INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO FILOSÓFICO: O QUE É A FILOSOFIA? Professor Cesar Alberto Ranquetat Júnior INTRODUÇÃO FILOSOFIA THEORIA - ONTOS - LOGOS VER - SER - DIZER - A Filosofia é ver e dizer aquilo que é, como as coisas são realmente. INTRODUÇÃO A palavra Filosofia significa amor pela sabedoria. PHILOS – SOPHIA. Para os gregos a Filosofia era uma forma de conhecimento universal. Esta concepção perdurou até a Idade Média, quando pouco a pouco as artes e as ciências naturais se destacaram da Filosofia (Jolivet). INTRODUÇÃO Hoje há uma nítida distinção entre estes gêneros de conhecimentos, que chamamos filosóficos e científicos. A Ciência e a Filosofia não tem o mesmo objeto formal. De um ponto de vista material estudam o mesmo objeto: o homem, a natureza e a sociedade. Mas, cada disciplina estuda este objeto comum sob um aspecto que lhe é próprio (objeto formal). INTRODUÇÃO A ciência busca fenômenos. desvendar as leis dos A filosofia quer conhecer a natureza profunda das coisas, suas causas supremas e seus fins últimos. A filosofia busca “os primeiros princípios de tudo”. INTRODUÇÃO Assim, uma explicação científica não é uma explicação filosófica e vice-versa. Os problemas da ciência não são os mesmos da Filosofia. Além disso, a ciência produz questões que ultrapassam sua capacidade de resolvê-los, como por exemplo: “Porque devem existir eventos? Porque existe alguma coisa? Que causa a existência das séries causais? (Scruton). INTRODUÇÃO A ciência deixa intacta a questão da natureza profunda das coisas, de seu valor, seu fim e do conhecimentos das essências ( Jolivet). As conclusões científicas se baseiam nas investigações (observação, descobertas) realizadas pelos cientistas. Já o pensamento filosófico chega a conclusões a partir da experiência comum. INTRODUÇÃO A reflexão filosófica sobre a experiência comum começa com as opiniões do senso comum, externada pela maioria das pessoas. Ela aperfeiçoa essas opiniões do senso comum por ser mais reflexiva e analítica (Adler). Assim, o pensamento filosófico não é mera opinião pessoal ou “achismo”. INTRODUÇÃO A Filosofia parte da experiência, mas visa, pela razão, ao que está além da experiência (Jolivet). A Filosofia quer ir além da experiência sensível e chegar até as causas primeiras. Assim, apela à razão, pois estas causas primeiras o homem não as vê e não as toca com os seus sentidos. INTRODUÇÃO A Filosofia divide-se em três grandes áreas: a) problemas de lógica; b) problemas de filosofia especulativa e c) problemas de filosofia prática. A) os problemas de Lógica visam determinar as condições e “leis” do pensamento humano. B) os problemas de filosofia especulativa tratam sobre o mundo da natureza (cosmologia), assim como a causa primeira do mundo que é o Ser absoluto (Teodiceía Teologia). A crítica do conhecimento (epistemologia) e a ontologia são, também, parte deste ramos da filosofia. INTRODUÇÃO C) os problemas de filosofia prática tratam sobre questões concernentes ao fazer e agir do homem. Do fazer ou produzir uma obra (domínio da arte), ou então do agir conforme às exigências do bem (domínio da moral) A Estética – Filosofia da Arte, a Ética – Filosofia Moral e a Filosofia Política são ramos da Filosofia prática. O OBJETO DA FILOSOFIA O objeto de estudo da Filosofia é o “universo”. A Filosofia se interessa pela totalidade, o cientista por uma parte do universo (Ortega y Gasset). Filosofar é olhar para a totalidade do mundo. O homem é um ser espiritual, e a essência do espírito é a capacidade de apreender a totalidade do ser (Pieper). O OBJETO DA FILOSOFIA A Filosofia é a realização da tendência natural do espírito humano à totalidade (Pieper). Para a Filosofia, a verdadeira riqueza do homem não é tornar-se “ senhor da natureza”. A nobreza do homem está em compreender aquilo que “é”, entender em profundidade a si mesmo e o mundo. O OLHAR E A ATITUDE FILOSÓFICA PERANTE O MUNDO “O filósofo se parece com o poeta porque ambos se ocupam como o maravilhoso (mirandum)”. São Tomás de Aquino. O OLHAR E A ATITUDE FILOSÓFICA PERANTE O MUNDO Filosofar é o ato em que é ultrapassado o mundo do trabalho (Pieper). Filosofia é “inútil, no sentido de ausência de utilidade e de aplicação imediata. A Filosofia não se deixa usar. (Ibidem). A A não disponibilidade, a liberdade da Filosofia está relacionada como o caráter teórico desse saber. O OLHAR E A ATITUDE FILOSÓFICA PERANTE O MUNDO Sempre que se olha um ente de “maneira filosófica”, a questão que se formula é “pura teoria”, exclui toda prática, todo o desejo de mudança (Pieper). O olhar do filósofo se volta para este mundo sensível e concreto, mas ele pergunta sobre a essência última. O que o filósofo pergunta é “o que é isto em última análise?” “Qual é a última razão disto ou daquilo?” OLHAR E A ATITUDE FILOSÓFICA PERANTE O MUNDO Escultura “ O Pensador” (1902) de Auguste Rodin OLHAR E A ATITUDE FILOSÓFICA PERANTE O MUNDO Filosofar não quer dizer afastar-se das coisas concretas, mas das interpretações cotidianas (Pieper). A atitude de “admiração” e maravilhamento é o começo de toda Filosofia. Perceber no comum e no diário aquilo que é incomum e não diário, o “mirandum”, eis o começo da Filosofia (Pieper). OLHAR E A ATITUDE FILOSÓFICA PERANTE O MUNDO O verdadeiro sentido da admiração é que o mundo é mais profundo, mais amplo e mais misterioso do que pode parecer ao conhecimento comum (Pieper). Impossibilidade de olhar teoreticamente um mundo que é visto como simples “matéria” para a ação prática. “Teoria” só pode existir e só é realizável como atitude enquanto o mundo se apresenta, a nossos olhos, como criação (Pieper). Olhar teórico - filosófico consiste em abrir-se silenciosamente à realidade. A FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA Para os antigos gregos a filosofia era um estilo de existência, uma maneira de viver. O discurso filosófico tem sua origem em uma escolha de vida e não ao contrário (Hadot). Esta escolha jamais é feita na solidão. Nunca houve filosofia nem filósofos fora de um grupo, de uma comunidade, uma escola filosófica. A FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA Uma escola filosófica, corresponde, a uma maneira de viver que exige do indivíduo uma mudança total de vida, uma “conversão” (Hadot). A escolha de vida do filósofo determina seu discurso. A Filosofia antiga era uma espécie de “terapia da alma” (Voelke). Buscava-se a paz interior, a “tranqüilidade da alma” através de determinados exercícios espirituais A FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA Intencionava-se uma transformação espiritual, uma “mutação interior”. Os antigos exigiam de seus filósofos que vivessem como ensinavam. Assim, viver de acordo com suas convicções filosóficas era parte de sua filosofia . Na pessoa do filósofo, saber e virtude eram inseparáveis (Hadot). FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA “Não se deve apenas especular, mas é necessário também, de uma vez por todas, pensar em praticar.” Immanuel Kant. FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA A pratica da Filosofia é um esforço para tomar consciência de nós mesmos, e para reaprender a ver o mundo (Hadot). O filósofo antigo procurava uma resposta à questão “como viver?” Buscava, por meio do discurso racional e da argumentação, bem como pelo exemplo, agir sobre as almas. Assim a Filosofia era uma forma de “psicagogia”. FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA A Filosofia é “retirada”, acerto de contas de alguém consigo mesmo (Ortega Y Gasset). É uma suspensão das atividades cotidianas e rotineiras, uma suspensão da ação para recolherse dentro de si. A Filosofia é, pois, a crítica da vida convencional, inclusive, e muito especialmente da sua vida. (Ortega Y Gasset). FILOSOFIA HUMANA E SABEDORIA DIVINA A Filosofia é a busca incessante de uma sabedoria que lhe escapa, de uma “ sabedoria inalcançável”. O Sábio – Sophos é Deus, o homem procura “amorosamente esta sabedoria divina”. Nenhum homem é sábio, somente Deus, o homem só se pode chamar de amigo da sabedoria (philos –sophos). FILOSOFIA HUMANA E SABEDORIA DIVINA O filósofo, diferente dos outros homens, é consciente de seu estado de não-sabedoria, pois deseja a sabedoria (Hadot). A sabedoria será para ele como um ideal que o atrai e o guia. A figura do sábio é norma transcendente que determina o modo de vida do filósofo (Hadot). FILOSOFIA E FILODOXIA O filósofo, por meio da razão, busca a verdade, libertando-se das opiniões falazes (Sciacca). O contrário da filosofia é a “sofistica” ou “filodoxia”. A filodoxia é o amor pelas opiniões múltiplas, enganosas e mutáveis. A filodoxia nega a existência da verdade, do bem e do belo. FILOSOFIA E FILODOXIA Para a filodoxia a única coisa que conta é a procura do prazer, do cômodo, do útil e do sucesso. O filósofo é aquele que luta contra o “sofisma”, ou seja aquilo que é aparentemente verdadeiro e substancialmente falso (Sciacca). A filodoxia substitui o critério especulativo, pelo prático e o funcional. FILOSOFIA E FILODOXIA É uma forma de filodoxo aquele que presume que o único conhecimento do qual o homem é capaz é o conhecimento científico e técnico (Sciacca). O sensismo, o empirismo, o positivismo, o sociologismo e materialismo, são filodoxias (Sciacca). NOTAS FINAIS A Filosofia não é um conhecimento especializado, é na verdade a busca do princípio de todas as coisas (Sciacca). A Filosofia é, sobretudo, um exercício de autocompreensão e auto-conhecimento. É um modo de aperfeiçoamento da inteligência e de ordenação da alma. Objetiva o fazer. a harmonia entre o ser, o sentir, o pensar e NOTAS FINAIS A Filosofia é um esforço de clarificação intelectual de determinadas experiências pessoais e coletivas. Trata-se de uma análise crítica, de uma meditação acerca de si mesmo, do mundo, e das opiniões e crenças dominantes. A Filosofia incita os indivíduos a “ir às coisas mesmas”, de retornar à realidade, de pensar a partir do real. NOTAS FINAIS A Filosofia procura restabelecer o nexo entre verdade, saber e virtude (Sciacca). Reunifica É teoria e prática. um modo de conhecimento que objetiva transformar os indivíduos.