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CONHECIMENTOS PRÉVIOS SOBRE O SISTEMA ABO DE ALUNOS DO
TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL
DO MUNICÍPIO DE BETIM, MINAS GERAIS, BRASIL
Renato de Oliveira Prado*
André Vieira Quintino**
Marcelo Diniz Monteiro de Barros***
RESUMO
Um dos ramos da biologia que mais tem avançado e se popularizado é a genética. Neste estudo,
objetivou-se diagnosticar o que os alunos de uma escola pública estadual conhecem sobre o
Sistema ABO. A pesquisa foi do tipo descritiva, mista, de campo e utilizou o questionário como
instrumento de coleta de dados. O estudo foi realizado em uma Escola Pública Estadual do
Município de Betim, Minas Gerais, no segundo semestre de 2010. Foram escolhidas quatro turmas
do terceiro ano do Ensino Médio, totalizando 156 alunos. Os resultados indicam que a maior parte
dos alunos desconhece características básicas acerca do sistema ABO. Espera-se que os
professores possam conhecer as principais falhas de compreensão, por parte dos alunos, para que
novas alternativas de ensino possam ser pensadas e praticadas, nesse viés, no cotidiano da sala de
aula.
PALAVRAS CHAVES: ensino de ciências, ensino de genética, sistema ABO.
ABSTRACT
PREVIOUS KNOWLEDGE ABOUT THE ABO SYSTEM IN A PUBLIC SCHOOL AT BETIM,
STATE OF MINAS GERAIS, BRAZIL
A branch of biology that has advanced and that is being more popular is genetics. This study aimed
to diagnose what students in a public school know about the ABO system. The research was
descriptive, mixed, in field, and used the questionnaire as a tool for data collection. The study was
conducted in a State Public School in the city of Betim, Minas Gerais, in the second half of 2010. It
was chosen four classes of the third year of high school, totaling 156 students. The results indicate
that most of the pupils does not know basic characteristics on ABO system. It is hoped that teachers
are aware of the major failures of understanding, by students, so that new teaching alternatives can
be conceived and practiced, in this bias, in everyday classroom.
KEY WORDS: science education, genetic education, ABO system.
INTRODUÇÃO
Um dos ramos da biologia que mais tem avançado e se popularizado é a genética, por
estar ligada a temas cada vez mais discutidos no nosso cotidiano como genoma humano,
clonagem, alimentos transgênicos e teste de paternidade. Assim, é importante a
compreensão dessas questões para que entendamos princípios elementares da herança de
caracteres biológicos de geração para geração (SILVEIRA et al. 2008).
Bachelard, 1996, citado por Justina e Ferla (2006), afirma que o papel social da escola
é o de democratizar o conhecimento construído ao longo do tempo em diferentes culturas.
De acordo com os mesmos autores, há a necessidade da implementação de propostas que
possibilitem a efetiva aquisição do conhecimento científico de biologia no âmbito do ensino
*
Possui graduação em Ciências Biológicas: Licenciatura e Bacharelado em Gestão Ambiental pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais <[email protected]>
**
Biólogo, graduado no Curso de Ciências Biológicas, Licenciatura e Bacharelado em Gestão Ambiental da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas
da Universidade Estadual de Montes Claros. [email protected]
***
Professor Adjunto IV do Departamento de Ciências Biológicas da PUC Minas. Doutor em Ensino em Biociências e
Saúde pelo Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz. <[email protected]>
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formal. Para ter autonomia intelectual e ser possuidor de pensamento crítico em relação à
genética, o indivíduo deverá ser alfabetizado cientificamente e tecnicamente.
Segundo Dasilio e Paes (2009) os antígenos ABO são constituídos por um grande e
único polissacarídeo ligado a lipídios ou a proteínas da membrana celular. Esses antígenos
não estão restritos apenas à membrana das hemácias, podendo ser encontrados também
em células como linfócitos, plaquetas, medula óssea, mucosa gástrica, além de secreções e
outros fluídos como saliva, urina e leite. Todos os indivíduos apresentam níveis de
anticorpos naturais contra antígenos que não estejam presentes em suas células.
O sistema sanguíneo ABO é codificado por um dos milhares de genes encontrados no
A
B
O
genoma humano. Esse sistema possui três alelos principais: I , I e I . Como a espécie
A A A O
humana é diplóide, os dois alelos existentes por indivíduo fornecem seis genótipos: I I , I I ,
B B B O A B O O
I I , I I , I I , I I . Esses alelos estão em um locus genético localizado no cromossomo 9,
A
B
O
A
B
nos quais I e I dominam sobre I ; já os alelos I e I são co-dominantes, resultando em
cinco fenótipos: os grupos sanguíneos A, B, AB, O e Bombaim (DASILIO e PAES, 2009).
Atividades práticas, quando aplicadas de forma lúdica, complementam o conteúdo
teórico permitindo uma maior interação entre professor e aluno, e podem trazer contribuições
ao processo ensino-aprendizagem (MARTINEZ, FUJIHARA, MARTINS, 2008).
De um modo geral, em sala de aula, os estudantes apresentam dificuldades para o
entendimento dos mecanismos de transmissão hereditários envolvidos na determinação do
Sistema Sanguíneo ABO, que é o principal sistema na medicina transfusional.
Diante do exposto, objetivamos diagnosticar o que os alunos de uma escola pública
estadual conhecem sobre o Sistema ABO, tais como a quantidade de genótipos e fenótipos
possíveis no Sistema ABO, seu tipo sanguíneo, bem como outras informações relativas ao
Sistema ABO.
METODOLOGIA
A pesquisa foi do tipo descritiva, mista, de campo e utilizou o questionário como
instrumento de coleta de dados (BARROS e LEHFELD, 2007). O estudo foi realizado em
uma Escola Pública Estadual do Município de Betim, Minas Gerais, Brasil, no segundo
semestre de 2010. Foram escolhidas quatro turmas do terceiro ano do Ensino Médio,
totalizando 156 alunos. O trabalho contou com uma amostra de 32%, ou seja, 50 alunos,
selecionados de forma aleatória, através de sorteio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diagnosticamos que 51% dos alunos já haviam estudado sobre o Sistema ABO
anteriormente (Figura 1).
37
Você já havia estudado o Sistema ABO
em outra série?
Não
49%
Sim
51%
FIGURA 1 – Você já havia estudado o Sistema ABO em outra série?
Porém, somente 29% souberam responder quantos genótipos são possíveis no
Sistema ABO (Figura 2).
De acordo com Esquissato; Arruda; Soares (2007), a determinação do Sistema
A B
O
A
B
sanguíneo ocorre através da interação entre três alelos I , I e I , no qual I e I são coO
dominantes entre si e dominantes sobre o alelo I . A combinação desses alelos resulta em
seis genótipos diferentes e cinco fenótipos.
Q uantos g enótipos s ão pos s ív eis no S is tema
8
AB O ?
2
6%
6%
6
29%
4
59%
FIGURA 2 – Quantos genótipos são possíveis no Sistema ABO?
Em relação à Figura 3, apenas 19% dos alunos acertaram a quantidade de fenótipos
possíveis no Sistema ABO, sendo O, A, B, AB e Bombaim as respostas corretas.
38
Q uantos fenótipos s ão pos s ív eis no S is tema
AB O ?
7
1
15%
11%
5
19%
3
55%
FIGURA 3 – Quantos fenótipos são possíveis no Sistema ABO?
Sobre o tipo sanguíneo, 70% dos alunos dizem conhecer qual é o tipo sanguíneo que
possuem, havendo uma predominância do tipo O (38%), seguido do tipo A (22%), B (8%) e
apenas 2% do tipo AB. 30% dos alunos não souberam informar qual é o tipo sanguíneo que
possuem (Figura 4).
O resultado pode ser corroborado pelo estudo realizado por Dasilio e Paes (2009) em
que já foi observado que a frequência dos grupos sanguíneos varia de acordo com a
população estudada. BATISSOCO e NOVARETTI (2003) citado por Dasilio e Paes (2009)
mostraram essa variação entre os doadores de sangue da Fundação PróSangue/Hemocentro de São Paulo, Brasil. Esse estudo mostrou que entre os caucasóides e
negróides (mulatos e negros) a prevalência dos tipos sanguíneos acompanha a seguinte
ordem: O>A>B>AB.
Voc ê s abe s eu tipo s ang uíneo? Q ue tipo ele
é?
A
22%
Não
30%
B
8%
AB
2%
O
38%
FIGURA 4 – Você sabe seu tipo sanguíneo? Que tipo ele é?
Na questão aberta, destinada a avaliar o nome do procedimento médico para
diagnosticar o tipo sanguíneo, conhecimento de suma importância, segundo relatos de
SCROFERNEKER & POHLMANN, citados por LUDWIG e ZILLY (2007) “Ao transfundir um
paciente, é necessário realizar previamente sua tipagem sangüínea e as provas cruzadas.
As mais graves envolvem incompatibilidade ABO, onde a existência prévia de anticorpos
circulantes pode levar a ativação de forma espontânea do complemento e hemólise
intravascular das hemáceas transfundidas”. 64% dos alunos souberam responder que é a
Tipagem sanguínea; 10% responderam Hemograma; 8% responderam Exame de Sangue;
39
8% também não responderam; 6% responderam Heredograma e 4% responderam que não
sabiam.
Q ual é o nome do proc edimento médic o (ex ame) para
diag nos tic ar o s ang ue humano?
Não s ei
4%
Não res pondeu
8%
E x ame de s angue
8%
Hemograma
10%
Heredrograma
6%
Tipagem s anguinea
64%
FIGURA 5 – Qual é o nome do procedimento médico (exame) para diagnosticar o
sangue humano?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da área da genética ser de difícil entendimento, cabe ao professor desenvolver
novas técnicas e métodos de ensino, visando permitir, com mais eficiência, o aprendizado
dos seus alunos. Essas técnicas e métodos de ensino devem ser elaboradas a partir dos
conhecimentos que os alunos já possuem. A presente pesquisa procurou compreender os
conhecimentos dos alunos, no viés do Sistema ABO e espera contribuir, ainda que de forma
modesta, para que o ensino de genética no país possa ser cada vez mais aprimorado.
REFERÊNCIAS
BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de
metodologia científica. 3ª ed. São Paulo: Pearson/Prentice Hall, 2007. 158 p.
DASILIO, Karine Lourenzone de Araujo; PAES Marcela Ferreira. Genética no cotidiano: o sistema ABO
na transfusão sanguínea. Genética na Escola, ano 4, v. 2, p. 30-35, 2009. Disponível em: <
http://www.geneticanaescola.com.br/ano4vol2/MS07_006.pdf>. Acesso em: abril 2010.
ESQUISSATO, Giovana Natiele Machado; ARRUDA, Gisele; SOARES, Maria Amélia Menck. Modelo
didático com materiais recicláveis para o sistema sanguíneo ABO. UNIOESTE – Campus
Cascavel. XVII Semana da Biologia – 03 a 06 de Setembro de 2007.
JUSTINA, Lourdes Aparecida Della; FERLA Marcio Ricardo. A utilização de modelos didáticos no
ensino de genética - exemplo de representação de compactação do DNA eucarioto. Arq Mudi. 2006;
10(2): 35-40. Disponível em: <http://www.pec.uem.br/pec_uem /revistas/arqmudi/volume_10/
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LUDWIG, Luana; ZILLY, Adriana. Reações Transfusionais Ligadas ao Sistema ABO. Faculdade
União das Américas, Foz do Iguaçu, PR. NewsLab - edição 84 – 2007.
MARTINEZ, Emanuel Ricardo Monteiro; FUJIHARA, Ricardo Toshio; MARTINS, César. SHOW DA
GENÉTICA: Um jogo interativo para o ensino de genética. Genética na Escola, ano 3, v. 2, p. 24-27,
2008. Disponível em: <http://www.geneticanaescola.com.br/ano3 vol2/ 05.pdf> . Acesso em: abril 2010.
SILVEIRA, Diego Teixeira; ZAFALON, Bruna da Silva; SOPEZKI, Maurício da Silva; MANZKE, Vitor
Hugo Borba; BOBROWSKI, Vera Lucia. Aprendizagem de conceitos básicos de genética no ensino
médio: avaliação preliminar. Conhecimento sem fronteiras, XVII Congresso de Iniciação Científica,
X Encontro de Pós-Graduação, 11ª 14 de novembro de 2008.
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