referência bibliográfica

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Bianca Cristina Pontes
Camila Baratieri
Daniele Carnelossi
Luiz Eduardo S. Dietzel
Rosangela Vianna
RESUMO CAP. 2 – TORNAR-SE PESSOA
AS CARACTERÍSTICAS DE UMA RELAÇÃO DE AJUDA
CURITIBA
2010
AS CARACTERÍSTICAS DE UMA RELAÇÃO DE AJUDA
O interesse pela psicoterapia leva ao conhecimento do que é a relação de
ajuda. Esta expressão significa que pelo menos uma das partes procura promover
na outra, crescimento, desenvolvimento, maturidade, melhor funcionamento e maior
capacidade de enfrentar a vida, podendo ser um indivíduo ou um grupo. Nesta
definição, abrange-se uma série de relações que tem por objetivo geral facilitar o
crescimento, como por exemplo: a relação de pai/mãe com o filho, médico e doente,
etc. Dentro da relação terapeuta/cliente envolve-se a do psiquiatra e o psicótico
hospitalizado, psicoterapeuta e o indivíduo perturbado ou até mesmo de
psicoterapeuta com pessoas ditas “normais”.
Quando se refere a essas relações, deve ser considerado toda e qualquer
relação de pessoas e pessoas, nunca esquecendo o
número de interações
indivíduo-grupo que procuram ser relações de ajuda.
Pensando-se em analisar essas características de uma relação de ajuda,
forma-se o problema de como saber quais as características que as transformam em
relações de ajuda e que favorecem o crescimento.
Alguns estudos sobre a natureza das relações de ajuda focam diferentes
aspectos do problema com abordagens em contextos teóricos diversos.
Um deles foi realizado por Baldwin e colaboradores, com a investigação de
agrupamentos de atitudes de pais com os filhos. Encontrou-se que as atitudes de
aceitação democrática são as que parecem melhor favorecer o crescimento. As
crianças tratadas com afeto de igual para igual pelos pais revelam um
desenvolvimento intelectual mais acelerado, mais originalidade, segurança emotiva
e domínio mais profundo e menor excitabilidade que crianças com famílias de
comportamento diferente. Já nas famílias onde os pais possuem atitudes de rejeição
afetiva, as crianças apresentam retardo no seu desenvolvimento intelectual,
utilização relativamente pobre de suas capacidades e uma certa falta de
originalidade.
Observando-se estas situações, sugere-se que isto seja transposto a outras
relações como a do psicoterapeuta que, assim como o primeiro grupo de pais citado,
utiliza-se de atitudes de aceitação democrática na relação de médicos internos com
pacientes esquizofrênicos na seção de psiquiatria de um hospital. Tal estudo
efetuou-se dividindo os médicos em dois grupos, descobrindo que os que possuíam
uma participação ativa pessoal – pessoa-a-pessoa – com seus pacientes,
conseguiu, mais do que o outro grupo, estabelecer com o doente uma relação de
confiança.
Heine fez um estudo sobre a maneira como pessoas que receberam ajuda
psicoterapêutica de psicanalistas, de terapeutas centrados no cliente e de
adlerianos. Todos estes verificaram em si transformações, mas, na percepção da
relação destes com o terapeuta, os fatores mais benéficos citados referiam-se à
confiança que tinham sentido no seu terapeuta, o fato de terem sido compreendidos
por ele e o sentimento de independência que tiveram as suas opções e decisões.
Todos estavam de acordo sobre os elementos desfavoráveis nesta relação:
falta de interesse, atitude distante ou uma simpatia excessiva. Consideravam
também desfavoráveis os procedimentos onde o terapeuta dava conselhos diretos e
precisos ou em que focava o passado ao invés de enfrentar os problemas atuais.
Já Fiedler observou que, terapeutas peritos de diferentes abordagens,
sustentam relações similares com os seus clientes, englobando fatores como
capacidade para compreender o que o cliente pretende significar e os seus
sentimentos, receptividade sensível às atitudes do cliente e um interesse caloroso
sem excessiva implicação emocional.
Quinn mostra a compreensão das intenções significativas do cliente como
sendo essencialmente uma atitude de desejo de compreender. Chegou a tal
conclusão com a escuta de gravações de frases pronunciadas por terapeutas
durante entrevistas com o cliente. Assim, percebeu que era possível julgar o grau de
compreensão através destas gravações com tanta segurança como se estivesse
ouvindo a resposta no seu contexto, mostrando que é a atitude que consiste em
querer compreender o que é comunicado.
Já Seeman e Dittes estudam a qualidade afetiva da relação, concluindo que
ser bom resultado em psicoterapia está intimamente ligado à simpatia e ao respeito
crescente entre terapeuta e cliente.
Conclui-se de todos estes estudos que as atitudes e sentimentos do terapeuta
são mais importantes que sua orientação teórica, seus processos e suas técnicas
são menos importantes do que suas atitudes. A maneira como as suas atitudes e os
seus processos são apreendidos é que são importantes para o cliente de uma forma
crucial.
Verplanck, Greenspons e outros vão tratar das relações fabricadas. Eles
mostraram que seria possível condicionar o comportamento verbal de uma forma
bem eficiente. E assim era provável provocar o aumento de certas categorias
verbais, como plurais, palavras hostis, declarações de opiniões. Desde modo seria
possível também, levar qualquer pessoa a adquirir palavras e fazer declarações de
coisas que decidimos reforçar.
Lindsley levou mais adiante os princípios de condicionamento operatório
elaborados por Skinner, acabou por demonstrar que um esquizofrênico crônico,
podia se situar numa relação como uma máquina, ajustando-se de modo a
responder diferentes tipos de comportamento.
Harlow também realizou estudos sobre a relação fabricada com macacos,
onde foram apresentados a macacos novinhos recém separados de suas mães dois
tipos de objeto. Um chamado de “mãe dura”, feito de cilindro e arame, munido de
uma mama onde o macaquinho poderia se alimentar e outro chamado de “mãe
mole”, um cilindro feito de borracha com um tecido esponjoso. Os macaquinhos
buscavam o seu alimento na “mãe dura”, porém apresentavam preferência pela
“mãe mole”. Dessa forma foi concluído que, não se pode substituir por nenhuma
recompensa, neste caso o alimento, certas qualidades que o macaco capta e de que
experimenta a necessidade e o desejo.
Duas investigações recentes foram realizadas. A primeira foi dirigida por Ends
e por Page, que fizeram trabalho com alcoólicos hospitalizados, tentaram três
métodos de terapia em grupo. O método considerado mais eficaz era a terapia
baseada numa teoria de aprendizagem com dois fatores e a terapia centrada no
paciente viria em seguida e a orientação psicanalítica demonstrava-se a menos
eficaz. Porém os resultados demonstraram que a terapia baseada na teoria da
aprendizagem não ajudava como também era prejudicial, as conseqüências eram
piores do que nos grupos que não estavam em tratamento. A terapia de abordagem
psicanalítica teve alguns resultados, mas foi a terapia centrada no paciente que
provocou alterações positivas, produzindo melhoras estáveis.
Segundo Rogers o motivo do fracasso da terapia fundada na teoria da
aprendizagem ocorre porque o terapeuta preconiza um anonimato da sua
personalidade, deste modo, atitudes que consistem em recusar-se como pessoa e
em tratar o outro como um objeto, não tem grandes chances de dar certo, ou servir
para algum fim.
Um outro estudo realizado apresentou uma formulação teórica a qual contém
condições necessárias e suficientes para uma mudança terapêutica. Assim deveria
ter uma relação significativa entre a quantidade da alteração construtiva da
personalidade do paciente e quatro variáveis no conselheiro: 1) compreensão de
empatia pelo paciente; 2) atenção positiva incondicional; 3) autenticidade, entre suas
palavras e seus sentimentos; 4) intensidade afetiva de reação.
Deste modo, mais estudos foram realizados agora contendo estas quatro
variáveis que o terapeuta deveria apresentar durante o processo terapêutico para
que este se torna-se satisfatório. Então as conclusões mostraram que a qualidade
da interação do terapeuta com o seu paciente, pode ser avaliada numa pequena
amostragem do seu comportamento.
Se o conselheiro é congruente ou
transparente, se tem uma simpatia incondicional pelo paciente, então há uma grande
probabilidade que esta relação de ajuda de certo e seja eficaz.
Rogers considera de extrema importância as características diferenciais, pois
estas falam sobre as atitudes e a percepção da pessoa que ajuda, e de quem é
ajudado, pois saber aplicar os nossos conhecimentos não é nada fácil, mas mesmo
assim devemos nos pautar nos estudos e colocá-los em prática, trazendo em nosso
auxílio toda a nossa experiência.
Algumas reflexões para o terapeuta são importantes para o desenvolvimento
de um bom trabalho como:

se consegue ser compreendido por seu cliente como merecedor da confiança,
como seguro de si e como coerente e consistente nos sentidos mais
profundos e abrangentes;

se é pontual, e se respeita a natureza confidencial das entrevistas;

se procura ser sincero nas emoções, mostrando quem realmente é, sem se
preocupar, em ter que concordar com tudo o que o cliente fala.
Outro fato importante é o autoconhecimento para não passar mensagens
contraditórias, isto é, quando ficar irritado, perceber e poder se expressar de forma
clara, sem precisar esconder e assim poder ser transparente nas atitudes e nos
sentimentos.
Para ser verdadeiro com o outro e consigo mesmo, é preciso se conhecer
melhor, assumir os erros e as dificuldades, só assim as relações interpessoais serão
construtivas e enriquecedoras.
Outra questão que o autor aponta se é possível ter uma atitude positiva para
com o outro, atitudes de atenção, de afeição e de respeito, mesmo sabendo que
muitas vezes isso é difícil, devemos ter atitudes profissionais, mas não um
distanciamento.
É preciso compreender as relações, para que possamos atingir a meta, para
que tenhamos mais segurança, para que possamos demonstrar o interesse pelo
outro, para aceitarmos o cliente em todos os seus aspectos e para estarmos ligados
a ele com sentimentos positivos. Portanto, a reflexão é de extrema importância;
sabermos se somos suficientemente fortes para ajudarmos aquela pessoa, aquele
cliente, e se poderemos expressar os nossos verdadeiros sentimentos, sem nos
sentirmos destruídos com as angústias que podem ser trazidas, ou até mesmo o
amor, e se estamos livres para dedicarmos, e aceitarmos o conteúdo trazido sem
termos medo de nos perdermos.
O autor aponta a existência de uma segurança interna para a aceitação da
liberdade do outro, que permita ao cliente ser independente sem que o terapeuta
sinta ou tenha necessidade de se sentir como modelo, sem interferir na liberdade de
escolha do cliente e em seu desenvolvimento de sua personalidade.
Mesmo que tenha extrema delicadeza em sua abordagem, tem de ter grande
atenção para com a compreensão do universo do outro, sem que precise interferir
de maneira brusca, tomando todos os cuidados para não esmagar os sentimentos
do outro. Não deve decidir por ele, e sim aceitar que ele tome suas decisões
autônomas, respeitando os significados que para ele são preciosos, e se autoavaliando, se isto é possível, sem julgá-lo, e se colocando no lugar dele, procurando
“um outro olhar” não depreciativo.
Outra situação que o terapeuta deve questionar é se consegue aceitar as
facetas que o outro lhe apresenta, se é possível aceitar o outro sem que o outro se
sinta ameaçado ou envergonhado de se expor, e se deve comunicar ou não o seu
ponto de vista, e se puder colhê-lo apenas condicionalmente, verificar se esta atitude
será boa para os dois, isto é, se existe espaço para o desenvolvimento, o
crescimento, e também refletir sobre essa dificuldade de aceitação se porventura
houver.
Varias questões devem ser levadas em consideração em uma psicoterapia,
inclusive a atenção às palavras, para que o cliente não se sinta desprotegido,
ameaçado e isso venha lhe causar danos, até mesmo fisiológicos, deve-se evitar
frases que causam constrangimento e conflitos internos que lhe pareçam
ameaçadores.
Uma última questão é de poder ver o indivíduo num processo de
transformação e não o tratando como uma pessoa imatura, se prendendo no
passado dele, ou tratando-o como um aluno ignorante, poder ver a potencialidade
dele e o aceitando, se colocar de uma forma para realmente ajudá-lo, ver no cliente
todas as suas possibilidades de crescimento, um ser capaz de um desenvolvimento
criativo e interior.
Enfim, Rogers vê a relação de ajuda como implicada em uma maturação, ou
seja, para que essa ajuda seja boa e útil tem de ser oferecida por uma pessoa que
esteja psicologicamente madura. Para que isso venha acontecer tem de se querer
desenvolver todas as potencialidades, se conhecer melhor, crescer, ir em direção à
maturidade. Tem de se compreender o trabalho como orientador, psicoterapeuta,
pois disso depende o quanto cada um quer aprender, e para isso, é necessário
enfrentar e compreender as relações e interações entre os homens. Portanto somos
o que criamos e construímos as relações pessoais de ajuda.
Para criar uma relação de ajuda não devemos seguir apenas os métodos já
existentes, pois se só tivéssemos tal base teríamos uma maneira cega e mecânica
de agir. Devemos sim, usa-los para começar a criar nossa base, os submetendo à
prova da nossa própria experiência. Por isso, o autor não traz maneiras de agir
nessa relação, mais sim, algumas questões que o suscitaram a esse estudo.
1- Como poderei ser de uma maneira que possa ser apreendida pelo outro
como mercadoria de confiança, como segura ou consciente no sentido mais
profundo do termo? Nessa primeira questão, o autor emprega o termo “congruente”
para descrever o modo de como gostaria de ser. Esse termo vem com a finalidade
de significar a consciência de qualquer atitude e sentimento, e quando isso acontece
o terapeuta é uma pessoa unificada e congruente e pode ser o que é, e com isso
proporciona aos outros confianças.
2- Poderei ser suficientemente expressivo para que a pessoa que eu sou se
possa comunicar sem ambigüidades? Essa pergunta nos leva a refletir sobre algum
assunto que nos afeta, pois se ficamos nervosos com algum assunto, podemos
passar de forma inconsciente algo diferente do que queremos. O autor enfatizar o
“ser transparente”, e em um processo de ajuda isso ajudaria a esclarecer para o
cliente tal sentimento, e o tornando consciente a ambigüidade que pode surgir é
consideravelmente diminuída.
3- Serei capaz de ter uma atitude positiva para com o outro, atitude de calor,
de atenção, de afeição, de interesse, de respeito? Nessa questão, o autor traz a
dificuldade encontrada em admitir tais atitudes ou sentimentos positivos em relação
ao cliente, pois temos a tendência de estabelecer uma distancia com o paciente, ou
seja, uma relação “profissional”. Porem é uma meta perceber que em algumas
relações ou em alguns momentos podemos nos permitir com segurança, mostrar
interesse pelo outro e estar ligado a ele como uma pessoa que temos sentimentos
positivos.
4 – Poderei ser suficientemente forte ao nível de pessoa para ser
independente do outro? Esse questionamento vai se referir a hora em que eu
perceber livremente esta força de ser independente, então poderei me dedicar
totalmente a compreensão e aceitação do cliente, pois não tenho medo de me
perder em mim mesmo.
5- Estarei eu suficientemente seguro no interior de mim mesmo para permitir
ao outro ser independente? Essa questão liga-se a anterior, mas trata da influencia
que o terapeuta terá no cliente, e que tal influencia não interfira em seu próprio
desenvolvimento, respeitando assim esse desenvolvimento permitindo que o cliente
seja o que é.
6- Poderei me permitir entrar completamente no mundo dos sentimentos e
das concepções pessoais e vê-lo como a outra pessoa o vê? Já aqui seria tratado
esse entendimento do terapeuta com seu cliente, claro que é mais fácil esse
entendimento em uma terapia individual. E a mínima compreensão por empatia já
traz, no processo terapêutico, uma sensação de ajuda, claro que essa ajuda é maior
quando se capta e se formula o sentido daquilo que ele experimentou.
7- Poderei aceitar todas as facetas que a pessoa me mostrar? Poderei
comunicá-las essa atitude? Segundo o autor, quando uma atitude é condicional, o
paciente não pode desenvolver-se nesses aspectos. O autor também traz que não
conseguia lidar com essas facetas, e provavelmente não consegui por causa de seu
medo, então para que essa aceitação pudesse ocorrer, era necessário que o
terapeuta perdesse esse medo.
8 – Serei capaz de agir com suficiente delicadeza na relação para que o meu
comportamento não seja captado como uma ameaça? Nessa questão, é importante
cuidar para que o cliente não se sinta ameaçado, pois quando o terapeuta consegue
livrá-lo das ameaças externas ele pode se concentrar mais nas questões internas.
9- Poderei libertá-lo do receio de ser julgado pelo outro? Quanto menos valor
de juízo for feito, tanto positivo quanto negativo, isso acabará abrindo ao cliente uma
própria forma de avaliar seu próprio juízo.
10- Serei capaz de ver esse individuo como uma pessoa em processo de
transformação, ou estarei prisioneiro do meu passado e do seu passado? Pois caso
não consigamos ver esse processo de transformação, acabaremos sempre vendo
aquela pessoa que era inicialmente, se prendendo a esse passado, tornando a
personalidade do cliente cristalizada. E se é aceito esse processo de transformação,
pode confirmar-se e tornar-se real as suas potencialidades.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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