Epidemias e seu impacto nas sociedades

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Epidemias e seu impacto nas
sociedades
“Da Peste Negra à epidemia de
microcefalia”
Alexandre O Chieppe
Subsecretário de Vigilância em Saúde
Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro
O Conceito de Endemia e Epidemia
Endemia: a ocorrência de determinado agravo ou doença em uma população
dentro do limite esperado.
Epidemia: a ocorrência de agravos ou casos de uma doença acima do esperado
para determinada área geográfica ou época do ano.
- Pode ser limitada a uma área restrita (Surto) ou atingir vários países e
continentes (Pandemia), com duração de dias ou décadas.
Peste Negra. As carroças cheias de cadáveres, pessoas agonizando no meio das ruas, religiosos malucos.
O Diagrama de Controle
Diagrama de Controle da Dengue no Estado do Rio de Janeiro – Ano de 2015
O Diagrama de Controle
Diagrama de Controle da Dengue no Estado do Rio de Janeiro – Ano de 2015
Fatores Associados à Ocorrência de Epidemias
Ambientais
Relacionados aos agentes infecciosos
- Fornecimento de água (qualidade)
- Modificações na virulência do agente
- Saneamento
- Modificações no modo de transmissão
- Alimentação (qualidade e quantidade)
- Modificações na adaptação dos agentes a
- Fatores Climáticos
vetores de transmissão
- Desmatamento/aproximação de áreas
silvestres
Fatores Sociais e Culturais
- Caos social (Guerras; desastres naturais)
Relacionados aos indivíduos
- Susceptibilidade da população ao agente
infeccioso
- Aglomeração/Densidade populacional
- Mobilidade/turismo
- Hábitos de higiene
Possíveis Caminhos dos Efeitos das Mudanças Climáticas
sobre as Condições de Saúde
Eventos extremos
Ondas de Calor
Inundações
Secas
Ciclones
Queimadas
Mudanças Climáticas
Temperatura
Precipitação
Umidade
Ventos
Mudanças Ecossistemas
Perda Biodiversidade
Invasões de espécies
Alterações de ciclos
geoquímicos
Aumento Nível do Mar
Salinização
Erosão da Costa
Degradação Ambiental
Contaminação
Pesca
Agricultura
Perda de produção
agrícola
Acidentes e desastres
Contaminação de água
e alimentos por
microorganismos
Mudança da
distribuição de vetores
hospedeiros e
patógenos
Insegurança alimentar
Desabrigados e
refugiados
Adaptado de McMichael, Woodruff e Hales. Lancet, 2006
- Mortes por estresse
térmico
- Mortes e agravos
por desastres
- Aumento da
incidência de
doenças de
veiculação hídrica
- Emergência de
doenças infecciosas
- Espalhamento de
doenças de
transmissão por
vetores
Fome, desnutrição e
doenças associadas
Doenças Mentais
Distribuição Global do Aedes aegypti
Yersinia pestis
• Reservatórios principais: roedores silvestres (Rattus rattus, Mus musculus)
• Vetores: pulgas infectadas
• Principal modo de transmissão: picada de pulgas infectadas
• Em 1334 causou 5 milhões de mortes na Mongólia e no norte da China.
• Na Mesopotâmia e na Síria as estradas ficaram repletas de cadáveres dos que fugiam das
cidades.
• Calcula-se em 24 milhões o número de mortos nos países do Oriente.
“As epidemias encontram terreno propício nas
regiões com aglomerações populacionais e
condições precárias de higiene, em que ocorre
grande proliferação de ratos dividindo espaço
com os homens.”
Ujvari em seu livro "A História e suas epidemias"
• A pandemia de peste bubônica que assolou a Europa durante o século XIV causou entre
25 e 75 milhões de mortes.
• Em 1349, a “peste” chegou ao centro e ao norte da Itália, se estendendo por toda a
Europa.
Vibrio cholerae O1
• Reservatório principal: Homem
• Transmissão: Ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes ou vômitos de
doente ou portador.
• A primeira epidemia de cólera ocorreu em 1817 e estendeu-se do sudeste asiático para o
mundo. Até 1860 houve 15 milhões de mortos na Índia e 2 milhões na Rússia.
• Sete pandemias subsequentes mataram milhões de pessoas. A última começou no Sul da
Ásia em 1961, atingiu a África em 1971 e as Américas em 1991.
• Estima-se entre 1.4 a 4.3 milhões de casos, com 28 000 a 142 000 mortes em todo o mundo
por ano.
(Garoto despeja lata de esgoto em córrego de
Nairobi, no Quênia)
• Em Paris, em 1832, a água utilizada no abastecimento era proveniente do rio
contaminado pelos dejetos humanos.
• Em 1842, um inquérito epidemiológico publicado por Chadwick, associou condições
sanitárias precárias a aumento da incidência de doenças infecciosas, dando origem à
teoria dos miasmas.
• A aviação comercial transportou 3,3 bilhões de
passageiros em todo o mundo em 2014
• Segundo dados da Organização Mundial de
Turismo – OMT as viagens internacionais
alcançaram o total de 1.087 milhões de chegadas
de turistas em 2013.
• a chegada de turistas internacionais no mundo
crescerá anualmente 3,3% entre 2010 e 2030,
superando 1.400 milhões em 2020 e 1.800
milhões em 2030.
Tráfego Aéreo Diário Mundial
Grandes Eventos no
Brasil
Jornada Mundial da Juventude 2013
- 3 milhões de participantes
- 2 milhões de turistas
- 500 mil turistas estrangeiros de 180 países
Copa do Mundo 2014 - 886 mil turistas (471 mil
estrangeiros)
Carnaval 2015 – 1,212 milhões de turistas (400
mil estrangeiros)
Reveillon 2015 – 800 mil turistas (200 mil
estrangeiros)
Jornada Mundial da Juventude – Rio de Janeiro (2013)
Vírus Influenza A
• Reservatórios principais: humanos, suínos, cavalos, mamíferos e aves.
• Transmissão:
• Direta: pessoa a pessoa por meio de gotículas
• Indireta: contato com secreções em superfícies.
• Origem provável nos Estados Unidos ou na Ásia. Ao atingir a Espanha no verão de 1918,
a doença acometeu cerca de 8 milhões de pessoas. Em Madri, um em cada três
habitantes ficou doente.
• A estimativa de mortos é entre 22 e 50 milhões.
• No pico da epidemia, em outubro de 1918, Paris contabilizava 5.000 mortos por semana.
• Entre 1918 e 1919 cerca de 1/5 da população mundial foi acometida pela doença.
• Taxa de Mortalidade entre 0,5% e 1,2%
• Taxa de Letalidade superior a 10%
• Disseminação facilitada pelos militares combatentes da 1ª guerra mundial
• A estimativa do número total de mortes no Brasil foi cerca de 300 mil.
Vírus Influenza AH1N1
• Primeira pandemia do século XXI
• Dados da OMS mostram que 20 a 27% das populações analisadas em 20 países foram
infectadas pelo vírus H1N1
• A pandemia vitimou cerca de 18 mil pessoas no mundo entre 2009 e maio de 2010
• No Brasil, em 2009, morreram 2.051 pessoas
• Uso de Antivirais e vacinação
Vírus Ebola
• Reservatórios principais: primatas não humanos.
• Transmissão:
• transmissão direta pessoa a pessoa por meio de secreções e fluidos corporais
• Modo indireto através do contato com secreções em superfícies.
• Principais Sinais e Sintomas: Início duas a três semanas após a infecção, com febre,
garganta inflamada, dores musculares e dores de cabeça. Estes sintomas são seguidos por
vômitos, diarréia e exantema, insuficiência hepática e renal.
• O primeiro caso identificado de Ebola foi registrado em 1976 na República Democrática
do Congo (então conhecida como Zaire). 318 casos e 280 óbitos. Taxa de mortalidade de
88%.
Lápides de vítimas do vírus ebola são vistas próximo do centro de
tratamento Kenama, mantido pela Cruz Vermelha, em Serra Leoa.
• 1995 - República do Congo: 315 casos e 254 óbitos.
• 2000 - Uganda: 425 casos e 224 óbitos.
• 2003 - República do Congo: 143 casos e 128 óbitos. Taxa de letalidade superior a 90%.
• 2007 - República do Congo: 264 casos e 187 óbitos.
• O surto teve início em Guiné em dezembro de 2013
• Desde sua detecção inicial, o vírus se espalhou pela Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Senegal
• Em 8 de agosto de 2014, a OMS declarou estado de emergência de saúde pública de
interesse internacional
• 28.639 casos e 11.316 óbitos. Taxa de letalidade 40%
• AIDS: 35 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo. No Brasil são mais de 600.000. São
mais de 1,5 milhões de mortes por ano.
• TUBERCULOSE: em 2014 foram 9,6 milhões de novos casos, com 1,5 milhões de óbitos.
• MALÁRIA
• POLIOMIELITE
• FEBRE AMARELA
• VARÍOLA
Dengue
Encefalite Equina do Leste
Encefalite Japonesa
Potosi
Tensaw
Nodamura
Oropuche
Chikungunya
Mayaro
Febre do Vale Rift
Febre do Rio Ross
Encefalite de Saint Louis
Febre do Nilo Ocidental
Febre Amarela
Febre do Zika
Dengue
Chikungunya
Zika
Aedes aegypti
Aedes albopictus
O Vetor – Aedes aegypti
• Preferência por ambiente “doméstico” e reprodução em ambientes
artificiais.
• Capacidade de adaptar-se a novos ambientes.
• Raio de vôo da fêmea adulta: 100 a 400m.
• Mosquito tropical ou subtropical. Incapacidade de suportar
temperaturas muito elevadas (< 8°c e > 41°c)
• Sob a forma de ovo – suporta temperaturas extremas.
Vírus da Dengue 1,2,3 e 4
Crianças com dengue em Manilla, Filipinas. 2010
• Reservatórios principais: humanos.
• Principal modo de transmissão: Picada do mosquito infectado
• Sinais e Sintomas: Febre alta, dor muscular, dor de cabeça, dor articular, dor atrás
dos olhos
• Epidemias de dengue a cada 1 a 5 anos. 4 Sorotipos.
• Elevado número de casos graves e óbitos.
• Grande impacto nos serviços de saúde e na economia local
36 milhões
US$ 366 milhões
Perda de receita com
turismo durante uma
grande epidemia de
dengue na Tailândia
Casos sintomáticos de dengue por
ano no mundo
US$ 2,1 bilhões
1,6 milhões
Casos notificados no
Custo anual da
dengue nas Américas Brasil no ano de
2015. Mais de 6 vezes
que em 2000.
16 a 23
141.773
Perdas de dias de
trabalho e escola
quando uma criança é
hospitalizada
com
dengue
Número de casos
ajustados por ano na
Malásia. Mais de 3
vezes o número de
casos notificados;
Casos suspeitos de dengue no estado do Rio de Janeiro e sorotipo
predominante - 2000 a 2015.
“No Rio de Janeiro, os mortos se contam às dezenas,
as salas de emergência estão sobrecarregadas, os
médicos perderam o controle da situação: a cidade
está enfrentando a sua pior epidemia de dengue
em mais de meio século.”
Jean-Pierre Langellier
Correspondente no Rio de Janeiro do Le Monde
Abril de 2008
Vírus da Chikungunya
• Reservatórios principais: humanos.
• Principal modo de transmissão: Picada do mosquito infectado
• Sinais e Sintomas: Febre alta, dor articular intensa, dor de cabeça, dor articular, dor
atrás dos olhos
• O vírus da Chikungunya:
 Infecta perfeitamente o Aedes aegypti e albopictus
 Ocasiona maior viremia em humanos e mosquitos.
 Tem menor período de incubação nos mosquitos.
Taxa de Incidência de Incidência de Chikungunya (por 100.000 habitantes) - 2014
16,55%
13,9%
50,58%
• 180 pacientes da Polinésia Francesa por 3 anos com taxa de cronificação de 60%
Nº de pessoas com
Chigungunya nos serviços
• Destes, após 3 anos: 45% com dor articular persistente
1ª Onda
Epidêmica
2ª Onda
Epidêmica
3ª Onda
Epidêmica
Vírus da Zika
• Reservatórios principais: humanos.
• Principal modo de transmissão: Picada do mosquito infectado
• Sinais e Sintomas: Febre baixa ou ausente, manchas vermelhas pelo corpo, olho
vermelho, dor articular leve.
• Descoberto em 1947. Causou epidemia na Polinésia Francesa em 2013.
• Identificado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015.
• Até 80% das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas.
• Baixa morbimortalidade na população. Associado a aumento dos casos de Guillain Barré
Olhos vermelhos
Exantema
(manchas vermelhas pelo corpo)
Países e territórios com transmissão autóctone do vírus
Zika nas Américas
Até Fevereiro de 2016 foi confirmada a
transmissão autóctone do vírus Zika em
29 países/territórios nas Américas
Aruba
Barbados
Bolívia
Bonaire
Brasil
Colômbia
Costa Rica
Curaçao
El Salvador
Equador
Guadalupe
Guatemala
Guiana
Guiana Francesa
Haiti
Honduras
Ilhas Virgens
Americanas
Jamaica
Martinica
México
Nicarágua
Panamá
Paraguai
Porto Rico
República Dominicana
Saint Martin
Suriname
Trinidad e Tobago
Venezuela
• Novembro
2015
–
Brasil
declara
emergência de saúde pública.
• Janeiro 2016 – OMS decreta emergência de
saúde pública de interesse mundial.
• Até 20 de fevereiro foram notificados 5.640
casos de microcefalia no Brasil.
• Vínculo epidemiológico robusto entre circulação de vírus Zika e microcefalia.
• Lacunas no conhecimento sobre os mecanismos relacionados à ocorrência de microcefalia:
fatores associados, idade gestacional, carga viral, risco em assintomáticos.
• Ausência de plataformas laboratoriais de baixo custo e alta eficácia diagnóstica.
• Impacto ainda não mensurado nas economias locais, assim como em questões
relacionadas à natalidade e abortos.
• Este é o século das grandes epidemias virais
• As alterações impostas ao meio ambiente favorecem a volta das epidemias,
assim como o maior fluxo de pessoas entre os continentes.
• Epidemias têm potencial de gerar grandes danos nas economias locais
(turismo, comprometimento da força de trabalho, gastos diretos na área de
saúde, etc.)
• A preparação prévia para uma pronta resposta é fundamental na diminuição
do impacto das doenças infectocontagiosas nas sociedades.
• Ausência de planejamento e resposta adequada transforma um cenário de
epidemia em catástrofe.
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