AS INTERFACES ENTRE FILOSOFIA E PEDAGOGIA CABRAL, Carmen Lúcia de Oliveiral i TEODÓSIO, Hosiene Araújo ii RESUMO No período antigo e medieval não havia uma separação entre filosofia e educação, entretanto na modernidade, a ruptura entre esses campos de saber fez com que o discurso filosófico ocupasse posição secundária na elaboração dos sistemas educacionais. No período contemporâneo o vínculo entre Filosofia, Pedagogia e a Educação tem sido re-estabelecido através da Filosofia da Educação; as separações existentes entre filosofia e pedagogia nos leva fazer um exame teórico-metodológico, caracterizando os aspectos específicos em cada época e em cada sociedade, a partir de orientações teóricas de Dalbosco (2008); Saviani (1990); Reboul (1971), Tomazetti (2001, 2003) entre outros. O propósito desse artigo é estabelecer quais contribuições existem entre os campos da Filosofia e da Pedagogia, levando-se em consideração as tendências teóricas que caracterizam esses dois campos do conhecimento, demonstrando suas implicações para a formação docente. Palavras-chave: Filosofia. Educação. Pedagogia. Formação docente. Filosofia da Educação. ABSTRACT In ancient and medieval period there was a separation philosophy and education, though in modern times, the gulf between these fields of knowledge has made the philosophical discourse occupy a secondary position in the development of education systems. In the contemporany period the bond between Philosophy, Pedagogy and Education has been reestablished through the philosophy of education, the separation between philosophy and pedagogy leads to a theoretical and methodological review, featuring the distinctive features in each and in every society, from theoretical approaches to Dalbosco (2008); Saviani (1990); Reboul (1971); Tomazetti (2001, 2003) among others. The purpose of this paper is to establish what contributions are among the field of Philosophy and Pedagogy, taking into account the theoretical nature of these two fields of knowledge, demonstrating its implications for teacher training. Keywords: Philosophy. Education. Pedagogy Interfaces. Philosophy of Education. Introdução Dentro da relação entre filosofia e pedagogia o campo filosófico constitui-se como o mais antigo tendo sua origem atribuída ao final do século VII e início do século VI a.C nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto, sendo o primeiro filósofo Tales de Mileto. A palavra filosofia é de origem grega composta pela junção das palavras Philo, que significa amizade, amor fraterno, respeito e Sophia, que significa sabedoria assim, a filosofia é entendida como sendo a amizade pela sabedoria e o filósofo visto como aquele que tem amor pelo saber. Para Saviani (1990, p. 30) o filósofo é: [...] um especialista do pensamento, [...] ele ‘não só pensa’ com maior rigor lógico, com maior espírito de sistema, do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe quais as razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retomar os problemas a partir do ponto onde eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução, etc. Fazer filosofia é então estar em caminho, em busca; a consciência filosófica é uma consciência inquieta, insatisfeita, presa a um ceticismo e não à posse de um saber absoluto. Desde seu surgimento os filósofos os quais, “a História reconhece como os grandes intelectuais que conseguiram expressar de forma mais elaborada os problemas das respectivas fases de desenvolvimento da humanidade” (SAVIANI, 1990, p. 7), tiveram sua prática desde a antiguidade vinculada a uma tarefa educativa, estabeleceram discussões referentes à produção cultural humana como sendo algo a ser discutido dentro do campo filosófico tendo em vista que “a filosofia, enquanto concepção de mundo formula e encaminha a solução dos grandes problemas postos pela época que ela se constitui” (SAVIANI, 1990, p.7). Como meio de entender a relação entre a filosofia e pedagogia a partir das reflexões filosóficas da educação interrogamos: Quais interfaces existem entre os campos da filosofia e da pedagogia? A pedagogia sendo considerado um campo de conhecimento específico construirá com a filosofia um vínculo de natureza teórica? Chauí (1997, p. 15) entende que: A filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Através de tais caracterizações busca-se explicitar, discutir e analisar a natureza das interfaces existentes entre os campos da filosofia e da pedagogia e que/ais contribuições existem entre ambos, levando-se em consideração os objetos e finalidades das tendências teóricas que caracterizam esses dois campos de conhecimento, demonstrando suas implicâncias para a formação do educador através de uma abordagem teórico-metodológica. Neste estudo, algumas tradições filosóficas foram privilegiadas em detrimento de outras, por entendermos que alguns aspectos contribuem mais precisamente para caracterizar de modo claro e objetivo à relação entre filosofia que “[...] nas sociedades civilizadas, determina os processos educacionais e contribui na formação da imagem do homem e do mundo” (DALBOSCO, 2008, p.5) e a pedagogia. No contexto atual percebemos um envolvimento maior com os aspectos práticos da educação do que com uma análise da teoria educacional. Logo, parti-se de questionamentos do tipo “como”, “por que” e “para quê” é necessário haver uma distinção entre filosofia e educação, analisando-se a presença e as contribuições dos grandes filósofos e seus sistemas nas teorias e práticas do educador. Como objetivos norteadores do estudo propõem-se: analisar os elementos centrais da relação entre filosofia e pedagogia presentes nos escritos de filósofos e teóricos da educação, que expressam as conexões entre esses campos de conhecimento; mapear os campos da filosofia e da pedagogia, observando os aportes teóricos entre esses campos do conhecimento; caracterizar a relação entre filosofia e pedagogia nos discursos clássico, moderno e contemporâneo da filosofia e da educação com vistas ao esclarecimento da natureza da interconexão entre esses campos de conhecimento; demonstrar como a relação entre filosofia e pedagogia implica em uma relação necessária diante da finalidade entre ambas enquanto campos de conhecimento; discutir a compreensão de que a filosofia apresenta uma dimensão pedagógica intrínseca, bem como a reciprocidade da afirmação, demonstrada na formação e atuação do educador. A abrangência desta análise configura-se como sendo um estudo bibliográfico de autores dos campos da filosofia e da educação; na aquisição dos dados utilizaram-se diversas bibliografias, documentos e textos escritos encontrados em bibliotecas, acervos públicos, internet e outros meios de informação cabíveis que se fizeram valorosos para a ampliação do conhecimento sobre o tema em questão. A escolha por esta metodologia deu-se devido à natureza da pesquisa, na qual buscamos abstrair uma gama de informações que se relacionam com a constituição da formação do educador e qual/quais suas relações com o conhecimento filosófico. 2 Conceitos articuladores entre filosofia, educação e pedagogia Assim como a Filosofia a Pedagogia surgiu na Grécia Antiga sendo a palavra pedagogia deriva de paidós (criança) e agogé (condução), etimologicamente a pedagogia configura-se como sendo a condução da criança ao saber. Devido a essa relação intrínseca desde a Grécia Antiga até os dias atuais há certo descaso com o campo pedagógico limitando a função do pedagogo como aquele responsável pelo cuidar e zelar da criança nos seus primeiros anos de vida, alguém responsável por “aprimorar” a educação que a criança recebe em casa. Tal definição gerou um grande desafio para o campo pedagógico constitui-se enquanto ciência; as obras “O Tratado Sobre a Educação”, de Luís Vives do século XVI e “Didáctica Magna” de Comenius do século XVIII contribuíram para elevar a pedagogia à categoria de ciência. Como lembra Reboul (1971), as ciências humanas estudam o objeto da educação, em particular a criança, quanto à sua natureza, ao seu meio e á sua evolução. A pedagogia estuda os meios da educação. A filosofia reflete sobre os seus fins: porque é que se educa? Qual o critério de uma educação bem sucedida? Ao perceber-se a relação de interdependência entre os campos da filosofia, educação e pedagogia propõe-se uma discussão de cunho filosófico como forma de conhecer e refletir sobre a importância dos filósofos. Saviani (1990, p. 7) entende que a produção intelectual dos filósofos tidos como clássicos é considerada como sendo “[...] um patrimônio cultural da humanidade, já que suas formulações embora radicadas numa época determinada extrapolem os limites dessa época, mantendo o seu interesse mesmo para as épocas ulteriores”. Suas reflexões favorecem para se compreender o processo educativo e as relações entre a filosofia e a educação bem como a contribuição destas reflexões no processo de formação do ser docente, entende-se para tal, a contribuição da filosofia através da filosofia da educação no campo educacional. De acordo com Tomazetti (2003, p. 19) refletindo sobre “o dever-ser da educação, filósofos como Platão, Aristóteles, Erasmo. “Montaigne, Locke, Kant, entre outros, tornaram a Filosofia referência primeira da Pedagogia”. Seguindo está linha de raciocínio Saviani (2002, p. 29) afirma que “a Filosofia seria fundamental para assegurar a promoção da reflexão, não uma reflexão qualquer, mas uma reflexão radical, rigorosa e global sobre os problemas que a nossa sociedade apresenta”, nessa perspectiva entende-se que o refletir é uma função pertencente ao campo filosófico. Ao final do século XVIII com a Revolução Francesa a educação passa a englobar, além de uma reflexão sobre a formação geral do homem, uma reflexão sobre a escolarização. Em seguida a escola passa a estar inscrita no espaço político e o espaço privado do preceptor cede lugar ao espaço público da escolarização. A princípio é atribuído aos filósofos o papel de formar (educar) em um sentido mais amplo o que lhe configurava a ser o preceptor de uma criança ou jovem, ou como alguém que se propõe a pensar a educação. Estes entendiam que a escolarização, como forma de educação e de instrução, não merecia uma reflexão específica, pois cabia ao preceptor educar os filhos dos ricos e a escola, que começava a se tornar universal abrigava as crianças pobres. A partir de então a filosofia passa a exigir do educador uma postura, segundo a qual, é necessário pensar e refletir sobre “o que” se faz para, então, decidir de forma consciente a realização da ação educativa, entendendo-se que, caso esta reflexão não se faça presente acarretará em uma ação educativa questionável quanto à validade de seus fins. Por isso, podemos afirmar em concordância com Paviani (2008, p. 12) que: A filosofia, separada da pedagogia, assume a tarefa de justificar, pressupostos éticos e epistemológicos de processos educacionais. Procura exercer um papel crítico em relação à racionalidade instrumental e ao esclarecimento do pensamento pedagógico em si. Os sujeitos da educação e as teorias pedagógicas, o fazer e o agir educativos realizam-se dentro de uma dimensão filosófica global e não mais específica. Desenvolve-se uma determinação filosófica que sustenta a concepção educacional antes de qualquer reflexão típica de uma filosofia da educação. Temos que um dos papéis principais da filosofia consiste em examinar criticamente as disputas intelectuais de cada época e sugerir maneiras alternativas de ver as coisas, à educação passa a ser estabelecida como uma prática humana, direcionada por uma concepção teórica, a pedagogia se traduz como uma concepção filosófica do papel da educação, em relação à sociedade e ao homem que vive nesta sociedade. Durante esse processo crítico reflexivo faz-se necessário o estudo de problemas educacionais, tomando como base o que alguns teóricos e estudiosos elaboram, para assim, sair do senso comum e poder desenvolver uma consciência reflexiva que estará sempre em busca de respostas para as indagações que surgirem. Partindo-se da indagação sobre quais sujeitos desejamos formar e qual sociedade desejamos construir por meio da prática educativa, entendemos ser necessário enquanto educador promover uma prática reflexiva para que “agentes manipuladores” não venham a interferir na atuação do educador. Para Benincá (2008, p. 185) “[...] a consciência aproxima-se do conceito de concepção de mundo, visto que possui o sentido do mundo. Detentora desse sentido, a consciência pode orientar as ações dos indivíduos”. Então, a prática educativa deve ser vista como qualquer outra prática humana, que, entretanto, não pode ser banalizada, Saviani (1990, p.8) afirma que “[...] a prática pedagógica é sempre tributária de determinada teoria que, por sua vez pressupõe determinada concepção filosófica ainda que em grande parte dos casos essa relação não esteja explicitada”. Outro ponto de vista pode ser percebido em Severino (1990, p.21) “[...] a educação é fundamentalmente uma prática social, a filosofia vai ainda contribuir significativamente para sua efetivação mediante uma reflexão voltada para os fins que a norteiam”. Nessa perspectiva, compreendem-se as inter-relações entre os campos pedagógicos e filosóficos como algo que possibilita ao educador e educando estabelecer relações entre a sua prática e a teoria que o circunda. 3 Filosofia e Filosofia da Educação É fato que a Filosofia da Educação para diversos autores não é considerada Pedagogia, como fala Reboul (1971) a filosofia da educação não pergunta como curar a dislexia, mas de onde vem a importância que se atribui ao fato de ler; não pretende melhorar as relações entre pais e filhos, mas indagar a natureza da família, o seu valor, os seus limites. Para Paviani (2008, p. 17): Com a perda da evidência das relações entre a filosofia e a educação, a disciplina filosofia da educação adquiriu função própria e paulatinamente tronou-se o elo entre os dois mundos. A redução da filosofia a filosofia da educação fez com que essa disciplina se tornasse um reduto de conteúdos, dentro de uma determinada concepção filosófica. Então, nos compêndio, via de regra, a filosofia da educação é classificada, conforme as tendências, de metafísica, de humanidade, de analítica, de fenomenológica, de hermenêutica, de dialética, de marxista, de crítica e de outras denominações. Na disciplina filosofia da educação (aliás, como ocorre em geral com as filosofias do direito, da cultura, da linguagem, etc.), a educação é vista a partir de uma perspectiva externa. Verifica-se a partir de então a necessidade de haver uma filosofia da educação, da mesma forma que existe uma filosofia do direito, uma filosofia da linguagem, filosofia da arte, filosofia da mente, entre tantas outras filosofias. De acordo com Tomazetti (2003, p. 21) “[...] na França, até o final do século XIX e início do século XX, a Filosofia da Educação esteve associada à Pedagogia Geral; o saber filosófico sobre educação era parte integrante dos estudos de Pedagogia”. No Brasil os manuais de Pedagogia dos anos de 1950 apresentavam a Filosofia da Educação como pedagogia teórica ou como pedagogia filosófica; o termo pedagogia serviu apenas para dar nome ao Curso, não configurando no currículo de formação do educador uma disciplina de pedagogia geral. Assim, decorrente deste contexto, o abandono do discurso filosófico como fundamentação do saber pedagógico deu abertura para a legitimação das ciências da educação no campo educacional constituindo-se o discurso próprio da Filosofia da Educação. Elisete Medianeira Tomazetti (2001) em seu artigo Filosofia da Educação e formação de professores em algumas universidades brasileiras entre os anos 40 e os anos 60 apresenta inicialmente a construção da disciplina de Filosofia da Educação em nosso país partindo-se de três processos simultâneos, são eles: Estatização do ensino, segundo o qual o Estado é tido como órgão competente por manter a estrutura em torno da educação; a Institucionalização da formação de professores, na qual compete a União criar instituições de ensino superior e secundário, nos Estados e no Distrito Federal e aos Estados caberia a criação e manutenção do ensino primário, do ensino profissional, por fim, fala em uma Cientifização da pedagogia, em que se observa serem as Escolas Normais durante muito tempo as únicas instituições formadoras de professores, baseadas em modelos tradicionais que com o advento das idéias escolanovistas passam a ser revistos. Verifica-se que a formação do educador e o seu papel diante da sociedade deverão está pautada na formação de um educador autônomo e crítico, capaz de enfrentar os problemas colocados pela realidade educacional de seu tempo e produzir respostas teóricas e práticas a esses problemas por meio da pesquisa, o que faz com que o professor seja ele próprio um pesquisador. Tomazetti (2001) afirma que a partir dos anos 30 do século XX torna-se consenso mundial a aceitação de uma cultura filosófica e científica na formação do professor justificada pela necessidade de se promover uma reflexão sobre os fins e valores de uma educação democrática pautada no conhecimento filosófico. Pela filosofia, a pedagogia garante a compreensão de valores que deverão orientá-los no futuro, sendo tarefa da Filosofia da Educação estabelecer as bases de uma reflexão rigorosa sobre os problemas educacionais. Para Saviani (1990, p. 17) é tarefa da filosofia da educação “[...] acompanhar reflexiva e criticamente a atividade educacional de modo a explicitar os seus fundamentos, esclarecer a tarefa e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e avaliar o significado das soluções escolhidas”. Promovendo uma análise acerca do estatuto da filosofia da educação Mazzotti (2000, p. 185) fala que “toda e qualquer filosofia apresenta-se como uma pedagogia, pois toda filosofia estabelece um percurso para a elucidação de problemas humanos e se põe com o modo adequado e correto de elevar a consciência imediata à consciência mediata 1 ”. Para tal, de acordo principalmente a época e a visão de quem retrata (no caso, o professor de filosofia ou de filosofia da educação) escolhe-se um autor ou uma escola filosófica e procura-se explicar o fenômeno educacional. Em contrapartida a introdução de estudantes no campo da filosofia da educação é vista como uma tarefa incômoda até mesmo para o mais experiente filósofo da educação devido a esses alunos chegarem à graduação com pouca base no que se refere à filosofia como uma disciplina de investigação; para Ericson (2000, p. 205) “[...] tais estudantes enquanto inseridos nos programas de formação de professores são especialmente difíceis de se comprometerem”, o que se configura como mais um “problema” a ser trabalhado além da dificuldade com que freqüentemente o professor de filosofia da educação sobretudo nos cursos de licenciatura terá que se deparar. Como meio de superação para tal fato Ericson apresenta estratégias pedagógicas para a introdução dos estudantes em filosofia da educação, tais estratégias podem ser adotadas tanto por professores de filosofia da educação quanto por de outras matérias. A primeira estratégia trata a filosofia da educação como sendo a história da filosofia da educação a qual determina uma área específica da filosofia, indicando o estudo dos principais pensadores no que se referem à educação; os alunos são deixados “livres” para construírem suas idéias e argumentações relacionadas às suas próprias práticas. A segunda estratégia caracteriza a “filosofia da educação como sendo um confronto de ‘ismos’: realismo, idealismo, empirismo, racionalismo, pragmatismo, existencialismo e assim por diante, [...] a abordagem a partir de ‘ismos’ toma o problema da relevância seriamente e tenta estabelecer porque a filosofia da educação, dessa forma, é de grande importância para os práticos” (ERICSON, 2000, p. 206); ressalta-se que alguns professores tentam convencer seus alunos a adotarem sua corrente filosófica favorita. A terceira estratégia, “apresenta uma abordagem histórica, mas com uma virada crítica”, ainda, segundo esse autor (p. 207), há “um diálogo crítico baseado nas visões dos filósofos a respeito da educação ao longo da história”; logo, tenta estimular os estudantes a adotarem um espírito crítico. 1 Entende-se por saída da consciência imediata em direção à consciência mediata, a superação do senso comum, construído a partir das experiências cotidianas, para o senso crítico, capaz de refletir e questionar sobre o mundo a sua volta. Como aspecto negativo em tal estratégia há “o fato de sua abordagem reside nos alunos ‘impregnados’ por uma ânsia de “instrumentos de prática de sala de aula, ao fazerem uma relação entre os erros e acertos dos filósofos concluírem não haver uma relevância prática ao se estudar autores que nunca parecem realmente estar certos” (ERICSON, p. 207). A quarta e última estratégia é apresentada “genericamente como sendo uma abordagem não histórica, [...] figuras históricas são mencionadas somente quando suas perspectivas e suas análises são bastante importantes para a questão ou conceito sob discussão” (ERICSON, p. 208). Como afirma Reboul (1971) Se cada filósofo considera a educação em função do seu sistema, seria possível mostrar, em contraposição, de que modo essa consideração interfere na gênese do seu sistema (REBOULT, 1971). Relacionando tais estratégias e o papel do filósofo da educação, teremos que uma filosofia da educação depende sempre das metafísicas do seu autor, assim esta será diferente quanto a abordagem: racionalista, empirista, idealista, materialista; conservador ou revolucionário. 4 Considerações finais As teorias pedagógicas da modernidade se constituem a partir de concepções filosóficas. Concordando com Paviani (2008, p. 14) quando este fala que [...] a filosofia moderna apresenta-se como produtora de uma pedagogia antes mesmo de constituir-se numa disciplina pedagógica específica. De Descartes a Kant, nesse recorte histórico, os problemas filosóficos do conhecimento e da subjetividade, das relações ente objeto e sujeito de conhecimento, entre consciência e mundo, entre pessoa e cidadão impregnam todas as teorias pedagógicas. Podemos a partir de então criar nossas primeiras impressões sobre quais contribuições a filosofia possibilita ao campo da pedagogia e por que é necessária uma atitude filosófica. Como afirma Reboul (1971) poder-se-ia afirmar que a educação é talvez a prova decisiva do pensamento filosófico. Ela permite discernir o sentido humano dos debates filosóficos para lá dos seus aspectos técnicos, colocar os conceitos mais abstratos a prova da prática, bem como mostrar que a filosofia não é somente trabalho de especialistas, mas dos homens. Assim, para a atitude do educador ser entendida como filosófica, não basta apenas falar sobre conceitos, no caso, dentro dos campos da filosofia e da pedagogia, mas questionar o sentido e entender como os conceitos entre ambos os campos de conhecimento relacionamse entre si e quais fatos expressam a produção de uma atitude pedagógica com finalidade reflexiva. Entende-se como de suma importância que o educador enquanto filósofo da educação reflita sobre a problemática educacional ao qual ele está inserido e que este busque um significado existencial para sua prática. 5 Referências CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997. BENINCÁ, Elli. Pedagogia e senso comum. In: DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006. DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006. ERICSON, David P. Orientação para a filosofia da educação. 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Atualmente, professora adjunto 3 da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: pedagogia, epistemologia da pedagogia, formação docente, saberes e prática pedagógica, ensino de filosofia. E-mail: [email protected] ii Estudante do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Bolsista de Iniciação Científica (CNPq/UFPI) na área de Filosofia da Educação. Atualmente desenvolve pesquisas nas áreas de Filosofia, Filosofia da Educação, Filosofia para Crianças e Kant. E-mail: [email protected]