DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO E CRESCIMENTO INICIAL DO JUNDIÁ CINZA (Rhamdia quelen) Marcelo Augusto Moreira JUBINI1 (Bolsista interno IFC-Campus Rio do sul); Marlon Guilherme Von PARASKI2 (IFC/Rio do Sul); Isabel C. MÜLLER3 (Coorientador IFC-Campus Rio do Sul); Cesar Ademar HERMES4 (Orientador IFC-Campus Rio do Sul) Introdução O jundiá cinza Rhamdia quelen é um peixe nativo da América Latina, morfologicamente se caracteriza por ter um corpo que não possui escamas e a boca praticamente sem dentes. Habita vários tipos de ambientes, admite temperaturas baixas e possui bom desenvolvimento no verão, na criação em cativeiro a densidade de 2 a 4 peixes/m2 pode alcançar 600 a 800 g de peso em oito meses; a produção do jundiá vem se desenvolvendo gradativamente no sul do Brasil (BOMBARDELLI et al.,2006). O jundiá cinza tem sua maturidade sexual próximo a um ano de idade, seu período de reprodução inicia-se em setembro e termina em abril. Com hábito alimentar onívoro, ou seja, se acostuma a digerir diferentes alimentos. O jundiá cinza possui um bom rendimento em produtividade e carcaça, com carne de boa qualidade, bem aceita no mercado consumista (FORGATI, 2008). O acompanhamento e estudo sobre a evolução dos peixes é de grande interesse por conceder subsídios para conhecimento morfológico e fisiológico da sua espécie. Pouco se sabe de desenvolvimento embrionário de peixes nativos, com o conhecimento adquirido é compreendido os aditamentos, por exemplo, a localização da área de desova, a quantidade e porcentagem de ovos fecundados (NAKAGHI & PAES, 2008). O desenvolvimento embrionário e larval dos peixes, baseado na avaliação da evolução dos ovos produzidos no cativeiro, é importante e útil para a caracterização morfológica e cronológica dos eventos embrionários (ORBOLATO et al., 2006). A importância do acompanhamento do desenvolvimento embrionário pode conter benefícios como temperatura ideal para espécie, maior conhecimento dos embriões que abrange maior desempenho da desova e identificar as más-formações e o baixo índice na produtividade (ALVES & MOURA, 1992). O jundiá cinza 1 Estudante do curso Técnico em Agropecuária; IFC/Rio do Sul; [email protected]. Estudante do curso Técnico em Agropecuária; IFC/Rio do Sul; [email protected] 3 Doutora em Biotecnologia; Docente do IFC/Campus Rio do Sul. E-mail: 2 4 Doutor em Aquicultura; Docente do IFC/Campus Rio do Sul. E-mail: [email protected] tem seu desenvolvimento embrionário mais lento nas águas frias e um desenvolvimento mais rápido nas águas aquecidas (FORGATI, 2008). De acordo com WOYNAROVICH & HORVÀTH (1983) e NAKATANI et al. (2001), o desenvolvimento embrionário pode ser dividido nas seguintes fases: ovo recém-fertilizado, segmentação, blastulação, gastrulação, fechamento do blastóporo, vesícula óptica, vesícula auditiva, liberação da cauda e eclosão. O processo embrionário começa com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, depois de fecundado o ovo concentra água acontecendo à formação da área perivitelino, separado o córion e a membrana vitelina, durante seu desenvolvimento o ovo se nutri com o vitelo durante a embriogênese, que após a eclosão é utilizado para nutrir a larva (LUZ et al, 2001). WOYNAROVICH & HORVÁTH (1983), que consideram “... ovo o período decorrente do momento da fertilização até a eclosão; larva o período seguinte à eclosão até o início da alimentação exógena e pós-larva o período em que inicia alimentação exógena, até cerca de dez dias após”. Apesar de o Brasil possuir um grande potencial na área de aquicultura, há muito que se descobrir e estudar sobre a biologia dos animais aquáticos, principalmente os peixes de água doce (SIVIDANES et al., 2013). Na piscicultura diversos fatos são levados em consideração para a criação de peixes, por exemplo, qualidade da água, quantidade de alimentos primários e quantidade de oxigênio durante o dia e a noite. O objetivo deste trabalho foi acompanhar e registrar, através de registro fotográfico, as fases de desenvolvimento embrionário e larval do jundiá cinza. Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido no Setor de Aquicultura, do IFC/Rio do Sul, no período de 27 de fevereiro a 06 de março de 2014. As matrizes foram capturadas em viveiros de piscicultura, no município de Agrolândia-SC, no dia 27 de março, as 08h00min da manhã; as matrizes foram transportadas para o Setor de Aquicultura. No dia 28 de março, as 02h00min procedeu-se a indução hormonal, a base de hipófise, atrás da barbatana peitoral de cada matriz selecionada. A aplicação aconteceu em dose única de 5,0 mg de hipófise por kg de peso vivo nas fêmeas e 1,5 mg por kg de peso vivo para os machos. Os reprodutores foram alojados em caixas de água de capacidade 250 litros. A temperatura da água foi controlada em 24ºC, através do uso conjunto do aquecedor de água e do aquecedor de ar. A desova ocorreu às 10 horas da amanhã, do dia 28 de março, foi necessário realizar uma massagem nas fêmeas, denominada extrusão, para que houvesse a liberação completa dos ovócitos; estes foram coletados em pequenas bacias, acrescentando o esperma dos machos e lá ficaram por um minuto para que ocorresse a fecundação; após esta etapa os óvulos foram colocados em duas incubadoras, ligadas ao sistema de recirculação de água; durante o processo de incubação foram realizadas amostragens fotograficas. As fotografias foram realizadas por uma máquina digital e com auxílio de microscópio estereoscópico. Após a desova, em um intervalo de meia-hora em meia-hora, foram obtidas fotos do desenvolvimento inicial do óvulo até a fase de blástula, desta ao fase até o fechamento do blastóporo, foram fotografadas as amostras em intervalos de 01 hora; após o diferenciação do embrião até a larva recém-eclodida foram fotografadas as amostras de 2 em 2 horas; desta fase até o início do consumo do saco vitelino as larvas foram fotografadas em intervalos de 4 horas até o inicio da alimentação exógena. Após a obtenção das fotografias, formas realizadas comparações com a descrição das fases de desenvolvimento na bibliografia e identificado em qual momento está respectiva fase se manifestou nos ovos e larvas avaliados. Resultados e discussão A desova ocorreu às 10 horas, do dia 28 de março de 2014. Os ovócitos apresentavam a forma pequena, achatada e murcha. Após 01h45min de incubação, os ovos entraram na sua primeira fase, que consiste em divisão de 4 a 8 células. Foi perceptível a formação da mórula após 02h44min de incubação, a temperatura média de 25ºC; SIVIDANES et al (2012), obteve a formação da mórula em 01 hora e 30 minutos, com a temperatura da água em 27ºC. A fase de blástula caracteriza-se por uma fase com surgimento de espaços irregulares ou cavidade no tecido formado pelas células constituintes do blastoderme no polo germinativo (SIVIDANES et al. 2012); neste trabalho observou-se a formação da blástula após 03h00min de incubação. A fase da gástrula é distinguida como sendo a fase que as camadas de células do blastoderme formam um tecido para recobrir todo o vitelo (KUNZ, 2004). Após 12h43min de incubação apresenta a gástrula inicial. O tecido formado em torno do ovo, na fase de fechamento do blástoporo, marca onde será extremidade da cauda do embrião e após essa etapa forma-se o intestino primitivo (NAKATANI et al. 2001). Após 15h43min de incubação ocorreu o fechamento do blástoporo. A diferenciação do embrião inicia com desenvolvimento da cauda e a cabeça, sem movimentos dentro do ovo, após 16h42min de incubação. Diferenciação da cauda é observada quando o corpo do embrião, tendo a cabeça e a cauda definidas, realiza pequenos movimentos natatórios dentro do ovo; estes movimentos rotatórios foram observados após 18h44min de incubação. A diferenciação da cabeça ocorre com visualização da boca e olhos, nesta fase é perceptível o coração pulsando e o embrião continua a realizar movimentos natatórios. Esta fase foi observada após 26h42min de incubação. Forma observadas larvas recém-eclodidas após 29h44min de incubação; as larvas possuíam vitelo, e nadavam conforme os movimentos que realizavam ainda dentro do ovo. A formação dos barbilhões ocorreu após 54h25min de incubação, ainda com o vitelo e com a estrutura do corpo bem definida, nadando rapidamente, coração pulsando e o sangue quase transparente circulando no corpo. Os barbilhões estavam formados após 79h03min de incubação, já sem o vitelo, começa a se alimentar e formação dos órgãos do sistema digestivo, iniciando a pigmentação, com barbilhões longos para seu tamanho, nadando normalmente. Após 79h00min de eclosão, as larvas estão pigmentadas, e começam a surgir pequenas pigmentações de cor cinza nas lavas, lembrando assim seus descendentes; o vitelo foi consumido totalmente, já realiza comportamentos básicos de sobrevivência, larva está no final da fase inicial de sua vida. Conclusão Ficaram evidentes as fases do desenvolvimento embrionário do jundiá cinza, identificado às etapas morfológicas e formação dos órgãos internos e externos dos embriões. A temperatura da água foi oscilante, que pode ter afetado e atrasado sua embriogênese e o intervalo das fotos foi muito longo, não registrando perfeitamente seus estados. Referências ALVES, M.S.D.; MOURA, A. Estádios de desenvolvimento embrionário de curimatãpioa Prochilodus affinis (Reinhardt, 1874) (Pisces, Prochilodontidae). In: ENCONTRO ANUAL DE AQUICULTURA DE MINAS GERAIS, Belo Horizonte,1992. CODEVASF.1992, p.61-71. FORGATI, Mariana. Crescimento e Tempo de Desenvolvimento Embrionário do Jundiá (Rhamdia quelen) Incubados em Diferentes Temperaturas. Monografia do curso de bacharel em Ciências Biológicas. UFPR: Curitiba, 2008. 37 pg. LUZ, R K.; REYNALTE-TATAJE, D. A.; FERREIRA, A .A.; ZANIBONI-FILHO,E. Desenvolvimento Embrionário e Estágios Larvais do Mandi-amarelo. Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo. V. 27 (1), 2001, p. 49 – 55. NAKATANI, K. et al. Ovos e larvas de peixes de água doce, desenvolvimento e manual de identificação. Maringá: UEM, 2001. NAKAGHI Dra L. S. 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