação de organizações às condições ambientais. Nestes exemplos, podese perceber como as mudanças inevitáveis, previstas no modelo darwiniano, influi
determinantemente no destino corporativo. PENZIAS(1990) conta o clássico caso da Pony
Express, a companhia que implantou um serviço de excepcional eficiência às custas de muita
dedicação de seus homens e de seus animais, que consistia em cobrir 3.163 quilômetros entre
St. Joseph (Missouri) e Sacramento (Califórnia), em menos de dez dias, conduzindo a
correspondência dos habitantes dessas cidades. Para isso, os mensageiros trocavam de cavalo
a cada 120 quilômetros, cavalgavam dia e noite, enfrentavam índios hostis, combatiam
bandidos e venciam dificuldades geográficas. Com toda essa estrutura organizacional e
disposição dos seus recursos humanos, a empresa teve que abolir os seus serviços em apenas
1(um) ano de existência devido à invenção do telégrafo.
10
Na implantação da Internet no Brasil, muitos empreendedores pequenos ou grandes
engrossaram o cordão dos provedores de acesso a Internet. Com o passar dos tempos, os que
não conseguiram crescer, saíram do mercado e os grandes provedores assumiram as posições
dos que se retiraram. Com a entrada das empresas de acesso gratuito os provedores existentes
sofreram grandes baixas de faturamento e alguns, por motivos estratégicos, criaram a sua
própria empresa de acesso gratuito utilizando-se de outra marca. Após a queda das ações na
Nasdaq, os investidores passaram a exigir das empresas de tecnologia e Internet, lucros mais
concretos a prazos mais próximos da visão, forçando essas empresas a revisarem seus
conceitos comerciais.
Situações como essas demonstram que o desafio imposto às organizações se assemelha
realmente a sobrevivência na selva. A necessidades das organizações é semelhante aos dos
organismos biológicos tanto em questões de eficiência quanto em questões de estratégia. O
modelo revelado na tradução dos conceitos evolucionistas é repleto de idéias que orientam a
efetivação da eficiência e da estratégia de empresas e indústrias. Não basta o procedimento
da qualidade contínua, nem a reengenharia. É necessária uma diferenciação criadora de
condições que assegurem a evolução organizacional.
Nunca existirá estabilidade nas necessidades do mercado e não faltará quem se
propunha a atendê-las. Evoluir não é uma sofisticação administrativa, mas é uma necessidade
básica, pois, só existe equilíbrio dinâmico nos sistemas abertos. Darwin afirma: "... formas
específicas não são imutáveis" e a expressão "o mercado hoje é mais exigente" é incorreta, o
mercado sempre foi e sempre será exigente, e evoluir é uma condição indispensável à
sobrevivência de qualquer organização.
Detalhes dos aspectos culturais
A cultura é um outro organismo dentro da organização. Como tal, a cultura sofre as
influências diretas e indiretas da evolução, ao mesmo tempo em que nela influi. Uma vez
identificada como organismo, a cultura apresenta as mesmas necessidades de evoluir e de
sobreviver. Para isso, a evolução da cultura conta com os processos de aprendizagem, autoorganização e de institucionalização. Os dois primeiros são processos auto-constituitivos e o
último, adaptativo (MATURANA e VARELA (1997), MATURANA (2001:154), MORGAN
(1996)). Atrelada a estes processos, a cultura segue um caminho evolutivo próprio cuja
característica derradeira é fixada através da institucionalização oriunda da relação com o
meio em circunstâncias e experiências vividas pela organização. Depois de instituída, a
cultura age como uma grande “conspiração invisível” que trabalha para manter a inércia de
seus valores ou a promover a evolução daquilo que está instituído (TOLBERT e ZUCKER
(1997:198)).
A aprendizagem na formação da cultura da organização equivale às relações
experimentadas entre um organismo e o meio. Por este motivo, a aprendizagem representa a
dialética existente na evolução cultural. Então, para a cultura organizacional aprender é
evoluir. Outrossim, evoluir culturalmente significa se submeter ao processo evolucionista e
aos seus mecanismos de diferenciação e seleção. A memética surgiu com o objetivo de
aprofundar a analogia entre o evolucionismo e a cultura organizacional, evidenciando a forte
presença do modelo evolucionista nas ciências sociais (WAIZBORT (2001:645)).
Uma vez criada uma organização, a partir de um núcleo gerado pelos membros
fundadores, a cultura organizacional evolui tanto por auto-organização como pela adaptação
obtida da aprendizagem. A auto-organização é oriunda da própria célula cultural dos
membros da organização, enquanto que a adaptação se desenvolve por tentativas e erros
típicos da experimentação e das relações com o ambiente. Destas relações são instituídas as
regras tácitas e formais que legitimarão determinadas atitudes na organização, configurando-
11
se gradativamente na institucionalização da cultura organizacional. Ao fim da
institucionalização a organização revelará uma diferenciação que integra habilidades
específicas decorrentes do princípio do uso e desuso e de outras habilidades atípicas definidas
em função das necessidades ou das oportunidades relacionadas ao conceito de negócio da
empresa (BAUM (1998: 175)).
As habilidades instituídas na cultura organizacional influem e são influenciadas pelo
meio gerando a imitação (KATZ E KAHN (1978:118)). Embora toda organização trabalhe
para se diferenciar, no entanto, ela preserva fortes relações parentais com as demais
organizações da mesma indústria devido ao princípio da imitação. A semelhança representa o
padrão de caracterização da própria indústria, implicando na inevitabilidade a que todas as
organizações componentes de uma mesma indústria sofrem. Se o padrão homogeneíza a
organização, por outro lado, ele a identifica. Na operacionalização organizacional a
identificação representa a capacidade de existir para o mercado e de ser reconhecida como
apta por ele. (TOLBERT e ZUCKER (1997:198)).
A parte instintiva da organização constitui o núcleo que reproduzirá a cultura
organizacional. Como um núcleo de células orgânicas, a parte instintiva contém todas as
informações e habilidades disponíveis tanto para realizar, por ato-reflexo, as atividades
operacionais como para repetir e replicar esta capacidade. O cultivo e a distribuição dessa
capacidade está fortemente relacionado com a condição de crescimento e desenvolvimento da
organização, dado que é a partir da reprodução desta célula que se efetuará a evolução.
(NONAKA E TAKEUCHI(1997), (KELLY(1999))
A figura 1 a seguir mostra a estrutura e a dinâmica do sistema evolutivo organizacional
construído com base nos princípios e conceitos gerais do modelo evolucionista darwiniano. A
ilustração mostra que o modelo relaciona um sistema que estabelece uma estrutura técnica e
cultural de uma organização e sobre ela exerce as atividades em um sentido único que busca
atender os objetivos idealizado para o conceito de negócio da organização, sujeitos a
dinâmica da adaptação ambiental, dentro de uma velocidade permitida pela estrutura e
atuando continuamente por força do princípio da continuidade obrigatória.
Figura 1 – Sistema estrutural e dinâmico da evolução organizacional
Estrutura
Estágio Ovo / Célula
Diferenciação Integrada
Habilidade Atípica
Uso e desuso
Imitação
Parte instintiva
Velocidade de Substituição
Continuidade Obrigatória
Adaptação
Dinâmica
Conceito de
Negócio
12
Fonte: Elaborado pelos Autores
Em resumo, os dez princípios retirados do darwinismo e os conceitos gerais de seleção
e diferenciação, também precisam ser considerados de acordo com o mecanismo da
pleiotropia, ou seja, o valor do que está exposto neste estudo não pode ser reduzido as suas
partes, mas sintetizado como um grupo de princípios que se integram para cumprir a missão
de apoiar a administração da evolução das organizações.
O evolucionismo darwiniano revela que não é a “lei do mais apto” a maior lição deste
modelo, mas sim o princípio de “não parar”. Empresas de qualquer lugar do mundo não
podem se acomodar, pois, o meio não se acomoda. As empresas necessitam criar e inovar
mudando sempre, sendo sempre necessário mudar. Entretanto, mudar não significa substituir
procedimentos de modo descomprometido com a cultura da organização. O exemplo da
Petrobrás demonstra, o que a desconsideração do princípio da velocidade da substituição pode
acarretar a uma organização.
O modelo darwiniano ensina que a diferenciação é o principal mecanismo na evolução
empresarial. A diferenciação representa a própria estratégia de sobrevivência das
organizações e os administradores precisam aprender a arte de diferenciar empresa,
identificando atributos, potencialidades e interesses mercadológicos. Uma organização não
pode evitar de fundamentar a sua estratégia na diferenciação.
Atendo-se às sugestões de estratégias genéricas feitas por estrategistas como Porter,
Mintzberg, Prahalad e Omae (dentre outros), nota-se uma parcela significativa de propostas
de estratégias são, na verdade, propostas de diferenciação. O princípio da continuidade
obrigatória “cerca” esta conclusão colocando-a na dimensão temporal de perpetuação. Além
disso, a diferenciação é sempre integrada aos demais atributos e não faz sentido separá-la em
um quadro de estratégias genéricas, assim como fez PORTER(1996). Portanto, não são as
pesquisas que não conseguem se assentar aos modelos estratégicos de Porter, mas é este
modelo que se faz improcedente, tendo o fenômeno da pleiotropia como prova inconteste
desta conclusão.
O efeito do caos provoca a heterotrofia ambiental (uns, alimentando-se de outros). A
“cadeia alimentar econômica” obriga todos a trabalharem pela sobrevivência. Todos
lançados, de uma forma ou de outra, no processo heterotrófico que a natureza criou. A
restrição dos recursos parece ainda ser o principal mecanismo de controle da “lotação” nos
mercados, conduzindo as organizações para uma continuidade evolutiva obrigatória.
Evolução e dialética se afunilam, espiralando a criação das novas estruturas
organizacionais, fadadas às mudanças construtivas ou destrutivas. De um jeito ou de outro, a
evolução se mostra não como uma onda ou como uma partícula, mas algo como um coração
que, ou pulsa, ou morre. Organizações, assim como os organismos, querem seguir vivendo,
por isso, necessitam prosseguir regidas pelo princípio da continuidade obrigatória, sempre
ampliando a quantidade e a qualidade das modificações benéficas às empresas. Atributos,
integração sistêmica, valores culturais, competição e diferenciação são conceitos que se
entrelaçam com naturalidade na luta pela sobrevivência, na luta pela estabilidade, pela
institucionalização organizacional e pela condição de continuar garantindo a própria seleção.
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