A CULTURA DA FIGUEIRA 1. HISTÓRICO A figueira (Ficus carica L.) é uma planta nativa da Ásia Menor. As antigas civilizações do Mediterrâneo oriental consideravam a figueira uma árvore sagrada e relataram seu uso muito antes de sua chegada à Europa, sendo que os próprios árabes levaram-na para a Península Ibérica, onde foi difundida para a África, América e Europa, junto com seus primeiros colonizadores. O figo era conhecido no Egito com o nome de ‘teb’, e já se encontraram referências a este fruto nas pirâmides de Giza. Também foram encontrados relatos nas escrituras bíblicas e figos fossilizados em depósitos terciários e quaternários nas regiões da França e Itália. Os primeiros relatos da presença da figueira no Brasil foram feitos pelo padre jesuíta Fernão Cardim e datam de 1.585. Muito provavelmente estas plantas foram introduzidas pelos participantes da primeira expedição de Martin Afonso de Souza, em 1532, à Capitania de São Vicente. Somente no início do século XX, por volta de 1910, é que a cultura da figueira passou a despertar interesse comercial no Estado de São Paulo. A figueira, que antes era típica planta de quintais urbanos, ou cultivada junto às sedes dos sítios e fazendas, iniciou sua produção comercial em Valinhos, na época ainda pertencente à Campinas ,e que hoje é conhecida como a “Capital Nacional do Figo Roxo”. O cultivar “Roxo de Valinhos”, o mais cultivado no Brasil, foi introduzido pelo imigrante italiano Lino Busatto que chegara a Valinhos por volta de 1898 e teve a iniciativa de mandar buscar mudas de figueira na Itália, em uma região próxima ao Mar Adriático. Algumas destas plantas produziram figos roxos escuros e se adaptaram muito bem às novas terras. Hoje, são nacionalmente conhecidos como “Figo Roxo de Valinhos”. 2. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA A figueira é uma das espécies frutíferas de grande expressão econômica e com grande expansão mundial, pois apesar de ser considerada uma espécie de clima temperado, apresenta boa adaptação a diferentes tipos de clima e solo. Atualmente, ocupa o terceiro lugar na exportação brasileira de frutas temperadas, após a maçã e a uva. O figo é cultivado em mais de 20 países e o Brasil é o 10º produtor mundial com aproximadamente 25.727 toneladas, uma produção inferior aos países árabes, como o Egito com 304.000 toneladas, a Turquia com 205.000 toneladas e a Argélia com 79.000 toneladas (FAO, 2012) (Figura 1). Figura 1. Produção mundial de figos (FAO, 2012). No Brasil, são destinados 2.934 ha à ficicultura, sendo que as principais regiões produtoras são: Rio Grande do Sul, com aproximadamente 40% da produção, São Paulo com aproximadamente 21% e Minas Gerais com 19%. A quase totalidade dos frutos colhidos no Rio Grande do Sul é destinada ao processamento industrial. A maior parte do figo de mesa, destinado ao mercado nacional e internacional, é cultivado no Estado de São Paulo, principalmente nas cidades de Valinhos (3,9 mil toneladas) e Campinas (4,3 mil toneladas) (Figura 2). Figura 2. Distribuição geográfica de área cultivada de figo no Estado de São Paulo e número de produtores - safra 2007/2008 (CATI, 2012). Porém, mesmo com toda essa produção, a ficicultura no Estado de São Paulo sofreu drástica redução na década de 1980. Essas reduções de área e do número de pés de figo nas regiões produtoras paulistas foram devidas não só à escassez de mão-de-obra especializada, exigida principalmente pela colheita da fruta, mas também pela valorização do preço da terra provocada por loteamentos imobiliários e pela urbanização. Embora venha sofrendo esta transformação, o município de Valinhos continua sendo o principal produtor paulista. Contudo, a concorrência do setor primário com a urbanização, neste município, tem provocado o deslocamento da atividade para cidades vizinhas, como o município de Louveira que, atualmente, está entre os principais municípios produtores (Figura 3). Figura 3. Participação (%) da área plantada com figo, por município, no Estado de São Paulo (IEA, 2012). 3. ASPECTOS BOTÂNICOS A figueira pertence à família Moraceae. O gênero Ficus abrange aproximadamente 2000 espécies, entre árvores, arbustos, plantas sarmentosas nativas de regiões tropicais e sub-tropicais. Porém, as únicas espécies de valor econômico são as espécies carica, sendo que as demais são utilizadas como plantas ornamentais. Apresenta células lactíferas, que causam exsudação de látex a partir da casca, principalmente após períodos secos ou de geada ou, então, causada por danos mecânicos. Esse látex contém uma enzima proteolítica, conhecida como ficina, quase semelhante à do mamoeiro e amoreira. O sistema radicular da figueira é superficial e fibroso. Há registros de que, em condições adequadas para o seu desenvolvimento, o sistema radicular da figueira pode aprofundar-se até 6m e, lateralmente, pode se expandir por até 12 metros. A figueira é uma das poucas espécies do gênero que apresenta caducidade foliar. É uma árvore bastante ramificada, alcançando até 10 metros de altura se não for podada. Em geral, devido aos sistemas de poda, a figueira raramente ultrapassa os 3 metros. A vida útil produtiva está em torno de 30 anos variando conforme o manejo dado à planta. Em relação à parte aérea, o caule apresenta ramos robustos e lisos, bastante frágeis e quebradiços. A casca, quando jovem, apresenta coloração esverdeada, sendo que com o envelhecimento, torna-se acinzentada. A figueira produz gemas laterais situadas nas axilas, sendo que a gema pseudo-terminal é maior que as demais e é normalmente vegetativa, e as outras são floríferas. As folhas são verde-escuras na região adaxial, as quais apresentam alguns pelos duros e dispersos, e possuem coloração mais clara na região abaxial. As flores são pequenas, pediceladas e hipóginas. Existem 3 tipos de flores: as pistiladas com estíolo curto (femininas e adaptadas à vespa polinizadora), pistiladas com estíolo longo (femininas e não adaptadas à vespa polinizadora) e as estaminadas (masculinas). A polinização das flores da figueira, chamada também de caprificação, ocorre graças à ação de uma vespa específica (Blastophaga psenes), que penetra pelo ostíolo e carrega o pólen para as flores femininas. No entanto, as condições climáticas do Brasil são inadequadas ao desenvolvimento da vespa e, por isso, ela não é encontrada em nosso país. Os figos que ocorrem no Brasil não formam sementes, mas produzem frutos por partenocarpia e não por fecundação, já que não há a vespa para polinizar. Embora comercialmente os figos sejam conhecidos como frutos, na realidade, são considerados infrutescências constituídas de tecido parenquimático. O fruto verdadeiro é o aquênio, resultante que se forma no interior do receptáculo floral, com embrião envolto pelo endosperma e tegumento. Nas condições do Brasil, como não há fecundação, os aquênios são ocos (ovário esclerificado). Os figos são de formato piriforme, com 5 a 8 cm de comprimento, esverdeados ou violáceo-amarronzado. A parte suculenta do figo é o chamado sicônio. Algumas cultivares desenvolvem somente um figo por nó, enquanto que outras desenvolvem frutas de ambas as gemas. O crescimento do figo, em termos de peso ou diâmetro, segue uma curva sigmoidal dupla. Conforme as características florais e os hábitos de frutificação, a figueira é classificada em 4 tipos pomológicos: a) caprifigo (Ficus carica silvestris) Constitui a única classe de figueiras que apresenta, quando maduros, estames fornecedores de pólen às demais variedades. Apresentam flores com ostíolo curto e flores estaminadas; b) smyrna (Ficus carica smyrniaca) As espécies pertencentes a esta classe de figueiras, possuem apenas flores femininas de ostíolo longo e, por isso, precisam do estímulo da polinização e necessitam sem cultivadas juntamente com caprifigos. Sem este estímulo e sem a formação de sementes, as frutas da produção principal enrugam e caem ao atingirem cerca de 2 cm de diâmetro; c) comum (Ficus carica violaceae ou Ficus carica hortensis) No Brasil, somente são cultivadas variedades do tipo comum, cujas flores são exclusivamente femininas. As figueiras do tipo comum desenvolvem-se partenocarpicamente, ou seja, não necessitam dos caprifigos; d) São Pedro (Ficus carica intermedia) As figueiras do tipo São Pedro têm apenas flores femininas, com ostíolo longo, não necessitando de polinização. Porém, enquanto as flores dos figos da primeira safra são partenocárpicas, as da segunda safra não se desenvolvem até a maturidade sem o estímulo da fecundação. 4. VARIEDADES CULTIVADAS No Estado de São Paulo existem cerca de 25 variedades de figueira, das quais a única cultivada comercialmente é a ‘Roxo de Valinhos’. É uma cultivar rústica, vigorosa e bastante produtiva, com boa adaptação a diversos climas que ocorrem no Brasil, além de ser adaptada ao sistema de poda drástica. O fruto é alongado, grande e periforme, com pedúnculo curto, coloração externa roxo-escura e na região interna da polpa, rosa-violácea. Os figos podem ser destinados tanto para o consumo "in natura" quanto para a industrialização, na forma de doces em calda e cristalizados. A frutificação ocorre em ramos do ano. Apesar de suas diversas vantagens, apresenta a limitação de possuir um ostíolo muito aberto, com tendência e rachaduras, favorecendo a ocorrência de doenças e pragas. Além desta cultivar, a ‘Pingo-de-Mel’, também conhecida como 'Kadota', ‘Dottado’ e ‘White Pacific’, embora tenha sido cultivada no Brasil no início do século, e hoje é pouco cultivada, não apresentando importância comercial. É uma variedade que adapta-se bem ao sistema de poda drástica produzindo figos doces, de tamanho médio, periformes e com polpa de cor âmbar. É utilizada para indústria na Califórnia (EUA) e na Itália é a principal matériaprima para a produção de figo-passa. 5. ASPECTOS EDAFOCLIMÁTICOS A figueira é uma espécie caducifólia e adapta-se melhor ao clima temperado, com invernos suaves e úmidos e verões quentes e secos. Contudo, a figueira é uma frutífera que possui grande capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas, principalmente, devido ao fato de ser uma espécie com pouca exigência em frio. Nas regiões de clima seco, a estação seca ajuda induzir o repouso vegetativo, complementando o efeito do frio. Temperatura: A figueira é pouco exigente em frio e tolera temperaturas de até 35 a 42ºC. No entanto, temperaturas em torno de 40ºC, durante o período de amadurecimento dos figos, provocam maturação antecipada, com alteração na consistência da casca do fruto, que se torna coriácea e dura. Em regiões de clima mais frio, há risco de danos por geadas tardias, pois temperaturas no final do inverno entre –3 a –6ºC podem matar os figos em formação e os ramos mais herbáceos. Como alternativas para contornar os efeitos da ocorrência de geadas tardias recomenda-se que a poda seja feita mais tardiamente. Já nos trópicos, as plantas produzem bem nas regiões de altas altitudes (900 a 1500m). Chuvas: A figueira é bastante sensível a falta de umidade no solo, principalmente no período de frutificação, o que está relacionado ao seu sistema radicular superficial. A cultura exige, no período vegetativo, chuvas freqüentes e bem distribuídas, sendo adequadas precipitações em torno de 1200 mm anuais. Porém, em situações de excesso de umidade, a qualidade do frutos pode ser prejudicada com o aumento da incidência de doenças. Ventos: Geralmente, o vento não chega a causar prejuízos. Porém, ventos fortes podem provocar danos mecânicos aos frutos causados pelas batidas das folhas. Dessa forma, nos locais de ventos fortes, recomenda-se o uso de quebra-ventos. Luz: A figueira em ambiente altamente iluminado adquire um crescimento vigoroso e produz frutas de excelente qualidade. Solos: A figueira adapta-se bem a diversos tipos de solos, porém de maneira geral, os solos mais apropriados são os solos areno-argilosos, profundos, bem drenados, com bom teor de matéria orgânica e com pH entre 6,0 e 7,0. Solos ácidos, deficientes em umidade e pobres em fertilidade dificultam o desenvolvimento da planta e afetam a qualidade dos frutos. 6. PROPAGAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DO POMAR A propagação da figueira pode ser realizada por via sexuada e assexuada. Entretanto, a propagação através de sementes exige a presença da vespa polinizadora. Dessa forma, esse processo de propagação não é realizado em nosso meio devido à ausência desse inseto. A propagação assexuada é feita principalmente através de estaquia, embora também possam ser utilizadas a mergulhia (mergulhia de cepa e alporquia), a enxertia e a propagação através de rebentões. Embora os usos da mergulhia e dos rebentões sejam bons materiais propagativos, seus usos são bastante restritos, principalmente se as mudas forem provenientes de solos infestados de nematóides. A produção de mudas de figueira por estaquia é bastante utilizado. As estacas podem ser enraizadas em viveiros, diretamente no pomar ou em recipientes. Neste caso, o terreno para viveiro deverá ser bem drenado, com boa disponibilidade de água para irrigação, livre de plantas invasoras (especialmente tiririca e grama-seda) e, principalmente, isento de nematóides. Em geral, o método mais utilizado é a propagação através de estacas lenhosas, pois permite o uso do material descartado pela poda e enraizamento sem estruturas especiais de nebulização. O preparo das estacas consiste em cortá-las em comprimento adequado, submetendo-as, quando necessário, ao tratamento com fungicidas e com fitorreguladores. Estando preparadas as condições do viveiro para o plantio das estacas, fazem-se os orifícios para a introdução das mesmas. Essas devem ser plantadas em leito de enraizamento, espaçadas entre si de 10 a 20 cm, deixando duas gemas para fora. Quando iniciar a brotação, deve-se selecionar o melhor broto, através da desbrota, a qual deverá ser feita quando as brotações atingirem de 5 a 10 cm de comprimento. A muda será então, conduzida em haste única até atingir 40 a 60 cm de comprimento, sendo despontada no inverno seguinte nesse comprimento, estando apta para ser comercializada e transplantada ao local definitivo. As mudas provenientes do viveiro com idade de 12 meses podem ser plantadas no pomar em covas de 0,6x0,6x0,6m. As covas devem receber matéria orgânica bem descomposta, calcário, farinha de osso e cloreto de potássio. Sendo que após o pegamento da muda indica-se aplicação de 150g de adubo nitrogenado. Os espaçamentos mais utilizados têm sido de 2,5x2,5m; 2,0x3,0m; 3,0x3,0m; indicando-se também, espaçamento duplo 2,0X2,0X4,0m. A época de plantio depende do tipo de muda a ser utilizado. Com o uso de estacas, a época ideal é entre maio e setembro. Porém, quando se utilizam mudas enraizadas em sacos plásticos, o plantio pode ser realizado em qualquer época do ano, de preferência em época chuvosa. 7. SISTEMAS DE CONDUÇÃO E PODAS A figueira recebe podas de inverno e de verão (verde), sendo que a poda de inverno se divide em poda de formação e de frutificação (produção). Poda de formação: A muda plantada no campo, de haste única é podada a altura de 0,5m aproximadamente. Durante o período de vegetação das gemas terminais surgem 3 a 4 pernadas, que constituirão a base da copa. No período de inverno do 2º ano (julho a agosto), essas pernadas oriundas da 1ª poda serão podadas a um comprimento de 15 a 20 cm. Em cada pernada deixam-se desenvolver 2 ramos. Já no inverno do 3º ano (julho a agosto), as operações se repetem. Cada ramo será podado deixando-se com o comprimento de 15 a 20 cm. Sobre cada um deles, deixam-se desenvolver 2 ramos inseridos lateralmente e opostos. Esses ramos são portadores de gemas floríferas dando origem, durante a estação de desenvolvimento, a uma produção inicial, que se intensa, deve ser retirada. Ao término dessas operações, a figueira se apresenta com 12 ramos, estando, assim, constituída a copa. Poda de frutificação (produção): Ao adentrar o 3º ano de estabelecimento das figueiras, realiza-se a poda de frutificação na época da dormência (julho a agosto), a qual tem por finalidade orientar a planta para a produção. A poda de frutificação resume-se em se fazer sobre os ramos uma poda drástica ou curta, reduzindo-os para 5 ou 10 cm, de modo que cada um deles dê origem a um único ramo em que ocorrerá a produção. Essa poda será repetida a cada inverno, seguindo-se o mesmo esquema. Poda verde: Realizada tão logo surgem as primeiras brotações, fazendose a desbrota para eliminar todas essas brotações laterais indesejadas, de modo que a haste mantenha-se sem bifurcações. 8. TRATOS CULTURAIS Adubação e calagem: A figueira requer solos de boa fertilidade e muito pouco ácidos, razão pela qual a calagem e a adubação devem ser bem feitas, de acordo com a análise química do solo. A quantidade de calcário irá variar em função do critério usado para determinar a necessidade de calagem. De maneira geral, recomenda-se aplicar calcário para elevar a saturação de bases a 70%. Logo após a colheita, realiza-se adubação anual aplicando esterco curtido, farinha de osso, sulfato de amônio e cloreto de potássio. O uso de 600 a 800g por planta e por ano da fórmula 10-10-10, divididos em 3 aplicações, pode ser aplicado também. O excesso de nitrogênio provoca desenvolvimento vigoroso da planta e frutos maiores, porém retarda a maturação dos mesmos. Cobertura morta: O emprego da cobertura morta do solo do pomar permite preservar a umidade do solo, fundamental para o bom desenvolvimento da figueira. Em locais com precipitações irregulares, pequenas estiagens são sentidas pelas plantas, causando a queda das folhas, com prejuízos à produção. Neste caso a cultura deve ser irrigada. Por outro lado, a alta umidade pode predispor as frutas ao ataque de doenças bem como causar fendilhamento das frutas quando elas se encontram no estágio de maturação. Essa cobertura é feita com palha seca ou capim gordura (2 a 4ha para cobrir 1ha de figueira). Controle de plantas daninhas: O uso de cobertura morta tem sido o melhor meio de controle das plantas daninhas. Entretanto, as que aparecerem devem ser eliminadas através de capinas manuais ou pela aplicação de herbicidas. Irrigação: A figueira é uma planta que necessita de 1.200 mm de água bem distribuídos ao longo do ano. É indispensável nas estiagens (por sulcos, gotejamento, em bacias ou aspersão) ou quando se deseja implantar a cultura em áreas onde não se dispõe desta condição climática, podendo ser utilizada a irrigação, sendo que os métodos recomendados são o gotejamento e a microaspersão. Sob condições de irrigação é possível a produção de figos nessas regiões mais secas em épocas distintas da principal região produtora (Valinhos,SP), ou seja, é possível oferecer o produto na entressafra. Aplicação de reguladores de crescimento: Os reguladores de crescimento são utilizados nas figueiras para se obter colheitas mais precoces. Esses reguladores atuam antecipando a brotação dos ramos, iniciando mais cedo, entre os meses de novembro e dezembro. Utiliza-se calcionamida na dose de 20kg/100 litros de água. Além disso, os reguladores agem também antecipando a maturação dos frutos. Realiza-se a aplicação de etileno ou óleos vegetal no ostíolo do figo acelerando o processo de maturação. 9. PRAGAS, DOENÇAS E NEMATÓIDES Pragas Broca-dos-ramos (Azochis gripusalis): Causada pelas larvas de uma mariposa que põe os ovos sobre os ramos ou na base do pecíolo das folhas. Inicialmente, as larvas se alimentam da casca tenra dos ramos onde se deu a eclosão. À medida que se desenvolvem, atinge a parte lenhosa dos ramos, restringindo-se seu ataque à medula. No local de penetração da broca, notamse excrementos ligados por uma teia de natureza sedosa, que vai obstruir a entrada da galeria, protegendo a broca. A maior infestação da praga verifica-se depois de novembro, podendo chegar até abril. O controle deve ser feito integrando-se métodos culturais (podas rigorosas dos ramos e limpeza da área), físicos (uso de armadilhas luminosas) e químicos (Dipterex-50 - 300 ml/100 litros de água ou calda bordalesa, Folidol-600 - 100 ml/100 litros de água ou calda bordalesa, Deltametrina-2,5CE- 50 ml/100 litros de água ou calda bordalesa). Broca do Tronco (Colobogaster cyanitaris): Estas brocas são larvas de coleópteros que abrem galerias nos ramos e troncos da figueira. Causam a murcha e a seca dos ramos, folhas e frutos localizados acima da região do ataque. Os troncos atacados podem apresentar feridas e galerias, mas em todos os casos acabam secando e levando a planta ao definhamento e morte. Para o controle, recomenda-se mistura de um inseticida fosforado, pulverizando o tronco da figueira ou pode ser feito, ainda, o pincelamento do tronco após a poda com uma das misturas: 10kg de cal, 2kg de enxofre, 1kg de Diazinom M40 e 1kg de sal em 100 litros de água. Cochonilhas (Asterolecanium pustulans): As cochonilhas são bastante prejudiciais às plantas, pois vivem na superfície de diversos órgãos vegetais aéreos, onde se fixam e sugam a seiva dos tecidos, enfraquecendo a planta. O controle das cochonilhas deve ser feito no período de entressafra, após a poda dos ramos, dada a dificuldade de se fazer o controle durante a brotação e a frutificação. Deve-se efetuar a aplicação durante o repouso vegetativo com óleos emulsionáveis. Doenças Ferrugem (Cerotelium fici): É uma doença difundida por todas as áreas em que se cultiva a figueira e é considerada a doença de maior importância da cultura. A doença caracteriza-se pelo aparecimento de pequenas manchas verde-amareladas nas folhas, sendo que na página inferior delas, corresponde à área das lesões, formam-se pústulas recobertas por uma massa pulverulenta ferruginosa constituída de esporos do fungo. Em conseqüência do ataque, causa a queda prematura de folhas, fazendo com que os figos cresçam minguados, com péssima qualidade e caiam prematuramente. O controle da ferrugem deve começar com os tratamentos de inverno, poda, eliminação de todos os órgãos passíveis de se constituírem em fonte de inóculo primário para a estação seguinte, inclusive as folhas caídas no chão, as quais devem ser queimadas. Pulverizações com calda bordalesa a 1%, fazendo-se pulverizações quinzenais das plantas durante primavera e verão. No outono o tratamento pode ser mais espaçado. Antracnose (Colletotrichum gloesporioides): Também é conhecida como podridão do fruto, pois pode causar a formação de manchas necróticas e o apodrecimento dos frutos em estágio adiantado de maturação, inutilizando-os ou reduzindo seu valor comercial. Nas culturas onde é feito um bom controle da ferrugem, esta doença não constitui problema. Após a colheita, deve-se fazer a imediata destruição, pelo fogo, de todas as partes vegetativas atacadas pelo fungo. Nematóides Atualmente, o nematóides Meloidogyne incognita, denominado nematóide das galhas, é considerado o maior problema fitossanitário da ficicultura, especialmente nas regiões tradicionais produtoras de figos. Os nematóides causam a formação de galhas que obstruem o fluxo normal da seiva dos assimilados, fazendo com que diminua a taxa fotossintética e criando uma porta de entrada para outros microorganismos como fungos, vírus e bactérias. As raízes atacadas apodrecem e morrem, ao passo que a planta tenta reagir emitindo novas raízes para substituir as destruídas. Quando o ataque é intenso, a figueira é enfraquecida visivelmente e pode chegar a morrer, dependendo da intensidade do ataque. Inúmeras medidas de controle são preconizadas, dentre as quais: a) usar mudas sadias oriundas de estacas e nunca de rebentos ou filhotes enraizados; b) usar terrenos livres de nematóides, evitando-se os arenosos, pois, nesta condição, o nematóide se difunde mais rapidamente; c) fazer arações pesadas para expor os nematóides à superfície, deixar o terreno sempre limpo e fazer rotações de cultura com Crotalaria spectabilis ou cravo de defunto (Tagetes sp.); d) como o principal disseminador é o próprio agricultor, deve-se evitar ao máximo a entrada de solo de área contaminada. Deve-se, também, observar a procedência da água que será utilizada para a irrigação; e) cultivar em solos argilosos e evitar solos arenosos por favorecerem a propagação do nematóide; f) fazer uso de cobertura morta para favorecer o desenvolvimento de parasitas e nematófagos; g) usar nematicidas, embora dispendioso, controla nematóides, possibilitando maior vigor às plantas. 10. COLHEITA E PÓS-COLHEITA A época de colheita na região de Valinhos (SP) se estende desde novembro até maio. O período de colheita pode ser estendido de outubro a agosto, dependendo da época da poda. Na maior parte das regiões produtoras, o período da safra está ao redor de novembro a abril. A colheita deve ser feita diariamente, procedendo-se manualmente, e sendo realizada logo pela manhã, nas horas mais frescas do dia para evitar o seu rápido dessecamento. Dependendo do sistema de podas, pode-se ter duas produções distintas durante o ano. A primeira menor, chamada de brebas, cujos frutos são provenientes de gemas dos ramos do ano anterior. E a segunda são os frutos provenientes dos ramos do ano. No Estado de São Paulo faz-se apenas a colheita nos ramos do ano. Por serem muito sensíveis, os figos devem ser arrancados com cuidado da planta, com todo o pedúnculo, e depositados com delicadeza nos cestos de coleta. Estes cestos de madeira, geralmente, são forrados com palha, algodão ou espuma fina. No entanto, a EMBRAPA, visando a redução dos impactos negativos causados no transporte, desenvolveu uma cesta para a acomodação dos figos, onde cada fruto é colocado em células individuais e anatômicas. Com isso, evita-se a cesta de madeira, na qual os frutos ficam uns sobre os outros e manchados pelo látex que escorre do pedúnculo recém-destacado, formando um depósito propício à contaminação. Na cesta, o pedúnculo fica para baixo, evitando danos mecânicos e manchas. A cesta de plástico é mais higiênica e ergonômica, e foi construída com material totalmente lavável, evitando a contaminação por microrganismos indesejáveis. Os figos destinados para a mesa devem ser colhidos "de vez", para poderem chegar ao mercado sem deteriorarem. Já o figo, quando utilizado pela indústria para a produção de figo em calda, é colhido 20 a 30 dias antes do figo para a mesa e deve ser colhido quando a cavidade central estiver completamente cheia. A qualidade inicial dos figos é fundamental para a sua vida em póscolheita, razão pela qual é recomendado o pré-resfriamento. A deterioração dos figos será mais ou menos rápida, dependendo da temperatura à qual as frutas foram expostas. Através da refrigeração, é possível controlar o crescimento de microrganismos, reduzir a atividade respiratória e retardar a atividade metabólica. A conservação do figo de mesa (maduro) em câmaras frias, à temperatura de 0 a 4ºC e com 85% de umidade relativa do ar permite sua conservação por até 10 dias, mas apresenta o inconveniente de uma vez retirados, terem de ser consumidos no máximo em 2 dias. Técnicas como o uso de atmosfera modificada também tem sido muito utilizada na conservação do figo de mesa. Para a comercialização, as vendas são realizadas diretamente com as indústrias ou via CEASA e CEAGESP, o qual desenvolveu uma cartilha de Normas de Classificação, visando a padronização e organização do comércio do figo de mesa. Essa cartilha está de acordo com o programa de Produção Integrada de Figo (PIF Figo), desenvolvido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) através da Coordenadoria de Assistência Técnica e Integral (CATI). O PIF Figo tem o objetivo de obter frutos de alta qualidade, priorizando os princípios da sustentabilidade, da preservação dos recursos naturais e de uso racional dos insumos modernos, tendo como resultado um figo produzido de maneira ambientalmente correto e socialmente justo. economicamente viável, Bibliografia Consultada I Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Figueira. Anais, Ilha Solteira, 18 a 29 de novembro, 1999. II Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Figueira, Campinas, 12 a 14 de maio, 2010. AGRIANUAL- Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo: Instituto FNP, 2010. 310p. CATI. Distribuição geográfica da área cultivada e número de produtores ano 2007/2008, 2010. Disponível em: < http://www.cati.sp.gov.br/ projetolupa/mapaculturas/figo.php>. Acessado em: 29.set. 2010. CEAGESP. Desafios da produção de figo: Novidades no Mercado - Frutas e Hortaliças Frescas. Centro de qualidade em horticultura – Hortibrasil, 2010. Disponível em: < http://www.hortibrasil.org.br/jnw/index.php? option=com_content&view=article&id=809%3Adesafios-da-producao-defigo&catid=64%3Afrutas-e-hortalicas-frescas&Itemid=82>. Acesso em: 11.out.2010. CEAGESP. Normas de Classificação: manejo e logística da colheita e póscolheita na produção integrada de frutas no Brasil. Programa Brasileiro para a Modernização da Horticultura. 2006. EMBRAPA Instrumentação Agropecuária. Cesta de figo estará pronta para aquisição em 30 dias. 2003. Disponível http://www.cnpdia.embrapa.br/noticia_06082007.html> em: Acesso < em: 30.set.2010. FAO (2010). Statistical – database. Disponível em: < http://faostat.fao.org/site/ 339/default.aspx>. Acesso em 11.out.2010. GOMES, R.P. Fruticultura Brasileira. Ed. Nobel, n. 13, 446p. 2007 IEA. A cultura do figo no Estado de São Paulo. 2005. Disponível em: < http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=2314>. Acesso em: 11.out.2010. SIMÃO, S. Tratado de fruticultura. Piracicaba: FEALQ, 1998. 760 p.