FLAVIANA BATISTA BARBOSA Pró-Reitoria de Graduação Curso de Nutrição Trabalho de Conclusão de Curso Alimentação balanceada e interações que ALIMENTAÇÃO BALANCEADA E INTERAÇÕES interferem na absorção de fármacos e nutrientes: NA ABSORÇÃO DE FÁRMACOS E NUTRIENTES: ARTIGO responsabilidade técnica de nutricionistas em UANs DE REVISÃO Autor: Flaviana Batista Barbosa Orientador: Mestre Cristine Savi Fontanive BRASÍLIA - DF 2012 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA CURSO DE NUTRIÇÃO Brasília - DF 2 FLAVIANA BATISTA BARBOSA ALIMENTAÇÃO BALANCEADA E INTERAÇÕES NA ABSORÇÃO DE FÁRMACOS E NUTRIENTES: ARTIGO DE REVISÃO Monografia apresentada ao curso de graduação em nutrição da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em saúde. Orientador: Mestre Cristine Savi Fontanive Brasília 2012 3 Artigo de autoria de Flaviana Batista Barbosa intitulado “ALIMENTAÇÃO BALANCEADA E INTERAÇÕES NA ABSORÇÃO DE FÁRMACOS E NUTRIENTES: ARTIGO DE REVISÃO” apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Nutrição da Universidade Católica de Brasília, em 27 de novembro de 2012, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada. Prof. Mestre Cristine Savi Fontanive Orientadora Curso de Nutrição – UCB Prof. Mestre Antônio José de Rezende Curso de Nutrição - UCB Prof. Mestre Iama Marta de Araújo Soares Curso de Nutrição - UCB Brasília 2012 4 RESUMO Barbosa, Flaviana Batista. Alimentação balanceada e interações na absorção de fármacos e nutrientes: artigo de revisão. 2012. 22 páginas. Curso de Nutrição-Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012. Os alimentos trazem significações antropológicas, socioculturais, comportamentais e afetivas singulares, portanto, o alimento enquanto fonte de prazer e identidade também compõe esta abordagem. O nutricionista deve exercer seu papel de educador e cumprir as atribuições a ele destinadas, usando seu espaço de trabalho para efetivar, de forma concreta, seu papel como um profissional da área de saúde. Algumas substâncias encontradas nos alimentos têm uma relação benéfica com a absorção de nutrientes e medicamentos e outras causam reações adversas, sua relação com a absorção de nutrientes e medicamentos é negativa. O consumo de alimentos com medicamentos pode ter efeito marcante sobre a velocidade e extensão de sua absorção. Este estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura acerca da interação dos constituintes da dieta na absorção de nutrientes e fármacos juntamente com a importância de uma alimentação balanceada. A interação fármaco-nutriente é definida como uma alteração da cinética ou dinâmica de um medicamento ou nutriente, ou ainda, o comprometimento do estado nutricional como resultado de administração de um medicamento. No momento do planejamento de cardápios e/ou dietas individualizadas o nutricionista deve levar em conta as interações entre nutrientes e fármacos com os constituintes da dieta alimentar; minimizando dessa forma problemas na absorção dos nutrientes e o comprometimento da biodisponibilidade dos nutrientes presentes na alimentação dos pacientes/clientes. Palavras-chave: Alimentação balanceada. Interação fármaco-nutriente. Absorção. 5 1. INTRODUÇÃO A alimentação se dá em função do consumo de alimentos e não exclusivamente de nutrientes. Os alimentos têm gosto, cor, forma, aroma e textura e todos estes componentes precisam ser considerados na abordagem nutricional. Embora os nutrientes sejam importantes, os alimentos não podem ser resumidos a veículos destes. Os alimentos trazem significações antropológicas, socioculturais, comportamentais e afetivas singulares, portanto, o alimento enquanto fonte de prazer e identidade também compõe esta abordagem (PINHEIRO et al, 2005). Algumas substâncias encontradas nos alimentos têm uma relação benéfica com a absorção de nutrientes e medicamentos, entre elas pode-se citar: o ácido ascórbico (vitamina C), a vitamina D, os fitatos e o ferro. O ácido ascórbico aumenta a absorção intestinal de drogas antihipertensivas como nifedipina e do ferro contido nos alimentos. A vitamina D é constituinte de um grande grupo interativo de nutrientes e hormônios que mantêm a continuamente o nível sérico de cálcio e, conseqüentemente, a integridade óssea. A habilidade do fitato em ligar-se a metais, particularmente ao ferro, pode explicar sua ação antioxidante e anticarcinogênica. E algumas substâncias encontradas nos alimentos causam reações adversas e sua relação com a absorção de nutrientes e medicamentos é negativa, entre elas pode-se citar: o ácido oxálico, o tanino e os fitatos (SIZER et al., 2003). O ácido oxálico liga-se ao cálcio e outros cátions bivalentes, inibindo dessa forma a sua absorção a partir dos alimentos. O tanino é um polifenol que se ligam as proteínas, desnaturando-as, ou seja, modificando sua estrutura, havendo assim um decréscimo do valor nutricional do alimento protéico, além de alterações nas qualidades organolépticas do alimento. Os fitatos são compostos presentes nos alimentos vegetais (particularmente em grãos integrais), que se ligam ao ferro e ao cálcio, impedindo sua absorção (OLIVEIRA, et al. 1998). O consumo de alimentos com medicamentos pode ter efeito marcante sobre a velocidade e extensão de sua absorção. A administração de medicamentos com as refeições, segundo aqueles que a recomendam, se faz por três razões fundamentais: possibilidade de aumento da sua absorção; redução do efeito irritante de alguns fármacos sobre a mucosa gastrintestinal; e uso como auxiliar no cumprimento da terapia, associando sua ingestão com uma atividade relativamente fixa, como as principais refeições. (GAI, 1992; KIRK, 1995). 6 Quando o medicamento é administrado juntamente com o alimento existe a possibilidade de alterações na farmacodinâmica ou na farmacocinética da droga ou do nutriente, alterando o estado nutricional ou a resposta terapêutica, sendo então definida a interação fármaconutriente (GENSER, 2008). Portanto, o insucesso terapêutico se dá quando o nutriente retarda ou diminui a absorção da droga, acelera o metabolismo ou ainda, influencia na interação farmacodinâmica (HAKEN, 2002). Segundo Silva, Cysneiros e Emim (2007) a biodisponibilidade depende diretamente da absorção e do metabolismo de primeira passagem, sendo que a principal interação farmacocinética entre fármaco e alimento é a mudança na absorção do fármaco em função de reações químicas com o alimento ou da alteração fisiológica provocada pelo alimento. Os nutrientes podem interferir na absorção do fármaco por meio da modificação do pH do conteúdo intestinal, velocidade do esvaziamento gástrico, aumento da atividade peristáltica do intestino, competição pelos sítios de absorção, fluxo sanguíneo esplâncnico ou ligação direta do fármaco com componentes dos alimentos (complexação) (MOURA; REYES, 2002). Este estudo teve como objetivo fazer uma revisão da literatura acerca da interação dos fármacos e dos nutrientes na absorção juntamente com a importância da alimentação saudável. 7 2. MATERIAS E MÉTODOS Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura especializada, realizada entre setembro de 2012 e novembro do mesmo ano, no qual se realizou uma pesquisa a artigos científicos selecionados através de busca em banco de dados. Utilizando-se como palavras-chave para pesquisa “alimentação saudável, alimentação balanceada, interação fármaco nutriente e interação droga nutriente”. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 A importância da alimentação balanceada Sob o ponto de vista coletivo, uma alimentação saudável torna-se adequada quando também compreende aspectos relativos à percepção dos sujeitos sobre os modos de vida adequados, ou seja, quando se identifica com as expectativas dos diferentes grupos sociais, que compõem a sociedade. Para isso, as dimensões de variedade, quantidade, qualidade e harmonia precisam associar-se aos padrões culturais, regionais, antropológicos e sociais das populações (PINHEIRO, 2006). A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) assume o exercício da intersetorialidade como um elemento-chave para a promoção da alimentação saudável. Nos eixos contemporâneos da promoção da saúde, esta é uma política de grande potencial para selar o debate intersetorial. A multidisciplinariedade e multissetorialidade, princípios básicos da promoção da saúde, encontram na PNAN a legitimidade necessária a sua implementação. O controle/participação social é o caminho para fortalecer ações de promoção da saúde frente ao cenário assistencialista da saúde no Brasil. A demanda da sociedade brasileira por ações de promoção da alimentação saudável é emergente e extrapola os serviços de saúde. O diálogo sobre as práticas alimentares saudáveis deve se estruturar preferencialmente nos espaços saudáveis, como escolas, supermercados, restaurantes entre outros, empoderando os sujeitos nas tomadas de decisão na perspectiva do resgate/ melhoria de um modo de vida mais saudável (PINHEIRO, 2006). 8 Sabe-se que a má nutrição pode desencadear conseqüências relacionadas à redução da expectativa de vida, da produtividade, da resistência às doenças, aumento da predisposição de acidentes de trabalho e baixa capacidade de aprendizado (AMORIM, 2002). A produção das refeições deve ser feita de forma saudável, atentando para a preservação do valor nutritivo dos alimentos e seus aspectos sensoriais, minimizando as chances de aparecimento de doenças provenientes de hábitos alimentares inadequados, como as hipovitaminoses por exemplo. O nutricionista deve exercer seu papel de educador e cumprir as atribuições a ele destinadas, usando seu espaço de trabalho para efetivar, de forma concreta, seu papel como um profissional da área de saúde. Dessa forma, deve estar capacitado a desenvolver estratégias de promoção da saúde na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos (VANIN, et al., 2007). 3.2 Recomendações nutricionais para uma alimentação equilibrada O Guia Alimentar para a População Brasileira é um instrumento para disseminação de informação e fomento ao processo de educação em saúde junto aos profissionais de saúde, no contexto da PNAN. Este material informativo contém as diretrizes brasileiras sobre o que é uma alimentação saudável, detalhando a partir dos grupos alimentares seu papel na prevenção de doenças e promoção da saúde. Possui um elenco de mensagens para apoiarem os profissionais de saúde na abordagem nutricional junto à população em geral. As necessárias contribuições do setor produtivo – indústria de alimentos e governo – para a promoção da alimentação saudável também são integrantes desta proposta (PINHEIRO, 2006). De acordo com GALISA; ESPERANÇA; SÁ (2008), como recomendação clássica para elaboração de uma dieta equilibrada, deve-se enfocar as Leis da Alimentação Saudável, de 1973, do nutrólogo argentino Pedro Escudero: Lei da Quantidade: “a quantidade dos alimentos deve ser suficiente para suprir as exigências energéticas e manter em equilíbrio seu balanço”. 9 Lei da Qualidade: “o plano alimentar deve ser completo em sua composição para oferecer ao organismo que é uma unidade indivisível todas as substancias que o integram”. Lei da Harmonia: “as quantidades dos diversos nutrientes que integram a alimentação devem guardar uma relação de proporção entre si”. Lei da Adequação: “a finalidade da alimentação está subordinada à sua adequação ao organismo”. O plano alimentar dependerá do momento biológico e deverá ser adequado às condições fisiológicas ou patológicas, aos hábitos alimentares e às condições socioeconômicas do individuo. 3.3 Reações benéficas e adversas causadas por substâncias encontradas nos alimentos e sua relação com a absorção de nutrientes Quando o medicamento é administrado juntamente com o alimento existe a possibilidade de alterações na farmacodinâmica ou na farmacocinética da droga ou do nutriente, alterando o estado nutricional ou a resposta terapêutica, sendo então definida a interação fármaco-nutriente (GENSER, 2008). O efeito farmacológico do medicamento está diretamente ligado a sua biodisponibilidade, determinada pela proporção da substância ativa absorvida que alcança a corrente sanguínea e torna-se disponível no sítio de ação (COZZOLINO, 2007). Portanto, o insucesso terapêutico se dá quando o nutriente retarda ou diminui a absorção da droga, acelera o metabolismo ou ainda, influencia na interação farmacodinâmica (HAKEN, 2002) A presença das mais variadas substâncias no intestino sejam elas nutrientes ou não, pode aumentar ou reduzir a absorção e ou disponibilidade de drogas e ou nutrientes por vários mecanismos, os quais incluem aumento da dissolução, dispersão, ligações com proteínas ou quelação com outras substâncias e fluxo sanguíneo esplâncnico entre outros. (SIZER et al., 2003). Ácido ascórbico (vitamina C) 10 Segundo Sizer et al. (2003), os sucos cítricos contêm vitamina C, esta vitamina hidrossolúvel aumenta a absorção intestinal de drogas anti-hipertensivas como nifedipina e do ferro contido nos alimentos. Contudo segundo Vannucchi (1998), por ser ela uma vitamina hidrossolúvel, compreende um fator de segurança; sua solubilidade em água é uma proteção contra superdoses, pois todo excesso é excretado pela urina. Entretanto, esta propriedade também afeta a capacidade do organismo de armazená-la e também resulta em perdas durante as preparações, o que exige cuidados no processamento de alimentos que contenham essa vitamina. A vitamina C, proveniente de uma fatia de tomate ou de uma folha de alface colocados em um sanduíche, aumentará a absorção do ferro do pão. O uso da carne no macarrão a bolonhesa, acompanhada do tomate para abastecer o molho, ajudará o consumidor a absorver o ferro do espaguete (SIZER et al., 2003). Vitamina D Entre os fatores que influenciam a absorção de cálcio pode-se citar a vitamina D (OLIVEIRA, et al. 1998). O papel mais conhecido da vitamina D, que é uma vitamina lipossolúvel, é ser constituinte de um grande grupo interativo de nutrientes e hormônios que mantêm continuamente o nível sérico de cálcio e, conseqüentemente, a integridade óssea. A vitamina D, juntamente com outros componentes, assegura que quantidades suficientes de cálcio e fósforo estejam disponíveis no sangue, aumentando a eficiência de absorção do cálcio pelo intestino, e ainda participa na formação do tecido ósseo em crescimento (SIZER et al, 2003). Ácido Oxálico É um ácido orgânico encontrado em certos vegetais folhosos; liga-se ao cálcio e outros cátions bivalentes, inibindo dessa forma a sua absorção a partir destes alimentos (MAHAN, et al, 2005). Entre os fatores que influenciam negativamente a absorção de cálcio pode-se destacar a presença na alimentação de ácido oxálico (OLIVEIRA, et al. 1998). O ácido oxálico está presente nos seguintes alimentos: nabo, amendoim, cacau, feijão, folhas de beterraba, tomate, berinjela, soja e seus derivados, ruibarbo, espinafre, mostarda, chá preto, chá mate. Vegetais com alto teor de oxalato, como espinafre, folhas de beterraba e ruibarbo, reduzem a absorção de cálcio. Leguminosas comuns, como grão de bico e feijões, contém 11 oxalatos e fitatos que interferem com a absorção de cálcio. A quantidade de cálcio absorvida destes grãos é metade da que se obtém de verduras verdes (CASTRO, 2010). Relação entre tanino, fitatos, oxalatos, ferro e outros minerais Os taninos condensados estão presentes na fração de fibra alimentar de diferentes alimentos e podem ser considerados indigeríveis ou pobremente digeríveis (BARTOLOMÉ, et al., 1995). Em leguminosas e cereais os taninos têm recebido considerável atenção, por causa de seus efeitos adversos na cor, sabor e qualidade nutricional (SALUNKHE et al., 1982). Os taninos são polifenóis que se ligam as proteínas, desnaturando-as ou seja modificando sua estrutura, havendo assim um decréscimo do valor nutricional do alimento protéico, além de alterações nas qualidades organolépticas do alimento (HERNANDEZ et al., 1991). Além da ligação com proteínas e conseqüente desnaturação destas, os polifenóis como o tanino podem inibir enzimas digestivas, dentre os fatores antinutricionais eles são os que mais contribuem para a baixa digestibilidade da proteína do feijão o que pode ser explicado pela formação de complexos entre os polifenóis e as proteínas, complexos que se tornam insolúveis e passam a ter baixa digestibilidade (ESTANLEY; AGUILERA, 1991). No entanto alguns cuidados podem ser tomados pelo responsável técnico da UAN, pois grandes quantidades de polifenóis podem ser eliminados na água de lavagem e na água utilizada para o cozimento, ou seja, a quantidade de taninos na dieta dos comensais vai depender de como os feijões são processados e consumidos (BRESSANI; ELIAS, 1980). Os fitatos são compostos presentes nos alimentos vegetais (particularmente em grãos integrais - fibras das leguminosas, cereais integrais crus, nozes e sementes), que se ligam ao ferro e ao cálcio, impedindo sua absorção. Pela presença de fitatos alguns alimentos prejudicam consideravelmente a absorção do ferro. Esses incluem chá, café, o cálcio e o fósforo no leite, e os fitatos e taninos que acompanham as fibras em cereais integrais. O chá preto comum é tão eficiente na redução da absorção do ferro que dietas clínicas aconselham as pessoas com sobrecarga de ferro a tomá-los junto com as refeições. Os alimentos ricos em oxalatos tornam igualmente inacessível o ferro, impedindo a sua absorção (SIZER et al.,2003). 12 Contudo o problema existe principalmente no farelo cru, uma vez que em processos específicos de preparação dos alimentos (imersão das leguminosas em água, acção do fermento no pão, germinação das sementes e leguminosas, cozedura dos cereais, torrefacção das nozes), parte dos fitatos é destruída por enzimas (fitases). Desta forma, o poder de impedimento da absorção dos minerais fica diminuído, não constituindo problema (SILVA; SILVA, 2008). Geralmente os cátions divalentes como o cálcio, o zinco, o ferro e o cobre, formam com o ácido fítico, sais insolúveis, complexos que reduzem a biodisponibilidade de outros minerais. O zinco ou o ferro podem ligar-se ao complexo ácido fítico-calcio por exemplo para formar complexos ainda menos solúveis (ZHOU; ERDMAN, 1995). Segundo Silva; Silva (2008), o ferro encontra-se nos alimentos de duas formas, o ferro heme (nas carnes vermelhas) e o ferro não heme (nas carnes brancas e nas leguminosas). O ferro heme em geral não é afetado por fatores facilitadores e ou inibidores presentes na alimentação. Contudo o ferro não heme pode ser afetado por fatores facilitadores e ou inibidores havendo uma variação em sua biodisponibilidade. Entre os elementos facilitadores presentes na dieta (que aumentam a biodisponibilidade do ferro) podem ser citados: a vitamina A, C (o ácido ascórbico) como já foi citado anteriormente, os ácidos orgânicos, aminoácidos e proteínas da carne. Entre os que inibem a biodisponibilidade do ferro podem ser citados: o cálcio, a fibra alimentar, os oxalatos também citados anteriormente e os fosfatos, polifenóis, proteína de soja e proteína do ovo (SILVA; SILVA, 2008). Contudo apesar da interação citada anteriormente como prejudicial por diminuir a biodisponibilidade do ferro estudos revelam aspectos positivos na quelação entre o ferro e os fitatos. Algumas pesquisas sugerem um papel positivo dos fitatos com relação à redução do risco de câncer de cólon, prevenção de cálculos renais e ação antioxidante (EMPESON, 1991). Segundo Silva; Silva (1999): a habilidade do fitato em ligar-se a metais, particularmente ao ferro, pode explicar sua ação antioxidante e anticarcinogênica O fitato é um poderoso inibidor da produção de radical hidroxila (-OH) mediada pelo ferro, devido a sua capacidade de formar quelato com o ferro tornando-o cataliticamente inativo. Além disso, o ácido fítico altera o potencial redox do ferro mantendo-o na forma férrica (Fe3+). Este efeito oferece 13 proteção contra danos oxidativos, visto que o Fe2+ causa produção de oxiradicais e peroxidação de lipídios, enquanto o Fe3+ é relativamente inerte. Outras interações Os óleos minerais geram possíveis deficiências de vitamina A, devido à diminuição da absorção, de vitaminas D e K. A Pectina cítrica diminui a biodisponibilidade de síntese do Bcaroteno, ao contrario da vitamina D e do óleo de soja que melhoram sua biodisponibilidade e sua conversão a retinol, propriedade essa que persiste inalterada ao calor, mesmo em temperaturas de 100°C. A suplementação de ferro aumenta os níveis plasmáticos de retinol, proteína transportadora de retinol (RBP) e transtiretina (TTR) que juntamente com a vitamina A se faz necessária para a absorção e utilização do ferro inorgânico não-heme conservando a solubilidade do ferro na luz intestinal, reduzindo sua má-absorção induzida por fitatos e polifenois (VANNUCCHI, 1998). Quando a tetraciclina é administrada com alimentos ou suplementos nutricionais contendo cálcio (leite e derivados), ferro, magnésio, zinco, géis de hidróxido de alumínio e subsalicilato de bismuto, resulta em uma absorção diminuída do fármaco devido à quelação do mesmo com cátions divalentes e trivalentes e, sendo estes quelatos insolúveis, a sua absorção pelo trato gastrintestinal é dificultada (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). 3.4 Reações benéficas e adversas causadas por substâncias encontradas nos alimentos e sua relação com a absorção de Fármacos A interação fármaco-nutriente é definida como uma alteração da cinética ou dinâmica de um medicamento ou nutriente, ou ainda, o comprometimento do estado nutricional como resultado de administração de um medicamento (LN, 2001). Considerando que a prevenção e o manejo das interações medicamento-nutriente são primordiais na nutrição clínica, lapsos na identificação e manejo adequado das interações podem predispor a falha no tratamento, toxicidade, ou mesmo riscos à vida, exigindo, portanto, além da identificação de possíveis interações, da prevenção, intervenção precoce e monitorização, conscientização e conhecimento relativos ao tema (LN, 2002). 14 Alguns efeitos de interações podem ser aparentes apenas vários meses ou mesmo anos após, como por exemplo, alterações no metabolismo ósseo secundário à deficiência de vitamina D com o uso de anticonvulsivantes, exigindo a prevenção e intervenção precoce. Para intervenções é necessário entender como estas interações ocorrem, com finalidade de indução de resultados positivos ou de evitar associações que levam às condições deletérias na terapia nutricional ou medicamentosa, quais sejam, falha na terapêutica ou potencialização da toxicidade (DAKAMINE, 2007). O consumo de alimentos com medicamentos pode ter efeito marcante sobre a velocidade e extensão de sua absorção. A administração de medicamentos com as refeições, segundo aqueles que a recomendam, se faz por três razões fundamentais: possibilidade de aumento da sua absorção; redução do efeito irritante de alguns fármacos sobre a mucosa gastrintestinal; e uso como auxiliar no cumprimento da terapia, associando sua ingestão com uma atividade relativamente fixa, como as principais refeições (GAI, 1992; KIRK, 1995). Entretanto, estes motivos são insuficientes para justificar este procedimento de forma generalizada, pois a ingestão de alimentos poderá afetar a biodisponibilidade do fármaco através de interações físico-químicas ou químicas (GAI, 1992; ROE, 1994; THOMAS, 1995). Sendo afetada a biodisponibilidade, por modificação dos processos farmacocinéticos, ocorrerá alteração da farmacodinâmica e da terapêutica (THOMAS, 1995). Assim, é de fundamental importância conhecer as substâncias ativas cuja velocidade de absorção e/ou quantidade são alteradas, bem como aquelas que não são afetadas pela presença de nutrientes (TOOTHAKER; WELLING, 1980). Estudos aprofundados com humanos sobre estes mecanismos têm sido realizados, com a finalidade de demonstrar mais precisamente os efeitos dos nutrientes sobre a biodisponibilidade dos fármacos (RADULOVIC et al., 1995; LAVELLE et al., 1996). Analgésicos e antiinflamatórios, por exemplo, são com freqüência administrados com alimentos. O objetivo é diminuir as irritações da mucosa gástrica provocadas, principalmente, pela administração destes medicamentos por tempo prolongado. De acordo com a maioria das pesquisas realizadas, os nutrientes diminuem a velocidade de absorção dos fármacos, provavelmente por retardarem o esvaziamento gástrico (SOUICH et al., 1992). 15 As sulfonamidas atuam interferindo na síntese do ácido fólico, pois são análogos estruturais e antagonistas competitivos do ácido para-aminobenzóico (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006). O retardo na absorção de certos fármacos, quando ingeridos com alimentos, nem sempre indica redução da quantidade absorvida. Mas, provavelmente, poderá ser necessário um período maior para se alcançar sua concentração sangüínea máxima, interferindo na latência do efeito. Entretanto, substâncias que se complexam com nutrientes estão freqüentemente indisponíveis para absorção (GAI, 1992). Outras interações A Colestiramina (fármaco com efeito hipolipidêmico), pode induzir a deficiência de vitamina A, Kanamicina e Neomicina (antibióticos) , também podem alterar a absorção de gorduras e acarretar a má absorção de vitaminas A e K, reduzindo assim sua biodisponibilidade (VANNUCCHI, 1998). Certos medicamentos inibem a síntese de enzimas, porque competem com vitaminas para suas estruturas, essas drogas são chamadas de antivitaminas. Os agentes quimioterápicos utilizam esse princípio para impedir a replicação e induzir a morte da célula tumoral, pois competem com o ácido fólico, sem o qual não há síntese de DNA, provocando assim uma deficiência desse nutriente. (AUGUSTO et al., 1995) Algumas drogas também podem formar um complexo com o nutriente, tornado-o não-disponível para utilização pelo organismo. A isoniazida por exemplo, utilizada no tratamento prolongado da tuberculose, forma um complexo com a vitamina B6 (piridoxina), interferindo em seu metabolismo em vários níveis, podendo levar a uma deficiência desta vitamina. (AUGUSTO et al., 1995) Mas o exemplo mais amplamente conhecido de interação droga-nutriente envolve as drogas psiquiátricas do tipo inibidores da monoaminoxidase (IMAO) e as aminas vasoativas presentes nos alimentos. Em situação normal, as aminas vasoativas dos alimentos não constituem risco porque são metabolizadas rapidamente pelas enzimas monoaminoxidases. Entretanto, a ação destas enzimas é inibida por certas drogas anti-depressivas, antimicrobiais, antihipertensivas e 16 antineoplásicas. A presença de aminas vasoativas não-oxidadas causa constrição dos vasos sanguíneos e elevação da pressão arterial, podendo levar, nos casos mais graves, a uma hemorragia intracranial, arrtmias cardíacas e insuficiência cardíaca. (AUGUSTO et al., 1995). A ingestão de alimentos juntamente com anti-hipertensivos, provoca interações e que essas interações, facilitadas pela polifarmácia, podem ser o motivo pelo qual os indivíduos, mesmo com perfeita adesão à terapia, não conseguem controle adequado da patologia (RODRIGUES, 2009). 17 4. CONCLUSÃO No momento da escolha dos alimentos o nutricionista deve levar em conta as interações entre nutrientes e fármacos com os constituintes da dieta alimentar; minimizando dessa forma problemas na absorção dos nutrientes e o comprometimento da biodisponibilidade dos nutrientes presentes na alimentação dos comensais. A equipe de nutrição também deve estar apta a ministrar palestras sobre os cuidados em relação à administração de medicamentos durante as refeições, seria interessante a conscientização dos pacientes de analisar antes de tomar o medicamento durante a refeição as suas possíveis ações e interações. Muitos dos efeitos adversos observados ao longo da vida de um indivíduo não são documentados ou, é simplesmente entendido como consequência do medicamento, não se considerando o processo de interação fármaco-nutriente. A alimentação saudável preserva o valor nutritivo e os aspectos sensoriais dos alimentos, os quais devem ser qualitativa e quantitativamente adequados ao hábito alimentar e capazes de promover uma vida saudável, que previna o aparecimento de doenças provenientes de hábitos alimentares inadequados. Neste trabalho puderam-se observar as interações positivas e negativas entre nutriente/fármaco e nutriente/nutriente. A vitamina C facilita a absorção do Ferro, a vitamina D ajuda na absorção do Cálcio e fósforo, o acido oxálico dificulta a absorção de cálcio contido nos alimentos e os fitatos se ligam ao cálcio e ao ferro dificultando assim a sua absorção. Apesar da quelação do ferro e do fitato o que impede a absorção do ferro, autores revelam uma resposta positiva quando se consome fitato e ferro, pois essa interação pode diminuir significativamente a prevalência de câncer de colon, cálculos renais e apresenta grande ação antioxidante. 18 Abstract Foods bring meanings anthropological, sociocultural, behavioral and affective singular, so the food as a source of pleasure and identity also composes this approach. The dietitian must play its role as an educator and fulfill assignments intended for, using their workspace to effect, in a concrete way, her role as a health care professional. Some substances found in foods have a beneficial relationship with the absorption of other nutrients and drugs and cause adverse reactions, its relationship with the absorption of nutrients and medications is negative. Consumption of foods with drugs can have a marked effect on the rate and extent of absorption. This study aimed to review the literature on the interaction of dietary constituents on the absorption of nutrients and drugs along with the importance of a balanced diet. A drug-nutrient interaction is defined as an alteration in the kinetics and dynamics of a drug or nutrient, or the impairment of nutritional status as a result of administration of a drug. Upon planning menus and / or individualized diets nutritionists should take into account the interactions between drugs and nutrients with the constituents of the diet, thus minimizing problems with nutrient absorption and impaired bioavailability of nutrients in the diet of patients / customers. Keywords: Eating balanced. Drug-nutrient interactions. Absorption. 19 REFERÊNCIAS AUGUSTO et al., 1995. Terapia nutricional. Atheneu, São Paulo. AKAMINI D.; Filho M. K.; Peres C. M. Drug–nutrient interactions in elderly people,. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2007;10:304-10. AMORIN MMA. 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