INTRODUÇÃO Capítulo 4 A ABORDAGEM CENTRADA-NO-CLIENTE Gari Rogers desenvolveu a terapia centrada-no-cliente em reação contra o que considerava as limitações básicas da psicanálise. A abordagem centrada-no-cliente é, essencialmente, um ramo especializado da terapia humanista que dá relevo à vivência do cliente e ao seu mundo subjetivo e fenomênico. O terapeuta funciona principalmente como um facilitador do crescimento pessoal, ajudando o cliente a descobrir suas próprias aptidões para solução de problemas. Tal abordagem demonstra uma grande confiança na capacidade do cliente para indicar o caminho no processo de terapia e para encontrar sua própria direção. A relação terapeuta-cliente é a catálise necessária à mudança; o cliente utiliza esta relação única como um meio de ampliar sua consciência e descobrir recursos latentes a serem empregados construtivamente na transformação de sua vida. CONCEITOS-CHAVE Visão da Natureza Humana Com referência à visão da natureza humana, a abordagem centrada- no-cliente rejeita o conceito das tendências negativas básicas do indivíduo. Enquanto algumas abordagens supõem que os seres humanos são, por natureza, irracionais e destrutivos consigo mesmose com os outros, a não ser quando socializados, Rogers evidencia uma profunda fé no homem. Vê as pessoas como socializadas e buscando progredir, lutando para atingir um funcionamento pleno e tendo virtudes positivas em seu núcleo mais profundo. Em poucas palavras, as pessoas merecem con fiança sendo basicamente cooperativas e construtivas, não é preciso controlar seus impulsos agressivos. Esta visão positiva da natureza humana tem implicações significativas para a prática da terapia centrada-no-cliente. Tendo em vista a visão filosófica da capacidade, inerente ao indivíduo, de afastar-se do desajustamento, tendendo a um estado de saúde psicológica, o terapeuta coloca, no cliente, a responsabilidade primária pelo processo de terapia. O modelo centrado-no-cliente rejeita o conceito do terapeuta como a autoridade que sabe mais, e o do cliente passivo que simplesmente segue as injunções propostas pelo terapeuta. Assim, a terapia funda-se na capacidade do cliente para a tomada de consciência e de deo’isões. Características da Abordagem Centrada-no-Cliente Rogers não apresentou a teoria centrada-no-cliente como uma abordagem imutável e completa à terapia. Esperava que fosse vista por outros autores enquanto conjunto de princípios a serem testados, relativos ao como se desenvolve o processo de terapia, e não como dogma. Rogers (1974, p. 213-214) descreve as características que distinguem a abordagem centrada-nocliente de outros modelos. Segue-se uma adaptação dessa descrição. A abordagem centrada-no-cliente tem seu foco na responsabilidade e na capacidade do cliente para descobrir os meios de entrar num contato mais pleno com a realidade. Sendo quem se conhece melhor, o cliente é quem pode descobrir o comportamento mais apropriado para si mesmo. A abordagem centrada-no-cliente dá ênfase ao mundo fenomênico do cliente. Com uma empatia perspicaz e tentando apreender o sistema de referência interno do cliente, o terapeuta preocupa-se sobretudo com a autopercepção e a percepção do mundo próprias a este cliente. Os mesmos princípios de psicoterapia aplicam-se a todas as pessoas “normais”, “neuróticas” e “psicóticas”. Baseados no conceito de que uma necessidade de mobilizar-se para a maturidade psicológica encontra-se profundamente enraizada na natureza humana, os princípios da terapia centrada-no-cliente são utilizáveis tanto õóm os que funcionam em níveis relativamente normais quanto com os que experimentam um grau maior de desajustamento psicológico. De acordo com a mesma abordagem, a psicoterapia é apenas um exemplo de todo relacionamento pessoal construtivo. O cliente vivencia crescimento psidbterapêutico no e através do relacionamento com outra pessoa que o ajude a fazer aquilo que não pode fazer sozinho. É a relação com um — orientador empático, aceitador e congruente (fazendo com4 expressão manifestos com os sentimentos e , cidir o comportamento e a t 77 76 pensamentos internos), que serve como agente de mudança terapêutica para o cliente. Rogers propõe a hipótese de que há certas atitudes por parte do terapeuta (autenticidade, cordialidade e aceitação não possessivas, empatia apurada) capazes de constituir as condições necessárias e suficientes para a ocorrência, dentro do cliente, da eficácia terapêutica. A terapia centrada-no-cliente incorpora o conceito da função do terapeuta no sentido deste estar imediatamente presente e acessível ao cliente e de focalizar a experiência do aqui-e-agora criada pela relação terapeuta-cliente. Talvez mais do que qualquer outra abordagem à psicoterapia, a teoria centrada-no-cliente desenvolveu-se através de pesquisa sobre o processo e os resultados da terapia. Não é uma teoria fechada, e sim uma teoria que cresceu ao longo de anos de observações feitas no aconselhamehto, e continua a mudar, à medida que novas investigações proporcionam uma compreensão maior sobre a natureza humana e o processo terapêutico. Desse modo, a terapia centrada-no-cliente não é um conjunto de técnicas, nem é um dogma. Estando fundada em um conjunto de atitudes e crenças demonstradas pelo terapeuta, talvez se caracterize melhor como um modo de ser, e como uma jornada a dois, onde tanto terapeuta quanto cliente revelam sua humanidade e participam de uma experiência de crescimento. O PROCESSO TERAPÊUTICO Objetivos Terapôuticos Segundo Rogers (1961), a questão “Quem sou eu?” traz a maioria das pessoas para a psicoterapia. Parecem perguntar: Como posso descobrir meu verdaderio eu? Como posso vir a ser o que desejo profundamente poder ser? Como posso abandonar minhas máscaras e chegar a ser eu mesmo? Um objetivo básico da terapia é proporcionar um clima capaz de ajudar o indivíduo a tornar-se uma pessoa em funcionamento pleno. Antes de ser possível trabalhar com vistas a tal objetivo, é preciso, primeiramente, olhar atrás das máscaras que são exibidas. O indivíduo desenvolve ficções e fachadas como defesas contra ameaças. Monta-se um jogo para não se chegar a ser totalmente real com os outros e, no processo de tentar iludi-los, acaba-se eventualmente sendo um estranho para si mesmo. Quando essas fachadas são desmontadas durante o processo terapêutico, que tipo de pessoa emerge por detrás das ficções? Rogers (1961) descreveu as características da pessoa que se acha em movimento na direção de uma atualização crescente: (1) abertura para a experiência; (2) confiança em seu próprio organismo; (3) locus de avaliação interno; e (4) desejo de ser um processo. Estas características constituem os objetivos básicos da terapia centrada-no-cliente. Abertura para a Experiência Abrir-se para a experiência implica ver a realidade sem distorcê-la com o fim de encaixá-la em uma estrutura preconcebida. Enquanto oposta à atitude defensiva, a abertura para a experiência significa tornar-se consciente da realidade como ela se dá, fora da esfera íntima do indivíduo. Significa também que as crenças pessoais não sejam rígidas; pode-se então permanecer aberto a um maior conhecimento e crescimento, assim como tolerar a ambigüidade. O indivíduo tem consciência de si mesmo, no momento presente, e capacidade para experimentar-se de forma sempre renovada. Confiança em seu Próprio Organismo Um dos objetivos da terapia é ajudar o cliente a estabelecer o sentido de confiança em si mesmo. Nos estágios iniciais da terapia, os clientes muitas vezes confiam muito pouco em si mesmos e em suas próprias decisões. De modo típico, procuram conselhos e respostas fora de si, pois basicamente não confiam em sua própria capacidade de dirigir suas vidas. À medida que se tornam mais abertos para suas experiências, seu sentido de autoconfiança começa a emergir. Locus de Avaliação Interno Estando relacionado com a autoconfiança, um locus de avaliação interno significa buscar mais, em si mesmo, as respostas para os problemas existenciais. Em vez de procurar do lado de fora a confirmação de sua identidade, o indivíduo presta cada vez mais atenção ao seu próprio foro íntimo. A aprovação universal dos outros é substituída pela autoaprovação. Decide-se quais são os padrões pessoais de comportamento e olha-se para dentro de si mesmo, em busca de decisões e escolhas orientadoras da existência. Desejo de Ser um Processo O conceito do si mesmo no processo de vir a ser é crucial, por oposição ao conceito do si mesmo como produto. Embora os clientes possam começar a terapia procurando uma espécie de fórmula para construir um estado de felicidade e sucesso (um produto final), chegam a compre- 1 78 70 ender que o crescimento é um processo contínuo. Na terapia, não serão entidades estáveis; estarão, ao contrário, em um processo fluido de desafio a suas percepções e crenças, de abertura para novas experiências e para uma revisão constante. Assim descritos, os objetivos da terapia constituem metas amplas, que proporcionam um sistema de referência geral para compreender a direção do processo terapêutico. O terapeuta não escolhe objetivos específicos para o cliente. A pedra agular da teoria centrada-no-cliente é a afirmação de que, na relação com um terapeuta facilitador, os clientes têm a capacidade de definir e clarificar seus próprios objetivos. Muitos orientadores, porém, sentirão dificuldade em permitir que os clientes decidam, por si mesmos, os objetivos específicos da terapia. Embora seja fácil falar do conceito segundo o qual o cliente encontra seu próprio caminho, é preciso um grande respeito pelo cliente e coragem da parte do terapeuta, para incentivar o primeiro a se escutar e seguir suas próprias indicações sobretudo quando faz escolhas que não coincidem com as esperadas pelo terapeuta. FUNÇÃO E PAPEL DO TERAPEUTA Para a terapia centrada-no-cliente, o papel do terapeuta está fundado em suas atitudes e em sua maneira de ser, e não na implementação de técnicas destinadas a levar o cliente a “fazer algo”. As pesquisas realizadas sobre este tipo de terapia parecem indicar que as atitudes do terapeuta mais do que seu conhecimento, teorias ou técnicas são os desencadeantes da mudança de personalidade no paciente. O terapeuta usa a si mesmo, basicamente como instrumento de mudança. Encontrando o cliente em um nível pessoa-a-pessoa, o “papel” do terapeuta é não ter papéis. Sua função é estabelecer um clima terapêutico que facilite o crescimento do cliente ao longo de um continuum em processo. Este terapeuta cria, assim, uma relação de ajuda na quaF cliente experimentará a liberdade necessária para explorar áreas de sua vida que, no momento, são negadas à consciência, ou distorcidas. Torna-se menos defensivo e mais aberto a possibilidades presentes dentro de si mesmo e no mundo. Em primeiro lugar e acima de tudo, o terapeuta deve desejar ser autêntico no relacionamento com seu cliente. Em vez de percebê-lo de acordo com categorias diagnósticas preconcebidas, o terapeuta encontra-o na dimensão do seu momento existencial e lhe dá ajuda, penetrando no mundo dele. Através das atitudes de autêntico cuidado, respeito, aceitação e compreensão, assumidas pelo terapeuta, o cliente é capaz de abandonar suas defesas e percepções rígidas e de evoluir para um nível superior de funcionamento pessoal. — — — A Experiência do Cliente na Terapia A mudança terapêutica, dentro do modelo centrado-no-cliente, depende da percepção que este tem, tanto de sua própria experiência na terapia quanto das atitudes básicas do orientador. Se o orientador cria um clima conducente à auto-exploração, o cliente dispõe da oportunidade de experimentar e explorar toda a gama de seus sentimentos, muitos dos quais podem estar fora da sua consciência, no início da terapia. Segue-se um esboço geral acerca da experiência do cliente na terapia. O cliente chega à terapia em um estado de incongruência isto é, existe uma discrepância entre sua autopercepção e sua experiência real. Por exemplo: um estudante talvez se imagine na qualidade de — futuro médico e, no entanto, a maioria de suas notas, abaixo da média, pode chegar a exclui-lo do curso de medicina. A discrepância entre como ele se vê (autoconceito) ou como desejaria ver-se (autoconceito ideal) e a realidade do seu baixo desempenho acadêmico poderia acarretar ansiedade e sentimentos de vulnerabilidade, os quais proporcionariam a necessária motivação para começar a terapia. Para querer explorar possibilidades de mudança, o cliente precisa perceber que existe um problema, ou pelo menos que se sente incomodado com seu ajustamento psicológico atual. De início, talvez os clientes esperem, do orientador, as respostas e instruções; ou o encarem como um especialista que pode trazer soluções mágicas. Uma das razões para a procura da terapia seria o sentimento de desamparo, de pobreza e incapacidade, por parte dos clientes, quanto à tomada de decisões e à direção efetiva de suas próprias vidas. Desejam, provavelmente, encontrar a “saída” através dos ensinamentos do terapeuta. No entanto, dentro de um referencial centrado-no-cliente, logo aprenderão que são responsáveis por. si mesmos na relação e que podem aprender a serem mais livres, usando a relação para adquirir uma autocompreensão maior. Durante os estágios iniciais da terapia, o comportamento e os senti mento do cliente seriam caracterizados por crenças e atitudes extremamente rígidas, forte bloqueio interno, falta de um centro de referência interna, sensação de ausência de contato com os sentimentos próprios, relutância em estabelecer contato com as camadas mais profundas do eu, medo da intimidade, desconfiança básica de si mesmo, sensação de ! fragmentação e tendência a descarregar sentimentos e problemas para mencionar apenas alguns aspectos. No clima terapêutico criado pelo orientador, num ambiente de confiança e segurança, o cliente é capaz de explorar aspectos ocultos de seu mundo pessoal. Havendo, por parte do terapeuta, autenticidade, aceitação incondicional dos sentimen to do cliente e capacidade para assumir o referencial Interior do mesmo, —, 04 dão-se condições para que este cliente se descarte gradualmente das camadas de defesa e chegue a um acordo com o que está por trás das máscaras. Com o progresso da terapia, o cliente passa a ser capaz de explorar uma gama mais ampla de sentimentos. Então está apto para expressar medos, ansiedade, culpa, vergonha, ódio, ressentimento e outros sentimentos, que julgava negativos demais para poder aceitar e incorporar à estrutura do eu. Agora o cliente restringe-se menos, distorce menos as coisas e mobiliza-se para um grau maior de disposição a aceitar e integrar certos sentimentos conflitivos e confusos com relação a si mesmo. Descobre, cada vez mais, os aspectos positivos e negativos do seu eu, que tinham sido mantidos encobertos. Movimenta-se no sentido de ser mais aberto a qualquer experiência, menos defensivo, mais em contato com o que sente no momento presente, menos sujeitado pelo passado, menos inflexível, livre para tomar decisões e progressivamente mais confiante em si mesmo em termos de gerir de modo efetivo sua própria vida. Em resumo, a experiência do cliente na terapia é como uma libertação das cadeias deterministicas que o haviam encerrado numa prisão psicológica. Com a liberdade crescente, torna-se mais maduro, psicologicamente falando, e mais realizado. A Relação entre Terapeuta e Cliente Rogers (1961) sintetizou as hipóteses básicas da terapia centrada- no-cliente em uma frase: “Se eu posso proporcionar um certo tipo de relação, a outra pessoa descobrirá dentro de si mesma a capacidade de usar esta relação para crescimento e mudança, e o desenvolvimento pessoal ocorrerá” (p. 33). O mesmo autor (1967) hipotetizou ainda que “não ocorre mudança de personalidade significativa e positiva, a não ser em uma relação” (p. 73). Quais são as características da relação terapêutica? QuT são as atitudes-chave do terapeuta centrado-no-cliente que conduzem à criação de um clima psicológico adequado, onde o cliente venha a experimentar a liberdade necessária para iniciar a mudança de personalidade? Segundo Rogers (1967), para a ocorrência de mudanças de personalidade, são necessárias e suficientes as seguintes seis condições: 1. Estarem duas pessoas em contato psicológico. 2. Encontrar-se a primeira pessoa a quem chamaremos cliente em um estado de incongruência, sendo vulnerável ou ansiosa. 3. Ser a segunda pessoa a quem chamaremos terapeuta congruente ou integrada na relação. 4. Experimentar o terapeuta uma aceitação incondicional positiva para com o cliente. — — — — 5. Experimentar o terapeuta uma compreensão empática do referencial interno do cliente e empenhar-se na comunicação desta experiência ao cliente. 6. Ser bem-sucedida, em um grau mínimo, a comunicação ao cliente da compreensão empática e da aceitação incondicional positiva por parte do terapeuta. Rogers supõe não haver necessidade de outras condições. Se as seis condições estiverem presentes, durante um certo período de tempo, então j ocorrerá a mudança construtiva da personalidade Tais condições não variam conforme o tipo de cliente. Além disso, são necessárias e suficientes para todas as abordagens terapêuticas e aplicam-se a todas as relações interpessoais, não somente à psicoterapia o terapeuta não precisa ter um conhecimento especializado, o diagnóstico psicológico preciso não é necessário, podendo freqüentemen interferir (mais do que não interferir) no processo efetivo da psicoterapia. Rogers admite que sua teoria é surpreendente e radical. Sua formulação gerou Considerável controvérsia, pois sustenta serem não-essenciais muitas das condições comumente Consideradas necessárias por outros terapeutas. Formam parte central da relação terapêutica e, portanto, do processo terapêutico as seguintes características pessoais, ou atitudes do terapeuta: (1) congruência, ou autenticidade, (2) aceitação Incondicional positiva e (3) compreensão empática apurada. Congruêncja ou Autenticidade A congruêncja é a mais importante das três características de acordo com OS trabalhos recentes de Rogera, A congruência implica que o terapeuta seja verdadeiro, isto Ó, sincero, integrado e autêntico, durante a sessão de terapia. Não apresenta uma falsa imagem, sua experiência Interna e expressão manifesta se casam, e pode expressar abertamente 8entimefl e atitudes presentes na relação com o cliente, O terapeuta autêntico é espontâneo ficando transparentes os sentimentos e atitudes, tanto positivos quanto negativos, que nele fluem. Expressando (e aceitando) quaisquer sentimentos negativos o terapeuta pode facilitar a comuflicação franca com o cliente. Trabalha a favor de sua própria transforrnaçâo e auto-realização do mesmo modo que a favor do crescimento do cliente, por meio de uma relação pessoa-a-pessoa Através da autenticidade, serve como um modelo de ser humano que luta por ser mais verdadeiro, O ser congruente talvez exija do terapeuta a expressão de raiva, ustração, agrado, atração, preocupação, tédio, aborrecimento e de uma • rie de Outros sentimentos, presentes na relação. Isto não significa que O terapeuta deva comunicar impulsivamente todos os sentimentos, pois sa auto-revelação deve também ser adequada. Nem está implícito, em tUdo isto, que o cliente é a causa do aborrecimento ou da raiva do tera nn , 83 peuta. O terapeuta, porém, precisa assumir a responsabilidade por seus próprios sentimentos e explorar, juntamente com o cliente, os sentimentos persistentes que bioqueiem sua capacidade de colocar-se de forma plena em presença do cliente. Obviamente, o objetivo da terapia não é a contínua discussão dos sentimentos do terapeuta com o cliente. No entanto, a terapia centrada- no-cliente de fato dá ênfase ao valor de uma relação autêntica, pessoal e não-manipuladora, assim como ao valor potencial de um teedback* franco e aberto, quando estiver bloqueada a comunicação significativa. Também sublinha o fato do aconselhamento poder ser paralisado, se o orientador, sentindo-se de um certo modo em relação ao cliente, agir de modo diferente. Assim, se o orientador não aprecia, ou desaprova, o cliente e finge aceitação, a terapia não acontecerá. O conceito de congruência do terapeuta não implica que apenas uma pessoa completamente autorealizada possa ser eficiente no aconselhamento. Já que o terapeuta é humano, não se pode esperar que seja perfeitamente autêntico. O modelo centrado-no-cliente supõe que, se o terapeuta for congruente na relação com o cliente, o processo de terapia se desencadeará. A congruência existe em um continuum; não é uma questão de tudo ou nada. Aceitação Incondicional Positiva A segunda atitude a ser comunicada pelo terapeuta ao cliente é um profundo e genuíno cuidado para com o cliente enquanto pessoa. Este cuidado é incondicional no sentido de não ser contaminado por uma avaliação ou julgamento dos sentimentos, pensamentos e comportamento do cliente como sendo bons ou maus. O terapeuta valoriza e aceita calorosamente o cliente, sem estabelecer condições de aceitação. Não é uma atitude do tipo “eu aceitarei você quando. mas sim do tipo “eu aceitarei você como é”. Através do seu comportamento, o terapeuta comunica ao cliente que o valoriza como é e lhe ensina que é liVre para ter seus próprios sentimentos e experiências, sem arriscar-se a deixar de ser aceito. A aceitação é o reconhecimento do direito do cliente a ter sentimentos; não é a aprovação de todo comportamento. Nem todo comportamento manifesto precisa ser aprovado ou aceito. É ainda importante que esse cuidado do terapeuta nãó seja possessivo. Se se apoiar nas próprias necessidades do terapeuta de ser querido e apreciado, a mudança no cliente ficará inibida. * Termo que pode ser traduzido por “retroalimentação”, na teoria dos sistemas. Deu- se preferência à forma inglesa por sua aceitação cada vez mais difundida na linguagem técnica da psicologia. (N. T.) . .“, ( o conceito de aceitação incondicional positiva não implica o cará te de tudo ou nada desta característica Como a congruôncja a aceitação incondicional positiva é uma questão de grau num continuum. Quanto maior o grau de apreço, cuidado e aceitação calorosa pelo cliente, maior a oportunidade de facilitar a mudança no cliente. Compreensão Empática Apurada Uma das principais tarefas do terapeuta é compreender, com sensibilidade e precisão, a experiência e os sentimentos do cliente, como se revelam na interação, a cada momento ao longo da sessão de terapia, O terapeuta esforça-se por sentir a experiência subjetiva do cliente, em especial a experiência no aqui-e-agora. A finalidade da compreensão empática é encorajar o cliente a chegar mais perto de si mesmo, a vivenciar mais profunda e intensamente os sentimentos, a reconhecer e resolver a incongruência que existe dentro dele. O conceito implica uma sensibilidade do terapeuta para os sentimentos do cliente, como se fossem os seus próprios, sem chegar a per- der-se nesses sentimentos. Movjmentandose livremente no mundo como vivenciado pelo cliente, o terapeuta não só lhe comunica uma compreensão do que já é de conhecimento do mesmo, mas também tem a possibilidade de indicar sentidos da experiência sobre os quais ele tenha uma consciência apenas indistinta. É importante Compreender que, havendo um alto nível de empatia apurada, vai-se além do reconhecimento de sentimentos óbvios até a percepção dos sentimentos menos óbvios e menos claramente experimentados pelo cliente, O terapeuta ajuda-o a expandir sua consciência sobre os sentimentos que são apenas parcial- mente reconhecidos. A empatia é mais do que a simples reflexão do sentimento. Envolve mais do que refletir Conteúdos para o cliente e é mais do que uma técnica artificial, usada rotinejramente pelo terapeuta. Não se trata simplesmente do conhecimento objetivo (“Eu compreendo qual é o seu proble, ma”) que se Constitui numa compreensão avaliativa sobre o cliente, de fora para dentro. Em vez disso, a empatia é uma compreensão profunda do cliente e com o cliente É um sentido de Identificação com esta outra pessoa. O terapeuta é capaz de participar do mundo subjetivo do cliente, Sintonizando aqueles sentimentos seus que possam ser semelhantes aos dele. Apesar disso, o terapeuta não deve perder sua diferenciação própria. Rogers acredita que a mudança construtiva provavelmente ocorrerá quando o terapeuta Conseguir apreender a vivência atual do mundo ín‘. limo do cliente, na forma em que este a percebe e sente, sem perder a diferenciação de sua identidade própria. ‘ 84 A semelhança dos dois outros conceitos, a compreensão empática apurada dá-se em um continuum, não sendo uma questão de tudo ou nada. Quanto maior o grau de empatia do terapeuta, maior a possibilidade do cliente progredir na terapia. APLICAÇÃO: TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS TERAPÉUTICOS O Lugar das Técnicas na Abordagem Centrada-no-Cliente As formulações iniciais do ponto de vista de Rogers sobre a psicoterapia davam mais ênfase às técnicas. o desenvolvimento desta abordagem envolveu um deslocamento de foco, das técnicas terapêuticas, para a identidade, as crenças e atitudes do terapeuta e para a relação terapêutica. portanto, a relação é a variável crítica, e não o que o terapeuta diz ou faz. Dentro do esquema de referência da terapia centrada-no-cliente, as “técnicas” são: expressar e comunicar aceitação, respeitar e compreender, participar com o cliente na tentativa de desenvolver um referencial interno, pensando, sentindo e explorando. Na visão da abordagem centradano-c1ieflte, a relação ficaria despersOnaliZada, se as técnicas fossem usadas como truques pelo terapeuta. As técnicas devem ser uma expressão sincera do terapeuta; não podem sér usadas com constrangimento,* pois então o orientador deixaria de ser autêntico. Períodos de Desenvolvimento da Terapia CentradaflOCItent0 Para dar ao leitor uma compreensão do lugar das técnicas na abordagem centradaflo-Cliente, a discussão que se segue esboça a evolução da teoria de Rogers. Hart (1970) divide seu desenvolvimento em três fases: 10 Período (1940-1950): psicoterapia Não-Diretiva. Esta abordagem entatizava a criação, pelo terapeuta, de um clima permisSivO e de nêoifltervSnA0. A aceitação e a clarificação eram as técnicas principais. Através da terapia não-diretiva, o cliente alcançaria lnsight sobre si mesmo e sobre sua situação vital. 29 Período (1950-1957): Psicoterapia reflexiva, o terapeuta procurava principalmente refletir os sentimentos do cliente e evitar ameaças à relação. Por meio da terapia refixiva, o cliente era capaz de desenvolver um grau maior de congruência entre o autoconceito e o autoconceitO Ideal. 39 Período (1957-1970): Terapia vlvenclal. Esta abordagem caracteriza-se por uma ampla gama de comportamentos do terapeuta para expressar atitudes básicas. A terapia centraliza-se na vivência do cliente e na expressão da vivência * No original, self-coflSClOUSlY, termo que implica tanto um caráter de “constrangimento”, isto é, o uso “forçado” da técnica, quanto de intenção conscIente, deliberada, isto é, o uso da técnica como um artifício consciente, distanciado da vivência emergente na própria relação. (N. T.) do terapeuta, O cliente progride em um continuum, aprendendo a utilizar a e» perlência imediata.’ Durante os últimos 30 anos, a terapia centrada-no-cliente sofreu mudanças no sentido de trazer o máximo da pessoa do terapeuta para dentro do processo terapêutico. No período inicial, o terapeuta não-diretivo evitava claramente a interação com o cliente. Funcionava como clarificador, mas ocultava sua própria identidade. Nessa época, técnicas diretivas tais como perguntas diretas, sondagem, avaliação e interpretação, assim como procedimentos, também diretivos, a exemplo de entrevista para anamnese, testagem e diagnóstico psicoIógco, não faziam parte do processo terapêutico, por se basearem em pontos de referência extrínsecos; a terapia centrada-no-cliente contava sobretudo com o impulso para o crescimento, inato no cliente. Mais tarde, a terapia deslocou-se da ênfase cognitiva atribuída à clarificação, que devia levar ao insight. A mudança na prática efetiva da terapia, característica da psicoterapia reflexiva, consistiu no fato do terapeuta dar ênfase à tarefa de responder, com sensibilidade, ao sentido afetivo, mais cio que ao sentido semântico da expressão do cliente (Hart, 1970, p. 8). O papel do terapeuta foi reformulado e elaborado para fazer ressaltar sua capacidade de responder aos sentimentos do cliente. Em lugar de simplesmente clarificar os comentários do cliente, o terapeuta refletia os sentimentos. Com vistas a implementar a reorganização de autoconceitos do cliente, a tarefa principal era remover fontes de ameaça existentes na relação terapêutica e funcionar como um espelho, de modo a que o cliente pudesse ter uma compreensão melhor de seu mundo (Hart, 1970). O terapeuta enquanto pessoa ainda era deixado, em grande parte, tora desta formulação. Seguiu-se a transição para a terapia vivencial, dando-se relevo a certas condições “necessárias e suficientes” para a ocorrência de mudança ,de personalidade. Este período introduziu os elementos cruciais conside) ados como pré-requisitos para a terapia efetiva: as atitudes do terapeuta %Øe congruência, respeito e aceitação positivos, e compreensão empática O foco da abordagem, então, passou da reflexão de sentimentos do clierifeita pelo terapeuta, para a expressão dos próprios sentimentos imeiatos do terapeuta, na relação com seu cliente A formulação atual per$ite uma variação e uma flexibilidade maiores do comportamento do tepeuta, incluindo declarações ou opiniões, sentimentos etc., coisas que bram indesejáveis nos períodos anteriores. Adaptado do Quadro 1 .1, do livro New Directions in Ciient-Centered Therapy, de J. lert. Copyright © 1970, Houghton Miffiin Co. Reproduzido com autorização. 88 A centralização na vivência imediata do terapeuta leva-o a expressar seus sentimentos para o cliente, quando isto for apropriado; e, mais do que nas concepções iniciais do modelo, possibilita ao terapeuta trazer, para a relação, sua própria identidade pessoal. As primeiras formulações da visão centrada-no-cliente estipulavam que o terapeuta deveria evitar a inserção de seus próprios valores e vieses na relação de aconselhamento. Precisava prevenir-se contra procedimentos comumente usados, tais como estabelecer metas, dar conselhos, interpretar o comportamento e selecionar tópicos a serem explorados. No entanto, a formulação moderna está menos voltada para proibições e concede ao terapeuta maior liberdade para participar mais ativamente na relação, de forma a criar uma atmosfera onde o cliente se sinta acolhido de modo mais completo, independentemente das técnicas ou estilo empregados por um terapeuta em particular. Aplicação à Escola: O Processo de Ensino/Aprendizagem A filosofia subjacente à teoria centrada-no-cliente tem aplicaçãõ direta ao processo de ensino/aprendizagem. O interesse de Rogers na natureza do processo de aprendizagem que está envolvido no aconselhamento conduziu igualmente à preocupação com o que ocorre na educação. Em Freedom to Learn (1969), Rogers trata de questões básicas para à educação humanista e propõe uma filosofia para a aprendizagem centrada-no-aluno. Esta filosofia da educação é fundamentalmente igual à sua visão sobre o aconselhamento e a terapia, pois acredita ser possível confiar no aluno para a descoberta de problemas relevantes, relacionados com a sua existência. O aluno tem a possibilidade de vir a se engajar numa aprendizagem significativa, a qual poderá ocorrer da melhor forma quando o professor criar um clima de liberdade e confiança. Altínção do professor é semelhante à do terapeuta centrado-no-cliente: havendo, por parte do professor, autenticidade, abertura, honestidade, aceitação, compreensão, empatia e disposição para permitir que os alunos explorem pessoalmente um material significativo, cria-se a atmosfera onde é provável a ocorrência de aprendizagem relevante, e não só aparente. Rogers pleiteia uma reforma na educação, afirmando que esta passaria por uma revolução de âmbito nacional, se pelo menos 1 em 100 professores ministrasse aulas centradas-no-aluno, permitindo aos estudantes a liberdade verdadeira de buscarem soluções relevantes a nível pessoal. Em meu livro Teachers Can Make a Difference (1973), analisei as mensagens de base que são transmitidas aos alunos, dentro do referencial da educação tradicional. As mensagens tão freqüentemente dissemi nada numa aula convencional, que focaliza de modo quase exclusivo o conteúdo e o currículo, abrangem, em síntese, o seguinte: Descubra o que o professor quer e esforce-se para agradá-lo. Nunca questione a autoridade do professor. A aprendizagem é o resultado de motivação externa. Os que aprendem deveriam procurar, sempre, pela única resposta certa. Os que aprendem deveriam ser passivos. A aprendizagem é um produto, mais do que um processo. A aprendizagem escolar está dissociada da vida. O eu individual é ignorado na educação. Os que aprendem São objetos, não pessoas. Os sentimentos não são importantes na educação. Os professores precisam manter-se a distáncia dos alunos. A escola nos ensina a ser desonestos Não se deve confiar nos alunos.2 Acredito que a educação humanista fundada em parte considerável da abordagem centradanocJienfe é uma alternativa viável para os resultados estéreis de quase toda a educação convencional Em meu livro, descrevo quatro professores “humanistas” diferentes entre si como indivíduos e por seus métodos de trabalho, mas que, além de ensinarem conceitos e conhecimentos, partilham de uma preocupação em comum com o desenvolvimento da identidade pessoal dos alunos. Valorizando a visão da psicologia, o professor consegue, de várias maneiras, aconselhar seus alunos, tanto individualmente quanto em grupo, O aconselhamento pode ser — — integrado ao currícujo ao invés de ficar separado da aprendizagem e conteúdo, o processo de ensino/aprendizagem pode colocar o aluno em um lugar central, em vez de excluir as questões relativas ao eu e aos valores, experiências, sentimentos preocupações e interesses reais do aluno. Infelizmente, muitos professores acham que o domínio do conteúdo fica prejudicado, se a educação for dirigida para o desenvolvimento essoal do aluno. Ao contrário, existem evidências em quantidade para Fonfirmar o valor de um currículo significativo e Individualizado que trate questões relevantes para os alunos. Muitos críticos têm atacado a %Prendizagem tradicional por produzir somente a ilusão de uma aprendi: agem real, ilusão que logo se desvanece, e 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 1 SUMÁRIO E AVALIAçÃO A terapia centrada-nocliente tem seus fundamentos em uma filosofia a natureza humana que sustenta a existência, em nós, de uma força inata Extrajdó do livro Teachera Can Make a Diflerence, de Geraid F. Corey. .Copyright ® 73, CharJes E. Merrjl Pubfishing Co. Reproduzido com autorização. a,. visando a auto-realização. A visão de natureza humana adotada por Rogers é ainda fenomenológica: o indivíduo estrutura-se de acordo com sua percepção da realidade, é motivado para atualizar-se na realidade que percebe. A teoria rogeriana está baseada no postulado segundo o qual o cliente possui, em si mesmo, a capacidade de compreender os fatores presentes em sua vida que estão causando infelicidade. Possui também a capacidade para autodirigir-se e para a mudança pessoal construtiva. Tal mudança ocorrerá se um terapeuta congruente for capaz de estabelecer, com o cliente, uma relação caracterizada por cordialidade, aceitação e compreensão empática apurada. O aconselhamento terapêutico baseia-se em uma relação íntima, ou pessoa-a-pessoa, cujo clima de segurança e aceitação permite ao cliente abandonar suas defesas rígidas, chegando a aceitar e integrar, ao sistema do eu, aspectos anteriormente negados ou distorcidos. A terapia centrada-no-cliente atribui a ele a responsabilidade principal pelo processo terapêutico. Os objetivos gerais são: tornar-se mais aberto à experiência; confiar em seu próprio organismo; desenvolver um locus de avaliação interno e o desejo de ser um processo; mobilizar-se, de várias maneiras, em direção a níveis mais elevados de autorealização. O terapeuta não impõe valores e objetivos específicos ao cliente; é este quem decide sobre seus valores e objetivos vitais particulares. O modelo centrado-no-cliente não é uma teoria acabada. Rogers pretendeu elaborar um conjunto de princípios operacionais que pudessem ser formulados como hipóteses experimentais relativas às condições de facilitação do crescimento pessoal. Trata-se de um sistema aberto, o qual, após 30 anos, ainda se encontra em evolução. Suas formulações continuam a ser revisadas à luz de novos resultados de pesquisa. A abordagem centrada-no-cliente valoriza a relação pessoal entre terapeuta e cliente; as atitudes do primeiro são mais críticas para o processo do que técnicas, conhecimentos ou teorias. O cliente usará a relação para liberar seu potencial de crescimento e tornar-se er maior grau a pessoa que escolha vir a ser, se o terapeuta lhe demonstrar e comunicar que (1) é uma pessoa congruente, (2) aceita cordial e incondicional- mente seus sentimentos e sua individualidade e (3) é capaz de perceber, com sensibilidade e precisão, o seu mundo interno, do mesmo modo como ele próprio, cliente, o percebe. Contribuições da Abordagem Centrada-no-Cliente Esta abordagem é, talvez, uma das modalidades mais utilizadas na formação do orientador. Uma das razões para isso está em suas características de segurança intrínseca. Valoriza uma escuta ativa, o respeito pelo w cliente, a adoção do referencial interno deste e o estar junto dele, por oposição ao distanciamento da atitude interpretativa o terapeuta centrado-no-cliente reflete conteúdos e sentimentos, clarifica mensagens, ajuda os clientes a mobilizarem seus recursos e incentivaos no sentido de \ descobrir suas próprias Soluções. Portanto, tal abordagem é bem mais segura do que muitos modelos de terapia que colocam o terapeuta na posição diretiva de fazer interpretações formular diagnóstico, sondar o inconsciente, analisar sonhos e trabalhar com vistas a mudanças de personalidade mais radicais. Para uma pessoa com um embasamento limi tado em Psicologia do aconselhamento, dinâmica de personalidade e psicopatologia, a abordagem centradanocI lente oferece probabilidades mais concretas de que os futuros clientes não serão prejudicados Tal abordagem traz ainda outras contribuições para as situações de aconselhamento, tanto individual quanto de grupo. Propicia uma base humanista para a compreensão do mundo subjetivo dos clientes. Oferece- lhes a rara oportunidade de serem realmente escutados e ouvidos. Além disso, se os clientes sentem que estão sendo ouvidos, muito provavelmente expressarão seus sentimentos a seu próprio modo. Podem ser eles mesmos, pois sabem que não serão avaliados nem julgados. Conseguem sentir-se livres para experimentar novas formas de comportamento. EsPera-se que assumam a responsabilidade por si mesmos e é sua a tarefa de estabelecer o ritmo do processo de aconselhamento. Decidem que Areas desejam explorar, com base em seus próprios objetivos de mu dança. A abordagem centradanocliente instrumenta o cliente com o bedback imediato e específico acerca do que acaba de comunicar, O Orientador funciona como um espelho, refletindo os mais profundos sentimentos do cliente. Assim, este tem a Possibilidade de conseguir focalizar Com maior nitidez e dar sentido mais profundo a aspectos da própria esfrutura do eu que, antea, eram conhecidos apenas parcialmente por ele mesmo. A atenção do cliente passa a concentrarse sobre muitas coisas 2para as quais não se voltara antes. Desse modo, torna-se capaz de apro ria .se cada vez mais de sua experiência total. : Outra contribuição importante para o campo da Psicoterapia encon. a-se na intenção de Rogers quanto a formular suas proposições como Ipóteses testáveis e submetê-las ao trabalho de pesquisa. Mesmo seus 7*llticos concedem-lhe crédito, por ter Conduzido e inspirado Outros auto$s a realizar investigações exaustivas sobre o processo de aconselha nto e sobre OS resultados de qualquer escola de psicoterapia. A teoria erjana sobre terapia e mudança de personalidade produziu um efeito urfstico substancial e, embora uma grande controvérsia acompanhe ta abordagem, o trabalho de Rogers constituiu-se em um desafio para teóricos e os práticos, no sentido de examinarem as crenças e os esIo terapéuticos por eles adotados. A terapia centrada-no-cliente não ficou confinada à psicoterapia em particular. Rogers mostra que sua teoria tem tido implicações para a educação, para as relações comerciais, industriais e internacionais. Este autor dedicou-se muito ao movimento do aconselhamento em grupo, sendo um dos fundadores do “grupo de encontro” (Rogers, 1970). Durante muito tempo, interessou-se pelo ensino centrado-no-aluno e foi um pioneiro da educação humanista (Rogers, 1969). Seus esforços contribuíram para a fundação da Associação de Psicologia Humanista. As implicações da abordagem centrada-no-cliente estendem-se claramente à psicoterapia, ao treinamento de profissionais das áreas de saúde mental e paramédica, à vida familiar e a todo tipo de relações interpessoais (Rogers, 1961). As Limitações da Terapia Centrada-no-Cliente Um ponto vulnerável da abordagem centrada-no-cliente está na maneira errônea com que alguns praticantes interpretam ou simplificam as atitudes básicas da posição centrada-no-cliente. Nem todo orientador pode praticar a terapia centrada-no-cliente, pois alguns não acreditam realmente na filosofia subjacente à mesma. Muitos seguidores de Rogers tentaram ser cópias fiéis do próprio Rogers e compreenderam mal certos conceitos básicos do autor. Limitam sua faixa de reações e estilos de aconselhamento à reflexão de sentimentos e à escuta empática. Certamente é inegável o valor de escutar e realmente ouvir o cliente, assim como de refletir e comunicar a compreensão ao cliente. Mas a psicoterapia, sem dúvida, é mais do que isso. Talvez escutar.e refletir constituam um requisito para o estabelecimento da relação terapêutica, mas não deveriam ser confundidos com a terapia em si mesma. Uma limitação da abordagem mostra-se no modo pelo qual alguns praticantes se tornam “centradosno-cliente” e perdem. o sentido de sua própria individualidade e singularidade. O orientador pode, paradoçalmente, centralizar-se no cliente a ponto de minimizar o valor de seu prio poder enquanto pessoa e, assim, perder o impacto e a influência de sua personalidade sobre o cliente. O terapeuta tem condições de pôr em destaque as necessidades e propósitos do seu cliente e, apesar disso, ao mesmo tempo, sentir-se livre para incluir sua própria personalidade na sessão de terapia. È preciso, portanto, ter em mente que esta abordagem é algo mais do que uma técnica de escuta e reflexão. Baseia-se em um conjunto de atitudes, trazidas pelo terapeuta para a relação, sendo a autenticidade do terapeuta mais do que qualquer outra qualidade o fator determinante do poder da relação terapêutica. Se o terapeuta submerge sua identidade e estilo únicos num modo passivo e não-diretivo de ser, talvez não chegue a prejudicar muitos clientes, mas possivelmente também não — — chegará a afetá-los de modo Positivo. A autenticidade e a congruêncj do terapeuta relacjonam..se tão essencialmente com esta abordagem que, para trabalhar dentro deste referencial, é preciso sentir-se natural agindo desse modo e encontrar uma forma de expressar as próprias reações para os clientes. Caso contrário, a terapia centradanocl lente muito possivelmente ficará reduzida a uma modalidade neutra, segura e ineficiente de trabalhar com os clientes. QUESTÕES PARA EXAME A terapia centradanocliente funda-se em suposições referentes às capacidades do cliente e a atitudes básicas do terapeuta. Nesta abordagem, constitui-se realmente em problema o fato de, por vezes, os terapeutas falarem apenas por falar dos conceitos básicos e, não acreditando profundamente em algumas das atitudes mencionadas, refletirem, no seu comportamento enquanto terapeutas, uma concepção diferente da sua filosofia de aconselhamento. Seguem-se algumas perguntas tendo em vista ajudar o leitor a testar e questionar o grau em que aceita uma filosofia çentrada-nocliente e, em conseqüênc, a extensão em que seria capaz de incorporája verdadeiramente à sua própria prática de aconselhamento. 1. A relação que o terapeuta cria na interação com o cliente é a pedra angular da terapia centradanocliente Você aceita as condições “necessárias e Suficientes” para a mudança, segundo Rogers? E suficiente que o terapeuta tenha uma aceitação incondicional positiva pelo cliente, possua uma compreensão empática apurada e seja autêntico no contexto da relação? Você acredita que outras técnicas e procedimentos terapêutjcos possam ser essenciais para que a mudança ocorra? 2. Você acha que o diagnóstico e a anamnese são pré-requisitos importantes para a terapia? Você poderia dar continuidade ao processo, sem ter informações sobre o cliente? Você considera de utilidade a coleta de dados sobre experiências passadas do cliente? 3. Você gostaria de interpretar o sentido do comportamento de seu cliente, ou deixaria que ele formulasse seus próprios significados 4. Haveria a Possibilidade de você se sentir compelido a dar suas próprias opiniões, ou mesmo a persuadir seu cliente a realizar algo? Você insistiria na sugestão de certas atividades, se realmente acreditasse que seriam de real interesse para o cliente? Você gostaria de dar conselhos? 5. Você seria capaz de controlar-se para não fazer juízos de valor, se o estilo de vida de seu cliente fosse radicalmente diferente do seu? E se os valores e crenças do cliente contradissessem os seus? 6. Você seria capaz de aceitar seu cliente? O que você faria se sentisse não estar aceitando certa pessoa? vê algum conflito entre os conceitos de autenticidade e aceitação? 7. Em que medida VOCê seria congruente ou verdadeiro, se não colocasse seus valores, sentimentos e atitudes para O cliente? Se se sentisse bem dando sugestões, mas evitasse fazê-lo, estaria sendo inautêntico? 8. Que fatores poderiam interferir na sua maneira de ser autêntico com un cliente? E quanto à sua necessidade de aprovação pelo cliente? Exish algum perigo de você evitar a confrontação pelo fato de querer ser querido 9. O que, dentro de você, poderia dificultar uma compreensão empática apu rada? Você tem experiências de vida suticlentemnete amplas para ajudá-l a identificar-se com as lutas de seu cliente? 10. Você poderia empatizar com os clientes e compreender seu mundo subjetivC sem perder seus próprios limites e identificar-se demais com eles? REFERÈNCIAS E LEITURAS SUGERIDAS *Axljne, V. 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