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O Estado do Maranhão - São Luís, 2 de agosto de 2009 - domingo 3
PERFIL
Fotos/De Jesus
“A Medicina
O laboratório é um dos
locais de trabalho da
médica Juliana Rodovalho
Genética
é o futuro”
Especializada em uma área ainda pouco difundida no Maranhão, a médica geneticista Juliana
Rodovalho já é uma referência no controle de distúrbios hereditários, apesar da pouca idade
Álbum de Família
Paula Bouéri
Da equipe de O Estado
A
os 29 anos de idade, a
médica geneticista Juliana Rodovalho é uma
referência no Maranhão
quando o assunto é diagnóstico, tratamento e controle
dos distúrbios hereditários.
Natural de Vazante, em Minas
Gerais, morou em diversas cidades país afora, até decidir
fixar residência no estado, onde procura a todo custo desenvolver a especialidade Medicina Genética. Assessora em
Genética Médica no serviço
de referência em Triagem
Neonatal da Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Juliana Rodovalho considera-se, mesmo com
a pouca idade, uma pessoa feliz e realizada.
Graduada em Medicina pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), Juliana
Rodovalho iniciou os estudos
ainda na fazenda de propriedade dos pais em Guarda-Mor,
cidade próxima a Vazante. Oitava filha de um casal mineiro, foi alfabetizada pela própria mãe, que sequer havia
concluído o ensino fundamental. "Vivi na fazenda até os
7 anos e minha mãe foi minha
primeira professora. Meus pais
sempre valorizaram os estudos. Por isso, quando completávamos certa idade, íamos
morar com os irmãos mais velhos em outras cidades", relembra. Mas não foram só as
letras que aprendeu com os
pais. "Fui ensinada a ser independe e lutar para conquistar
as coisas. Não tive as coisas de
mão beijada. Mas tive alguns
mimos por ser a caçula. Não
só dos pais, mas dos irmãos
em função da diferença de
idade ser alta em relação aos
mais velhos", confessa.
Da infância, passada em
meio à grande família, a médica guarda boas recordações.
"A família era tão grande que,
quando juntávamos todos,
acabávamos não cabendo na
casa. Quando víamos, estávamos do lado fora, acampando", conta. Ela acredita que esse era um tempo de mais liberdade e relembra as brincadeiras no pomar da casa aos passeios ao ar livre. "Eu tinha
muita liberdade. Hoje, as
crianças ficam muito trancadas. Tinha mais tranqüilidade", compara Juliana.
Em Minas Gerais, estudou
em escola pública até a 5ª série, quando, por motivo de
greve prolongada, transferiuse para uma particular. Estudou em Vazante, Uberaba e
Uberlândia. "Quando tinha
13 anos, meu pai decidiu que
as terras mineiras já não
eram boas e decidiu mudarse para Tucumã, no Pará. Não
cheguei a sofrer com as mudanças, pois sempre valorizei
cidade pequena. Acho as re-
Juliana Rodovalho com os pais Milton e Helena e os irmãos durante a cerimônia do seu casamento
De Jesus
Álbum de Família
A médica durante atendimento de um paciente
De Jesus
Durante viagem com o marido Gilberto Doriqui,
que conheceu na faculdade de Medicina
i
RAIO-X
NOME COMPLETO:
Maria Juliana Rodovalho Doriqui
NASCIMENTO:
4/3/1980
NATURALIDADE:
Vazante (MG)
FILIAÇÃO:
Milton Esteves Rodovalho e
Helena Cortes Rodovalho
ESTADO CIVIL:
Casada com o escritor Gilberto
Doriqui Júnior
PROFISSÃO:
Médica geneticista
QUALIDADES:
Batalhadora e sonhadora
DEFEITO:
Ser sincera demais
PLANOS:
Montar o próprio restaurante
ALEGRIA:
Estar em família
TRISTEZA:
ficar longe dos meus pais.
PLANOS:
Seguir a carreira acadêmica
SAUDADE:
Da infância
“
O que gosto
na área da
genética é o
atendimento,
a relação
médico
/paciente.
Como uma
consulta
dura uma
hora, cria-se
um vínculo.
Isso é
inevitável.
É incrível
sentir que
se está
contribuindo
para a vida
daquela
pessoa”
Juliana Rodovalho é referência na área de genética
lações entre as pessoas mais
abertas", ressalta. Em 1995,
Juliana Rodovalho veio para
São Luís, pois, na época, a irmã Maria de Fátima passou
no vestibular para o curso de
Engenharia Elétrica. A médica estudou no Colégio Santa
Teresa do 1º ano até a metade do 3º colegial, quando se
transferiu novamente para
Minas Gerais, onde concluiu
o Ensino Médio. "Minha irmã
casou-se e meus pais achavam que eu era muito nova
para morar sozinha. Voltei
para Minas e fui morar com
outra irmã", relata.
Depois de querer ser cantora e bailarina, Juliana Rodovalho decidiu ser médica. "Dizia
que queria ser médica, mas isso também tem influência do
meu pai, que sempre quis um
filho médico", justifica a escolha. O ingresso no curso de
Medicina da UFMA aconteceu
em 1998. Uma grande conquista para quem desde a infância respondia que quando
crescesse queria duas coisas:
ser feliz e fazer Medicina para
ajudar as pessoas. "Sempre
quando havia atividades na es-
cola e questionavam o que eu
queria ser quando crescer, respondia isso. Todos querem ser
felizes, mas eu coloco isso acima de ter dinheiro. Felicidade
para mim é algo maior - é estar realizado", frisa.
Durante o curso superior,
Juliana se interessou por várias
áreas da Medicina, mas foi
quando fez a disciplina de Genética Médica, ministrada pela professora Silma Regina Ferreira Pereira, que ela se decidiu. Concluída a graduação, a
médica fez especialização (residência médica) na Universidade de São Paulo (USP) em
Genética Médica, tendo obtido o título em 2008. Atualmente, ela cursa o mestrado em
Saúde Materno-Infantil, na
UFMA. Mas os planos da médica não páram por aí. "Assim
que terminar o mestrado, pretendo partir para o doutorado.
Meu objetivo é seguir a carreira acadêmica", afirma.
Família - De acordo com Juliana Rodovalho, São Luís é
merecedora do título de Ilha
do Amor. Foi na cidade que
ela conheceu o marido, Gil-
berto Doriqui Júnior, natural
de Porto Alegre. "Eu o conheci no curso de Medicina. Ele
era acadêmico, mas não gostava. Não digo que foi amor à
primeira vista. Foi algo cultivado", declara. O casamento
aconteceu primeiramente no
civil, em Ribeirão Preto, no
ano de 2006, cidade onde
moravam na época.
O religioso foi realizado no
mesmo ano, em Três Ranchos
(GO), na tentativa de conseguir reunir a grande família,
que hoje está espalhada pelo
Brasil inteiro, de norte a sul.
"O lado bom de ter gente da
família em todo lugar é que
sempre temos um lugar para
viajar. A parte ruim é que temos que esperar uma comemoração para rever todos",
lamenta.
Juliana adianta que não
tem planos de ter filhos ainda.
"Penso que é algo que temos
que planejar. A mulher quer
ser independente, então tem
que planejar para ter estrutura. Já faço mestrado, sou esposa e trabalho, já é muita coisa
por enquanto. Depois do doutorado, quem sabe", brinca.
Médica está à frente de congresso
Paixão e
dedicação à
área médica
Médica dedicada, Juliana Rodovalho demonstra verdadeira paixão e dedicação pela especialidade que decidiu seguir. Ela resolveu retornar para o Maranhão
com o objetivo de desenvolver a
área de medicina genética no estado. "Em alguns lugares do Nordeste, a Genética Médica é bem
desenvolvida. Ainda não é o caso
do Maranhão", afirma a médica,
que lembra que só existem dois
médicos com essa especialidade
em todo o estado.
"Aqui em São Luís estamos na
fase de esclarecer o que é e o que
faz um médico geneticista. Médico geneticista não vive em laboratório. Ainda não temos um serviço constituído no estado, mas
podemos ter. Esse é o desafio", enfatiza Juliana. Uma de suas batalhas é para serem disponibilizados para a população atendida
pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
no Estado do Maranhão exames
citogenéticos, que já não são feitos há quase dois anos devido às
verbas dos projetos de pesquisa
usados para esse fim terem sido
esgotadas. "Minha tristeza é ver
esses exames não sendo feitos.
Temos os aparelhos modernos,
mas não os recursos para insumos e pessoal", lamenta.
A paixão pela área e a vontade de vê-la mais desenvolvida no
estado levaram Juliana Rodovalho a tomar a frente do I Congresso Norte-Nordeste de Genética
Médica, que será realizado em
São Luís, no Rio Poty Hotel, nos
dias 20 e 21 de agosto. "Já estamos realizando o atendimento em
Genética Médica no Maranhão. Se
a Genética Médica for a Medicina
do Futuro, então o futuro já chegou!", empolga-se. "O que gosto na
área de genética é o atendimento,
a relação médico/paciente. Como
precisamos de mais tempo de
atendimento e uma consulta dura
uma hora, cria-se um vinculo. Isso
é inevitável, mas tento impor um
limite. Senão, levo todo mundo para dentro de casa. É incrível sentir
que se está contribuindo para a vida daquela pessoa", conclui.
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