caracterização estrutural da associação epifítica e endofítica

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CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DA ASSOCIAÇÃO EPIFÍTICA E
ENDOFÍTICA ENTRE MICRORGANISMOS E PLANTAS EM UM
AMBIENTE AGRÍCOLA TROPICAL.
LÍLIAN ESTRELA BORGES
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
MARÇO - 2006
CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DA ASSOCIAÇÃO EPIFÍTICA E
ENDOFÍTICA ENTRE MICRORGANISMOS E PLANTAS EM UM
AMBIENTE AGRÍCOLA TROPICAL.
LÍLIAN ESTRELA BORGES
Dissertação apresentada ao Centro de
Biociências e Biotecnologia da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro,
como parte das exigências para obtenção do
título de Mestre em Biociências e Biotecnologia,
com ênfase em Biologia Celular.
ORIENTADOR: PROF. FÁBIO LOPES OLIVARES
CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ
MARÇO - 2006
SUMÁRIO
RESUMO......................................................................................................................1
ABSTRACT..................................................................................................................2
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................3
2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................4
2.1. Biodiversidade e Sistemas Tropicais................................................................4
2.2. Interações entre plantas e bactérias.................................................................6
2.3. Bactérias endofíticas.......................................................................................11
2.4. Aplicação de bactérias endofíticas na agricultura e biotecnologia..................15
2.5. Bactérias epifíticas e biofilme..........................................................................16
2.6. Aplicação de bactérias epifíticas na agricultura e biotecnologia.....................20
2.7. Anatomia vegetal e microscopia aplicada ao estudo das interações entre
plantas e bactérias.....................................................................................................21
3. OBJETIVOS...........................................................................................................23
3.1. Objetivo geral..................................................................................................23
3.2. Objetivos específicos.......................................................................................23
4. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................24
4.1. Caracterização agroecológica do local de coleta............................................24
4.1.1. Caracterização dos diferentes agroecossistemas........................................25
4.2. Material botânico.............................................................................................26
4.3. Processamento de amostras para microscopia ótica......................................29
4.4. Processamento de amostras para microscopia eletrônica de varredura........30
5. RESULTADOS.......................................................................................................32
5.1. Bactérias epifíticas nas amostras da lâmina foliar..........................................32
5.2. Fungos epifíticos nas amostras da lâmina foliar.............................................42
5.3. Microrganismos epifíticos nas amostras da raiz..............................................42
5.4. Microrganismos endofíticos.............................................................................42
6. DISCUSSÃO..........................................................................................................56
6.1. Microrganismos epifíticos nas amostras da lâmina foliar................................56
6.2. Microrganismos epifíticos nas amostras da raiz..............................................64
6.3. Microrganismos endofíticos.............................................................................65
7. CONCLUSÕES......................................................................................................67
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................68
AGRADECIMENTOS
Ao Marihus, aos meus pais, Antônio e Maeli, e aos irmãos, Lavínia e
Leonardo, pelo apoio, incentivo, confiança e carinho, dedico esse trabalho.
Ao Professor Fábio Lopes Olivares, pela orientação e ensinamentos nesses
anos de convívio.
À Professora Maura da Cunha, pela revisão e sugestões, essenciais para a
melhoria dessa dissertação.
Ao Sr. Husdonil e à Sra. Marília, pela possibilidade de realização desse
estudo na propriedade rural Pedra Lisa e por toda a atenção e carinho.
Aos membros da comissão examinadora do projeto, Prof. Silvaldo Felipe da
Silveira, Profa. Maura da Cunha, Profª. Kátia Valevski Sales Fernandes, e aos
membros da comissão examinadora da dissertação, Prof. Flávio Costa Miguens,
Prof. José Roberto Vieira Júnior, Prof. Reginaldo da Silva Romeiro, por todas as
críticas e sugestões.
Ao Marihus, pela colaboração durante a coleta do material botânico e
caracterização agroecológica da propriedade.
À Beatriz, Giovana, Ricardo, Rosane e Noil, pelo apoio técnico durante o
preparo das amostras e utilização dos microscópios.
A todos os professores, colegas e funcionários do Laboratório de Biologia
Celular e Tecidual, pelo aprendizado que de alguma forma me proporcionaram e
pela amizade e convívio tranqüilo durante esses anos. Em especial aos amigos
do grupo de pesquisa, Erineudo, Lúcia e Vanessa, pela amizade e por todos os
auxílios.
À Universidade Estadual do Norte Fluminense, ao Centro de Biociências e
Biotecnologia e ao Laboratório de Biologia Celular e Tecidual, pela oportunidade
de realização desse trabalho.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pela bolsa concedida.
RESUMO
Atualmente, a tendência do setor agrícola é utilizar técnicas e estratégias
biotecnológicas para aumentar a produção, aliada à qualidade do produto e
preservação ambiental. Nesse contexto, os estudos sobre bactérias epifíticas e
endofíticas, que colonizam respectivamente a superfície e o interior de plantas
assintomáticas se destacam, pois essas bactérias podem contribuir para o
crescimento e desenvolvimento da planta hospedeira, além de atuarem no equilíbrio
dinâmico dos ecossistemas. Entretanto, a caracterização estrutural da interação
entre a flora tropical e bactérias em ambiente natural ainda tem sido pouco
explorada.
Logo,
o
presente
estudo
teve
como
objetivo
caracterizar
a
micromorfologia e anatomia da associação natural epifítica e endofítica entre
microrganismos e plantas em um ambiente agrícola tropical. Foram coletadas
amostras de raízes e folhas sem sintomas de doença, de quarenta e sete espécies
vegetais, pertencentes a vinte e oito famílias botânicas, em uma pequena
propriedade rural localizada no município de Jerônimo Monteiro, ES, e processadas
para microscopia ótica e microscopia eletrônica de varredura. Em todas as espécies
vegetais foi observada colonização microbiana. As bactérias foram os colonizadores
mais abundantes do filoplano, seguido por fungos, na forma de esporos e de hifas.
Predominaram nas superfícies foliares bactérias no formato de bastonete, seguido
por cocos, aderidos à parede periclinal externa das células epidérmicas e tricomas
por adesão apolar. As bactérias estavam presentes no filoplano como células
solitárias, ou formando microcolônias, ou estruturadas em biofilmes. Houve o
predomínio de biofilmes multiespecíficos, compostos por bactérias e fungos. Os
locais preferenciais de estabelecimento bacteriano epifítico foram as flanges
cuticulares, os tricomas secretores, os tricomas tectores, os complexos estomáticos
e as nervuras. Os caracteres anatômicos influenciaram no estabelecimento da
microbiota epifítica, sendo a presença de tricomas uma característica favorável, e a
presença de cera epicuticular do tipo plaqueta uma característica desfavorável à
interação bactéria-planta. A microscopia eletrônica de varredura, aliada à
microscopia ótica, foram ferramentas eficazes para o estudo estrutural da interação
epifítica entre microrganismos e a planta hospedeira. Colonização endofítica fúngica
foi observada nas amostras radiculares como associações micorrízicas.
ABSTRACT
Nowadays, the tendency of the agricultural section is to use biotechnologycal
techniques and strategies to increase production, allied to the quality of the product
and environmental preservation. In this context, the study of epiphytic and endophytic
bacteria, which colonize, respectively, the surface and the interior of healthy plant
tissues stand out, because those bacteria can contribute for plant host growth and
development, besides they act in the dynamic balance of the ecosystems. However,
the structural characterization of the interaction between tropical flora and
microorganisms in natural environments has still been little explored. In this direction,
the objective of this study was to characterize the micromorfology and anatomy of
epiphytic and endophytic natural associations between microorganisms and healthy
plants in a tropical agro-environment. Roots and leaves samples were collected from
forty seven plant species, belonging to twenty-eight botanical families, in a small rural
property located in Jerônimo Monteiro, ES., and processed for light microscopy and
scanning electron microscopy. In all plants, microbial colonization was observed,
being bacteria the most abundant settlers of the phylloplane, followed by fungi spore
or hyphae. Bacteria with rod cell shape prevail in leave surface, followed by coccoide
cell, adhered to the epiderm cell wall by apolar attachment. Bacteria occurred, on the
phylloplane, as a solitary cell, or forming microcolonies, or structured in biofilm.
Multiespecific biofilm, composed by bacteria and fungi, prevail on the phylloplane.
The preferencial sites of phylloepiphytic bacteria establishment were epidermal cell
wall junctions, glandular trichomes, non-glandular trichomes, stomata and veins. The
anatomical characters influence the epiphytic microorganism establishment, being
the presence of trichomes a favorable caracter and the presence of epicuticular wax
like plates an unfavorable caracter for plant-bacteria interaction. Scanning electron
microscopy, allied to light microscopy, can be considered important tools for
structural studies of phylloepyphytic associaions between microorganisms and host
plant. Fungi endophytic colonization was observed in root samples like mycorrhiza.
1. INTRODUÇÃO
As plantas abrigam microecossistemas complexos, possuindo diferentes
habitats, explorados por bactérias benéficas, como as simbióticas, e por bactérias
maléficas, como as fitopatogênicas.
Há mais de 50 anos, diversos trabalhos têm demonstrado que as bactérias
presentes epifiticamente (Lindow & Brandl, 2003) e endofiticamente (Hallmann et al.,
1997; Sturz et al., 2000; Lodewyckx et al., 2002) podem ser isoladas de tecidos
vegetais sadios, não estabelecendo de forma clara interações simbióticas ou
patogênicas.
Recentemente, foi descoberto que essas bactérias podem conferir vários
benefícios ao seu hospedeiro, como promoção do crescimento vegetal (Baldani et
al., 1997; Cássan et al. 2001) e maior resistência a condições de estresse biótico e
abiótico (Whipps, 2001; Zahir et al., 2003), além de possuírem uso biotecnológico
(Lindow & Leveau, 2002). Portanto, as definições de bactérias epifíticas e
endofíticas, que antes se referiam apenas à localização do microrganismo, evoluem
para representar associações entre bactérias e plantas saudáveis (Andrews &
Harris, 2000; Baldani et al., 2002).
As bactérias epifíticas e endofíticas apresentam uma ampla diversidade
genética e metabólica (Andrews & Harris, 2000; Yang et al., 2000) e atuam
diretamente nos ciclos biogeoquímicos de nutrientes e no crescimento e
desenvolvimento vegetal (Baldani et al., 1997; Gilbert et al., 1998; Bloemberg &
Lugtenberg, 2001). Apesar de possuírem importância global e local no equilíbrio
dinâmico dos ecossistemas, são escassos os levantamentos sobre as associações
naturais entre bactérias epifíticas e endofíticas com a planta hospedeira em
ambientes tropicais.
Questionamentos básicos ainda persistem, como: quais espécies vegetais
são colonizadas por bactérias epifíticas e endofíticas? Existem diferenças nos
padrões de colonização e estabelecimento epifítico e endofítico considerando órgãos
vegetais,
famílias
botânicas
e
espécies
vegetais?
Como
é
caracterizada
anatomicamente a interação entre bactérias epifíticas e endofíticas com a planta
hospedeira?
Nessa direção, a anatomia vegetal aliada à microscopia, pode ser utilizada
de forma promissora para elucidar essa interação, pois permite observar e
caracterizar o microrganismo em seu habitat natural, gerando informações sobre a
estrutura, localização e distribuição dos mesmos nos microecossistemas vegetais.
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo caracterizar
estruturalmente a associação natural epifítica e endofítica entre microrganismos e
plantas em um ambiente agrícola tropical.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Biodiversidade em Sistemas Tropicais
Diversidade biológica ou biodiversidade é a variabilidade de organismos
vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas
terrestres, marinhos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo
ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas (BrasilM.M.A., 1998).
A biodiversidade, juntamente com os fatores abióticos, é responsável pela
manutenção da estabilidade dos ecossistemas, bem como, fonte inestimável de
recursos econômicos potencialmente exploráveis. Neste sentido, além de seu valor
intrínseco, a diversidade biológica possui valores ecológicos, genéticos, sociais,
econômicos, científicos, educacionais, culturais, recreativos e estéticos (OdaliaRímoli et al., 2000).
Wilson (1997) sugere que os ecossistemas tropicais são os ambientes que
apresentam a maior biodiversidade, porém, estão sofrendo um processo de
acelerada degradação, que pode ocasionar perdas irreversíveis através da extinção
de inúmeras espécies.
Os sistemas tropicais possuem características diferenciadas dos sistemas
temperados, referentes não apenas a localização geográfica e ao clima, com
temperaturas mais elevadas e constantes durante o ano, mas também, em relação
aos solos, bastante intemperizados, naturalmente inférteis e resilientes. Segundo
Novais & Smyth (1999), com o aumento do intemperismo, os solos se tornam mais
eletropositivos, resultando em uma diminuição da capacidade de troca catiônica e
aumento da retenção de ânions como o fosfato, sulfato e molibdato. Logo, os solos
passam gradualmente de fonte para dreno de nutrientes.
Por
apresentarem
características
peculiares,
os
sistemas
tropicais
necessitam serem estudados de forma constante e interdisciplinar, pois só com a
compreensão integral da dinâmica desse ambiente, poderão ser criadas técnicas de
manejo agrícola sustentáveis.
O Brasil possui a maior diversidade biológica do planeta, tanto em relação
às potencialidades genéticas, como em relação ao número de espécies e
ecossistemas (Odalia-Rímoli et al., 2000). O país possui também a mais alta taxa de
endemismo, além de utilizar diversas espécies exóticas, que representam a base
para as atividades agropecuárias (Brasil-M.M.A., 1998).
Segundo Altieri (2002), nos agroecossistemas, a biodiversidade além de ser
fornecedora de matéria-prima, apresenta importantes funções ecológicas, como a
reciclagem de nutrientes, regulação do microclima, supressão de organismos
indesejados e detoxificação de compostos químicos. Portanto, é de fundamental
importância que se intensifique a implementação de programas de pesquisa na
busca da compreensão e de um melhor aproveitamento da diversidade biológica.
Dados sobre o número de espécies atualmente conhecidas e a estimativa
das que estão por ser descobertas estão presentes na tabela 1.
Tabela 1. Participação das espécies conhecidas e estimadas da população de espécies existentes,
adaptado de Azevedo (1999) e Manfio (2003).
Número de espécies
Grupos
Conhecidas (C)
Estimadas (E)
% C/E
Bactéria
4.700
40.000 a 3.500.000
< 12,00
Fungi
69.000
1.500.000
4,60
Protoctista
30.800
100.000
30,80
Plantae
307.750
3.010.000
10,22
Animalia
9.827.000
80.615.000
12,19
5.000
130.000
3,84
Vírus
O levantamento indica que os conhecimentos atuais a respeito da
diversidade biológica ainda são bastante incipientes, principalmente em relação aos
microrganismos. Sem conhecê-los, torna-se impossível preservá-los e utilizá-los.
Além dos prejuízos na biota local, a diminuição da diversidade microbiana
pode causar danos em escala global. Segundo Gilbert et al. (1998), as bactérias
metanotróficas oxidam mais da metade do metano produzido na Terra, para
obtenção de energia e como fonte de carbono. Esses microrganismos impedem que
o metano atinja altas concentrações, o que poderia resultar em um aumento da
temperatura do globo e causar diversas alterações químicas na atmosfera. As
bactérias metanotróficas estão presentes no solo e também colonizam os tecidos de
plantas, como, por exemplo, plantas de arroz, sendo responsáveis pela oxidação de
10 a 50 % do metano produzido nos campos de arroz inundado.
Sendo assim, as interações entre bactérias e plantas são de extrema
importância para a manutenção do equilíbrio nos diversos ecossistemas. Há a
necessidade de estudos contínuos para elucidar a dinâmica das diferentes
associações entre plantas e microrganismos, gerando informações relevantes para o
desenvolvimento de técnicas e estratégias aplicadas na agricultura e biotecnologia.
2.2. Interações entre plantas e bactérias
Os fisiologistas e anatomistas vegetais, freqüentemente, consideram as
plantas como organismos únicos, desconsiderando a existência de associações
microbianas. Entretanto, o avanço da ciência vem demonstrando que as plantas
podem abrigar microecossistemas complexos, possuindo diferentes habitats,
explorados por uma ampla variedade de bactérias (Hallmann et al., 1997; KuklinskySobral, 2004).
Os habitats incluem tanto a superfície externa do vegetal (rizoplano e
filoplano), onde bactérias denominadas epifíticas predominam, quanto o interior das
plantas, onde predominam bactérias endofíticas (Lodewyckx et al., 2002). Para
Hallmann et al. (1997), essa distinção nem sempre é de fácil percepção, pois existe
um gradiente entre esses grupos bacterianos, ou seja, há populações que podem
flutuar entre a colonização epifítica e endofítica.
Diversos fatores bióticos e abióticos, tais como: a presença de outros
microrganismos
associados
à
planta,
presença
de
nematóides
parasitas,
características edafoclimáticas, tipo de tecido vegetal e características da própria
bactéria, podem influenciar na colonização e distribuição de bactérias na planta
hospedeira (Kuklinsky-Sobral, 2003).
As
bactérias
utilizam
várias
estratégias
para
colonizarem
os
microecossistemas vegetais, incluindo interações benéficas, através de bactérias
simbióticas e interações maléficas, causadas pela ação de bactérias fitopatogênicas
(Montesinos et al., 2002).
As bactérias fitopatogênicas são conhecidas pelos cientistas desde a
segunda metade do século XIX, sendo consideradas importantes patógenos de
plantas,
pois
provocam
graves
enfermidades
em
culturas
exploradas
economicamente e são de difícil controle (Romeiro, 1995). Para ocorrer a doença é
necessário que se estabeleça uma interação dita compatível, na qual a bactéria é
fitopatogênica, a planta é sua hospedeira suscetível e o ambiente apresenta
condições favoráveis à interação (Romeiro, 1995; Agrios, 1997; Montesinos et al.,
2002).
O processo patogênico depende, primeiramente, que ocorra migração e
adesão da bactéria à superfície da planta hospedeira, para posteriormente, ocorrer a
infecção (Leite et al., 2001). A penetração ocorre principalmente de forma passiva,
sem o rompimento mecânico ou enzimático do sistema de revestimento das plantas,
podendo ser através de aberturas naturais, como estômatos, hidatódios, nectários,
lenticelas, flores, ou através de ferimentos causados pelo vento, chuva, insetos,
nematóides, fungos, abscisão de folhas, tratos culturais e durante a emergência de
raízes laterais e adventícias. Tanto as substâncias secretadas pelas aberturas
naturais como os exsudados de fluido intercelular dos ferimentos podem exercer
quimiotactismo positivo sobre as bactérias (Ponte, 1980; Huang, 1986; Romeiro,
1995; Agrios, 1997).
Segundo Romeiro (1995), a bactéria coloniza um determinado tipo de tecido
vegetal,
dependendo
do
tipo
de
interação
bactéria-planta,
do
grau
de
susceptibilidade do hospedeiro, do grau de agressividade da bactéria, do modo e
local de penetração e das condições ambientais. Porém, é consenso que as
fitobactérias são parasitas extracelulares, colonizando preferencialmente os espaços
intercelulares e os vasos do xilema. A colonização dos espaços intercelulares resulta
em sintomas como manchas, podridão-mole, hipertrofia e morte dos meristemas
apicais e a colonização dos vasos do xilema resulta em sintomas como murcha,
morte dos meristemas apicais e cancros.
As bactérias fitopatogênicas podem apresentar em seu ciclo de vida as
fases patogênica, saprofítica, residente e latente. Na fase patogênica as bactérias
demandam nutrientes dos tecidos vegetais vivos, resultando em doença no
hospedeiro. Quando os nutrientes são obtidos de restos vegetais em decomposição,
as bactérias são denominadas saprófitas. Na fase residente, as bactérias estão
presentes na superfície das plantas, obtendo nutrientes dos exsudados de seus
órgãos, sendo capazes de se multiplicarem sem infectar o hospedeiro. Na fase
latente, as bactérias encontram-se no interior da planta, em baixas populações,
tendo sua multiplicação paralisada e os sintomas não se evidenciam (Leben, 1981).
A disseminação de doenças nas espécies vegetais é limitada, pois a
interação patógeno-hospedeiro tende a ser específica e as plantas possuem
diversos mecanismos de defesa contra os ataques microbianos (Mithöfer, 2002).
A especificidade da interação entre bactérias patogênicas e planta
hospedeira é explicada pela necessidade de um reconhecimento gênico mútuo. As
bactérias possuem um gene avirulento (avr) homólogo ao gene de resistência (R) da
planta. Uma combinação não complementar desses genes resulta na interação
compatível denominada doença, enquanto a combinação complementar desses
genes resulta na interação incompatível, na qual há o estímulo dos mecanismos de
defesa da planta hospedeira (Montesinos et al., 2002).
As plantas, durante sua evolução, vem desenvolvendo várias estratégias de
adaptação e resistência às condições ambientais adversas (Margis-Pinheiro et al.,
1999). Os mecanismos de defesa são classificados em constitutivos, expressos
como uma característica inerente ao desenvolvimento do organismo, e induzidos,
expressos em função do contato com o agente invasor. Ambos mecanismos podem
atuar utilizando aspectos estruturais, baseados na anatomia e ultraestrutura vegetal
e aspectos químicos, referentes aos compostos químicos com atividade biológica de
defesa, sintetizados pelas plantas (Shewry & Lucas, 1997; Sticher et al., 1997;
Mauch-Mani & Métraux, 1998; Montesinos et al., 2002).
As defesas constitutivas ou preexistentes variam conforme a espécie
vegetal, podendo ser reconhecida, por exemplo, pela presença de cutícula espessa.
Segundo Kerstiens (1995), a cutícula pode atuar de forma direta contra a penetração
de patógenos através da formação de uma barreira mecânica, e de forma indireta,
reduzindo a retenção de água na superfície vegetal e protegendo a planta contra
danos mecânicos. Outros caracteres anatômicos como a organização da parede
periclinal externa, a periderme, a coifa, os apêndices epidérmicos, podem também
dificultar a infecção, colonização e reprodução do patógeno no hospedeiro
(Bergamin Filho et al., 1995). Assim como a presença de diversos metabólitos
secundários, saponinas (Osbourn, 1996), compostos fenólicos (Beckman, 2000) e
proteínas
constitutivas
(Shewry
&
Lucas,
1997)
que
possuem
atividade
antimicrobiana. Os taninos, por exemplo, um tipo de composto fenólico
freqüentemente encontrado em tecidos vegetais, inibem enzimas extracelulares
microbianas e diminuem as fontes nutricionais dos patógenos através da
complexação de íons metálicos, sendo a concentração de tanino mínima inibitória
para bactérias entre 0,012 e 1 g L-1 (Scalbert, 1991).
A resistência induzida pode ser local ou sistêmica. A defesa local é
reconhecida, por exemplo, pela reação de hipersensibilidade (HR), que é a morte
rápida das células vegetais situadas no local de infecção, limitando a proliferação do
patógeno e adicionalmente, produzindo moléculas sinalizadoras que induzem a ação
de diversos genes relacionados com a defesa (Margis-Pinheiro et al., 1999; Cohn et
al., 2001; Gara et al., 2003).
Uma variedade de mudanças metabólicas pode ocorrer associadas com
HR, incluindo a produção de espécies reativas de oxigênio, como os superóxidos
(Gara et al., 2003), explosão oxidativa (Doke et al., 1996), mudança no fluxo iônico
(Cohn et al., 2001), espessamento da parede celular perto do local de infecção
(Margis-Pinheiro et al., 1999), síntese de fitoalexinas (Romeiro, 2001; Grayer &
Kokubun, 2001), síntese de proteínas relacionadas à patogênese (proteínas PR)
(Shewry & Lucas, 1997; Loon & Strien, 1999; Okushima et al., 2000), e produção de
moléculas sinalizadoras como o óxido nítrico (Cohn et al., 2001) e o ácido salicílico
(Mauch-Mani & Métraux, 1998).
A defesa induzida também pode ser sistêmica, através da resistência
sistêmica adquirida sinalizada pelo ácido salicílico, ou através da resistência
sistêmica induzida, que requer a presença de alguns microrganismos (Sticher et al.,
1997; Mauch-Mani & Métraux, 1998). A resistência sistêmica protege a planta contra
novos ataques de um mesmo patógeno, sendo na literatura, freqüentemente
associada com o processo de imunização que ocorre em animais (Margis-Pinheiro et
al., 1999). Sticher et al. (1997) relatam que rizobactérias promotoras de crescimento,
localizadas na rizosfera, podem induzir SIR no caule e nas folhas, protegendo a
planta de vários patógenos.
Além das interações patogênicas citadas acima, as plantas se associam
com vários microrganismos considerados simbiônticos, resultando em melhorias no
seu crescimento e desenvolvimento. A simbiose pode ser definida como uma
melhoria recíproca dos organismos, sendo que o fluxo bilateral de nutrientes não é
uma característica requerida de forma exclusiva, qualquer efeito protetor entre
organismos, que aumente a capacidade de sobrevivência ou reprodução, é
suficiente para que se configure uma relação simbiôntica (Selosse et al., 2004).
Uma simbiose, com relevante importância agronômica e ecológica, ocorre
entre bactérias fixadoras de nitrogênio e leguminosas, por meio da formação de
estruturas altamente especializadas denominadas nódulos. Dentro dos nódulos, as
bactérias,
principalmente
Bradyrizobium,
as
Mesorhizobium,
pertencentes
aos
Sinorhizobium e
gêneros
Rhizobium,
Azorhizobium,
transformam
o
nitrogênio atmosférico (N2) em amônia (NH3). A amônia é assimilada pela planta,
que em contrapartida, supre a bactéria de fotoassimilados, estabelecendo uma
interação mutuamente benéfica (Mithöfer, 2002).
Djordjevic et al. (1987) consideram a associação rizóbio-planta como uma
interação parasítica bastante evoluída, pois exibe seletividade ao hospedeiro e
reconhecimento mútuo. Esses autores sugerem uma seqüência evolutiva na
associação bactéria-planta, que se inicia por uma interação comensalista, na qual as
bactérias se aproveitam dos exsudados vegetais, sendo denominadas saprófitas.
Nessa interação primitiva, as bactérias produzem enzimas não específicas que
destroem o tecido vegetal antes da colonização, logo há pouca seletividade e troca
de sinais. A transição comensalista para parasítica ocorre quando as bactérias
conseguem penetrar e colonizar tecidos vivos, se alimentando dos nutrientes da
própria planta. De alguma maneira, ainda não completamente elucidada, as
bactérias conseguem evitar ou inativar os mecanismos de defesa e colonizar todo o
hospedeiro. O parasitismo mais evoluído é o que causa cada vez menos danos à
planta,
sendo
a
simbiose
considerada
a
mais
bem
sucedida
interação
microrganismo-planta, uma vez que beneficia ambas as espécies através de
mecanismos bastante regulados e específicos.
Muitas espécies bacterianas tem sido isoladas de diferentes tecidos
vegetais sadios (Hallmann et al., 1997; Baldani et al., 2002; Sturz et al., 2000;
Lodewyckx et al., 2002). Essas bactérias, presentes endofiticamente, não são
consideradas patogênicas, pois não provocam sintomas de doenças. Recentemente,
foi descoberto que elas podem conferir vários benefícios ao seu hospedeiro, como
promoção do crescimento vegetal e resistência contra patógenos e parasitas
(Hallmann et al., 1997).
Sendo assim, a definição literal de bactérias endofíticas (“endo” é derivado
da palavra grega “endon” e significa posição interior, e “fito” é derivado da palavra
grega “phyton” e significa planta) referente à localização do microrganismo no
interior da planta evoluiu para descrever a natureza de uma associação entre
bactérias que habitam o interior das plantas sem causar sintomas visíveis de doença
(Baldani et al., 2002).
Hallmann et al. (1997) sugerem que evolutivamente as bactérias endofíticas
são intermediárias entre as bactérias saprófitas e patogênicas, além de especularem
a possibilidade das bactérias endofíticas serem mais evoluídas que as patogênicas
por se nutrirem do hospedeiro sem matá-lo. Essa especulação pode ser reforçada
pela seqüência evolutiva proposta por Djordjevic et al. (1987), que contempla a idéia
de que a mais bem sucedida interação entre microrganismo-planta não apenas
explora os vegetais como fonte nutritiva, mas através do tempo causa menos danos
a planta.
Segundo
Olivares
(1997),
os
endófitos
podem
ter
se
tornado
endossimbiontes pela coevolução. Um achado novo e relevante é o fato das
rizobactérias possuírem genes em um plasmídeo simbiótico ou na ilha simbiótica dos
cromossomos, homólogos aos genes do sistema de secreção tipo-III, utilizado pelas
bactérias patogênicas na transferência dos fatores de virulência para as células
hospedeiras (Freiberg et al., 1997; Göttfert et al., 2001). Resultados recentes
demonstram que o sistema de secreção tipo-III em rizobactérias secretam proteínas
específicas envolvidas no estabelecimento da simbiose (Bloemberg & Lugtenberg,
2001). Assim, as bactérias endofíticas talvez possam ser evolutivamente a transição
entre as bactérias patogênicas e as bactérias simbiontes.
2.3. Bactérias endofíticas
Bactérias endofíticas têm sido reconhecidas por mais de 50 anos em
diferentes tecidos vegetais sem causar sintomas de doença (Terver and Hollis,
1948). Apesar das numerosas investigações a respeito desses microrganismos,
muitos questionamentos e controvérsias ainda necessitam serem elucidados. O
próprio conceito de bactéria endofítica (James & Olivares, 1997; Baldani et al., 2002;
Sturz et al., 2000; LodewycKx et al., 2002) é bastante discutido e sujeito a diferentes
interpretações na literatura.
Kado (1992) definiu bactérias endofíticas como aquelas que colonizam os
interior de plantas sem causar danos ou receber benefícios da interação. Esse
conceito é bastante restritivo, pois desconsidera a possibilidade de ocorrerem
associações simbióticas ou patogênicas entre endófito-planta. No entanto, Quispel
(1992) considera como endofíticas apenas as bactérias que estabelecem uma
endossimbiose com a planta hospedeira. Hallmann et al. (1997) agrupam essas
definições considerando endofíticas as bactérias que podem ser isoladas de tecidos
vegetais desinfetados superficialmente ou extraída do interior de plantas e que não
causa mal ao hospedeiro. Essa definição inclui tanto as associações neutras quanto
as benéficas.
Não existe, portanto, um claro limite entre bactérias endofíticas, patogênicas
e simbiontes. Conclui-se que o conceito de bactérias endofíticas não mais se refere
à localização e sim a função que esses microrganismos exercem no ecossistema,
estando em constante modificação, por depender de informações sobre a
associação endófito-bactéria que ainda não estão completamente compreendidas.
A origem, forma de penetração, colonização e transmissão de bactérias
endofíticas ainda são bastante discutidas. Bactérias endofíticas provavelmente se
originam de sementes, material propagado vegetativamente, rizosfera e filoplano
(Hallmann et al., 1997). A penetração pode ocorrer por aberturas naturais, como
estômatos,
hidatódios,
nectários,
lenticelas
e
por
ferimentos
causados
principalmente pela emergência de raízes laterais, sendo a penetração ativa relatada
em bactérias que secretam celulases e pectinases (Hallmann et al., 1997; ReinholdHurek & Hurek, 1998; Sturz et al., 2000).
A colonização de bactérias endofíticas pode ser local, em um tecido
específico da planta, como o córtex, ou pode ser sistêmica, sendo transportada
através dos elementos condutores ou via apoplástica (James et al., 1994). A
colonização é preferencialmente intercelular, com apenas poucos relatos de
colonização intracelular (Hallmann et al., 1997).
O fato das bactérias serem capazes de colonizar o interior das plantas pode
conferir uma vantagem ecológica e evolutiva comparado com a colonização epifítica.
Os tecidos vegetais podem prover um ambiente mais uniforme e protegido para as
bactérias que a superfície vegetal, por não estarem diretamente exposto às
condições ambientais extremas como incidência de radiação ultravioleta, variação de
temperatura e umidade. No entanto, fatores limitantes internos, como a presença de
compostos com atividade antimicrobiana, existem, e as bactérias têm que ser hábeis
para conseguirem colonizar as plantas endofiticamente (Sturz et al., 2000).
O estudo de bactérias endofíticas, por muitos anos utilizou-se dos métodos
de isolamento e contagem microbiológica. Amostras de plantas eram desinfestadas
superficialmente, utilizando-se diferentes produtos químicos, como hipoclorito de
sódio e peróxido de hidrogênio (Lodewyckx et al., 2002) e posteriormente, eram
trituradas, ou centrifugadas, ou submetidas a vácuo para isolamento bacteriano.
Essas bactérias eram cultivadas em meios artificiais e a população era estimada
através da contagem das colônias, considerando o fator de diluição ou aplicando a
técnica do número mais provável (Hallmann et al., 1997).
Em várias espécies vegetais pertencentes a diferentes famílias botânicas,
interações com bactérias endofíticas foram estudadas através dos métodos de
isolamento aliados ou não com as técnicas de biologia molecular, sem a confirmação
microscópica da presença bacteriana, conforme os exemplos da tabela 2.
Tabela 2. Espécies vegetais que apresentam associações com bactérias endofíticas, constatadas
através dos métodos de isolamento bacteriano aliados ou não as técnicas de biologia molecular, sem
a confirmação microscópica.
Família
Apiaceae
Nome científico
(nome vulgar)
Daucus carota L.
Órgão vegetal
Bactéria
Referência
Raiz
Pseudomonas
Surette et al., 2003
(cenoura)
Staphylococcus
Agrobacterium
Asteraceae
Areaceae
Lactuca sativa L.
Semente, raiz,
(alface)
caule, folha
Cocos nucifera L.
Folha, raiz
(coqueiro)
Bromeliaceae
Fabaceae
Enterobacter
Fernandes et al., 2001
Ananas comosus L.
Raiz, caule,
Azospirillum
Weber et al., 1999;
Merril
folha, fruto
Burkholderia
Tapia- Hernández et
Herbaspirillum
al., 2000
Pantoea
Assis Jr & Adachi,
Enterobacter
2003
Silveira et al., 2004
Ipomoea batatas
Caule
Lam. (batata-doce)
Cucurbitaceae
Gomes et al., 2003
Pseudomonas
(abacaxi)
Convolvulaceae
Bacillus
Cucumis sativus L.
Semente, raiz,
Bacillus
(pepino)
caule, folha
Enterobacter
Phaseolus vulgaris L. Raiz
Rhizobium
(feijoeiro)
Gutiérerz-Zamora &
Martínez-Romero,
2001
Malvaceae
Gossypium hirsutum
Semente, raiz,
L. (algodoeiro)
caule
Não identificada
McInroy & Kloepper,
1990; Adams &
Kloepper, 2002
Continuação da Tabela 2.
Musaceae
Musa spp
Raiz, caule,
Azospirillum
Weber et al., 1999;
(bananeira).
folha, fruto
Burkholderia
Martinez et al., 2003
Herbaspirillum
Poaceae
Brachiaria
Raiz
Herbaspirillum
Olivares et al., 1996
Raiz
Herbaspirillum
Olivares et al., 1996
Raíz
Herbaspirillum
Olivares et al., 1996
Caule, raíz
Azoarcus
Stoltzfus et al., 1997;
decumbens Stapf.
(capim braquiária)
Poaceae
Digitaria decumbens
Stents
(capim pangola)
Poaceae
Melinis minutiflora
Beauv.
(capim gordura)
Poaceae
Oryza sativa L.
(arroz)
Poaceae
Engelhard et al., 2000
Raíz
Herbaspirillum
Olivares et al., 1996
Pennisetum
Raiz, caule,
Azospirillum
Olivares et al., 1996;
purpureum
folha
Herbaspirillum
Kirchhof et al., 1997
Saccharum sp.
Raiz, caule,
Glucanocetobacter Olivares et al., 1996;
(cana-de-açúcar)
folha
Pantoea
Reis Jr et al., 1999;
Azospirillum
Loiret et al., 2004
Panicum maximum
Jacq. (capim
colonião)
Poaceae
Schumach (capim
elefante)
Poaceae
Herbaspirillum
Poaceae
Sorghum bicolor
Raiz
Herbaspirillum
Olivares et al., 1996
Raiz, caule,
Herbaspirillum
Olivares et al., 1996
folha
Rhizobium
Raiz, caule
Glucanocetobacter Jimenez-Salgado et
(sorgo)
Poaceae
Rubiaceae
Zea mays L. (milho)
Coffea arbica L.
(cafeeiro)
al., 1997; FuentesRamírez et al., 2001
Solanaceae
Solanum tuberosum
L. (batata)
Caule
Curtobacterium
Pantoea
Pseudomonas
Bacillus
Clavibacter
Agrobacterium
Acidovorax
Sturz et al., 1999
Apesar da importância que o método de isolamento adquiriu para identificar
bactérias em diferentes órgãos vegetais, e mesmo aliado as novas técnicas
moleculares, há certas limitações que o torna inviável para caracterizar a associação
entre endófitos-planta.
A desinfestação superficial não é totalmente eficaz, os produtos químicos
utilizados podem penetrar nos tecidos vegetais e matar as bactérias endofíticas,
subestimando o valor total de bactérias no interior da planta (Hallmann et al., 1997).
Muitas bactérias epifíticas que estão envoltas por mucilagem ou aderidas fortemente
à parede periclinal externa podem permanecer na planta após a desinfestação e
serem consideradas erroneamente como endofíticas, superestimando o resultado
(Reinhold-Hurek & Hurek, 1998).
O cultivo em meios artificiais somente considera viáveis as bactérias
capazes de utilizarem os nutrientes daquele meio, logo, os microrganismos contados
podem representar apenas uma pequena fração do total da população endofítica
(Halmann et al., 1997).
O isolamento, portanto, caracteriza-se por ser um método indireto, gera
evidências da colonização endofítica de bactérias em tecidos vegetais, porém há a
necessidade da confirmação dessa interação através de estudos microscópicos
(Reinhold-Hurek & Hurek, 1998).
2.4. Aplicação de bactérias endofíticas na agricultura e biotecnologia
Segundo Azevedo (1999), o estudo da interação entre bactérias endofíticas
e plantas tropicais é escasso, mas vem se desenvolvendo rapidamente, resultando
em descobertas de interesse acadêmico e aplicado. As bactérias endofíticas podem
ser utilizadas no manejo sustentável dos sistemas agrícolas tropicais, visando
conferir ao seu hospedeiro, características como maior resistência a condições de
estresse biótico e abiótico, promoção de crescimento vegetal e amplo uso
biotecnológico (Whipps, 2001; Kuklinsky-Sobral, 2003; Zahir et al., 2003).
Os mecanismos de promoção de crescimento vegetal incluem ações diretas
como a fixação biológica de nitrogênio (Baldani et al., 1997; Reis et al., 2000;
Kennedy et al., 2004), produção de reguladores de crescimento vegetal (Cassán et
al., 2001; Kuklinsky-Sobral et al., 2004), solubilização de fosfato inorgânico (Verma
et a., 2001; Kuklinsky-Sobral et al., 2004), e ações indiretas como o controle
biológico (Benhamoul et al., 1998; Kloepper et al., 1999; Benchimol et al., 2000;
Alström, 2001; Siddiqui & Shaukat, 2003; Schena et al., 2003), produção de
sideróforos (Lodewyckx et al., 2002) e indução de resistência sistêmica no
hospedeiro (Kloepper et al., 1999; Jetiyanon & Kloepper, 2002).
O uso de bactérias endofíticas na biotecnologia é bastante amplo, incluindo
a produção de antibióticos e outras moléculas bioativas (Strobel, 2002), aplicação
nos processos de bioremediação (Lodewyckx et al., 2002) e nas técnicas de
transgenia (Baldani et al., 2002).
Todos esses mecanismos são potencialmente aplicáveis no campo,
objetivando a melhoria quantitativa e qualitativa da produção agrícola. Segundo
Kuklinsky-Sobral (2003) a utilização real dos endófitos na agricultura depende do
conhecimento sobre os mecanismos de interação bactéria-planta e da habilidade de
manter, manipular e modificar populações benéficas sob condições de campo.
Portanto, torna-se fundamental a caracterização da interação endófitoplanta sob o enfoque estrutural, para gerar informações que possam auxiliar no
desenvolvimento de técnicas e estratégias aplicadas à agricultura tropical.
2.5. Bactérias epifíticas e biofilme
Bactérias epifíticas etimologicamente se referem às bactérias que habitam a
superfície vegetal (“epi” é derivado da palavra grega “upon” e significa posição
superior, e “fito” é derivado da palavra grega “phyton” e significa planta) (Jacques &
Morris, 1995).
Hirano & Uper (1983) definem bactérias epifíticas, como aquelas que podem
ser removidas de superfícies de órgãos aéreos vegetais através de lavagens.
Entretanto, Romantschuk (1992) sugere que as células mais bem adaptadas ao
ambiente epifítico não são removidas facilmente por lavagens, pois a adesão
representa uma vantagem seletiva nesse ambiente. Andrews & Harris (2000),
definem microrganismos epifíticos como aqueles que habitam a superfície vegetal e
não são patogênicos. Recentemente, tem sido descrito que as bactérias epifíticas
podem ser benéficas as plantas como, por exemplo, através do controle biológico
(Singh et al., 2004; Özaktan & Bora, 2004; Byrne et al., 2005; Han et al., 2005).
Sendo assim, a definição literal de bactérias epifíticas referente à
localização do microrganismo no exterior da planta também está evoluindo para
descrever a natureza de uma associação entre plantas e bactérias que habitam a
superfície das plantas sem causar sintomas visíveis de doença.
O filoplano e o rizoplano são ambientes bastante distintos, que apresentam
peculiaridades com relação à incidência luminosa, aeração, umidade, topografia,
longevidade, forma e quantidade de nutrientes e de moléculas sinalizadoras entre
planta-microbiota (Andrews & Harris, 2000). Jager & Korsten (2001), por exemplo,
estudando o filoplano de mangueira observaram diferenças de densidade e
diversidade microbiana dependendo do estágio de desenvolvimento e da posição da
folha com relação à incidência luminosa. Mercier & Lindow (2000) constataram que a
disponibilidade
de
carbono
na
superfície
foliar
é
um
fator
limitante
no
estabelecimento de bactérias epifíticas do filoplano. Todas essas características
propiciam diferenças na composição microbiana e sua dinâmica temporal e espacial,
pois influenciam os processos de imigração, emigração, crescimento e morte de
bactérias (Kinkel, 1997).
As bactérias associadas às plantas podem ser observadas isoladas ou
agrupadas na forma de agregados, microcolônias, simplamatas e biofilmes (Morris &
Monier, 2003).
Segundo Costerton et al. (1995), biofilme pode ser definido como uma
população microbiana coberta por uma matriz extracelular, com bactérias aderidas
umas as outras e a uma superfície ou interface, cuja formação pode ser influenciada
por vários fatores como disponibilidade de nutrientes, temperatura, osmolaridade,
pH, oxigênio (O’Toole et al., 2000). Para Jefferson (2004), quatro fatores principais
direcionam as bactérias a formarem biofilmes: para se protegerem contra condições
de estresse, para formarem uma comunidade e se beneficiarem dos processos de
cooperação, para colonizarem uma área rica em nutrientes, ou é um modo de
crescimento.
A formação de biofilme é um evento dinâmico no qual microrganismos
planctônicos adquirem a capacidade de viverem de forma séssil, logo, sua formação
envolve as etapas de adesão celular em uma superfície, formação de microcolônia,
maturação do biofilme, destacamento e posterior dispersão (Costerton et al., 1999).
A primeira teoria proposta para formação de biofilme foi descrita por
Marshall et al. (1971) (citado por Poulsen, 1999) e ressalta que a adesão é um
processo tempo dependente que pode ser dividido em duas fases: reversível e
irreversível. Na primeira fase, a reversibilidade é decorrente do processo de adesão
do microrganismo na superfície ocorrer por interações a longa distância, como forças
de Van der Walls e de atração eletrostática. Na segunda etapa, a irreversibilidade é
decorrente de interações a curta distância, incluindo dipolo-dipolo, íon-dipolo,
ligações covalentes, ligações hidrofóbicas e pontes de hidrogênio, portanto, há um
aumento da interação química da célula com a superfície.
Recentemente, diversos estudos (Pratt & Kolter, 1998; 1999; Stickler, 1999)
vêm demonstrando que para algumas bactérias o estabelecimento do contato entre
célula e superfície é depende da mobilidade flagelar e pilosa, pois, possivelmente,
as forças geradas por esses movimentos auxiliam a célula a sobrepor as forças
repulsivas da superfície. Uma vez que ocorra contato entre bactéria e superfície, a
adesão é estabelecida por proteínas extramembranares, as adesinas (Poulsen,
1999).
Durante
e
pós
a
adesão,
as
bactérias
secretam
polisacarídeos
extracelulares (EPS) formando uma matriz que recobre toda a microcolônia em
formação. Os polisacarídeos extracelulares podem ser compostos de glicose,
frutose, galactose, manose (Johansen et al., 1997). São várias as funções desses
polisacarídeos como, por exemplo, facilitar a adesão bacteriana na superfície, formar
e manter a estrutura do biofilme, aumentar a resistência do biofilme a condições de
estresse ambiental e a antibióticos, facilitar a absorção de água e nutrientes
(Poulsen, 1999).
Os eventos responsáveis pela formação de biofilmes a partir de
microcolônias produtoras de EPS ainda não estão completamente elucidados.
Através de análises genéticas, alguns autores puderam inferir a existência de
diferentes rotas para formação de biofilme dependendo do tipo de microrganismo e
do ambiente (Pratt & Kolter, 1999; O’Toole et al., 2000).
Sinais extracelulares e o sistema “quorum-sensing” foram confirmados, por
Kjelleberg & Molin (2002), como essenciais para a diferenciação de microcolônias
em biofilmes. Davies et al. (1998) ilustraram a importância de acil homoserina
lactonas (acyl-HSLs), um tipo de molécula “quorum-sense”, na formação da estrutura
tridimensional de biofilmes de Pseudomonas aeruginosa. Nesse trabalho, mutantes
lasI
incapazes
de
sintetizarem
N-(3-oxododecanoil)-L-homoserina
lactona
produziram biofilmes com estrutura tridimensional anormal.
A estrutura tridimensional ou arquitetura do biofilme depende dos tipos de
microrganismos presentes e do ambiente, porém é consenso que os biofilmes
possuem uma estrutura porosa com canais na forma de capilares nos quais ocorre
influxo de água e nutrientes e efluxo de excretas (Costerton et al., 1995; Pratt &
Kolter, 1999).
Segundo Kumar & Anand (1998), o destacamento e a dispersão do biofilme
ocorre através de células isoladas ou pedaços de biofilme que são quebrados e
podem ser transportados para colonizar novas superfícies. Para Costerton et al.
(1999), o destacamento e dispersão de biofilmes devem envolver diversos
mecanismos ainda não completamente conhecidos.
As bactérias que estão crescendo em biofilmes apresentam características
diferentes de quando estão crescendo em suspensão (Costerton et al., 1995;
Stickler, 1999; O’Toole et al., 2000; Morris & Monier, 2003; Jefferson, 2004). Pois,
ocorre nos biofilmes o aumento da síntese de exopolisacarídeos, desenvolvimento
de resistência a antibióticos, aumento da resistência a radiações ultravioleta,
aumento das trocas genéticas, alteração das capacidades biodegradativas e
aumento da produção de metabólitos secundários (O’Toole et al., 2000). Todos
esses fatores tendem a criar um ambiente seguro, protegendo as bactérias contra
condições de estresses presentes na planta hospedeira.
Jacobs et al. (2004) relatam que os mecanismos que aumentam a
resistência a radiações ultravioleta incluem a pigmentação e mecanismos de
reparação do DNA, que protegem as bactérias dos comprimentos de onda UVa (320
a 400 nm) e UVb (290 a 320 nm).
Cada micro-ambiente da planta possui características próprias de radiação,
disponibilidade de nutrientes, química de superfície, influenciando fortemente a
forma e atividade de biofilmes (Morris & Monier, 2003).
O filoplano, por exemplo, apresenta uma variabilidade de ambientes, que
incluem variações topográficas como a superfície da base e do ápice dos tricomas, a
superfície da nervura, os complexos estomáticos, hidatódios, nectários extraflorais,
flanges cuticulares e a superfície da parede periclinal externa das células
epidérmicas propriamente ditas, bem como variações na composição química
desses ambientes. Além disso, as plantas apresentam diferenças morfológicas,
como as várias filotaxias, aumentando a variabilidade de condições ambientais na
superfície foliar (Esau, 1974; Cutter, 1986; Fahn, 1990).
O rizoplano também apresenta uma grande variabilidade ambiental devido,
principalmente, às diferenças físico-químicas no perfil do solo (aeração, umidade,
concentração de gases, luminosidade, temperatura, pH, granulação), e às diferenças
fisiológicas nas regiões radiculares (coifa, meristemática, alongamento, maturação,
colo) que propicia uma heterogeneidade no processo de exsudação (Taiz & Zeiger,
1991; Walker et al., 2003).
Através da exsudação de uma grande variedade de compostos, as raízes
talvez possam regular a comunidade microbiana na rizosfera (Walker et al., 2003).
Os flavonóides, por exemplo, exsudados pelas raízes de leguminosas ativam os
genes responsáveis pelo processo de nodulação nas bactérias do gênero Rhizobium
(Peters et al., 1986).
Portanto, é necessário aprofundar os estudos relacionados à diversidade e
localização das bactérias epifíticas do filoplano para gerar informações que possam
auxiliar a compreensão das interações entre planta-microbiota.
2.6. Aplicação de bactérias epifíticas na agricultura e biotecnologia
O estudo de bactérias epifíticas aplicado na agricultura tropical e na
biotecnologia ainda é incipiente, porém, promissor.
Bactérias epifíticas podem ser empregadas na promoção de crescimento e
desenvolvimento vegetal, através da fixação biológica de nitrogênio (KuklinskySobral et al., 2004), produção de reguladores de crescimento vegetal como auxinas
(Brandl & Lindow, 1998) e solubilização de fosfato inorgânico (Kuklinsky-Sobral et
al., 2004).
Muitas bactérias epifíticas também possuem atividade antagônica contra
bactérias e fungos fitopatogênicos, podendo, potencialmente, serem empregadas
como agentes de controle biológico (May et al., 1997; Postmaster et al., 1997;
Benhamou et al., 1998; Stromberg et al., 2000; Özaktan & Bora, 2004; Singh et al.,
2004; Byrne et al., 2005; Han et al., 2005).
Um exemplo bem sucedido de controle biológico é a aplicação de
preparações liofilizadas, já disponíveis no mercado americano, de Pseudomonas
fluorescens estirpe A506 e Pantoea agglomerans C9-1, em flores de macieira e
pereira inibindo a colonização epifítica da bactéria fitopatogênica Erwinia amylovora
(Lindow & Leveau, 2002). A utilização dessa tecnologia reduz a necessidade de
aplicações contínuas de agroquímicos.
Outro exemplo, também aplicado na agricultura de clima temperado, é a
utilização de bactérias epifíticas (ice- bactéria) que competem com bactérias
nucleadoras de gelo (ice+ bactéria), evitando que as últimas incitem na planta
hospedeira injúrias por baixas temperaturas (Lindow & Leveau, 2002).
As bactérias epifíticas nucleadoras de gelo, como a Pseudomonas syringae,
apresentam um alto valor biotecnológico, sendo utilizadas para produção artificial de
neve, e são potencialmente aplicáveis em indústrias de alimentos e na climatologia
objetivando aumento da pluviosidade e controle das chuvas de granizo (Drainas et
al., 1995).
Outro tipo de bactérias epifíticas que potencialmente podem ser
empregadas na biotecnologia são as produtoras de biosurfactantes, que alteram a
permeabilidade da superfície foliar, visando obter um ambiente mais úmido e
propício ao desenvolvimento microbiano (Boureau et al., 2004; Schreiber et al.,
2005).
O estudo de bactérias epifíticas também é essencial para a sanidade
alimentar, uma vez que diversas enfermidades que afetam os seres humanos são
decorrentes da ingestão de frutas e verduras contaminadas superficialmente por
bactérias. Albrecht et al. (1995) verificaram que amostras de alface, tomate, brócolis
e couve-flor coletados em um mercado local apresentavam coliformes a 105 – 107
UFC por grama do produto. Brandl & Mandrell (2002) relataram a capacidade de
Salmonella enterica persistir no filoplano de coentro (Coriandrum sativum L.).
Rayner et al. (2004) confirmaram a prevalência de bactérias crescendo
como biofilmes na superfície de alimentos frescos, como tomate, cenoura e
cogumelos, logo, apresentando uma maior resistência aos processos de desinfecção
e representando uma real preocupação para as indústrias de alimentos (Poulsen,
1999; Kumar & Anand, 1998).
2.7. Anatomia vegetal e microscopia aplicada ao estudo das interações entre
plantas e bactérias
A anatomia vegetal é o ramo da botânica que estuda a estrutura interna dos
organismos vegetais (Esau, 1974; Cutter, 1986; Fahn, 1990; Appezzato-da-Glória &
Carmello-Guerreiro, 2003), podendo ser uma ciência apenas descritiva, como
também geradora de valiosas informações sobre o desenvolvimento vegetal e sobre
as associações da planta com os fatores bióticos e abióticos.
Logo, a anatomia vegetal, pode ser aplicada em diversos estudos, como,
por exemplo, na taxonomia e sistemática. Os caracteres anatômicos podem se
constituir em bons parâmetros taxonômicos, tanto pelo seu valor diagnóstico como
unificador, dependendo do táxon analisado (Solereder, 1908; Metcalfe & Chalk,
1950). São muitos os trabalhos na literatura, que utilizam a anatomia como base
para identificação de diversas famílias de plantas, como se verifica nos trabalhos
mais recentes descritos para as Asteraceae (Sajo & Menezes, 1994; Castro et al.,
1997), Eriocaulaceae (Castro & Menezes, 1995; Scatena et al., 1999; Coan et al.,
2002), Lauraceae (Moraes & Paoli, 1999), Leguminosae (Mendes & Paviani, 1997),
Orchidaceae (Oliveira & Sajo, 2001; Zanega-Godoy & Costa, 2003), Rubiaceae
(Mantovani et al., 1995; Klein et al., 2004; Moraes, 2005); Simaroubaceae
(Franceschinelli & Yamamoto, 1993), Xyridaceae (Sajo et al., 1995), entre outros.
Além da identificação e descrição das espécies vegetais, a anatomia
vegetal, aliada às técnicas microscópicas, pode ser utilizada de forma promissora
para compreender as interações entre plantas e microrganismos.
Diferente dos métodos de isolamento, que apenas geram evidências
indiretas da presença de bactérias no interior das plantas, a microscopia pode ser
considerada um método direto no estudo da interação entre plantas e microbiota,
pois o microrganismo é visualizado em seu habitat natural. Geram-se informações
sobre a quantidade, localização e dinâmica das bactérias nos microecosistemas
vegetais, bem como a possibilidade de caracterizar a anatomia e ultraestrutura da
associação bactéria-planta. Segundo Reinhold-Hurek & Hurek (1998), os melhores
resultados microscópicos para caracterizar a interação endofítica são obtidos
utilizando materiais embebidos em resina, nos quais as bactérias são fisicamente
fixadas em sua posição original.
Atualmente, com o avanço das técnicas imunológicas e de biologia
molecular, há a possibilidade do microscópio gerar informações mais completas que
a simples localização das bactérias no tecido vegetal, e envolvem o posicionamento
taxonômico da bactéria in situ, detecção específica de uma estirpe ou da expressão
de genes e biomacromoléculas envolvidas na interação endófito-planta (Baldani et
al., 1998).
3. Objetivos
3.1. Objetivo geral
O presente trabalho teve como objetivo caracterizar estruturalmente a
associação natural epifítica e endofítica entre microrganismos e plantas de diferentes
famílias botânicas, localizadas em um ambiente agrícola tropical.
3.2. Objetivos específicos
-
Descrever os locais preferenciais de colonização e distribuição de
microrganismos associadas à superfície de raízes e da lâmina foliar de
diferentes espécies de plantas.
-
Descrever a estrutura da associação endofítica entre microrganimos e os
tecidos da raiz e da lâmina foliar de diferentes espécies de plantas.
-
Relacionar características anatômicas da lâmina foliar de diferentes espécies
de plantas com o padrão de colonização, freqüência e ocorrência das
bactérias.
4. Material e Métodos
4.1. Caracterização agroecológica do local de coleta
As amostras foram coletadas na propriedade rural Pedra Lisa, localizada às
margens da rodovia Alegre – Cachoeiro do Itapemirim (BR 482), município de
Jerônimo Monteiro, ES (Fig.1), em Junho de 2004.
Este município está situado na região sul do Estado do Espírito Santo a 20º
47’25’’ de latitude sul e 41º23’48’’ de longitude oeste, distando 147 km da capital
Vitória. O clima da região segundo a classificação de Köppen é Aw, quente e
chuvoso, sem estação fria e com período seco. A precipitação média anual é de
958,7 mm, apresentando uma estação chuvosa de Novembro a Abril e uma estação
seca de Maio a Setembro. A temperatura média anual é de 23,2 ºC, sendo a média
dos meses mais quentes, de Dezembro a Março, de 30 ºC, e a dos meses mais
frios, de Junho a Agosto, de 18,1 ºC. Predominam, no município, os solos
classificados como Latossolos Vermelho-Amarelos Distróficos, com fertilidade
variando de baixa a média e pH em torno de 5,0 (ES/SAEP, 1993; EMBRAPA,
1999).
A gênese dos solos nessa região também resulta, em alguns casos, na
formação de outras classes de solos, principalmente através de cortes originados
nos topos e encostas, pela ação do intemperismo, seguido de deposições. As
deposições podem ocorrer nos fundos dos vales e sofrerem influência do lençol
freático, originando solos Hidromórficos ou então serem depositados em áreas
planas nas margens de rios ou córregos, ou ainda, formarem solos mais férteis,
denominados “terraços” que podem originar a classe dos Argissolos como os
Argissolos Vermelho-Amarelos Eutróficos (EMBRAPA, 1999).
A região era originalmente coberta por Floresta Atlântica (Ombrófila Densa),
tendo sido no século XIX, devastada para implantação de atividades agropecuárias,
destacando-se a cafeicultura, pecuária e atualmente a fruticultura (Ambiente Brasil,
2004).
A propriedade rural possui 497.557 m2 e é classificada como uma pequena
empresa rural, sendo manejada pelos proprietários, juntamente com parceiros e
trabalhadores sazonais, como a maioria das propriedades da região.
Figura 1. Mapa do Estado do Espírito Santo, destacando o município de Jerônimo Monteiro,
adaptado de GuiaNet (2005).
Jerônimo
Monteiro
4.1.1. Caracterização dos diferentes agroecossistemas
As amostras foram coletadas de plantas cultivadas nos agroecossistemas:
pomar, horta, encosta, pastagem, campos (milharal, cafezal), e também de plantas
nativas (Tabela 3). Ressalta-se que não houve aplicação de agrotóxicos.
O pomar foi implantado em solos de terraço, Argissolo Vermelho-Amarelo
Eutrófico, realização de aplicação esporádica de adubos químicos e esterco,
manejo de plantas concorrentes através de capinas, realização de poda quando
necessário, relevo plano.
Na horta, os canteiros foram construídos em Argissolo Vermelho-Amarelo
Eutrófico, mantidos na capacidade de campo, realização de aplicação de esterco e
palha de café, rotação de culturas, manejo de plantas concorrentes através de
capina e catação, relevo plano.
A encosta apresentava solo classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo
Distrófico, realização do preparo do solo para a implantação da cultura de eucalipto
(abertura de covas, calagem, adubação química, controle de formigas), relevo
íngreme.
A pastagem nativa de capim pernambuco (Paspalum mandiocanum) foi
substituída por capim braquiarão (Brachiaria brizantha) e colonião (Panicum
maximum), presença esporádica de capim braquiaria (Brachiaria decumbens),
capim jaraguá (Hyparrhenia rufa) e capim elefante (Pennisetum purpureum). Solos
classificados como Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico na parte mais baixa do
terreno e Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico nas encostas e nos morros. O
único manejo é a limpeza dos pastos. Lotação em torno de 5 a 10 unidades animal
(gado) por hectare.
O milharal foi implantado em Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico, preparo
do solo realizado apenas com grade aradora. Rotacionado com a cultura do feijão e
consorciado com a cultura de abóbora. Aplicação de sulfato de amônio quando
necessário.
O cafezal foi implantado em Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico. Cafeeiro
conillon adulto, produção aproximada de 15 a 20 L de café cereja por planta. Poda
de condução, 4 - 6 hastes por planta (multicaule). Realização de calagem,
adubação química (NPK 25-05-20, contendo B e Zn) no início da estação chuvosa,
retorno da palhada.
4.2. Material botânico
Foram coletadas amostras de raízes e parte aérea de quarenta e sete
espécies vegetais sem sintomas visíveis de doenças, pertencentes a vinte e oito
famílias botânicas e identificadas conforme a tabela 3.
As amostras foram retiradas de raízes com coloração clara, localizadas na
profundidade entre 0 a 10 cm da superfície do solo. Para coleta da parte aérea,
amostras do terço médio da lâmina foliar foram retiradas de folhas completamente
expandidas localizadas no terceiro ou quarto nó.
Durante a coleta, as amostras foram imediatamente seccionadas em
segmentos de 1 a 2 cm de comprimento (raízes e lâmina foliar) por 0,5 a 1 cm de
largura (lâmina foliar). As secções foram obtidas utilizando uma navalha de aço
nova, através de cortes a mão livre sobre uma placa de parafina, estando as
amostras imersas na solução fixadora. O fixador primário utilizado foi uma solução
de glutaraldeído 2,5 %, formaldeído 4 %, em tampão fosfato 0,1 mol / L (pH 7,0).
As amostras fixadas foram transportadas para o Laboratório de Biologia
Celular e Tecidual do Centro de Biociências e Biotecnologia – UENF e foram
mantidas a 4 ºC.
Tabela 3. Descrição das espécies botânicas coletadas para análise de colonização microbiana.
Família Botânica
Nome Científico (nome vulgar)
Observações durante a coleta
Anacardiaceae
Spondias mombin L. (cajazeiro)
Arbórea, 3 m de altura, presença de
frutos, cultivada no pomar
Mangifera indica L. (mangueira haden) Arbórea,
2,5
m
de
altura,
fase
vegetativa, cultivada no pomar
Annonaceae
Annona muricato L. (graviola)
Arbórea, 3,0 m de altura, presença de
frutos, cultivada no pomar
Apiaceae
Petroselium crispum Hill (salsinha)
Herbácea, 0,3 m de altura, cultivada
na horta
Arecaceae
Cocos nucifera L. var. anã
Arbórea, 2,0 m de altura, presença de
(coqueiro anão)
frutos, cultivada no pomar
Colocasia antiquorum Schott. (taioba)
Herbácea, 0,5 m de altura, fase
vegetativa, cultivada no pomar
Asteraceae
Bidens pilosa L. (picão)
Herbácea, 1,0 m de altura, presença
de botões florais, nativa
Chicorium intybus L. (almeirão roxo)
Herbácea, 0,3 m de altura, fase
vegetativa, cultivada na horta
Lactuca sativa L. (alface americana)
Herbácea, 0,3 m de altura, fase
vegetativa, cultivada na horta
Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. Arbustiva, 1,5 m de altura, fase
Balsaminaceae
Brassicaceae
Caricaceae
(arnica)
vegetativa, nativa
Impatiens walleriana L.
Herbácea, 0,5 m de altura, fase
(maria-sem-vergonha)
vegetativa, planta ornamental
Brassica oleraceae L.
Herbácea, 0,3 m de altura, fase
(couve manteiga)
vegetativa, cultivada na horta
Carica papaya L. (mamoeiro papaya)
Arbustiva, 2,0 m de altura, fase
vegetativa, cultivada na horta
Crassulaceae
Kalanchoë brasiliensis Camb. (saião)
Herbácea, 0,5 m de altura, fase
vegetativa, nativa
Cucurbitaceae
Cucumis sativus L. (pepino)
Herbácea, 1,0 m de altura, presença
de frutos, cultivada na horta
Curcubita
moschata
(abóbora jacaré)
Duchesne Herbácea, 0,5 m de altura, fase
vegetativa, consorciada com milho
Continuação da Tabela 3.
Euphorbiaceae
Fabaceae
Lamiaceae
Manihot esculenta Crantz
Arbustiva, 1,5 m de altura, presença
(mandioca cacau)
de botões florais, horta
Cajanus cajan (L.) Millsp.
Herbácea, 1,0 m de altura, fase
(feijão-guandu)
vegetativa, nativa
Leonurus sibiricus L. (macaé)
Herbácea, 1,0 m de altura, fase
vegetativa, nativa
Plectranthus barbatus Andrews (boldo) Herbácea, 1,0 m de altura, fase
vegetativa, nativa
Liliaceae
Allium schoenoprasum L. (cebolinha)
Herbácea, 0,4 m de altura, fase
vegetativa, cultivada na horta
Malvaceae
Abelmoschus esculentus (L.) Moench Herbácea, 1,5 m de altura, presença
(quiabo)
de frutos, localizada no pomar
Hibiscus rosa-sinensis L. (hibisco)
Arbórea, 2,0 m de altura, presença de
flores, planta ornamental
Malpighiaceae
Malpighia glabra L. (acerola)
Arbustiva, 2,0 m de altura, presença
de frutos, cultivada no pomar
Meliaceae
Cedrela fissilis Vell. (cedro)
Arbórea,
3,0
m
de
altura,
fase
de
altura,
fase
vegetativa, nativa
Myrtaceae
Myrciaria
cauliflora
Berg. Arbórea,
1,5
m
(jabuticabeira)
vegetativa, cultivada no pomar
Corymbia citriodora (Hook)
Arbórea,
(eucalipto citriodora)
vegetativa, cultivada na encosta
Psidium guajava L. (goiabeira)
Arbórea, 2,0 m de altura, presença de
3,5
m
de
altura,
fase
frutos, cultivada no pomar
Moraceae
Morus nigra L. (amoreira)
Arbustiva, 2,5 m de altura, fase
vegetativa, localizada no pomar
Musaceae
Musa sp. cv nanica (bananeira nanica) Arbórea, 2,0 m de altura, presença de
frutos, cultivada no pomar
Oxalidaceae
Averrhoa carambola L. (carambola)
Arbórea,
1,5
m
de
altura,
fase
vegetativa, cultivada no pomar
Poaceae
Brachiaria brizantha (Hochst.) Staff
Herbácea, 0,3 m de altura, fase
(capim braquiarão)
vegetativa, pastagem
Brachiaria decumbens Staff
Herbácea, 0,3 m de altura, fase
(capim braquiaria)
vegetativa, pastagem
Hyparrhenia rufa (Nees.) Stapf
Herbácea, 1,5 m de altura, fase
(capim jaraguá)
vegetativa, pastagem
Panicum maximum Jacq.
Herbácea, 0,3 m de altura, fase
(capim colonião)
vegetativa, pastagem
Pennisetum purpureum Schumach
Herbácea, 0,5 m de altura, fase
(capim elefante)
vegetativa, pastagem
Continuação da Tabela 3.
Rubiaceae
Rutaceae
Zea mayz L. var. palha roxa
Herbácea, 1,5 m de altura, presença
(milho palha roxa)
de flores, milharal
Coffea canephora Pierre var. conillon
Arbustiva, 1,5 m de altura, fase
(cafeeiro conillon)
vegetativa, cafezal
Citrus aurantifolia Swingle var. taiti Arbórea, 2,0 m de altura, presença de
(limoeiro taiti)
frutos, cultivada no pomar
Citrus limonia Osbeck (limoeiro cravo)
Arbórea,
1,5
m
de
altura,
fase
vegetativa, cultivada na encosta
Solanaceae
Citrus reticulata Blanco
Arbórea,
1,5
m
de
altura,
fase
(tangerina poncã)
vegetativa, cultivada no pomar
Citrus sinensis L. Osbeck
Arbórea, 2,5 m de altura, presença de
(laranjeira pêra)
frutos, cultivada no pomar
Capsicum annum L. (pimentão)
Herbácea, 0,15 m de altura, fase
vegetativa, cultivada na horta
Capsicum frutescens L.
Arbustiva, 1,0 m de altura, presença
(pimenta malagueta)
de frutos, nativa
Solanum gilo Raddi (jiló)
Arbustiva, 1,5 m de altura, presença
de frutos, pomar
Verbenaceae
Duranta repens L. (pingo-de-ouro)
Arbustiva, 1,0 m de altura, fase
vegetativa, planta ornamental
Vitaceae
Vitis vinifera L. (videira)
Arbórea, 1,5 m de altura, presença de
frutos, cultivada no pomar
4.3. Processamento de amostras para microscopia ótica
As amostras foram processadas para microscopia ótica conforme James et
al. (1994), com algumas modificações.
Uma parte do material fixado foi transferida para microtubos de 2,0 mL e
pós-fixado com tetróxido de ósmio 1 % em tampão fosfato 0,1 mol / L por 2 horas.
As amostras foram lavadas 2 vezes por 15 minutos em tampão fosfato 0,1
mol / L e desidratadas em série etanólica ou acetônica crescente (30, 50, 70, 90, 3 x
100 % etanol ou acetona em água v/v), permanecendo 30 minutos em cada mistura.
Após a desidratação as amostras foram embebidas em resina Unicryl ®,
durante 7 dias, sendo mantidas em geladeira.
Para as amostras das espécies Mangifera indica, Manihot esculenta,
Plectranthus barbatus, Hibiscus rosa-sinensis, Malpighia glabra, Cedrela fissilis,
Corymbia citriodora, Psidium guajava, Averrhoa carambola, Cocos nucifera,
Hyparrhenia rufa, Panicum maximum, Coffea canephora, Citrus aurantifolia, Citrus
reticulata, Citrus sinensis e Duranta repens, foi necessário substituir o álcool ou
acetona gradualmente pela resina.
Amostras individuais foram transferidas com pinça de ponta fina para
cápsulas transparentes de gelatina contendo a resina e polimerizadas em estufa a
60º C por 12 horas.
As cápsulas polimerizadas foram selecionadas, levadas à lupa do
ultramicrótomo Reichert Ultracuts Ultramicrotome, lapidadas a mão livre utilizando
lâminas de aço para obtenção de blocos trapezoidais contendo a amostra. A partir
desses blocos foram obtidas seções semifinas (0,8 a 1,0 µm) utilizando facas de
vidro.
Os cortes semifinos foram colocados sobre lâminas de vidro contendo água,
fixados em placa metálica aquecida e contrastadas com uma solução contendo azul
de toluidina 1 %, tetraborato de sódio 0,1 % em água destilada, para observação no
microscópio ótico Axioplan - Zeiss.
As imagens foram capturadas em um microscópio ótico Axioplan – Zeiss,
acoplado a um sistema de aquisição de imagem digital, câmera ZVS-47EC,
utilizando o programa Analysis®.
4.4. Processamento de amostras para microscopia eletrônica de varredura
As amostras foram processadas para microscopia eletrônica de
varredura conforme James et al. (1994), com algumas modificações.
Amostras de raízes e das lâminas foliares foram fixadas e pós-fixadas da
mesma forma como descrito no item 4.3. Depois, foram lavadas por três vezes em
tampão fosfato 0,1 mol / L e desidratadas em série acetônica crescente (30, 50, 70,
90, 3 x 100 % etanol ou acetona em água v/v), permanecendo 30 minutos em cada
mistura.
Em seguida, amostras selecionadas foram transferidas para o equipamento
Critical Point Drying Apparatus (Mod CPD 030, Bal-tec) e após secagem, foram
montadas em “stub” de alumínio e metalizadas com ouro utilizando o Automatic
Sputter Coater (SCD 050, Bal-tec).
As amostras foram observadas a 15 - 25 kv, no microscópio eletrônico de
varredura DSEM 962 - Zeiss.
Para cada amostra foliar foram observados fragmentos de 0,5 cm de largura
por 1,0 cm de comprimento das superfícies adaxiais e abaxiais. As observações
foram realizadas por toda superfície das amostras, gerando dados sobre ocorrência,
freqüência e localização das bactérias sobre os diversos caracteres anatômicos
foliares, assim como o modo de adesão, agregação e morfologia bacteriana.
5. Resultados
Em todas as espécies vegetais coletadas, isentas de sintomas de doença,
foi observada colonização microbiana. Dentre os microrganismos, as bactérias foram
os colonizadores mais freqüentes, sendo observadas na superfície de todas as
amostras das lâminas foliares. Fungos também foram observados no filoplano na
forma de esporos e hifas fúngicas e nas raízes em associações micorrízicas.
A colonização bacteriana variou entre as famílias botânicas, entre as
espécies vegetais pertencentes ao mesmo táxon, entre os órgãos estudados (raiz,
folha) de um mesmo sistema biológico e entre os tecidos vegetais de um mesmo
órgão. A variação também ocorreu entre e dentro dos diferentes agroecossistemas
(pomar, horta, encosta, pastagem, campos). No entanto, com relação à colonização
e estabelecimento bacteriano epifítico no filoplano algumas semelhanças puderam
ser constatadas, conforme será descrito.
5.1. Bactérias epifíticas nas amostras da lâmina foliar
Através da microscopia ótica e microscopia eletrônica de varredura foi
visualizado colonização bacteriana epifítica em todas as amostras das lâminas
foliares.
O sumário dos resultados obtidos através da microscopia eletrônica de
varredura foram baseados em características microbiológicas da superfície abaxial,
acrescentando-se as comparações realizadas entre ambas superfícies (Tab. 4 e 5),
e em características anatômicas das lâmina foliares (Tab. 6 e 7).
Foi
possível
separar
dois
grupos
de
plantas
que
apresentaram
características distintas, um com uma baixa freqüência de bactérias colonizando o
filoplano (Tab. 4 e 6) e outro com uma alta freqüência (Tab. 5 e 7). A separação
desses dois grupos foi obtida observando-se toda superfície epidérmica foliar (de no
mínimo 50.000.000 µm2 cada amostra adaxial e abaxial) através do microscópio
eletrônico de varredura com aumento de 3000 x.
Tabela 4. Características microbiológicas do filoplano das espécies vegetais com baixa freqüência de
bactérias.
Família
botânica
Fungo(4)
Comparação
com a
superfície
epidérmica
adaxial
Bactéria
Espécie vegetal
(1)
Localização
Apiaceae
Petroselium crispum
Araceae
Colocasia antiquorum
Arecaceae
Asteraceae
(2)
Distribuição
(3)
Forma
F, Ce
S, M
Ba
+
Similar
-
-
-
+
M, F, Ba
Cocos nucifera
F, Ce
S, M
Ba
+
inclui F, N, S
Chicorium intybus
F, Ce
S
Ba
+
bactéria não
observada
F
S
Ba
-
Inclui M e T
F, T
S, M
Ba
+
Similar
F, Ce
S
Ba
++
Similar
Lactuca sativa
Porophyllum ruderale
Balsaminaceae Impatiens walleriana
Brassicaceae
Brassica oleraceae
F
S
Ba
++
bactéria não
observada
Caricaceae
Carica papaya
F
S
Ba
+
inclui M
Crassulaceae
Kalanchoë brasiliensis
F
S
Ba
-
F, T, N
S, M
Ba
-
Euphorbiaceae Manihot esculenta
bactéria não
observada
similar, inclui
Co
bactéria não
observada
bactéria não
observada
Liliaceae
Allium schoenoprasum
-
-
Ba
+
Myrtaceae
Myrciaria cauliflora
F
S
Ba
+++
Musaceae
Musa sp.
F
S
Ba
+++
Similar
Oxalidaceae
Averrhoa carambola
F
S
Ba
+
bactéria não
observada
Poaceae
Brachiaria brizantha
Ce, T
S, M
Ba, Co
+
Inclui F
F, T
S, M
Ba
+
somente F
Hyparrhenia rufa
F
S
Ba
++
Panicum maximum
F
S
Ba
+
F, T
S, M
Ba, Co
+
F
S
Ba
+
inclui T
F, Ce
S
Ba
+
Similar
T
S
Ba
++
inclui F, M
Brachiaria decumbens
Pennisetum purpureum
Zea mayz
Solanaceae
Capsicum annum
Verbenaceae
Duranta repens
(1)
bactéria não
observada
bactéria não
observada
bactéria não
observada
Localização: refere-se aos locais preferenciais de colonização bacteriana; F, flanges cuticulares; T,
tricomas; Ce, complexo estomático; N, nervura. (2) Distribuição: distribuição das células bacterianas; S,
solitárias; M, microcolônias; B, biofilmes. (3) Forma: forma da célula bacteriana; Ba, bastonete; Co, cocos.
(4)
Fungo: refere-se à freqüência fúngica; +++, alta freqüência; ++, média freqüência; +, baixa freqüência;
-, ausente.
Tabela 5. Características microbiológicas do filoplano das espécies vegetais com alta freqüência de
bactérias.
Família
botânica
Bactéria
Espécie vegetal
Fungo
Localização(1)
Anacardiaceae Spondias mombin
Todos os locais
Distribuição(2)
Forma(3)
(4)
Comparação
com a
superfície
epidérmica
adaxial
S, M, B
Ba
+++
similar
S, M
Ba
+++
similar
Ba
+++
S e M em
baixa
frequência
Mangifera indica
F
Annonaceae
Annona muricata
Todos os locais
Asteraceae
Bidens pilosa
Todos os locais
S, M
Ba, Co
+
similar
Cucurbitaceae
Cucumis sativus
F, T
S, M
Ba
+
similar
Cucurbita moschata
F, T, N
S, M
Ba
+++
similar
Fabaceae
Cajanus cajan
F, T, Ce
S, M, B
Ba
-
similar
Lamiaceae
Leonurus sibiricus
Todos os locais
S, M, B
Ba
+
Plectranthus babatus
Todos os locais
S, M
Ba
+
F, T, Ce
S, M, B
Ba
+
similar
F, T
S, M
Ba
+
similar
F, Ce, N
S, M
Ba
++
similar
Ba, Co
+++
similar
Malvaceae
Abelmoschus esculentus
Hibiscus rosa-sinensis
Malpighiaceae
Malpighia glabra
Meliaceae
Cedrela fissilis
Myrtaceae
Corymbia citriodora
Todos os locais
M, B
S, M, B
baixa
frequência
baixa
frequência
F
S, M
Ba
+++
inclui F, M, B
Psidium guajava
F, T, N
S, M
Ba, Co
+++
similar
Moraceae
Morus nigra
F, T, N
S, M, B
Ba
+++
similar
Rubiaceae
Coffea canephora
F, Ce
S, M
Ba, Co
++
similar
Rutaceae
Citrus aurantifolia
F, Ce, N
S, M, B
Ba, Co
++
inclui B
F, Ce
S, M
Ba
+++
similar
Citrus reticulata
F
M, B
Ba
+++
similar
Citrus sinensis
F, Ce
S, M
Ba
+++
similar
F, T
S, M
Ba
+++
similar
Solanum gilo
T
S
Ba
++
inclui M, F
Vitis vinifera
F, Ce
S
Ba
++
inclui M
Citrus limonia
Solanaceae
Vitaceae
(1)
Citrus frutescens
Localização: refere-se aos locais preferenciais de colonização bacteriana; F, flanges cuticulares; T,
tricomas; Ce, complexo estomático; N, nervura. (2) Distribuição: distribuição das células bacterianas; S,
solitárias; M, microcolônias; B, biofilmes. (3) Forma: forma da célula bacteriana; Ba, bastonete; Co, coco.
(4)
Fungo: refere-se a freqüência fúngica; +++, alta freqüência; ++, média freqüência; +, baixa freqüência;
-, ausente.
Tabela 6. Características anatômicas foliares das espécies vegetais com baixa freqüência de bactérias.
Epiderme
Família
botânica
Espécie
vegetal
Contor(1)
no
Cera
epicuticu(2)
lar
Indumento(3)
Mesofilo
Célula
especia(4)
lizada
Estômato (5)
(6)
Forma
Tecido
vascular
Tipo de
(7)
feixe
Apiaceae
Petroselium crispum
Si
-
-
-
Anf
Do
Co
Araceae
Colocasia antiquorum
R
-
-
-
Hip
Do
Co
Arecaceae
Cocos nucifera
R
+
-
-
Hip
Do
Co
Asteraceae
Chicorium intybus
Si
plaquetas
-
-
Anf
Do
Co
Lactuca sativa
Si
-
Tt, Ts
-
Anf
Ho
Co
Porophyllum ruderale
Si
-
Tt, Ts
-
Anf
Do
Co
Balsaminaceae Impatiens walleriana
Si
-
-
-
Hip
Do
Co
Brassicaceae
Brassica oleraceae
R
-
-
-
Anf
Do
Co
Caricaceae
Carica papaya
R
plaquetas
em
rosetas
-
-
Hip
Do
Co
Crassulaceae
Kalanchoë brasiliensis
R
-
-
-
Hip
Ho
nd
Euphorbiaceae Manihot esculenta
R
+ em Eb
Tt na
nervura e
Ts no
limbo
-
Anf
Do
Co
Liliaceae
Allium schoenoprasum
R
plaquetas
-
-
Anf
Ho
nd
Myrtaceae
Myrciaria cauliflora
R
-
-
-
Hip
nd
nd
Musaceae
Musa sp.
R
+
-
Anf
Do
Co
-
Hip
nd
nd
Oxalidaceae
Averrhoa carambola
R
plaquetas
Tt na
nervura
de Ed e
Tt e Ts
em Eb
Poaceae
Brachiaria brizantha
R
-
Tt
Cb, Cs
Anf
Ho
Co
Brachiaria decumbens
R
-
Tt
Cb, Cs
Anf
Ho
Co
Hyparrhenia rufa
R
+
Tt
Cb, Cs
Anf
Ho
Co
Panicum maximum
R
-
Tt
Cb, Cs
Anf
Ho
Co
Pennisetum purpureum
R
-
Tt
Cb, Cs
Anf
Ho
Co
Zea mayz
R
-
-
Cb, Cs
Anf
Ho
Co
Solanaceae
Capsicum annum
Si
-
-
-
Anf
Do
Co
Verbenaceae
Duranta repens
R
-
Tt, Ts
-
nd
Do
(1)
Co
(2)
Contorno: contorno das paredes anticlinais das células epidérmicas; R, reto; Si, sinuoso.
Cera
epicuticular: tipo de cera epicuticular; plaquetas; plaquetas em rosetas; +, cera epicuticular diferente de filme,
porém não nomeada; -, cera epicuticular tipo filme ou ausente. (3) Indumento: Tt, tricoma tector; Ts, tricoma
secretor. (4) Célula especializada: Cs, célula silicosa, Cb, célula buliforme. (5) Estômato: localização do
complexo estomático; Anf, anfiestomático; Hip, hipoestomático. (6) Forma: forma do mesofilo: Do,
dorsiventral; Ho, homogêneo. (7) Tipo de feixe: Co, colateral. Abreviações: Ed, epiderme adaxial; Eb,
epiderme abaxial; nd, não disponível.
Tabela 7. Características anatômicas foliares das espécies vegetais com alta freqüência de bactérias.
Epiderme
Família
botânica
Espécie
vegetal
Contorno(1)
Spondias mombin
R
Mangifera indica
R
Annonaceae
Annona muricata
R
Asteraceae
Bidens pilosa
Si
Anacardiaceae
Cucurbitaceae
Cera
epicuticular (2)
Indumento(3)
+
-
Célula
especial
-lizada(4)
Tt, Ts
(6)
Forma
Tipo de
feixe(7)
Do
Co
Hip
Is
Co
Hip
Do
Co
-
Anf
Do
Co
-
Anf
Do
Co
-
Anf
Do
nd
-
Tt e Ts em
Eb
Tt, Ts
(muito
na N)
Tt, Ts
(muito
na N)
Estômato(5)
Tecido
vascular
Anf (em
Ed na N)
-
-
Mesofilo
-
Cucumis sativus
nd
-
Cucurbita moschata
R
-
Fabaceae
Cajanus cajan
R
-
Tt, Ts
-
Hip
Do
Co
Lamiaceae
L.eonurus sibiricus
Si
-
Tt, Ts
-
Hip
Do
Co
Plectrnthus babatus
nd
-
Tt, Ts
-
Hip
Do
Co
Abelmoschus
esculentus
Hibiscus rosasinensis
R
-
Tt, Ts
Cm
Anf
Do
Co
R
-
Ts
Cm
Hip
Do
Co
Malpighia glabra
R
-
-
-
Hip
Do
Co
Hip
Do
nd
Malvaceae
Malpighiaceae
Meliaceae
Cedrela fissilis
R
Myrtaceae
Corymbia citriodora
R
-
-
-
Anf
Ho
Ac, Co
Psidium guajava
R
-
Tt (em
Ed só
na N)
-
Hip
Ho
Ac
Moraceae
Morus nigra
R
Cm
Hip
Ho
Co
Rubiaceae
Coffea canephora
R
-
-
-
Hip
nd
nd
Rutaceae
Citrus aurantifolia
R
-
-
Cm
Anf
Do
Ac, Co
Citrus limonia
R
-
-
Cm
Anf
Do
Co
Citrus reticulata
R
-
-
Cm
Hip
Do
Co
Citrus sinensis
R
-
-
Cm
Hip
Do
Co
Citrus frutescens
Si
-
Tt na N
e Ts no
limbo
-
Anf
Do
Ac, Co
Solanum gilo
Si
-
Tt, Ts
-
Anf
Do
Ac, Co
Vitis vinifera
R
-
Tt
-
Hip
Do
Solanaceae
Vitaceae
(1)
-
Tt, Ts
(Ts em
Eb)
-
Tt, Ts
-
Co
(2)
Contorno: contorno das paredes anticlinais das células epidérmicas; R, reto; Si, sinuoso.
Cera
epicuticular: tipo de cera epicuticular; +, cera epicuticular diferente de filme, porém não nomeada; -, cera
epicuticular tipo filme ou ausente. (3) Indumento: Tt, tricoma tector; Ts, tricoma secretor. (4) Célula
especializada: Cm, célula mucilaginosa epidérmica ou sub-epidérmica. (5) Estômato: localização do complexo
estomático; Anf, anfiestomático; Hip, hipoestomático. (6) Forma: forma do mesofilo: Do, dorsiventral; Is,
isobilateral; Ho, homogêneo. (7) Tipo de feixe: Co, colateral; Ac, anficrival. Abreviações: Ed, epiderme adaxial;
Eb, epiderme abaxial; N, nervura; nd, não disponível.
Apesar das variações estruturais e microbiológicas existentes entre, e mesmo
dentro, desses dois grupos de plantas, semelhanças e padrões no estabelecimento
bacteriano epifítico no filoplano puderam ser constatadas.
Na superfície foliar de todas as espécies vegetais estudadas houve o
predomínio de bactérias no formato de bastonete (Fig. 2A e B), seguido por 17 %
das espécies vegetais colonizadas também por bactérias no formato de cocos (Fig.
3D) (Tab. 4 e 5).
As bactérias epifíticas estavam aderidas à superfície foliar por adesão apolar
(Fig. 2A e B), ou seja, paralela à superfície (Olivares, 1997). As bactérias epifíticas
se apresentavam distribuídas pelo filoplano como células solitárias (Fig. 2A e B), ou
formando microcolônias (Fig. 2C e D), ou estruturadas em biofilmes (Fig. 2E e F).
Foram
classificados
como
microcolônias,
o
conjunto
de
células
espacialmente próximas, porém, não necessariamente, recobertas por uma matriz
extracelular comum. As microcolônias variaram bastante quanto ao número de
células presentes, estando na mesma classificação microcolônias mais populosas,
como em Capsicum frutescens (Fig. 2C e D) e microcolônias menos populosas,
como em Leonurus sibiricus (Fig. 3C). Apesar de algumas microcolônias não se
apresentarem totalmente recobertas por uma matriz extracelular comum, as
bactérias, muitas vezes, estavam em contato uma com as outras, e aderidas à
parede periclinal externa das células e de apêndices epidérmicos, através de
microfibrilas, como observado em Abelmoschus esculentus (Fig. 3A) e Brachiaria
decumbens (Fig. 8A). Ressalta-se que a presença de uma matriz extracelular
recobrindo as bactérias, ao invés de apenas microfibrilas, foi mais freqüente em
microcolônias mais populosas.
Foram classificados como biofilmes, populações microbianas numerosas,
cobertas por uma matriz extracelular comum, com bactérias aderidas umas as
outras e a superfície vegetal. As bactérias estruturadas em biofilmes foram
visualizadas apenas nas plantas pertencentes ao grupo com maior freqüência de
bactérias (Tab. 5), como, por exemplo, em Spondias mombin (Fig. 2E e F), Cucumis
sativus (Fig. 7A), Cucurbita moschata (Fig. 6A), Leonurus sibiricus (Fig. 7C - E),
Citrus aurantifolia (Fig. 9D, E), Citrus reticulata (Fig. 9A - C) e Citrus frutescens (Fig.
5A, B), enquanto no grupo de plantas com baixa freqüência de bactérias, células
solitárias e microcolônias foram predominantes (Tab. 4).
A maioria dos biofilmes estava localizada sobre a parede periclinal externa
das células epidérmicas propriamente ditas, sendo formados por associações entre
fungos e bactérias. Biofilme exclusivamente bacteriano também foi visualizado na
base do tricoma secretor de Leonurus sibiricus (Fig. 7C - E). Em Citrus reticulata
(Fig. 9A), os biofilmes foram formados sempre em locais onde hifas fúngicas
estavam presentes, não sendo encontrado biofilme exclusivamente bacteriano.
Com o auxílio da microscopia ótica e microscopia eletrônica de varredura,
foi constatado que as bactérias epifíticas não se distribuem aleatoriamente no
filoplano, existem locais preferenciais de estabelecimento e colonização microbiana
que estão diretamente relacionados às características anatômicas foliares da planta
hospedeira.
As características micromorfológicas e anatômicas das lâminas foliares
observadas no presente estudo foram: contorno das paredes anticlinais das células
epidérmicas (reto ou sinuoso), tipo de cera epicuticular (classificada conforme
Barthlott et al., 1998), presença de tricomas tectores e tricomas secretores, presença
de células especializadas da epiderme (ex: silicosas, buliformes, mucilaginosas),
localização dos estômatos na lâmina foliar (folha anfiestomática, hipoestomática e
epiestomática), forma do mesofilo (dorsiventral, isobilateral, homogêneo), tipo de
feixe vascular (colateral, bicolateral, anficrival, anfivasal) (Tabelas 6 e 7).
As bactérias não estavam distribuídas homogeneamente no filoplano. A
topografia foliar apresentava locais preferenciais de estabelecimento bacteriano, que
incluiam as flanges cuticulares (Fig. 3A - D), os complexos estomáticos (Fig. 4A - D),
as nervuras (Fig. 5A - F), os tricomas tectores (Fig. 6A - F) e os tricomas secretores
(Fig. 7A - H).
Em todas as amostras foliares foram visualizadas, em microscopia
eletrônica de varredura, bactérias solitárias ou em microcolônias, colonizando as
flanges cuticulares. Em Abelmoschus esculentus (Fig. 3 A) pode ser observado
bactérias aderidas as paredes periclinais externas de células epidérmicas adjacentes
e a outras bactérias através de microfibrilas. Tanto bactérias como fungos
colonizavam as flanges como observado no filoplano de Vitis vinifera (Fig. 3B). Em
Leonurus sibiricus (Fig. 3C) as bactérias foram visualizadas nas flanges, cujo
contorno é sinuoso. Em Psidium guajava (Fig. 3D) tanto bactérias no formato de
bastonete quanto no formato de cocos habitavam as flanges, cujo contorno é reto.
Os
complexos
estomáticos
também
podem
ser
considerados
microecossistemas explorados por diferentes microrganismos, como observado em
Spondias mombin (Fig. 4B) e Petroselinum crispum (Fig. 4C e D). Na epiderme
abaxial
de
P.
crispum
(Fig.
4D)
o
estabelecimento
de
microrganismos,
principalmente hifas fúngicas próximo ao complexo estomático foi muito mais intenso
que na epiderme adaxial, onde predominou a colonização bacteriana (Fig. 4C). Em
outras espécies vegetais, também anfiestomáticas, como, por exemplo, Citrus
citriodora, não foi constatado comportamento diferente de colonização bacteriana
entre as superfícies adaxiais e abaxiais. Na maioria das espécies hipoestomáticas, a
colonização microbiana foi mais intensa na superfície foliar abaxial. De modo geral,
foi observada uma maior quantidade de microrganismos colonizando as superfícies
foliares abaxiais.
Mediante a utilização da microscopia ótica e da microscopia eletrônica de
varredura, foi verificado que as nervuras também foram locais de colonização
bacteriana, sendo visualizadas bactérias solitárias como em Impatiens walleriana
(Fig. 2B), em microcolônias como em Manihot esculenta (Fig. 5C), estruturadas em
biofilmes como em Capsicum frutescens (Fig. 5A e B) e associadas a fungos como
em Malpighia glabra (Fig. 5D). Nas espécies vegetais, que apresentavam tricomas
tectores e secretores nas nervuras, foi observada abundante colonização bacteriana,
como exemplificado em Cucurbita moschata (Fig. 5E e F).
Os tricomas tectores também apresentavam colonização microbiana. Em
Psidium guajava (Fig. 6C e D), por exemplo, uma população microbiana
diversificada, composta por cocos, bastonetes e hifas fúngicas, foi encontrada na
base e sobre os tricomas tectores. Em Cucurbita moschata (Fig. 6A e B) e Bidens
pilosa (Fig. 6E) a base dos tricomas tectores foi o microecossistema preferencial de
estabelecimento epifítico, sendo encontrado biofilmes, microcolônias e esporos
fúngicos. Em outras espécies de plantas, como Morus nigra (Fig. 6F) microcolônias
foram constantemente observadas próximas a tricomas tectores.
Os tricomas secretores também estavam colonizados por microrganismos.
Em todas as espécies vegetais que apresentavam tricomas secretores, foram
visualizadas bactérias na base dos mesmos. A microscopia ótica permitiu a
observação de biofilmes na base e próximos aos tricomas secretores de Cucumis
sativus (Fig. 7A) e em microscopia eletrônica de varredura, foi confirmada a
presença de bactérias habitando a células da cabeça e a base do tricoma secretor
(Fig. 7B). Biofilmes também foram visualizados, em microscopia ótica, na base do
tricoma secretor de Leonurus sibiricus (Fig. 7C), e através da microscopia eletrônica
de varredura, foi confirmada a presença de bactérias cobertas por uma matriz
extracelular comum, na base do tricoma (Fig. 7D e E). Em Hibiscus rosa-sinensis
(Fig. 7F - H) microcolônias foram observadas na base do tricoma secretor, na flange
entre a célula epidérmica propriamente dita e o tricoma.
Ressalta-se que 58 % das espécies vegetais com alta freqüência bacteriana
apresentavam tricomas secretores em pelo menos uma das superfícies da lâmina
foliar, enquanto apenas 21 % das espécies vegetais com baixa freqüência possuíam
essa característica anatômica em pelo menos uma das superfícies (Tab. 6 e 7).
Apesar da amostragem empregada nesse estudo ter sido baseada em uma
diversidade de famílias botânicas e não em uma variedade de espécies
pertencentes a uma mesma família, semelhanças na associação bactéria-planta
entre espécies pertencentes ao mesmo táxon foram observadas, como pode ser
verificado nas famílias Poaceae e Rutaceae.
Todas as seis espécies, Brachiaria brizantha, Brachiaria decumbens,
Hyparrhenia
rufa,
Panicum
maximum,
Pennisetum
purpureum,
Zea
mays,
pertencentes à família Poacea, apresentaram baixa freqüência de bactérias e
fungos, habitando as superfícies foliares abaxiais e adaxiais. As bactérias estavam
presentes como células solitárias como pode ser observado em B. decumbens (Fig.
8A), ou formando microcolônias como em B. brizantha (Fig. 8C e D). Apesar da
baixa freqüência de bactérias no filoplano, há uma diversidade microbiana, pois
foram encontradas bactérias no formato de cocos (Fig. 8B e D) e no formato de
bastonete (Fig. 8A e C) em ambas as espécies vegetais. Na superfície abaxial de B.
decumbens (Fig. 8A), microfibrilas estavam presentes ancorando a bactéria na
superfície foliar. Em B. brizantha (Fig. 8C) as bactérias provavelmente degradaram a
cutícula presente ao redor da célula para obterem uma ancoragem mais eficiente.
Em todas as espécies de plantas da família Poaceae foi visualizado células silicosas
na epiderme (Tab. 6).
Diferentemente da família Poaceae, a família Rutaceae apresentou uma alta
freqüência de colonização microbiana nas superfícies adaxial e abaxial de todas as
quatro espécies estudadas, Citrus aurantifolia, C. limonia, C. reticulata, C. sinensis.
As bactérias estavam presentes como células solitárias, ou formando microcolônias,
ou estruturadas em biofilmes na parede periclinal externa das células epidérmicas.
Os
biofilmes
sempre
eram
compostos
por
hifas
fúngicas
e
bactérias
predominantemente no formato de bastonete, como pode ser visualizado no
filoplano de C. reticulata (Fig. 9A, B). Através da microscopia ótica foi constatada a
presença de células mucilaginosas e biofilme na lâmina foliar de C. aurantifolia (Fig.
9C). Com o auxílio da microscopia eletrônica de varredura, foi confirmada a
presença de bactérias e fungos estruturados em biofilme (Fig. 9D, E).
Todas
as
espécies
de
plantas
pertencentes
à
família
Rutaceae
apresentavam células mucilaginosas na lâmina foliar (Tab. 6). Células mucilaginosas
também estavam presentes em outras espécies vegetais com alta freqüência de
bactérias como Morus nigra, Abelmoschus esculentus e Hibiscus rosa-sinensis (Tab.
6). No entanto, nas espécies de plantas com baixa freqüência de colonização
microbiana não foi constatada a presença desse caracter anatômico (Tab. 7).
Algumas similaridades na microbiota epifítica puderam ser verificadas em
espécies vegetais pertencentes a diferentes famílias botânicas, mas que
apresentavam características anatômicas semelhantes. Nas espécies vegetais
Averrhoa carambola (Oxalidaceae), Chicorium intybus (Asteraceae) e Carica papaya
(Caricaceae), por exemplo, que apresentaram cera epicuticular do tipo plaquetas,
não foi visualizado com freqüência colonização microbiana. Em A. carambola, a cera
epicuticular em plaquetas (Fig. 10A), provavelmente dificultou a colonização
microbiana e foi rara a presença de bactérias e de hifas fúngicas (Fig. 10B). Em C.
intybus bactérias foram visualizadas apenas onde as plaquetas (Fig. 10C) não
estavam presentes, como por exemplo, no complexo estomático (Fig. 10D). Em C.
papaya, ocorreu o mesmo padrão de colonização, microcolônias foram visualizadas
apenas onde a cera epicuticular, plaquetas no formato de rosetas (Fig. 10E),
estavam ausentes (Fig. 10F). A presença de cera epicuticular do tipo plaqueta foi
mais intensa nas espécies vegetais com baixa freqüência de bactérias (Tab.6).
Entre todas as características anatômicas analisadas, aquelas que não
tiveram influência no padrão de distribuição das bactérias epifíticas no filoplano
foram o contorno das paredes anticlinais das células epidérmicas, forma do mesofilo
e tipo de feixe vascular. As demais características parecem influenciar o
estabelecimento bacteriano (Tab. 6 e 7).
5.2. Fungos epifíticos nas amostras de tecidos foliares
Na maioria das espécies vegetais estudadas foram observadas estruturas
fúngicas na forma de esporos ou de hifas. O filoplano da nervura central de
Corymbia citriodora, por exemplo, apresentou, em microscopia ótica, intensa
colonização microbiana (Fig.11A), sendo confirmada, por microscopia eletrônica de
varredura, a presença de estruturas fúngicas (Fig. 11B).
Os fungos além de colonizarem a parede periclinal das células epidérmicas,
também foram visualizados colonizando os locais preferenciais de estabelecimento
bacteriano, como, por exemplo, a base dos tricomas tectores e secretores (Fig.
11C), as flanges cuticulares de Abelmoschus esculentus (Fig. 11D), a nervura
central de Mangifera indica (Fig. 11E) e os complexos estomáticos de Impatiens
walleriana (Fig. 11F).
Ressalta-se que a alta freqüência bacteriana estava associada à alta
freqüência fúngica (Tab. 6 e 7).
5.3. Microrganismos epifíticos nas amostras de tecidos radiculares
A observação das amostras de raiz foi dificultada em microscopia eletrônica
de varredura pela presença de material mucilaginoso, partículas de solo, e
principalmente devido ao rompimento das células epidérmicas e peridérmicas.
Em microscopia ótica foi visualizada, no rizoplano, a presença de material
mucilaginoso de diferentes espessuras, como observado em Lactuca sativa (Fig.
12A), Chicorium intybus (Fig. 12B), Carica papaya (Fig. 12E e F) e Citrus limonia
(Fig. 12G e H). Material mucilaginoso também foi observado próximo aos pêlos
radiculares como, por exemplo, em Brachiaria decumbens (Fig. 12C) e Hibiscus
rosa-sinensis (Fig. 12D).
5.4. Microrganismos endofíticos
Nas secções transversais radiculares foram observados, com freqüência,
estabelecimento fúngico endofítico na forma de associações micorrízicas, como
pode ser verificado, por exemplo, no córtex das espécies Capsicum frutescens (Fig.
13A e B), Annona muricato (Fig. 13C e D), Vitis vinifera (Fig. 13E) e Brachiaria
decumbens (Fig. 13F).
Com o auxílio da microscopia ótica, foi constatado que a maioria das
micorrizas são do tipo endomicorrizas. Em Capsicum frutescens (Fig. 13B), por
exemplo, características das endomicorrizas vesicular-arbusculares puderam ser
identificadas, tais como a formação de arbúsculos através da ramificação de hifas
nas células do córtex e a preservação estrutural da parede celular.
Colonização bacteriana endofítica não foi visualizada nas amostras de
raízes e lâminas foliares estudadas.
Figura 2. Microscopia eletrônica de varredura (MEV). Padrões de distribuição de
bactérias epifíticas no filoplano: (A e B) solitárias, (C e D) microcolônias e (E e F)
biofilmes; (A) bactérias solitárias em adesão apolar na superfície abaxial de
Brachiaria brizantha (Poaceae) e (B) na nervura central de Impatiens walleriana
(Balsaminaceae); (C e D) microcolônia na flange de Capsicum frutescens
(Solanaceae); (E e F) bactérias e outros microrganismos estruturados em biofilme no
filoplano de Spondias mombin (Anacardiaceae). Abreviações: Eb, epideme abaxial;
Ce, complexo estomático; seta, bactérias; estrela, hifa fúngica.
Figura 3. MEV. Flanges cuticulares, local de colonização bacteriana epifítica; (A)
bactérias nas flanges da superfície adaxial da lâmina foliar de Abelmoschus
esculentus (Malvaceae), presença de microfibrilas de adesão; (B) bactérias e hifa
fúngica nas flanges de Vitis vinifera (Vitaceae); (C) microcolônia na flange de
Leonurus sibiricus (Lamiaceae); (D) cocos e bastonetes na flange de Psidium
guajava (Myrtaceae). Abreviações: Ed, epiderme adaxial; Eb, epiderme abaxial; seta
fina, bactérias na forma de bastonete; seta grossa, bactérias na forma de cocos;
estrela, hifa fúngica.
Figura 4. Microscopia ótica (MO) (A) e MEV (B, C e D). Complexo estomático local
de colonização bacteriana epifítica; (A e B) Spondias mombin (Anacardiaceae), (A)
seção transversal da lâmina foliar evidenciando complexo estomático na epiderme
abaxial, (B) bactérias e hifas fúngicas próximas ao complexo estomático; (C e D)
Petroselinum crispum (Apiaceae), (C) microcolônia sobre o complexo estomático na
epiderme adaxial, (D) agregado fúngico e bacteriano sobre o complexo estomático
na epiderme abaxial. Abreviações: Pl, parênquima lacunoso; Eb, epiderme abaxial;
Ed, epiderme adaxial; asterisco, complexo estomático; seta, bactéria; estrela, hifa
fúngica.
Figura 5. MO (A e B) e MEV (C, D, E, F). Nervura, local de colonização bacteriana
epifítica; (A e B) seção transversal da lâmina foliar de Capsicum frutescens
(Solanaceae) mostrando biofilme bacteriano sobre a nervura; (C) microcolônia sobre
a medula de Manihot esculenta (Euphorbiaceae); (D) bactérias e fungos sobre a
medula de Malpighia glabra (Malpighiaceae); (E e F) bactérias colonizando a nervura
de Cucurbita moschata (Cucurbitaceae) próximo aos tricomas. Abreviações: Co,
colênquima; P, parênquima; Ed, epiderme adaxial; Eb, epiderme abaxial; Tt, tricoma
tector; Ts, tricoma secretor; seta, bactérias; estrela, hifa fúngica.
Figura 6. MO (A) e MEV (B, C, D, E, F). Tricoma tector, local de colonização
bacteriana epifítica; (A e B) Cucurbita moschata (Cucurbitaceae), (A) seção
transversal da lâmina foliar evidenciando biofilme bacteriano sobre o tricoma tector,
(B) detalhe do agregado bacteriano na base do tricoma tector; (C e D) Psidium
guajava (Myrtaceae), (C) diversidade microbiana (cocos, bastonete, fungos)
estruturada em biofilme na base do tricoma tector, (D) microcolônia sobre tricoma
tector; (E) esporos fúngicos na base e bactérias sobre o tricoma tector de Bidens
pilosa (Asteraceae); (F) microcolômia próximo ao tricoma tector de Morus nigra
(Moraceae). Abreviações: P, parênquima; Tt, tricoma tector; Eb, epiderme abaxial;
Ed, epiderme adaxial; seta preta, biofilme; seta fina, bastonete; seta grossa, cocos;
estrela, hifa fúngica; triângulo, esporo fúngico.
Figura 7. MO (A, C, F) e MEV (B, D, E, G, H). Tricoma secretor, local de colonização
bacteriana epifítica; (A e B) Cucumis sativus (Cucurbitaceae), (A) seção transversal
da lâmina foliar mostrando biofilme no filoplano próximo ao tricoma secretor, (B)
colonização bacteriana sobre a cabeça e na base do tricoma secretor; (C, D, E)
Leonurus sibiricus (Lamiaceae), (C) seção transversal da lâmina foliar mostrando
biofilme na base do tricoma secretor, (D, E) confirmação da presença de biofilme
bacteriano na base do tricoma secretor; (F, G, H) Hibiscus rosa-sinensis
(Malvaceae), (F) seção transversal da lâmina foliar mostrando tricoma secretor, (G,
H) microcolônia na base do tricoma secretor. Abreviações: Ts, tricoma secretor; Eb,
epiderme abaxial; P, parênquima; Tt, tricoma tector; seta, bactérias.
Figura 8. MEV. Poaceae, família botânica com baixa freqüência de observações
bacterianas; (A e B) Brachiaria decumbens, (A) bactérias no formato de bastonete
aderidas na parede periclinal externa das células epidérmicas abaxiais, presença de
microfibrilas de adesão, (B) bactérias no formato de cocos aderidas na parede
periclinal externa das células epidérmicas adaxiais; (C e D) epiderme abaxial de B.
brizantha, (C) bactérias no formato de bastonete aderidas na superfície foliar, (D)
cocos localizado no filoplano. Abreviações: Eb, epiderme abaxial; Ed, epiderme
adaxial; seta fina, bastonete; seta grossa, cocos.
Figura 9. MO (C) e MEV (A, B, D, E). Rutaceae, família botânica com alta freqüência
de observações bacterianas; (A e B) bactérias e fungos estruturados em biofilme na
epiderme abaxial de of Citrus reticulata; (C) corte transversal da lâmina foliar de C.
aurantifolia evidenciando a presença de células mucilaginosas e biofilme no
filoplano, (D e E) confirmação da presença de bactérias e fungos estruturados em
biofilme. Abreviações: Eb, epiderme abaxial; Ed, epiderme adaxial; seta grossa,
biofilme; seta fina, bactéria; estrela, hifa fúngica.
Figura 10. MEV. Cera epicuticular do tipo plaquetas dificulta a colonização
bacteriana no filoplano; (A e B) epiderme abaxial de Averrhoa carambola
(Oxalidaceae), (A) cera epicuticular do tipo plaquetas e (B) rara presença de
bactérias e hifas fúngicas sobre a superfície epicuticular; (C e D) epiderme abaxial
de Chicorium intybus (Asteraceae), (C) cera epicuticular do tipo plaquetas e (D)
bactérias colonizando o complexo estomático, onde as plaquetas estão ausentes; (E
e F) epiderme adaxial de C. papaya (Caricaceae), (E) cera epicuticular do tipo
plaquetas no formato de rosetas, (F) microcolônia localizada onde as plaquetas no
formato de rosetas estão ausentes. Abreviações: Eb, epiderme abaxial; Ed,
epiderme adaxial; Ce, complexo estomático; seta, bactérias; estrela, hifa fúngica.
Figura 11. MO (A) e MEV (B, C, D, E, F). Presença freqüente de estruturas fúngicas
no filoplano das espécies vegetais estudadas; (A e B) epiderme adaxial de Corymbia
citriodora (Myrtaceae), (A) seção transversal da nervura central da lâmina foliar
evidenciando a presença de biofilmes microbianos no filoplano e (B) a confirmação
da presença de estruturas fúngicas; (C e D) Abelmoschus esculentus (Malvaceae),
(C) superfície foliar contendo hifas fúngicas sobre as células epidérmicas
propriamente ditas e próximas aos tricomas tectores e secretores, (D) hifa fúngica
presente nas flanges , assim como bactérias; (E) presença de hifas fúngicas na
nervura central de Mangifera indica (Anacardiaceae); (F) colonização fúngica sobre o
complexo estomático de Impatiens walleriana (Balsaminaceae). Abreviações: Ed,
epiderme adaxial; Eb, epiderme abaxial; Co, colênquima; Es, esclerênquima; Ce,
complexo estomático; Tt, tricoma tector; Ts, tricoma secretor; seta, bactéria; estrela,
hifa fúngica.
Figura 12. MO. Presença de material mucilaginoso no rizoplano de diferentes
espécies vegetais; (A) Lactuca sativa (Asteraceae); (B) Chicorium intybus
(Asteraceae); (C) Brachiaria decumbens (Poaceae); (D) Hibiscus rosa-sinensis
(Malvaceae); (E e F) Carica papaya (Caricaceae); (G e H) Citrus limonia (Rutaceae).
Abreviações: Ep, epiderme; Co, colênquima; P, pêlo radicular; seta, mucilagem.
Figura 13. MO. Presença de fungos micorrízicos em diferentes espécies vegetais;
seção transversal da raiz evidenciando a presença de micorrizas no córtex de (A e
B) Capsicum frutescens (Solanaceae); (C e D) Annona muricato (Annonaceae); (E)
Vitis vinifera (Vitaceae); (F) Brachiaria decumbens (Poaceae). Nota-se em C.
frutescens (B) a ramificação de hifas para formação de arbúsculo na célula cortical.
Abreviações: Co, colênquima; seta, micorriza; estrela, mucilagem.
6. Discussão
6.1. Microrganismos epifíticos nas amostras de tecidos da lâmina foliar
Mediante a utilização da microscopia ótica e da microscopia eletrônica de
varredura foram visualizados microrganismos habitando todas as espécies vegetais
assintomáticas, sendo as bactérias, os habitantes mais freqüentes e numerosos.
Esse fato, aliado aos estudos de Azevedo (1999) e Manfio (2003), os quais relatam
que são pouquíssimas as espécies bacterianas atualmente conhecidas em relação
às estimadas, reforçam a importância e necessidade de estudos contínuos sobre as
interações entre bactéria-planta para real compreensão, macro e micro, dos
agroecossistemas tropicais.
A presença de uma maior colonização bacteriana, seguida por fungos, no
filoplano das espécies tropicais estudadas, coincide com os dados encontrados na
literatura para ambientes temperados. Karamanoli et al. (2000), por exemplo,
estudando as plantas aromáticas do mediterrâneo (Lavandula angustifolia,
Rosmarius officinalis, Salvia fruticosa e Origanum vulgare) estimaram através das
técnicas microbiológicas uma população bacteriana epifítica no filoplano entre 4 x
102 a 5 x 105 UFC / g de folha. Krimm et al. (2005), estudando o filoplano de
morango (Fragaria ananassa cv. Elsanta), identificaram por sequenciamento gênico
do 16S rRNA, 324 estirpes bacterianas, pertencentes principalmente aos gêneros
Pseudomonas, Stenotrophomonas, Bacillus e Arthrobacter. Independentemente da
técnica utilizada, micromorfológica, microbiológica, ou de biologia molecular, os
dados indicam uma abundância de bactérias colonizando as superfícies foliares.
O filoplano se constitui em um extenso habitat bacteriano. Segundo Morris &
Kinkel (2002), é estimado que a superfície foliar terrestre colonizada por
microrganismos seja de aproximadamente 6,4 x 108 km2. Esses autores também
estimaram que a população bacteriana epifítica global pode ser maior que 1026
células, devido ao grande número de bactérias já relatadas no filoplano de plantas
de ambientes temperados, somado a população bacteriana de ambientes tropicais.
Apesar de serem observadas bactérias na superfície vegetal de todas as
espécies estudadas, o filoplano, aparentemente, possui características bastante
hostis para a colonização de microrganismos, como uma alta incidência de
radiações ultravioleta, rápidas flutuações de temperatura e umidade relativa, limitada
disponibilidade de nutrientes, impactos mecânicos freqüentes ocasionados, por
exemplo, por partículas presentes no vento e gotas de chuva.
Para sobrepor essas barreiras, as bactérias utilizam mecanismos do próprio
sistema biológico, aliado a mecanismos da comunidade microbiana, além de
colonizarem nichos específicos na topografia foliar.
As bactérias associadas às plantas são freqüentemente visualizadas
reunidas em comunidades denominadas agregados, microcolônias e biofilmes
(Morris & Monier, 2003). O biofilme pode ser definido como microrganismos aderidos
uns aos outros e a uma superfície através de uma matriz extracelular comum
(Costerton et al., 1995; Donlan, 2002; Morris & Monier, 2003). Porém, para
descrever agrupamentos bacterianos menores e não necessariamente recobertos
por uma matriz extracelular comum, os termos agregados e microcolônias se
confundem, representando comunidades bacterianas com tamanhos variados.
No presente estudo, foram visualizadas bactérias como células únicas,
classificadas como solitárias, reunidas em grupos de tamanhos variados e não
necessariamente recobertos por uma matriz extracelular, classificadas como
microcolônias e grupos mais populosos, com microrganismo unidos uns aos outros e
à superfície foliar por uma matriz extracelular comum, classificados como biofilmes.
Bactérias em microcolônias foram freqüentemente observadas aderidas
umas as outras e à superfície foliar através de microfibrilas. Essas estruturas
filamentosas
são
provavelmente
formadas
pela
secreção
bacteriana
de
polissacarídeos extracelulares (EPS). Como o processamento para microscopia
eletrônica de varredura envolve várias etapas de lavagem e desidratação, muitos
microrganismos epifíticos e principalmente muitos polissacarídeos extracelulares
podem ter sido extraídos. Essas microfibrilas talvez representem o remanescente
desidratado de uma matriz extracelular que originalmente recobria toda a célula ou
até mesmo toda comunidade bacteriana. Portanto, nem sempre é possível, através
da microscopia eletrônica de varredura, distinguir biofilmes de microcolônias.
A produção de EPS é considerada
um fator essencial para o
estabelecimento dos agregados bacterianos, pois protege as bactérias da
dessecação, concentra minerais e nutrientes, reduz o contato bacteriano com
compostos tóxicos, aumenta a aderência bacteriana na superfície foliar e pode estar
envolvida com os processos patogênicos (Denny, 1995). Kemp et al. (2004)
constataram que mutantes de Xanthomonas axonopodis pv. manihotis não
produtores de xantana (EPS) possuíam patogenicidade severamente atenuada,
sendo mais suscetíveis a toxidade por peróxido de hidrogênio e possuindo
dificuldade de dispersão no interior da planta. Esses autores também constataram
que esses mutantes possuíam reduzida sobrevivência epifítica, pois eram mais
vulneráveis às radiações ultravioleta.
As bactérias presentes em agregados, portanto, apresentam uma maior
persistência no ambiente comparado com as células isoladas, como confirmado pelo
experimento de Monier & Lindow (2003). Estudando a colonização de Pseudomonas
syringae no filoplano de feijão submetido a diferentes condições de umidade, esses
autores constataram que as bactérias presentes em agregados apresentaram uma
maior sobrevivência comparada com as bactérias solitárias, concluindo que a
agregação aumenta a resistência das bactérias a estresses hídricos, possivelmente
devido à presença de uma matriz de EPS.
Por meio da microscopia eletrônica de varredura foi constatado que
microcolônias mais populosas apresentavam, com mais freqüência, uma matriz
extracelular recobrindo as células, ao invés de microfibrilas, refletindo o conceito de
densidade-dependente. As bactérias através do sistema “quorum sensing” percebem
e respondem a densidade populacional, através da produção e difusão de moléculas
sinalizadoras, sendo a síntese de EPS um dos fatores regulados por esse
mecanismo (Whitehead et al., 2001; Bodman et al., 2003). Como o presente estudo
não possui escala temporal, pode se supor que essas microcolônias talvez estejam
evoluindo para formação de biofilmes através da contínua produção de EPS e
crescimento do agregado (Pratt & Kolter, 1999; O’ Toole et al., 2000; Sutherland,
2001).
Os biofilmes foram visualizados em várias espécies vegetais, pertencentes
a diferentes famílias botânicas, na superfície epidérmica abaxial e adaxial. A maioria
dos biofilmes era composta por bactérias associadas a estruturas fúngicas, sendo
observado poucos biofilmes exclusivamente bacterianos. Watnick & Kolter (2000) e
Sutherland (2001) citam que em ambientes naturais, biofilmes monoespecíficos são
raros,
a
maioria
são
multiespecíficos,
compostos
por
uma
mistura
de
microrganismos. Os biofilmes visualizados podem ser considerados comunidades
microbianas complexas, onde ocorrem interações interespecíficas e intraespecificas
(Andrews & Harris, 2000) ainda não completamente compreendidas.
Vale ressaltar, que em algumas espécies vegetais estudadas, como por
exemplo, Citrus reticula, foram observados vários biofilmes e também agregados
microbianos
compostos
sempre
por
fungos
e
bactérias
e
distribuídos
sistematicamente por todo filoplano. A formação dessas comunidades microbianas
estruturadas parece depender de modificações microambientais realizadas pelas
espécies fúngicas. As hifas fúngicas juntamente com a planta hospedeira, talvez, ao
liberarem nutrientes no filoplano, estejam sustentando o estabelecimento bacteriano
e em contrapartida criando um microambiente mais protegido para o crescimento
fúngico. Ou o contrário pode estar ocorrendo, modificações microambientais
provocadas pelas bactérias talvez estejam influenciando a colonização fúngica.
Estudos posteriores sobre sucessão ecológica são necessários para elucidar essa
questão.
Através dessas observações surgem alguns questionamentos, como: quais
os eventos que levam a formação de biofilmes multiespecíficos? Quais as interações
que ocorrem entre esses diferentes microrganismos? E entre biofilme multiespecífico
e a planta hospedeira?
As bactérias usufruem de vários processos cooperativos quando presentes
em comunidade (O´Tole et al., 2000; Jefferson, 2004), logo a formação de biofilme
pode ser bastante vantajosa para o estabelecimento e sobrevivência bacteriana na
superfície hostil das folhas.
Os resultados obtidos mostram que para sobrepor aos estresses presentes
no filoplano, as bactérias além de formarem comunidades, colonizavam locais
específicos na topografia foliar, como as flanges cuticulares, os complexos
estomáticos, as nervuras, os tricomas tectores e secretores. As razões pelas quais
as
bactérias
habitam
preferencialmente
esses
locais,
ainda
não
estão
completamente identificadas.
Apesar de não serem comuns dados em escala micrométrica sobre a
incidência de radiação ultravioleta, disponibilidade de nutrientes, umidade relativa e
físico-química de superfície desses locais, provavelmente, são esses os fatores que
diferenciam esses microecossistemas do restante da superfície foliar, apresentando
características mais propícias para o estabelecimento e colonização bacteriana.
As fontes de nutrientes no filoplano podem ter origem exógena, como grãos
de pólen, poeira, fragmentos de inseto, ou origem endógena, através da exsudação
de substâncias do interior foliar. Mesmo plantas saudáveis exsudam carboidratos,
ácidos orgânicos e aminoácidos no filoplano, sendo a quantidade exsudada variável
conforme a espécie vegetal, idade da folha, fisiologia e condições ambientais (Taiz &
Zeiger, 1991).
A disponibilidade de carbono é considerada um dos fatores mais limitantes
na colonização bacteriana epifítica (Mercier & Lindow, 2000). Leveau & Lindow
(2001) observaram que o consumo de frutose e sacarose por Erwinia herbicola
ocorre preferencialmente nas flanges cuticulares, nervuras, complexos estomáticos e
ferimentos localizados na superfície foliar de Phaseolus vulgaris. Esses dados
indicam que os nutrientes não estão uniformemente distribuídos no filoplano,
influenciando diretamente a dinâmica da microbiota epifítica.
Em todas as amostras foliares foram visualizadas bactérias colonizando as
flanges cuticulares, ou seja, as junções das paredes periclinais externas das células
epidérmicas das superfícies adaxiais e abaxiais. As paredes celulares estão em
contato uma com as outras através da lamela média, uma camada cimentante que
apresenta natureza péctica (Apepezzato-da-Glória & Carmello-Guerreiro, 2003). As
pectinas formam um grupo heterogêneo de polissacarídeos ramificados constituídos
por unidades de ácido galacturônico unidos através de ligações α 1 – 4 e carregados
negativamente. Devido às cargas negativas, as pectinas são altamente hidratadas e
se associam ao Ca2+, adquirindo consistência gelatinosa e propiciando uma união
das paredes celulares vegetais adjacentes (Raven et al., 2001). Talvez, essa maior
disponibilidade de Ca2+ nas flanges , seja um fator favorável ao estabelecimento
bacteriano, pois auxiliaria no processo de adesão celular. O cálcio faria a mediação
entre as superfícies negativamente carregadas da bactéria e da superfície foliar.
Esse mecanismo de adesão microrganismo-planta já foi descrito para a bactéria
fixadora de nitrogênio Rhizobium leguminosarum (Smit et al., 1989) e para o fungo
Colletrotrichum graminicola (Leite et al., 2000).
Através da microscopia eletrônica de varredura, foi observado que as
flanges formam depressões na superfície foliar. Portanto, os nutrientes lavados do
filoplano pela chuva podem se depositar juntamente com a água, nesses locais,
propiciando um ambiente mais adequado ao estabelecimento microbiana. Além
disso, é provável que essas depressões estejam menos expostas aos efeitos do
vento e da radiação incidente, sendo um ambiente mais protegido para as bactérias.
Os complexos estomáticos já foram relatados como locais preferenciais de
colonização de bactérias fitopatogênicas e como um tipo de abertura natural por
onde pode ocorrer à penetração das mesmas (Huang, 1986).
A preferência
bacteriana por esse microecossistema pode ser devido a maior umidade desses
locais comparado ao restante da lâmina foliar. Os complexos estomáticos estão
relacionados com as trocas gasosas entre planta-atmosfera e com a saída de água
pelo processo transpiratório (Taiz & Zeiger, 1991), apresentando-se como um local
mais úmido e propício para o estabelecimento de microrganismos.
A presença de bactérias nos complexos estomáticos também pode estar
relacionada com a presença de estruturas fúngicas. Foram visualizados fungos
habitando os complexos estomáticos e penetrando na planta através do ostíolo.
Freqüentemente, bactérias foram observadas associadas a essas estruturas
fúngicas. Apesar do estudo das interações entre fungos e bactérias epifíticas se
restringirem às interações maléficas, visando desenvolvimento de técnicas e
estratégias aplicadas no controle biológico (Postmaster et al., 1997; Abanda-Nkpwatt
et al., 2006; Singh et al., 2004), supõe-se que interações benéficas entre esses
microrganismos também ocorram com freqüência nas superfícies foliares.
De modo geral, a colonização microbiana foi mais abundante na superfície
epidérmica abaxial, o que pode ser o reflexo da presença mais freqüente dos
complexos estomáticos. Outros fatores, como: menor incidência de radiação
ultravioleta, diferenças na composição das paredes periclinais externas das células
epidérmicas e características da própria bactéria, podem estar envolvidos. Kemp et
al. (2004), por exemplo, constataram que Xanthomonas axonopodis se estabelece
preferencialmente na superfície epidérmica adaxial das folhas anfiestomáticas de
mandioca, provavelmente devido à alta hidrofobicidade da cera presente sob a
superfície epidérmica abaxial.
As nervuras da lâmina foliar foram observadas como locais de
estabelecimento bacteriano, sendo visualizadas bactérias solitárias, microcolônias e
biofilmes. Brandl & Mandrell (2002), ao estudarem a colonização de Salmonella
enterica no filoplano de Coriantrum sativum, também observaram, por microscopia
confocal, a tendência de bactérias colonizarem, como agregados, as nervuras das
lâminas foliares.
A nervura representa o local no qual está situado a maior quantidade de
elementos celulares do sistema vascular da lâmina foliar, possuindo as funções de
transportar água e solutos dissolvidos na corrente transpiratória e translocar os
produtos da fotossíntese para outras partes da planta (Appezzato-da-Glória &
Carmello-Guereiro, 2003). A preferência bacteriana por esse local talvez esteja
relacionada à maior presença de água e nutrientes translocados do sistema vascular
para o exterior foliar.
As paredes periclinais externas das células epidérmicas presentes nas
nervuras podem apresentar características físico-químicas diferentes das paredes
periclinais externas das células que compõem o restante da lâmina foliar, refletindo
em uma superfície mais propícia para a adesão e colonização microbiana. Em
algumas espécies vegetais, a nervura apresenta diferentes tricomas tectores e
secretores, o que pode influenciar no estabelecimento microbiano.
Os tricomas podem ser considerados locais de colonização bacteriana. A
grande diversidade existente de tricomas tectores e secretores, com diferentes
características estruturais e químicas, produzindo, acumulando e secretando
diferentes compostos do metabolismo primário e secundário (Metcalfe & Chalk,
1950; Ascensão & Pais, 1997; Ascensão et al., 1999), pode se refletir em uma
diversidade de associações entre microbiota-planta, variando entre interações
benéficas a maléficas.
Monier & Lindow (2004) observaram por microscopia epifluorescente,
agregados da bactéria fitopatogênica Pseudomonas syringae habitando a base dos
tricomas de Phaseolus vulgaris, confirmando a preferência das bactérias
fitopatogênicas de colonizarem esse sítio. As bactérias fitopatogênicas, além de
colonizarem, também podem penetrar na planta através de aberturas que surgem
por injúrias e por ferimentos dos tricomas (Huang, 1986).
No entanto, visando impedir o estabelecimento da doença, as plantas
possuem mecanismos de defesa que incluem a secreção através dos tricomas
secretores de metabólicos secundários com atividade antimicrobiana (Karamanoli et
al., 2000; Proestos et al., 2006).
São vários os tipos de substâncias sintetizadas nos tricomas secretores
através do metabolismo secundário, incluindo os grupos dos terpenos, dos
compostos fenólicos e dos compostos nitrogenados (Taiz & Zeiger, 1991). A função
desses compostos na dinâmica da microbiota benéfica epifítica ainda é pouco
compreendida, pois por muito tempo os estudos foram focados em compostos com
atividade antifúngica e antibacteriana (Croft et al., 1993; Kalemba & Kunicka, 2003).
Recentemente, Abanda-Nkpwatt et al. (2006), observaram que bactérias
epifíticas dos gêneros Pseudomonas, Stenotrophomonas, Bacillus, Arthrobacter são
capazes de metabolizarem compostos voláteis produzidos pelos tricomas secretores
de morango, ao contrário do fungo fitopatogênico Botrytis cinerea que apresentou
inibição de crescimento. Logo, os metabólicos secundários secretados pelos
tricomas atuam diretamente na dinâmica da microbiota epifítica, possuindo
diferentes efeitos dependendo do tipo de substância e microrganismo.
Semelhanças na associação bactéria-planta entre espécies pertencentes ao
mesmo táxon foram observadas, refletindo a importância e influência que as
características botânicas exercem na microbiota epifítica.
Todas as espécies vegetais pertencentes à família Poaceae apresentaram
uma baixa frequência de colonização bacteriana, ao contrário do observado na
família Rutaceae. Provavelmente as características da parede periclinal externa das
células epidérmicas, como presença de sílica e alta hidrofobicidade, seja um dos
fatores determinantes da baixa freqüência de colonização bacteriana na família
Poaceae, pois dificultaria o processo de adesão celular. A presença de células
mucilaginosas na lâmina foliar das espécies vegetais da família Rutaceae talvez
exerçam influência positiva no estabelecimento bacteriano epifítico, ao exsudarem
mucilagem para o filoplano, que serviria como fonte de água e nutrientes. Estudos
mais aprofundados são necessários para compreender esses diferentes padrões.
A presença de cera epicuticular do tipo plaqueta pode ser considerado uma
característica anatômica determinante na dinâmica da microbiota epifítica,
influenciando negativamente o estabelecimento bacteriano. Esses resultados estão
de acordo com os dados obtidos por Kinkel et al. (2000) que utilizando métodos
microbiológicos obtiveram um maior número de bactérias culturáveis de folhas de
Cucumis sativus e Phaseolus vulgaris comparado com folhas cerosas de gramíneas.
A interação entre bactéria e cutícula ou cera epicuticular ainda é pouco
compreendida. Alguns estudos indicam que algumas bactérias são capazes de
influenciar as propriedades da cutícula, como a permeabilidade, para obterem água
e nutrientes do interior foliar (Knoll et al., 2000, Schreiber et al., 2004, Singh et al.,
2004, Krimm et al., 2005). No presente estudo foram visualizadas por microscopia
eletrônica de varredura bactérias aderidas ao filoplano em “cavidades” que
provavelmente surgiram pela digestão da cutícula ou cera epicuticular através de
substâncias
secretadas
pelas
bactérias,
como
biosurfactante (Knoll et al., 2000, Schreiber et al., 2004).
moléculas
com
atividade
Através da comparação dos resultados obtidos no presente estudo com os
dados encontrados na literatura, pode se inferir que o comportamento bacteriano
epifítico é bastante semelhante em ambientes temperados e tropicais (Andrews &
Harris, 2000; Lindow & Leveau, 2002; Lindow & Brandl, 2003). Logo, as
caraterísticas intrínsecas das plantas hospedeiras (ex: presença de tricomas,
presença de cera epicuticular do tipo plaqueta) supostamente exercem uma maior
influência na colonização bacteriana epifítica que as condições ambientais.
A microscopia eletrônica de varredura convencional, aliada a microscopia
ótica, foi utilizada nesse estudo com eficácia para descrever as interações epifíticas
entre bactéria-planta, devido principalmente, a possibilidade de observar toda a
morfologia da superfície epidérmica da lâmina foliar, ao alto poder de resolução do
equipamento e a facilidade de descrição das imagens bidimensionais com aspecto
tridimensional. Porém, algumas difilcultadas metodológicas foram constatadas, como
por exemplo, a geração de artefatos, que pode dificultar e até mesmo gerar
equívocos na interpretação dos resultados. O processamento envolve várias etapas
de desidratação que podem gerar perdas de bactérias, redistribuição de células e
destruição ou desidratação das microfibrilas e da matrix extracelular. A microscopia
eletrônica de varredura convencional também gera limitadas informações sobre
viabilidade e identidade celular e é um método essencialmente qualitativo ou
semiquantitativo. Logo, estudos posteriores devem ser realizados aliando a
microscopia eletrônica de varredura a outras técnicas microscópicas, microbiológicas
e moleculares, para propiciar uma compreensão integral das interações epifíticas
entre microbiota e planta hospedeira.
6.2. Microrganismos epifíticos nas amostras de tecidos da raiz
Por meio da microscopia ótica, foi observada intensa presença de material
mucilaginoso no rizoplano das quarenta e sete espécies de plantas sem sintomas de
doença.
A mucilagem da raiz possui as funções de reduzir o atrito entre as raízes e
as partículas do solo, evitar a dessecação e melhorar o contato entre a raíz e a
solução do solo (Rougier & Chabound, 1985). Além disso, a mucilagem afeta
diretamente a microbiota benéfica do solo como fungos micorrízicos (Bansal &
Mukerji, 1994), bactérias simbióticas (Bacilio-Jiménez et al, 2003) e também
microrganismos patogênicos (Hawes, 1990). As células da raiz secretam para o
rizoplano, passivamente e ativamente, diversas substâncias que atuam diretamente
na dinâmica microbiana, atraindo ou repulsando bactérias e criando um
microambiente mais úmido e nutricionalmente rico para o estabelecimento epifítico
(Nehl et al., 1996; Sturz & Nowak, 2000; Bacilio-Jiménez et al, 2003; Walker et al.,
2003).
6.3. Microrganismos endofíticos
No presente estudo foram visualizados, com bastante freqüência, fungos
endofíticos no córtex radicular como associações micorrízicas.
De acordo com
Wilcox (1991), as micorrizas ocorrem em 83 % das dicotiledôneas, 79 % das
monocotiledôneas e em praticamente todas as gimnospermas, sendo considerada a
associação simbiótica mais comum entre microrganismos e espécies vegetais
(Trappe, 1987).
Os fungos micorrízicos beneficiam a planta hospedeira através do aumento
da habilidade das raízes em absorverem água e nutrientes, principalmente o fósforo
(Sylvia et al., 1999) e também ao aumento da resistência da planta a doenças
(Pfleger, 1994). Em contrapartida, o vegetal supre a micorriza de fotoassimilados
(Siqueira & Franco, 1988).
Foram
observadas,
principalmente,
micorrizas
denominadas
endomicorrizas, que são caracterizadas morfoanatomicamente pelo estabelecimento
inter e intracelular, ausência de manto e de modificações morfológicas nas raízes,
sendo as ericóides, as orquidóides e as arbusculares os tipos mais estudados
(Sylvia et al., 1999).
Cortes transversais das raizes foram observados em microscopia ótica,
possibilitando identificar as estruturas típicas dos fungos micorrízicos arbusculares,
que são: os arbúsculos, com função de transferência de nutrientes entre os
simbiontes (Gianinazzi-pearson & Gianinazzi, 1983); as vesículas, com a função de
reserva e armazenamento (Harley & Smith, 1983); e as hifas, responsáveis pela
absorção e transporte de água e nutrientes (Siqueira & Franco, 1988).
A avaliação rotineira da presença de fungos micorrízicos arbusculares por
microscopia ótica é realizada seguindo o protocolo proposto por Grace & Stribley
(1991). Tal protocolo consite em clarificar as raízes com KOH e, posteriormente,
contrastar com azul de metil para visualização em microscopia ótica de campo claro.
Essa metodologia é rápida e eficaz para confirmar a presença de fungos micorrízicos
arbusculares e a porcentagem de micorrização em raízes finas que se tornam
translúcidas com o processamento. Porém, para a identificação de micorrizas em
raízes mais grossas e também para um estudo mais refinado sobre morfologia e
anatomia da micorrização a metodologia empregada nesse estudo pode ser
considerada uma alternativa promissora.
No presente estudo não foi possível visualizar bactérias endofíticas.
Segundo James & Olivares (1997) a colonização bacteriana endofítica não ocorre
por todo o interior dos vegetais. Para tal, existem locais específicos de
estabelecimento bacteriano que incluem principalmente os espaços intercelulares e
os vasos xilemáticos. Esses dados, assim como a maioria dos estudos envolvendo
caracterização estrutural da associação endofítica, foram obtidos através de estudos
microscópicos de plantas inoculadas em laboratório, onde se presupõe a existência
de elevada população bacteriana.
No presente estudo, foram coletadas pequenas amostras das lâminas
foliares e das raizes visualmente sadias de plantas adultas cultivadas no campo,
objetivando através de cortes micrométricos, observados em microscopia ótica,
caracterizar associações naturais endofíticas entre bactéria e planta hospedeira.
Porém, não foi possível visualizar bactérias endofítica, pois a diluição da colonização
endofítica foi maior que a eficiência da amostragem.
7. Conclusões
- A microscopia eletrônica de varredura, aliada à microscopia ótica, pode ser
considerada importantes ferramentas para o estudo estrutural da associação epifítica
entre microrganismos e planta hospedeira.
- Microrganismos habitam plantas saudáveis. As bactérias foram os colonizadores
mais abundantes do filoplano, seguido por fungos, na forma de esporos e de hifas
fúngicas.
- Predominaram no filoplano bactérias no formato de bastonete, seguido por coco,
aderidos à parede periclinal externa das células epidérmicas ou tricomas por adesão
apolar.
- As bactérias estavam presentes no filoplano como células solitárias, ou formando
microcolônias ou estruturadas em biofilmes.
- Houve o predomínio de biofilmes multiespecíficos, constituídos por bactérias e
fungos.
- Os locais preferências de estabelecimento bacteriano epifítico no filoplano foram as
flanges cuticulares, os tricomas secretores, os tricomas tectores, os complexos
estomáticos e as nervuras.
- Os caracteres anatômicos influenciaram no estabelecimento da microbiota epifítica,
sendo a presença de tricomas uma característica favorável e a presença de cera
epicuticular do tipo plaqueta uma característica desfavorável à interação bactériaplanta.
- Fungos endofíticos estavam presentes nas amostras radiculares como associações
micorrízicas.
8. Referências Bibliográficas
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