INPE-16646-TDI/1609 SINTETIZAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DO FERRO METÁLICO NANOPARTICULADO NA REDUÇÃO DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS PARA A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL Ervalino Sousa Matos Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pela Dra. Maria do Carmo de Andrade Nono, aprovada em 30 de novembro de 2009. Registro do documento original: <http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2009/10.30.21.43> INPE São José dos Campos 2010 PUBLICADO POR: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE Gabinete do Diretor (GB) Serviço de Informação e Documentação (SID) Caixa Postal 515 - CEP 12.245-970 São José dos Campos - SP - Brasil Tel.:(012) 3945-6911/6923 Fax: (012) 3945-6919 E-mail: [email protected] CONSELHO DE EDITORAÇÃO: Presidente: Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordenação Observação da Terra (OBT) Membros: Dra Maria do Carmo de Andrade Nono - Conselho de Pós-Graduação Dr. Haroldo Fraga de Campos Velho - Centro de Tecnologias Especiais (CTE) Dra Inez Staciarini Batista - Coordenação Ciências Espaciais e Atmosféricas (CEA) Marciana Leite Ribeiro - Serviço de Informação e Documentação (SID) Dr. Ralf Gielow - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPT) Dr. Wilson Yamaguti - Coordenação Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE) BIBLIOTECA DIGITAL: Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordenação de Observação da Terra (OBT) Marciana Leite Ribeiro - Serviço de Informação e Documentação (SID) Jefferson Andrade Ancelmo - Serviço de Informação e Documentação (SID) Simone A. Del-Ducca Barbedo - Serviço de Informação e Documentação (SID) REVISÃO E NORMALIZAÇÃO DOCUMENTÁRIA: Marciana Leite Ribeiro - Serviço de Informação e Documentação (SID) Marilúcia Santos Melo Cid - Serviço de Informação e Documentação (SID) Yolanda Ribeiro da Silva Souza - Serviço de Informação e Documentação (SID) EDITORAÇÃO ELETRÔNICA: Viveca Sant´Ana Lemos - Serviço de Informação e Documentação (SID) INPE-16646-TDI/1609 SINTETIZAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E APLICAÇÃO DO FERRO METÁLICO NANOPARTICULADO NA REDUÇÃO DE COMPOSTOS ORGANOCLORADOS PARA A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL Ervalino Sousa Matos Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores, orientada pela Dra. Maria do Carmo de Andrade Nono, aprovada em 30 de novembro de 2009. Registro do documento original: <http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2009/10.30.21.43> INPE São José dos Campos 2010 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Matos, Ervalino Sousa. Sintetização, caracterização e aplicação do ferro metálico naM428s noparticulado na redução de compostos organoclorados para a recuperação ambiental / Ervalino Sousa Matos. – São José dos Campos : INPE, 2010. xxiv + 82 p. ; (INPE-16646-TDI/1609) Dissertação (Mestrado em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores) – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 2009. Orientadora : Dra. Maria do Carmo de Andrade Nono. 1. Nanopartı́culas. 2. Ferro metálico nanoparticulado. 3. Dealogenação. 4. Clorobenzeno. 5. Recuperação ambiental. I.Tı́tulo. CDU 620.3:528.19 c 2010 do MCT/INPE. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armaCopyright zenada em um sistema de recuperação, ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotográfico, reprográfico, de microfilmagem ou outros, sem a permissão escrita do INPE, com exceção de qualquer material fornecido especificamente com o propósito de ser entrado e executado num sistema computacional, para o uso exclusivo do leitor da obra. c 2010 by MCT/INPE. No part of this publication may be reproduced, stored in a Copyright retrieval system, or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying, recording, microfilming, or otherwise, without written permission from INPE, with the exception of any material supplied specifically for the purpose of being entered and executed on a computer system, for exclusive use of the reader of the work. ii Aprovado (a) pela Banca Examinadora em cumprimento ao requisito exigido para obteneao do Titulo de Mestre em ETElCiencia e Tecnologia de Materiais e Sensores Dr. Francisco Piorino Neto Ora. Maria do Carmo de Andrade Nono Dr. Carlos Augusto Xavier Santos Aluno (a): Ervalino Sousa Matos Sao Jose dos Campos, 30 de novenibro de 2009 iv “Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra? Dize-me, se é que sabes tanto...” JÓ 38,4 v vi Aos meus pais Edson Barboza Matos e Sidalva Souza Matos,unânimes na prioridade ao estudo dos filhos. vii viii AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que contribuíram com a realização deste trabalho através da orientação, incentivo, colaboração para a realização de análises, flexibilização de meu horário de trabalho, disponibilização de laboratórios, equipamentos e pessoal técnico e a todos que irmanados comigo rogaram a Deus.que me propiciasse vencer este desafio. Agradeço imensamente à minha orientadora, Profª. Drª. Maria do Carmo de Andrade Nono, pelo encorajamento, pela orientação e pela solidariedade em todos os momentos. Aos professores da Área de Concentração em Ciência e Tecnologia de Materiais e Sensores do Programa de Pós-graduação em Engenharia e Tecnologia Espacial, pelos ensinamentos, paciência e dedicação. Aos colegas do curso de Pós-Graduação e aos técnicos e pesquisadores do LAS – INPE, pelo incentivo, cooperação e companheirismo. Ao Prof. Dr. José Augusto Jorge Rodrigues e sua equipe de pesquisadores do LCP do INPE de Cachoeira Paulista. Aos colegas da Escola SENAI “Luiz Simon”, Prof. Domingos G. Costa Neto, Diretor, Profa. MSc. Maria Cristina de Oliveira, Coordenadora Técnica, Prof. Mário Leite de Oliveira e, especialmente, ao Prof. MSc. José Carlos Mancilha, meu grande amigo, incentivador e referência deste trabalho. Aos Coordenadores, Professores e Técnicos dos Núcleos Técnicos de Química, Núcleo Técnico de Cerâmica e Faculdade Senai de Meio Ambiente, e à Direção da Escola Senai “Mario Amato”, pela cessão de laboratórios, equipamentos e pessoal para o desenvolvimento de ensaios. ix E agradeço à Juliana Ferreira Silva, pelo paciente auxílio na formatação desta dissertação. Que a graça de Deus recompense a todos pela imensa ajuda que me dedicaram, sem a qual seria impossível a realização deste trabalho. x RESUMO O objetivo deste trabalho foi de sintetizar, caracterizar e aplicar o ferro metálico nanoparticulado na redução de compostos organoclorados, visando a recuperação ambiental. Este estudo demonstrou que, (1) partículas de ferro metálico (Fe0), com dimensões nanométricas (70 nm, em média), podem ser sintetizadas utilizando-se cátion férrico Fe (III) como precursor, através de reação química em solução aquosa e que, (2) partículas de ferro metálico, de diferentes dimensões, podem ser utilizadas para eliminação de compostos organoclorados contaminantes de águas e ainda, que, (3) a velocidade de reação de dealogenação de tricloroeteno (TCE) e monoclorobenzeno (MCB), é inversamente proporcional ao tamanho das partículas, portanto, sendo maior, quanto maior for a área superficial das mesmas. A caracterização das partículas obtidas, através da microscopia eletrônica de varredura (MEV), da microscopia eletrônica de varredura de emissão de campo MEV-FEG, de alta resolução, e da energia dispersiva de raios X (EDX), demonstrou que foram obtidas partículas com tamanhos na escala nanométrica, formando longos encadeamentos uniaxiais de nanopartículas, com pureza química elevada. O acompanhamento da reação de dealogenação do tricloroetileno e do monoclorobenzeno, em solução aquosa concentrada, através da cromatografia gasosa, associada à espectrometria de massa, evidenciou que o rápido desaparecimento destes compostos é tanto maior quanto menor for a dimensão das partículas metálicas redutoras. Os ensaios realizados em laboratório, resultaram na dealogenação de clorobenzeno e tricloroeteno, em temperatura e pressão ambientes, por simples contato com partículas nanométricas de ferro valência zero, produzidas e caracterizadas no decorrer deste trabalho de pesquisa. Esses ensaios comparativos, realizados simultaneamente com massas semelhantes de ferro nanoparticulado e de ferro metálico microparticulado, demonstraram que o tempo de descontaminação e, consequentemente, a velocidade da reação do metal com os compostos halogenados são funções do tamanho das partículas metálicas e, portanto, da área superficial das mesmas. xi xii SYNTHESIZING, CHARACTERIZATION AND APPLICATION OF NANOSCALE IRON PARTICLES TO DEHALOGENATION OF ORGANIC COMPOUNDS FOR ENVIRONMENTAL REMEDIATION ABSTRACT The objective of this work was the synthesizing, characterization and application of nanoscale iron particles to dehalogenation of organic compounds for environmental remediation. In this study, laboratory assessment has demonstrated that (1) metallic iron nanoparticles (Fe0) can be prepared by the solution method from common precursor Fe (III) and that, (2) metallic iron particles are effective to eliminate environmental contaminants, such monochlorobenzene (MCB) and trichloroethene (TCE) in water and that, (3) reaction with nanoparticles are faster than iron microparticles with, when considering the same mass rate. So, dehalogenation reaction is size dependent or, seeing for other side, this fenomenous is function of iron particle’s total specific area. Characterization of metallic iron nanoparticles, by scanning electron microscopy (SEM), high-resolution scanning electron microscopy (MEV-FEG) and energy disperse X-ray analysis (EDX), has demonstrated that iron nanoparticles were obtained and were further aggregated into the chains, with high chemistry purity. xiii xiv LISTA DE FIGURAS Pág. Figura 2.1 - Fonte de contaminação do solo e águas subterrâneas: área industrial abandonada ................................................................... 11 Figura 2.2 - Fonte de contaminação do solo e águas subterrâneas: antiga área de disposição de resíduos......................................................................... 12 Figura 4.1 - Difratograma de raios X do pó de ferro metálico microestruturado nutrafine, obtido no LAS-INPE ...................................................... 35 Figura 4.2 - Espectro obtido por EDX, mostrando a composição química qualitativa do pó de ferro microparticulado nutrafine..................... 36 Figura 4.3 - Espectro da composição química qualitativa da amostra B de ferro microparticulado Hoganas, obtido por EDX. ................................. 37 Figura 4.4 - Imagens obtidas por MEV para o pó de ferro microestruturado nutrafine ........................................................................................ 37 Figura 4.6 - Imagens obtidas por MEV para o pó de ferro nanoparticulado. .... 40 Figura 4.7 - Imagem do Fe0 nanoparticulado obtida por de MEV-FEG. ........... 40 Figura 4.8 – Imagens obtidas por MET mostrando: A - aglomerados de aglomerados de partículas de ferro; B - detalhe da ligação entre os aglomerados e C - imagem obtida por campo escuro da região mostrada na figura B [Nurmi et al]................................................. 41 xv xvi LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 2.1 – Pontos de identificação - área industrial abandonada ................. 11 Tabela 2.2 – Pontos de identificação - antiga área de disposição de resíduos.13 Tabela 4.1 – Concentração de MCB e TCE na solução aquosa, determinado por CG/MS .................................................................................. 42 Tabela 4.2 – Relação C/C0 entre as concentrações residuais e a concentração inicial de contaminantes na solução aquosa ............................... 43 Tabela 4.3 – Taxa de dealogenação dos compostos organoclorados, por reação com ferro metálico nanoparticulado. ............................... 45 Tabela 4.4 – Taxa de dealogenação dos compostos organoclorados, por reação com ferro metálico microparticulado................................ 46 Tabela 4.5 – Comparação entre as taxa de dealogenação por reação com ferro nanoparticulado e ferro microparticulado. ................................... 46 xvii xviii LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS BET - Brunauer, Emmett e Teller CCTM-IPEN - Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais-IPEN CERCLIS - Comprehensive Environmental Response, Compensation and Liability System CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CG - Cromatografia Gasosa CG/MS – Cromatógrafo a gás com Espectrômetro de Massa DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica DDT - Dicloro-Difenil-Tricloroetano DNA - Ácido Desoxirribonucleico DRX - Difração de raios X EDX - Energia dispersiva de raios X FEG – Field Electron Gum Fe Micro - Ferro metálico microparticulado Fe NANO – Ferro metálico nanoparticulado HC - Hidrocarbonetos clorados INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPEN - Instituto de Pesquisas e Energia Nuclear LAS-INPE - Laboratório Associado de Sensores e Materiais - INPE LCP-INPE - Laboratório Associado de Combustão e Propulsão - INPE LCV-SENAI - Laboratório de Cerâmica Vermelha - SENAI LMA-SENAI - Laboratório de Meio Ambiente - SENAI MEV - Microscopia eletrônica de varredura MET - Microscopia eletrônica de transmissão MCB - Monoclorobenzeno NPL - National Priorities List PAHs - Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos PCBs - Policloretos de bifenil POPs - Produtos Orgânicos Persistentes xix REPLAN - Refinaria do Planalto Paulista SEM - Scanning electron microscopy SENAI - Sistema de Ensino Nacional e Aprendizagem Industrial TAC - Termo de Ajustamento de Conduta TCE - Tricloroeteno ou Tricloroetileno xx LISTA DE SÍMBOLOS C2HCl3 C6H5Cl Cr (III) Cr (VI) Cr6+ Fe (III) Fe0 Fe2+ Fe3+ H2 H2O H+ Ni2+ O2 OHPb (0) Pb (II) Pb2+ Fómula do TCE Fórmula do MCB Cromo trivalente Cromo hexavalente Cromo hexavalente Ferro trivalente Ferro metálico, valência zero Ferro bivalente Ferro trivalente Hidrogênio Molécula de água Cátion hidrogênio Níquel bivalente Molécula de oxigênio Ânion hidroxila Chumbo valência zero Chumbo bivalente Chumbo bivalente xxi xxii SUMÁRIO Pág. 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1 2 A CONTAMINAÇÃO DE SOLOS E SUA RECUPERAÇÃO .......................... 7 2.1 O conceito de áreas contaminadas ............................................................. 7 2.2 Fontes de contaminação do solo e das águas subterrâneas...................... 10 2.3 Casos de contaminação de solo e águas subterrâneas em São Paulo...... 15 2.3.1 Contaminação em Santo Amaro – SP ..................................................... 15 2.3.2 Contaminação no Recanto dos Pássaros – Campinas............................ 16 2.3.3 Contaminação na Vila Carioca – São Paulo............................................ 18 2.4 Considerações sobre o ferro metálico em dimensões nanométricas ......... 19 2.4.1 A obtenção do Ferro nanoparticulado...................................................... 20 2.4.2 Interações do ferro de valência zero........................................................ 21 2.5 Os compostos organoclorados ................................................................... 23 2.5.1 O Tricloroetileno .......................................................................................24 2.5.2 O Monoclorobenzeno ...............................................................................25 3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................. 27 3.1 Ferro metálico microparticulado ................................................................. 27 3.2 Obtenção do Ferro metálico nanoparticulado............................................. 27 3.2.1 A secagem do ferro metálico nanoparticulado ........................................ 29 3.3 Preparo das soluções ................................................................................. 29 3.3.1 Preparo das soluções de cloreto férrico .................................................. 29 3.3.2 Preparo das soluções de boro hidreto de sódio ...................................... 30 3.3.3 Preparo das soluções de Monoclorobenzeno.......................................... 30 3.3.4 Preparo das soluções de Tricloroetileno.................................................. 30 3.3.5 Preparo das soluções de Benzeno .......................................................... 31 3.4 Os Ensaios de Dealogenação de Monoclorobenzeno e Tricloroetileno...... 31 3.5 Caracterização das partículas de ferro metálico......................................... 32 3.5.1 Caracterização do pó de ferro metálico microparticulado........................ 32 3.5.2 Caracterização do ferro nanoparticulado................................................. 32 xxiii 3.6 FLUXOGRAMA DAS PRINCIPAIS ETAPAS OPERACIONAIS.................. 34 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 35 4.1 Composição, morfologia e granulometria do ferro metálico microparticulado .................................................................................................... 35 4.2 Fases cristalinas no pó de ferro nanoparticulado ....................................... 38 4.3 Composição química e morfologia das partículas nanométricas de ferro metálico....................................................................................... 39 4.4 Dealogenação dos compostos organoclorados pela ação redutora do ferro metálico – Resultados de análises.............................................. 42 5 CONCLUSÕES ............................................................................................. 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 49 GLOSSÁRIO......................................................................................................53 ANEXO A CRONOMATOGRAMAS...........................................................................55 xxiv 1 INTRODUÇÃO A contaminação de solos e águas subterrâneas é um problema de imensa e complexa dimensão que somado aos custos de seu tratamento tornam o problema de difícil solução. Áreas contaminadas contam-se aos milhares, em São Paulo e também em outros estados e países, que se preocupam com as causas e as conseqüências do problema. A origem das áreas contaminadas está relacionada ao desconhecimento, em épocas passadas, das conseqüências e dos procedimentos seguros de manejo de substâncias perigosas, com a negligência quanto ao cumprimento de procedimentos e legislação e, com a ocorrência de acidentes e vazamentos durante o desenvolvimento de processos produtivos, armazenamento, transporte de matérias primas e transporte de produtos acabados. Ilustrativo desta afirmação é a apresentação do Programa de Gerenciamento da Qualidade das Águas Subterrâneas no Pólo Industrial de Camaçari [1], que aponta como causas a inexistência de leis ou regulamentos sobre a contaminação de solos e águas subterrâneas e o fato dos projetos e procedimentos não serem preventivos o suficiente para evitar a contaminação quando, em 1978, o referido pólo entrou em operação. A existência de uma área contaminada pode gerar diversos problemas, como danos à saúde humana, comprometimento da qualidade dos recursos hídricos, restrições ao uso do solo, danos ao patrimônio público e privado, com a desvalorização das propriedades, e principalmente, danos ao meio ambiente [2]. Nos Estados Unidos, o principal programa de investigação e remediação de áreas contaminadas, conhecido como “Superfund”, possui um cadastro, o “Comprehensive Environmental Response, Compensation and Liability System” (CERCLIS) com aproximadamente 11.500 áreas contaminadas, e uma lista das 1 áreas consideradas prioritárias para remediação, a “National Priorities List” (NPL), onde, entre os anos de 1980 e 2000, foram registradas 1.518 áreas com contaminação. No Brasil, e especificamente no Estado de São Paulo, a CETESB registrava 2.272 áreas contaminadas até novembro de 2007, sendo que dentre estas áreas, apenas 94 tiveram a remediação concluída até o mesmo período. Esta lista, divulgada pela primeira vez em maio de 2002, mostra uma evolução crescente no número de áreas contaminadas. Entre os principais grupos de contaminantes encontrados nessas áreas registradas pela CETESB, estão os solventes aromáticos, combustíveis líquidos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs), metais e solventes halogenados, sendo que estes últimos eram responsáveis pela contaminação de 142 áreas [2]. Tomando como referência o valor de US$ 100/ton ou US$ 100/m3 [3] para a remediação ambiental, o custo financeiro para a descontaminação é absurdamente elevado, considerando o montante de áreas contaminadas, tanto no Brasil quanto no exterior. Como exemplo, o Programa de Gerenciamento da Qualidade das Águas Subterrâneas no Pólo Industrial de Camaçari [1], apontou um custo de R$ 3 milhões/ano para as ações de monitoramento ambiental, além do custo de R$ 10 milhões/ano com a implementação de ações de remediação como instalação de barreira hidráulica e poços de extração e o tratamento do material bombeado (dados de 2005). O ponto central da questão da remediação ambiental passa a ser, então, encontrar métodos de tratamento eficazes e de baixo custo para viabilizar o tratamento das áreas contaminadas. Os trabalhos de Guillham e colaboradores [3], a partir de 1990, alertaram para a potencialidade do ferro metálico granular nas ações de remediação de áreas 2 contaminadas com compostos organoclorados, sendo seguidos dos trabalhos de diversos outros pesquisadores que indicaram que o ferro valência zero é um agente redutor eficaz frente a uma série de outros agentes como íons hidrogênio, carbonatos, sulfatos, nitratos e oxigênio e muitos compostos orgânicos, principalmente os organoclorados e os nitroaromáticos [4, 5, 6, 7, 8]. A aplicação do ferro metálico na remediação ambiental traz grandes vantagens, como o baixo custo e ausência de toxidade induzida pelo seu uso. Todavia, o ferro metálico também apresenta alguns inconvenientes como o fato de poder reagir com a umidade e com o oxigênio dissolvido no meio (Equações 1.1 e 1.2), além de oferecer dificuldades para aplicação na profundidade necessária para reagir com a pluma de contaminantes, quando em dimensões macroscópicas. A continuidade da reação também pode ser dificultada pela formação dos produtos de reação superficial, como óxidos de Fe II. 2Fe0(s) + 2H2O + O2 Fe0(s) + 2H2O 2Fe2+(aq) + 4OHFe2+(aq) + H2(g) + 2OH-(aq) (1.1) (1.2) O desenvolvimento da nanotecnologia aplicada à remediação ambiental [7, 8, 10] tem demonstrado, todavia, que as nanopartículas de ferro no estado fundamental, valência zero, possuem vantagens que as colocam como ferramentas eficientes e versáteis para a remediação ambiental, tanto em aplicações in situ quanto ex situ. Devido ao seu pequeno tamanho, as nanopartículas tanto podem ser transportadas pelo fluxo de água subterrânea possibilitando, por exemplo, que uma lama composta de terra, água e nanopartículas, possa ser injetada sob pressão, ou mesmo por gravidade, até alcançar a pluma de contaminação, quanto podem também, permanecer em suspensão por longos períodos de 3 tempo, permitindo, desta forma, a formação de barreiras ao espalhamento da pluma ou uma zona de tratamento in situ. Em situações que exigem tratamento ex situ, as nanopartículas metálicas podem ser colocadas em misturadores de sólidos, juntamente com o material contaminado, ou em reatores químicos, formando uma suspensão com água e o material contaminado [10]. Experimentos realizados por Mancilha e Nono (4), demonstraram a eficácia do ferro nanoparticulado no tratamento ex situ de solos contaminados com metais pesados com cromo hexavalente (Cr6+), níquel bivalente (Ni2+) e chumbo bivalente (Pb2+), através da simples mistura do material contaminado com quantidades definidas de ferro nanoparticulado. Esta dissertação de mestrado é decorrente da necessidade de se estudar alternativas para a recuperação de áreas contaminadas, aliando a viabilidade operacional e técnica. Para tanto, realizou-se: a) a obtenção de ferro metálico (Fe0), em partículas com dimensões nanométricas, utilizando ferro trivalente (Fe3+) como precursor; b) a caracterização das partículas de ferro metálico em dimensões micrométricas e nanométricas; c) o estudo comparativo da ação do ferro metálico, em dimensões nanométrica e micrométrica, como agente redutor de hidrocarbonetos clorados, alifáticos e aromáticos, como tricloroeteno (C2HCl3) e clorobenzeno (C6H5Cl); d) a identificação dos produtos da reação de dealogenação dos hidrocarbonetos clorados por ferro nanoparticulado. O estudo se desenvolveu em laboratório, através da contaminação de certa quantidade de água com hidrocarbonetos clorados, aplicando sobre amostras dessa mistura obtida, uma suspensão de ferro nanoparticulado produzido em 4 laboratório, e acompanhando através de amostragens e análises a redução da concentração dos contaminantes. Buscando-se parâmetros comparativos de eficiência, a mesma metodologia foi aplicada substituindo-se as nanopartículas por ferro metálico microparticulado de origem industrial. O desenvolvimento deste trabalho buscou alcançar alguns objetivos previamente definidos: a) Determinar parâmetros operacionais para a síntese de ferro metálico nanoparticulado, em suspensão aquosa; b) Caracterizar as nanopartículas de ferro metálico obtidas em laboratório; c) Demonstrar a eficácia do ferro metálico nanoparticulado como agente redutor na dealogenação de hidrocarbonetos clorados; d) Comparar a eficiência das nanopartículas de ferro metálico com partículas do mesmo metal, na dimensão micrométrica. 5 6 2 A CONTAMINAÇÃO DE SOLOS E SUA RECUPERAÇÃO 2.1 O conceito de áreas contaminadas O conceito de proteção dos solos é um tema recente nas políticas ambientais dos países industrializados, tendo sido abordado somente a partir da década de 70, bem após as questões decorrentes da poluição das águas e da atmosfera. Até então, superestimava-se a sua capacidade de autodepuração e como conseqüência, o solo era considerado um receptor ilimitado de substâncias nocivas descartáveis, como o lixo doméstico e os resíduos industriais. Assim, o conceito de “áreas contaminadas” como sendo um local cujo solo sofreu dano ambiental significativo que o impede de assumir suas funções naturais, ou legalmente garantidas, está presente há pouco mais de 30 anos na política ambiental dos países desenvolvidos. A criação e o aperfeiçoamento de políticas e legislações em vários países e estados vieram em decorrência da conscientização da sociedade para os riscos aos quais, as populações são submetidas pela proximidade das áreas contaminadas, e, esta conscientização, por sua vez, é formada, geralmente, somente após a ocorrência e divulgação de casos graves de contaminação. Na medida em que são identificadas as áreas contaminadas, percebe-se que o passivo ambiental excede as previsões de custos e de abrangências dos danos causados por ele. Na Alemanha, os custos relacionados a problemas do solo foram calculados em, aproximadamente, US$ 50 bilhões (superior aos custos relacionados à poluição das águas e do ar - US$ 33 bilhões) e nos 12 países da Comunidade Européia, em 1999, já haviam sido identificadas cerca de 300.000 áreas contaminadas. [2] 7 Nos vários países onde são desenvolvidas políticas no sentido de solucionar os problemas causados pelas áreas contaminadas, existem diferentes definições para este termo. Observa-se, no entanto que nessas definições existe a preocupação em considerar não apenas a presença de poluentes, mas também a ocorrência de danos ou riscos ao meio ambiente, ao homem e à sociedade. Na região de Flandres, na Bélgica, uma área contaminada é definida como “um local onde, como resultado das atividades humanas, os resíduos estão presentes; ou a poluição dos solos e águas subterrâneas ocorre ou pode ocorrer” [2]. Na Legislação Federal da Alemanha, (Lei de Proteção do Solo), que vigora desde 1999, uma área contaminada é definida como “locais abandonados utilizados para disposição, tratamento ou armazenagem de resíduos e áreas industriais abandonadas, onde substâncias ambientalmente perigosas foram manejadas, causando mudanças prejudiciais à qualidade do solo ou outros perigos para o indivíduo ou para o público em geral”. [2] Em seu Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas [2], a CETESB, propõe uma definição ampla para o termo “área contaminada”: Uma área contaminada pode ser definida como uma área, local ou terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação, causada pela introdução de quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. Nessa área, os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em subsuperfície nos diferentes compartimentos do ambiente, por exemplo, no solo, nos sedimentos, nas rochas, nos materiais utilizados para aterrar os terrenos, nas águas subterrâneas ou, de uma forma geral, nas zonas não saturada e saturada, além de poderem concentrar-se nas paredes, nos pisos e nas estruturas de construções. Os poluentes ou contaminantes podem ser transportados a partir desses meios, propagando-se por diferentes 8 vias, como, por exemplo, o ar, o próprio solo, as águas subterrâneas e superficiais, alterando suas características naturais ou qualidades e determinando impactos negativos e/ou riscos sobre os bens a proteger, localizados na própria área ou em seus arredores. (CETESB, 2001) Segundo a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981), são considerados bens a proteger: a saúde e o bem-estar da população; a fauna e a flora; a qualidade do solo, das águas e do ar; os interesses de proteção à natureza/paisagem; a ordenação territorial e planejamento regional e urbano; a segurança e a ordem pública. A literatura especializada internacional e nacional apresenta vários termos que podem ser considerados sinônimos do termo "área contaminada", como, por exemplo, “sítio contaminado”, “terrenos contaminados”, “solos contaminados” e “solo poluído”. Outro termo normalmente encontrado na literatura especializada, principalmente quando se trata de áreas onde ocorreram atividades de mineração ou de grandes obras civis, é o termo “área degradada”. Enfocando os problemas relativos ao solo, o termo “degradação” é mais amplo e engloba o termo “poluição”. O termo “degradação do solo” significa a ocorrência de alterações negativas das suas propriedades físicas, tais como sua estrutura ou grau de compacidade, a perda de matéria devido à erosão e a alteração de características químicas devido a processos como a salinização, lixiviação, deposição ácida e a introdução de poluentes. O termo área degradada pode ser definido como “uma área onde ocorrem processos de alteração das propriedades físicas e/ou químicas de um ou mais compartimentos do meio ambiente” [2]. 9 Assim, pode-se concluir que existem duas formas principais de áreas degradadas: Áreas degradadas predominantemente por processos físicos e áreas degradadas predominantemente por processos químicos, ou áreas contaminadas. Observa-se que, em determinadas áreas, os dois processos de degradação ocorrem simultaneamente. Sendo a área contaminada um tipo particular de área degradada, a ela se aplica a legislação federal de adoção de medidas de remediação de áreas contaminadas, a Lei 6.938/81, regulamentada pelo Decreto 99.274/90, sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que introduz instrumentos de planejamento ambiental e determina a responsabilidade e penalidades para casos de poluição. Seus artigos 2 e 4 apresentam como objetivo dessa Lei, "a recuperação de áreas degradadas e ao poluidor, obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados". 2.2 Fontes de contaminação do solo e das águas subterrâneas As atividades humanas geram produtos e resíduos com potencial para contaminar os diferentes compartimentos do meio ambiente, como a atmosfera, as águas e o solo. Assim, as áreas contaminadas e os problemas gerados em conseqüência, podem ser originados a partir de uma enorme quantidade de tipos de fontes potenciais de contaminação. O Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, da CETESB [2], ilustra as fontes e vias de contaminação de dois tipos de áreas contaminadas: área industrial abandonada (Figura 2.1) e área de disposição de resíduos (Figura 2.2): 10 área industrial abandonada Figura 2.1 - Fonte de contaminação do solo e águas subterrâneas: área industrial abandonada Fonte: AHU, Consultoria em Hidrogeologia e Meio Ambiente, Alemanha (1987). Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – CETESB. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 13 31 Tabela 2.1 – Pontos de identificação - área industrial abandonada FONTES DE PERIGO Vazamento de tanques enterrados e sistema de tubulação Valas com barris enferrujados com resíduos tóxicos Percolação, no subsolo, de antigos vazamentos Resíduos abandonados lançados sobre o solo CENÁRIO Poluição do solo Poluição de água subterrânea Percolação de poluentes na água subterrânea em direção ao rio Fluxo superficial e subterrâneo de poluentes em direção ao rio Erosão de resíduos sólidos tóxicos em direção ao rio Deposição de metais pesados no fundo do rio Emissão de gases tóxicos Efeitos na vegetação MEDIDAS DE INVESTIGAÇÃO Investigação confirmatória Fonte: AHU, Consultoria em Hidrogeologia e Meio Ambiente, Alemanha (1987). Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – CETESB. 11 Figura 2.2 - Fonte de contaminação do solo e águas subterrâneas: antiga área de disposição de resíduos. Fonte: AHU, Consultoria em Hidrogeologia e Meio Ambiente, Alemanha (1987). Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – CETESB. 12 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 32 Tabela 2.2 – Pontos de identificação - antiga área de disposição de resíduos. FONTES DE PERIGO Resíduos domésticos Resíduos sólidos industriais Aterro com entulho, solo e escória CENÁRIOS Percolação de poluentes lixiviados para água subterrânea Poluição da água subterrânea pela percolação de contaminantes Bombeamento de águas contaminadas Irrigação com água subterrânea contaminada Contaminação da água potável Emissão de gases tóxicos por resíduos Entrada de gases nocivos nas casas Entrada de gases nocivos através da rede de esgoto Entrada de vapores na edificação Rachaduras nas construções devido a recalques do aterro Contato dermal e ingestão de material tóxico MEDIDAS DE INVESTIGAÇÃO Fechamento da Estação de Tratamento de água Fonte: AHU, Consultoria em Hidrogeologia e Meio Ambiente, Alemanha (1987). Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas – CETESB Os quatro principais problemas gerados pelas áreas contaminadas são: riscos à segurança das pessoas e das propriedades (incêndios, explosões), riscos à saúde pública e dos ecossistemas, restrições ao desenvolvimento urbano e redução do valor imobiliário das propriedades. Um dos primeiros problemas a serem reconhecidos como de grande importância é a contaminação das águas subterrâneas utilizadas para abastecimento público e domiciliar, além do comprometimento de aquíferos ou reservas importantes de águas subterrâneas. Devido à presença de áreas contaminadas, podem ser geradas condições favoráveis para o acúmulo de gases em residências, garagens e porões a partir de solos e águas subterrâneas contaminadas por substâncias voláteis originadas, por exemplo, de vazamentos de combustíveis ocorridos em postos de abastecimento ou pela produção de gases, como o metano, em áreas de disposição de resíduos urbanos. 13 A existência de áreas contaminadas gera, não somente problemas evidentes, como a ocorrência ou a possibilidade de explosões e incêndios, mas também ocasiona danos ou riscos à saúde das pessoas e ecossistemas, ocasionados por processos que se manifestam, em sua maioria, a um longo prazo, provocando: o aumento da incidência de doenças em pessoas expostas às substâncias químicas presentes em águas subterrâneas coletadas em poços; contato com a pele e ingestão de solos contaminados por crianças ou trabalhadores, inalação de vapores e consumo de alimentos contaminados (hortas irrigadas com águas contaminadas ou cultivadas em solo contaminado e animais contaminados). A presença de uma área contaminada pode representar também a limitação dos usos possíveis do solo, induzindo restrições ao desenvolvimento urbano e problemas econômicos relativos ao valor dos imóveis. Durante a década de 80, nos Estados Unidos e Canadá, várias indústrias foram fechadas e essas antigas áreas industriais localizadas nos centros das cidades, próximas às áreas com infra-estrutura urbana e bom acesso, atraíram os investidores, sendo elaborados projetos para reutilização dessas áreas, criando novas áreas residenciais, comerciais e industriais. Após a investigação dessas áreas, foi constatado que várias delas encontravam-se contaminadas, em decorrência das atividades desenvolvidas anteriormente. Como conseqüência desse fato, o número de áreas contaminadas registradas cresceu exponencialmente e um novo enfoque surgiu, o de prevenir a ocupação de áreas industriais desativadas ou abandonadas, sem que ações destinadas a remediação dessas áreas sejam realizadas. Em função dos altos custos envolvidos na investigação e remediação dessas áreas, os investidores foram atraídos para áreas ainda não ocupadas localizadas fora dos centros urbanos, conhecidos como greenfields, causando 14 o abandono das antigas áreas industriais denominadas brownfields, gerando um dos maiores problemas ambientais e sociais existentes nesses países atualmente. Nos Estados Unidos, em 1998, já se estimava a existência de 130.000 a 450.000 áreas enquadradas como brownfields, com um custo potencial para sua recuperação de US$ 650 bilhões. [11] As dificuldades em recuperar antigas áreas industriais também são observadas em outros países, como, por exemplo, no Reino Unido e Alemanha, onde existem propostas para utilização dessas áreas para uso residencial [1]. Na Região Metropolitana de São Paulo, principal região industrial do Brasil, antigas áreas industriais desativadas vêm sendo utilizadas para novos usos. Esta mudança do uso dessas áreas industriais para outras formas de uso, como residencial, comercial ou industrial leve, abre a possibilidade de se sucederem aqui, os mesmos problemas observados nos países citados. 2.3 Casos de contaminação de solo e águas subterrâneas em São Paulo Entre os diversos casos de contaminação de solo e águas subterrâneas por substâncias orgânicas ocorridos no Estado de São Paulo, pode-se descrever três episódios bem representativos da maneira como muitas industrias lidavam com os seus problemas ambientais, no passado recente, relatados no Relatório de Qualidade de Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo, publicado pela CETESB [12] 2.3.1 Contaminação em Santo Amaro – SP O primeiro caso ocorreu na região de Jurubatuba, localizada no Bairro de Santo Amaro, Zona Sul do município de São Paulo. 15 Essa região possui, desde a década de 1940 a presença de industrias dos mais diversos segmentos, principalmente química, farmacêutica, metalúrgica e alimentícia. O crescimento da cidade determinou uso misto do solo com a presença em espaços contíguos de industrias e residências, bem como de extensa oferta de serviços. A partir da emissão de uma auto-denúncia em 2001, por uma empresa que se instalou numa área ocupada anteriormente por outra empresa desde a década de 1960, foi detectada a presença de solventes clorados na água subterrânea. Constatou-se, também, que a contaminação não estava associada às atividades produtivas realizadas pela empresa auto-denunciante. Em continuidade, a CETESB autuou a empresa e exigiu procedimentos de investigação sobre a extensão da pluma de contaminação e a partir de 2005 exigiu mais estudos e, inclusive, investigações confirmatórias e avaliações de risco a serem realizadas por outras indústrias localizadas nas vizinhanças. Foram acionadas a Vigilância Sanitária e o DAEE, que procederam à suspensão das outorgas e a lacração dos poços, sendo realizada a interdição de sete poços tubulares localizados nas imediações e que também apresentaram contaminação. [13] 2.3.2 Contaminação no Recanto dos Pássaros – Campinas O segundo caso de contaminação do solo e das águas subterrâneas, foi amplamente divulgado pela imprensa, e ocorreu na região Metropolitana de Campinas, mais especificamente no Recanto dos Pássaros, loteamento residencial em Paulinia. Com a instalação, em 1972, no município de Paulínia, da Refinaria do Planalto Paulista - REPLAN, considerada a maior processadora de Petróleo do Brasil, com diversos produtos do craqueamento do petróleo, instalaram-se também 16 nesse município diversas industrias ligadas ao setor petroquímico. Dentre essas empresas, uma delas fabricou entre 1975 e 1993, os inseticidas agrícolas organoclorados Aldrin, Endrin e Dieldrin, que atingiram a água subterrânea. Três vazamentos destes componentes químicos foram oficialmente registrados durante os anos de produção. A contaminação atingiu os poços de abastecimento de moradores do bairro Recanto dos Pássaros. Em 1994, no levantamento do passivo ambiental da empresa, para fins de transação comercial, foi identificada uma rachadura em um reservatório de contenção de resíduos, o que propiciou a contaminação do aqüífero freático. A empresa realizou uma auto-denúncia junto ao Ministério Público, que deu origem a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), e instalou uma barreira hidráulica para contenção das plumas. Em março de 2000 a CETESB recolheu amostras de água subterrânea de poços e cisternas do bairro, que foram analisados pela própria, sendo constatada a presença de dieldrin na água. Nova coleta foi realizada em dezembro de 2000, comprovando-se a contaminação da água subterrânea com altas concentrações, até 11 vezes acima do padrão de potabilidade. Exames clínicos realizados nos moradores indicaram a contaminação crônica em grande parte dos moradores, vestígios do resíduo no organismo e tumores hepáticos e da tireóide, bem como a presença de arsênico, alumínio, níquel, berílio e chumbo no organismo de alguns moradores. Nesse período, a indústria já pertencia a outro grupo empresarial [14]. A partir de 2001, por determinação judicial, a empresa promoveu a remoção dos moradores do loteamento, bem como foi responsabilizada por seu tratamento médico. A CETESB determinou a remoção e tratamento de solo contaminado e a instalação de barreira hidráulica para que a pluma de 17 contaminação não atingisse o rio Atibaia, que está nas proximidades da área contaminada. 2.3.3 Contaminação na Vila Carioca – São Paulo O terceiro caso de contaminação do solo e das águas subterrâneas, escolhido para relato, ocorreu na cidade de São Paulo, no bairro Vila Carioca. No final da década de 1940, foi instalada na Vila Carioca, nos limites entre os municípios de São Caetano do Sul e São Paulo, uma base de armazenamento de combustíveis e agrotóxicos, funcionando continuamente até os dias atuais. No decorrer dos anos, inclusive em razão da ausência de normatização específica, a empresa depositou no solo, resíduos de borra de combustível e agrotóxico, prática comum à época. Com o crescimento das cidades, a área até então isolada, passou a constituir parte urbanizada entre os dois municípios, estimando-se que em torno de 30.000 pessoas residam num raio de 1km da base de armazenamento [15]. Em 2002 a CETESB efetuou vistoria e impôs infração à empresa em razão da emissão de odores fora do limite da propriedade, e em seguida, por meio de denúncia foi constatada a contaminação do solo e da água subterrânea da região por benzeno, tolueno, xileno, etilbenzeno, chumbo e outros metais pesados e os organoclorados aldrin, dieldrin e isodrin. Foi constatado o consumo de água subterrânea contaminada por parte de moradores, bem como o consumo de frutas e vegetais produzidos no local, irrigados com água de poços cacimba da região [16]. Após firmar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), a empresa foi obrigada a efetuar a remediação da área, com a retirada do local e incineração de 2.500 toneladas de solo contaminado e borras de combustíveis e a instalação de 18 barreiras hidráulicas no aqüífero freático, a fim de conter o deslocamento das plumas de contaminação da água subterrânea [17]. Como se observa nestes três casos relatados, os resíduos e efluentes foram gerenciados sem critérios ambientais, o que determinou a ocorrência de vários episódios de contaminação e, além disso, a ausência do planejamento de uso e ocupação do solo por parte do poder público, acarretou evidentes prejuízos à saúde de populações expostas, bem como ao meio ambiente e ao patrimônio. 2.4 Considerações sobre o ferro metálico em dimensões nanométricas As nanopartículas de ferro metálico fazem parte de uma classe de materiais cujas dimensões variam na escala de 1 a 100 nm, mesma ordem de grandeza de estruturas biológicas como, vírus (20-450 nm), proteínas (5-50 nm) e DNA (largura 2 nm; comprimento 10-100 nm), e que têm atraído o interesse de muitos pesquisadores em função de suas propriedades físicas, diversas dos mesmos materiais em escala macroscópica, e das suas possibilidades de aplicação em diversas áreas como a catálise, magnetismo, eletrônica e biomedicina [18,19]. Estas partículas representam também, uma nova geração da tecnologia, que pode promover soluções para muitos problemas ambientais, como a redução de íons metálicos solúveis em água, como por exemplo, Cr6+ e Pb2+ ,reduzindoos e precipitando-os respectivamente, a Cr3+ e Pb0, insolúveis [4,19] e a dealogenação de compostos organoclorados, altamente tóxicos, transformando-os em espécies benignas. As nanopartículas de ferro metálico, são dotadas de área superficial específica e reatividade química elevadas. A área superficial específica do metal, encontrada por MANCILHA E NONO (INPE, 2006) através da volumetria de 19 nitrogênio, foi de 17m2/g ± 2% para o ferro metálico obtido pelo processo de redução química em solução [4]. 2.4.1 A obtenção do Ferro nanoparticulado Estudos realizados por Zhang [10], o levaram a concluir que dois fatores contribuem para tornar as nanopartículas como ferramentas extremamente versáteis para a remediação ambiental. O primeiro deles é a possibilidade de serem transportadas pelo fluxo de água subterrânea, devido a suas dimensões reduzidas. O segundo, que as nanopartículas podem ser ancoradas em carvão ativado ou zeólitos para incrementar o tratamento de água, efluentes ou correntes gasosas poluídas. Devido a estes atributos, as nanopartículas em suspensão de terra e água podem ser injetadas sob pressão ou mesmo por gravidade diretamente para a pluma de contaminação onde o tratamento é necessário. As nanopartículas também podem permanecer em suspensão por longos períodos de tempo, estabelecendo uma zona de tratamento in situ e, ao mesmo tempo, podem ser misturadas ao solo e águas contaminadas em reatores, para a realização de tratamentos ex situ. Zhang e colaboradores desenvolveram um método de obtenção do ferro metálico nanoparticulado, adicionando hidreto de boro e sódio (0,2 M) a uma solução de Cloreto Férrico Hexa Hidratado (0,05 M), a temperatura ambiente e pressão atmosférica. A reação de óxi-redução é representada pela seguinte Equação: 4Fe3+ + 3BH-4 + 9H2O 4Fe0 + 3H2BO3- + 12H+ + 6H2 20 (2.1) Para este processo, ressalta Zhang, é necessário utilizar hidreto de boro e sódio em excesso para garantir o crescimento uniforme dos cristais de ferro. Produzindo nanopartículas através deste método, Zhang obteve partículas de ferro metálico com tamanho médio de 60,2 nm [10]. Fang Li, Vipulanandan e Mohanty, [18], produziram nanopartículas de ferro metálico, preparando uma solução de cloreto férrico hexa-hidratado (0,01M) e a adicionando a borohidreto de sódio, sólido, em um reator fechado sob atmosfera inerte, de nitrogênio. Observaram a intensa formação de gases e, ao mesmo tempo, a precipitação de partículas pretas de ferro metálico nanoparticulado. A reação se completou em 15 minutos e as partículas foram separadas com o uso de um agitador magnético. Os pesquisadores propuseram a seguinte equação para a reação: 2FeCl3 + 6NaBH4 + 18H2O 2Fe(s) + 21H2 + 6B(OH)3 + 6NaCl (2.2) A morfologia das partículas foi avaliada por imagem de MET (Microscopia Eletrônica de Transmissão) e o tamanho das mesmas situou-se entre 20 nm a 70 nm, com tamanho médio de 50 nm. 2.4.2 Interações do ferro de valência zero O ferro é um elemento químico muito abundante na crosta terrestre, apresentando cerca de 6% em peso na formação da crosta. Há séculos, o homem já utiliza o ferro nas mais diversas atividades e ramos produtivos, isso porque esse metal apresenta características químicas, físicas, mecânicas e econômicas de grande interesse aos processos produtivos industriais. Há muito tempo, se utiliza metais para degradar compostos orgânicos, principalmente o ferro metálico, devido ao seu potencial de oxidação e redução. 21 O ferro metálico é um agente redutor relativamente forte frente a diversas substâncias. Com potencial padrão de redução de -0,440V, é capaz de reduzir íons hidrogênio, carbonatos, sulfatos, nitratos e oxigênio, além de compostos orgânicos, principalmente clorados e nitrocompostos. Fe2+ + 2e- Fe° ...................... Ered = - 0,440V (2.3) A corrosão do ferro é um processo eletroquímico, no qual a oxidação do Fe° à Fe2+ é a semi reação anódica, e, onde a reação catódica depende da reatividade das espécies presentes. Em um processo anaeróbio, os aceptores de elétrons são H+ e H2O, que serão reduzidos , produzindo H2 e OH- (Equações 2.4 e 2.5). Fe0 + 2H+ Fe2+ + H2 (2.4) Fe0 + 2H2O Fe2+ + H2 + OH- (2.5) Em condições aeróbias, o oxigênio, O2, será o aceptor de elétrons e, neste caso a semi-reação catódica produzirá apenas OH- e não hidrogênio, H2, conforme ilustra a Equação 2.6: 2Fe° + O 2 +2H2O 2Fe2+ + 4OH- (2.6) As Equações 2.5 e 2.6 ilustram a formação de hidróxidos, que podem se depositar sobre a superfície do ferro metálico, inibindo a continuidade da reação de oxidação. Diversos pesquisadores, como Guilham [3], Zhang [10], e Vipulanandan [18], realizaram trabalhos científicos, demonstrando que os compostos orgânicos clorados, contaminantes de diversas áreas em todo o mundo, também podem ser reduzidos pela ação do ferro metálico. Em Pereira e Freire [15], 22 encontramos 3 rotas básicas para o processo de dealogenação de compostos organoclorados em meio aquoso. A primeira delas, de maior velocidade, ocorre com a oxidação do ferro metálico a íon ferroso, conforme a Equação 2.7: Fe° + R-Cl + H+ Fe 2+ + R-H + Cl- (2.7) O íon ferroso, em um sistema aquoso, também pode atuar como agente redutor de compostos organoclorados, porém, mais lentamente que o ferro metálico. A Equação 2.8, ilustra o esquema da segunda rota de dealogenação de um composto organoclorado, através de reação com o Fe2+ gerado no processo de corrosão do Fe0: Fe2+ + R-Cl + H+ Fe3+ + R-H + Cl- (2.8) O terceiro caminho, utiliza o hidrogênio gerado na reação de oxidação do Fe0 (Equação 2.9), como redutor do composto organoclorado. Esta reação, porém, ocorre apenas na presença de catalisadores, que podem ser as próprias partículas de ferro metálico e de outros metais presentes nas áreas contaminadas. H2 + RX RH + H+ + X- (2.9) 2.5 Os compostos organoclorados Os hidrocarbonetos clorados foram utilizados em grandes quantidades e em processos diversos nas indústrias e na agricultura. Na indústria foram utilizados intensivamente, por exemplo, como solventes de compostos orgânicos, com aplicação no desengraxe de peças nas indústrias metalúrgicas, na produção de tintas e até na lavagem de roupas “a seco”. Na agricultura, têm sido usados como inseticidas e herbicidas, incluindo o DDT, Lindane, Aldrin, e Dieldrin. 23 Os hidrocarbonetos clorados têm sido associados a vários problemas ambientais porque estes compostos químicos são resistentes à degradação no meio ambiente, acumulando-se e intoxicando organismos animais e vegetais. Em 1985 a comercialização das substâncias organocloradas como Aldrin, Endrin e Dieldrin foi proibida no Brasil, exceto o comércio de iscas para formigas e cupinicidas destinados a reflorestamentos, elaborados à base de Aldrin. A fabricação para exportação continuou até 1990, porém, em 1998, através da Portaria n°12 do Ministério da Saúde, es tes produtos foram completamente proibidos. Hoje, os “drins”, que são considerados POPs - Produtos Orgânicos Persistentes - foram banidos pela Convenção de Estocolmo (do qual o Brasil é signatário), por estarem associados à incidência de câncer e a disfunções dos sistemas reprodutor, endócrino e imunológico. 2.5.1 O Tricloroetileno O tricloroetileno (também chamado de tricloroeteno), TCE, é uma substância cuja fórmula química é C2HCl3. Sua aparência é a de um líquido claro não inflamável com cheiro adocicado e irritante. É um hidrocarboneto clorado, comumente usado como um solvente industrial e principalmente para o desengraxe de peças metálicas, ainda que também como ingrediente em adesivos líquidos, líquidos para remoção de pinturas e para corretores de escrita ("papel líquido") e removedores de manchas. É usado como analgésico através de sua inalação. O TCE é uma substância sintética que não se produz de forma natural no meio ambiente. Entretanto, tem sido encontrado em fontes de águas subterrâneas e águas superficiais como resíduo acumulado da atividade humana - produção, utilização e eliminação. 24 O TCE é cancerígeno. Ingerir ou respirar níveis altos de tricloroetileno pode produzir efeitos adversos no sistema nervoso, fígado e pulmões, batimento anormal do coração, coma e possivelmente a morte. 2.5.2 O Monoclorobenzeno O monoclorobenzeno (MCB), cloreto de benzeno ou cloreto de fenila, é um hidrocarboneto halogenado que, sob temperatura ambiente e pressão atmosférica apresenta-se como líquido aquoso, sem coloração e com suave odor de amêndoa. É mais denso que a água e produz vapores inflamáveis. Sua fórmula molecular é: C6 H5 Cl. 25 26 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Ferro metálico microparticulado Os pós de ferro, com tamanhos de partículas na escala micrométrica, utilizados nessa pesquisa, são obtidos através da fusão da matéria prima (ferro ou sucata de aço), atomização, secagem, peneiramento e recozimento. São utilizados como materiais de engenharia na produção de componentes para um grande número de segmentos industriais como na produção de peças sinterizadas para eletrodomésticos, estatores ou rotores para motores elétricos, e componentes automotivos. À medida que se expandem as possibilidades de aplicação dos componentes fabricados, como pós metálicos, diferentes composições químicas e formatos de partículas têm sido desenvolvidos [20]. O enriquecimento de farinhas alimentícias para combate à anemia, é também uma das aplicações do ferro microparticulado [2], e, neste caso, a pureza e granulometria do ferro microparticulado são controlados para produzir o melhor resultado à saúde humana. Devido à pureza química deste produto, ou seja, a ausência de outros elementos de liga que poderiam catalisar a reação, interferindo nos resultados comparativos com o ferro metálico nanoparticulado, uma amostra do mesmo, comercialmente denominado Nutrafine (Hoganas), foi utilizada em nossa pesquisa. 3.2 Obtenção do Ferro metálico nanoparticulado As nanopartículas de ferro metálico foram produzidas em laboratório, através da adição lenta de cloreto férrico hexahidradato, sobre boro hidreto de sódio, ambos em solução aquosa, a temperatura ambiente e pressão atmosférica, sob agitação lenta, sem formação de vórtice, com agitador magnético. 27 Esta reação provocou a redução do cátion ferro trivalente a ferro metálico, valência zero, e sua conseqüente precipitação. A reação do processo, segundo Wu e Ritchie [22], é a mesma proposta por Fang Li, Vipulanandan e Mohanty [18] e pode ser representada pela seguinte equação química: 2FeCl3 + 6NaBH4 + 18H2O 2Fe°(s) + 6H3BO3 + 6NaCl + 21H2(g) (3.1) O processo foi conduzido em capela de laboratório, com exaustão, utilizando vidrarias e equipamentos comuns ao laboratório químico, como balança analítica, balão de reação e agitador magnético, tendo sido monitorado com o uso de termômetro, pHmetro e medidor de potencial de oxi-redução. Alguns experimentos foram realizados com soluções concentradas de cloreto férrico hexahidratado (1 M) e boro hidreto de sódio (1,6 M), enquanto outros ensaios foram realizados com as soluções diluídas de ambos os sais: cloreto férrico (0,05 M) e boro hidreto de sódio (0,20 M). Em ambas as situações, a proporção em volume das soluções reagentes foi 1:1. Esta estratégia foi adotada, com a finalidade de se comparar a granulometria das partículas de Fe0 obtidas a partir de diferentes concentrações das soluções precursoras. Considerando a equação da reação (3.1), a proporção estequiométrica entre FeCl3 e NaBH4, é de 2mol:3mol. Portanto, nos ensaios em que se utilizaram as soluções mais concentradas, na proporção 1mol:1,6mol, o excesso de boro hidreto de sódio foi de 6,7%, enquanto nos ensaios em que se utilizaram as soluções mais diluídas, na proporção 0,05mol:0,20mol, o excesso de borohidreto alcalino foi de 166,7% . O ferro metálico, em partículas nanométricas, foi separado por decantação e lavado com água deionizada seguidas vezes, para eliminar os sais solúveis e, imediatamente após as lavagens o metal foi imerso em acetona. 28 3.2.1 A secagem do ferro metálico nanoparticulado Para obter o metal nanoparticulado isento de umidade, o material foi separado da acetona, por decantação em funil e recebido em kitassato contendo nitrogênio líquido. O kitassato foi fechado com rolha de borracha e, ainda sob atmosfera de nitrogênio, foi conectado a uma bomba de vácuo e colocado sobre chapa de aquecimento, elétrica. O material resultante aderido às paredes do frasco, foi solto com o auxílio de um banho de ultrasson. O ferro metálico nanoparticulado seco, assim obtido, foi destinado a análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV), microscopia eletrônica de varredura de alta eficiência (MEV-FEG), energia dispersiva de raios X (EDX) e difração de raios X (DRX). Para a reação de dealogenação, o ferro metálico nanoparticulado foi utilizado úmido, após separação do meio reacional por decantação e dupla lavagem com água deionizada. 3.3 Preparo das soluções 3.3.1 Preparo das soluções de cloreto férrico A solução aquosa de cloreto férrico em concentração 1 molar (1 M), foi preparada a partir de reagente CLORETO FÉRRICO III, PA, FeCl3.6H2O, com pureza mínima de 97%, utilizando uma balança analítica Mark 210 A. À temperatura de 19,6 °C, a solução apresentou pH 1 ,01, medido em pHmetro Digital PG2000, GEHAKA. A solução aquosa de cloreto férrico em concentração 0,05 M foi obtida pela diluição da solução estoque de concentração 1 M. 29 3.3.2 Preparo das soluções de boro hidreto de sódio A solução aquosa de boro hidreto sódio, em concentração 1,6 M foi preparada a partir de reagente BORO HIDRETO DE SODIO PA, com pureza mínima de 97%, utilizando-se uma balança analítica Mark 210 A. À temperatura de 20,0 °C, a solução apresentou pH 1 2,89, medido em pHmetro Digital PG2000, GEHAKA. A dissolução dos cristais de boro hidreto de sódio em água, provocou pequena efervescência, devido à liberação de gás hidrogênio e leve exotermia. A solução aquosa de boro hidreto de sódio em concentração 0,20 M, foi obtida por diluição da solução estoque (1,6 M). 3.3.3 Preparo das soluções de Monoclorobenzeno As soluções aquosas de monoclorobenzeno, para construção da curva de calibração e para os experimentos de dealogenação, foram preparadas, a partir do reagente Monoclorobenzeno PA (solubilidade na água: 0,049 g / 100 mL, a 25 °C), com pureza 99% e água deionizada. 3.3.4 Preparo das soluções de Tricloroetileno As soluções aquosas de tricloroetileno, para construção da curva de calibração e para os experimentos de dealogenação, foram preparadas, a partir do reagente Tricloroetileno PA (Merck) com pureza de 99,7% (solubilidade na água: 0,15 g / 100 g, a 25 °C). 30 3.3.5 Preparo das soluções de Benzeno As soluções aquosas de benzeno, para construção da curva de calibração, foram preparadas, a partir do reagente Benzeno PA (Merck). Solubilidade em água: 1,8 g / litro a 20 °C. 3.4 Os Ensaios de Dealogenação de Monoclorobenzeno e Tricloroetileno A dealogenação do monoclorobenzeno (MCB) e do tricloroetileno (TCE), através da reação com o ferro metálico, tanto nanoparticulado quanto microparticulado, foi acompanhada através de um cromatógrafo a gás Varian CG 3900, tendo como detector, um espectrômetro de massa Varian Saturn 2100T, nos laboratórios da Empresa Quimlab, em Jacareí-SP. Utilizou-se, no cromatógrafo, uma coluna capilar Factor Four VF-5ms 30 m x 0,25 mm DF=0,25, com hélio ultrapuro como gás de arraste. Ao mesmo tempo, foi acompanhada a concentração do benzeno, que poderia ser formado na dealogenação do MCB. Foi preparada uma solução aquosa com MCB e TCE e separadas três alíquotas de 100 mL, em vials de mesmo volume. A primeira delas foi destinada a ser o branco de prova. Sobre a segunda foi adicionado 5 gramas de ferro metálico nanoparticulado e, sobre a terceira, adicionou-se 5 gramas de ferro metálico microparticulado. Os recipientes foram mantidos em movimento para evitar a decantação das partículas metálicas e periodicamente foram retiradas amostras de 1 mL e transferidas para vials de 2 mL, de onde eram transferidas para o cromatógrafo a gás através da microseringa do amostrador automático do próprio equipamento. Ensaios em branco, ou seja, sem a presença de ferro metálico, também foram realizados e analisados com os mesmos equipamentos e técnicas, com o 31 propósito de comparar a velocidade da degradação espontânea com aquelas induzidas pelas partículas metálicas. 3.5 Caracterização das partículas de ferro metálico 3.5.1Caracterização do pó de ferro metálico microparticulado As amostras de ferro metálico com partículas de dimensões micrométricas utilizadas neste estudo, foram caracterizadas nos laboratórios LAS-INPE, em São José dos Campos – SP, LCP-INPE, em Cachoeira Paulista – SP e LCVSENAI Mário Amato, em São Bernardo do Campo – SP. Foram empregados os seguintes equipamentos: a) Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) com Espectrômetro de Energia dispersiva de raios X (EDX) marca JEOL, modelo JSM – T330A, para a análise das características morfológicas das partículas metálicas e determinação da composição química elementar – LCV-SENAI Mário Amato; b) Difratômetro de raios X convencional PHILIPS-1840, para a determinação da fase cristalina das partículas metálicas – LAS-INPE; c) Analisador de Área Superficial NOVA 1000-Quanta Chrome, para determinação da área superficial das partículas, através da Volumetria de Nitrogênio (BET) – LCP-INPE. 3.5.2 Caracterização do ferro nanoparticulado As amostras de ferro metálico com partículas de dimensões nanométricas, obtidas e utilizadas neste estudo, foram caracterizadas nos laboratórios LASINPE, em São José dos Campos – SP, CCTM-IPEN, em São Paulo – SP e LCV-SENAI Mário Amato, em São Bernardo do Campo – SP. 32 Foram empregados os seguintes equipamentos: a) Microscópio eletrônico de varredura de alta resolução (MEV-FEG) JEOL, modelo JSM 6701S, para determinação da morfologia e tamanho médio das partículas - Centro de Ciência e Tecnologia de Materiais – CCTM-IPEN; b) Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) com Espectrômetro de Energia dispersiva de raios X (EDX) JEOL, modelo JSM – T330A, para a análise das características morfológicas das partículas metálicas e determinação da composição química elementar – LCVSENAI Mário Amato; c) Difratômetro de raios X convencional PHILIPS-1840, para a determinação da fase cristalina das partículas metálicas – LASINPE; d) Analisador de Área Superficial NOVA 1000-Quanta Chrome, para determinação da área superficial das partículas, através da Volumetria de Nitrogênio (BET) – LCP-INPE. 33 3.6 FLUXOGRAMA DAS PRINCIPAIS ETAPAS OPERACIONAIS Caracterização MET-BET- XRD Síntese Fe nano 0 Solução de HC Análises CG Análises HC residual - CG REAÇÃO 1 Análise dos produtos - CG Caracterização MEV-BET- XRD 0 Fe micro comercial Solução de HC Análises HC residual - CG REAÇÃO 2 Análise dos produtos - CG Dissertação Apresentação e Defesa 34 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Composição, morfologia e granulometria do ferro metálico microparticulado O espectro do pó de ferro metálico microparticulado (amostra nutrafine), obtido por difração de raios X (DRX), mostra apenas a presença de ferro metálico na amostra (Figura 4.1). I 100 INTENSIDADE Y Axis Title 80 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 2 θ X Axis Title Figura 4.1 - Difratograma de raios X do pó de ferro metálico microestruturado nutrafine, obtido no LAS-INPE 35 A análise por espectroscopia de energia dispersiva de raios X (EDX), também indicou a elevada pureza da amostra de nutrafine, composta de ferro e pequena fração de carbono (Figura 4.2). Todavia, a amostra B Hoganas (Figura 4.3), mostrou a presença significativa de outros elementos de liga como alumínio (0,584% em peso), vanádio (0,692% em peso) e titânio (0,741% em peso). Em função desta composição diversificada, as partículas da amostra B não foram utilizadas na reação de dealogenação dos compostos organoclorados, visto que os elementos de liga anteriormente referidos, poderiam atuar incrementando ou reduzindo a velocidade desta reação (Lien, Jhuo e Chen, 2007) [23]. Figura 4.2 - Espectro obtido por EDX, mostrando a composição química qualitativa do pó de ferro microparticulado nutrafine. 36 Figura 4.3 - Espectro da composição química qualitativa da amostra B de ferro microparticulado Hoganas, obtido por EDX. As imagens, obtidas por MEV, do pó microparticulado nutrafine evidenciam que este material é formado por agregados de partículas de diversas dimensões, desde 1,13 µm a 11,0 µm (Figura 4.4). Figura 4.4 - Imagens obtidas por MEV para o pó de ferro microestruturado nutrafine . 37 4.2 Fases cristalinas no pó de ferro nanoparticulado O espectro de difração mostrado na Figura 4.5 é característico de materiais com organização de curta distância da estrutura cristalina, ou seja, ocorre uma quantidade alta de espalhamento dos raios X difratados pelos planos característicos do Fe0 (mostrados na Figura 4.1). Esta organização de curta distância (que provoca o espalhamento dos raios X difratados) indica que as INTENSIDADE estruturas cristalinas organizadas são pequenas, chamadas de nanocristais. 2θ 0 Figura 4.5 – Espectro de difração de raios X do pó de Fe nanoparticulado. 38 4.3 Composição química e morfologia das partículas nanométricas de ferro metálico A imagem obtida por MEV (microscopia eletrônica de varredura) mostra que o pó nanoparticulado de Fe0 obtido neste trabalho, é composto por aglomerados de partículas nas formas de fibras e volumétricos com formas diversas (Figura 4.6). Observa-se, no entanto, que as partículas em forma de fibras estão presentes no pó em muito maior quantidade. Na Figura 4.7 é mostrada a imagem do pó nanoparticulado obtido por MEV-FEG (microscopia eletrônica de varredura com emissão de campo). A utilização de imagens deste pó obtida por MEV-FEG mostrou que este material é formado por micropartículas (com tamanhos maiores que 100 nm) que se arranjam nas formas lineares (aglomerados de fibras) e na forma volumétrica (Figura 4.7). De acordo com Nurmi et al. [6] e Mancilha [4], estas micropartículas são formadas por nanopartículas com dimensões de 10 a 50 nm. Na Figura 4.8 são mostradas as características morfológicas de nanopartículas de ferro obtidas por Nurmi et al. [6]. Estas imagens evidenciam que os pós são formados por aglomerados (maiores) de aglomerados (menores) de nanopartículas (Figura 4.8 A). As Figuras 4.8 B e C, comprovam que os aglomerados menores são compostos por nanopartículas. 39 Figura 4.6 - Imagens obtidas por MEV para o pó de ferro nanoparticulado. 0 Figura 4.7 - Imagem do Fe nanoparticulado obtida por de MEV-FEG. 40 A Região mostrada em B e C B C Figura 4.8 – Imagens obtidas por MET mostrando: A - aglomerados de aglomerados de partículas de ferro; B - detalhe da ligação entre os aglomerados e C - imagem obtida por campo escuro da região mostrada na figura B [Nurmi et al]. 41 O pó de Fe0 obtido neste trabalho, apresentou características morfológicas semelhantes ao pó obtido por Nurmi et al. [6] e Mancilha [4]. Estes autores obtiveram as imagens dos pós por MET e neste trabalho, elas foram obtidas por MEV-FEG, o que fornece informações complementares sobre as características morfológicas dos dois tipos de aglomerados presentes no pós de ferro investigado. As características morfológicas dos pós de Fe0 indicam que o pó obtido neste trabalho apresenta uma maior área superficial específica do que o pó comercial utilizado neste trabalho. Isto deverá influenciar na velocidade da reação de dealogenação. 4.4 Dealogenação dos compostos organoclorados pela ação redutora do ferro metálico – Resultados de análises Os valores de concentrações de MCB e TCE obtidos durantes os experimentos de dealogenação, foram compilados na Tabela 4.1, e a relação entre as concentrações residual (C) e inicial (C0) encontradas em cada análise, foi determinada e compilada na Tabela 4.2. Tabela 4.1 – Concentração de MCB e TCE na solução aquosa, determinado por CG/MS Concentração de MCB e TCE em solução aquosa (mg/L) Branco Fe NANO Fe MICRO Fe NANO Fe MICRO MCB TCE TCE MCB MCB 163,6 116,6 163,6 163,6 116,6 116,6 0,5 h 104,8 156,8 73,8 112,4 1h 110,3 129,1 79,05 95,94 2h 122,8 132,7 86,59 91,46 16 h 112,8 125,1 67,82 82,94 Tempo 0h TCE 42 Tabela 4.2 – Relação C/C0 entre as concentrações residuais e a concentração inicial de contaminantes na solução aquosa Redução da Concentração de MCB e TCE (C/C0) Branco Fe NANO Fe MICRO Fe NANO Fe MICRO TCE MCB TCE TCE MCB MCB 0 min 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 30 min 0,64 0,96 0,63 0,96 60 min 0,67 0,79 0,68 0,82 120 min 0,75 0,81 0,74 0,78 16 h 0,69 0,76 0,58 0,71 Concentração (mg/L) Tempo Tempo (horas) Figura 4.12 – Redução na concentração da solução aquosa de TCE e MCB, por reação com 0 0 Fe nanoparticulado (Fe NANO) e Fe microparticulado (Fe MICRO). Proporção metal:solução de 5 g/100 mL. A observação dos dados e do gráfico de concentrações, evidencia o rápido consumo do ferro nanoparticulado e, em conseqüência, o decréscimo acentuado dos contaminantes TCE e MCB, na primeira meia hora. A partir daí, 43 observa-se variações analíticas do equipamento, porém não se afastando em demasia, do valor encontrado no tempo 0,5h. A concentração dos compostos organoclorados, neste período inicial, foi reduzida a 64% da concentração inicial, para o TCE, e a 63% da concentração inicial, para o MCB (Tabela 4.2). Este dado mostra que as partículas nanométricas de ferro metálico podem provocar uma taxa de redução de 31,4 mg de TCE, por grama de Fe0 NANO, a cada hora de reação e, uma taxa de redução de 68,5 mg de MCB, por grama de Fe0 NANO, a cada hora de reação (Tabela 4.3), desde que em condição de concentração elevada de contaminantes, como em nosso estudo. Em baixas concentrações de contaminantes, certamente as taxas de redução também são menores devido ao menor número de choques entre as partículas reagentes. Trabalhos realizados por Wang e Zhang [7], utilizando concentração inicial de 20 mg TCE/L, levaram a taxa de redução aproximada de 9 mg TCE/grama de Fe NANO/hora de reação. Estudos posteriores de Zhang [10], com misturas de organoclorados de baixa concentração (4,68 mg/L de TCE e 6,07 mg/L de TCA e 0,1 mg/L de PCE), levaram-no a taxas de redução de, aproximadamente, 1 mg TCE/g de Fe NANO/hora de reação, e, a concluir que a capacidade total de dealogenação situa-se em torno de 100-200 mg TCE/g Fe NANO. A acentuada queda na taxa de redução dos contaminantes organoclorados após 0,5 h de reação, sugere que após haver eliminado aproximadamente 20 mg TCE+ MCB/g Fe NANO, ocorreu a oxidação de grande parte da massa de ferro nanoparticulado, valência zero a cátion ferroso (Fe2+), primeira etapa do processo, de alta velocidade. A continuidade da redução dos contaminantes, se dá, a partir daí, através da oxidação do cátion ferroso a cátion férrico (Fe3+), segunda etapa do processo e através da hidrogenação dos compostos organoclorados, terceira etapa do processo, de velocidade mais lenta, até que ocorra a total oxidação e 44 apassivação do ferro metálico adicionado ao meio. Fato semelhante ocorre com o ferro microparticulado, após 1,0 h de reação. A elevação das concentrações de TCE e MCB, tanto em reação com o ferro nanoparticulado quanto com o ferro microparticulado, observadas na figura 4.12, pode ter sido causada por variações analíticas dos equipamentos de análise, podendo ser confirmadas através da realização de experimentos utilizando-se um detector de captura de elétrons, ao invés do espectrômetro de massa. Comparando as taxas de dealogenação dos compostos organoclorados nestas primeiras etapas de reação, observa-se que a taxa de redução dos compostos organoclorados por reação com o ferro metálico nanoparticulado, é 3 a 4 vezes maior que a taxa de redução com o ferro metálico microparticulado, conforme Tabela 4.5 Tabela 4.3 – Taxa de dealogenação dos compostos organoclorados, por reação com ferro metálico nanoparticulado. Taxa de Dealogenação com Fe NANO, em massa m0 m0,5 ∆m mFe ∆m/mFe ∆m/mFe/h TCE 163,6 104,8 58,8 3,8 15,7 31,4 MCB 116,6 73,8 42,8 1,3 34,2 68,5 TCE+MCB 280,2 178,6 101,6 5 20,3 40,6 45 Tabela 4.4 – Taxa de dealogenação dos compostos organoclorados, por reação com ferro metálico microparticulado. Taxa de dealogenação com Fe MICRO, em massa m0 m1,0 ∆m mFe ∆m/mFe ∆m/mFe/h TCE 163,6 129,1 34,5 3,8 9,2 9,2 MCB 116,6 95,9 20,7 1,3 16,5 16,5 TCE+MCB 280,2 225,0 55,2 11,0 11,0 5 Tabela 4.5 – Comparação entre as taxa de dealogenação por reação com ferro nanoparticulado e ferro microparticulado. Comparação entre taxas de dealogenação, em massa Fe NANO Fe MICRO Fe NANO/Fe MICRO ∆m/mFe/h ∆m/mFe/h TCE 23,5 6,9 3,4 MCB 17,1 4,1 4,1 TCE+MCB 40,6 11,0 3,7 Durante o decorrer dos experimentos, foi analisada a formação de benzeno, como provável produto de dealogenação do MCB, e até as amostragens de 16h de reação, esta substância não havia sido detectada. Isto prenuncia que a reação do MCB com as partículas de ferro metálico, nanoparticulado e microparticulado, não produzem benzeno na mesma proporção em que a dealogenação ocorre, devendo ser investigados os produtos de reação formados. 46 5 CONCLUSÕES As análises realizadas através da microscopia eletrônica de varredura, de alta definição (MEV-FEG) e da energia dispersiva de raios X (EDX), mostram que através da reação, em solução aquosa diluída, do cloreto férrico e borohidreto de sódio, podem ser obtidas partículas de ferro metálico com dimensões nanométricas. Estas partículas são atraídas por ímãs e podem ser separadas dos demais produtos da reação utilizando-se esta propriedade magnética e, após secagem, observa-se que sua cor preta, difere da cor acinzentada, característica das partículas em escala micrométrica ou do material massivo. As análises da concentração de tricloroetileno (TCE) e monoclorobenzeno (MCB), em solução aquosa, utilizando-se a cromatografia a gás, associada à espectrometria de massa, evidenciaram que o ferro metálico é capaz de provocar a redução da concentração destes compostos organoclorados e que as partículas nanométricas provocam taxas de dealogenação 3 a 4 vezes maiores que as partículas micrométricas, quando utilizadas massa equivalentes. A partir destas constatações, conclui-se que o método de obtenção de ferro metálico nanoparticulado, utilizado neste estudo, é eficaz e que este material pode ser empregado na recuperação ambiental de áreas contaminadas com compostos organoclorados, tanto em cadeias alifáticas quanto aromáticas. 47 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [19] Arlaro, A. D., Síntese e Caracterização de Nanopartículas de Ferritas – São Paulo 2008. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, Instituto de Física – Depto. de Física dos Materiais e Mecânica. [11] BEAULIEU, M. 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Journal of Nanoparticle Research. 5: 323-332, 2003. 51 52 GLOSSÁRIO Aceptores de elétrons: espécies químicas receptoras de elétrons. Área superficial específica: área superficial por unidade de massa (m2/g). Compostos organoclorados: Substâncias de cadeia carbônica ligadas a átomos de cloro. Dealogenação: reação química de remoção de halogênios. Efluentes: resíduos líquidos originados de um processo industrial. Ex situ: fora do local de origem Hipsométricas: relativo à hipsometria e a hipsômetro; altimétrico. In situ: no local de origem. Pluma de contaminação: local de concentração de contaminantes no solo. Remediação ambiental: tratamento que reduz ou elimina contaminantes do ambiente. Solução estoque: solução química concentrada. Solventes clorados: compostos orgânicos clorados utilizados como solventes. Vernácula: próprio de um país, nação, região (língua v.) (costumes v.). Vial: recipiente com um diafragma na tampa. Zeólitos: espécies químicas que promovem a troca iônica. 53 54 ANEXO A - CRONOMATOGRAMAS 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82