Formação Econômica do Brasil Michelle M. Miltons Aula 1 Aula 1 1808-1822 1808-1850 “Era do Liberalismo” Aula de hoje: 1808-1822 • Caio Prado Jr fala do anacronismo presente na situação das coroas espanhola e portuguesa: – Na fase brilhante de sua história, sécs. XV e XVI, incorporaram imensos domínios coloniais. – Desde o séc. XVII essas monarquias, já em decadência, conservavam quase todos estes domínios, mas esta situação não corresponde mais à sua nova posição no equilíbrio mundial de forças. – O apogeu luso-espanhol era passado. – Mas o tamanho dos impérios coloniais que possuíam ainda era imenso. “Corpos imensos de cabeças pequenas.” Grandes potências do séc. XVIII • Países Baixos, Inglaterra e França (em rivalidades) • Eventos importantes do século XVIII – Independência dos EUA, 1776 – Revolução industrial na Inglaterra (1760-1850) – Revolução Francesa (1789-1799) A rivalidade entre Inglaterra e França protege os impérios ibéricos. Espanha se ampara na França e Portugal, na Inglaterra. • Na metade do século XVIII, a situação inverte. • O antigo sistema colonial, baseado no PACTO COLONIAL que representa o EXCLUSIVISMO DO COMÉRCIO das colônias para as metrópoles entra em declínio. Sistema Colonial Montado conforme a lógica do capitalismo comercial, em função dos interesses do Estado Absolutista ENTRA EM CRISE Quando? Por que isso aconteceu? Quando os mecanismos * Expansão dos restritivos de comércio mercados e produção ficaram * Desenvolvimento do inoperantes. capital industrial * Crise do Estado absolutista Grupos interessados na produção em larga escala e ampliação das relações comerciais Monopólios e privilégios do sistema colonial são vistos como obstáculos. Ampliam-se as críticas ao sistema colonial tradicional. • Adam Smith, 1776 (Inglaterra): – Critica a política mercantil – Condenava os monopólios, os tratados de comércio e o trabalho servil (bases do sistema colonial tradicional). – Preconizava a adoção de um regime de livre concorrência. – Afirma a superioridade do trabalho livre sobre o escravo. Jean Babptiste Say • Tratado de economia (1803): – caráter espoliativo do sistema colonial tradicional – colônias, em vez de ganhos, trazem gastos para as metrópoles >> CARAS. • Despesas das colônias: – Exército – Burocracia – Edifícios públicos e militares. • Por causa do Pacto Colonial, a metrópole tinha que comprar produtos inferiores e mais caros vindos da colônia, em vez de recorrer a outros produtores. Capitalismo industrial em substituição ao capitalismo comercial. Séc. XVII – domínio do capital comercial. Indústria artesanal. Presença de algumas formas de capitalismo (comercial). Ex: indústria têxtil nos Países Baixos. Em linhas gerais, como funciona o capitalismo comercial? Matérias-primas são fornecidas ao artesão. O artesão vende produtos acabados. Entre ele e o consumidor há um intermediário, o comerciante (capital comercial) O capital industrial é autônomo e dedica-se exclusivamente à produção manufatureira. O artesão e o pequeno produtor independente vão cedendo espaço às manufaturas. O que são manufaturas? Grandes unidades produtoras Muitos trabalhadores assalariados Patrão, diretor>> detentor do capital A indústria capitalista cresce muito, ofuscando o capitalismo comercial e assumindo o domínio da economia europeia. Resultado: declínio do antigo sistema colonial representado pelo pacto colonial – que é a perfeita expressão do capitalismo comercial. Por que o comércio é tão importante para o pacto colonial? • Porque se deseja reservar aos comerciantes da metrópole o privilégio das transações comerciais em prejuízo dos concorrentes estrangeiros. Por que o pacto é ruim para o capitalismo industrial? • Porque seu objetivo é colocar seus produtos no mercado. O monopólio comercial restringe o comércio livre. Impede o crescimento do intercâmbio entre sua produção os mercados mundiais. • “O progresso do capitalismo industrial na segunda metade do século XVIII se voltará contra todos os monopólios.” Problemas dos impérios coloniais ibéricos: • Não conseguem se adaptar • Sua indústria não se desenvolveu • Suas atividades giravam em torno do comércio colonial • Não podiam abrir mão! Resultados: choques (conflitos) do século XVIII desagregam estes impérios. independência das colônias americanas e nova ordem mundial. Mudança de “colônia para nação” (período prévio à independência) • Metrópole: – – – – Empobrecida Recursos mínimos Marinha mercante arruinada Portugal impedia que Brasil produzisse aquilo que tinha que comprar fora: manufaturas, sal, gêneros vitais • Regime Colonial – obstáculo intolerável ao desenvolvimento do Brasil • Crises/conflitos e mudanças estruturais internacionais fazem o sistema colonial cair. Caminho da desagregação • Cai: – Monopólio do comércio externo – Privilégios econômicos – Privilégios políticos e sociais – Quadros administrativos – Mais tarde, estrutura tradicional de classes e regime serviu. CRISE - da estrutura econômica básica de “um país colonial que produz para exportar e que se organizava para servir a interesses estranhos” (p. 126, Caio Prado) “É na base das contradições geradas por este sistema que resultará a paulatina transformação do regime, em todos seus aspectos, de colônia em nação.” Pg. 126 1807 – Invasão francesa em Portugal • Para forçar a adesão de Portugal ao bloqueio continental decretado contra a Inglaterra, exércitos de Napoleão invadem e ocupam o Reino. – Portugal tem aliança antiga com Inglaterra – Napoleão invade Portugal. – Regente Dom João (que governava em nome de sua mãe demente, Rainha Dona Maria) foge para colônia. – Vem para colônia coma corte, muitos funcionários e comitivas de 10 mil pessoas para RJ. – RJ torna-se SEDE DA MONARQUIA PORTUGUESA. ABERTURA DOS PORTOS • O regente, assim que desembarca na BA, assina o decreto que abre os portos da colônia à todas as nações para comércio livre. • “Destruía-se assim, de um golpe, a base essencial em que assentava o domínio colonial português.” p. 127 • Por que o regente fez isso? • Porque o comércio portugues estava interrompido pela ocupação francesa. Ou se isolava o Brasil de tudo ou abria-o ao comércio e a navegação de outros países. • A medida foi provisória. • Não foi uma medida de consideração. • Foi uma IMPOSIÇÃO das circunstâncias. Comércio internacional português antes da vinda da família real (Viotti) • O comércio português se realizava principalmente com o Brasil. • Portugal era o consumidor e o entreposto de distribuição de todo o comércio exterior da colônia. • Apesar do crescente contrabando, Portugal detinha até aquela data situação privilegiada por causa do sistema de monopólios vigente. – Os navios portugueses ganhavam com fretes marítimos – Alfândegas ganhavam com a importação dos produtos coloniais e exportação de manufaturas estrangeiras para a colônia – Os comissários portugueses ganhavam com o armazenamento e a revenda de produtos. – As rendas das alfândegas eram as principais receitas. – A renda dos capitais lusitanos investidos no comércio colonial oferecia ampla base de tributação. TODO ESTE ESQUEMA DE LUCRO CAI COM A ABERTURA DOS PORTOS E OS TRATADOS DE COMÉRCIO. • Já não era possível voltar atrás na decisão (de abertura dos portos). PAPEL DA INGLATERRA O aliado português foi o que sobrou diante do domínio de Napoleão. Era estratégico porque: • Brecha ao bloqueio napoleônico • Base que portos portugueses ofereciam para esquadra britânica era importante. • • • Mas ingleses não conseguem proteger Portugal da invasão de Napoleão. Procuram compensar suas perdas na Europa com conquistas na América. Ingleses oferecem ao regente que vá, sob proteção britânica, para o Brasil. “conservava com isso sua coroa e títulos, mas terá cedido ao aliado inglês sua independência e liberdade de ação.” pg. 128 Soberano fica no RJ sob guarda de uma divisão naval inglesa. A ABERTURA DOS PORTOS: Era irreversível Rompeu a fase colonial do Brasil Rompeu o sistema do “pacto”/ o exclusivo metropolitano • Na Europa, ingleses dirigem luta contra ocupação francesa. • General inglês – Beresford - comanda o exército português e torna-se o efetivo governador do Reino Liberto em 1809. • A Inglaterra zela para preservar a liberdade de comércio com o Brasil. CELSO FURTADO • Quando Portugal é ocupado pela França, o entreposto que Lisboa representava desaparece para o comércio da colônia. O contato direto com mercados acessíveis torna-se indispensável. • A abertura dos portos é resultado de uma imposição dos acontecimentos. • A abertura dos portos – que beneficia quase que exclusivamente à Inglaterra – é decretada SEM CONSULTA à Inglaterra. • O futuro Visconde de Cairu (José da Silva Lisboa) teria argumentado a favor e o regente teria relutado muito. Tratado de Comércio, firmado com Inglaterra (1810), (Prado Jr) • No decreto de abertura dos portos, fixou-se um direito geral de importação para todos de 24% ad valorem. • Pouco depois, mercadorias portuguesas teriam taxa de 16%. • Mercadorias inglesas, a partir do tratado de 1810, 15% (melhor que Portugal) – válido até 1816, quando as tarifas portuguesas a ela se igualaram. • Mas Portugal não consegue lutar em pé de igualdade, pois Inglaterra é muito mais forte (indústria e marinha mercante). “O comércio e a navegação portugueses serão praticamente excluídos do Brasil.” Tratados desiguais (Celso Furtado) • Os tratados de 1810: – Transformam Inglaterra em potência privilegiada; – Tem direitos de extraterritorialidade – Tarifas preferenciais muito baixas – Os tratados representam, durante a primeira metade do século XIX, séria limitação à autonomia do governo no setor econômico. Tratados desiguais (Celso Furtado) • Eram criadores de privilégios • Ingleses não se preocupavam em abrir mercados para produtos brasileiros (que competiam com suas dependências nas Antilhas) • A “ideologia liberal” inglesa era aplicada de forma UNILATERAL. – Cria muitas dificuldades para a economia brasileira – Isso acontece quando a classe dos grande agricultores começa a governar o país. – É nesse ambiente que Inglaterra pretende impor a eliminação da importação de escravos africanos, ao que os agricultores resistem. Tratados desiguais (Celso Furtado) • Criam sérias dificuldades financeiras para o governo brasileiro • Em geral, são os impostos de importação a principal fonte de receita de economias primário-exportadoras • Alternativa seria taxar as exportações. Isso era equivalente a cortar os lucros dos grandes agricultores. • • O que fazer? Medidas tomadas por D. João para tentar garantir privilégios portugueses e contrabalançar os efeitos da abertura dos portos • Príncipe tenta – em vão – limitar vantagens concedidas aos ingleses: – Favorece os produtos transportados por barcos portugueses, oferecendo vantagens para a importação de vinhos, azeites e outros artigos fabricados em Portugal ou nas colônias portuguesas. – Outras medidas (ver Viotti)