Artigo Original ABORDAGEM DOS TUMORES DE GLÂNDULAS SALIVARES MENORES MANAGEMENT OF MINOR SALIVARY GLAND TUMORS 1 ROGÉRIO A. DEDIVITIS 2 ELIO G. PFUETZENREITER JÚNIOR doença. Não houve nenhum outro caso de recidiva. RESUMO Introdução: Tumores de glândulas salivares menores são uma patologia incomum. Elas deveriam ser consideradas entre as lesões da cavidade oral. A decisão sobre o tratamento permanece controversa. O objetivo desse estudo é relatar nossa experiência com tumores de glândulas salivares menores. Casuística e Método: Os prontuários de 18 pacientes com tumores de glândulas salivares menores tratados cirurgicamente no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Ana Costa, Santos, entre 1997 e 2003 foram revisados. Resultados: Dos 18 pacientes, nove tinham adenoma pleomórfico e nove tinham neoplasias malignas. Dentre os pacientes com adenoma pleomórfico, cinco eram homens e quatro eram mulheres. A idade variou de 37 a 75 anos (média, 43,5 anos). O tempo de sintomatologia various de 6 a 120 meses (mediana, 12 meses). O palato duro é o sítio predominante de ocorrência (cinco). Dentre os pacientes com tumores malignos, quatro eram homens e cinco eram mulheres. A idade variou de 26 a 63 anos (média, 32,7 anos). O tempo de sintomatologia variou de 1 a 36 meses (mediana, 6 meses). Carcinoma mucoepidermóide de baixo grau foi a lesão maligna mais comum (seis), seguido pelo carcinoma adenóide cístico (dois) e carcinoma de células acinares (um). A área retromolar e a mucosa bucal foram os sítios predominantes de ocorrência (três, cada). Todos os pacientes foram tratados com excisão local. O paciente com tumor em seio etimóide apresentou recidiva local e faleceu devido à 1- Doutor em Medicina pelo Curso de Pós-Graduação em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. 2- Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Ana Costa. Palavras-chave: glândulas salivares menores; neoplasias de glândulas salivares. ABSTRACT Introduction: Minor salivary gland tumors are an uncommon entity. They should be considered among the lesions of the oral cavity. The decision regarding treatment remains controversial. The aim of this study is to report our experience with minor salivary gland tumors. Patients and methods: The charts of 18 patients with minor salivary gland tumors surgically treated in the Service of Head and Neck Surgery of Hospital Ana Costa, Santos, Brazil, from 1997 to 2003 were reviewed. Results: There were 9 patients with pleomorphic adenoma and 9 patients with malignant neoplasms. Among the patients with pleomorphic adenoma, 5 were men and 4 were women. The age varied from 37 to 75 (mean, 43.5). The symptoms time ranged from 6 to 120 months (median, 12). The hard palate is the predominant site of occurrence (5). Among the patients with malignant tumors, 4 were men and 5 sere women. The age varied from 26 to 63 (mean, 32.7). The symptoms time ranged from 1 to 36 months (median, 6). Low-grade mucoepidermoid carcinoma was the most common malignant lesion (6), followed by adenoid cystic carcinoma (2) and acynar cell carcinoma (1). The retromolar area and the buccal mucosa were the predominant sites of occurrence (3 each). All patients were treated surgically by wide local excision. The patient with etmoid sinus tumor presented local recurrence died due to the disease. There were no other recurrence cases. Instituição: Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Ana Costa, Santos. Correspondência: Rogério A. Dedivitis, Rua Dr. Olinto Rodrigues Dantas, 343 conj. 92 – 11050-220 Santos, SP. Brazil. E-mail: [email protected] Key words: minor salivary glands; neoplasms of salivary glands. Recebido em: 02/05/2006; aceito para publicação em: 29/07/2006 214 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 35, nº 4, p. 214 - 216, outubro / novembro / dezembro 2006 INTRODUÇÃO Tumores de glândulas salivares menores são patologias incomuns. Eles formam um grupo de tumores heterogêneos. A incidência de tumores de glândulas salivares é de aproximadamente 3% de todas as neoplasias de cabeça e pescoço1. Destes, de 10 a 15% são têm origem em glândulas salivares menores2. Esses tumores estão espalhados pela cavidade oral, seios paranasais, orofaringe, laringe e traquéia3. Eles poderiam ser considerados entre as lesões da cavidade oral, especialmente aqueles originados no palato duro. A decisão a respeito do tratamento permanece controversa. Há poucos artigos que estudam tumores de glândulas salivares menores separadamente4. O objetivo deste estudo é relatar nossa experiência com tumores de glândulas salivares menores. CASUÍSTICA E MÉTODO Os prontuários de 18 pacientes com tumores de glândulas salivares menores tratados cirurgicamente no serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Ana Costa, Santos, Brasil de 1997 a 2003 foram revisados. Os pacientes passaram por biópsia incisional prévia sob anestesia local. Tomografia computadorizada pré-operatória foi realizada para determinar a extensão dos tumores malignos. A excisão cirúrgica dos tumores malignos auferiu uma ressecção com margem mínima de 1 cm. Os arquivos foram revistos com respeito a dados demográficos, histopatologia, tratamento e recorrência. Os pacientes tiveram seguimento de 9 a 120 meses (média, 40 meses). RESULTADOS Havia nove pacientes com adenoma pleomórfico e nove pacientes com neoplasias malignas. A queixa mais comum era a presença de massa indolor na boca, de crescimento lento e progressivo. Entre os pacientes com adenoma pleomórfico, cinco eram homens e quatro mulheres, com uma proporção homem/mulher de 1,25:1. A idade variou de 37 a 75 anos (média, 43,5). O tempo de evolução variou de 6 a 120 meses (mediana, 12 meses). O palato duro é o local predominante de ocorrência (cinco casos), seguido pela mucosa bucal (dois), palato mole e lábio inferior. Entre os pacientes com tumores malignos, quatro eram homens e cinco eram mulheres, com uma proporção de mulheres para homens de 0,8:1. A idade variou de 26 a 63 anos (média, 32,7). O tempo de evolução variou de 1 a 36 meses (mediana, 6 meses). Carcinoma mucoepidermóide de baixo grau foi a lesão maligna mais comum (seis casos), seguido pelo carcinoma adenóide cístico (dois) e carcinoma de células acinares (um). Todos os casos de carcinoma mucoepidermóide eram de baixo grau. A área retromolar e a mucosa bucal foram os locais predominantes de ocorrência (três, cada), seguidos pelo palato duro (dois) e seio etmoidal (um). Todos pacientes foram tratados cirurgicamente por excisão local completa. A excisão completa com margens histopatológicas livres foi confirmada pela biópsia de congelação. O paciente com tumor em seio etmoidal foi submetido à radioterapia adjuvante. Este paciente em particular não teve margens cirúrgicas livres na histopatologia devido a seu estágio avançado. Ele apresentou recorrência local após quatro meses e evoluiu a óbito, em virtude da doença, após sete meses. Não houve nenhum outro caso de recorrência. DISCUSSÃO A porcentagem de tumores malignos de glândulas salivares menores varia de 27,5 a 76,3% na literatura. Por outro lado, a incidência de adenoma pleomórfico varia de 21,3% até 70%4,5. Como não é possível diferenciar lesões benignas de malignas clinicamente, realizamos uma biópsia incisional prévia com esse objetivo. A apresentação clínica mais comum é um crescimento indolor progressivo na cavidade oral. Entretanto, outros sintomas podem estar relacionados ao local anatômico, como obstrução nasal 6 . Sintomas relacionados a envolvimento de nervos estão associados a um pior prognóstico no carcinoma adenóide cístico7. Os locais anatômicos mais freqüentes são os palatos duro e mole ou o antro maxilar. Carcinomas mucoepidermóides são mais comuns na cavidade oral, enquanto carcinomas adenóide-císticos têm predileção pelo trato sinonasal6,8. Nosso estudo confirma a prevalência do carcinoma mucoepidermóide. O curso clínico é variável e, muitas vezes, é caracterizado por recidiva tardia muitos anos após o tratamento9. O resultado depende do sítio anatômico e do tipo histológico. Carcinoma adenóide-cístico nasossinusal apresenta um pior prognóstico6. Esse tipo histopatológico ocorre mais freqüentemente nas cavidades nasossinusais, onde os tumores tendem a estar avançados no momento da apresentação. O tratamento padrão de tumores malignos de glândulas salivares menores é a excisão cirúrgica completa, obtendo margens cirúrgicas adequadas6,10. Nossos seis pacientes com carcinoma mucoepidermóide tinham estádio clínico precoce à apresentação. Em uma série de 128 pacientes, linfonodos metastáticos eram palpáveis em 21 pacientes (3,8%)9. As taxas de sobrevida geral em cinco anos foi, respectivamente, 85,9% e 87,7% nos grupos de pacientes tratados com cirurgia ou terapia combinada. Houve diferenças significativas nas taxas de sobrevida de acordo com o estádio N, envolvimento ósseo, histologia do tumor, gênero e tipo de cirurgia. A maioria das recorrências ocorreu no sítio primário do tumor; metástases cervicais eram raras na apresentação e após o tratamento inicial. Como as recorrências podem ocorrer tardiamente, um seguimento de longo tempo é essencial. REFERÊNCIAS 1. Leegaard T, Lindeman H. Salivary gland tumors: Clinical picture and treatment. Acta Otolayngol. 1970:263:155-9. 2. Eveson JW, Cawson RA. Salivary gland tumors. A review of 2420 cases with particular reference to histological types, age and sex distribution. J Pathol. 1985;146:51-8. 3. Bradley PJ. Submandibular gland and minor salivary gland neoplasms. Curr Opin Otolaryngol Head Neck Surg. 1999;7:72-8. 4. Jansisyanont P, Blanchaert Jr RH, Ord RA. Intraoral minor salivary gland neoplasm: a single institution experience of 80 cases. Int J Oral Maxillofac Surg. 2002;31:257-61. 5. Isacsson G, Shear M. Intraoral salivary gland tumors: a retrospective study of 201 cases. J Oral Pathol. 1983;12:57-62. 6. Strick MJ, Kelly C, Soames JV et al. Malignant tumours of the minor 215 salivary glands – a 20 year review. Br Ass Plast Surg. 2004;57:624-31. 7. Huang M, Ma D, Sun K et al. Factors influencing survival rate in adenoid cystic carcinoma of the salivary glands. Int J Oral Maxillofac Surg. 1997;26:435-9. 8. Hyam DM, Veness MJ, Morgan GJ. Minor salivary gland carcinoma involving the oral cavity or oropharynx. Austr Dent J. 2004;49:16-9. 9. Lopes MA, Santos GC, Kowalski LP. Multivariate survival analysis of 128 cases of oral cavity minor salivary gland carcinomas. Head Neck. 1998;20:699-706. 10. Le QT, Birdwell S, Terris DJ et al. Postoperative irradiation of minor salivary gland malignancies of the head and neck. Radiother Oncol. 1999;52:165:71. 216