Recidiva de tumor de glândula salivar pós-cirurgia, radioterapia e quimioterapia com comprometimento de carótida: relato de caso e revisão da literatura BRANDÃO, Giancarlo Rodrigues. Discente do Curso de Graduação em Medicina. RIBEIRO, Flávio Antônio de Sá. Docente do Curso de Graduação em Medicina Palavras-chaves: carcinoma mucoepidermóide, glândulas salivares submandibulares, massas cervicais. INTRODUÇÀO Os tumores de glândulas salivares correspondem a 3% das afecções da região de cabeça e pescoço, especialmente os de origem epitelial 1-3, sua incidência anual é de 0,5 – 1,2 casos para cada 100.000 habitantes 4-6. O CME acomete pacientes de 6 a 90 anos, tendo como média de 51 anos, raramente encontrado na primeira década de vida. Observa-se uma maior predominância no sexo feminino 7,8 , especialmente nos casos benignos 9; entretanto ainda permanece essa controvérsia na literatura, onde alguns autores afirmam igualdade entre os sexos 7,10.. O CME pode estar associado à exposição à radiação, tabagismo e genética; contudo sua etiologia permanece desconhecida11,12. Atualmente acredita-se que temos uma alteração no gene TP53 (localizado no braço curto do cromossomo 17 na posição 17p13), responsável pela regulação do ciclo celular (apoptose e reparação de DNA celular); especula-se que seja uma inativação desse gene, levando a oncogênese, no nosso caso aos tumores de glândulas salivares 13. Na maioria das vezes a lesão apresenta-se como uma intumescência endurecida, assintomático, algumas vezes movediço, com coloração azulada, avermelhada ou púrpura 7,12 , às vezes é tratada equivocadamente como mucocele; a característica azulada é desencadeada por produtos da degradação sanguínea associada à estase sanguínea 12. Vale ressaltar, que sinais de malignidade podem estar presentes, como a paralisia de nervo craniano, dor 1,9 e ulceração da pele 9. Exames de imagem como radiografias, tomografia computadorizada (TC) e USG, esclarecem a etiologia da lesão, podendo ser solida ou cística. A TC delimita a lesão e auxilia na identificação de metástases cervicais. A punção aspirativa de agulha fina (P.A.A.F) determina o conteúdo da tumoração, devendo conter células de glândulas 2 salivares associadas a estruturas ductais para confirmar a neoplasia de glândula salivar 12. Sendo assim, o diagnóstico é confirmado quando encontramos na lesão, células mucosas, epidermóides, intermediárias e, oportunamente, células claras7, correlacionados à clínica apresentada pelo paciente e associados aos exames de imagem 12. O tratamento dos tumores malignos depende de alguns fatores, sendo eles: grau histopatológico, estágio clínico do carcinoma e a localização; nas lesões em parótidas está indicada a parotidectomia com preservação de nervo facial; na glândula submandibular o procedimento é a submandibulectomia; nas neoplasias em palato, realiza-se a ressecção da lesão com margem de segurança, mesmo que para isso seja necessária a inclusão de partes ósseas. Além disso, nos casos mais agressivos lançamos mão da radioterapia adjuvante 7; diferentemente da quimioterapia, que apresenta uso restrito 9. A metástase no CME está relacionada diretamente com a sobrevida, sendo assim, cerca de 3-15% a metástase é loco-regional e 6-15% dos enfermos apresentam sítios a distância, as taxas de sobrevida de cinco a dez anos, situam-se em torno de 60% e 40%, respectivamente 11. Os percentuais de recorrência local, regional e a distância são 40%, 15% e 11% respectivamente, associados também a piores prognósticos 9 OBJETIVOS Relatar caso e realizar uma revisão da literatura sobre carcinoma mucoepidermoide de glândula salivar. E como objetivo específico: relatar os possíveis tratamentos para carcinoma mucoepidermoide de glândula salivar e explanar sobre a conduta adotada no caso apresentado. METODOLOGIA Este trabalho é composto por uma revisão da literatura narrativa com relato de caso, obedecendo às normas VANCOUVER e ABNT. O estudo teve aprovação institucional, respeitando o Código de Ética de Pesquisa em Seres Humanos, de acordo com a Resolução 196/96. Além disso, este projeto está isento de conflito de interesse. 3 RELATO DE CASO Paciente, feminina, 52 anos, comparece ao ambulatório de cirurgia queixando-se de surgimento de uma massa em região do pescoço, trismo e alterações sensitivas e motoras em hemiface esquerda. Quanto a história da doença atual, relata que há um ano foi submetida a uma operação para a retirada de um tumor glômico na mesma região. Tal cirurgia não obteve êxito, devido ao comprometimento da artéria carótida comum direita, tendo recebido a posterior tratamento radioquimioterápico. Ao chegar em nosso serviço a paciente já apresentava um tumor recidivado e fistulizado para face ipsilateral a lesão, com tamanho de aproximadamente 6 cm, além de alterações motoras e de sensibilidade. Outro dado de relevância, é a alta carga de tabagismo, de cerca de 140 maços/ano. Paciente sem outras comorbidades e alergias. A paciente realizou exames complementares de imagem como angiotomografia de pescoço e crânio, PET SCAN, além de estudo histopatológico, todos esses exames corroborando a neoplasia de glândula salivar com comprometimento arterial carotídeo comum e a direita. Foi submetida a ressecção da lesão em bloco com glândula submandibular direita e musculatura do arco da mandíbula - esqueletização do arco da mandíbula, toda a musculatura e pele da lateral do pescoço e a carótida comum e externa também foram retiradas com esqueletização dos corpos vertebrais da 3ª a 5ª vértebras cervicais; confecção de retalho pediculado parcial do grande peitoral direito e rotação cranial sobre os corpos vertebrais expostos; confecção de retalho triangular de pele e subcutâneo, com extremidade lateral e base medial rodado para o fechamento completo da ferida cervical, segundo Jatin P. Shah e Snehal Patel. Quanto follow-up, a paciente tem consulta bimestral com associado a acompanhamento seriados de exames de imagem. Até o momento sem queixas e sem sinais de recidivas. DISCUSSÃO O CME corresponde de 3 a 11% das NGS19, apresenta incidência entre a segunda e sétima década de vida13, tendo como media 51 anos7, corroborando esse dado tem se a paciente supra citada com 52 anos. Vale ressaltar a predileção pelo sexo feminino7. CME em região de cabeça e pescoço expressa forte associação com á radiação previa da região por algum motivo, genética e tabagismo13, nesse ponto cruza-se 4 novamente a nossa paciente com elevada carga tabágica. Outro achado que corrobora o elevado consumo de tabaco pela paciente é o encontro de estrias pulmonares e aspecto de vidro fosco no PET – Scan, revelando intima relação da doença pulmonar obstrutiva crônica com tabagismo. Os sintomas das NGS duram cerca de trinta e cinco meses, sendo relatado aumento de volume local, trismo, diâmetro médio da lesão de 5,5 cm, dor e paralisia facial10. De modo que a paciente apresenta os três primeiros sintomas. Diante de um paciente com massa cervical, devemos proceder à investigação com PAAF e exame de imagem (radiografia de tórax e tomografia de pescoço) na busca de sítios primários. Como a sensibilidade e especificidade da PAFF encontram-se em torno de 92% e 100%, respectivamente, este exame é o preferencial para se iniciar a investigação; entretanto, o diagnóstico definitivo só é obtido através do anatomopatológico14. Contudo como a paciente chegou ao serviço com tumor recidivante não foram seguidos esse passo a passo. Uma vez submetida a primera cirurgia não se faz necssario o estadiamento baseado no sistema TNM para o segundo procediemento. Devem ser tratadas cirurgicamente as lesões N0 e N1, quando associados a mau prognóstico, como disseminação tumoral, invasão perineural ou vascular, fixação a planos profundos são indicativos de radioterapia, atualmente, tem-se mostrado benefício em combinar a quimioterapia, quando se compara a terapia com radiação isolada. A cirurgia realizada na paciente vão de encontro à literatura, sendo indicado para a mesma a excisão em bloco associado a ressecção da carótida e esvaziamento cervical radical modificado10. Entretanto, optou-se pela não realização da radioquimioterapia adjuvante, pois as mesmas já haviam sido realizadas previamente em altas doses. A sobrevida em dois anos é de 22% quando a retirada da carótida se faz necessária, devendo essa conduta individualizada14. Essa conduta foi adotada na paciente, pois a mesma apresentava trombose com oclusão total, documentada tanto por exame de imagem quanto durante o ato cirúrgico. CONCLUSÃO Neste trabalho de conclusão de curso foi descrito um relato de caso de Carcinoma Mucoepidermóide de glândula salivar à direita, que lamentavelmente, foi diagnosticado 5 inicialmente como tumor glômico. O diagnóstico errôneo atrasou a terapêutica do CME, acarretando negativamente na qualidade de vida da paciente. Por isso, a utilização da PAAF é de fundamental importância no rastreio de neoplasias cervicais. Definindo-se, portanto que a rápida abordagem de um paciente com massa cervical, assim como o seu correto diagnostico, tratamento e seguimento pós-operatório são fundamentais para a melhoria da qualidade de vidas das pessoas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Amorim RFB, Freitas RA, Lima SS, Soares A. Perfil epidemiológico das neoplasias de glândulas salivares: análise de 245 casos. Rev Bras Otorrinolaringol. V.71, n.3, 335-40, mai./jun. 2005. 2- Araújo NS, Araújo VC, Loyola AM, Sousa SO. Minor salivary gland tumours. A retrospective study of 164 cases in a Brazilian population. Oral Oncol Eur F Câncer 1995; 31B: 197-201. 3- Azevedo AM, Ocanto RA, Rivera-Bastidas H. Intraoral minor salivary gland tumours: a retrospective study of 62 cases in Venezuelan population. J Oral Pathol Med 1996; 25: 1-4. 4- Castro IV, Filho VJFA, Gerhard R, Vargas PA. 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