CAPÍTULO XIII: Automação e Empregabilidade

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Trabalho no mundo contemporâneo___ _____________________________________Capítulo 13
CAPÍTULO 13
Automação e empregabilidade
Quem está roubando meu emprego? O progresso? Mas eu
não posso ser contra o progresso. As pessoas de bem são a
favor do progresso. O progresso não pode ser culpado de
nada ruim, se ele é uma coisa boa. Na televisão, ontem,
apareceu a resposta: se eu entendi bem a TV disse que a
culpa era minha. Será? Quem fala pela televisão?
Os livros de geografia sempre trazem a famosa tabela da PEA - População
economicamente ativa - em que os que trabalham no país estão divididos,
proporcionalmente, em três grandes setores: o setor primário, o setor secundário e
o setor terciário. Como você sabe, o setor primário representa a agricultura e a
criação de animais e apenas países de economia atrasada ainda tem muita gente
trabalhando nesse setor: para se ter idéia, os Estados Unidos, o Reino Unido e a
Alemanha são países em que apenas 3% da PEA estão ocupados no setor
primário. Isso não quer dizer que a agricultura desses países seja fraca, ao
contrário. Trata-se de uma agricultura altamente moderna e mecanizada e por
isso ocupa atualmente um percentual tão pequeno de pessoas.
Pois bem: os tratores, colhedeiras e debulhadoras liberaram mão-de-obra
que foi procurar trabalho, provavelmente, na indústria, que chamamos de setor
secundário da economia. Acontece que nos países mais adiantados a constante
inovação tecnológica chegou também a esse setor. Nos Estados Unidos e
Alemanha, por exemplo, o percentual de gente empregada na indústria caiu em
relação a vinte anos atrás e não é verdade que a economia tenha se
desindustrializado: a indústria é que se robotizou. No caso da PEA brasileira, algo
semelhante
vem
acontecendo.
Em
1982
o
percentual
da
população
economicamente ativa do país ocupada na indústria já havia atingido 22% do total
e, desde então, o valor permanece mais ou menos o mesmo: a produção industrial
não parou de crescer, mas esse fator vem sendo neutralizado por um aumento de
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produtividade decorrente da introdução de máquinas cada vez mais modernas e
de processos produtivos tendentes à automação, ou seja, poupadores de mão-deobra.
Resta então perguntar se algo parecido pode acontecer com o setor
terciário: afinal, até aqui, quando a força-de-trabalho era expulsa de um setor da
economia, tendia a transferir-se para o setor econômico seguinte e, em tese, uma
situação de pleno emprego continuava sendo possível. Não é por acaso que
atualmente, nos países de economia mais desenvolvida, é exatamente o chamado
setor terciário – transporte, comércio, bancos, serviços públicos – que congrega o
maior percentual da PEA. Mesmo em países como México, Brasil e Argentina, que
não podem ser classificados como países do centro capitalista, o setor terciário já
reúne mais de 50% da população economicamente ativa. Conseguimos perceber
que há atividades nesse setor em que a automação não é um processo fácil: por
mais que a ciência avance, é sempre difícil fazer com que máquinas substituam
enfermeiros e auxiliares de enfermagem nos hospitais e o mesmo raciocínio vale
para professoras e professores desde as creches até o ensino superior – embora
a proliferação de cursos semi-presenciais indiquem alguma coisa. Por outro lado,
na área de transportes é possível enxergar a destruição de postos de trabalho
quando roletas eletrônicas substituem os cobradores de carne e osso. No sistema
bancário, então, nem se fala: as caixas automáticas já reduziram a categoria
profissional bancária a menos da metade do que era na década de 1980.
Como balanço de todo esse processo devemos atualmente distinguir três
tipos de desemprego: friccional, conjuntural e estrutural. O desemprego friccional
seria apenas produto da imperfeição do mercado de trabalho, à medida que
existiriam concomitantemente a vaga e o candidato à vaga, mas se levaria um
pequeno tempo até que a empresa necessitada encontrasse o funcionário de que
precisa. O desemprego conjuntural expressa aquelas demissões que acontecem
a partir de um desaquecimento da economia que pode ser fruto da prática de juros
altos, ou a retração do setor exportador frente a um câmbio desfavorável ou ainda
uma crise momentânea da agricultura decorrente de um acontecimento natural
desfavorável. Por fim, o desemprego estrutural procura expressar a perda dos
postos de trabalho que acontecem por razões de fundo tecnológico e/ou de
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reestruturação produtiva. A automação; o fechamento de fábricas ou sua
transferência para outras regiões ou países; as aquisições e fusões entre
empresas que trazem enxugamento de pessoal; são esses os exemplos mais
comuns daquilo que se chama de desemprego estrutural. Essas vagas
desaparecem para sempre.
É nesse ponto da questão que surge com grande força a idéia de
empregabilidade, a saber, a capacidade de uma cidadã ou cidadão de arranjar
emprego. Em nosso país, que faz mais de um quarto de século não cresce em
ritmo acelerado, ganhou extremo espaço na opinião pública a idéia-força de que o
desemprego é culpa do trabalhador porque este não possui qualificação
satisfatória: não possui empregabilidade. Daí uma terrível corrida aos cursinhos de
informática que em geral tudo prometem e às vezes são de qualidade duvidosa,
mas que vendem a ilusão de que uma precária alfabetização digital será a
garantia da inserção no mercado de trabalho. Mutatus mutandi, fazem lembrar os
reclames das ofertas de cursos de datilografia na década de 1950, ou ainda os
cursos por correspondência para técnicos em conserto de rádio e televisão na
década seguinte.
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REDUÇÃO DA JORNADA; PARA QUE TODOS TRABALHEM?
Reduzir a jornada semanal para que todos trabalhem. Será possível? Faz
cerca de dez anos, a lei francesa reduziu a jornada semanal de trabalho para 35
horas semanais como forma de combate ao desemprego. No Brasil, no entanto,
qualquer proposta nesse sentido costuma ser rechaçada sob o argumento de que
nossa economia é atrasada e que nossas empresas perderiam competitividade.
Pode ser, mas quando recuamos no tempo nos lembramos de que já em 1886
existia, nos países do hemisfério norte, uma forte luta pela jornada de trabalho de 8
horas diárias, que significavam na época 48 horas semanais de trabalho. Ora, ora,
nesses mais de cem anos transcorridos a tecnologia e a produtividade avançaram
muito, muito!!
O que surpreende, pois, é que em pleno século XXI a jornada semanal no Brasil
ainda seja de 44 horas como diz a lei. Perdão: mais de 50 horas! Segundo cálculos
do IBGE, quando agregamos as horas-extras que são praticadas e adicionamos o
trabalho rural, a jornada semanal se aproxima das 52 horas. Quem sabe não
estaria aí a explicação para o fenômeno: o alto índice de desemprego seria fruto da
combinação entre grandes avanços da técnica e de uma jornada laboral muito
grande para quem está conseguindo trabalhar.

TESTE SEUS CONHECIMENTOS:
1.Você acredita que a qualificação é o fator primordial para a redução da
taxa de desemprego?
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