CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA DO RIBEIRÃO SÃO THOMÉ – SERRANIA – MG Emmanuelle Rodrigues de Nazareth1 ([email protected]); Marta Felícia Marujo Ferreira2 ([email protected]). (1) Discente do curso de Geografia, Universidade Federal de Alfenas – Unifal-MG. (2) Professor Adjunto IV do curso de Geografia, Universidade Federal de Alfenas – Unifal-MG. RESUMO: Este trabalho tem como propósito a análise da bacia hidrográfica do ribeirão São Thomé, município de Serrania-MG, situada na borda sul do reservatório de Furnas. A área estudada localiza-se no Planalto Sul de Minas Gerais com intervalos de classes altimétricas que variam de 700 a 1800m. Inclui-se no Planalto de Varginha, constituído de relevos de colinas associados a um conjunto de relevos de morros e montanhas. Este estudo contribui para ampliar o conhecimento geomorfológico de uma área pouco estudada, utilizando metodologias da geomorfologia. No desenvolvimento da pesquisa, estudos de Pires Neto (1991) foram utilizados para a compartimentação do relevo, além de metodologias de Howard (1967) e Soares e Fiori (1976) para avaliar o condicionamento da rede de drenagem à estruturação geológica e para a análise dos padrões e anomalias da drenagem. Resultados preliminares comprovam forte controle estrutural marcado pelos grandes traços geológicos com direções NE-SW e NW – SE, os quais condicionam a presença de anomalias da drenagem, tais como cotovelos, meandros isolados e comprimidos e áreas de capturas. O estudo revelou a presença de feições geomorfológicas denudativas e deposicionais, como cristas contínuas e descontínuas, soleiras ao longo dos cursos d’água e do curso principal, depósitos coluvionares, meandros abandonados, pequenas planícies isoladas e alvéolos. PALAVRAS-CHAVE: Geomorfologia; Padrões de drenagem; Bacia hidrográfica. Eixo 1 – Geomorfologia, Morfotectônica e Dinâmica da Paisagem 1.INTRODUÇÃO A geomorfologia compreende os estudos voltados para os aspectos morfológicos da topografia, os materiais que as constituem e os processos ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 77 morfogenéticos, responsáveis pela sua dinâmica, funcionamento e geração de feições esculturais das paisagens topográficas. Assim, o modelado terrestre deve ser compreendido como condicionante para as atividades humanas e organizações espaciais. As feições topográficas e os processos morfogenéticos atuantes em uma determinada área, possuem papel relevante para as categorias de uso do solo, tanto em atividades agrícolas como em atividades urbano-industriais (CHRISTOFOLETTI, 1981). Este trabalho tem como finalidade caracterizar e analisar a rede de drenagem e o relevo da bacia do ribeirão São Tomé, que se localiza no município de Serrania, Estado de Minas Gerais, utilizando metodologias da geomorfologia. A importância desse estudo revela-se pela ausência de trabalhos dessa temática na área, fornecendo levantamentos da rede hidrográfica e de mapas temáticos como, morfológico, de lineamentos da drenagem, dos padrões e anomalias da rede de drenagem, que servirão de base para estudos interdisciplinares. 2.OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é contribuir para o conhecimento geomorfológico de um trecho da região sul de Minas Gerais, tendo como objeto de análise a bacia hidrográfica do ribeirão São Thomé, localizado no município de Serrania – MG. Os objetivos específicos visam a elaboração e a compartimentação geomorfológica da bacia, a análise de perfís longitudinais dos trechos superior, médio e inferior da bacia, a análise dos padrões de drenagem e anomalias, e o mapeamento morfodinâmico. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os estudos geomorfológicos são de fundamental importância para o entendimento dos ambientes naturais e das alterações desencadeadas pela ocupação humana, que possibilitam ao longo do tempo, a geração de desequilíbrios com um aumento na fragilidade dos ecossistemas. A bacia hidrográfica, vem sendo utilizada como um modelo mais abrangente para conceituar e compreender os ecossistemas, sendo definida como “área drenada por um determinado rio ou por um sistema fluvial, funcionando como um sistema aberto” (CHRISTOFOLLETI, 1980). Segundo o autor citado, cada um dos elementos que compõem a bacia (vertentes, canal fluvial, fundo do vale etc.), integra o sistema hidrográfico, que recebe energia, perdendo matéria ao longo do escoamento das águas. Para o estudo de bacias, é importante considerar os atributos físicos, como geologia, clima, uso e ocupação do solo, vegetação. Para o estudo de bacias ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 78 hidrográficas, é importante o uso de parâmetros morfométricos, índices numéricos que devem ser utilizados em analises hidrológicas ou ambientais, e tem como objetivo, elucidar questões relacionadas ao entendimento da dinâmica ambiental local. De acordo com Antonelli e Thomaz (2007), este uso permite a diferenciação de áreas homogêneas. Collares (2008) ressalta alguns parâmetros que permitem revelar indicadores específicos para um determinado local, auxiliando na identificação de alterações ambientas, permitindo desta forma, estudos de vulnerabilidade ambiental da bacia hidrográfica. Para análise geomorfológica deste trabalho, o estudo das anomalias é de grande relevância. A região Sudeste tem sido alvo de investigações que apontam a presença de anomalias de drenagem e de relevo, indicadoras de falhas relacionadas à reativação tectônica ao longo do mesozóico–cenozóico, mostrando que esses processos são mais expressivos do que se imaginava para uma região intraplaca (Almeida, 1967; Hasui, 1990). De acordo com Hasui (1990), essa tectônica está associada à abertura do Atlântico Sul e ao deslocamento da Placa Sul-Americana para oeste, movimento mais moderno, essencial na evolução geomorfológica da região Sudeste do Brasil. As anomalias presentes na drenagem são feições indicadoras para a análise estrutural, fornecendo um subsídio à identificação de fatores de origem tectônica (SUMMERFIELD, 1991; GONTIJO, 1999; FERREIRA, 2001). Para Howard (1967) uma anomalia de drenagem pode ser compreendida como uma discordância local da drenagem regional e/ou dos padrões de canais, sugerindo desvios topográficos ou estruturais. Como anomalias pode-se identificar ao longo de uma mesma bacia fluvial as seguintes feições anômalas: a) trechos em que haja a retilinidade de canais fluviais; b) ocorrência localizada e abrupta de curvas meândricas; c) trechos de meandros comprimidos; d) estreitamento e alargamento de fundos de vales com preenchimento aluviais; e) represamentos com desenvolvimento de trechos embrejados e f) curvas e voltas abruptas na drenagem. 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1. MATERIAIS O levantamento e a revisão dos materiais bibliográfico e cartográfico, compõem etapas importantes para o desenvolvimento e evolução da pesquisa. Os materiais cartográficos disponíveis sobre a área de estudo constituem de cartas topográficas nas escalas 1:50.000, de Campestre e cartas 1:250.000 de Varginha, além de carta geológica, escala 1:100.000 de Varginha. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 79 4.1.1. ÁREA DE ESTUDO A área estudada localiza-se no Planalto Sul de Minas Gerais com intervalos de classes altimétricas que variam de 700 a 1800m (Figura 1). Inclui-se no Planalto de Varginha constituído de relevos de colinas associados a um conjunto de relevos de morros e montanhas. De acordo com a classificação de Koppen, enquadra-se no tipo Cwb, ou seja, subtropical moderado úmido: com a temperatura média do mês mais frio oscilando entre 13,4 e 17,5ºC e a do mês mais quente entre 21,3 e 24ºC. O inverno caracteriza-se por 2 a 4 meses secos, com um déficit hídrico entre 10 e 30 mm anuais. A precipitação média anual é de 1513 mm, sendo seu regime de distribuição periódico, predominando nos meses mais quentes do ano. Figura 1: Área de estudo da bacia do ribeirão São Thomé – Serrania-MG 4.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para o desenvolvimento da pesquisa, foi utilizado estudos de Pires Neto (1991), para a compartimentação do relevo, metodologias de Howard (1967) e Soares e Fiori (1976) para avaliar o condicionamento da rede de drenagem à estruturação geológica regional e para a análise dos padrões e anomalias da drenagem. Foi realizada interpretação de fotografias aéreas na escala 1:60.000 para mapear feições do relevo e análise da drenagem, utilizando atributos como densidade de textura de drenagem; sinuosidade dos elementos de drenagem; angularidade, assimetria e formas anômalas. Os procedimentos metodológicos estão descritos na Figura 2. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 80 81 Figura 2: Procedimentos metodológicos utilizados no estudo. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Resultados preliminares mostram a predominância do padrão subdendrítico em toda bacia, porém, foi possível subdividir em três zonas com padrões de drenagem que se diferenciam pela influência secundária do padrão contorcido e retangular (Figura 3). Na Zona 1, a ocorrência do padrão subdendrítico é dominante, contudo as Zonas 2 e 3 mostram o padrão subdendrítico com influência retangular e contorcido, respectivamente. De maneira geral, o padrão subdendrítico possui um controle estrutural secundário dado por uma adaptação de um padrão dendrítico inicial. As influências retangulares e contorcidas que ocorrem pontualmente nas zonas 2 e 3, mostram forte condicionamento de juntas e falhas em ângulos retos e circulares. O mapa de lineamentos (Figura 4) apresenta trechos da rede de drenagem com lineações de direções NE-SW e NW-SE, demonstrando forte condicionamento das estruturas geológicas regionais, comprovando o condicionamento da drenagem às estruturas. As anomalias presentes na bacia, são cotovelos, meandros isolados e comprimidos e áreas de capturas. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 82 Figura 3: Mapa dos padrões de drenagem da bacia do Rio São Thomé – Serrania-MG ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 83 Figura 4: Mapa dos lineamentos e anomalias da rede de drenagem da bacia do Rio São Thomé – Serrania-MG. A Tabela 1 apresenta a síntese dos resultados obtidos da aplicação da metodologia proposta por Soares e Fiori (1976). Os parâmetros considerados foram: densidade de drenagem, sinuosidade, angularidade, assimetria e formas anômalas. De acordo com estes parâmetros, em toda bacia do ribeirão São Thomé prevalecem rios com forte condicionamento das estruturas, com densidade alta, assimetria forte e angularidade alta, tendo feições de cotovelos, em arcos e meandros isolados. A subdivisão da bacia em 11 sub-bacias, acham-se numeradas na figura 3. Conforme a tabela 1, as sub-bacias localizadas a montante (2 3, 4, 5 e 6), mostram baixa a média densidade de drenagem, angularidade de alta a média dominando assimetria fraca. A sinuosidade varia entre traços mistos e curvos, confirmando com a ocorrência do ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 padrão subdendrítico com influência contorcida. As sub-bacias 7, 8, 9, 10 e 11, inseridas na zona 2, mostram também, sinuosidade misto e curvos, porém o predomínio de angularidade alta, demonstrando a frequência de ângulos retos, próprio do padrão retangular. 84 Tabela 1 – Parâmetros aplicados na bacia do ribeirão São Thomé e sub-bacias associadas. A análise geomorfológica foi realizada a partir do mapa morfológico (Figura 5). Este mapa expõe a presença de feições denudativas e deposicionais, com alguns trechos onde as planícies e depósitos coluvionares estão associados. Muitas vezes, estes depósitos estão interdigitados por materiais das planícies. A montante da bacia, ocorrem isoladamente alvéolos que se alargam contendo materiais provenientes das encostas e dos fundos de vale, estes muitas vezes, associam-se a degraus no perfil longitudinal do rio. Ocorrem cristas contínuas e descontínuas, soleiras ao longo dos cursos d’água e do curso principal, meandros abandonados e pequenas planícies isoladas. Nas áreas elevadas da bacia, há um conjunto de morros e montanhas seguidos por morros com encostas suaves e colinas nas áreas mais baixas da bacia. Os principais divisores são as serras da Laranja Azeda, a dos Pinheiros e a dos Alemâes, que exibem escarpamentos com declividades acentuadas. As duas primeiras, apresentam direção NE-SW e NW-SE, com faces retilíneas para SE e SW, respectivamente. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 85 Figura 5 – Mapa Morfológico da bacia do ribeirão São Thomé, Serrania-MG 6. CONCLUSÕES O presente trabalho, ainda não concluído, revela que a compartimentação geomorfológica adotada segundo a metodologia de Pires Neto (1991), mostrou-se eficiente. Os grandes traços do relevo mostram o predomínio de morros e montanhas, morros com encostas suaves e morrotes no setor a montante da bacia. Para jusante, predominam colinas com amplitudes baixas e a presença de depósitos coluvionares. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 De maneira geral, as análises dos padrões de drenagem, lineamentos e anomalias, realizadas na bacia, demonstram forte condicionamento das estruturas na rede de drenagem. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, F.F.M. Origem e evolução da plataforma brasileira. DNPM/DGM, Rio de Janeiro, 36p. (boletim 241), 1967. ANTONELI, V; THOMAZ, E.L. Caracterização do meio físico da bacia do Arroio Boa Vista, Guamiranga-PR. Rev. Caminhos da Geografia, Uberlândia, v.8, n.21, p46-58, jun. 2007. CHRISTOFOLETTI, A. Capturas fluviais. Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo, vol. 5, p. 2.049-2.051, 1975. CHRISTOFOLETTI, A. Considerações sobre o nível de base, rupturas de declive, capturas fluviais e morfogênese do perfil longitudinal. Geografia, 2 (4), p. 81-102, 1977. CHRISTOFOLLETI, A. Geomorfologia, 2ª edição, Editora Edgard Blucher, São Paulo 1980, 188 p. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia fluvial. São Paulo, Ed. Edgard Blücher Ltda., 1981. 313p. COLLARES, E.G. Avaliação de alterações em redes de drenagem de sub-bacias como subsídio ao zoneamento geoambiental de bacias hidrográficas: aplicação na bacia hidrográfica do Rio Capivari-SP. 2000. 211p. Tese (Doutorado em Geotecnia) – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000. FAIRBRIDGE, R. W. (1968) Stream capture, piracy. The Encyclopedia of Geomorphology. New York: Reinhold Book Corporation, p. 1054-1057. FERREIRA, M.F.M. Análise Geomorfológica e Morfotectônica do Alto Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação IGCE, Unesp – Campus Rio Claro, Tese de Doutorado. 287p., 2001. GONTIJO, A.H.F. Morfotectônica do médio vale do rio Paraíba doSul: região da serra da Bocaina, Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. HASUI, Y. (1990) Neotectônica e Aspectos Fundamentais da Tectônica Ressurgente no Brasil. SBG/MG. Workshop sobre Neotectônica e Sedimentação Cenozóica Continental no Sudeste Brasileiro, Belo Horizonte, 1: pp. 1-31., 1990 HOWARD, A. D. Drainage analysis in geologic interpretation: a summertion. Bull. of. Amer. Assoc. of. Petr. Geol., v51 , p. 2246-2259, 1967. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 86 PIRES NETO, A. G. As abordagens sintético-histórica e analítico-dinâmica: uma proposição metodológica para a geomorfologia. Tese de Doutoramento, Departamento de Geografia-USP, 302p. 1991. SOARES, P. C. e FIORI, A. P. Lógica e sistemática na análise e interpretação de fotografias aéreas em geologia. Not. Geomorfológica, 16 (32):71-104, 1976. SUMMERFIELD, M.A. Global Geomorphology: An introduction to the study of landforms. New York, Longman Scientific & Technical, 537p., 1991. THORNBURY, W. D. Principles of Geomorphology. New York, John Wiley & Sons, Inc., 618p. 1957. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 87