Trabalho

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COLEOPTERAS ATRAÍDOS POR ARMADILHA
LUMINOSA EM ECOSSISTEMA DE CAATINGA
DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO
NATURAL (RPPN) PEDRA DO CACHORRO, SÃO
CAETANO, PERNAMBUCO.
Luci Duarte da Rosa Borges1; Fernanda Alves da Silva2; Maria Helena Correia dos Santos3; Eulina Tereza Nery Farias4;
Antônio F. de Souza Leão Veiga5; Auristela Correia de Albuquerque6; Marco Aurélio Paes de Oliveira7.

Introdução
A Caatinga, provavelmente devido à sua
característica semi-árida e relativamente pobre de
espécies, é o ecossistema brasileiro mais negligenciado
quanto a conservação de sua biodiversidade [1].
Pesquisas recentes comprovam que estudos sobre a
entomofauna do Bioma ainda são escassas; as espécies
mais estudadas são as abelhas, formigas (Hymenoptera)
e cupins (Isoptera) [2,3].
Os insetos da Ordem Coleoptera, conhecidos
vulgarmente como besouros, representam cerca de 40%
das espécies conhecidas nesta classe [4,5] e 30 % de
todas as espécies animais [6].
Algumas famílias de Coleoptera possuem atributos
desejáveis para incluí-las como bioindicadores.
Carabidae, Cicindelidae, Elateridae, Cerambycidae,
Chrysomelidae e Curculionidae são grupos que
possuem boa parte das espécies com alta fidelidade
ecológica, são altamente diversificados taxonômica e
ecologicamente, facilmente coletáveis em grandes
amostras
e
funcionalmente
importantes
nos
ecossistemas. Ainda, formam grupos relativamente bem
conhecidos taxonomicamente e identificáveis, além de
se associarem intimamente com outras espécies e
recursos, indicando-os [7].
Portanto o presente trabalho objetivou realizar o
levantamento de coleopteros numa região de
ecossistema de Caatinga, para identificação taxonômica
a nível de família, dando subsídios para futuros estudos
abrangendo aspectos escológicos, visto a reconhecida
importância do grupo.
Material e métodos
O trabalho foi realizado pela Universidade Federal Rural
de Pernambuco, Departamento de Biologia, Área de
Zoologia e na Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) Pedra do Cachorro, localizada no município de
São Caetano, PE. A captura dos insetos foi realizada entre
os anos de 2007 e 2008, totalizando 10 coletas, no horário
noturno, das 19:00 a 1:00 h. Foi utilizada uma armadilha
luminosa modelo Luiz de Queiroz na unidade de paisagem
caracterizada como tabuleiro arenoso ciliar [8]. O material
coletado foi acondicionado em potes de vidro fechados e
etiquetados.
A. Identificação do Material
Foram utilizadas as chaves taxonômicas de Borror e
DeLong [4], Gallo et al. [9] e Triplehonrn e Johnson [5];
consultas comparativas de espécies do acervo da Coleção
Entomológica Científica do Laboratório de EntomologiaUFRPE e consultas comparativas ao acervo informatizado
da Coleção Entomológica da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), São Paulo. A
análise quantitativa foi feita mediante contagem direta dos
exemplares e a freqüência foi obtida mediante o cálculo de
percentagem de indivíduos de cada família, em relação ao
número total de indivíduos capturados. Foram calculados
os índices faunísticos de constância e abundância das
famílias [10].
Resultados
Foi coletado um total de 932 exemplares de Coleoptera,
pertencentes a 20 Famílias (Tab. 1).
Foram abundantes as famílias Scarabaeidae (442
________________
1. Primeiro Autor é Bióloga do Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE. CEP 52171-03. Email: [email protected]
2. Segundo Autor é Mestranda do Programa de Pós-graduação em Entomologia Agrícola, Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Av.
Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-03.
3. Terceiro Autor é Laboratorista do Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE. CEP 52171-03.
4. Quarto Autor é Bióloga e Médica Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE. CEP 52171-03.
5. Quinto Autor é Professor Titular do Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE. CEP 5217103.
6. Sexto Autor é Professora Adjunto do Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE. CEP 5217103.
7. Sétimo Autor é Doutorando do Programa de Pós-graduação em Entomologia Agrícola, Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dom
Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE, CEP 52171-03.
indivíduos – 47,42% do total de Coleoptera),
Tenebrionidae (133 – 14,27%), Carabidae (74 –
7,94%), Coccinelidae (54 – 5,79%), Curculionidae (47
– 5,04%), Elateridae (40 – 4,29%), Bruchidae (38 4,08%) e Cerambycidae (36 – 3,86%) (Fig. 1). Estas
famílias foram classificadas como constantes,
ocorrendo em mais de 50% das coletas realizadas,
exceto, Bruchidae, classificada como acidental.
As famílias Alleculidae, Anobiidae, Bostrichidae,
Cleridae, Hydrophylidae e Lampiridae, tiveram índices
de abundância e constância classificados como raro e
acidental, respectivamente. A Nitidulidae, também foi
classificada como rara, contudo foi acessória.
No ano de 2007, nos meses de abril, maio, julho,
setembro e outubro, foram capturados 343 exemplares,
e, em 2008, nos meses de março, junho, outubro,
novembro e dezembro de 2008, foram capturados 589
exemplares.
Foram coletados indivíduos em todos os meses, mas
com maiores números de exemplares em março de
2008 com 392 indivíduos.
Discussão
Os resultados do levantamento de Coleoptera feito
por Ianuzzi et al. [3], corroboram com os nossos,
principalmente para quantidade de insetos coletados na
mesma unidade de paisagem de tabuleiro arenoso
ciliar, embora sejam diferentes as armadilhas utilizadas
para a captura dos insetos. A bateria utilizada na
armadilha luminosa para a realização das coletas teve
duração de 6 horas, num total de 10 coletas, portanto o
método adotado mostrou-se eficiente, comparado a
abundância de Coleoptera com o trabalho citado acima
que utilizou a armadilha de Malaise. Como observado
em inventários de outras localidades, os estudos
apontados em dados das famílias, mostram a Família
Scarabaeidae, como uma das mais abundantes, tanto
para Caatinga, quanto para Floresta Atlântica [11] e
Cerrado [12].
Segundo Ianuzzi et al. [3], a utilização de apenas um
tipo de armadilha na coleta de Coleoptera pode
interferir no levantamento quantitativo do grupo a ser
coletado, restringindo a captura daqueles insetos que
não apresentam o vôo como principal modo de
locomoção e de acordo com 2004 as armadilhas
luminosas representam uma ferramenta adequada ao
monitoramento de coleópteros, dependendo do grupo
que se deseja estudar.
Agradecimentos
A universidade Federal Rural de Pernambuco,
Departamento de Biologia e Área de Entomologia, pelas
dependências e a Reserva Particular do Patrimônio Natural
Pedra do Cachorro, pela área cedida para realização do
trabalho.
Referências
[1]
ZANELLA, F.C.V. & MARTINS, C.F. 2003. Abelhas da Caatinga:
Biogeografia e Conservação. In: Ecologia e Conservação da
Caatinga. Cap. 2 p. 75- 134.
[2] CASTELETI, C.H.M.; SILVA, J.M.C., TABARELLI; A.M.M.
SANTOS. 2000. Quanto resta da Caatinga? Uma alternative
preliminar: Workshop Avaliação e identificação de Ações
prioritárias para conservação, utilização sustentável e repartição
de benefícios da biodiversidade do bioma Caatinga.
[3] IANUZZI et al. 2003. Padroes Locais de Diversidade de Coleopera
In: Ecologia e Conservação da Caatinga. Cap. 9 p. 391- 433.
[4] BORROR, J.D. e DeLONG D.M. Estudo dos insetos. Editora
Edgard Blücher Ltda. São Paulo SP Brasil, 1969, 653p.
[5] TRIPLEHONRN, C.A. e JOHNSON, N.F. Borror and Delong’s
introduction to the study of insects. Ohio - USA: Thomson, 2005,
7th edition,864p.
[6] LAUWRENCE, J.F. & E.B. BRITTON. 1991. Coleoptera. Pp. 543683 in CSIRO (eds.) The Insect of Australia, vol. 2 Cornell
Universit Press, New York.
[7] BRAWN Jr., K.S.1991. Conservation of Neotropical Environments:
Insect as indicators. Pp. 350-380 in: N.M. Collin & J.A. Thomas
(eds.) The Consevation of insect and their habitats. Academic Press,
London.
[8] GUERRA, A. T. 1975. Dicionário geológico-geomorfológico, 4.
ed. IBGE, Rio de Janeiro.
[9] GALLO, D., O. Nakano, S. Silveira Neto, R.P.L. Carvalho, G.C.
Baptista, E. Berti Filho, J.R.P. Parra, R.A. Zucchi, S.B. Alves,
J.D.Vendramim, L.C. Marchini, J.R.S. Lopes & C. Omoto. 2002.
Entomologia agrícola. Piracicaba, FEALQ, 920 p.
[10] SILVEIRA NETO, S., O. Nakano, D. Barbin. 1976. Manual de
Ecologia dos Insetos. Piracicaba-São Paulo, Agronômica Ceres
Ltda, 419 p.
[11] CASSINO et al. 2001. Entomofauna de Fragmento de Floresta
Atlântica, Morro Azul, Municipio de Eng. Paulo de Frontin, Rio de
Janeiro. N. 3. p. 1-7.
[12] RIBEIRO, J. P. 2004. Análise da e strutura da comunidade de
coleópteros no cerrado sensu stricto do campus da UEG,
Anápolis–Goiás.
Tabela 1. Quantidade total (N), freqüência (F) e índices faunísticos de constância (C) e abundância (A) dos coleópteros coletados
com armadilha luminosa Luiz de Queiroz em ecossistema de Caatinga da Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) Pedra do Cachorro, São Caetano, Pernambuco, Brasil. As coletas foram feitas de abril de 2007 a dezembro de 2008.
Família
1. Alleculidae
2. Anobiidae
3. Bostrichidae
4. Bruchidae
5. Carabidae
6. Cerambycidae
7. Chrysomelidae
8. Cleridae
9. Coccinellidae
10. Curculionidae
11. Elateridae
12. Hydrophilidae
13. Lampyridae
14. Meloidae
15. Mordelidae
16. Nitidulidae
17. Phengodidae
18. Scarabaeidae
19. Staphylinidae
20. Tenebrionidae
Total
Abr
0
4
1
0
7
1
0
0
2
12
15
1
0
9
20
1
1
24
3
15
116
Ano 2007
Meses
Mar Jul Set
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
7
4
1
0
2
1
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
1
0
0
1
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
2
5
2
0
0
0
0
0
15
9
15 21
Nov
1
0
0
0
3
3
0
0
0
0
2
0
0
0
0
0
0
131
0
42
182
Mar
0
1
2
0
49
22
1
0
51
2
18
1
0
0
0
1
0
241
1
2
392
Ano 2008
Meses
Out
Nov
0
0
0
0
0
0
0
30
1
2
3
3
3
0
1
0
0
0
0
28
3
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
1
5
3
30
0
3
0
11
16
112
Jun
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
2
Dez
0
0
0
8
0
0
0
0
0
5
0
0
0
0
0
0
3
3
0
48
67
N.
F (%)
C
A
1
5
3
38
74
36
4
1
54
47
40
2
1
11
20
3
10
442
7
133
932
0,11
0,54
0,32
4,08
7,94
3,86
0,43
0,11
5,79
5,04
4,29
0,21
0,11
1,18
2,15
0,32
1,07
47,42
0,75
14,27
100,00
z
z
z
z
w
w
z
z
y
y
w
z
z
y
z
y
y
w
y
w
r
r
r
a
a
a
c
r
a
a
a
r
r
c
c
r
c
m
c
m
Em que: N, quantidade total de indivíduos; f, freqüência (%); c, constância; w, constante; y, acessória; z, acidental; a, abundância; r, rara; c, comum;
a, abundante; m, muito abundante.
68
(7,30%)
38
(4,08%)
133
(14,27)%
44 2
(47,42%)
74
(7,94%)
Bruchidae
36
(3,86%)
54
(5,79%)
47
(5,04%)
40
(4,29%)
Carabidae
Cerambycidae
Coccinelidae
Curculionidae
Elateridae
Scarabaeidae
Tenebrionidae
Demais famílias
Figura 1. Número de indivíduos e porcentagens correspondentes das famílias de Coleoptera coletadas em ecossistema de Caatinga,
da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Pedra do Cachorro, São Caetano, Pernambuco, Brasil. As coletas
foram feitas de abril de 2007 a dezembro de 2008.
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