Pesquisadores anunciam ter descoberto como alguns

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29 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 3 de outubro de 2009
Stefan Wermuth/Reuters - 8/9/09
Pesquisadores anunciam ter descoberto como alguns insetos
demonstram habilidade em resistir à infecção pelo protozoário da
malária. Estudo pode abrir caminho para novo controle da ameaça
Mosquitos
“amigos”
O Anopheles gambiae: alguns transmissores têm uma mutação que impede a infecção
Philimon Bulawayo/Reuters - 12/2/09
» RODRIGO CRAVEIRO
Q
uem vive na Amazônia provavelmente já
sofreu com febre alta, sudorese intensa,
fadiga, fraqueza inexplicável e vômitos.
Quase sempre juntos, os sintomas denunciam a malária (ou impaludismo), uma doença que ataca 50 em cada 1 mil habitantes da região
e ameaça 40% da população do planeta. Dependendo do protozoário transmitido pelo mosquito
Anopheles gambiae, o paciente pode arder em febre intermitente durante dois ou três dias. A ciência, porém, acaba de encontrar um meio de transformar os insetos em aliados na luta contra o mal.
Pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular Europeu (EMBL, pela sigla em inglês), em Heidelberg (Alemanha), e do Institut National de la
Santé et de la Recherche Médicale, em Estrasburgo (França), descobriram que alterações em um
único gene afetam a habilidade do mosquito de
resistir à infecção pelo Plasmodium berguei — o
parasita que provoca a malária em ratos. O achado
abre espaço para uma espécie de controle seletivo
do Anopheles, com o extermínio daqueles exemplares que não tenham a mutação genética.
Em entrevista ao Correio, por e-mail, a francesa
Stephanie Blandin — cientista do Inserm e líder
do estudo — contou que sua equipe infectou os
mosquitos Anopheles gambiae com o Plasmodium
berguei. “Nós sabíamos que alguns desses insetos
são capazes de não serem contaminados pelo parasita. Uma questão-chave tem sido entender o
que faz a diferença entre um mosquito resistente e
um suscetível (ao Plasmodium)”, explicou. Para
responder a esse enigma, os especialistas compararam o genoma de ambos os tipos de Anopheles.
“A principal diferença entre eles foi um único pedaço de um cromossomo. Dos 975 genes contidos
na seção do DNA, apenas um chamou nossa atenção: o TEP-1”, acrescentou.
Esse gene codifica a proteína que se une aos parasitas da malária, levando-os à morte no interior
do intestino do mosquito, e está presente sob diferentes formas (ou alelos) em todos os Anopheles
gambiae. “Para mostrar que dois alelos diferiam
em sua eficiência na promoção da morte dos parasitas, criamos mosquitos que carregam um alelo
do tipo resistente e um do tipo suscetível”, lembrou. Segundo Blandin, ela e seus colegas basicamente desligaram um ou outro alelo e compararam o número de Plasmodium berguei que poderiam se desenvolver em cada grupo. Assim, os
cientistas demonstraram que diferentes alelos do
TEP-1 conferem distintos graus de resistência aos
parasitas da malária em ratos.
Nova fase
No Zimbábue, uma mãe coloca o filho na cama, protegida por um mosquiteiro: normalmente, a única defesa contra a malária, que ameaça 40% da população mundial
Fotos: Marina Lamacchia Inserm/Divulgação
Resistência ativada
As imagens mostram dois intestinos de Anopheles gambiae, mosquito-vetor
da malária comum na África Subsaariana. Na da esquerda, os pontos
negros são os parasitas Plasmodium berguei mortos dentro dos insetos cujo
alelo em atividade é o que comanda a “resistência”. Os pontos verdes
fluorescentes são parasitas ainda vivos. Na foto da direita, vários
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A francesa investiga agora se os alelos de TEP-1
têm a mesma aversão ao Plasmodium falciparum,
o protozoário que transmite a doença para o homem. Se virem a mesma correlação entre eles e o
nível de resistência a esse parasita, os pesquisadores terão à disposição um marcador para monitorar a distribuição de mosquitos resistentes e
suscetíveis ao micro-organismo causador da malária. “Isso nos ajudaria, por exemplo, a melhorar
os atuais métodos de controle das populações de
mosquito, alvejando aquelas que sejam suscetíveis à infecção”, comentou Blandin.
A técnica desenvolvida pelos cientistas é chamada de interferência recíproca específica do alelo
no RNA. “Esse método é aplicável a muitos diferentes organismos”, disse Lars Steinmetz, do EMBL.
“Agora, podemos ir de uma região inteira do DNA a
um gene que causa a doença — uma façanha raramente alcançável em organismos complexos”,
acrescentou o alemão. A ferramenta capacita os
pesquisadores a identificarem exatamente qual
alelo está por trás de um traço específico. Eles produziram mosquitos individuais que tinham um
alelo TEP-1 do traço resistente e outro de um traço
suscetível. Então, “desligaram” — ou silenciaram
— um ou mais desses alelos. A desativação dos alelos deu origem a mosquitos com diferentes graus
de resistência à malária. O estudo comprova que a
não suscetibilidade do mosquito ao parasita da
malária depende da forma do gene que ele carrega.
Stephanie Blandin afirma que ainda é cedo para determinar qual impacto sua pesquisa terá no
controle e tratamento da malária em humanos.
De acordo com ela, o mosquito vetor e o parasita
são diferentes daqueles usados no estudo. No entanto, a francesa admite que respostas antiparasitárias similares devem funcionar em outras espécies do Anopheles. “Entender como um mosquito
se defende contra os parasitas da malária nos ajudará a progredir mais rapidamente em relação a
outras espécies de mosquitos”, concluiu.
protozoários têm maior sobrevida dentro do intestino de mosquitos com o
alelo para “suscetibilidade” ativado. Os cientistas descobriram que existem
variantes do gene TEP-1, responsável pela codificação da proteína que se
cola aos parasitas, matando-os. Cada um desses “alelos” corresponde a um
nível de resistência diferente à infecção por malária.
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