ISSN 2182-8067 Órgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Oncologia Volume 1 | Número 2 | agosto 2013 Destaque: visão Anderson Arantes Silvestrini “Portugal e o Brasil podem contribuir também para a formação do oncologista nos outros países que falam a língua portuguesa” opinião do especialista Do Brasil ao Ceará, o retrato de um país Iane Figueiredo Lima publicações científicas MicroRNAS: Potenciais Biomarcadores em Oncologia Fosforilação proteica: desregulação e oncogénese Hemangiopericitoma intracraniano com evolução para Sarcoma fusocelular de alto grau: relato de caso Tumor Uterino – Um diagnóstico histológico inesperado Revista Portuguesa de Oncologia 1,0 YERVOY ® (n=137) 0,9 gp100 (n=136) 0,8 46% 0,7 0,6 0,5 24 % 0,4 0,3 25 0,2 % 14% 0,1 0,0 0 1 2 2 3 4 ANOS Adaptado de Hodi FS et al. 2010. YERVOY : uma terapêutica inovadora, potenciadora dos linfócitos T, que activa o sistema imunitário para destruir os tumores1,3 ® • YERVOY® não tem como alvo o tumor directamente, bloqueando especificamente o sinal inibitório do antigénio-4 dos linfócitos T citotóxicos (CTLA-4), resultando na activação das células T, proliferação e infiltração dos linfócitos nos tumores, causando a morte das células tumorais.1,4 Para informações de segurança importantes, queira consultar o Resumo das Características do Medicamento de YERVOY® normas de publicação 06 publication guidelines 09 editorial Ricardo da Luz 12 visão Anderson Arantes Silvestrini “Portugal e o Brasil podem contribuir também para a formação do oncologista nos outros países que falam a língua portuguesa” 14 opinião do especialista 20 índice Do Brasil ao Ceará, o retrato de um país Iane Figueiredo Lima oncologia e a sociedade 22 publicação científica 26 Artigo de Revisão MicroRNAS: Potenciais Biomarcadores em Oncologia A aquisição de YERVOY (ipilimumab), pelos hospitais do SNS, está condicionada ao deferimento do pedido de avaliação prévia pelo INFARMED, I.P., tal como definido pelo DL 195/2006, alterado pelo DL 48-A/2010. Enquanto decorre a avaliação deste pedido, o INFARMED, I.P. pode autorizar o acesso de doentes a este medicamento. ® concentrado para solução para perfusão 27 Juliana Santos, Francisca Dias, Ana L Teixeira, Mónica Gomes, Rui Medeiros Fosforilação proteica: desregulação e oncogénese 31 Luís Santos-Sousa, Luís Korrodi-Gregório, Maria João Freitas, Margarida Fardilha Caso Clínico Hemangiopericitoma intracraniano com evolução para Sarcoma fusocelolar de alto grau: relato de caso 38 Karolinny Borinelli de A. Moura, Carolina Dutra, Marta Vainchenker, João Norberto Stavale Tumor Uterino – Um diagnóstico histológico inesperado YERVOY (IPILIMUMAB) Informações essenciais compatíveis com o RCM. Nome do medicamento: YERVOY 5 mg/ml concentrado para solução para perfusão (ipilimumab). Indicações terapêuticas: YERVOY é indicado para o tratamento do melanoma avançado (irressecável ou metastático) em adultos que receberam tratamento prévio. Posologia e modo de administração: Posologia: O regime de indução de YERVOY recomendado é de 3 mg/kg administrado por via intravenosa durante um período de 90 minutos cada 3 semanas para um total de 4 doses. Os doentes devem receber todo o regime de indução (4 doses) como tolerado, independentemente do aparecimento de novas lesões ou agravamento de lesões já existentes. A avaliação da resposta tumoral deve ser realizada apenas após o final da terapia de indução. Os testes à função hepática e à função da tiróide devem ser avaliados no início do tratamento e antes de cada dose de YERVOY. Adicionalmente, quaisquer sinais ou sintomas de reacções adversas imunitárias, incluindo diarreia e colite, têm de ser avaliadas durante o tratamento com YERVOY (ver RCM completo para informação adicional). A gestão das reacções adversas imunitárias pode requerer a omissão de uma dose ou a interrupção permanente da terapia com YERVOY e a instituição de corticosteróides sistémicos em doses elevadas ou, em alguns casos, a adição de outra terapia imunossupressora (ver RCM completo para informação adicional). A redução da dose não é recomendada. As doses que são omitidas devido a uma reacção adversa não podem ser substituídas. Modo de administração: O período de perfusão recomendado é de 90 minutos. YERVOY pode ser utilizado para administração intravenosa sem diluição ou pode ser diluído em solução injectável de cloreto de sódio 9 mg/ml (0,9%) ou solução injectável de glucose 50 mg/ml (5%) para concentrações entre 1 e 4 mg/ml. YERVOY não pode ser administrado por via intravenosa rápida nem como injecção em bólus. Contra-indicações: Hipersensibilidade à substância activa ou a qualquer um dos excipientes. Efeitos indesejáveis: YERVOY é mais frequentemente associado com reacções adversas resultantes de actividade imunitária aumentada ou excessiva. A maioria destas, incluindo as reacções graves, tiveram resolução após o início de terapia médica adequada ou após YERVOY ser retirado. Em doentes que receberam 3 mg/kg de YERVOY em monoterapia no estudo MDX010-20, as reacções adversas notificadas mais frequentemente (≥ 10% dos doentes) foram diarreia, erupção cutânea, prurido, fadiga, náuseas, vómitos, apetite diminuído e dor abdominal. A maioria foram ligeiras a moderadas (grau 1 ou 2). A terapia com YERVOY foi interrompida devido a reacções adversas em 10% dos doentes. YERVOY é associado a reacções gastrointestinais imunitárias graves. A mediana do tempo para aparecimento de reacções gastrointestinais imunitárias graves ou fatais (grau 3-5) foi de 8 semanas (intervalo 5 a 13 semanas). Com as normas orientadoras de gestão especificadas no protocolo, na maioria dos casos (90%) ocorreu a resolução (definida como melhoria para ligeiro [grau 1] ou inferior ou para a gravidade no basal) com uma mediana de tempo de 4 semanas (intervalo 0,6 a 22 semanas) desde o aparecimento até à resolução. YERVOY é associado a hepatoxicidade imunitária grave. O tempo para o aparecimento de hepatotoxicidade imunitária moderada a grave ou fatal (grau 2-5) variou de 3 a 9 semanas desde o início do tratamento. Com as normas orientadoras especificadas no protocolo, o tempo para a resolução variou de 0,7 a 2 semanas. YERVOY é associado a reacções adversas cutâneas graves que podem ser imunitárias. A mediana do tempo para o aparecimento de reacções adversas cutâneas moderadas a graves ou fatais (grau 2-5) desde o início do tratamento foi de 3 semanas (intervalo 0,9-16 semanas). Com as normas orientadoras especificadas no protocolo, a resolução ocorreu na maioria dos casos (87%), com uma mediana do tempo desde o aparecimento até à resolução de 5 semanas (intervalo 0,6 a 29 semanas). YERVOY é associado a reacções adversas neurológicas imunitárias graves, endocrinopatia imunitária e outras reacções adversas imunitárias. O tempo para o aparecimento de endocrinopatia imunitária moderada a muito grave (grau 2-4) variou de 7 a perto de 20 semanas desde o início do tratamento. Advertências e precauções especiais de utilização: YERVOY está associado a reacções adversas inflamatórias resultantes de actividade imunitária aumentada ou excessiva (reacções adversas imunitárias), provavelmente relacionadas com o seu mecanismo de acção. As reacções adversas imunitárias, que podem ser graves ou potencialmente fatais, podem ser gastrointestinais, hepáticas, cutâneas, do sistema nervoso, do sistema endócrino ou de outros sistemas de órgãos. Apesar da maioria das reacções adversas imunitárias ocorrer durante o período de indução, foi também notificado o aparecimento meses após a última dose de YERVOY. Caso não tenha sido identificada uma etiologia alternativa, a diarreia, frequência de defecação aumentada, o sangue nas fezes, as elevações nos testes da função hepática, a erupção cutânea e a endocrinopatia têm de ser considerados inflamatórios e relacionados com YERVOY. Um diagnóstico precoce e uma gestão adequada são essenciais para minimizar as complicações potencialmente fatais. Os doentes com melanoma ocular, melanoma primário do SNC e metástases cerebrais activas não foram incluídos no ensaio clínico principal. Cada ml do medicamento contém 0,1 mmol (ou 2,30 mg) de sódio. Esta informação deve ser tida em consideração em doentes com ingestão controlada de sódio. Interacções medicamentosas e outras formas de interacção: O ipilimumab é um anticorpo monoclonal humano e não se espera que tenha um efeito nas CYPs nem noutras enzimas que sejam inibidoras ou indutoras da metabolização de fármacos. Consequentemente, não se espera que o ipilimumab tenha interacções farmacocinéticas. A utilização de corticosteróides sistémicos no basal, antes do início de YERVOY, deve ser evitada. No entanto, os corticosteróides sistémicos ou outros imunossupressores podem ser utilizados após o início de YERVOY para tratar as reacções adversas imunitárias. Uma vez que a hemorragia gastrointestinal é uma reacção adversa com YERVOY, os doentes que requerem terapia anticoagulante concomitante devem ser monitorizados cuidadosamente. Fonte: RCM aprovado em 21 junho de 2012. Medicamento de receita médica restrita. Nome e morada do representante do titular da autorização de introdução no mercado: Bristol-Myers Squibb Farmacêutica Portuguesa, S.A. Quinta da Fonte, 2780-730 Paço de Arcos. Para mais informações deverá contactar o representante do titular da autorização de introdução no mercado. *Num ensaio aleatorizado, controlado, de fase 3. 1. Resumo das Características do Medicamento de YERVOY®. 2. Hodi FS et al. N Engl J Med. 2010;363(8):711-723. 3. Specenier P. Expert Rev Anticancer Ther. 2012;12(12):1511-21. 4. Fong L, Small EJ. J Clin Oncol. 2008;26(32):5275-5283. 05 PTIP-136510 SG mediana=10 meses vs. 6 meses conselho editorial © 2013 Bristol-Myers Squibb Company. Todos os direitos reservados. PROPORÇÃO DE DOENTES VIVOS Sobrevivência global a longo prazo com YERVOY®2 04 731PT13PR01299-01 YERVOY : o primeiro fármaco aprovado que prolonga significativamente a sobrevivência global no melanoma avançado*2 ® introdução Data de preparação: 04/13 YERVOY® (ipilimumab) é indicado para o tratamento do melanoma avançado (irressecável ou metastático) em adultos que receberam tratamento prévio.1 42 André Correia, Adriana Franco, Filomena Sousa, Fazila Mahomed ISSN 2182-8067 Direção Presidente: Joaquim Abreu de Sousa; Vice-Presidente: Gabriela Sousa; Secretário: José Dinis da Silva; Tesoureira: Ana Pais; Vogais: Camila Coutinho; Paula Alves; Paulo Cortes Propriedade Sociedade Portuguesa de Oncologia • Avenida Afonso Henriques, Lote 2, nº 55, Escritório 3/8, 3000-011 Coimbra; Tel/Fax: (+351) 239 702 200; E-mail: [email protected]; Website: www.sponcologia.pt ficha técnica Correspondência geral e envio de trabalhos Ricardo da Luz – Editor-chefe da Revista Portuguesa de Oncologia Rua General Ferreira Martins, nº 10 2ºA • Miraflores • 1495-137 Algés Tel.: (+351) 217 611 010 • Fax: (+351) 217 611 019 • E-mail: [email protected] Edição, coordenação e produção bloom up™ • Edifício Fernando Pessoa, Rua General Ferreira Martins, nº 10 2ºA • 1495-137 Algés E-mail: [email protected] • Website: www.bloom.pt • Direção editorial: Paula Ribeiro; Design gráfico: Mafalda Barbado e Ana Sofia Conceição; Fotografia: António Aires Gomes; Periodicidade: Quadrimestral; Tiragem: 1.000 exemplares 3 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia conselho editorial introdução Revista Portuguesa de Oncologia Órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Oncologia The Journal of the Portuguese Society of Oncology Conselho Editorial Revista Portuguesa de Oncologia Volume 1 – Número 2 –agosto de 2013 Editor-chefe Ricardo da Luz A Revista Portuguesa de Oncologia visa proporcionar informação útil e credível sobre a atualidade em Oncologia, quer no que respeita à política da Saúde, quer no que se refere à investigação científica nacional, e pretende ser a fonte de informação de excelência sobre a Oncologia a nível nacional e internacional. Esta revista aceita com prazer a inclusão de trabalhos de autores nacionais e estrangeiros. Editores Adjuntos Helena Gervásio Helena Pereira Helena Rodrigues Joaquim Abreu de Sousa Manuel Limbert Paula Alves Paulo Cortes Rui Rodrigues //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// The Portuguese Journal of Oncology aims to provide useful and reliable information about the current Oncology, both in terms of health policy and in respect to the national scientific research, and aims to be the source of information about the excellence of national and international Oncology. This magazine accepts with pleasure the contribution of national and foreign authors. 4 Editores Ana Cristina Raimundo Anabela Sá Ângelo Oliveira António Moreira Carlos Lopes Deolinda Pereira Fátima Cardoso Fernando Castro Fernando Barata Fernando Schmitt Gabriela Sousa Hélder Mansinho João Oliveira João Pedro Vargas Moniz Jorge Rosa Santos José Dinis José Laranja Pontes José Luís Passos Coelho José Machado Lopes Lúcio Lara Luís Campos Pinheiro Luís Costa Luís de Sousa Lurdes Batarda Manuel Teixeira Margarida Damasceno Margarida Ferreira Matilde Braga Noémia Afonso Nuno Abecassis Olímpia Cid Paula Chaves Raquel Seruca Rui Henrique Rui Medeiros Sandra Bento Saudade André Sérgio Dias 5 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia Após envio de proposta de alteração do artigo, por parte dos revisores não publicados devem ser mencionados, entre parêntesis, da Revista Portuguesa de Oncologia, os autores devem enviar uma versão ao longo do texto. revista do artigo, utilizando a função do Word de registo de alterações As revistas médicas são referenciadas de acordo com as abre- (track changes) do Word (ou compatível) num prazo de 10 dias. viaturas utilizadas pelo Index Medicus. Os textos devem ter a seguinte estrutura: Nas referências com seis ou menos autores todos devem ser Página 1 listados. Nas referências com sete ou mais autores, devem ser a) Título em português e em inglês (menos 130 carateres com espaços) normas publicação – deve ser uma descrição breve sobre o conteúdo do artigo; b) N ome dos autores pela seguinte ordem: nome próprio, seguido Apelido e iniciais do(s) autor(es). Título do artigo. Nome da d) Instituição, Serviço, cidade ou país onde foi desenvolvido o revista ano; Volume: Páginas. Ex.: Pao W, Girard N. New driver mutations in non-small-cell e) F inanciamentos e conflitos de interesses; lung cancer. Lancet Oncol 2011; 12(2): 175–180. f) Nome, morada, telefone e e-mail do autor para correspondência; Capítulo em livro g) T ítulo breve para rodapé. Nome(s) e iniciais do(s) autor(es) do capítulo. Título do capítulo. In: Nome(s) e iniciais do(s) editor(es). Título do livro. Cidade: Página 2 Nome da casa editora, ano de publicação: primeira a última a) T ítulo; Publica artigos originais, artigos de revisão, casos clínicos, imagens em Oncologia, estudos de farmaco- b) Resumo em português e em inglês. Estrutura do resumo: economia, investigação em serviços de saúde, artigos especiais e cartas ao editor. a) Objetivos; b) Métodos; c) Resultados; d) Conclusões. Rege-se pelas normas adotadas pela Comissão Internacional dos Editores de Revistas Médicas (International Máximo 842 carateres (com espaços); b) P alavras-chave em português e em inglês. Máximo Os artigos podem ser redigidos em Português ou em Inglês. de 5 palavras-chave, de acordo com o Index Medicus: O rigor, veracidade e exatidão dos conteúdos e opiniões dos autores são da exclusiva responsabilidade dos «Medical Subject Headings» (MeSH). página do capítulo. Ex.: Remy J, Remy-Jardin M, Voisin C. Endovascular management of bronchial bleeding. In: Butler J (ed). The Bronchial Circulation. New York: Dekker, 1992; 667–723. Livro Nome(s) e iniciais do(s) autor(es). Título do livro. Cidade: Nome da casa editora, ano de publicação: páginas(s) consultada(s) mesmos, devendo os autores declarar potenciais conflitos de interesses. Página 3 e seguintes Os artigos devem ser originais e não podem ter sido anteriormente publicados noutra revista. Deverá ser [se aplicável]. Artigos originais e Revisões: o texto deve conter os seguintes subtítulos: enviado via e-mail um documento digitalizado e assinado por todos os autores, cedendo à Revista Portuguesa Ex.: Vainio H, Bianchini F, eds. IARC handbook of cancer a) Introdução; b) Métodos; c) Resultados; d) Discussão; e) Conclusões; de Oncologia os direitos de autor. prevention. Vol 7. Breast cancer screening. Lyon, France: f) Referências. Máximo 25.000 carateres (com espaços). Após publicação dos artigos, estes passam a ser propriedade da Revista Portuguesa de Oncologia, não IARC Press, 2002. Casos clínicos: o texto deve conter os seguintes subtítulos: a) Introdução; podendo, sem autorização prévia, ser reproduzidos total ou parcialmente. Documento eletrónico b) Caso clínico; c) Discussão; d) Referências. Máximo 15.000 carateres (com A publicação dos artigos está sujeita a aceitação por parte do conselho editorial. Após análise os artigos Surveillance Epidemiology and End Results (SEER) Program of espaços) e não deve exceder 8 figuras e/ ou tabelas. As legendas das figuras podem ser: the National Cancer Institute. SEER. Stat Fact Sheets. http:// e das tabelas não devem ultrapassar os 98 carateres (com espaços). a) Aceites sem alterações; www.seer.cancer.gov/statfacts/html/all.html (10 May 2011, Artigos Especiais: o texto deve conter os seguintes subtítulos: a) Introdução; b) Aceites após modificações propostas pelos revisores; date last accessed). b) Métodos; c) Resultados; d) Discussão; e) Conclusões; f) Referências. c) Recusados. Máximo 25.000 carateres (com espaços). Os autores, independentemente da resposta, são avisados da decisão do conselho editorial. Investigação em Serviços de Saúde: o texto deve conter os seguintes A Revista Portuguesa de Oncologia tem uma periodicidade quadrimestral e é editada em papel e online. subtítulos: a) Introdução; b) Métodos; c) Resultados; d) Discussão; e) Conclusões; f) Referências. Máximo 25.000 carateres (com espaços). Tabelas: As tabelas deverão ser referenciadas no texto em numeração romana pela ordem que surgem no texto. Cada tabela deve ser apresentada em página separada. Na parte inferior devem apresentar um título sucinto e as explicações das abreviaturas Instruções aos Autores Imagens em Oncologia: Não devem exceder 6 figuras. Devem ser enviadas Todos os artigos que não estejam de acordo com as instruções que se seguem podem ser enviados para em formato JPEG ou TIFF – 300 dpi. Texto explicativo não deve ultrapassar modificação antes de serem apreciados pelo conselho editorial. os 2.500 caracteres (com espaços). Figuras: Os artigos devem ser enviados em formato digital para [email protected], acompanhados por Cartas ao Editor: Comentário crítico a um artigo publicado na Revista As figuras a incluir devem ser referenciadas ao longo do texto um formulário devidamente preenchido e assinado – ver Anexo I. Os autores podem solicitar o formulário Portuguesa de Oncologia. Máximo 4.000 carateres (com espaços). em numeração árabe pela ordem que surgem. Formato de utilizando o mesmo endereço eletrónico. Para a redação dos artigos os autores devem utilizar o programa Word para Windows (ou compatível), tipo de letra calibri tamanho 11, texto justificado, avanço da primeira linha de 1,25 cm, espaçamento simples 6 pto (depois), margens das folhas: superior e inferior – 2,5 cm, esquerda e direita – 3 cm. As imagens devem ser enviadas num ficheiro adicional em formato JPEG ou TIFF com resolução de 300 dpi. 6 As referências são da exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Revista do apelido (máximo dois nomes); científica na área oncológica (clínica e investigação). Commitee of Medical Journal Editors) que podem ser consultadas em http://www.icmje.org. latina et al. c) Filiação dos Autores; trabalho; A Revista Portuguesa de Oncologia, órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Oncologia, é uma publicação nomeados os três primeiros autores seguido da abreviatura Referências: As referências bibliográficas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto e assinaladas em superscript. Trabalhos não publicados, comunicações em reuniões ou quaisquer dados utilizadas. envio – JPEG ou TIFF – 300 dpi. As legendas das figuras e das tabelas não devem ultrapassar os 98 carateres (com espaços). //////////////////////////////////////////////////////////////RPO 7 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia Anexo I Revista Portuguesa de Oncologia Formulário Autores Todos os manuscritos submetidos à Revista Portuguesa de Oncologia têm de ser acompanhados por este formulário devidamente preenchido e assinado. Preencha, digitalize e envie para o endereço eletrónico – [email protected]. Este formulário está também disponível no site da SPO (www.sponcologia.pt), onde poderá fazer download e impressão para publications guidelines preenchimento e envio após digitalização. Para mais informações ou em caso de dúvidas contactar Paula Ribeiro – (+351) 217 611 010. Título do Manuscrito: Autor(es): The Portuguese Journal of Oncology, the official organ of the Portuguese in additional file in JPEG or TIFF format with a resolution of 300 dpi. Society of Oncology, is a scientific publication in the field of oncology After receiving the amendment proposal sent by auditors of the Portuguese (clinical and research). Publishes original and review articles, clinical Journal of Oncology, the authors should submit a revised version of the cases, images in Oncology, pharmacoeconomic studies, health services article, using Word Track Changes or compatible within 10 days. research, special articles and letters to the editor. The texts must have the following structure: It is governed by the rules adopted by the International Commission of Medical Journal Editors (International Committee of Medical Journal Editors) that can be found in http://www.icmje.org/. Articles may be written in Portuguese or English. The accuracy, truthfulness and accuracy of the contents and opinions are solely the responsibility of the authors, obliged to declare potential Aprovação ética para a investigação: Sim Não Não se aplica Nome do principal investigador: Possível conflito de interesses: Sim Não Se sim, qual(is) Contactos: E-mail: Telefone/Telemóvel: The articles must be original and must not have been previously published in another journal. A scanned document should be signed by all authors and sent via e-mail, giving in the Portuguese Journal of Oncology’s copyright. After the publication of the articles, they become the property of the surname (maximum two names); c) Authors filiation; d) Institution, Service, city or country where the work was developed; e) F inancing and conflicts of interest; f) Name, address, telephone number and e-mail of the corresponding author; g) Short title for footer. Page 2 a) Title; The publication of the articles is subject to acceptance by the editorial b) S ummary in Portuguese and English. Resume structure: a) Objectives board. After analyzing the articles can be: a) Accepted without change; b) Accepted after modifications suggested by the reviewers; c) Refused. The authors, regardless of the response, are advised of the decision of the editorial board. • Que após submissão o manuscrito passa a propriedade da Revista Portuguesa de Oncologia e a sua - should be a brief description of the content of the article; b) N ame of the authors in the following order: first name, followed by reproduced in whole or in part. • Que todos os autores leram e concordaram com o manuscrito submetido e que todos estão de • Que o manuscrito submetido é original, não tendo sido antes publicado. a) Title in Portuguese and English (less than 130 characters with spaces) Portuguese Journal of Oncology and may not, without prior permission, be Confirmo: acordo com a sua submissão à Revista Portuguesa de Oncologia. The Portuguese Journal of Oncology has a quarterly basis and is published in paper and online. b) Methods, c) Results d) Conclusions. Maximum of 842 characters (with spaces); c) Key words in Portuguese and English. Maximum of 5 keywords, according to Index Medicus: “Medical Subject Headings” (MeSH) Page 3 and following Original Articles and Reviews: text should contain the following headings: a) Introduction b) Methods, c) Results, d) Discussion, e) Conclusions, f) References. Maximum of 25.000 characters (with spaces). Instructions to Authors Clinical cases: the text should contain the following headings: a) Introduc- All of the articles that are not in accordance with the following instructions tion, b) Clinical, c) Discussion, d) References. Maximum 15.000 characters may be sent for modification before being considered by the editorial board. (with spaces) and should not exceed 8 figures and / or tables. Subtitles of Articles must be sent in digital format to [email protected], figures and tables should not exceed 98 characters (with spaces). accompanied by a completed and signed form. Authors can request the Special Articles: text should contain the following headings: a) Introduction form by using the same email address. Assinatura: b) Methods, c) Results, d) Discussion, e) Conclusion,s f) References. For the wording of the articles authors should use the Word for Windows Maximum of 25.000 characters (with spaces). Data: program (or compatible), calibri font size 11, justified text, advancing Health Services Research: the text should contain the following headings: the first line of 1.25 cm, single spacing 6 pto (after), margins of leaves: a) Introduction b) Methods, c) Results, d) Discussion, e) Conclusions, top and bottom - 2.5 cm, left and right - 3 cm. Images should be sent f) References. Maximum of 25.000 characters (with spaces). reprodução parcial ou total deverá ser alvo de autorização por parte da Revista Portuguesa de Oncologia. • A autorização de divulgação dos meus dados pessoais – nome, especialidade, local de trabalho e email – na revista ou no site para eventuais contactos de leitores. 8 conflicts of interests. Page 1 9 Revista Portuguesa de Oncologia Images in Oncology: Not to exceed 6 figures. Should be sent in JPEG or TIFF - 300 dpi. Explanatory text should not exceed 2.500 characters (with spaces). Letters to the Editor: Critical commentary to an article published in Portuguese Journal of Oncology. Maximum of 4.000 characters (with spaces). References: References should be numbered in order of appearance in the text and indicated in superscript. Submission form All manuscripts submitted to the Journal of Oncology Portuguese must be accompanied by a completed and signed form. Fill out, scan and send by e-mail to [email protected]. This form is also available on the SPO website (www.sponcologia.pt) available to download and print for fulfillment and sending after scanning. For more information contact Paula Ribeiro – (+351) 217 611 010. Title of the manuscript Unpublished work, in meetings, or any communications unpublished data should be mentioned in brackets in the text. The medical journals are referenced according to the abbreviations A TRABALHAR PARA QUE CADA DOENTE ONCOLÓGICO TENHA O TRATAMENTO CERTO. Authors used Index Medicus. In references with six or less all authors should be listed. In references with seven or more authors should be named the first three authors followed the Latin abbreviation et al. References are the sole responsibility of the author(s). O Cancro continua a ser um dos maiores e mais duradouros desafios da Indústria Farmacêutica. É por esta razão que o nosso compromisso de continuar a avançar na luta contra o Cancro é mais forte do que nunca. A Pfizer está a trabalhar para desenvolver terapêuticas alvo tendo por base o conhecimento biológico da doença. Isto ajudar-nos-á a direccionar o tratamento certo para a pessoa certa, no momento certo, e a melhorar a vida daqueles que vivem com cancro. Magazines and Journals Surname and initial (s) of author (s). Title of article. Name of the journal year; Volume: Pages. Ethical approval for the research: Ex.: Pao W, Girard N. New driver mutations in non-small-cell lung cancer. Yes Lancet Oncol 2011; 12(2): 175–180. Chapter in book Yes (s) and initial (s) of editor (s). Title of book. City: Name of publisher, York: Dekker, 1992; 667–723. Books No If yes, which year of publication: first to last page of the chapter. bronchial bleeding. In: Butler J (ed). The Bronchial Circulation. New Not applicable Possible conflict of interest Name(s) and initial(s) of author(s) of chapter. Title of chapter. In: Name Ex.: Remy J, Remy-Jardin M, Voisin C. Endovascular management of No Contacts: E-mail Telephone/Mobile Name(s) and initial(s) of author(s). Title of book. City: Name of publisher, year of publication: page(s) consulted [if applicable]. I hereby confirm: Ex.: Vainio H, Bianchini F, eds. IARC handbook of cancer prevention. • That all authors have read and agreed to the submitted manuscript Vol 7. Breast cancer screening. Lyon, France: IARC Press, 2002. Electronic document Surveillance Epidemiology and End Results (SEER) Program of the National Cancer Institute. SEER. Stat Fact Sheets. http://www.seer.cancer. gov/statfacts/html/all.html (10 May 2011, date last accessed). Tables: and that all are in agreement with their submission to the Portuguese Journal of Oncology. • That the submitted manuscript is original and has not been published before. • That after the manuscript submission it becomes the property of the Portuguese Journal of Oncology and the total or partial reproduction should be subject to authorization by the Portuguese Journal of Oncology. Tables should be referenced in the text by Roman numerals in order of • The authorization of disclosure of my personal data - name, specialty, appearance. Each table should be presented on a separate page. At the workplace and e-mail – in the journal or on the website for any contact bottom should submit a title and brief explanations of the abbreviations from readers. EM CONJUNTO ESTAREMOS MAIS PERTO DA CURA. Colaboramos hoje com múltiplos parceiros públicos e privados, incluindo Universidades, Fundações e Agências Governamentais e contamos com mais de 1000 cientistas para nos ajudarem a encontrar uma resposta. Saiba mais em pfizer.pt used. Figures: The figures include must be referenced throughout the text in Arabic Signature Date numerals in the order they appear. Sending Format - JPEG or TIFF - 300 dpi. Subtitles of figures and tables should not exceed 98 characters (with spaces) A trabalhar em conjunto para um mundo mais saudávelTM 10 Copyright © 2010 Pfizer Inc. Direitos reservados. A Wyeth foi adquirida pela Pfizer Inc. A integração da Wyeth e da Pfizer a nível local depende ainda do cumprimento de requisitos legais e regulamentares Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia editorial No passado mês de maio do corrente ano realizou-se em Fortaleza, Ceará, Brasil o 1º Congresso Luso-Brasileiro de Oncologia Clínica, uma organização conjunta da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e da Sociedade Portuguesa de Oncologia. Este evento, planeado e sonhado pelo saudoso Dr. Gothardo Lima, oncologista médico em Fortaleza, teve como objectivo estabelecer novas pontes e ajudar a desenvolver pontos de contacto entre a Oncologia Portuguesa e Brasileira, com vista a um melhor conhecimento mútuo. No seguimento deste evento, a Revista Portuguesa de Oncologia, decidiu publicar alguns trabalhos, entretanto submetidos, de médicos brasileiros, assim como publicar duas entrevistas, com o Presidente do Congresso, Dra. Iane Figueiredo Lima, e o Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Dr. Anderson Arantes Silvestrini. Desta forma singela pretendemos dar continuidade aos trabalhos do congresso e contribuir para uma aproximação entre os oncologistas dos dois países. A importância crescente da patologia molecular e da genética, na área da oncologia, continua a manifestar-se pelo número de trabalhos científicos submetidos que versam aqueles temas e dos quais se publicam neste número mais dois trabalhos de revisão. Aliás têm sido desta área a maioria dos trabalhos que nos chegam, revelando o número crescente de grupos de investigação dedicados ao estudo deste tema. Não se pode separar este aumento do conhecimento científico, do desenvolvimento de novas armas terapêuticas no combate à doença oncológica, pelo que a esperança de se encontrar medicamentos cada vez mais eficazes e seguros se mantém real e bem viva. Assim as alterações que se vêm introduzindo no acesso aos novos medicamentos o permitam. Sem dúvida que, como sempre, é necessário separar o trigo do joio, distinguir a verdadeira inovação daquela que o não é, ou que, mesmo sendo-o, não acrescenta nada ao tratamento dos doentes. Mas não se pode deitar fora o trigo apenas porque tem joio. Sairá demasiado caro. Ricardo da Luz Editor-chefe da Revista Portuguesa de Oncologia 12 13 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia “Portugal e o Brasil podem contribuir também para a formação do oncologista nos outros países que falam a língua portuguesa.” O Brasil é o maior país da América do Sul e da região da América Latina. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reúne profissionais dos 27 estados do Brasil e está classificada como uma das Sociedades Médicas mais bem estruturadas na América Latina. A Revista Portuguesa de Oncologia (RPO) falou com Anderson Arantes Silvestrini, o atual presidente da SBOC procurando saber mais sobre a realidade deste país e desta comunidade médica e científica. RPO – O Brasil é o maior país da América do Sul e da região da América Latina, sendo o quinto maior país do mundo em área territorial e em população (cerca de 193 milhões de habitantes). De acordo com toda esta dimensão, como estão organizados atualmente a prestação de cuidados de saúde em Oncologia? Anderson Arantes Silvestrini (AAS) – O atendimento de pacientes oncológicos no Brasil se faz de forma mista: público, através do Sistema Único de Saúde (SUS) e privado, através de operadoras de saúde privada e consultório/clínicas particulares. Cerca de 80% dos pacientes são tratados pelo SUS ou em instituições filantrópicas (sem fins lucrativos). O tratamento pelo sistema privado é regulado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), sendo que os procedimentos cobertos são regulamentados pela mesma. Este atendimento é prestado em clínicas e hospitais privados, com autorização prévia. RPO – Podemos concluir que a evolução histórica do sistema de saúde e a atual realidade do setor estão relacionados diretamente com a evolução político-social e económica da sociedade Brasileira. Quais considera terem sido os pontos-chave que determinaram a evolução da Oncologia no Brasil? visão entrevista de fundo Anderson Arantes Silvestrini Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica Diretor técnico do Grupo Acreditar - Oncologia D’or Ex-coordenador de Oncologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal Ex-Presidente da SBOC - Regional Distrito Federal 14 AAS – Como em todos os países, no Brasil também enfrentamos dificuldades para melhorar o acesso da população à saúde. Podemos dizer que a cada dia aumenta o acesso dos pacientes ao tratamento oncológico. Apesar do incremento da tecnologia e dos custos em Oncologia a cobertura está melhorando. A criação do modelo do SUS foi um passo importantíssimo para melhorar o acesso das pessoas à saúde. Em teoria o sistema seria perfeito, mas a sua implementação num país com uma grande extensão, como é o caso do Brasil, não está sendo fácil. Além disso, peca por, apesar de único no nome, funcionar paralelamente com o sistema complementar, que está crescendo no país, devido à dificuldade de acesso à rede pública. 15 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia Existem campanhas para acesso a exames de rastreamento principalmente para mulheres, como são exemplo a mamografia e o exame ginecológico periódico. No mês de outubro, o Outubro Rosa toma conta das ruas para conscientizar a população. Em 2012 a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica em conjunto com a Sociedade Brasileira de Urologia demos início ao Novembro Azul para estimular o homem a cuidar da saúde. “A população brasileira está envelhecendo e em 2050 teremos cerca de 15.000.000 de pessoas com mais de 80 anos no país, o que levará o câncer ao primeiro lugar em morte por doença e a um aumento nos custos com saúde.” Mas, mesmo com todas estas dificuldades podemos dizer que estamos melhorando, principalmente, com a criação dos Registros Nacionais de Câncer, responsável pelas estatísticas relativas à epidemiologia do câncer no país. Precisamos de ter em mãos dados objetivos e confiáveis para o controle da doença no país. RPO – Muitos progressos têm sido realizados desde a criação do SUS em 1988, no entanto existem ainda alguns desafios de saúde pública no Brasil. Quais considera serem os maiores desafios da atualidade na área da Oncologia? AAS – Apresentamos alguns marcos muito importantes no controle do câncer. Quando falamos de prevenção o principal deles é o enfrentamento do tabagismo no Brasil. Da década de 90 até hoje tivemos uma queda de 32% para 16% de fumantes. Mas mantemos uma população de 22% de ex-tabagistas que ainda terão algum problema relacionado ao mesmo. O Ministério da Saúde tem feito um trabalho importante no acesso das mulheres às mamografias periódicas, exames ginecológicos e em julho de 2013 haverá cobertura vacinal para o HPV, responsável pelo câncer de colo uterino, segundo em incidência em nosso país. Já a cobertura do tratamento oncológico apresentou alguns marcos importantes como a incorporação do rituximabe para linfoma B de alto grau e trastuzumabe em câncer de mama em neoadjuvância e adjuvância. Apesar destes dados promissores temos diversas dificuldades. A população brasileira está envelhecendo e em 2050 teremos cerca de 15.000.000 de pessoas com mais de 80 anos no país, o que levará o câncer ao primeiro lugar em morte por doença e a um aumento nos custos com saúde. No Brasil, de 2001 para 2012 tivemos um aumento no diagnóstico de neoplasias que variou de 305.330 para 518.510 novos casos por ano, um aumento de 69%, não proporcional à população. 30% das mulheres dos 50 aos 69 anos de idade nunca fizeram uma 16 No Brasil, 60% dos casos da doença são diagnosticados em EC III e IV. Quando falamos de acesso ao tratamento, em 2010 apenas 60% dos pacientes que necessitavam de realizar radioterapia tiveram acesso ao mesmo. Ainda não temos acesso para pacientes do sistema público a tratamentos consolidados como rituximabe para linfomas CD-20 positivo, de baixo grau ou trastuzumabe para pacientes com câncer de mama metastático. morte na população brasileira. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 489.270 novos casos de cancro em 2010. Levando em consideração que o diagnóstico precoce da doença pode ajudar a diminuir este número, de que forma estão organizadas as ações de prevenção e controle do cancro, nomeadamente o rastreio? AAS – Estimativas para 2012 e 2013 são de 518.510 novos casos por ano e 60% dos casos da doença são diagnosticados em EC III e IV. Como o Brasil possui uma grande extensão territorial temos desde indicadores de primeiro mundo, próximo aos grandes centros urbanos, a indicadores muito ruins longe destes, principalmente nas regiões norte e nordeste do país. de neoplasias que variou de 305.330 para 518.510 novos casos por ano, um aumento de 69%, não proporcional AAS – O Brasil possui em média, 2 médicos para cada 1000 habitantes. No entanto, este número varia muito entre as regiões. de idade nunca fizeram Quanto à Oncologia existem cerca de 2000 profissionais oncologistas clínicos no país, cerca de um profissional para cada 96.500 habitantes. A Organização Mundial de Saúde preconiza 1 para 100.000 habitantes. RPO – Para concluir, como podemos classificar a Oncologia Brasileira? AAS – O país conta com uma política nacional de combate ao câncer que vem melhorando. Podemos dizer que apesar de todas as dificuldades o combate ao tabagismo, os exames de rastreamento e o acesso ao tratamento tem melhorado. A Oncologia clínica brasileira conta com profissionais bem formados que se atualizam constantemente e estão preocupados com os rumos da profissão no país. Como podem ver os desafios são muitos. RPO – Desde 2003, que o cancro é a segunda causa de um aumento no diagnóstico RPO – E ao nível do número de profissionais médicos a prestarem cuidados de saúde em Oncologia, em termos estatísticos, quantos doentes existem por cada médico e quais são as perspetivas futuras? Região como o norte possui um médico para cada 1000 habitantes, enquanto a região sudeste possui 2,67 médicos para cada 1000 pessoas. mamografia e 15% das mulheres dos 25 aos 59 anos de idade nunca fizeram um exame de papanicolau. “de 2001 para 2012 tivemos RPO – A caminho dos seus 35 anos de vida, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), reúne profissionais dos 27 estados do Brasil e está classificada como uma das Sociedades médicas mais bem estruturadas na América Latina. Na qualidade de Presidente desta sociedade, quais foram os maiores contributos da SBOC para o entendimento do cancro junto dos seus associados? E da população em geral? AAS – O trabalho da SBOC se desenvolve em três pilares: educação médica continuada; pesquisa clínica; defesa profissional. Desenvolvemos um trabalho muito importante para a educação médica continuada. A diretoria da SBOC acha de suma importância a capacitação médica e a atualização constante. Para isso desenvolvemos uma série de ferramentas. à população. 30% das mulheres dos 50 aos 69 anos uma mamografia e 15% das mulheres dos 25 aos 59 anos de idade nunca fizeram um exame de papanicolau.” Uma das ferramentas mais importantes é nossa biblioteca virtual, onde, através do portal da SBOC, o associado tem acesso integral aos principais periódicos de Oncologia – pubmed, Cochrane, Dynamed e EBSCO, entre outros. Possuímos também a livraria virtual, com um acervo de 40 livros virtuais, com acesso e download também pelo portal. Temos publicações próprias como o nosso “Manual de Condutas”, que se encontra em fase de atualização para ser distribuído no congresso em Brasília, o nosso Guia de Consulta Rápido, a leitura crítica de artigos científicos e a cada dois anos realizamos o Congresso Brasileiro da SBOC. Discutimos continuamente a formação do residente de Oncologia clínica junto do ministério da Educação. Quanto à pesquisa clínica, estimulamos o desenvolvimento de projetos próprios e apoiamos através de nosso Departamento de Pesquisa e Bioestatística. Estimulamos e desenvolvemos cursos online de pesquisa clínica e neste mandato realizamos, em conjunto com a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o I International Clínical Trials Workshop Brazil, com o comparecimento da Dra. Sandra Swaim, presidente da ASCO. Desenvolvemos também o prêmio SBOC/ ASCO premiando os principais trabalhos apresentados com pacotes para o congresso americano. Temos a nossa revista científica para que nossos associados publiquem os trabalhos desenvolvidos. 17 Revista Portuguesa de Oncologia “Temos grande dificuldade para aprovar estudos clínicos no país demorando em regra, mais de um ano para aprová-los e começar o recrutamento de pacientes” A defesa profissional do oncologista clínico também é fundamental. Contamos com um departamento jurídico que vem atuando junto dos associados nas principais demandas. Desenvolvemos algumas ferramentas como o “Manual de Conflito de Interesses”, o Guia para Auditoria Médica em Saúde e uma Cartilha dos Direitos do Paciente com Câncer, para auxiliar na prática clínica. C M RPO – Ao nível da investigação, como se posiciona o Brasil no panorama mundial? Na SBOC fazemos o possível para capacitar e estimular nosso associado a produzir estudos de qualidade. Trabalhamos junto às agências regulatórias para melhorar a legislação vigente. RPO – Ao nível de eventos a SBOC tem sido grande impulsionadora do debate e troca de experiência através da organização de Congressos. Brasília será palco do XVIII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, de 23 a 26 de Outubro. Quais são as espectativas para esta edição? AAS – Temos as melhores expectativas possíveis. Esperamos a participação de mais de 3000 pessoas envolvidas diretamente com o tratamento do câncer, como oncologistas clínicos, cirurgiões, radioterapeutas, enfermagem oncológica, nutrição, psicooncologistas. Com o tema “Interdisciplinaridade e novas perspectivas” esperamos valorizar o profissional de saúde no tratamento do paciente pois a tecnologia agrega valor mas a tomada de decisão é o passo mais importante para melhorarmos nossos resultados e darmos qualidade de vida ao paciente. Como Brasilia é o centro político do Brasil teremos espaço para que entidades governamentais e organizações não-governamentais possam discutir e melhorar o trabalho desenvolvido. 18 CM MY CY CMY RPO – Em maio passado realizou-se o I Congresso Luso Brasileiro de Oncologia Clínica, uma parceria entre a SBOC e a SPO. Como classifica esta primeira edição e como encara a realização de futuras edições? K Our science, on behalf of patients. AAS – Foi um sucesso! Apesar da perda do Dr. Gothardo Lima, um expoente da Oncologia nacional e o grande incentivador do evento, conseguimos permanecer motivados para que o evento fosse um sucesso do ponto de vista técnico e de relacionamento entre os dois países. A troca de experiência foi muito gratificante. RPO – Como classifica a relação entre Portugal e Brasil e as mais-valias que ela pode trazer para a Oncologia de ambos os países? AAS – A aproximação entre os dois países era mais que natural. Possuímos a mesma língua, os mesmos costumes e talvez os mesmos problemas relacionados ao cuidado do paciente com câncer. Além da troca de experiências e conhecimento técnico, vislumbro intercâmbio entre os países para melhorar a formação do residente e a criação de programas de pós-graduação e condução de estudos clínicos conjuntos. Considero que Portugal e o Brasil podem contribuir também para a formação do oncologista nos outros países que falam a língua portuguesa. Janssen-Cilag Farmacêutica, Lda. Estrada Consiglieri Pedroso, 69A ı Queluz de Baixo ı 2734-503 Barcarena JAC-07-13-004-NA AAS – O Brasil possui centros de pesquisa clínica formados e profissionais capacitados para desenvolver pesquisa clínica de qualidade. Infelizmente esbarramos em barreiras políticas que nos impedem de crescer mais. Temos grande dificuldade para aprovar estudos clínicos no país demorando em regra, mais de um ano para aprová-los e começar o recrutamento de pacientes. Nossa legislação para pesquisa clínica precisa de reforma urgente. Y Sociedade por quotas Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Oeiras, sob o nº 10576 Capital Social €2.693.508,64 ı NIF 500189 412 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia “No Brasil, os pacientes podem ter acesso ao tratamento oncológico por duas vias: através do serviço público chamado opinião do especialista Iane Figueiredo Lima Oncologista médica, corpo clínico e diretoria clínica-administrativa da Qumioclinic; Corpo clínico do Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO); Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – Regional Ceará (SBOC-CE); Presidente do I Congresso Luso-Brasileiro de Oncologia Clínica Do Brasil ao Ceará, o retrato de um país. Oncologia Clínica é a especialidade da Clínica Médica envolvida no diagnóstico e tratamento do câncer, atuando na prática diária também na prevenção, assim como na reabilitação de pacientes já tratados. Considerando-se os dados de epidemiologia do câncer no mundo, acredita-se numa importância crescente da especialidade. Estima-se que no Brasil, de 2012 a 2013, sejam registrados mais de 520.000 casos novos, reforçando a magnitude do problema no país. Esse crescimento tem se refletido no aumento do número de tratamentos ambulatoriais, das taxas de internações hospitalares e dos recursos públicos para custear os tratamentos. Houve uma época em que o tratamento do câncer era basicamente loco-regional; as cirurgias eram agressivas. A partir da segunda metade do século XX surge a quimioterapia, acompanhada de seus temidos efeitos colaterais. A evolução do conhecimento sobre o câncer, e a incorporação do tratamento sistêmico como parte da abordagem multidisciplinar, seja com finalidade curativa ou paliativa, colocou o oncologista como o profissional fundamental no atendimento ao paciente oncológico. 20 Sistema Único de Saúde (SUS), ou dos planos particulares de saúde, aos quais menos de 20% da população tem acesso.” Entramos no século XXI, e a quimio ainda é aplicada; porém, de forma mais consciente e com maior segurança. Agora falamos de medicamentos inteligentes, que agem num mecanismo específico envolvido na multiplicação da célula tumoral. A incorporação dessas novas tecnologias e novos medicamentos, na maioria das vezes onerosos, mas que podem repercutir positivamente em desfechos como aumento de taxa de resposta, sobrevida livre de progressão, sobrevida livre de doença ou mesmo em sobrevida global, está entre os desafios da nossa especialidade. Como e quando fazer isso, e com quais recursos disponíveis, permeiam diariamente as consultas e visitas, especialmente numa era onde o paciente tem bastante acesso à informação. O diálogo com as fontes pagadoras não é fácil. A saída está, como em outras especialidades, na Medicina Baseada em Evidência. No Brasil, os pacientes podem ter acesso ao tratamento oncológico por duas vias: através do serviço público chamado Sistema Único de Saúde (SUS), ou dos planos particulares de saúde, aos quais menos de 20% da população tem acesso. No SUS, existem cerca de 280 hospitais habilitados no tratamento do câncer. Todos os estados brasileiros têm pelo menos um hospital habilitado em oncologia. Porém, como todo serviço público, os recursos são limitados e consequentemente o acesso a essas novas terapêuticas também. Em 2010, o Ministério da Saúde anunciou a liberação de R$ 412,7 milhões para serem investidos na reestruturação da assistência em oncologia no SUS. Foram incluídos nove novos procedimentos, como o Trastuzumabe para o tratamento do câncer de mama, e o Rituximabe para linfoma. O pacote de medidas também ampliou, em até 10 vezes, o valor pago por 66 procedimentos já realizados. através de APAC (Laudo Médico para Procedimento de Alta Complexidade), são os mesmos em todo o país. A realidade para a outra parcela da população com acesso aos Seguros de Saúde é um pouco diferente. Embora teoricamente tenham acesso mais rápido aos medicamentos de última geração, o oncologista tem uma grande dificuldade para conseguir a autorização para determinado tratamento. A negativa é atribuída na grande maioria das vezes à ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), alegando-se não constar ainda em bula tal indicação. É aí que entra a importância de uma sociedade médica representativa dos direitos e deveres de determinada especialidade. No Brasil, podemos ser representados por duas entidades: a Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), fundada em 25 de julho de 1946, que abrange também a cirurgia e radioterapia, e pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), criada em 21 de outubro de 1981. Esta acredita na divisão dos trabalhos, estimulando a criação de regionais em cada Estado Brasileiro. Sendo assim, em maio de 2011, fundamos a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica - Regional Ceará (SBOC-CE). Através da SBOC-CE, pretendemos aumentar a discussão em nosso Estado com as operadoras de saúde, procurando sempre o melhor para os nossos pacientes. Foi através dessa que nos aproximamos da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) para discutirmos juntos os problemas enfrentados por ambas as sociedades, buscando melhorias em cada uma de suas áreas. O estreitamento dessa relação se deu através da realização do I Congresso Luso-Brasileiro de Oncologia Clínica nos dias 03 e 04 de maio de 2013. Esperamos dar continuidade a essa iniciativa para colhermos cada vez mais frutos dessa histórica “amizade”. A oncologia do SUS no Ceará encontra-se em patamar semelhante ao restante do Brasil, já que os valores pagos pelos procedimentos, 21 Revista Portuguesa de Oncologia oncologia e a sociedade Revista Portuguesa de Oncologia 1º Congresso Luso-Brasileiro de Oncologia Clínica Apesar de separados pelo Atlântico, Portugal e Brasil partilham uma longa história. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e a Sociedade Portuguesa de Oncologia levaram a cabo a realização do 1º Congresso Luso-Brasileiro de Oncologia Clínica. Sociedade Portuguesa de Oncologia, 30 anos A comemoração dos 30 anos da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) foi assinalada com um jantar no passado dia 24 de maio, em Lisboa. As honras do evento estiveram a cargo do Dr. Joaquim Abreu de Sousa, atual presidente da SPO. Ao longo desta comemoração foi exibido um vídeo que conta a história da Oncologia e da SPO, atualmente disponível em www.sponcologia.pt. A SPO contou também com a estimada presença do Prof. Doutor António Gentil Martins, sócio-fundador da SPO, que proferiu algumas palavras em que salientou e elogiou a evolução que a Oncologia tem experimentado ao longo das últimas décadas. Reportagem completa em www.sponcologia.pt Ronaldo Ribeiro; Joaquim A. de Sousa; Iane Lima; Anderson Silvestrini; Luiz Porto; Eduardo Cronemberger Anderson Silvestrini Gabriela Sousa; Paulo Cortes Joaquim Abreu de Sousa Ricardo Marques; Paulo Cortes; Gustavo Ismael Francisco Gentil Martins; Joaquim Abreu de Sousa Joaquim Abreu de Sousa João P. Magalhães; Deolinda Pereira; Alexandra Ferreira; Camila Coutinho Gustavo Ismael ; Joaquim Abreu de Sousa; Ricardo da Luz Francisco Gentil Martins Gabriela Sousa; Francisco G. Martins; Joaquim A. de Sousa; Manuel Limbert 22 23 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia SPO aproxima-se dos médicos internos 13º Congresso Nacional de Oncologia A Sociedade Portuguesa de Oncologia está a desenvolver a 2ª edição do projeto “Kit Médicos Internos de Oncologia Médica”. Este projeto, que teve o ano passado a sua primeira edição, tem por objetivo facilitar informação útil e partilhar conhecimentos sobre Oncologia com os estudantes de Medicina a realizar o 3º ano de internato nesta especialidade. No âmbito desta iniciativa, os internos que se tornem sócios da SPO recebem um kit de boas-vindas que inclui: a oferta da joia de inscrição; uma mochila; o livro “Cancer Principles Practice of Oncology”, de Devita, Hellman and Rosenberg’s; e o dvd “Kit Médicos Internos de Oncologia Médica”. Os interessados poderão fazer a sua adesão até ao final deste ano. Mais informações sobre este projeto, que conta com o apoio da Roche Farmacêutica, podem ser consultadas no site da SPO (www.sponcologia.pt). Ações de formação avançada em 3 patologias: cancro de mama; pulmão e próstata A Sociedade Portuguesa de Oncologia apoia a Oncoacademia, um projeto da Astra-Zeneca que consiste na realização de 3 ações de formação avançada para três patologias: cancro de mama; cancro do pulmão e cancro da próstata. Estas ações de formação destinam-se aos médicos internos que se encontram em preparação para o exame de saída da especialidade. O local escolhido é o Auditório da Fundação Bissaya Barreto, em Coimbra e a datas de realização para 2013 são: 16 de Novembro (cancro de mama); 30 de Novembro (cancro do pulmão) e 7 de Dezembro (cancro da próstata). Estas ações de formação assumem um carater teórico-prático, organizadas em dois módulos: Manhã - aula magna com uma abordagem avançada sobre diagnóstico e tratamento da patologia (preparação para exame); Tarde – modelo interativo de construção de um caso clínico através de uma plataforma digital com a tecnologia touch screen. Formadores especialistas em cada uma das patologias: Cancro da Mama: Dr. Joaquim Abreu de Sousa e Prof. José Luis Passos Coelho Cancro do Pulmão: Prof. António Araújo e Dra. Encarnação Teixeira Cancro da Próstata: Dra. Gabriela Sousa e Prof. Arnaldo Figueiredo Cursos de Formação SPO A Sociedade Portuguesa de Oncologia encontra-se a preparar o seu 13º Congresso Nacional que se realizará na cidade do Porto, de 14 a 16 de novembro do próximo ano (2014). O Congresso Nacional de Oncologia realiza-se de 3 em 3 anos e destaca-se por ser o acontecimento de maior importância no mandato do triénio correspondente. Fomentar o debate, a partilha de experiências e de saberes e assim elevar a qualidade em Oncologia tem sido o grande objetivo das sucessivas direções da SPO para este encontro que tem reunido especialistas nacionais e internacionais que muito têm contribuído para melhoria do panorama oncológico nacional. O 13º Congresso Nacional de Oncologia, não será exceção e promete dar continuidade ao excelente trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, levando até aos seus associados e todos os profissionais de saúde a possibilidade de atualizar, partilhar e debater os seus conhecimentos em Oncologia. Acompanhe todos os desenvolvimentos em www.sponcologia.pt. Meet The Professor A Sociedade Portuguesa de Oncologia tem vindo a desenvolver projetos que visam a formação médica e científica em Oncologia com o objetivo de melhorar os cuidados prestados aos doentes e a prática clínica. Neste sentido, foi criado um programa de formação para “novos líderes em Oncologia” constituído por quatro cursos de formação nas áreas de bioestatística, interpretação de resultados de investigação clínica, elaboração e escrita de artigos científicos e preparação de apresentações científicas. Pretendeu-se, assim, aumentar a capacidade de apresentar, publicar e comunicar os resultados da investigação que se faz nas nossas instituições e no nosso país. A Sociedade Portuguesa de Oncologia realizou um ciclo de três conferências, nos dias 15, 16 e 17 de maio, que contaram com a presença do Professor Alok A. Khorana da Mayo Clinic, Clevelend, Ohio, EUA. As conferências tiveram uma abordagem bastante informal, tendo o Professor Khorana apresentado novos dados sobre Tromboembolismo Venoso no cancro, formas de avaliação, estratégias de prevenção e otimização do tratamento. Após esta apresentação houve espaço para que os presentes partilhassem casos clínicos para debate. As conferências tiveram lugar em Lisboa, Coimbra e Porto, tendo em cada cidade contado com os seguintes anfitriões: Dra. Dialina Brilhante (IPO Lisboa), Dra. Gabriela Sousa (IPO Coimbra) e Dr. Joaquim Abreu de Sousa (IPO Porto), respetivamente. As sessões tiveram uma boa adesão, tendo sido bastante participadas. O projeto contou com o apoio da Sanofi. Os cursos tiveram uma boa adesão, tendo sido realizados nos meses de outubro e novembro de 2012 e janeiro e fevereiro de 2013. Este projeto contou com o apoio da Janssen-Cilag. Mais informações sobre este projeto, podem ser consultadas no site da SPO (www.sponcologia.pt). Joaquim Abreu de Sousa; Alok A. Khorana 24 Sala de conferência 25 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia artigo de revisão Conflitos de Interesse Nada a declarar. publicação científica Data de Submissão: 18 de março de 2013 Data de Aceitação: 25 de março de 2013 Autores Juliana Santos1,2*, Francisca Dias1,2*, MicroRNAS: Potenciais Biomarcadores em Oncologia MicroRNAs: Potencial Biomarkers in Oncology Resumo Os miRNAS são pequenos RNAs não codificantes responsáveis pela regulação pós-trancricional da expressão genética, atuando sobre mRNAs alvo. A expressão desregulada dos miRNAs tem vindo a ser relacionada com o cancro, uma vez que se encontra associada à desregulação de vias de sinalização fulcrais à homeostasia celular. Atualmente, os miRNAs representam uma nova abordagem no diagnóstico/prognóstico das neoplasias uma vez que os seus padrões de expressão são específicos de cada tipo de neoplasia e a sua deteção é possível através da análise de amostras biológicas. Palavras chave: carcinogénese, neoplasia, miRNAs, biomarcadores Ana L Teixeira1,2, Mónica Gomes1,2, Rui Medeiros 1,2,3,4 Instituições Grupo de Oncologia Molecular - CI, Instituto Por- 1 Abstract tuguês de Oncologia do Porto FG, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, 2 Universidade do Porto, Porto, Portugal; CEBIMED, Faculdade de Ciências da Saúde 3 Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal; LPCC, Departamento de Investigação - Liga Portu- 4 guesa Contra o Cancro (NR Norte, Porto, Portugal); miRNAs are small non-coding RNAs responsible for post-transcriptional gene expression regulation. The aberrant expression of miRNAs has been related with cancer as it is associated to the deregulation of key cellular pathways. Currently, miRNAs represent a new approach for cancer diagnosis/prognosis since their expression patterns are cancer-specific and their detection is possible through the analysis of biological samples. KeyWords: carcinogenesis, neoplasia, miRNAs, biomarkers Estes autores contribuíram de igual modo na ela- * boração do presente trabalho Agradecimentos Os autores agradecem o apoio da Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte e FCT-Fundação para a Ciência e Tecnologia. ALT_Bolsa de Doutoramento da FCT (SFRH/BD/47381/2008). Correspondência Prof. Doutor Rui Medeiros Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil, EPE Grupo de Oncologia Molecular – CI, Edifício Laboratórios, 4º piso R. Dr. António Bernardino de Almeida, 4200-072 Porto Telephone: +351 22 508 4000; Fax: +351 22 508 4001. E-mail: [email protected] 26 Introdução O cancro é, atualmente, um importante problema de saúde pública, representando a primeira causa de morte nos países desenvolvidos e a segunda causa de morte a nível mundial1. Segundo os dados da GLOBOCAN estima-se que em 2008 tenham surgido 12,7 milhões de novos casos e que esta doença tenha sido responsável por 7,6 milhões de mortes (aproximadamente 13% de todas as mortes a nível mundial) no mesmo ano. Considerando as taxas de incidência atuais e o envelhecimento da população, prevê-se que o número de mortes devidas ao cancro continue a aumentar e que, em 2030, atinja os 13,1 milhões a nível mundial1. Em Portugal, o cancro foi responsável pela morte de 24.300 pessoas em 2008, sendo o mais mortal o cancro coloretal, seguindo-se o cancro do pulmão e o cancro do estômago2. De uma forma geral, o cancro pode ser descrito como uma doença genética que envolve a desregulação de múltiplas vias responsáveis por processos fundamentais à célula, tais como a proliferação, diferenciação, migração e morte celular3. Esta desregulação é consequência de alterações genéticas observadas nas células tumorais, que se podem manifestar através de rearranjos cromossómicos como translocações, deleções e inserções, amplificação de determinados genes 27 Revista Portuguesa de Oncologia e mutações pontuais4. A carcinogénese representa assim o culminar de um processo que envolve múltiplas etapas, tanto a nível genético como a nível fenotípico. As lesões genéticas não letais constituem uma das etapas principais uma vez que, atuando em conjunto com outros fatores, desencadeiam o início da carcinogénese. Estas alterações podem ser adquiridas pela ação de determinados agentes ambientais, como substâncias químicas, radiação ou vírus, ou podem ser herdadas na linhagem germinativa3,5. Os principais genes afetados por estas alterações podem ser divididos em três principais categorias: os oncogenes, os genes supressores tumorais e os genes reguladores da apoptose4. O processo neoplásico resultante é caracterizado por um aumento do número de células tumorais, que pode resultar da estimulação da divisão celular e/ou da inibição da apoptose. Hanham e Weinberg (2000) propuseram seis características na fisiologia da célula tumoral que a distinguem de uma célula dita normal, sendo elas: auto-suficiência em sinais de crescimento, insensibilidade a sinais de inibição de crescimento, evasão à apoptose, potencial replicativo ilimitado, angiogénese sustendada, capacidade de invasão de tecidos e metastização4. Ao longo da última década e com os avanços na investigação, duas novas características foram adicionadas a esta lista, a reprogramação do metabolismo energético e a evasão ao sistema imune. Também é importante ter em conta que os tumores exibem outra dimensão de complexidade que consiste num reportório de células normais que criam o “microambiente tumoral”, favorecendo a aquisição de características que levem à transformação de uma célula normal numa célula neoplásica. Nos últimos anos, os microRNAs (miRNAs) têm sido identificados como potenciais biomarcadores dada a sua especificidade de expressão e estabilidade. Além disso, têm surgido evidências de que estas moléculas possuem um importante papel no diagnóstico e prognóstico de diferentes neoplasias. Os miRNAs consistem em pequenos RNAs não codificantes, compostos por cerca de 22 nucleótidos de comprimento. Estes são importantes reguladores da expressão de genes envolvidos em processos celulares fundamentais, como desenvolvimento, proliferação, diferenciação, sobrevivência e morte6. Biogénese de miRNAs A biogénese dos miRNAs é um processo enzimático que envolve várias etapas. Inicialmente os miRNAs são transcritos pela ação da RNA polimerase II, resultando em transcritos primários de tamanho variável, denominados pri-miRNAs7. Posteriormente, e ainda no núcleo, são clivados por uma RNase III, a Drosha, juntamente com o seu co-factor, DGCR8 (do inglês DiGeorge syndrome critical region gene 8). Como resultado originam-se moléculas precursoras de miRNA maduro, com cerca de 70-100 nucleótidos, denominadas pré-miRNAs, que posteriormente são transportadas para o citoplasma pela Exportina5 (Exp5)8. No citoplasma, o pré-miRNA é clivado por outra ribonuclease, a Dicer, originando um miRNA de cadeia dupla, maduro, composto por, aproximadamente, 22 nucleótidos9. Uma das duas cadeias formadas é normalmente degradada sendo a outra incorporada num complexo multimérico denominado RISC (do inglês RNA-induced silence complex), que inclui as proteínas ar- 28 | Juliana Santos et al. | MicroRNAs e Cancro Revista Portuguesa de Oncologia gonautas como principais componentes, juntamente com outros factores (Figura 1)10. desregulados na carcinogénese. A acumulação de eventos genéticos e epigenéticos que resultam na desregulação de genes e proteínas pode influenciar todo o mecanismo de processamento dos miRNAs, provocando alterações nos seus níveis de expressão. Tem vindo a ser demonstrado que o perfil de expressão dos miRNAs se encontra alterado no cancro, e que pode estar associado à carcinogénese e/ou conduzir à sua progressão12. Por exemplo, foi demonstrado que no cancro da próstata ocorre uma desregulação da expressão dos miRNAs. O miR-125b encontra-se sobreexpresso em linhas celulares de cancro da próstata androgénio sensíveis. Este aumento de expressão poderá facilitar o desenvolvimento de hormono-resistência, por apresentar capacidade de inibir elementos fundamentais do controlo do ciclo celular, como a proteína p5316. Trabalhos desenvolvidos por Juan e colaboradores demonstraram a sobreexpressão de nove microRNAs em carcinoma de células renais (miR-34b, miR-224, miR-142-3p, miR185, miR-34a, miR-21, miR-155, miR-210 e miR-592), o que permite fazer a distinção entre tecidos de rim normal e carcinoma de células renais17. Atendendo à sua função como reguladores de diferentes vias, supõe-se que desempenhem um papel chave na coordenação do desenvolvimento neoplásico (Figura 2). Deste modo, o padrão de expressão de miRNAs tem sido uma ferramenta muito útil, quer para a classificação tumoral como também para fins de diagnóstico, dado que não necessitam de ser traduzidos em proteína para exercerem o seu efeito biológico, contrariamente aos mRNAs. Figura 1: Biogénese de miRNAs. Mecanismo de regulação dos miRNAs Recentemente, os miRNAs têm sido definidos como reguladores chave por controlarem a expressão de genes envolvidos em processos celulares fundamentais, como desenvolvimento, diferenciação, proliferação, sobrevivência e morte6. Esta capacidade de modulação dos processos celulares ocorre devido à complementaridade entre sequências existentes no miRNA e no seu RNA mensageiro (mRNA) alvo. O miRNA liga-se às sequências complementares na região 3’UTR do mRNA, resultando na modificação pós-transducional ou degradação desse mRNA alvo11. Como consequência final, ocorrerá um decréscimo na quantidade de proteína codificada pelo mRNA que foi alvo de regulação pelo miRNA12. Cada miRNA pode regular um grande número de genes e a maioria dos mRNAs contêm múltiplos locais de ligação para diferentes miRNAs. Esta capacidade aumenta a importância do seu papel na mediação de eventos biológicos, com especial relevância na promoção da carcinogénese13. Para além dos mecanismos de regulação genética por interacção com as regiões 3’UTR dos mRNAs, existem outros, não tão bem estabelecidos, nomeadamente a capacidade dos miRNAs em se ligarem a ribonucleoproteínas, bem como ao próprio DNA14,15. Estes dados revelam a complexidade da regulação genética por parte dos miRNAs, que se deve ter em conta quando se desenvolvem terapias baseadas neste tipo de moléculas. miRNAs e cancro O ciclo celular, a adesão celular, a apoptose, a estabilidade cromossómica e o mecanismo de reparação do DNA são processos frequentemente Figura 2: Regulação de processos celulares por miRNAs. Em tecidos malignos provenientes de doentes com cancro, o padrão de expressão dos miRNAs mostrou ser específico do tecido e do estadio de desenvolvimento tumoral, sugerindo a existência de assinaturas genéticas capazes de identificar tumores específicos18. Isto conduziu à hipótese que miRNAs possam actuar como oncomiRs ou como miRs supressores tumorais, dependendo da sua função. A designação de oncomiRs tem sido referida aos miRNAs que causam uma diminuição da expressão de genes supressores tumorais19. Por sua vez, são chamados de miRs supressores tumorais quando atuam para sub-regular oncogenes. Nos indivíduos com cancro têm sido observados níveis mais baixos de miRNAs com função de supressão tumoral, sendo este facto associado ao desenvolvimento da neoplasia9. Contudo, existem alguns miRNAs que dependendo do tipo tumoral e do grau de diferenciação do tumor podem ser considerados como oncomirs ou miRs supressores tumorais20. Apesar da compreensão dos mecanismos que levam à desregulação de miRNAs, é de enorme importância a tarefa de elucidar o papel biológico dos miRNAs na iniciação e no desenvolvimento tumoral. MicroRNAs em circulação: potenciais biomarcadores Relativamente à sua aplicabilidade no diagnóstico e prognóstico, os miRNAs surgem como uma classe ideal de biomarcadores uma vez que: 1) são moléculas estáveis, existindo evidências da sua adequada preservação em amostras de tecidos fixados em parafinas assim como em amostras congeladas, 2) a sua expressão é aberrante em casos de neoplasia e 3) há a ocorrência de perfis de expressão específicos de cada tipo de cancro21. Vários estudos concluíram que os miRNAs em circulação são muito estáveis na maioria dos fluídos biológicos, incluindo sangue, soro, plasma e leite materno e são capazes de se manter estáveis em condições extremas (capazes de degradar a maioria dos RNAs) como níveis de pH elevados, armazenamento à temperatura ambiente por longos períodos de tempo e sucessivos ciclos de congelamento e descongelamento22,23. Um exemplo da aplicabilidade dos miRNAs como biomarcador de diagnóstico foi o estudo desenvolvido por Redova e colaboradores, que concluiu que a avaliação conjunta dos níveis de expressão do miR-378 e do miR-451 em amostras de soro de doentes com carcinoma de células renais (CCR) vs indivíduos saudáveis permite a identificação de CCR com uma sensibilidade de 81% e uma especificidade de 83%24. Também, estudos desenvolvidos por Zhu e colaboradores, realizados em indivíduos com cancro de mama vs indivíduos saudáveis demonstraram ser possível detetar diferentes miRNAs em circulação no plasma, assim como diferenças de expressão estatisticamente significativas entre mulheres com cancro da mama hormono sensivel vs hormono resistente25. Para além das vantagens acima mencionadas, os miRNAs em circulação podem ser detetados por métodos não invasivos, o que contribui para a qualidade de vida dos doentes. Conclusões A expressão de miRNAs parece estar envolvida em todas as etapas da patogénese do cancro: tanto como elemento indutor de desenvolvimento tumoral ou como uma consequência da resposta à transformação maligna inicial, levando à progressão da neoplasia. Os miRNAs surgem assim como importantes intervenientes da oncogénese, assumindo-se de futuro como uma importante ferramenta quer na estratificação de grupos com impacto no diagnóstico e prognóstico, quer na sua futura utilização como alvos terapêuticos. Revista Portuguesa de Oncologia | agosto 2013 – 2: 27-30 | 29 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia Referências enter MM, Jemal A, Lortet-Tieulent J, Warda E, et al. International C Variation in Prostate Cancer Incidence and Mortality Rates. Eur Urol. 2012; 61: 1079-1092 2. Ferlay J, Shin HR, Bray F, Forman D, Mathers C, Parkin DM. Estimates of cancer incidence and mortality in Europe in 2008. Eur J Cancer 2010; 46: 765-781 3. 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A desregulação da fosforilação de proteínas integrantes das vias de sinalização (ex. PI3K, TGFβ e apoptóticas) têm sido associadas ao desenvolvimento de diversos tipos de cancro (ex. carcinomas da mama e próstata, o melanoma e o retinoblastoma). O processo oncogénico é dependente de alterações na maquinaria de fosforilação que permitem à célula a manipulação das vias de sinalização resultando numa promoção da proliferação celular. O intuito desta revisão é apresentar como alterações no mecanismo de fosforilação desempenham um papel fulcral no desenvolvimento do processo oncogénico e como pode este ser manipulado com intuitos terapêuticos. Palavras chave: Fosforilação proteica, Cancro da Mama, Cancro da Próstata, Melanoma, Retinoblastoma Instituições Laboratório de Transdução de Sinais, Centro de 1 Biologia Celular, Departamento de Biologia, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal Abstract Laboratório de Transdução de Sinais, Centro de 2 Biologia Celular, Departamento de Biologia, Secção Autónoma de Ciências da Saúde, Universidade de Aveiro, Aveiro Portugal Filiação Universidade de Aveiro Financiamento Este trabalho é financiado por fundos FEDER através do Programa Operacional Fatores de Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do projeto “PTDC/QUI-BIQ/118492/2010” e pelo Centro de Biologia Celular. Correspondência Margarida Fardilha Centro de Biologia Celular Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal, Tel.: 00351 91 8143947; Fax: 00351 234 37039; E-mail: [email protected] 30 | Juliana Santos et al. | MicroRNAs e Cancro Fosforilação proteica: desregulação e oncogénese Reversible protein phosphorylation is the major mechanisms regulating signal transduction cascades in eukaryotic cells, being catalyzed by kinases and reversed by phosphatases. Deregulation of phosphorylation in a variety of proteins that modulate important signal transduction pathways – e.g. PI3K, TGFβ and apoptotic – have been associated with the development of several cancers, such as prostate and breast carcinomas, melanoma and retinoblastoma. The oncogenic process appears to be highly dependent on a wide range of alterations in the phosphorylation machinery that ultimately promotes carcinogenesis. Thusly, the purpose of this review is to present how alterations in phosphorylation play a pivotal role in the development of the oncogenic process in several cancers and how it can be manipulated from a therapeutic point-of–view. KeyWords: Protein phosphorylation, Breast Cancer, Prostate Cancer, Melanoma, Retinoblastoma Mecanismo de Fosforilação e Cancro As células têm necessariamente de comunicar com o meio e entre si com vista à manutenção da homeostasia, sendo esta comunicação mediada por diversas vias de sinalização celular. Estas vias são complexas formas de processamento da informação que permitem a comunicação através da integração de sinais provenientes do meio interno ou externo. Um sinal é detetado por meio de um recetor e a transdução do sinal determina a produção de uma resposta que se pretende adequada. Todos os processos celulares são, invariavelmente, regulados por vias de 31 Revista Portuguesa de Oncologia sinalização, incluindo aqueles que se apresentam como mais relevantes para a oncogénese tais como a apoptose, a diferenciação e divisão celular1. Um dos mecanismos mais comuns nos eucariontes para regular as vias de transdução de sinal é a fosforilação reversível de proteínas que consiste na adição e remoção de grupos fosfato a proteínas-alvo alterando assim a sua localização subcelular, atividade ou período de semi-vida. A fosforilação apresenta-se como uma das modificações pós-traducionais mais comuns, estimando-se que 30-70% das proteínas celulares sofram regulação por este mecanismo2. A fosforilação proteica é um processo reversível que envolve cinases, que adicionam um grupo fosfato, e fosfatases, que revertem o processo. Há ainda a registar a existência de proteínas reguladoras, que desempenham um papel fulcral na determinação da especificidade das fosfatases2. Apesar de quimicamente simples, este mecanismo é essencial e serve de interruptor no controlo de quase todas as funções celulares. A sua desregulação encontra-se associada ao desenvolvimento de múltiplas patologias, e.g. cancro, diabetes e doenças neurodegenerativas3. Tal desregulação pode advir de diversas situações tais como a alteração do nível de expressão de cinases ou fosfatases, a alteração do estado de fosforilação de uma determinada fosfoproteína-alvo ou mutações que inibam ou aumentem a atividade catalítica de cinases ou fosfatases. De um modo geral, o aumento da atividade cinase encontra-se associado à proliferação celular enquanto o aumento da atividade fosfatase está relacionada com a supressão tumoral1. O termo cancro define um conjunto heterogéneo de patologias que partilham o facto de apresentarem um crescimento celular descontrolado. Frequentemente, estas surgem por alterações genéticas em dois tipos de genes: proto-oncogenes e genes supressores tumorais (GST), que codificam proteínas essenciais em processos celulares como proliferação, diferenciação e apoptose1. Entre células normais e cancerígenas a sinalização celular ocorre de forma idêntica. Contudo, nas células cancerígenas existe uma desregulação destas vias com aquisição de competências vantajosas tais como evasão à apoptose, angiogénese e replicação ilimitada4. O modo como a manipulação do mecanismo de fosforilação em diversos processos celulares se relaciona com a génese de vários cancros será abordado em maior detalhe em três dos cancros mais comuns em Portugal (mama, próstata e melanoma) e num caso que se destaca por ter como causas mutações num único gene (retinoblastoma). Cancro da Mama O cancro da mama é o que tem maior incidência em Portugal, sendo diagnosticados todos os anos 4500 novos casos5. Este apresenta além da mortalidade associada, um enorme impacto emocional para o doente e familiares e económico para a sociedade6,7. Na procura das bases moleculares desta doença um conjunto complexo de alterações foi identificado. A presença de recetores de estrogénios (RE), fosfoproteínas intracelulares que regulam a transativação de genes, foi detetada em cerca de 60-80% de todos os cancros da mama8 e a sua atividade é modulada por fosforilação9. No tecido normal os RE também existem10, sendo que os estrogénios atuam como estímulo mitogénico11. A proliferação celular mediada pelas hormonas esteroides ocorre por via das cinases dependentes de ciclinas (CDKs)12. No cancro da mama, 32 | Margarida Fardilha et al. | Fosforilação: desregulação e oncogénese Revista Portuguesa de Oncologia a ativação do RE induz a acumulação de Ciclina D1, levando à ativação das Cdks correspondentes, induzindo a fosforilação de alvos fulcrais para a passagem ao longo da fase G112. A transição torna-se assim apenas dependente da Ciclina D1. O recetor da Progesterona (RPg), por seu turno, quando fosforilado pode exercer um efeito pro-oncogénico13, sendo que a avaliação da existência destes recetores (RE e RPg) tem importantes implicações no prognóstico e na terapêutica da doença14. No entanto, os efeitos mitogénicos dos estrogénios parecem ser mediados, em grande parte, por fatores de crescimento (FCs) e seus recetores (RFCs)15. A sinalização via RE induz por via genómica a síntese de diversos FCs e RFCs. Os FCs mais comummente correlacionados com o desenvolvimento do cancro da mama são o Epidermial Growth Fator (EGF) e o Insulin-like Growth Fator (IGF) estando os fatores de crescimento da via do Transforming Growth Fator – TGFβ e TGFα – associados à modulação do crescimento mediado pelos anteriores16,17. Relativamente ao EGF, verificou-se que a sua expressão está presente na maioria dos cancros da mama, ainda que também seja passível de ser detetada no tecido mamário normal18. Verifica-se contudo um aumento nos níveis de EGF, mediado por estrogénios, acompanhado por um incremento na expressão de TGFα. Paralelamente, é patente um aumento nos recetores de EGF (EGFRs) e uma diminuição no número de RE e RPg. Tais alterações parecem acompanhar a diminuição da resposta terapêutica anti-hormonal, levando o cancro para um estágio de independência de estrogénios11. No tecido normal crê-se que o EGF seja o principal ligando do EGFR, mas em tecido cancerígeno tal papel poderá ser desempenhado pelo TGFα, associado a um pior prognóstico por poder transativar processos de angiogénese e formação de colónias, associados à metastização17,19. Outros fatores de crescimento podem contribuir para a evolução do cancro, nomeadamente o IGF-I20. Por outro lado, o TGFβ apresenta-se inicialmente como inibidor da proliferação21. A ligação ao EGFR ativa diversas vias de sinalização, entre as quais as vias da PKB (Protein kinase B), ERK (Extracellular-signal-regulated kinase) e STAT (Signal transducer and activator of transcription)22,23. O estudo integrado, com recurso a ferramentas de proteómica e genómica, permitiu a identificação de diversos oncogenes e GST associados ao cancro da mama: alterações nos genes BRCA1 e BRCA2, associadas ao cancro da mama hereditário, bem como alterações nos genes ou nas proteínas ErbB-2, p53, pRB, ATM e em diversos componentas das vias de transdução de sinal Ras/Raf/MEK/ERK e PI3K/PKB/mTOR24-27. O oncogene c-erbB-2 (HER2/neu) codifica uma fosfoglicoproteína transmembranar do tipo tirosina cinase da família do EGFR. A sua amplificação ou sobre-expressão é comummente detetada em carcinomas da mama, sendo associada a um aumento da malignidade28. Como tal, verifica-se o distúrbio da via de sinalização dos FC por aumento da expressão do recetor de tirosina cinase. Outras proteínas associadas ao c-erbB-2, nomeadamente o Growth fator recetor-bound protein-7, encontram-se também sobre-expressas em casos de cancro da mama mais agressivos29. Mutações no p53 são as alterações mais frequentes em cancro, incluindo no cancro da mama30,31. Um dos efeitos mais devastadores da mutação do p53 é o facto de facilitar a introdução de novas mutações e aquisição de resistências32. Das mutações em GST mais relevantes podemos destacar as mutações no BRCA133. Um aspeto que merece particular realce é a regulação da atividade da proteína codificada pelo BRCA1 por meio de fosforilação pela cinase ATM. Esta cinase serina/treonina é recrutada e ativada por danos no ADN, estando a sua ativação associada à função não só do BRCA1 mas também do próprio p5334,35. ter implicações funcionais42. Mutações no gene do RA foram já detetadas Figura 1: Alterações da fosforilação na desregulação de várias vias de sinalização em cancro da mama e promovem a progressão do tumor para um estado ativo independente de androgénios, parecendo ser pouco significativa tendo em conta a frequência de tal evento43. A ativação do RA pode ainda decorrer da sobre-regulação da cinase PKA44. A proliferação mediada por androgénios é maioritariamente independente de FC45. No entanto, tal como verificado no caso do cancro da mama, também se verifica que os androgénios aumentam a produção e secreção de EGF, contudo a expressão de EGFR situa-se preferencialmente no compartimento neuroendócrino da próstata sendo aparentemente independente de androgénios. Também aqui se constata que o EGFR, que no tecido normal responde preferencialmente ao EGF, aparenta passar a ter o TGFα como principal ligando, ativando de um modo autócrino múltiplas vias de sinalização com impacto positivo na carcinogénese46. Mais ainda, a sobre-expressão do recetor c-ErbB-2 está também associado ao cancro da próstata47. Relativamente ao TGFβ, este FC apresenta um papel aparentemente duplo na carcinogénese1: inicialmente comporta-se como supressor tumoral, mas com o avançar da patologia passa a mediar processos associados ao aumento da agressividade do tumor, nomeadamente aumento da invasão, angiogénese e imunossupressão48. Assim como acontece com muitos outros cancros, também no cancro da próstata são frequentemente encontradas mutações nos genes pRB e p53 (20-50%)49,50. Tal como verificado no caso do cancro da mama, detetaram-se mutações nos genes Ras e Myc, sugerindo que a desregulação da via Ras/Raf/ MEK/ERK também pode ocorrer e contribuir para o processo oncogénico51. O Ras Kinase Inhibitor Protein (RKIP) comporta-se como supressor da metastização, sendo que a sua inativação está associada à progressão tumoral52. A inativação do PTEN é também encontrada em muitos carcinomas da próstata, resultando desta implicações, não só na já referida via do PKB, mas também em vias de transdução mediada por adesão36, regulando a ação do Focal Adhesion Kinase, importante regulador dessas vias53. Tal pode explicar porque motivo o PTEN tende a aparecer mutado em cancros já metastáticos. O estado de fosforilação do PKB tem também fortes implicações prognósticas54. Na figura 2 encontra-se um resumo das alterações da fosforilação no cancro da próstata. Cancro da Próstata Em Portugal o cancro da próstata é o mais frequente no homem, sendo diagnosticados cerca de 4000 novos casos por ano, correspondendo à terceira causa de morte por doença oncológica5. O crescimento da próstata é regulado por sinalização hormonal, parácrina e autócrina, tanto em situações fisiológicas como patológicas39. Quanto à sinalização hormonal esta é mediada principalmente por androgénios e os seus recetores (RA). A sinalização parácrina e autócrina é dependente de FCs39. Por norma, o cancro da próstata apresenta-se inicialmente como dependente de androgénios, evoluindo quase inevitavelmente para um estado de independência a estas hormonas40,41. Tal como os REs, também os RAs são fosfoproteínas que regulam a transativação de genes envolvidos na mediação dos seus efeitos. Apesar de se encontrarem constitutivamente fosforilados, os RA sofrem uma fosforilação mais extensa aquando da ligação do ligando, o que aparenta Figura 2: Alterações da fosforilação na desregulação de várias vias de sinalização em cancro da próstata Outro GST cuja expressão se encontra frequentemente reduzida em cancro da mama é o gene PTEN, que codifica uma fosfatase lipídica que inibe a via da PI3K/PKB/mTOR que apresenta um forte potencial carcinogénico36. Alterações no c-Ras foram também identificadas no cancro da mama24. O c-Ras pode ativar diversas vias de sinalização, contudo uma que merece particular destaque é a via Raf/MEK/ERK em os intervenientes são cinases que se ativam sucessivamente por fosforilação, podendo esta via ser ativada também por diversos RFCs tais como EGFR e c-ErbB-237. Esta via ativa a fosfoproteína fator de transcrição Myc, que é frequentemente encontrado mutado no cancro da mama38. Um resumo das principais alterações da fosforilação verificadas em cancro da mama encontra-se na figura 1. Revista Portuguesa de Oncologia | agosto 2013 – 2: 31-37 | 33 Revista Portuguesa de Oncologia Melanoma A incidência de melanoma cutâneo tem aumentado nas últimas décadas a nível mundial55. Em Portugal, dados do Registo Oncológico Regional demonstram que a incidência de melanoma é de 6-8 casos por cada 100.000 habitantes56. A transição de melanócitos saudáveis para tumores metastáticos ocorre devido a alterações de processos fisiológicos da célula, frequentemente por alterações na fosforilação55. PKB (ou AKT) é uma cinase que está frequentemente desregulada no melanoma. A via de sinalização PI3K/PKB inicia-se com a ativação de recetores cinase, integrinas ou outros estímulos que ativem a PI3K (Phosphoinoside-3 kinase). A ativação desta cinase leva à produção de PIP3 que, por sua vez, tem como função ancorar PKB à membrana plasmática onde é ativada por fosforilação pela PDK1 (Pyruvate dehydrogenase lipoamide kinase isozyme 1). A diversidade de funções da PKB está refletida na diversidade de substratos desta enzima: PKB está envolvida na apoptose, através de inibição de proteínas pró-apoptóticas (Bcl-2 e Bax) e ativação de proteínas anti-apoptóticas (XIAP); regulação do crescimento celular através do seu efeito na mTOR; e regulação do ciclo celular e proliferação através da inibição de proteínas como CDK, ciclinas e p53. Esta diversidade de funções faz com que uma desregulação da PKB, quer seja direta ou indiretamente, cause um desequilíbrio celular grave que culmina no desenvolvimento de células cancerígenas57. Dos casos de melanomas esporádicos, 43-67% apresentam níveis de atividade da PKB aumentados sugerindo que a atividade de fosforilação desta cinase desempenha um papel importante no desenvolvimento de melanomas. Também foi demonstrado que em melanoma a PTEN apresenta perda de função, principalmente numa fase mais avançada58. A PKC (Protein kinase C) despenha um papel ambíguo no desenvolvimento do melanoma. PKCε é um oncogene cuja capacidade oncogénica está associada com a capacidade de fosforilar e ativar a STAT3 e o ATF2. STAT3 é um fator de transcrição cuja ativação leva ao aumento da divisão celular enquanto a fosforilação do ATF2 previne a sua translocação para a mitocôndria inibindo a apoptose. No melanoma os níveis de PKCε são elevados, associados a prognósticos reservados. Por outro lado, PKCβ está associada à diferenciação de melanócitos, redução da invasão e aumento da apoptose, indicando uma função de supressão tumoral. Níveis de expressão de PKCβ são reduzidos ou até indetetáveis em 90% das linhas celulares de melanoma reforçando a sua função como supressor tumoral59,60. Em suma, a desregulação da fosforilação de proteínas no melanoma despenha um papel fundamental na aquisição de capacidade oncogénica. Esta desregulação verifica-se em diversos níveis desde: 1) desregulação da atividade de fosforilação da PKC causando insensibilidade a estímulos apoptóticos e aumento da divisão celular; 2) aumento da atividade da via PI3K/PKB/mTOR. Retinoblastoma Retinoblastoma é o cancro ocular mais comum em crianças. Tipicamente ocorre em crianças com menos de 6 anos e tem uma incidência de 1 caso por cada 15.000-20.000 nascimentos61, cerca de 5 novos casos por ano56. A pRB foi a primeira proteína a ser associada ao aparecimento do retinoblastoma. Esta proteína é um supressor tumoral responsável por um checkpoint durante a transição entre a fase G1 e S, através da repressão da 34 | Margarida Fardilha et al. | Fosforilação: desregulação e oncogénese Revista Portuguesa de Oncologia transcrição de vários genes, sendo a sua ação controlada pelo seu estado de fosforilação. No início da fase G1 a proteína encontra-se hipofosforilada, ligando-se ao fator de transcrição EF2, impedindo a sua migração para o núcleo e assim a transcrição de genes essenciais para transição G1/S. Quando a célula progride no ciclo celular (fase S) a fosforilação da pRB pelas CDKs e diminuição da ação de fosfatases como a PPP1 (Phosphoprotein phosphatase 1), determina a libertação do EF2. Quando a célula entra novamente em fase G1 do ciclo celular a PPP1 remove todos os grupos fosfatos da pRB e esta volta ao seu estado de hipofosforilada62. Na figura 3 está ilustrado o estado de fosforilação da pRB ao longo do ciclo celular. Perda de função da pRB para além de ligada ao aparecimento de retinoblastoma está associada ao aparecimento de cancro do pulmão e mama63,64. Também foi provado que mutações na pRB que alterem os domínios de ligação a proteínas cinase e fosfatases (CDK e PPP1) levam a uma desregulação do ciclo celular e consequentemente a uma proliferação descontrolada65. Figura 3: Regulação do ciclo celular pela pRB evidenciando o papel da fosforilação Mecanismo de fosforilação como alvo para a terapêutica Atualmente, cerca de um terço das substâncias a serem alvo de ensaio clínico atuam ao nível das cinases, frequentemente com o intuito de as inibir1. No caso da terapêutica oncológica, a abordagem pelas vias de transdução de sinal tem vindo a ganhar relevo com a utilização já na prática clínica de diversos fármacos. As estratégias para abordar esta questão, focam-se essencialmente em quatro vias: oligonucleótidos antisense, anticorpos monoclonais, vacinas imunoterapêuticas e pequenas moléculas. No primeiro caso, procura-se inibir endogenamente a síntese da proteína. Anticorpos monoclonais bloqueiam proteínas que sejam facilmente acessíveis inibindo a sua função, enquanto as vacinas imunoterapêuticas visam promover a resposta imunitária ao cancro. A utilização de pequenas moléculas tem sido privilegiada por mais facilmente atingirem o alvo e apresentarem uma maior diversidade de efeitos. A ligação a centros ativos ou alostéricos pode, por exemplo, modular o nível de atividade, facilitar a destruição do alvo ou alterar a sua localização subcelular1. No cancro da mama, a primeira abordagem terapêutica passa, pela terapia endócrina66. Esta visa bloquear ou diminuir a sinalização hormonal, pela diminuição da produção das hormonas sexuais (por exemplo, utilizando inibidores da aromatase no cancro da mama67), antagonização do ligando (o tamoxifeno antagoniza os estrogénios68) ou sub-regulação da sinalização (modo de atuação do fulvestrant69). Todas estas abordagens visam diminuir a ativação dos recetores hormonais, fosfoproteínas cuja atividade é determinada pelo estado de fosforilação. Todavia, após a resposta inicial desenvolve-se invariavelmente resistência a esta terapêutica. A resistência adquirida prende-se com o aumento da atividade das vias de fatores de crescimento e diminuição da expressão ou atividade de elementos da via do RE, enquanto que a resistência inata é determinada, principalmente, pela presença de c-erbB-21,70. Com o intuito de reverter esta resistência, várias estratégias têm vindo a ser postas em prática que visam inibir as vias de sinalização desencadeadas por FC, havendo já diversos exemplos introduzidos na prática clínica. O gefitinib inibe reversivelmente a auto-fosforilação do EGFR e, portanto, previne a sinalização71. O Lapatinib inibe o EGFR e c-erbB-2 por ligação reversível ao local de ligação ao ATP1. O Trastuzumab, por seu turno, é um anticorpo que se liga ao domínio extracelular do c-erbB-2 e inibe a proliferação e sobrevivência em tumores c-erbB-2 positivos72. Inibidores do IGFR também se encontram em fase clínica de desenvolvimento1. Como verificado anteriormente, as vias de sinalização iniciadas pelos FC propagam-se por meio de diversas vias intracelulares, sendo das mais importantes as do Raf/MEK/ERK e do PI3K/PKB/mTOR. Assim, urge também inibir as vias destas cinases, encontrando-se disponíveis fármacos que atuam em vários pontos distintos destas vias. Por exemplo, é possível atacar a via do PI3K inibindo-se diretamente esta cinase (LY294002) ou inibindo o seu alvo utilizando neste o everolimus ou o temsirolimus70,73. Apresentando-se o cancro como uma patologia multifatorial e heterogénea, torna-se por vezes mais adequado a utilização de terapias combinadas as quais compreendem a atuação concomitante em várias vias de sinalização ou em diversos pontos da mesma via. Em teoria, desregulações no estado de fosforilação proteico podem ser atacados com a mesma eficácia quer por via das cinases quer pelas fosfatases que revertem o processo. Contudo, menos investigação foi até a data produzida no campo das fosfatases, para além do papel ainda não totalmente definido das proteínas reguladoras e o menor número de fosfatases contribuir para que a sua utilização como alvo terapêutico seja ainda diminuta. Face ao reduzido número de fosfatases, cada uma delas atua em múltiplos processos celulares e fisiológicos, pelo que a sua simples inibição não deverá apresentar-se como a abordagem mais adequada. Assim sendo, a identificação de proteínas com as quais interagem permitem identificar complexos proteicos mais específicos para um determinado processo, constituindo assim um alvo terapêutico preferencial. Aliás, as três substâncias aprovadas que atuam modulando os efeitos da PPP1, fazem-no através das suas subunidades reguladoras (PPP1 Interacting Protein - PIPs)3. Por exemplo a histona desacetilase (HDAC) é uma PIP e a disrupção do complexo PPP1-HDAC pela tricostatina A promove a associação da PPP1 com a PKB, levando à sua desfosforilação e, consequentemente, à inibição da oncogénese74. Tendo em conta este mecanismo de ação, esta tem sido testada no tratamento do cancro da próstata. Podemos concluir que face à importância das alterações do processo de fosforilação no processo oncogénico é natural que tanto as cinases como as fosfatases e seus reguladores se apresentem como alvos terapêuticos preferenciais para o desenvolvimento de novas terapias para o cancro. Para uma maior eficácia é necessário uma melhor compreensão do papel das fosfatases e cinases nos sistemas biológicos, um conhecimento mais aprofundado da relação estrutura-função, avaliar o impacto de mutações ou alterações de expressão na resistência à terapêutica e identificar as proteínas com que cinases e fosfatases interagem e qual a relevância desta interação no sistema biológico. Além disso, a escolha de alvos específicos permite reduzir os efeitos secundários e a utilizações de combinações terapêuticas adequadas confere uma resposta mais abrangente ao cancro75. Conclusão Alterações no processo de fosforilação estão patentes em múltiplos tipos de cancro. O aumento da expressão ou da atividade de recetores de FC (com atividade cinase) ou hormonais (fosfoproteínas que atuam como fatores de transcrição) determinam a ativação excessiva de vias de transdução de sinal que culminam na aquisição de um fenótipo oncogénico. Das vias de transdução de sinal mais amplamente alteradas destacam-se as vias do PI3K/PKB/mTOR, PKC e Raf/MEK/ERK, nas quais o mecanismo de fosforilação desempenha um papel central. Alterações no ciclo celular e na estabilidade genómica também são transversais a múltiplos cancros. Desta forma a terapêutica dirigida ao processo de fosforilação apresenta-se como uma alternativa viável, sendo que a identificação de alterações altamente específicas para o cancro é fulcral para a eficácia da mesma. Referências 1. ardilha M, da Cruz e Silva OA and Conde M. O eSsencial em... Sinalização F Celular. Aveiro, 2012 ollen M, Peti W, Ragusa MJ and Beullens M. The extended PP1 toolkit: B designed to create specificity. Trends Biochem Sci 2010; 35(8): 450-458. 3. Fardilha M, Esteves SL, Korrodi-Gregorio L, da Cruz e Silva OA and da Cruz e Silva FF. The physiological relevance of protein phosphatase 1 and its interacting proteins to health and disease. Curr Med Chem 2010; 17(33): 3996-4017. 4. Hanahan D and Weinberg Robert A. Hallmarks of Cancer: The Next Generation. Cell 2011; 144(5): 646-674. 5. pop.eu.com. http://www.pop.eu.com/home.html (15-01-2013, date last accessed). 6. Foster TS, Miller JD, Boye ME, Blieden MB, Gidwani R and Russell MW. 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Revista Portuguesa de Oncologia | agosto 2013 – 2: 31-37 | 37 Revista Portuguesa de Oncologia caso clínico Conflitos de Interesse A médica Dra. Carolina Dutra é speaker dos seguintes laboratórios: Merck, Astra-Zenica e MSD. Os demais autores não possuem nenhum conflito de interesse a declarar. Data de Submissão: 7 de março de 2013 Data de Aceitação: 25 de março de 2013 Autores Karolinny Borinelli de A. Moura1, Carolina Dutra2, Marta Vainchenker3, João Norberto Stavale4 Instituições 1. Acadêmica de Medicina da Univ. Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis (SC), Brasil. 2. Médica oncologista clínica do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON). Florianópolis (SC), Brasil. 3. Médica especialista em anatomia patológica e citologia pela Univ. Federal de S. Paulo (UNIFESP). Médica patologista do Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON). Florianópolis (SC), Brasil. 4. Médico patologista e professor associado livre docente do Depart. de Anatomia patológica da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP, S. Paulo (SP) – Brasil. Filiação Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON) e na Univ. Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil. Correspondência Karolinny B. A. Moura e Carolina Dutra. Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON) – Rodovia Ademar Gonzaga, SC 404 Km 0,5- Itacorubi. Florianópolis (SC), Brasil. CEP:88034-000. Telefone (+55) (48) - 33311502. E-mails: [email protected],[email protected] Financiamento Próprio. Agradecimentos Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON), Univ. Federal de Santa Catarina (UFSC) e Univ.Federal de S. Paulo (UNIFESP). 38 Revista Portuguesa de Oncologia Hemangiopericitoma intracraniano com evolução para Sarcoma fusocelular de alto grau: relato de caso Intracranial Hemangiopericytoma with progression to highgrade fusocellular sarcoma: a case report Resumo Introdução: O hemangiopericitoma (HPC) é uma rara neoplasia mesenquimal maligna, cuja origem é os pericitos. HPC intracraniano é ainda mais raro e corresponde a menos 1% dos tumores do SNC. Caso Clínico: Paciente, masculino, 51 anos, iniciou com forte cefaleia na região parietal direita. O exame de TC revelou, nesta região, tumoração de 6cm no maior diâmetro, biopsiada, revelando um padrão compatível com hemangiopericitoma. Realizou-se, ressecção cirúrgica subtotal do tumor e radioterapia adjuvante, com 200cGy/dia. Após cinco anos, o paciente referiu forte cefaleia e alterações visuais. A TC revelou lesão tumoral em mesma topografia. A biópsia da lesão mostrou-se compatível com um sarcoma fusocelular de alto grau. Com o tratamento cirúrgico, obteve-se ressecção total do tumor. Atualmente, o paciente está em seguimento e encontra-se assintomático. Discussão: O HPC é uma rara neoplasia com incomum sítio primário no SNC. Uma recente revisão sistemática revelou 563 de HPC descritos na literatura. A imuno-histoquímica é de fundamental importância, principalmente por distinguir o HPC de seus principais diagnósticos diferenciais. A raridade da doença e poucas diretrizes sobre seu manejo têm dificultado o estabelecimento de parâmetros conclusivos que permitam a adequada avaliação prognóstica e conduta terapêutica. Palavras-chave: Hemangiopericitoma, neoplasias, metástase neoplásica, recidiva, imuno-histoquímica. Abstract Background: Hemangiopericytoma (HPC) is a rare malignant mesenchymal neoplasm, whose origins are pericytes. Intracranial HPC is even rarer and accounts for less than 1% of CNS tumors. Case report: Patient, male, aged 51, began with strong headache in the right parietal region. The CT scan revealed in this region, a lesion - whose largest diameter is 6cm -, biopsied, revealing a pattern consistent with hemangiopericytoma. Thus, the tumor suffered subtotal resection and adjuvant radiotherapy, with 200cGy/dia. After 5 years, the patient complained of strong headaches and visual changes. A CT scan revealed a tumor in the same topography. Biopsy of the lesion was compatible with a high grade fusocellular sarcoma. With surgical treatment, we obtained total resection of the tumor. Currently, the patient has been followed and is asymptomatic. Discussion: The HPC is a rare neoplasm with unusual primary site within the CNS. A recent systematic review revealed 563 of HPC reported. Immunohistochemistry is of fundamental importance, especially for distinguishing the main differential diagnoses. The rarity of the disease and few guidelines about its management are frontiers that difficult the establishment of parameters that allow proper conclusive prognostic and therapeutic. Keywords: Hemangiopericytoma, neoplasms, neoplasm metastasis, recurrence, immunohistochemistry. Introdução O hemangiopericitoma (HPC) é uma rara neoplasia mesenquimal maligna, cuja origem são os pericitos localizados ao redor de capilares sanguíneos e vênulas pós-capilares. O tumor tem como sítio primário as regiões da cabeça e do pescoço, tronco, pele, cavidade oral, retroperitônio e, mais comumente, acomete o sistema musculoesquelético e a pele1. A origem primária do HPC em região intracraniana é ainda mais rara, a qual corresponde a menos 1% dos tumores do sistema nervoso central (SNC) e 3 a 4% de todos os tumores meníngeos2. Os sarcomas, por sua vez, são neoplasias malignas de origem mesenquimal e constituem um grupo vasto e heterogêneo de tumores, tanto sob aspectos histopatológicos, como em relação ao seu comportamento clínico-biológico1. Também constitui um tipo neoplasia maligna incomum, e, quando localizado no parênquima cerebral, é considerado ainda mais raro3,5. No presente artigo, relata-se um raro caso de neoplasia maligna. A correlação clínica, radiológica e anatomo-patológica permitiu concluir que se tratava de um hemangiopericitoma. Após sete anos sem sinais de doença, houve evolução do quadro para um sarcoma. Caso Clínico Durante o mês março de 2005, um paciente, masculino, 44 anos, iniciou com cefaleia de intensidade forte e progressiva, pulsátil, em região parietal direita. O exame de tomografia computadorizada (TC) de crânio foi solicitado e revelou tumoração nesta região medindo 6 x 4 x 3 cm, melhor analisada via Ressonância Magnética (RNM) de crânio (Figura 1). A lesão foi biopsiada e a sua avaliação anatomopatológica e imuno-histoquímica demonstrou um padrão de células epitelioides e ovóides com núcleos vesiculosos, justapostas com rica trama vascular. Havia 10 mitoses/10CEA, focos de necrose e expressão positiva para vimentina, EMA, fator VIII, CD34, e negativa para AE1/AE3 e GEAP. Tal padrão celular e seus marcadores celulares são compatíveis com hemangiopericitoma, neste caso, de localização intracraniana. Realizou-se, então, ressecção cirúrgica subtotal do tumor e radioterapia adjuvante localizada em encéfalo, com 200cGy em cada uma das 27 sessões, de 15/12/2005 a 30/01/2006. O paciente, durante praticamente 7 anos, não apresentou sinais de atividade de doença, até que, no final de 2011, voltou a referir cefaleia de intensidade forte em mesma localização. Em fevereiro de 2012, o paciente apresentou perda visual e diplopia, ambas no olho esquerdo. TC e RNM de crânio foram realizadas e evidenciaram focos gasosos e hiperatenuantes (hemáticos) onde anteriormente se observava tumoração. Identificou-se, ainda, nova lesão cerebral em mesma topografia - região parietal direita - com efeito de massa e pequeno foco de leve realce, medindo 1,5 x 0,8 cm (Figura 2). Há leve desvio da linha média e assimetria dos ventrículos laterais por efeito compressivo de um edema parenquimatoso perilesionar. A partir disso, realizou-se excisão desta lesão. A análise patológica deste material evidenciou um padrão de células fusiformes dispostas em múltiplas direções com núcleos alongados e hipercromáticos, havendo 20 mitoses/10CGA e diversos focos de necrose. O padrão descrito é compatível com sarcoma Figura 1: Presença de lesão expansiva em região parietal direita. Figura 2: Nova lesão tumoral em mesma topografia fusocelular de alto grau, com atual desdiferenciação e malignização. Através de tratamento neurocirúrgico, foi obtida a ressecção total do tumor. A Tomografia computadorizada (TC) e Ressonância magnética nuclear (RNM) Revista Portuguesa de Oncologia | agosto 2013 – 2: 38-41 | 39 Revista Portuguesa de Oncologia de crânio pós-operatória de controle, revelou ausência de áreas hemorrágicas ou outras alterações sugestivas de doença remanescente, sem haver compressão de estruturas adjacentes. Não foi realizada a radiocirurgia, já que o leito tumoral ainda persistia com edema volumoso e irregular, o que prejudicaria a realização deste tratamento. Atualmente, o paciente está em seguimento e encontra-se assintomático, sem sinais de atividade da doença. Discussão O hemangiopericitoma (HPC) é uma rara neoplasia maligna dos pericitos, que pode acometer inúmeros locais, sendo rara a localização primária intracraniana6. Uma recente revisão sistemática das publicações sobre HPC revelou 563 descritos na literatura7. O tumor tende a ocorrer com idade média de diagnóstico de 43 anos, com discreto predomínio de acometimento para o sexo masculino em relação ao feminino (1,2:1)8. O Hemangiopericitoma intracranial costuma apresentar-se com um padrão agressivo de crescimento tumoral, rica celularidade e vascularização bem desenvolvida, com tendência a sangramentos. Ossos, fígado e pulmão são os locais preferenciais para metástases a partir de hemangiopericitomas de meninge. Quando adjacente ao osso, o HPC tende a ocasionar lesões líticas. Clinicamente, o paciente manifestar cefaleia, vômitos, deterioração visual, déficit neurológicos focais. Após o diagnóstico de HPC, a sobrevida mediana é de 2 anos9. Mesmo quando ocorre ressecção macroscopicamente completa da neoplasia, são elevadíssimas as taxas de recorrência local e metástases, as quais ocorrem respectivamente, em até 90% e 65% dos casos, em 15 anos10. Um estudo sugere que se o maior diâmetro da lesão for maior ou igual a 6 cm, a recorrência ocorre mais cedo, em comparação àqueles com lesão menor11. A raridade do HPC tem dificultado o estabelecimento de parâmetros conclusivos que permitam a adequada avaliação prognóstica. No caso de HPC do SNC, tem-se uma tendência a correlacionar pior prognóstico e rápida progressão da doença quando houver taxa mitótica aumentada (> 5 mitoses/10 CGA), alta celularidade, pleomorfismo nuclear, hemorragia e necrose9. No caso descrito, a análise patológica do HPC revelou alta taxa de mitoses (10/10 CGA), pleomorfismo celular e focos de necrose, permitindo, assim, caracterizá-lo como uma neoplasia de mau prognóstico. A descrição de poucos casos de HPC na literatura médica reflete-se, também, na existência de poucas diretrizes para o adequado manejo e tratamento desta doença. Atualmente, tende-se a considerar que o manejo desta neoplasia inclui, como o tratamento de escolha, a excisão cirúrgica completa. A radioterapia adjuvante tende a ser indicada, nos casos de resseção subtotal e completa, já que estudos demonstram que tal conduta pode diminuir a progressão da doença e as taxas de recorrência8. Esta forma de terapia, entretanto, não mostrou aumentar a sobrevida e até a diminuiu quando a radiação foi maior que 50Gy7. A quimioterapia, por sua vez, ainda não possui eficácia claramente definida no tratamento do HPC, contudo alguns estudos demonstram que ela pode ser uma terapia paliativa nos casos de disseminação metastásica da doença8. Um melhor prognóstico está relacionado à precoce e correta detecção da Revista Portuguesa de Oncologia doença, além das formas terapêuticas de excisão macroscopicamente completa e radioterapia pós-cirúrgica9,12. No relato descrito, apesar de a ressecção Referências do tumor ter sido parcial, a radioterapia adjuvante demonstrou-se ser uma terapia eficaz que permitiu o controle e tratamento do HPC do paciente. Com relação à análise microscópica, um traço característico do HPC é a rica rede de reticulina densa que envolve, individualmente, as células tumorais que são densamente arranjadas e orientadas ao acaso. Formam-se arranjos vasculares variados e, dentre eles, os chifres de rena (“staghorn patter”): formação de sinusóides, com contornos e ramificações irregulares9. No caso descrito, o HPC é radiológica e histologicamente indistinguível de outras lesões semelhantes que ocorrem nos tecidos moles periféricos. Assim, o diagnóstico diferencial seguro entre essa neoplasia e os seus principais diagnósticos diferenciais – meningioma e sarcoma sinovial incluiu cortes histológicos muito bem analisados e, imprescindivelmente, a coloração imuno-histoquímica. Classicamente, as células tumorais do HPC expressam vimentina, CD34, CD57 e fator VIIIa. As células tumorais costumam ser negativas para S-100, CD31 e receptor de progesterona. A negatividade para EMA auxilia, principalmente, a diferenciar o HPC do meningioma13. Parece existir uma correlação, ainda não muito bem estabelecida, entre o índice de proliferação tumoral do HPC - dado pela expressão de ki-67 - e a agressividade dessa neoplasia e sua recidiva precocemente14,15. No presente relato de caso, houve evolução do quadro para sarcoma fusocelular. Neste contexto, embora a imuno-histoquímica tenha permitido o correto diagnóstico e conduta para o HPC, no caso desta última lesão – sarcoma – , a imuno-histoquímica já não se fez mais necessária. Tal conduta foi adotada baseada no fato de que o manejo terapêutico para sarcomas cerebrais ainda não possui consenso. Estudos apontam para o tratamento cirúrgico como sendo o de escolha e o papel da adjuvância com quimioterapia ou radioterapia ainda não está bem estabelecido16. Os autores deste artigo acreditam na cirurgia radical como tratamento de escolha. Sendo assim, não foi realizada a imuno-histoquímica para o sarcoma, uma vez que não alteraria a conduta para tratamento desta doença, com cirurgia radical. É imprescindível considerar a prévia exposição deste paciente à radiação por meio da radioterapia, realizada para tratamento do hemangiopericitoma, há 7 anos, uma vez que é sabido que a radiação, dentre outros fatores, podem estar implicados na gênese dos sarcomas16. 1. Kumar V, Fausto N, Abbas A. Robbins e Cotran Patologia: Bases patológicas das doenças. 8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 1480 p. 2. EMAMI AM, Montaresi A, Tahmasian M, Shobiri E, Torbaghan SS. Intracranial Hemangiopericytoma compatible to synovial sarcoma. J Pak Med Assoc. 2010; 60(7): 586-8, 2010. 3. Patel SG, Shaha AR, Shah JP. Soft tissue sarcomas of the head and neck: an update. Am J Otolaryngol. 2001;22(1):2-18. 4. Sturgis EM, Potter BO. Sarcomas of the head and neck region. Curr Opin Oncol. 2003;15(3):239-52. 5. 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Os sarcomas podem indicar uma pior evolução do hemangiopericitoma e, por si sós, representarem prognóstico ruim. Apesar desse fato, o relato descrito apresentou desfecho clínico-cirúrgico favorável, com sucesso terapêutico através da obtenção da ressecção completa do tumor. 40 | Karolinny Borinelli de A. Moura et al. | Hemangiopericitoma intracraniano com evolução para Sarcoma fusocelular de alto grau Revista Portuguesa de Oncologia | agosto 2013 – 2: 38-41 | 41 Revista Portuguesa de Oncologia Revista Portuguesa de Oncologia Caso Clínico caso clínico Conflitos de Interesse Os autores declaram ausência de conflito de interesses. Data de Submissão: 22 de março de 2013 Data de Aceitação: 25 de março de 2013 Autores André Correia; Adriana Franco; Filomena Sousa; Fazila Mahomed Tumor Uterino – Um diagnóstico histológico inesperado Uterine Tumor – An unexpected histologic diagnosis Resumo O útero pode ser acometido por vários tumores benignos ou malignos. Cerca de um quarto das mulheres em idade reprodutiva têm alterações clínicas secundárias a leiomioma, no entanto, estima-se que a sua prevalência seja superior. Os tumores malignos são frequentemente subvalorizados pré-operatoriamente, constituindo um achado operatório. Os autores apresentam o caso clínico de uma doente de 46 anos submetida a histerectomia por suspeita clínica e ecográfica de leiomioma uterino. O diagnóstico final foi sarcoma do estroma endometrial e com envolvimento anexial. A sua abordagem terapêutica não é consensual entre os autores e é discutida neste artigo. Palavras-chave: leiomioma uterino; sarcoma do estroma endometrial Instituições Serviço de Ginecologia/Obstetrícia – Hospital D. Estefânia (Centro Hospitalar de Lisboa Central), Lisboa, Portugal Filiação Serviço de Ginecologia/Obstetrícia – Hospital D. Estefânia (Centro Hospitalar de Lisboa Central) Correspondência André Reis Correia [email protected]; 933754504 Rua José Maria Nicolau Nº4 5ºA, 1500-374 Lisboa Abstract The uterus can be affected by benign or malignant tumors. Approximately one quarter of women has clinical symptoms secondary to leiomyoma; however, it´s estimated that its prevalence is superior. Malignant processes are often undervalued, and constitute a post-operative finding. Authors present a case of a 46 years old woman who underwent a hysterectomy by a preoperative clinical and sonographic suspicious of uterine leiomyoma. However, final diagnosis was endometrial stromal sarcoma with adnexal involvement. Its therapeutic approach is not consensual between authors and is discussed in this article. Keywords: uterine leiomyoma; endometrial stromal sarcoma Mulher de 46 anos, raça branca, enviada pelo médico assistente à consulta de ginecologia por um quadro de menometrorragias com três meses de evolução, no contexto de suspeita ecográfica de leiomioma uterino intramural/subseroso com 58mm de maior eixo. Como antecedentes pessoais, destacava-se uma miomectomia laparotómica dez anos antes. À data da observação, apresentava mucosas descoradas e à palpação bimanual, detectou-se um útero globoso, de consistência dura e superfície irregular, em relação com a suspeita ecográfica prévia. Portadora de hemograma com hemoglobina de 8,9 g/dL. Repetiu a ecografia pélvica a nível hospitalar, destacando-se: útero com 118x68x87mm, endométrio não espessado (6mm), 2 formações nodulares miometriais sugestivas de leiomiomas intramural/subseroso e intramural com 22 e 58mm, respectivamente. Ao nível anexial direito, formação quística pura com 30mm. Submetida a histerectomia vaginal assistida por laparoscopia: macroscopicamente, útero deformado por suposta transformação miomatosa (peso 290g) e anexos aparentemente normais. Exame histológico da peça operatória: neoplasia infiltrativa limitada ao corpo uterino, que não ultrapassava a metade externa do miomério, observando-se áreas de invasão vascular - alterações sugestivas de Sarcoma do Estroma Endometrial (SEE). Realizou subsequentemente RMN abdomino-pélvica não se documentando doença metastática; marcadores tumorais (CA 125 e CEA) não elevados. Após discussão multidisciplinar, a doente foi re-operada: macroscopicamente não foram detectadas alterações sugestivas de doença extra-uterina; procedeu-se a salpingo-ooforectomia bilateral laparoscópica. Por seu turno, o exame histológico confirmou a presença de metástase de SEE no ovário esquerdo (14mm) e envolvimento linfático do meso-ovário e meso-salpinge ipsilateral. A nível anexial direito, trompa com invasão vascular linfática. No lavado peritoneal, foram detectadas células neoplásicas. Perante estes resultados anatomopatológicos, a doente foi submetida a terapêutica adjuvante com radioterapia pélvica externa e braquiterapia; decorridos oito meses desde a última intervenção cirúrgica, encontra-se clinicamente estável e sem sinais de recorrência. O tratamento cirúrgico gold standard é a histerectomia total extra-fascial e tem também sido recomendada a salpingo-ooforectomia bilateral uma vez que se trata de uma neoplasia hormono-sensível1. O papel da linfadenectomia pélvica é incerto e mais estudos são necessários para definir estratégias; habitualmente perante a presença de nódulos macroscopicamente suspeitos, deve proceder-se à respectiva linfadenectomia2. No caso apresentado, a doente foi inicialmente submetida a histerectomia total, mas dado o resultado histológico, procedeu-se posteriormente à salpingo-ooforectomia bilateral. Durante este procedimento, macroscopicamente não se constatou a presença de doença metastática, vindo corroborar os resultados imagiológicos prévios da RMN. O estudo anatomopatológico da peça operatória confirmou o seu envolvimento anexial, pelo que em termos de estadiamento, a doença encontrava-se no estadio IIA (FIGO 2009). No que se refere à terapêutica adjuvante, os dados são limitados. Ao contrário da radioterapia, a hormonoterapia é a terapêutica adjuvante mais consensual entre os autores. No caso exposto, foi decidido iniciar radioterapia pélvica, o que vai de encontro à opinião de alguns peritos, por considerarem que deve ser utilizada em estadio superior ao I3. Em mais de 80%, os SEE têm receptores para estrogénios, progesterona ou ambos, pelo que a utilização de hormonoterapia tem sido recomendada. Os dados disponíveis favorecem a utilização de progestativos, análogos da GnRH ou inibidores da aromatase, habitualmente durante 5 anos4. No caso apresentado, a doente terminando a radioterapia, tem indicação de prosseguir a terapêutica médica com recurso a hormonoterapia. Habitualmente são utilizados os inibidores da aromatase por status pós-menopausa. Os SEE têm um prognóstico favorável, no entanto altamente dependente do estadiamento à altura do diagnóstico. A taxa de sobrevivência aos 5 e 10 anos para o estadio I é de 98 e 89%, respectivamente. Nos estadios III e IV, a taxa de recorrência é de 76% e a de sobrevivência de 66%5 (5 anos). Neste caso, a presença de invasões vasculares poderá ser considerada um factor de pior impacto. Referências 1. ue WC, Cheung AN. Endometrial stromal sarcoma of uterus. Best X Pract Res Clin Obstet Gynaecol 2011; 25:719-32. emarzadeh S, Mundt A, Plaxe SC. Uterine sarcoma: staging and treatment. M Available at: UpToDate (Accessed on July 15, 2012). 3. National Comprehensive Cancer Network (NCCN) guidelines. Available at: www.nccn.org (Accessed on May 15, 2012). 4. Reich O, Regauer S. Hormonal therapy of endometrial stromal sarcoma. Curr Opin Oncol 2007; 19:347-352. 5. Chang KL, Crabtree GS, Lim-Tan SK et al. Primary uterine endometrial stromal neoplasms. A clinicopathologic study of 117 cases. Am J Surg Pathol 1990; 14: 415–438. 2. Introdução Os sarcomas do estroma endometrial são tumores malignos raros, mas de comportamento indolente. Surgem habitualmente em faixas etárias mais jovens e dada a sua apresentação clínica inespecífica, são frequentemente subvalorizados. A sua abordagem inicial é cirúrgica, mas não é consensual entre os autores, assim como os tratamentos adjuvantes. Neste artigo, os autores apresentam um caso de diagnóstico inesperado de sarcoma do estroma endometrial, no contexto de suspeita clínica e imagiológica de leiomioma uterino. 42 Discussão Os SEE são tumores uterinos raros, constituindo menos de 0,5% de todas as neoplasias malignas do útero. O seu comportamento clínico é habitualmente indolente. No caso exposto, a inespecificidade da apresentação clínica e atendendo à idade da doente, ao antecedente de miomectomia e inexistência de outras patologias associadas, a hipótese clínica mais provável seria a de leiomioma uterino. Em termos imagiológicos, manteve-se a mesma suspeita e foi concordante em todas as ecografias realizadas. Efectivamente, num serviço de ginecologia, este é o tumor uterino mais frequente e motivo de milhares de cirurgias realizadas anualmente em todo o mundo. O diagnóstico diferencial pré-operatório com sarcoma uterino é difícil, dada a falta de sensibilidade dos meios imagiológicos. Revista Portuguesa de Oncologia | agosto 2013 – 2: 42-43 | 43 atualize os seus dados A Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) encontra-se a efetuar a atualização da sua base de dados. Dado o desenvolvimento das novas tecnologias, a SPO passará, de forma progressiva, a comunicar com os seus associados também através do envio de mensagens por e-mail, dando conta das suas atividades. Se já é associado da SPO, por favor preencha o seguinte formulário com os seus dados e envie-o por correio para: Sociedade Portuguesa de Oncologia Avenida Afonso Henriques, Lote 2, nº 55, Escritório 3/8; 3000-011 Coimbra Ou então, se preferir, basta enviar um e-mail para [email protected] com os dados solicitados. Nome Morada Código-Postal Telefone Localidade Telemóvel E-mail Situação profissional Nº da Ordem Hospital de serviço Localidade Especialidade clínica Cargo que ocupa assinatura A assinatura da Revista Portuguesa de Oncologia compreende três publicações anuais. No valor considerado estão contemplados os custos de envio da RPO por correio. Os valores de assinatura são de €130 para território nacional, de €160 para internacional e gratuita para associados da SPO. 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