MALÁSIA CONFISSÕES RELIGIOSAS 1 Budistas (17,7%) Cristãos (9,4%) - Católicos (4,8%) - Protestantes (4,5%) - Outros Cristãos (0,1%) Hindus (6%) Muçulmanos (63,7%) Outras Religiões (0,5%) Religiões Tradicionais (2,3%) Sem Religião (0,4%) 2 Refugiados (internos)*: 97.513 * Refugiados estrangeiros a viver neste país. População : 29.716.965 Superfície: 2 330.803 km Refugiados Deslocados: (externos)**: 505 ** Cidadãos deste país a viver no estrangeiro. Antecendentes e situação legal A Malásia é um país multicultural e multiconfessional com mais de 29,7 milhões de habitantes, a maior parte dos quais professa o Islamismo, que é também reconhecido como religião do Estado. O Governo promove a propagação do Islamismo sunita. Qualquer ensinamento que se desvie da doutrina sunita oficial é ilegal, não sendo autorizadas outras formas de Islamismo. Embora a Constituição garanta teoricamente a liberdade religiosa, o Islamismo permanece como religião oficial da federação, bem como oficialmente a fé de todos os cidadãos de origem étnica malaia. Por lei, os cidadãos de origem malaia não são autorizados a renunciar ao Islão. Os muçulmanos que vivem no país que não sejam da etnia malaia são obrigados a solicitar autorização formal dos tribunais da sharia para se converterem a uma religião diferente. É extremamente raro que esta autorização seja concedida a alguém. Em todas estas questões, o Governo financia líderes e instituições islâmicos e mantém-se vigilante para garantir a estrita observância do Islamismo sunita. O Governo proíbe qualquer publicação que possa encorajar as divisões ou a discórdia entre as diferentes etnias e religiões, e frequentemente apelou a que as questões de natureza religiosa confessional não fossem discutidas em público, tendo em conta a natureza extremamente delicada dessas questões. Ao mesmo tempo, os partidos no Governo e na oposição procuraram, inclusive nas eleições 1 2 www.globalreligiousfutures.org/countries/malaysia http://data.un.org/CountryProfile.aspx?crname=Malaysia políticas mais recentes de Maio de 2013, ganhar a aprovação da franja islâmica e esforçaramse por usar as mesquitas como cenário ideal para os seus encontros públicos e discursos políticos. A liberdade religiosa está teoricamente consagrada na Constituição no Artigo 11, que afirma: «Cada pessoa tem o direito a professar e praticar a sua religião», embora ao mesmo tempo conceda ao Estado e ao Governo federal o poder de «controlar ou restringir a propagação de qualquer doutrina religiosa ou crença entre pessoas que professem a religião do Islão». Além disso, no Artigo 3, afirma que «o Islamismo é a religião da federação» e acrescenta que o Parlamento pode, por lei, criar disposições para regulamentar os assuntos religiosos islâmicos. Finalmente, o Artigo 160 define um «malaio» como «uma pessoa que professa a religião do Islão...». Assim, embora garantida em teoria – apesar de certas limitações –, a liberdade religiosa está de facto sujeita a graves restrições. Isto inclui a liberdade individual de escolher a própria fé em vez de esta lhe ser imposta por leis e tradições. Em geral, no entanto, as relações entre as diferentes religiões são marcadas pela tolerância e o Estado também reconhece algumas celebrações entre os feriados nacionais não incluídas no calendário islâmico, como por exemplo o Natal. A religião, a política, a etnicidade e a sociedade estão profundamente entrelaçadas, e há protecções e salvaguardas até mesmo para as minorias religiosas, embora isso implique um custo para o poder e influência mínimos na vida pública da nação. Tudo isto é feito em nome da estabilidade política, que é vista como o bem supremo a ser defendido e a servir de aspiração – inclusivamente ao ponto de os valores garantidos pela Constituição, como por exemplo a liberdade de expressão, estarem na prática sujeitos a restrições poderosas. Enquanto muitos departamentos governamentais continuam a defender uma forma inclusiva e tolerante do Islamismo, a liberdade religiosa é cada vez mais limitada na prática. Os grupos religiosos não-islâmicos estão proibidos de fazer proselitismo junto dos Muçulmanos. Esta discriminação também atingiu a comunidade muçulmana de minoria xiita, que foi alvo dos meios de comunicação malaios (muitos dos quais são total ou parcialmente propriedade do Governo) em 2012 e atacada como sendo «infiel», fonte de «ensinamentos desviantes» e acusada de ser uma «ameaça séria». Tem havido relatos detalhados de abusos e discriminação contra quem quer que expresse as suas crenças pessoais, incluindo as que dizem respeito ao culto religioso. O Governo deteve e condenou os que se desviaram da doutrina sunita oficial, enviando-os para centros de ‘reabilitação’ onde são sujeitos a lições intensivas sobre o Islamismo. Noutros casos, aprisiona os que considera terem blasfemado ou os que expressaram críticas à doutrina oficial. Desenvolvimentos recentes Em Dezembro de 2012, o Governo de Kuala Lumpur retirou as restrições aos cristãos que viajam para a Terra Santa – que tinham caído sob uma restrição global às viagens a Israel imposta pelo Governo. Esta decisão chegou no final de um longo período de disputa sobre esta questão entre o Governo e as minorias religiosas. De acordo com a Federação Cristã Malaia, até então tinha havido uma quota de 700 vistos e cada Igreja tinha autorização para organizar apenas um único grupo, com o máximo de quarenta pessoas. Numa carta de 28 de Novembro de 2012, o Governo do primeiro-ministro Najib Razak afirmou que as restrições já não seriam aplicadas, embora haja um limite de vinte e um dias à duração autorizada da estada. Em Janeiro de 2013, a Rádio Vaticano 3 relatou que o grupo islâmico Malaysian Islamic Development Department (Jakim) tinha ameaçado «queimar Bíblias». Isto veio em resposta a uma indignação pelo facto de os textos sagrados e o semanário católico The Herald terem usado a palavra ‘Alá’ para descrever Deus. O Jakim considera ‘Alá’ com um termo que apenas pode ser usado no âmbito do Islão. Foram distribuídos planfletos anónimos após Ibrahim Ali, o líder do grupo Perkasa – que luta pela supremacia do grupo étnico malaio – ter apelado aos seus membros para que queimassem quaisquer versões da Bíblia em língua malaia. Ibrahim Ali tinha feito a sua proposta após ouvir rumores alegando que os Cristãos tinham estado a violar leis estatais ao distribuírem Bíblias em malaio a estudantes muçulmanos em Jelutong. Em Julho de 2013, durante o mês sagrado do Ramadão, emergiram novos sinais de intolerância e discriminação em relação às minorias religiosas. De acordo com a AsiaNews, 4 as crianças não-muçulmanas de uma escola primária foram forçadas a comer nos vestiários e no edifício das casas de banho enquanto os seus colegas muçulmanos faziam o jejum do Ramadão. A escola em questão, Seri Pristana, situa-se nos arredores de Kuala Lumpur. O artigo também cita o caso de um casal chinês na Malásia que foi acusado de sedição por ter colocado online uma saudação de Ramadão na qual estavam aparentemente a comer porco, que é proibido pelo Islamismo. O jovem poeta e escritor saudita Hamza Kashghari caiu em desgraça perante as autoridades pelos seus textos, que foram considerados sacrílegos, e ele próprio foi considerado culpado de apostasia. Tal como relatado no Wall Street Journal, 5 foi detido pelas autoridades em Kuala Lumpur e em Fevereiro de 2012 foi extraditado para Jeddah, onde foi acusado de blasfémia. A organização Advogados pela Liberdade alegou que as autoridades malaias tinham violado a lei internacional ao não permitir que Kashgari tentasse obter asilo político. Este passou vinte meses na prisão e foi finalmente libertado no final de Outubro de 2013. Controvérsia em relação ao uso da palavra ‘Alá’ A questão que trouxe o assunto da liberdade religiosa para o centro na Malásia foi a controvérsia em relação ao uso do nome ‘Alá’ para descrever o Deus cristão, tanto nos meios de comunicação social como nos textos religiosos. Esta história tinha rebentado pela primeira vez em 2008. Em meados de Outubro de 2013, o tribunal de recurso decidiu que os nãomuçulmanos não podem usar a palavra ‘Alá’ para se referirem a Deus, anulando assim a decisão de um tribunal anterior tomada a 31 de Dezembro de 2009 que tinha decidido a favor dos Cristãos. A primeira decisão tinha desencadeado controvérsia e foi seguida de ataques a igrejas e outros edifícios religiosos por parte de extremistas. Os juízes do tribunal de recurso alegaram que «o uso da palavra vai causar confusão na comunidade». Em resposta, o Padre Lawrence Andrew, editor do The Herald, jornal no centro da controvérsia, disse que estava «desiludido e consternado» com a decisão e que apelava agora ao tribunal federal para que procurasse corrigir a situação. «É um passo atrás no desenvolvimento de legislação em relação à liberdade religiosa fundamental das minorias religiosas», declarou, acrescentando que na Indonésia e no Médio Oriente a palavra ‘Alá’ é usada simultaneamente por cristãos e muçulmanos. Apelou aos Cristãos «para que continuem a rezar pela justiça». Insistiu que a Igreja não irá ceder a um julgamento injusto, mas avançará com o recurso. 6 3 Rádio Vaticano, 28/01/2013 AsiaNews.it, 24/07/2013 5 Wall Street Journal, 29/10/2013 6 AsiaNews.it, 14/10/2013 4 No dia a seguir ao julgamento, tal como relatado pela agência Fides, 7 o Governo interveio para explicar que a proibição de uso da palavra ‘Alá’ se aplicava apenas ao semanário católico The Herald e não a qualquer outra publicação cristã ou à Bíblia em língua malaia, conhecida como ‘Al-kitab’ e usada em larga medida nos estados de Sabah e Sarawak. Independentemente disso, nos dias imediatamente a seguir ao veredicto viram-se as primeiras implicações práticas. Apesar da garantia do Governo de que a decisão se aplicava apenas ao jornal The Herald, a 25 de Outubro de 2013 funcionários do Ministério do Interior apreenderam 2.000 cópias da newsletter da Arquidiocese Católica de Kuala Lumpur. Representantes do ministério justificaram a confiscação precisamente com base no veredicto dos juízes, dizendo que era necessário verificar se a publicação estava «em conformidade» com as decisões do magistrado e se «não havia uso ilegítimo da palavra ‘Alá’». Numa nota oficial, emitida na sua própria página do Facebook, o Ministério do Interior malaio confirmou a apreensão como medida de precaução, sublinhando que «após inspecção tinha sido descoberto que não havia uso ilegítimo… na publicação» e que, por isso, tinha sido dada ‘luz verde’ para a posterior distribuição. Em Novembro de 2013, a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas também condenou a decisão do tribunal e incitou o Ministério do Interior malaio a tomar «medidas imediatas» para revogar a decisão e garantir a liberdade de opinião e de expressão no The Herald. Conclusão: a liberdade religiosa continuou a deteriorar-se. Em relação à controvérsia em torno da palavra ‘Alá’, a comunidade católica sofreu ataques graves, tanto por parte do Governo como por parte de grupos islâmicos extremistas. O Islamismo mantém-se como religião oficial do país e os muçulmanos de origem malaia não estão autorizados a converterse a outras religiões. Na prática, há limitações, restrições e outras condições injustas impostas às minorias religiosas. 7 Fides, 18/10/2013