1 Princípios de evolução organizacional decorrentes do modelo evolutivo biológico Autoria: Francisco Cristino de França Junior, Francisco Correia de Oliveira Resumo A Evolução das organizações é a missão de maior importância para os administradores, chegando a se confundir com a própria razão de ser desses profissionais. Este estudo promove a conversão de conhecimentos da evolução biológica para os estudos da evolução organizacional. Através da conveniente “tradução“ das observações darwinianas a respeito da evolução natural, são gerados dez novos princípios aplicáveis à ciência administrativa, complementando os conceitos concebidos pelos ecologistas organizacionais. Trata-se de conclusões dedutivas e teóricas que demonstram forte assentamento à prática administrativa, apoiando tarefas relacionadas a estratégia e a institucionalização da cultura organizacional. Dentre os conceitos elucidados, a diferenciação da organização se coloca como o principal mecanismo da evolução empresarial e integra todas as habilidades da organização. De acordo com esta constatação, o estudo conclui que o quadro de estratégias genéricas do modelo de Porter se torna invalidado, justificando, assim, porque algumas pesquisas não conseguem consistir resultados coerentes com as hipóteses. Para este estudo a principal lição do modelo evolucionista é o princípio de “não parar” dada a fatalidade caótica da heterotrofia ambiental que obriga todos a trabalharem pela sobrevivência. Introdução O que é evolução, uma mudança acompanhada de melhorias? para quem seriam dedicadas essas melhorias, para o meio ou para os indivíduos? Evolução seria um ponto de acumulação, um ponto em que se depositam vantagens ou um resultado observado de um processo bem sucedido? A evolução é fixa como um ponto de chegada, um objetivo a ser alcançado, ou é uma dinâmica de estados variados? Ainda mais, a evolução é absoluta ou relativa? Tais respostas remetem a um abismo filosófico que há décadas desafia o pensamento científico contemporâneo. Na torrente das explicações atuais, ela poderia ser encarada como um fenômeno caótico e complexo. Contudo, diante de forte relativismo a compreensão da evolução conduz para visões e significados que ora redundam, ora divergem. Recorrendo a Física, a evolução poderia ser definida como a luz, ora partícula, ora onda. Como partícula ela seria um objetivo de sucesso a ser alcançado. Caso fosse uma onda, a evolução representaria um processo de repetição, de auto-reprodução de melhorias, seja este, continuado ou descontinuado. Destarte, o único aspecto não tolerado pela evolução seria a não variação, a estagnação. Então, sem olvidar Popper, escolhendo a negação por expressar melhor que a afirmação, a evolução seria a não imutabilidade. Para os administradores a missão de realizar a evolução empresarial chega a se confundir com a própria razão de ser desses profissionais. Esta importância é justificada com a presença do crescimento e do desenvolvimento neste processo, acrescido do fato de ela estar imbricada com a sobrevivência das organizações. Os gestores, mentores do destino organizacional, são identificados como os principais responsáveis pela evolução ou falência de uma organização. Para apóia-los nesta missão, este estudo requisitou à ciência biológica os princípios de evolução da natureza, convenientemente transpostos para a ciência das organizações. Desta feita, este estudo adotou como objetivo a extração de novas aplicações 2 do modelo orgânico, ampliando o leque de idéias já levantadas desse manancial de conceitos científicos chamado evolucionismo. Este estudo retira dez princípios da teoria evolucionista de Darwin, traduzindo-os para a Ciência Administrativa. Apesar de contribuições similares, principalmente as de as de Baum, as de Freeman e Hannan, Carrol e Delacroix, e de Suàrez e Utterbac, e dos ecologistas organizacionais, este estudo adota critérios diferentes dos tradicionais que se referem a investigações sobre a suscetibilidade das falências e crescimento das indústrias em relação à idade, porte, especialidade das estratégias, origem da fundação, densidade populacional e processos tecnológicos As pesquisas dos ecologistas organizacionais diferem das cumpridas neste estudo porque aquelas se referem a pesquisas empíricas a respeito da suscetibilidade das falências e fundações, e das implicações da idade, porte, origem da fundação e densidade populacional, enquanto este estudo elabora um rol de princípios deduzidos por correlação contextual e lingüística dos conceitos da biologia. De acordo com este objetivo, são aprofundadas as questões ligadas diretamente ao crescimento e ao desenvolvimento das organizações conectadas também à institucionalização da cultura organizacional. Estes princípios são consistentes porque são baseados diretamente nos conceitos darwinianos e naqueles que demonstraram clara correspondência no campo das organizações. Os princípios obtidos foram escolhidos entre os que não sofreram nenhuma revisão da moderna teoria sintética, selecionados somente depois de consideradas as principais restrições ao darwiniano clássico. A principal finalidade destes princípios é esclarecer e organizar uma hierarquia de condutas e prioridades regentes da evolução organizacional. Essa relação consiste uma linha mestra de conduta da tarefa de transformar organizações em empresas evoluídas. Deste modo, os princípios obtidos formam um modelo com orientações gerais a respeito da fundamental missão administrativa de evoluir organizações. O modelo evolucionista A ciência da evolução na natureza é fortemente marcada pela contribuição de Darwin (WAIZBORT(2001:632), CURTIS(1977:3)). Os fundamentos do mecanismo proposto no evolucionismo revelam que os seres vivos possuem uma elevada condição para reproduzir, todavia, o número de indivíduos de cada espécie tende a permanecer constante. A conseqüência destes fatos leva a crer que exista um mecanismo natural regulador da reprodução. Como todos os seres vivos tendem a se modificar, não há dois seres vivos absolutamente iguais e devido a essa diferença alguns indivíduos são beneficiados e outros, prejudicados. Caso a variação manifestada represente uma desvantagem para a sobrevivência ou para a reprodução, a espécie não receberá a carga genética desse indivíduo. Se ocorrer o contrário, a evolução será produzida pela manutenção das características dos sobreviventes, que terão a oportunidade de reproduzirem. Atuando incessantemente, de geração em geração, acumulam-se pequenas diferenças que originam as espécie, e resultam na evolução. As condições da natureza escolhe os animais pela sua resistência, pela sua aparência e pelas aptidões relativas as condições do meio. Os que falecem perdem a oportunidade de reproduzir e de fixar as suas características na identidade da espécie ( WAIZBORT (2001:637), GAROZZO (1974:140), MAYR(1977:11), CURTIS(1977:13) ). O modo como Darwin e as demais teorias modernas reconhece a evolução convergiu para dois sujeitos do mecanismo evolutivo: a diferenciação e a seleção. A diferenciação é o termo que correspondente ao que Darwin de chama de “variedade”, a teoria genética de “mutação” e a teoria molecular de “replicação de erros de cópia” (CURTIS(1977:11), MAYR (1977:11) ). 3 Na seleção natural não há como desconsiderar as contingências ambientais que invalidam os estereótipos de virtude, uma vez que não há predição ou critérios para a adaptação de padrões, pois, o que beneficia um indivíduo hoje, pode não beneficiá-lo amanhã. Por este motivo, não é prudente apostar que determinado atributo seja mais importante do que outro, desconsiderando-se as contingências, o que mostra que a seleção não sugere a valorização deste ou de outro atributo (força, agressividade, etc), mas a conveniência de um caráter em uma situação que é mutante (CURTIS(1977:11), MAYR(1977:11)). Depois de Darwin, os estudos da evolução biológica se desenvolveram em um espiral dialético que conciliou teorias e princípio divergentes. Corrente contrária ao evolucionismo darwiniano surgiu com as descobertas de Mendel que mostravam que as características genéticas permanecem na natureza. A conclusão obvia desta experiência é que a genética estaria demonstrando a fixidez das espécies e negando a mutabilidade. Nasce então, o principal contraponto da teoria da seleção natural. Entretanto, a experiência de Hardy e de Weinberg revelou que a recombinação sexual não modifica a composição global do pool genético e que o simples cruzamento de organismos não destrói a variabilidade, mas, de fato, a preserva. Esta variedade amplia a possibilidade de diferenças que, segundo os conceitos genéticos de Mendel, deveria ser reduzida. O princípio de Hardy-Weinberg conduziu o evolucionismo clássico na direção da Teoria Sintética da Evolução, versão atualizada do evolucionismo que concilia genética e evolucionismo (WAIZBORT(2001:632), CURTIS(1977:11), MAYR (1977:11)). Dentro do campo da teoria sintética da evolução surgem os termos genótipo e fenótipo que representam, respectivamente, a característica interna e a aparência do indivíduo. Nesta visão atualizada, as espécies são pools genéticos isolados no espaço e no tempo, representando as unidades evolutivas, tal como observado nos trabalhos de Richard Dawkins, Daniel Dennett, Stephen Jay Gould, Richard Lewontin, Noam Chomsky e Theodosius Dobzhansky . Mais recentemente, Ernest May, Ricardo Waizbort, James G. Lennox, o de Edson Pereira da Silva, Anna Carolina K. P. Regner, e Maurício Vieira Martins (MARTINS(2001:740), WAIZBORT(2001:632)). A outra importante corrente dos estudos evolutivos advém da molécula química responsável pela transmissão dos caracteres genéticos chamada DNA. O campo de conhecimento desenvolvido em torno deste assunto gerou a Teoria Molecular dos Genes. O DNA é um plano explícito que descreve o modo como o genótipo se transformará em fenótipo. Seguindo os experimentos de Frederick Griffith em 1928, de Avery, MacLeod e McCarty em 1944, James Watson e Francis Crick propuseram um modelo molecular para o DNA (ácido desoxirribonucléico), após um ano e meio dedicados na Universidade de Cambridge, que lhes renderam o prêmio Nobel de medicina. (CURTIS(1977:11), MAYR(1977:11)). Bastante atacado por religiosos e cientistas, o evolucionismo se mantém, no decorrer de mais de 140 anos, em condições de confronto com os que buscam refreá-lo. Ataques dogmáticos, ressentimentos históricos, principalmente aqueles marcados pelo mau uso de seus conceitos pelos darwinistas sociais, acompanham a trajetória dessa teoria. Apesar de bem estabelecido na ciência moderna, o evolucionismo ainda é contestado por três tipos de críticas: os que consideram que a natureza não é fruto de nenhum processo evolutivo, mas resultado direto dos atos do Criador, em conformidade com a narração bíblica e chamada de Criacionismo; a que considera a evolução um processo interno ao sistema e, portanto, de cunho mais ontológico que evolutivo; e a que responsabiliza as idéias de Darwin por questões de incitação a atitudes egoístas, competitivas e segregacionistas (WAIZBORT(2001:632), CURTIS(1977:11), MAYR(1977:11), SATHOURIS(2000)). 4 A obra “Dança da Terra” de Elisabeth Sathouris concentra importante crítica ao evolucionismo darwiniano. O argumento chave de SATHOURIS se baseia na necessidade uma nova visão do mundo que priorize a cooperação, esquecendo ao máximo a proposta de competição. Segundo a autora, Darwin teria deixado de lado a importância da cooperação como parte do processo evolutivo, tendo isto, contribuído para a legitimação da agressividade e da subjugação de indivíduos justificados por um único caminho possível para o crescimento e o desenvolvimento. Sathouris fala do Homem, dos animais e da Terra em uma saga denominada como “Dança da Terra” (MARTINS(2001:740), WAIZBORT(2001:632), MAYR(1977:11)). Para SATHOURIS(2000), Darwin desenvolveu sua teoria sobre as bases de uma luta pela sobrevivência entre indivíduos e espécies, fundamentando sua teoria na competição e deixando de lado outras motivações, como a vontade própria dos organismos de cooperarem. “Everything seemed clear now. Large numbers in the face of too little food produced competition, and competition led to natural selection. The selection itself was based on the natural variety of creatures, some of which were fitter than others”. Outrossim, a nova proposta seria a competição se transformando em cooperação conforme o modelo proposto de individuação => competição => conflito => negociação => resolução => cooperação => transformado os novos níveis de individualidade. Assim, a competição e a cooperação seriam fases diferentes deste ciclo, onde a base mais evoluída estaria na cooperação. Uma espécie animal ou uma organização social (sociedade) em uma fase mais jovem se encontraria no estágio mais próximo dos níveis iniciais, aproximadas à competição e a individualidade predatória. O encontro de uma espécie com a outra, geraria o conflito que desenvolveria a competição por espaço e recursos. As negociações, por sua vez, conduziriam a cooperação provando que ela é útil a todas as espécies e que representa um estágio mais maduro de convivência comum. Sathouris afirma: “It took a century and more after Darwin's theory was published for us to understand that environments are not ready-made places that force their inhabitants to adapt to them, but ecosystems created by living things for living things. All the living things belonging to an ecosystem, from tiny bacteria to the largest plants and animals, are constantly at work balancing their lives with one another as they transform and recycle the materials of the Earth's crust. (…) Now we can see that Darwinism is a misleading way of seeing nature. (...) The social view of individual people pitted against one another in such struggle makes little more sense as an ideal than the notion that our bodies' cells are competing with one another to survive in hostile bodies“. Apesar disso, em um outro ponto do texto Sathouris afirma que a junção de pontos de vista distintos conjugam uma teoria completa. “Darwin saw evolution as driven by competition among individuals. Later evolutionists noted cooperation and altruism within species, suggesting that evolution must be driven by competition among species for ecological niches in which to flourish. Richard Dawkins then proposed that both these theories were incorrect, as evolution was really driven by selfish genes that struggled to maximize their expression in the overall gene pool. What none of them had the vision to see was that they were all right, but only together. Self interest at all levels -- species, individual and gene -- motivates nature's creativity and health” Como golpe de misericórdia contra o evolucionismo, a autora de “Dança da Terra” afirma que a seleção natural não é uma teoria e que os conceitos apresentados não têm e não tiveram serventia para a ciência: “Nor does natural selection amount to a real theory, since it tells us little more than that some creatures die before they reach the age of reproduction“. Para Sathouris, a nova visão do mundo cooperativo é baseada em modelos orgânicos de sociedades como as dos insetos que apesar de coordenarem diversas atividades em comum, agem de modo rígido em suas comunidades. Enfim, a proposta de Sathouris para a 5 construção de organizações e sociedades cooperativas decorre de uma tomada de posição por parte da humanidade a favor dos conceitos ensinados pelas religiões pacifistas como a cristã, o budismo ou o maometismo. “The great teachers of our world, such as Jesus, Mohammed and Buddha, gave us ethical systems based on this kind of perception -- ethical systems showing such universal interconnectedness that what is done to others is done to yourself. Now western physicists showing us non-timespace and non-locality begin to teach the same thing” No entanto, convém esclarecer alguns dos contrapontos feitos por Sathouris. Quando ela afirma que algumas espécies, "autopoéticamente" (MATURANA e VARELA(1997) não “quiseram mudar”, esta pesquisa entende que algumas espécies passaram por processos evolutivos cuja adaptação foi menos necessária. A lacuna da cooperação, apontada como o “grande defeito” do evolucionismo darwiniano merece uma análise parcimoniosa. Cooperação e competição são conceitos reversíveis. O sentido de conceito reversível é untado a sua condição de relatividade. Cooperação e competição são reversíveis porque depende do lado que está se efetivando o benefício da ação. Se a cooperação ocorre para beneficiar um grupo em detrimento a outros, então ela estará sendo usada como um recurso de concorrência entre grupos. Um grupo de empresários que cooperam na formação de um cartel estará colaborando para reduzir a competição e ao mesmo tempo para explorar o mercado de forma agressiva ou especulativa. O benefício que este grupo busca para a sua indústria não é um benefício social, mas individual. Ao mesmo tempo, quando a política econômica de uma nação procura defender o consumidor de práticas especulativas como essas, ela procura fortalecer a livre competição e a concorrência. Portanto, se a grande crítica ao evolucionismo darwiniano repousa na argumentação da cooperação como a grande lacuna teórica, esta consideração remove de forma suficiente e necessária qualquer fundamento deste pressuposto. Quando os homens não se vêm como parte de uma família, de uma nação ou de uma organização, eles não têm nenhum motivo para se dedicarem a um objetivo de convivência tal como o conceito do companheirismo e dos objetivos comuns de SENGE(1996)). O darwinismo tem sido rotulado como a representação da competitividade e considerada por Sathouris como um mal para a sociedade a ser substituído pela cooperação. Mas o bem da cooperação também está intrínseco nas quadrilhas que seqüestram pessoas, no crime organizado e nas conspirações terroristas, tanto quanto nas campanhas de caridade. Portanto, a cooperação em um sentido mais amplo e fundamental não é fruto de um processo que parte da competição e resulta na cooperação, ela é sim um fenômeno fundamentado no sentimento de pertença dos grupos ou dos organismos, Quando células se agrupam em um mesmo organismo, elas cooperam. Quando o organismo ameaça não conter a sua funcionalidade plena, as partes demonstram debandar em atividades individuais e descomprometidas com o resto do corpo. Um exército sem comando é um exército em retirada. Enfim, a cooperação não é uma função que transforma a competição em negociação, mas é o resultado da integração de partes identificadas com fins comuns. Há um equivoco acreditar que basta negociar para se chegar à cooperação. A negociação é na verdade uma conformação, uma renúncia em troca de algo que se quer ter. Entretanto, a cooperação não nasce do conflito, mas de uma motivação interna de um grupo, uma identidade coletiva que gera um sentimento de pertença que induz as pessoas a quererem cooperar em prol da missão desta unidade. O único modo de cooperação que existe é quando a organização evolui englobando as partes em forma de um único organismo em interações integradas. Contrapontos como o de Sathouris revisam muitas questões pertinentes aos estudos das ciências biológicas e sociais, no entanto, essa crítica ao evolucionismo não parece correta. A 6 seqüência sugerida em que a cooperação é a evolução da competição, permeada pela negociação é um equivoco. A negociação é um instrumento para a decisão de ceder por interesses, todavia, quando não há interesses não há o efeito da negociação, conseqüentemente, não há cooperação. A negociação prescinde o interesse, que requer objetivos comuns, que depende do sentimento de pertença, da mesma identidade, e aí existirá a condição para uma negociação em prol da cooperação(SENGE(1996)). Evoluir compõe uma teia feita de organismo e meio onde ambos não ficam imunes às alterações, sejam elas boas ou ruins. Se um organismo cresce maculando a teia, não haverá ambiente favorável para que ele viva nela. Caso o ambiente esteja sendo favorável a um organismo, melhor que ele busque outras localizações neste tecido. Como o tecido une tempo e espaço, o passado poderá vir cobrar o seu ônus nas conseqüências dos atos de todos os que habitam a teia, assim como o futuro bom poderá estar presente para os que plantaram boa vontade. Genericamente, promover a evolução é plantar um presente de acordo com o que se queira colher no futuro e os frutos advirão, bons ou ruins, conforme a semeadura. Os conceitos evolucionistas expostos por Darwin em “A Origem das Espécies” a respeito da seleção das espécies, compõe aqui a matéria prima para o desenvolvimento de um modelo de aplicação para a ciência administrativa. Por analogia, são comparados os termos que possuam correspondência lógica entre os campos organizacionais e biológicos. O método utilizado para processar esta conversão é semelhante a um processo de tradução lingüística. São tomados os pontos de intercessão e são considerados os devidos contextos. Preliminarmente é considerado que uma organização seja correspondente a um organismo, um indivíduo corresponda a uma organização, as espécies compreendam uma indústria (ramo de empresas) e que os ambientes correspondam aos mercados. Transpondo o que é dito no evolucionismo a respeito de organismos, espécies e meio, para o campo das empresas, obtém-se uma espécie de “tradução” das conclusões de Darwin para a ciência das empresas. Durante o século XX, muitos estudos e analogias foram feitos com este objetivo, tendo esta área de estudo recebido o nome de Ecologia Organizacional. No entanto, este estudo realiza a sua própria analogia do evolucionismo, não se conformando com a análise previamente elaborada pelos ecologistas, por supor ser possível encontrar novas contribuições ainda não notadas até aqui por estes estudiosos. Este trabalho tem também o objetivo de ampliar a fundamentação dos estudos empíricos dos ecologistas organizacionais através dessa revisão analítica dos princípios evolucionistas (BAUM( 1999:138), MAYR(1977:11)). Novas aplicações do modelo evolucionista O princípio básico a ser apreendido com o evolucionismo é que para evoluir, necessitase do equilíbrio entre as forças de construção e de destruição (MAYR(1977:11)). Não basta saber que o mais apto é o vencedor, isto é um fato consumado. Falta perceber porque o mais apto é mais apto. A resposta está no segundo mecanismo da seleção das espécies, a diferenciação. Na natureza a diferenciação é fruto da sorte do indivíduo, mas nas organizações pode ela é definida pelo Administrador. Entretanto, o ato de diferenciar é o ato de elaborar a estratégia da empresa. Esta tarefa exige, dentre outras habilidades, sensibilidade para identificar os atributos que capazes de promover o crescimento e o desenvolvimento da empresa. Esta situação incorre em decisões presentes para usufruto em situações que ocorrerão no futuro. Ao termo destes fatos, diferenciar, mesmo sendo efetuado conscientemente, também se beneficia da sorte. Ao contrário do chavão de que o evolucionismo se reduz a “lei do mais apto”, o que esta teoria ensina de mais importante é que a evolução das organizações depende da arte da diferenciação. A organizacional depende deste recurso tanto para evoluir como para 7 continuar existindo. Em outros termos, compreende-se a lição evolucionista como uma necessidade constante de manter as chances de evolução viabilizada por procedimentos de contínua diferenciação. Darwin tinha a peculiar capacidade de notar o que outros não souberam fazer. No entanto, estas notas precisam ser identificadas para que o estudo da ecologia organizacional não desperdice conceitos que possam ter utilidade para os Administradores. Desta feita, relaciona-se adiante o conteúdo resgatado através da exploração do evolucionismo e da sua aplicação nos estudos de estratégia, desempenho e cultura organizacional. Os pontos do evolucionismo considerados como aplicáveis à Administração de Empresas são indicados a seguir em forma de dez princípios: 1) Princípio da Adaptação: (DARWIN(1996:22)) A escolha detalhada das habilidades é contingêncial para organizações e razoavelmente preditiva para a indústria como um todo (TACHIZAWA e RESENDE(2000)). Infelizmente não se tem a priori o tipo de diferenciação ideal para definir uma estratégia vencedora e este princípio define a diferenciação organizacional como a única e principal estratégia genérica organizacional. 2) Princípio do Conceito de Negócio: (DARWIN(1996:23)) Uma empresa normalmente se diferencia nas atividades relacionadas às suas potencialidades principais (PRAHALAD e HAMEL(1995)). Isto significa, criar um conceito de negócio dentro da vocação existente e mediante uma avaliação sistêmica das possibilidades de sucesso deste conceito para a empresa. Mas se o conceito de negócio define a diferenciação, esta define aquele. Do mesmo modo as habilidades da organização devem ser direcionadas para enfrentar as condições do meio econômico, pois, precisa ser avaliado antes de qualquer esforço neste sentido, o potencial do mercado em relação ao conceito de negócio escolhido. 3) Princípio do Uso e Desuso: (DARWIN(1996:17)) A evolução empresarial dependerá da capacidade corporativa para empreender a conexão entre os investimentos e a diferenciação pleiteada. As habilidades nas empresas dependerão dos investimentos realizados nas áreas selecionadas. Áreas abandonadas não desenvolverão atividades de modo eficaz e terão suas funções atrofiadas implicando em ineficiência. Este princípio regula a dedicação e investimento no prioritário. 4) Princípio da Imitação: (DARWIN(1996:18)) Estilos gerenciais que passaram por experiências que puseram à prova a eficiência de alguns procedimentos, são transmitidos no tempo e no espaço das organizações. Atitudes da liderança, boas ou não, podem ser reproduzidas por toda a cadeia de comando das corporações sem tempo definido para se extinguir (WAIZBORT(2001:645), MAYR(1977:11), TOLBERT e ZUCKER(1997:198), WOOD JR(1995) ). Um mesmo comportamento compulsivo pode ser observado na cultura de filiais, grupos empresariais, empresas de uma nação ou de um povo. Reproduzir atitudes tanto se refere ao espaço das corporações (filiais, divisões e departamentos) como ao tempo. Atos que se repetem revelam uma constância de comportamento que pode ser identificada como reflexos de construção cultural (NONAKA E TAKEUCHI(1997). Assim, as atitudes e mudanças ocorridas em longo prazo constituem o processo de institucionalização da cultura organizacional de modo gradual por acumulação de hábitos. Uma repetição de comportamentos imitativos em busca de reproduzir o sucesso de uma organização é o modo como são estabelecidas as indústrias (KELLY(1999)). Logo, a morfologia das indústrias é decorrente do processo de imitação compulsiva, motivo pelo qual se classificam as indústria pelas empresas do mesmo ramo. A evolução representa exatamente a efetividade da estratégia e da institucionalização cultural, em longo prazo (TOLBERT e ZUCKER(1997;198)). 5) Princípio do Estágio Ovo: (DARWIN(1996:24)) O estágio ovo mostra que a natureza elimina grande parte dos embriões e jovens organismos. Para uma organização crescer ela precisa de recursos e cuidados mínimos. Esta conclusão mostra a influência dos 8 estágios iniciais no resultado final das espécies e que configura o sistema empresarial como suscetível às condições iniciais e o caracterizando como um sistema sujeito ao caos. Empresas jovens de qualquer porte podem desenvolver uma próspera realidade econômica caso lhes sejam dadas o apoio técnico e financeiro necessário, não se tratando aqui de sugestão de apoio à pequena empresa, mas às novas empresas, sejam pequenas ou não (SUSSUMAN(1967)). Contudo, deve ser considerado que esta fase deve prezar pelo desenvolvimento das indústrias, salientando que no caso da implantação de programas de incentivo indiscriminado a criação e desenvolvimento das empresas existe o risco da geração desordenada de organizações na mesma indústria que podem levar a falência e perda de recursos de pelo excesso delas. O excesso de estímulo é tão pernicioso a estrutura econômica quanto à negligência de não apoiar as novas fundações. Em outras palavras, deve-se observar que este é um remédio a ser empregado com ponderação, pois, devido a sua alta proficiência é preciso que haja controle no crescimento da indústria. Este princípio está relacionado ao ponto caótico de saturação chamado por CAPRA(1995) como ponto de mutação e por LAND(1999) como ponto de transformação ( BERGÊ At all.(1996;63), BERTALANFFY (1968), FERRARA (1977: 75), BAUER(1999) , BAUM( 1999:138) ). 6) Princípio da Diferenciação Integrada: (DARWIN(1996:26)) A estrutura de um organismo é formada por um processo gradativo de seleção que torna o indivíduo capaz de conviver nas condições que o meio historicamente vem permitindo. Reproduzir este processo artificialmente e corretamente no campo das organizações é um problema complexo e não solúvel por uma análise linear, imediata e cartesiana. Darwin revela a deficiência humana pela necessidade de se compreender o processo endógeno e teleológico dos organismos e que, ao se reverter para o campo das organizações, insurge na necessidade da visualização da complexidade, que dificulta a tarefa de definir a diferenciação organizacional. Esta decisão requer a seleção de habilidades úteis no presente e, ao mesmo tempo, úteis no futuro ( MINTZBERG(1994:5), SENGE(1996) ). Isto se constitui em um desafio para a administração estratégica. Algumas empresas se preocupam em realizar pesquisas para o auto-conhecimento, a avaliação do desempenho e do mercado (KAPLAN e NORTON(1997). Estes procedimentos são necessários à sobrevivência das empresas porque permitem o feedback das condições empresariais e orientarão a organização para que ela continue evoluindo. Este fenômeno na teoria sintética da evolução é chamado de pleiotropia (CURTIS(1977:11), MAYR(1977:11)). Este conceito se confronta e invalida a proposta das estratégias genéricas alternativas de PORTER(1997), que afirma ser possível classificar (corretamente) as estratégias de empresas em uma matriz que separa custos, enfoque e diferenciação. Na verdade esta classificação não procede, pois, a diferenciação cria uma efeito que obriga a formação de uma estrutura que integra todos estes aspectos simultaneamente. Pesquisas feitas a partir do modelo de Porter costumam gerar resultados dispares e pouco assentados com a realidade empresarial, como empresas stuck in the middle (sem posicionamento) apresentarem bons resultados e empresas “com posicionamento” não gerarem resultados favoráveis como se espera que ocorra (SILVA,2001). Estas disparidades costumam ser atribuídas a falhas no levantamento dos dados, mas a culpa não recai aos pesquisadores, mas ao erro conceitual do modelo de Porter que desconsidera o efeito da pleiotropia. (MAYR(1977:11), CURTIS(1977:11) ). 7) Princípio da Habilidade Atípica: (DARWIN(1996:27)) A estrutura ou a especialização em qualquer sistema não precisa motivar o bloqueio de uma habilidade atípica, pois essa habilidade, além de não comprometer os recursos deste sistema, pode agregar benefícios para ele. Diversos exemplos mostram como empresas ou populações empresariais perceberam a vantagem do desenvolvimento de habilidades atípicas. Por exemplo: os postos de combustíveis situados nos centros das cidades tinham a tradição de somente fornecer produtos para abastecimento de veículos automotores, mas atualmente desenvolveram a 9 prática de fornecer produtos de consumo para os condutores de veículos através das lojas de conveniência. 8) Princípio da Parte Instintiva: (DARWIN(1996:28)) A cultura organizacional gera hábitos conscientes e automáticos que podem ser automatizados com o tempo, sejam eles positivos ou negativos. Independente de quem ensine ou ordene algo em uma organização, uma atitude pode ocorrer por efeito da cultura implantada e as organizações podem fazer uso efetivo deste recurso. Este espécie de “piloto automático” tem sido empregado e desenvolvido em grandes corporações do mundo (BERNICK(2001)). As atitudes, ativadas por um núcleo central de cultura seguem a analogia da genética e por isso, nunca se perde. Um novo campo da ciência está sendo criado com base nesta analogia e que vem agregando importantes conclusões para as ciências sócias como um todo, esta ciência é chamada Memética (WAIZBORT(2001:645). 9) Princípio da Velocidade de Substituição: (DARWIN(1996:30)) Implantar novos procedimentos é mais difícil do que suplantá-los. A demora na implantação de procedimentos, não decorre da má vontade de equipes ou de uma cultura organizacional, é um fenômeno geral e passivo de ocorrer em qualquer corporação. Empresas que sofrem de mudanças bruscas em suas estruturas e processos são seriamente penalizadas quando desconhecem este fenômeno. A Petrobrás vem investindo altas somas em consultorias multidisciplinares e altamente qualificados para tentar encontrar a causa de seus erros, no entanto, ela não parece ter identificado que o princípio da velocidade substituição foi e poderá ainda estar sendo o grande responsável por estes problemas. 10) Princípio da Continuidade Obrigatória: (DARWIN(1996:31)) A economia da natureza não difere da economia das organizações. A participação de uma empresa é sempre uma posição relativa. Sempre existirão agentes que disputarão os recursos de uma organização. Por isso todas as empresas precisam evoluir para não perderem as posições conquistadas. Como já foi analisada antes, se não há chances de evoluir, o destino é ser substituído. Este princípio chama atenção para as práticas de melhoria, tanto quantitativas (graduais) como qualitativas (revoluções). Assim, não se deve questionar se um destes procedimentos é importante para uma organização, pois, ambos são indispensáveis, em uma hora ou outra e as empresas necessitam continuar seguindo o movimento global. A competição que provoca a busca constante da superação dos próprios limites forçando a evolução organizacional para um processo inevitável e irreversível. Continuar progredindo é um ato obrigatório e exige de modo geral e específico, melhoraria e inovação, sempre ((KELLY (1999), PRAHALAD e HAMMEL (1995), FERRARA (1977;75), BAUER (1999), BAUM (1999:138), ULBALDI (1997), LAND (1995), CAPRA (1997))). Em Every Business Is a Growth Business, de Ram Charam e Noel M. Tichy, os autores defendem que as estratégias de desenvolvimentos devem ser sempre executadas, independente da fase que a organização se encontra. Há outros exemplos ao longo do tempo que mostram a adaptação de organizações às condições ambientais. Nestes exemplos, podese perceber como as mudanças inevitáveis, previstas no modelo darwiniano, influi determinantemente no destino corporativo. PENZIAS(1990) conta o clássico caso da Pony Express, a companhia que implantou um serviço de excepcional eficiência às custas de muita dedicação de seus homens e de seus animais, que consistia em cobrir 3.163 quilômetros entre St. Joseph (Missouri) e Sacramento (Califórnia), em menos de dez dias, conduzindo a correspondência dos habitantes dessas cidades. Para isso, os mensageiros trocavam de cavalo a cada 120 quilômetros, cavalgavam dia e noite, enfrentavam índios hostis, combatiam bandidos e venciam dificuldades geográficas. Com toda essa estrutura organizacional e disposição dos seus recursos humanos, a empresa teve que abolir os seus serviços em apenas 1(um) ano de existência devido à invenção do telégrafo. 10 Na implantação da Internet no Brasil, muitos empreendedores pequenos ou grandes engrossaram o cordão dos provedores de acesso a Internet. Com o passar dos tempos, os que não conseguiram crescer, saíram do mercado e os grandes provedores assumiram as posições dos que se retiraram. Com a entrada das empresas de acesso gratuito os provedores existentes sofreram grandes baixas de faturamento e alguns, por motivos estratégicos, criaram a sua própria empresa de acesso gratuito utilizando-se de outra marca. Após a queda das ações na Nasdaq, os investidores passaram a exigir das empresas de tecnologia e Internet, lucros mais concretos a prazos mais próximos da visão, forçando essas empresas a revisarem seus conceitos comerciais. Situações como essas demonstram que o desafio imposto às organizações se assemelha realmente a sobrevivência na selva. A necessidades das organizações é semelhante aos dos organismos biológicos tanto em questões de eficiência quanto em questões de estratégia. O modelo revelado na tradução dos conceitos evolucionistas é repleto de idéias que orientam a efetivação da eficiência e da estratégia de empresas e indústrias. Não basta o procedimento da qualidade contínua, nem a reengenharia. É necessária uma diferenciação criadora de condições que assegurem a evolução organizacional. Nunca existirá estabilidade nas necessidades do mercado e não faltará quem se propunha a atendê-las. Evoluir não é uma sofisticação administrativa, mas é uma necessidade básica, pois, só existe equilíbrio dinâmico nos sistemas abertos. Darwin afirma: "... formas específicas não são imutáveis" e a expressão "o mercado hoje é mais exigente" é incorreta, o mercado sempre foi e sempre será exigente, e evoluir é uma condição indispensável à sobrevivência de qualquer organização. Detalhes dos aspectos culturais A cultura é um outro organismo dentro da organização. Como tal, a cultura sofre as influências diretas e indiretas da evolução, ao mesmo tempo em que nela influi. Uma vez identificada como organismo, a cultura apresenta as mesmas necessidades de evoluir e de sobreviver. Para isso, a evolução da cultura conta com os processos de aprendizagem, autoorganização e de institucionalização. Os dois primeiros são processos auto-constituitivos e o último, adaptativo (MATURANA e VARELA (1997), MATURANA (2001:154), MORGAN (1996)). Atrelada a estes processos, a cultura segue um caminho evolutivo próprio cuja característica derradeira é fixada através da institucionalização oriunda da relação com o meio em circunstâncias e experiências vividas pela organização. Depois de instituída, a cultura age como uma grande “conspiração invisível” que trabalha para manter a inércia de seus valores ou a promover a evolução daquilo que está instituído (TOLBERT e ZUCKER (1997:198)). A aprendizagem na formação da cultura da organização equivale às relações experimentadas entre um organismo e o meio. Por este motivo, a aprendizagem representa a dialética existente na evolução cultural. Então, para a cultura organizacional aprender é evoluir. Outrossim, evoluir culturalmente significa se submeter ao processo evolucionista e aos seus mecanismos de diferenciação e seleção. A memética surgiu com o objetivo de aprofundar a analogia entre o evolucionismo e a cultura organizacional, evidenciando a forte presença do modelo evolucionista nas ciências sociais (WAIZBORT (2001:645)). Uma vez criada uma organização, a partir de um núcleo gerado pelos membros fundadores, a cultura organizacional evolui tanto por auto-organização como pela adaptação obtida da aprendizagem. A auto-organização é oriunda da própria célula cultural dos membros da organização, enquanto que a adaptação se desenvolve por tentativas e erros típicos da experimentação e das relações com o ambiente. Destas relações são instituídas as regras tácitas e formais que legitimarão determinadas atitudes na organização, configurando- 11 se gradativamente na institucionalização da cultura organizacional. Ao fim da institucionalização a organização revelará uma diferenciação que integra habilidades específicas decorrentes do princípio do uso e desuso e de outras habilidades atípicas definidas em função das necessidades ou das oportunidades relacionadas ao conceito de negócio da empresa (BAUM (1998: 175)). As habilidades instituídas na cultura organizacional influem e são influenciadas pelo meio gerando a imitação (KATZ E KAHN (1978:118)). Embora toda organização trabalhe para se diferenciar, no entanto, ela preserva fortes relações parentais com as demais organizações da mesma indústria devido ao princípio da imitação. A semelhança representa o padrão de caracterização da própria indústria, implicando na inevitabilidade a que todas as organizações componentes de uma mesma indústria sofrem. Se o padrão homogeneíza a organização, por outro lado, ele a identifica. Na operacionalização organizacional a identificação representa a capacidade de existir para o mercado e de ser reconhecida como apta por ele. (TOLBERT e ZUCKER (1997:198)). A parte instintiva da organização constitui o núcleo que reproduzirá a cultura organizacional. Como um núcleo de células orgânicas, a parte instintiva contém todas as informações e habilidades disponíveis tanto para realizar, por ato-reflexo, as atividades operacionais como para repetir e replicar esta capacidade. O cultivo e a distribuição dessa capacidade está fortemente relacionado com a condição de crescimento e desenvolvimento da organização, dado que é a partir da reprodução desta célula que se efetuará a evolução. (NONAKA E TAKEUCHI(1997), (KELLY(1999)) A figura 1 a seguir mostra a estrutura e a dinâmica do sistema evolutivo organizacional construído com base nos princípios e conceitos gerais do modelo evolucionista darwiniano. A ilustração mostra que o modelo relaciona um sistema que estabelece uma estrutura técnica e cultural de uma organização e sobre ela exerce as atividades em um sentido único que busca atender os objetivos idealizado para o conceito de negócio da organização, sujeitos a dinâmica da adaptação ambiental, dentro de uma velocidade permitida pela estrutura e atuando continuamente por força do princípio da continuidade obrigatória. Figura 1 – Sistema estrutural e dinâmico da evolução organizacional Estrutura Estágio Ovo / Célula Diferenciação Integrada Habilidade Atípica Uso e desuso Imitação Parte instintiva Velocidade de Substituição Continuidade Obrigatória Adaptação Dinâmica Conceito de Negócio 12 Fonte: Elaborado pelos Autores Em resumo, os dez princípios retirados do darwinismo e os conceitos gerais de seleção e diferenciação, também precisam ser considerados de acordo com o mecanismo da pleiotropia, ou seja, o valor do que está exposto neste estudo não pode ser reduzido as suas partes, mas sintetizado como um grupo de princípios que se integram para cumprir a missão de apoiar a administração da evolução das organizações. O evolucionismo darwiniano revela que não é a “lei do mais apto” a maior lição deste modelo, mas sim o princípio de “não parar”. Empresas de qualquer lugar do mundo não podem se acomodar, pois, o meio não se acomoda. As empresas necessitam criar e inovar mudando sempre, sendo sempre necessário mudar. Entretanto, mudar não significa substituir procedimentos de modo descomprometido com a cultura da organização. O exemplo da Petrobrás demonstra, o que a desconsideração do princípio da velocidade da substituição pode acarretar a uma organização. O modelo darwiniano ensina que a diferenciação é o principal mecanismo na evolução empresarial. A diferenciação representa a própria estratégia de sobrevivência das organizações e os administradores precisam aprender a arte de diferenciar empresa, identificando atributos, potencialidades e interesses mercadológicos. Uma organização não pode evitar de fundamentar a sua estratégia na diferenciação. Atendo-se às sugestões de estratégias genéricas feitas por estrategistas como Porter, Mintzberg, Prahalad e Omae (dentre outros), nota-se uma parcela significativa de propostas de estratégias são, na verdade, propostas de diferenciação. O princípio da continuidade obrigatória “cerca” esta conclusão colocando-a na dimensão temporal de perpetuação. Além disso, a diferenciação é sempre integrada aos demais atributos e não faz sentido separá-la em um quadro de estratégias genéricas, assim como fez PORTER(1996). Portanto, não são as pesquisas que não conseguem se assentar aos modelos estratégicos de Porter, mas é este modelo que se faz improcedente, tendo o fenômeno da pleiotropia como prova inconteste desta conclusão. O efeito do caos provoca a heterotrofia ambiental (uns, alimentando-se de outros). A “cadeia alimentar econômica” obriga todos a trabalharem pela sobrevivência. Todos lançados, de uma forma ou de outra, no processo heterotrófico que a natureza criou. A restrição dos recursos parece ainda ser o principal mecanismo de controle da “lotação” nos mercados, conduzindo as organizações para uma continuidade evolutiva obrigatória. Evolução e dialética se afunilam, espiralando a criação das novas estruturas organizacionais, fadadas às mudanças construtivas ou destrutivas. De um jeito ou de outro, a evolução se mostra não como uma onda ou como uma partícula, mas algo como um coração que, ou pulsa, ou morre. Organizações, assim como os organismos, querem seguir vivendo, por isso, necessitam prosseguir regidas pelo princípio da continuidade obrigatória, sempre ampliando a quantidade e a qualidade das modificações benéficas às empresas. Atributos, integração sistêmica, valores culturais, competição e diferenciação são conceitos que se entrelaçam com naturalidade na luta pela sobrevivência, na luta pela estabilidade, pela institucionalização organizacional e pela condição de continuar garantindo a própria seleção. Referências Bibliográficas 13 BAUM, Joel A. C. Ecologia Organizacional. In CLEGG, Stewart R, HARDY, Cynthia e NORD, Walter R. (Org). Handbook de estudos organizacionais vol1. 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