Economia nacional

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O DESAFIO DE ELEVAR A TAXA DE INVESTIMENTO
NOVEMBRO DE 2009
Investimento – a “perna” que faltava andar já está andando
O crédito público, os impulsos fiscais e a resiliência do mercado de trabalho sustentaram o consumo, garantindo uma forte retomada da
economia já a partir do 2T09. Agora é a vez do investimento se recuperar, devendo ser puxado por construção civil, confiança
empresarial, menor ociosidade, crédito privado e estímulos do governo via BNDES. Com ajuda de uma expansão de quase 15% do
Investimento em 2010, o crescimento do PIB deverá atingir 6,0% no próximo ano.
A despeito do nível ainda deprimido, a conjuntura atual já mostra uma rápida recuperação dos investimentos. Até setembro, o setor de bens de
capital, que representa pouco mais de 10% da Produção Industrial Brasileira (IBGE), ainda era o que mais sofreu com os efeitos maléficos da
recessão mundial sobre o investimento, estando com sua produção cerca de 20% abaixo do patamar pré-crise.
Produção de Bens de Capital - Contribuições
para a variação interanual (YoY)
30%
Produção Industrial IBGE (com ajuste sazonal)
110
set-08=100
nível pré-crise
100
20%
90
10%
-10%
-20%
Industriais
Construção
Agrícolas
Energia Elétrica
Equip. Transporte
Misto
70
50
set-08
jan-09
mai-09
set-09
Ao programas governamentais de juro subsidiado para compra de máquinas e caminhões já se refletem claramente em um forte
aumento do número de consultas ao BNDES. O forte crescimento das consultas é uma “proxy” de aumento da demanda por bens de
capital, e explica em parte a recente aceleração das vendas de caminhões e ônibus (que são bens de capital).
Produção de bens de capital vs vendas de veículos
pesados (set/09=100)
100
Bens Semi e Não Duráveis
Bens Intermediários
Bens Duráveis
Bens de Capital
60
-30%
jan-07 mai-07 set-07 jan-08 mai-08 set-08 jan-09 mai-09 set-09
1.
79.5 (-20.5% em
relação a set/08)
80
0%
95
21
Produção de bens de capital
90
Consultas BNDES para bens de capital (R$ bi)
25
Vendas de caminhões e ônibus
17
85
13
80
75
9
70
5
65
set-08
2.
nov-08
jan-09
mar-09 mai-09
jul-09
set-09
1Q06
3Q06
1Q07
3Q07
1Q08
3Q08
1Q09
3Q09
O câmbio real apreciado favorece o barateamento da relação capital/produto, deslocando marginalmente a escolha ótima dos
empresários para uma maior utilização de máquinas (relativamente à mão-de-obra). Isso significa que a apreciação do real, ao reduzir o
preço relativo das máquinas (que são consideradas bens tradeables), estimula um ritmo de expansão do fator capital maior que o ritmo
de expansão da mão-de-obra.
Em um contexto em que a recuperação da economia mundial/local favorece o rápido crescimento da confiança dos empresários, o baixo
custo relativo de aquisição de máquinas é o ingrediente ideal para preparar o “bolo” que servirá para atender ao crescimento da demanda
(que vem produzindo um aumento do Nível de Utilização da Capacidade Instalada). Neste caso, forma-se uma combinação de fatores muito
propícia a uma retomada rápida do setor de bens de capital.
Índice de Confiança da Indústria dessazonalizado
Câmbio real escala invertida
130
2.60
2005
2006
2007
2008
70
2009
NUCI - FGV
%
2009
100
2008
2.44
2007
115
90
2006
2.28
2005
130
2004
2.12
2003
145
110
2002
1.96
2001
160
1996
Câmbio real (escala invertida)
out
ICI-FGV
Média histórica
1.80
1995
175
2000
1.64
FBKF dessazonalizado
1999
190
1998
Câmbio real versus Investimento
1997
FBKF
mar/03=100
proj
com Ajuste Sazonal
87
NUCI dessaz
85
Média 2000-2008
83
81
out/09
82,9%
79
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
1996
1995
77
Mas a forte recuperação do investimento em 2010 é sustentável a longo prazo?
Com relação ao período posterior a 2010, existe também um grande otimismo com relação à recuperação dos investimentos no Brasil, o que
poderia engendrar possibilidades maiores de crescimento não-inflacionário no longo prazo. Existe uma forte expectativa de que a Copa do Mundo
de Futebol em 2014 e as Olimpíadas de 2016 suscitem uma forte onda de investimentos públicos e estrangeiro no Brasil.
O tema que poucos tocam, no entanto, seja por desconhecimento ou por desinteresse, é qual a fatia da economia que deverá poupar mais para
gerar os recursos necessários à empreitada desses investimentos. Neste ínterim, admitem-se incertezas a respeito dessa resposta, mas a
realidade não admite inconsistências, tornando inexeqüível algumas políticas econômicas que almejam alcançar muitos objetivos
simultaneamente, tais como buscar estimular o consumo e o investimento ao mesmo tempo em que se restringe a entrada de capitais. Isto ocorre
porque se a alta do investimento não for financiada com poupança doméstica, esta deverá ser necessariamente financiada com poupança externa,
e, portanto, o capital externo será neste caso necessário para financiar o excesso de gasto doméstico (público e/ou privado).
Neste sentido, para elucidar alguns pontos deste tema, realizamos duas simulações nas quais a taxa de investimento sobe de cerca de 16% no
final deste ano para 21% em 2016. Esta elevaria a taxa de investimento para um nível que ainda não seria o ideal, dado que seria insuficiente para
permitir níveis de crescimento muito acima de 5,0% a ao ano, mas entendemos que este é um cenário possível de ser entregue. Em ambas as
simulações, consideramos a hipótese de termos de troca constantes ao longo do período 2010-2016. Se o governo quiser dispensar a ajuda da
poupança externa, por meio de controles de capitais, o objetivo de entregar esta alta da taxa de investimento em relação ao PIB (de cerca de 5
p.p.) exigiria o encolhimento de algum outro segmento no PIB, de forma a entregar a sua fatia do total para o investimento.
% do
PIB
Taxa do Investimento/ PIB
23%
projeção
21.2%
20.5%
21%
19.8%
19.2%
18.9%
19%
18.6%
17.8% 18.0%
17.51%
17%
16.5%
15%
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
A primeira simulação, mostrada através dos gráficos abaixo, considera que o governo e as famílias promoverão um ajuste em torno de 2,5% do
PIB cada, totalizando um aumento da poupança privada em torno de 5% do PIB, a ser realizado após 2011. A poupança pública subiria em
resposta ao ajuste fiscal e a poupança das famílias subiria em resposta a ajustes na política monetária e/ou queda das transferências
governamentais. Desta forma, o déficit em conta corrente não precisaria subir do nível atual, estabilizando-se em 2% do PIB. Este ajuste fiscal e
na poupança das famílias, portanto, ainda não dispensaria uma entrada de capitais equivalente a 2% do PIB ao ano. Ou seja, mesmo com estes
ajustes o governo não conseguiria dispensar a entrada de capitais via Investimento Direto, Ações e/ou Renda Fixa.
% do
PIB
Dinâmica do consumo público+privado no PIB
86%
projeção
84%
% do
PIB
Dinâmica do déficit em conta corrente no PIB
4%
3%
2%
1%
82%
0%
80%
-1%
projeção
-2%
78%
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
A segunda simulação (abaixo) mostra um cenário no qual o governo não promove ajuste fiscal e ainda assim quer alcançar 21% de investimentos
em 2016. Neste caso, as famílias também não elevam a sua taxa de poupança, com consumo crescendo em linha com o crescimento do PIB.
Mantendo-se a participação do governo e do consumo das famílias na economia, a ampliação da taxa de investimento para 21% em 2016
seria exeqüível, se e somente se, o mundo se dispusesse a financiar um aumento do déficit em conta corrente para 7% do PIB e o
governo aceitasse um ritmo de entrada líquida de capitais mais de três vezes superior ao atual (i.e. uma conta capital igual a 7% do PIB).
% do
PIB
86%
Dinâmica do consumo público+privado no PIB
% do
PIB
Dinâmica do déficit em conta corrente no PIB
8%
projeção
6%
84%
4%
82%
2%
80%
0%
78%
-2%
projeção
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
O BOLETIM DE ATIVIDADE ECONÔMICA é uma publicação editada e produzida pela Sup. de Pesquisa Econômica e Estratégia do Itaú Unibanco Asset Management - WMS - Banco Itaú S/A. Todas as informações
contidas nesta publicação são baseadas na conjuntura e nas condições atuais do mercado. O BANCO ITAÚ não se responsabiliza por decisões de investimento tomadas com base nos dados ou análises aqui divulgados.
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