O plano de salvação segundo o evangelho de Cristo exposto por Paulo na Carta aos Romanos pode ser resumido em quatro aspectos: justificação, regeneração, santificação e glorificação. No presente estudo focalizamos apenas o aspecto “justificação pela fé sem as obras da lei” (sem pretendidos méritos pelo cumprimento de preceitos), com a finalidade de nos levar a fazermos uma avaliação sincera dos fundamentos doutrinários em que nossa fé e, portanto, nossa prática de vida se assentam; e para avaliarmos nossa consagração no esforço de divulgarmos o evangelho de Cristo. Os homens são tentados a pensar que a justificação seja alcançada mediante a guarda de mandamentos e da prática de atos meritórios perante Deus e os homens. Essa tentação tem desviado multidões da confiança nos méritos da justiça que vem de Deus para a falsa ideia de alcançar a salvação pelo próprio esforço. Esta tentação tem levado muitos grupos religiosos à adoção de uma religiosidade enganosa que consiste na observância de ritos e preceitos. Por isto, precisamos entender e anunciar a justiça verdadeira que vem de Deus pela fé em Jesus e em seu sacrifício para nossa salvação. A justiça de Deus é alcançada somente por meio da fé Romanos 3.21-24 – Nos tempos do Novo Testamento esta verdade era algo de revolucionário: a justiça de Deus acessível pela fé em contraste com a busca da justiça mediante as obras. Deus requer justiça, mas é ele mesmo quem a providencia. Para tanto, enviou ao mundo o seu Filho Unigênito, o Verbo que se fez carne, e que recebeu o nome de Jesus, o Cristo. A lei só serve para revelar ao homem o seu pecado, para conduzilo ao sentimento de incapacidade e consciência de que precisa de Cristo, única esperança de salvação. Em Cristo se manifesta a justiça de Deus sem a lei. O evangelho Fidelidade - Romanos: justificação pela fé 13 não contradiz a lei de Deus e nem os profetas; ao contrário, testifica da necessidade dessa justiça de Deus, porque as exigências da lei revelam as imperfeições do homem; quanto aos profetas anunciaram a justificação gratuita pelo evangelho: “mas o justo pela sua fé viverá” (Habacuque 2.4). A justiça de Deus é oferecida aos homens pecadores, que nada merecem, como uma dádiva, cuja única esperança está na graça de Deus que nos justifica (redime da culpa e declara-nos justos mediante a fé em Cristo). Justiça de Deus é realizada na expiação feita por Jesus em seu sacrifício Romanos 3.25,26 – Para satisfação das exigências da justiça de Deus, era necessário fazer uma oferta pelo pecado, dada a sua ira justa contra toda a impiedade e injustiça dos homens. Para agir de acordo com as exigências de sua própria natureza moral, Deus entregou o seu Filho Unigênito como o meio de expiação do pecado da humanidade. O Cristo cru- Para agir de acordo com as exicificado é a dádiva do amor de Deus gências de sua própria naturepara a salvação dos homens (Jo 3.16). za moral, Deus entregou o seu Portanto, Deus cobrou em Jesus Cristo Filho Unigênito como o meio de o preço da redenção da humanidade e expiação do pecado da humaassim satisfez plenamente a necessida- nidade. O Cristo crucificado é a de máxima dos homens como também dádiva do amor de Deus para a a exigência de sua justiça que requer salvação dos homens. derramamento de sangue pelo pecado: “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22); “Por seu próprio sangue (...) havendo efetuado uma eterna redenção” (Hb 9.12); “Temos a redenção pelo sangue, a remissão das ofensas segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1.7); “e o sangue de Jesus Cristo, seu filho, nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1.7). A morte de Jesus Cristo na cruz do Calvário foi a oferta propiciatória (que torna o homem propício, aceitável aos olhos de Deus) pelo pecado diante de Deus e diante do universo, oferecida uma vez por todas. Esta bênção torna-se disponível a todos os homens sem distinção de raça ou classe, mediante a fé. Assim Deus é “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (3.26). A justiça de Deus exigia que o pecado fosse castigado, enquanto a misericórdia de Deus não permitia que ele abandonasse o homem à sua sorte de condenação. Tanto a justiça quanto a misericórdia de Deus foram satisfeitas na morte de Cristo em substituição ao pecador. Por esta razão a cruz de Cristo (não cruz objeto, mas a morte de Cristo na cruz é central no evangelho). Foi na cruz que a justiça e a misericórdia de 14 Fidelidade - Romanos: justificação pela fé Deus se juntaram para realizar a obra de reconciliação do homem com Ele. Justiça de Deus exclui a jactância Romanos 3.27 – Jactância é orgulho, vaidade, ostentação, contar vantagem. Visto que nenhum homem tem mérito diante de Deus, que o justifique, e visto que Deus enviou o seu Filho como oferta pelo pecado do homem, segue-se que ninguém tem como jactar-se. Os judeus, entretanto, não entendiam isto. Eles se jactavam por serem descendentes de Abraão, A justificação é somente pela por serem circuncidados, e porque se fé. A jactância é excluída porconsideravam cumpridores da lei. In- que ninguém merece nada. A felizmente ainda hoje existem os que misericórdia e a justiça de Deus confiam em sua própria justiça ou nas não comportam qualquer ideia regras de algum sistema a que pertende mérito humano. çam. O pecador não pode ser justificado pela lei, nem pelo procedimento que adota, por melhor que seja. A justificação é somente pela fé. A jactância é excluída porque ninguém merece nada. A misericórdia e a justiça de Deus não comportam qualquer ideia de mérito humano. Ao concluir que “o homem é justificado pela fé sem as obras da lei”, o apóstolo Paulo derrubou o muro de separação que havia entre judeus e gentios, mostrando que Deus é o Salvador de todos os que criam em Jesus, sejam judeus, sejam gentios. Isto cancela toda a possibilidade de manifestação de orgulho por parte de qualquer pessoa que professe ser cristão. Sendo Deus de todos os homens, Ele se interessa por todos. Mas Ele não tem um meio de salvação para os que conhecem o evangelho e outro para os que não conhecem. Daí a necessidade de pregarmos a salvação pela fé em Cristo a toda a criatura. Abraão foi justificado pela fé Romanos 4.1-25 – Para ilustrar a fé salvadora sem as obras da lei, Paulo citou o exemplo de Abraão, o maior representante do povo hebreu. Paulo mostrou que, ao contrário do que pensavam os judeus, Abraão não era um exemplo de justiça mediante cumprimento da lei, mas sim um exemplo de justificação pela fé (4.4). A fé é que lhe foi imputada como justiça, e não suas obras. Aliás, Abraão viveu séculos antes da doação da lei a Moisés. Fidelidade - Romanos: justificação pela fé 15 O exemplo de Abraão é colocado na galeria dos heróis da fé no capítulo 11 da Carta aos Hebreus: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.8-10). PARA APLICAR À VIDA 1. Qualquer ideia de mérito por parte do pecador está fora do significado do evangelho. E as obras, visto que temos que viver uma nova vida em Cristo? As obras ou feitos, procedimentos justos dos crentes, não são a causa de sua salvação, mas são resultantes dela. Justificados pela fé, nós somos novas criaturas, e passamos a praticar os atos de justiça conforme o caráter de Deus. 2. Visto que alcançamos a salvação pelo amor de Deus sem nada merecermos, devemos viver de modo humilde diante de Deus e dos homens, com o coração cheio de gratidão, e devemos nos consagrar ao serviço de Deus como suas testemunhas. Cada crente é uma testemunha de Cristo, é uma testemunha da eficácia do evangelho da graça, que transforma as pessoas. Olhando para nossa maneira de viver, os pecadores devem valorizar o evangelho que pregamos. Estará nossa vida ajudando a levar pessoas perdidas a se interessarem pela justiça de Deus que vem pela fé? 3. Para Meditar − Rm 3.28 − Nenhum homem tem nada de bom em sua natureza que possa torná-lo justo diante de Deus. Somente Jesus Cristo, o Filho de Deus é justo. Quando o pecador, pela fé (crença, confiança e submissão) crê em Jesus como o Filho de Deus, Salvador e Senhor, a justiça de Jesus lhe é atribuída e, então, o pecador é transformado em nova criatura e alcança a salvação. Esta verdade destrói a ideia de salvação pelas obras, pela religiosidade, pela reencarnação, por passar por purgatório, ou qualquer ideia de outro meio imaginado e criado pelos homens. Esta verdade deve nos incentivar a pregarmos cada vez mais o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo. O homem nunca pode obter a salvação por aquilo que faça. A salvação é favor de Deus ao homem dada exclusivamente mediante a fé em Cristo Jesus. 16 Fidelidade - Romanos: justificação pela fé