Mude de Cérebro, Mude de Corpo DANIEL G. AMEN Mude de Cérebro, Mude de Corpo Como usar o seu cérebro para estar sempre saudável e em forma Tradução de: Susana Serrão Pergaminho Capítulo 1 A SOLUÇÃO CÉREBRO-CORPO Dez princípios básicos para mudar de cérebro e de corpo Ganhar inveja do cérebro. Amar o cérebro é o primeiro passo para conseguir o corpo que sempre quis. Ao longo dos anos, fiz dez exames SPECT para garantir a saúde do meu próprio cérebro. Em retrospetiva, o meu primeiro exame, realizado aos trinta e sete anos, mostrava um aspecto tóxico e irregular que não equivalia em nada a uma boa função cerebral. Inicialmente, não compreendi porquê. Toda a vida fui uma pessoa que raramente bebe álcool; nunca fumei, nunca consumi drogas ilegais. Porque é que o meu cérebro tinha tão mau aspecto? Antes de compreender a saúde cerebral, eu tinha imensos maus hábitos cerebrais. Subsistia praticamente com comida rápida e refrigerantes light, trabalhava como um louco, raramente dormia mais de quatro ou cinco horas por noite e não fazia lá muito exercício. Pesava mais cinco quilos do que queria, já me debatia com artrites e custava-me a levantar do chão quando brincava com os meus filhos. Aos trinta e sete anos, pensava simplesmente que estava a ficar velho. O meu exame mais recente, aos cinquenta e dois anos, está muito mais saudável e jovem do que o primeiro, embora normalmente os cérebros diminuam de atividade com o tempo. Porquê? Ao ver os exames de outras pessoas, ganhei “inveja do cérebro” e quis que o meu ficasse melhor. Conforme fui aprendendo mais sobre saúde cerebral, pus em prática o que ensino e o que recomendo aos doentes há tantos anos. Com isso ganhei um cérebro com melhor aspecto, mas também me sinto mais enérgico, pareço mais sadio, perdi peso, Mude de Cérebro, Mude de Corpo | 23 tenho melhor tonificação corporal, a artrite foi-se, a pele ficou mais macia e lisa. Neste capítulo, o leitor encontra dez princípios básicos que explicam porque é essencial amar e alimentar o cérebro de modo a ter o melhor corpo possível. São os mesmos princípios subjacentes ao nosso trabalho nas Amen Clinics, onde temos ajudado milhares de pessoas a amarem o cérebro para melhorarem o seu corpo. IMAGEM 1.1 O cérebro do Dr. A aos 37 anos IMAGEM 1.2 O cérebro do Dr. A aos 52 anos Aparência tóxica e irregular. Aparência mais saudável no geral. DEZ PRINCÍPIOS PARA MUDAR DE CÉREBRO E DE CORPO 1. O cérebro está envolvido em tudo o que fazemos. 2. Quando o cérebro trabalha bem, sentimo-nos melhor no nosso corpo. Quando o cérebro está perturbado, o corpo perturba-nos. 3. O cérebro é o órgão mais complexo do Universo. Devemos respeitá-lo. 4. O cérebro é muito mole e está encerrado num crânio muito duro. Devemos protegê-lo. 5. O cérebro não tem reservas ilimitadas. Quanto mais reservas temos, mais saudáveis somos. Menos reservas significa mais vulnerabilidade. 6. Certas partes do cérebro são responsáveis por certos comportamentos. Os problemas em partes específicas do cérebro resultam em determinados problemas de comportamento. Compreender o cérebro pode ajudar a otimizá-lo. 24 | Daniel G. Amen 7. São muitas as coisas que prejudicam o cérebro e que dificultam chegar ao corpo que sempre quisemos. São muitas as coisas que ajudam o cérebro e que facilitam chegar a um corpo do nosso agrado. 8. A imagiologia cerebral abre uma janela para sarar o cérebro e conseguir um corpo melhor. 9. Não há uma receita única que sirva para toda a gente – somos todos únicos, e temos de compreender como funciona o nosso próprio cérebro. 10. Sim, é possível mudar de cérebro e mudar de corpo! PRINCÍPIO N.º 1 O cérebro está envolvido em tudo o que fazemos. O cérebro controla tudo o que fazemos, sentimos e pensamos. Quando nos vemos ao espelho, podemos agradecer ao cérebro pelo que lá está. Em derradeira instância, é o cérebro a determinar se a barriga pende sobre o cinto ou se a cintura está fina e tonificada. O cérebro desempenha o papel central na frescura e macieza da pele ou nas rugas que se vão acumulando. Se acordamos enérgicos ou pesados depende do cérebro. Quando vamos à cozinha fazer o pequeno-almoço, é o cérebro que determina se pegamos nos restos de piza ou em iogurte magro e fruta. O cérebro controla se vamos ao ginásio ou nos sentamos ao computador a navegar no Facebook. Se sentimos necessidade de acender um cigarro ou beber dois cafés seguidos, também é obra do cérebro. O funcionamento momento a momento do cérebro é responsável pela maneira de pensar, sentir, comer, fazer exercício, até pela maneira de fazer amor. O impacto do cérebro no corpo vai ainda mais fundo. Está no âmago da saúde e do bem-estar. Quer seja ter uma vida longa e com saúde, ou sofrer de uma doença debilitante, ou acabar os dias com uma doença grave, o cérebro está no centro de tudo. Aliás, os investigadores da Universidade de Cambridge, Inglaterra, apuraram que pessoas que tomaram decisões péssimas (a nível cerebral) perderam catorze anos de vida. Pessoas que bebem muito, fumam, não fazem exercício, têm uma alimentação má aos sessenta anos correm o mesmo risco de morrer que alguém com uma Mude de Cérebro, Mude de Corpo | 25 vida salutar aos setenta e quatro. As decisões tomadas pelo cérebro podem roubar ou acrescentar muitos anos de vida! MEDIDA A TOMAR Lembrar-se de que o cérebro está envolvido em tudo o que faz: cada decisão que toma, cada comida ingerida, cada cigarro fumado, cada ralação, cada bebida alcoólica, cada exercício que não faz, e muito mais. PRINCÍPIO N.º 2 Quando o cérebro trabalha bem, sentimo-nos melhor no nosso corpo. Quando o cérebro está perturbado, o corpo perturba-nos. Um cérebro saudável facilita muitíssimo termos o melhor corpo possível. Quando o cérebro trabalha a níveis ótimos, é mais provável cumprirmos a dieta, seguirmos uma rotina de exercício, adotarmos comportamentos sadios. Isto traduz-se num corpo mais esbelto e em forma, uma aparência mais jovem, pele mais luminosa, maior imunidade, menos dores de cabeça, menos dores nas costas, melhor saúde. Por outro lado, um cérebro perturbado costuma levar a perturbações corporais. Isso mesmo: quilos a mais, rugas, dores crónicas, problemas de saúde, tudo se pode ligar à maneira como o cérebro funciona. Fazer más escolhas alimentares, descartar o ginásio, dedicar-se a comportamentos insalubres é algo mais comum quando o cérebro não trabalha no seu melhor. Jack, de cinquenta e dois anos, engenheiro divorciado, tem 1,77 m de altura e pesa 120 quilos. Tenta fazer dieta, mas não consegue cumpri-la. Todas as manhãs ele acorda com intenções de comer alimentos saudáveis nesse dia, mas nunca chega a planificar as refeições nem a abastecer o frigorífico. Quando chega a hora de almoço, está esfomeado e para no primeiro restaurante de comida rápida que lhe aparecer, onde a sua refeição é muitas vezes hambúrguer com queijo e batatas fritas. Quando chega a casa do trabalho, olha para o frigorífico vazio e liga para a pizaria mais próxima a pedir uma entrega. Com três filhos pequenos, um emprego exigente e um casamento pouco feliz, Megan parece mais velha do que os quarenta e três anos 26 | Daniel G. Amen que tem. Gostaria muito de voltar a um visual mais jovem, mas os cremes comprados na perfumaria não fazem o trabalho sozinhos. Raramente dorme mais do que umas horas e, sempre que está deprimida, stressada, zangada ou triste, refugia-se num cigarro e num copo de vinho – ou dois ou três copos de vinho, talvez até a garrafa inteira. Fumar e beber acalmam-lhe os nervos e fazem-na sentir-se melhor – temporariamente. Sarah, aos vinte e oito anos, gostaria de ter um corpo melhor. Embora não tenha excesso de peso, quer tonificação e firmeza nos 61 quilos do seu metro e setenta. Sabe que fazer exercício a poderia ajudar nesse objetivo, mas não consegue arranjar energia ou motivação para frequentar um ginásio. Sofre há muito de perturbações de ansiedade e está sempre a pensar no que lhe irá correr mal na vida. Há anos que Jack, Megan e Sarah atribuem os seus problemas a simples falta de força de vontade ou a muita preguiça, mas não é necessariamente o caso. A incapacidade de conseguirem o corpo que querem está no cérebro. A falta de planificação e seguimento de Jack é um sinal comum de fraca atividade na área do cérebro a que se chama córtex pré-frontal (CPF). Esta é a parte implicada na planificação, no estabelecimento de objetivos, na previsão, no controlo de impulsos, no seguimento das decisões. Quando esta área não funciona ao nível devido, dificulta muitíssimo qualquer triunfo. MEDIDA A TOMAR Se lhe custar seguir uma dieta ou um plano de exercício, se tiver dores crónicas e baixos níveis de energia, se sofrer de alguma afeção, melhorar a saúde do cérebro só vai ajudar. Fumar ou beber para acalmar emoções impede Megan de conseguir o visual jovem que pretende e pode ser sinal de atividade excessiva no sistema límbico profundo do cérebro. Esta parte do cérebro está implicada na definição do estado emocional. Quando está menos ativa, o estado de espírito geralmente é positivo e esperançoso. Quando está hiperativa, a negatividade e sentimentos de depressão ou tristeza podem dominar, fazendo-nos buscar consolo na nicotina, no álcool e em drogas. Mude de Cérebro, Mude de Corpo | 27 A energia de Sarah esgota-se na ansiedade e na preocupação, o que pode indicar problemas numa área do cérebro chamada gânglios basais. Situados perto da dianteira do cérebro, os gânglios basais estão implicados na integração de sentimentos, pensamentos e motivação. Quando há muita atividade nesta área, isso pode originar problemas de ansiedade e roubar energia e genica às pessoas. Jack, Megan e Sarah mostram-nos que o cérebro influencia fortemente o comportamento e o corpo. É ele que nos ajuda a ter um corpo mais saudável ou que o dificulta. PRINCÍPIO N.º 3 O cérebro é o órgão mais complexo do Universo. Devemos respeitá-lo. O cérebro é o órgão mais complexo, espantoso, especial em todo o Universo. Pesa pouco mais de um quilo, mas é mais potente que o melhor supercomputador jamais inventado. Embora represente apenas 2 por cento do peso corporal da pessoa, o cérebro usa cerca de 25 por cento das calorias consumidas, 25 por cento do fluxo sanguíneo total e 20 por cento do oxigénio inalado. As calorias, o fluxo sanguíneo e o oxigénio alimentam as células dentro do cérebro. Estima-se que o cérebro contém mais de cem mil milhões de células nervosas, praticamente o número de estrelas na Via Láctea. Cada célula nervosa está ligada a outras células nervosas por milhares de ligações individuais entre células. Com efeito, estima-se que haja mais ligações no cérebro do que estrelas no Universo! Se pegarmos num pedaço de tecido cerebral do tamanho de um grão de areia, este contém cem mil células nervosas e um milhar de milhões de ligações – todas a “conversarem” entre si. As informações no cérebro viajam a velocidades de 431 quilómetros por hora, mais depressa do que carros de corrida, a menos que o cérebro esteja embriagado – aí as coisas abrandam mesmo. Quando fazemos exames de corpo inteiro, o cérebro está iluminado como um pequeno aquecedor, ao passo que o resto do corpo parece fantasmagórico. É o órgão da personalidade, do carácter, da inteligência e está fortemente envolvido na criação do eu. 28 | Daniel G. Amen PRINCÍPIO N.º 4 O cérebro é muito mole e está encerrado num crânio muito duro. Devemos protegê-lo. A maior parte das pessoas pensa que o cérebro é firme e com textura de borracha. Na realidade, o cérebro é bastante mole. Composto por cerca de 80 por cento de água, a sua consistência é comparável à da manteiga amolecida, da massa para bolos ou do queijo tofu – algures entre claras de ovo cruas e gelatina. Para proteger o cérebro mole, o invólucro é um crânio muito duro cheio de líquido. Dentro do crânio, várias arestas e nervuras ossudas, algumas destas afiadas como facas e que, em caso de traumatismo ou lesão craniana, podem danificar o cérebro. O cérebro não foi feito para dar cabeçadas em bolas de futebol, para fazer placagens, jogar boxe, participar em campeonatos de luta livre. Os traumatismos cerebrais são muito mais comuns do que se pensa. A cada ano acontecem mais de dois milhões de novas lesões cerebrais e milhões de outras que ficam por diagnosticar. As lesões cerebrais danificam o cérebro, claro, mas também podem causar estragos no corpo. Se o leitor pensa que lesão cerebral está intimamente ligado a situações como, por exemplo, sair projetado pelo para-brisas de um carro ou cair do telhado e aterrar de cabeça, está equivocado. Não é preciso que a lesão seja “grave” para ter sérias consequências no corpo e na saúde. Depois de ver mais de 55 mil exames ao cérebro, ficou claríssimo para mim que aquilo que muita gente considera traumatismo ligeiro pode ter um impacto significativamente negativo no cérebro da pessoa e pode mudar-lhe significativamente a vida e a capacidade de parecer e se sentir no seu melhor. É frequente que estas lesões passem despercebidas, em parte porque os profissionais de saúde mental nunca examinam a função cerebral. MEDIDA A TOMAR Para manter cérebro e corpo na melhor forma, proteja o cérebro de lesões. Não dê cabeçadas, não pratique ciclismo, esqui ou snowboard sem capacete adequado e bem adaptado. Os estudos mostram que as pessoas com lesões cerebrais, mesmo ligeiras, costumam sofrer de problemas emocionais, comportamentais ou cognitivos. Quando se tem dificuldade a pensar ou a racioMude de Cérebro, Mude de Corpo | 29 cinar, não se consegue tomar as melhores decisões para o corpo. As lesões cerebrais também estão associadas a maior incidência de alcoolismo e consumo de droga – ambos conducentes a envelhecimento prematuro, possíveis problemas de peso, condições de saúde potencialmente devastadoras e incapacidade de manter uma casa. Proteja o seu cérebro, leitor. PRINCÍPIO N.º 5 O cérebro não tem reservas ilimitadas. Quanto mais reservas temos, mais saudáveis somos. Menos reservas significam mais vulnerabilidade. O leitor pense na família, nos amigos, nos colegas de trabalho. Quando há uma crise, alguns deles vão-se abaixo por completo – agarram-se aos doces, ao maço de tabaco, procuram consolo na droga e no álcool – enquanto outros conseguem avançar com a vida de modo salutar. Já se perguntou porquê? Eu já. No meu trabalho, tenho reparado que os acontecimentos desgastantes como, por exemplo, a perda de um ente querido, ser despedido do emprego, o divórcio, podem levar a depressão, alterações de peso, falta de motivação para fazer exercício e maus hábitos diários nalgumas pessoas mas não noutras. Depois de analisar exames ao cérebro nestes quase vinte anos, acabei por acreditar que estas diferenças se devem a um conceito a que chamei reserva cerebral. A reserva cerebral é a almofada da função cerebral saudável que temos para lidar com acontecimentos ou lesões desgastantes. Quanto mais reserva temos, melhor sabemos lidar com o inesperado. Quanto menos temos, mais nos custa lidar com tempos difíceis e lesões, mais provável é comer uma embalagem de bolachas ou beber álcool enquanto mecanismo funcional. Mary e Katie são gémeas idênticas. Partilham os mesmos genes, os mesmos pais, a mesma criação. Contudo, as suas vidas – e a aparência que têm – diferem e muito. Mary, em excelente forma, é uma jornalista de sucesso e bem casada há muito tempo, já com três netos. Katie, com excesso de peso, fez o ensino secundário com dificuldade, tem sofrido de depressões e mau génio, e passa a vida a saltar de emprego em emprego e de relacionamento em relacionamento. A vida e o aspecto físico e mental das gémeas em nada se parecem. Quando as examinei, Mary tinha um cérebro bastante saudável (Imagem 1.3), ao passo que Katie dava mostras de lesão cerebral, no 30 | Daniel G. Amen córtex pré-frontal e nos lobos temporais (Imagem 1.4). Ao princípio, quando falei com as gémeas juntas, a Katie não se lembrava do traumatismo craniano. Depois a Mary disse, “Não te lembras quando tínhamos dez anos e caíste de cabeça do beliche abaixo? Desmaiaste e levamos-te para as urgências”. Esta lesão provavelmente fez com que Katie perdesse reserva cerebral, e poderá ser a causa da maior vulnerabilidade ao stresse, em comparação com a irmã. IMAGEM 1.3 IMAGEM 1.4 Exame SPECT de Mary: saudável Exame SPECT de Katie: lesões Na conceção, a maior parte de nós tem a mesma quantidade de reserva cerebral. A partir desse ponto, são muitas as coisas que podem complementar ou reduzir o nível da reserva. Por exemplo, se a mãe tiver fumado marijuana e bebido muito uísque na gravidez, é provável que tenha diminuído a reserva cerebral do bebé. Se o leitor tiver caído do telhado em adolescente, sido vítima de violência doméstica na infância, consumido álcool ou droga na escola secundária, terá diminuído a sua própria reserva. Em suma, qualquer comportamento que prejudique o cérebro vai erodir a reserva cerebral. Por outro lado, se a mãe tiver seguido uma alimentação saudável, tomado um suplemento multivitamínico diário e feito meditação todos os dias, provavelmente terá reforçado a reserva do bebé. E esta reserva aumentará se a criança for criada com afeto, exposta a uma ampla variedade de aprendizagens e mantida longe de substâncias tóxicas. Quando dispomos de ampla reserva cerebral, ganhamos resiliência e funcionalidade a lidar com as peripécias da vida sem nos virarmos para as guloseimas, as bebidas alcoólicas e as drogas. Mude de Cérebro, Mude de Corpo | 31 PRINCÍPIO N.º 6 Certas partes do cérebro são responsáveis por certos comportamentos. Os problemas em partes específicas do cérebro resultam em determinados problemas de comportamento. Compreender o cérebro pode ajudar a otimizá-lo. Segue-se um breve curso intensivo nos sistemas do cérebro que desempenham um papel preponderante na nossa capacidade de ter o corpo que desejamos. Todos estes sistemas podem influenciar o nosso comportamento e ajudar ou prejudicar a nossa capacidade de ter o melhor corpo possível. MEDIDA A TOMAR Melhorar a reserva mantendo uma vida saudável para o cérebro. Córtex pré-frontal (CPF) – Pensemos no CPF como diretor-geral do cérebro. Situado no terço frontal do cérebro, faz de supervisor do resto deste órgão e do corpo. Incidências: atenção, discernimento, planificação, controlo de impulsos, seguimento, empatia. Pouca atividade no CPF traduz-se em desatenção, impulsividade, falta de objetivos definidos, adiamento constante. O álcool reduz a atividade no CPF, e por isso é que as pessoas fazem coisas parvas quando estão embriagadas. Vista externa do cérebro Lobo parietal Parietal lobe Córtex Prefrontal cortex pré -frontal Lobo temporal Temporal lobe 32 | Daniel G. Amen Lobo Occipital occipital lobe Cerebellum Cerebelo Vista interna do cérebro Lobo parietal Parietal lobe Lobo Occipital lobe occipital Córtex Prefrontal pré-frontal cortex Sistema límbico Deep limbic system profundo Circunvolução Anterior cingulate cingulada anterior gyrus Gânglios basais Basal ganglia Circunvolução cingulada anterior (CCA) – Gosto de chamar a esta parte a caixa de velocidades do cérebro. Atravessa os lobos frontais e permite-nos desviar a atenção, ser flexíveis e adaptáveis e mudar quando necessário. Quando há muita atividade nesta área, as pessoas ficam presas a pensamentos ou atos negativos; tendem a ralar-se, a guardar rancor, a serem “do contra” ou dadas a discussões. Também as pode tornar vulneráveis a obsessões ou a debaterem-se com comportamentos compulsivos, e tem estado associada a distúrbios do foro alimentar como, por exemplo, a anorexia. Sistema límbico profundo (SLP) – Perto do centro do cérebro, o sistema límbico profundo está envolvido na definição do tom emocional da pessoa. Quando esta área está pouco ativa, as pessoas tendem a ser mais positivas e esperançosas. Quando está hiperativa, a negatividade pode predominar e baixar a motivação e o ímpeto, diminuir a autoestima, intensificar sentimentos de culpa e impotência. As anomalias no cérebro límbico têm sido associadas a distúrbios do humor. Gânglios basais – Rodeiam o sistema límbico profundo e incidem na integração de pensamentos, sentimentos e movimentos. Esta parte do cérebro também influi na definição do nível de ansiedade. Quando apresenta muita atividade, as pessoas tendem a sofrer de ansiedade e sintomas de desgaste físico como, por exemplo, dores de cabeça, dores de estômago, tensão muscular. Com pouca atividade aqui, falta a motivação. Esta área também incide nos sentimentos de prazer e êxtase. A cocaína atinge de imediato esta parte do cérebro. Bolachas, bolos e outras guloseimas também ativam esta área, segundo uma Mude de Cérebro, Mude de Corpo | 33 obra nova e fascinante intitulada The End of Overeating, do Dr. David Kessler, anterior comissário da Food and Drug Administration, a agência federal de controlo dos produtos alimentares e farmacêuticos dos Estados Unidos. Lobos temporais – Estes lobos, situados por baixo das têmporas e atrás dos olhos, incidem na linguagem, na memória de curto prazo, na estabilidade do humor, nos problemas de temperamento. Fazem parte da “via o quê” do cérebro, pois ajudam a reconhecer e dar nome às coisas. Problemas nos lobos parietais traduzem-se em dificuldades de memória, instabilidade de humor e temperamento. Lobos parietais – Estes lobos situam-se na parte traseira do cérebro e incidem no processamento sensorial e no sentido de orientação. A “via onde” do cérebro ajuda a saber o lugar das coisas no espaço como, por exemplo, o caminho para a cozinha de noite no escuro. Os lobos parietais são uma das primeiras áreas afetadas pela doença de Alzheimer, e por isso é que quem sofre dela tende a desorientar-se e a perder-se. Também têm sido associados a distúrbios alimentares e síndromes de distorção corporal como, por exemplo, a anorexia (em que a pessoa, ainda que magra, se acha sempre gorda). Lobos occipitais – Situados na parte traseira do cérebro, estão envolvidos na visão e no processamento visual. Cerebelo (CB) – Situado na parte traseira inferior do cérebro, o cerebelo está envolvido na coordenação motora, na coordenação de pensamento e na velocidade de processamento. Há grandes ligações entre o CPF e o cerebelo, e por isso muitos cientistas pensam que o cerebelo também está associado ao discernimento e controlo de impulsos. Quando há problemas no cerebelo, as pessoas sofrem de falta de coordenação física, processamento lento, dificuldades de aprendizagem. O álcool é diretamente tóxico nesta parte do cérebro. Trabalhar o cerebelo com exercícios de coordenação pode melhorar o córtex pré-frontal e também estimular o discernimento e certas funções corporais. 34 | Daniel G. Amen