XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. EXANTEMA COITAL EQUINO – RELATO DE CASO Mychelle Bruna da Silva Barros1, Ana Emília Rodrigues da Mota2, Paulo Fernandes de Lima3. Introdução Há cinco tipos de vírus causadores de herpes equino, dos quais o HVE-1 e HVE-4 penetram pela via respiratória, causando aborto em éguas entre o 5º e 9º mês de gestação, além de atacar o Sistema Nervoso Central (SNC) levando a um quadro de incoordenação e paresia e, rinopneumonite, respectivamente. O HVE-2 está associado a lesões oculares, como a ceratite e conjuntivite. O HVE-5 ainda não tem sintomatologia identificada, mesmo já tendo sido isolado. O HVE-3 é o causador do exantema coital equino (ECE), e diferente dos demais, é transmitido pela via genital. Em todos os tipos de herpesvírus, a infecção persiste latente no organismo após o contato inicial, e em situações de estresse ou baixa de imunidade, surgem os sintomas clínicos da doença, onde os equinos são transmissores na fase ativa da infecção. O ECE é causado pelo herpesvírus equino tipo 3 (HVE-3) e constitui-se em uma dermatite da região genital de éguas e garanhões transmitida de forma venérea. A ocorrência de anticorpos neutralizantes para o HVE-3, principalmente em equinos com idade reprodutiva, sugere que a disseminação dessa infecção seja pelo coito genital. Uma égua inaparentemente infectada transmite o vírus para um garanhão durante o acasalamento, e este transmite para outras éguas susceptíveis, antes de desenvolver sinais clínicos da doença (Smith, 2006). A doença é recidivante, em geral discreta e transitória, acometendo a vulva e o períneo de éguas e o pênis e prepúcio de garanhões (Smith, 2006). A superfície epidérmica não necessita estar lesionada para que se estabeleça a infecção por HVE-3. A infecção se limita ao epitélio estratificado da epiderme (Thiry, 2007). Os sinais clínicos no garanhão, às vezes, é mais grave que os observados nas éguas, e pode incluir manifestações sistêmicas tais como embotoamento, anorexia e febre. A incubação é de dois a dez dias, e há o desenvolvimento de vesículas de até 1,5cm de diâmetro, primeiramente no pênis e, em seguida, no prepúcio dois a cinco dias depois. As vesículas evoluem para pústulas circunscritas com bordas elevadas e centros deprimidos, havendo desprendimento epidérmico do tecido necrótico, formando erosões e úlceras. É raro observar crostas em lesões penianas, devido à remoção feita pela extensão e retração do pênis durante o acasalamento (Smith, 2006). Os tecidos adjacentes apresentam-se edemaciados e eritematosos, e raramente podem aparecer lesões na conjuntiva, lábios, narinas e mucosa do trato respiratório superior (Thiry, 2007). Alguns garanhões acometidos podem se recusar a montar éguas, enquanto outros montam prazeirozamente, mesmo enquanto estão presentes lesões penianas extensas. O ECE não acomete a fertilidade das éguas, mas a libido pode estar reduzida em garanhões devido à dor durante o coito. Após a infecção é adquirida certa imunidade ao vírus, pois é comum a reinfecção sem recorrência de doença clinicamente aparente. É provável que o vírus permaneça na genitália de uma forma latente (Smith, 2006). O diagnóstico, em geral, pode ser feito com base nos sinais clínicos característicos. Durante a fase aguda, o vírus pode ser isolado de swabs ou raspado obtido nas margens das erosões, ou conferido pelo uso de um microscópio eletrônico para visualizar as partículas típicas de herpesvírus em amostras liquidas ou teciduais. Observam-se corpúsculos de inclusão intracelulares em células epiteliais em cortes histológicos colhidos da borda ativa das úlceras. A demonstração de títulos de anticorpos no soro pode ser útil no estabelecimento do tempo de exposição ao vírus (Smith, 2006). A cicatrização ocorre em poucas semanas, quase sempre deixando manchas despigmentadas. Não é necessário tratamento, a menos que ocorra infecção bacteriana secundária. Como a infecção com o HVE-3 é auto limitante, o tratamento local com pomadas cicatrizantes e antibióticas não irá acelerar a cicatrização, mas pode reduzir ao mínimo as infecções secundarias e as feridas (Smith, 2006). O repouso sexual é recomendado até que as lesões estejam cicatrizadas, para evitar a disseminação da doença. O prognóstico é bom (Ferreira, 2010). Material e métodos A. Paciente Um equino, mestiço, nove anos de idade, 450kg, orquiectomizado, proveniente da região da Zona da Mata de Pernambuco. O paciente vinha apresentando um quadro de inquietude, provocando que o mesmo mordesse sua genitália, onde esta possuía odor desagradável e secreção purulenta, sendo causa principal da queixa do proprietário. 1 Primeiro Autor é Mestranda em Ciências Veterinárias pelo Programa de Pós- Graduação do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Bolsista CNPq. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n, Dois Irmãos CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] 2 Segundo Autor é Médica Veterinária Especialista em Equinos. Estrada de Aldeia, Km 5,5 Camaragibe-PE 3 Terceiro Autor é Professor Doutor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n, Dois Irmãos CEP: 52171-900 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. B. Conduta clínica No atendimento clínico foi observado a presença de exsudato fétido e amarelado proveniente do óstio prepucial, prepúcio e corpo do pênis, o qual se apresentava avermelhado e ferido, de onde escorria secreção para os membros posteriores do paciente, além de prurido. Foi administrado Acepromazina 1%, na dose de 0,05 mg/kg, para que houvesse relaxamento e exposição do pênis, facilitando a limpeza e coleta de swab para cultura bacteriana da região prepucial e uretral. Após a limpeza, foram visualizadas múltiplas lesões circunscritas e ulceradas, e cicatrizes em forma de manchas esbranquiçadas ao longo do corpo peniano e prepúcio, indicando uma infecção secundaria a um quadro de ECE. Realizou-se a coleta de sangue para exame de sorologia. C. Exames laboratoriais e tratamento Foi realizada a sorologia para o HVE-3. A cultura e antibiograma do material colhido no pênis e prepúcio foi realizado pelo Instituto Hermes Pardini®, e como método foram utilizados os sistemas de isolamento e identificação, e tanto no material colhido na região prepucial como na uretral, foram isolados Proteus mirabilis e Enterococcus sp, ambos em crescimento abundante. O tratamento inicial foi à base de Oxitetraciclina, o qual foi modificado devido ao resultado da cultura e antibiograma indicar a resistência à droga. A partir disso, a Ampicilina injetável foi instituída com base na sensibilidade dos agentes apresentada no antibiograma, na dose padrão, durante 10 dias, limpeza do pênis e prepúcio com sabão neutro, utilizando o advento da administração da Acepromazina 1%, para facilitar a exposição do órgão. Resultados e Discussão O resultado sorológico teve uma titulação positiva para HVE-3. No exame da cultura e antibiograma o crescimento abundante de Proteus mirabilis mostrou-se sensível à: Cefalotina, Ampicilina, Amoxicilina Ácido-Clavulânico, Gentamicina, Sulfa-Trimethoprim, Amicacina, Tobramicina, Ceftriaxona, Cefotaxima, Cefoxitina, Ciprofloxacina, Enrofloxacina, Florfenicol, e resistente à tetraciclina. Já o antibiograma referente ao Enterococcus sp, foi sensível à: Penicilina, Ampicilina, Amoxicilina Ácido-Clavulânico, Enrofloxacina, Florfenicol, Ciprofloxacina, e também resistente à tetraciclina. Diante dos resultados obtidos, pode-se observar que o estresse leva à agudização da doença, devido ao fato de que o paciente ser castrado, o que mostra que a infecção inicial é antiga, havendo uma infecção bacteriana secundária com lesões no epitélio, como cita Smith (2006). Apesar de não haver tratamento específico (Smith, 2006), a bacteremia deve ser tratada a fim de evitar maiores complicações como miíase e necrose tecidual, onde a antibioticoterapia empregada deve se basear na sensibilidade do antibiograma, de acordo com Ferreira (2010). Além disso, devem-se redobrar os cuidados com esforço em excesso, manejo/alimentação incorretos, distúrbios hormonais, infestação por parasitas, utilização de certos medicamentos e outros fatores imunodepressores, que podem reativar e até levar a multiplicação do HVE-3, tornando o animal uma fonte de infecção no plantel. Agradecimentos Ao Professor Doutor Paulo Fernandes de Lima e a Médica Veterinária Ana Emília Rodrigues da Mota pela colaboração de sempre. Ao CNPq pelo financiamento das pesquisas. Referências Ferreira, C.; Costa, E. A.; França, S. A.; Melo, U. P. de; Drumond, B. P.; Bonfim, M.Q.R.; Coelho, F. M.; Resende, M.; Palhares, M.S.; Santos, R.L. Equine coital exanthema in a stallion. Arquivo Bras. Med. Chem. Vet. Zootec. Vol.62, n.6, Belo Horizonte, MG. Dezembro, 2010. Smith, B. P. Medicina Interna de Grandes Animais/ Bradford P. Smith. -- 3ed. – Barueri, SP: Manole, 2006, p. 1314; 1336. Thiery, E. Equid Herpesvirus 3 Infection of Horses: Virological Aspects and Pathogenesis. Service de Virologia et Pathologia des Maladies Virales/ Departement des Maladies Infectieuses et Parasitaires/ Faculte de Medicine Veterinaire/ Universite de Liege; 2007-2008 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Figura 1: Presença de exsudato fétido e amarelado no óstio prepucial. Fonte: Arquivo Pessoal. Figura 2: Corpo peniano e prepúcio edemaciado e avermelhado. Fonte: Arquivo Pessoal.