Aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos de um surto de encefalomielite aviária em Pernambuco Rocha, P. M. C., Barros, M. E. G., Rocha, B. P., Oliveira, J. S.; Evêncio Neto, J., Mendonça, F. S. Autor Correspondente: [email protected] (Mendonça, F. S.). Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife-PE, CEP 52171-900, PALAVRAS CHAVES: picornavirus, aves, encefalomielite não supurativa. INTRODUÇÃO: A encefalomielite aviária é uma doença infecciosa causada por um RNA-vírus, gênero Enterovírus da família Picornaviridae que apresenta predileção pelo sistema nervoso central de aves [6,7]. A doença foi descrita pela primeira vez nos Estados Unidos em 1932 [4], sendo posteriormente descrita na Europa, Canadá, Japão e Austrália [6]. No Brasil, a doença foi descrita em 1964, em aves provenientes do estado de São Paulo [2] e posteriormente no Rio de Janeiro e Espírito Santo em 1972 [5]. A infecção pelo vírus da encefalomielite aviária (AEV) ocorre principalmente pela via oro fecal e devido à grande estabilidade do vírus no ambiente, as áreas contaminadas permanecem infecciosas por longos períodos [6]. São afetadas principalmente aves jovens, em sua maioria pintos de duas semanas de idade [7]. Os sinais clínicos consistem principalmente em depressão, ataxia, tremores de cabeça e opacidade do cristalino. Microscopicamente, a principal lesão consiste em encefalomielite não supurativa [6,7]. Este trabalho tem o objetivo de relatar os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos de um surto de encefalomielite aviária no Estado de Pernambuco. MATERIAIS E MÉTODOS: O surto ocorreu em dezembro de 2013, em uma granja localizada na mesorregião do agreste de Pernambuco. Cinco poedeiras comerciais foram avaliadas clinicamente e necropsiadas pela equipe do Laboratório de Diagnóstico Animal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (LDA/UFRPE). Em seguida, amostras de tecidos do sistema nervoso central, órgãos das cavidades torácica, abdominal e nervo ciático foram enviados ao LDA/UFRPE diagnóstico. As amostras foram fixadas em solução de formalina a 10% e os fragmentos foram processados de acordo com os métodos de rotina, corados pela hematoxina-eosina e avaliados histopatologicamente. RESULTADOS: A doença ocorreu em um lote composto por cerca de 10.000 aves, com 20 semanas de idade e em início de postura. Segundo informações obtidas com o médico veterinário da granja, cerca de 5% das aves desse lote apresentaram sinais clínicos que evoluíram para morte espontânea. Os principais sinais clínicos consistiram em depressão, ataxia, opacidade da córnea e cristalino, tremores de cabeça, desvio lateral da cabeça e incordenação motora com quedas para as laterais. Esses mesmos sinais clínicos foram observados nas cinco aves examinadas pela equipe do LDA. Nessas aves a ataxia variou desde uma leve incoordenação até decúbito lateral. À necropsia, a única alteração observada foi a opacidade acinzentada da córnea e cristalino. Microscopicamente, no sistema nervoso central, as lesões consistiram em congestão dos vasos sanguíneos do córtex cerebral e leptomeningeos. No córtex cerebral, havia ainda manguitos perivasculares e áreas focais de gliose (microgliose nodular). No cerebelo, havia cromatólise central dos neurônios de Purkinje e áreas discretas de gliose na camada molecular. Na medula espinhal, neurônios com cromatólise central também foram observados. Outras lesões, caracterizadas principalmente por hiperplasia do tecido linfoide do proventrículo e do tecido linfoide associado à mucosa do cólon foram observadas com graus variáveis de intensidade. Apenas em uma das aves, se observou um discreto infiltrado linfoide no miocárdio. Os demais órgãos não tinham alterações histológicas significativas. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: A confirmação diagnóstica no caso aqui relatado foi baseada nos dados epidemiológicos, sinais clínicos e lesões microscópicas características da enfermidade, similares às relatadas na literatura científica [1,3,6,7]. Ao conhecimento dos autores, no Brasil, não há casos recentes de encefalomielite aviária publicados. A ausência de encefalomielite aviária em granjas avícolas se deve, sobretudo, à larga utilização de vacinas vivas ou inativadas que são eficazes na prevenção da doença [7]. Por este motivo, casos da doença não tem sido diagnosticados no Brasil. Acredita-se, portanto que uma falha no processo de vacinação tenha sido a principal causa para a ocorrência da enfermidade nessa propriedade. Um importante aspecto epidemiológico observado nas aves desse estudo é que foram observados sinais clínicos em aves adultas. Esse não é um achado comum e precisa ser melhor investigado; visto que apesar de aves de todas as idades poderem ser afetadas, somente aves com menos de quatro semanas de vida apresentam sinais clínicos [1,3,7]. Na maioria dos casos relatados em aves adultas, o principal problema está relacionado à queda temporária de postura, que situa-se entre 5-10%; porém não há o desenvolvimento de sinais neurológicos em animais dessa categoria [6,7]. Outras doenças virais, tais como doença de Newcastle e Marek devem ser levadas em consideração no diagnóstico diferencial de encefalomielite aviária. Na doença de Newcastle não se observam lesões histológicas consistentes com microgliose nodular e cromatólise central, enquanto que na doença de Marek, ocorre envolvimento de nervos periféricos como, por exemplo, aumento do nervo ciático. Essa lesão não foi observada nas aves desse estudo. Não existe tratamento conhecido para a encefalomielite aviária. Nas propriedades com casos diagnosticados, a principal medida sanitária a ser adotada é a vacinação dos lotes de reprodutoras durante a fase de crescimento, o que impede a transmissão vertical do vírus. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Asasi, K. et al. Clinico-Pathological Studies on Avian Encephalomyelitis in Shiraz, Iran. Turk. J. Vet. Anim. Sci. 32:229-231, 2008. 2. Bueno, R.C., et al. Ocorrência da encefalo-mielite aviária em São Paulo. Isolamento e identificação do vírus responsável. Rev Bras Biol 24:31-44, 1964. 3. Jana, P.S. et al. Clinicopathological studies on avian encephalomyelitis. Indian. Vet. J. 82:1037-1039, 2005. 4. Jones, E.E. An encephalomyelitis in the chicken. Science 76: 331-332, 1932. 5. Silva, R.A. et al. Isolamento do vírus da encefalo-mielite aviaria (tremor epidêmico) nos estados da Guanabara e Espírito Santo. Pesq. Agropec. Bras. 7:11-13, 1972. 6. Tannock, G. A. et al. Avian encephalomyelitis: a review. Avian Pathol 23:603-620, 1994. 7. Villareal, L. Encefalomielite aviária. In: Revolledo, L. Patologia aviária. 1 Ed. São Paulo: Ed. Manole, 2009. p. 234-239.