BIODIVERSIDADE E POTENCIAL FITOINDICADOR DA

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 BIODIVERSIDADE E POTENCIAL FITOINDICADOR
DA VEGETAÇÃO DE DUNAS COSTEIRAS DA
BARRA DOS COQUEIROS, SERGIPE, BRASIL
RESUMO
A vegetação é componente primordial na formação e dinâmica das dunas e, em
seu papel relevante, atua como fonte de informações acerca do desenvolvimento
do sistema dunar e dos impactos resultantes de perturbações naturais ou
antrópicas. O estudo de espécies fitoindicadoras se faz importante na medida em
que permite diagnosticar o nível de modificações sofridas pelo ambiente e a rapidez
com que alterações vêm ocorrendo no meio ecológico. A partir desse enfoque, o
presente trabalho objetivou avaliar o potencial fitoindicador das espécies vegetais
encontradas no ecossistema dunar da Praia do Jatobá, Barra dos Coqueiros,
Sergipe, tomando como base a observação e análise qualitativa e quantitativa de
fitoindicadores relacionados à conservação e perturbação de tais ecossistemas. A
metodologia utilizada baseou-se na realização da estimativa das espécies vegetais
com maior grau de recobrimento do solo, bem como na investigação da
sociabilidade destas. Destaca-se que Paspalum maritimum Trin, por suas
características alelopáticas e alelospólica, é fitoindicadora de perturbação do
ambiente dunar. Pela resistência singular da Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br, em
relação aos estresses físicos, sua ocorrência e distribuição constitui um fator crucial
para a existência das dunas embrionárias e garantia da continuidade dos depósitos
eólicos vegetados. Apesar de ser importante fixadora de sedimentos, Paspalum
maritimum Trin pode interferir diretamente na existência e fixação de espécies
nativas e dominar toda a faixa em que estiver presente. A utilização de
fitoindicadores emerge como método relevante na indicação de parâmetros de
conservação e perturbação do ecossistema dunar da Praia de Jatobá.
PALAVRAS-CHAVE: Ambientes Dunares; Conservação; Espécies Fitoindicadoras.
BIODIVERSITY AND PHYTOINDICATOR POTENTIAL OF THE
VEGETATION OF THE COSTAL DUNES OF BARRA DOS
COQUEIROS, SERGIPE, BRAZIL
ABSTRACT
Vegetation is a key component in the formation and dynamics of the sand dunes
and, in its role, it acts as a source of information about the development of dune
systems and the impacts resulting from natural or anthropogenic disturbances. The
study of phytoindicator species becomes important in that it enables us to diagnose
the level of modifications suffered by the environment and the speed that changes in
the ecological environment have been occurring. From this perspective, this work
aimed to evaluate the phytoindicator potential of plant species found in the dune
ecosystem of Jatobá Beach, Barra dos Coqueiros, Sergipe, based on observation
and qualitative and quantitative analysis of phytoindicatiors related to conservation
and disruption of such ecosystems. The methodology was based on the estimation
of plant species with higher degree of soil covering and in the investigation of their
sociability. It is noteworthy that Paspalum maritimum Trin, by its allelopathic and
allelospolic characteristics, is a disturbance phytoindicator of the dune environment.
For the natural resistance of Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br, in relation to physical
stress, its occurrence and distribution is a crucial factor for the existence of
embryonic dunes and ensuring continuity of vegetated eolian deposits. Although it is
important fixative sediment, Paspalum maritimum Trin can directly affect the
existence and establishment of native species and dominate the whole band where
it’s present. The use of phytoindicators emerges as a relevant method in the
identification of parameters for conservation and ecosystem disruption of sand dune
ecosystem of Jatobá Beach.
KEYWORDS: Dune Environments; Conservation; Phytoindicator Species.
Revista Ibero‐Americana de Ciências Ambientais, Aquidabã, v.2, n.1, maio, 2011. ISSN 2179‐6858 SEÇÃO: Artigos TEMA: Ecologia e Biodiversidade DOI: 10.6008/ESS2179‐6858.2011.001.0001 Sindiany Suelen Caduda dos SANTOS http://lattes.cnpq.br/1099852783348463 [email protected] Vinícius Silva REIS http://lattes.cnpq.br/7201694964364931 [email protected] Sueli ANGELO FURLAN http://lattes.cnpq.br/8238156832489494 [email protected] Rosemeri MELO & SOUZA http://lattes.cnpq.br/3339056948815053 [email protected] Recebido: 26/06/2010 Aprovado: 06/11/2010 Referenciar assim: SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R.. Biodiversidade e potencial fitoindicador da vegetação de dunas costeiras da Barra dos Coqueiros, Sergipe, Brasil. Revista Ibero‐
Americana de Ciências Ambientais, Aquidabã, v.2, n.1, p.5‐20, 2011. SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R. INTRODUÇÃO
A área correspondente à zona costeira é estabelecida e descrita mediante a
dinâmica associada dos componentes marinhos, terrestres e atmosféricos, sendo que a
biodiversidade desta pode ser representada pelo complexo organizado de ecossistemas
que se mantém em constante interação através das permanentes trocas de matéria e
energia (FREITAS, 2004).
As dunas litorâneas destacam-se entre os ecossistemas da zona costeira de
relevância ecológica, social e econômica. Por sua diversidade peculiar de flora e fauna e
sua dinâmica ambiental singular, os ambientes dunares têm demonstrado alto valor
científico (CORDAZZO et al, 2006). Para os autores, as dunas costeiras são marcadas
pela diversificação de ambientes que podem variar em função dos diferentes nichos, os
quais existem em virtude da intercomunicação das distintas características biológicas,
geomorfológicas e climáticas.
Por outro lado, em se tratando da relação homem natureza, observam-se
transformações contínuas nestes espaços litorâneos resultantes da convergência de usos
múltiplos decorrentes de diversas atividades humanas. Tais modificações fazem com que
o litoral traduza-se em um espaço dinâmico movido por ações constantes de construção e
reconstrução onde as mudanças são tidas como respostas às alterações advindas das
ações de caráter tanto naturais quanto antrópicas (OLIVEIRA et al., 2010).
Em Sergipe, a Praia de Jatobá tem enfrentado problemas de intensa degradação
ambiental, os quais interferem diretamente na biodiversidade do sistema dunar. A
problemática pode ser explicada pela ocupação desordenada do ecossistema de dunas,
através da especulação imobiliária, pelo turismo não planejado e por práticas agressivas
de deposição de lixo sobre o solo, queimadas recorrentes do lixo jogado, tráfego de
veículos na faixa de dunas e presença de animais soltos.
Nesta perspectiva, a Biologia da Conservação, área de estudo que faz um
relevante paralelo entre ciência e manejo de áreas naturais, tem trazido conceitos e
práticas de extrema importância, as quais discorrem tanto acerca da conservação, como
da restauração de habitats degradados (DIEGUES, 2001), fator importante na
determinação de fitoindicadores.
Dada a sua importância no âmbito da conservação da biodiversidade, indicadores
são informações de caráter quantitativo resultantes do cruzamento de variáveis primárias.
São modelos simplificados da realidade, capazes de facilitar a compreensão dos
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Biodiversidade e potencial fitoindicador da vegetação de dunas costeiras da Barra dos Coqueiros, Sergipe, Brasil fenômenos, de aumentar a capacidade de comunicação de dados brutos e de adaptar as
informações à linguagem e aos interesses locais dos decisores (MAGALHÃES JUNIOR,
2007).
Desta maneira, os indicadores também podem ser objetos de identificação de
perturbação das áreas. De acordo com Pickett e White (1985) citado por Creed (2006), a
perturbação é qualquer evento relativamente discreto que interrompe a dinâmica
ecossistêmica da natureza, da comunidade ou população e provoca alterações nos
recursos, na disponibilidade de substrato ou no meio físico. Saliente-se ainda, conforme
Creed (2006), que distintos tipos de perturbações ocorrem em diferentes ambientes, com
frequências e escalas que podem modificar a depender do ecossistema considerado.
Os indicadores ecológicos podem servir para avaliar a condição do ambiente ou
monitorar tendências nessa condição ao longo do tempo. Eles podem prever mudanças
ambientais, diagnosticar a causa do problema ambiental (DALE; BEYELER, 2001),
apontar ações de conservação ou ainda, se monitorados ao longo do tempo, podem servir
para identificar mudanças ou tendências nos próprios indicadores (NIEMI; MCDONALD,
2004).
O desafio para o futuro dos indicadores ecológicos é selecionar formas apropriadas
de monitoramento e indicadores ecológicos que subsidiem cientificamente iniciativas de
conservação e manejo de áreas.
Nesta direção, a íntima relação entre a composição de espécies e as
características ecológicas locais é bastante útil em estudos de áreas que são submetidas
a condições ambientais severas como as dunas costeiras, nas quais comunidades
vegetais podem ser consideradas indicadores de mudanças ambientais de alta
confiabilidade. Tais indicadores podem ser usados para monitoramento costeiro de longo
e curto prazo, pois tanto o estudo da composição das comunidades, quanto o da
ausência/presença de certas espécies podem ser comparados ao longo de períodos de
tempo (LOMBA et al, 2008).
Partindo do contexto, o presente trabalho objetivou avaliar o potencial fitoindicador
das espécies vegetais encontradas no ecossistema dunar da Praia do Jatobá, Barra dos
Coqueiros, Sergipe, tomando como base a observação de fitoindicadores relacionados à
conservação e perturbação dos ecossistemas dunares.
Mediante a desestabilização do ecossistema dunar da Praia de Jatobá, se faz
necessário elaborar estratégias de gestão e monitoramento do ambiente, a fim de que se
garanta a contínua conservação dos ecossistemas dunares, visando a garantia do valor
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SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R. da região costeira de Sergipe, em relação à utilização inadequada da terra e dos recursos
naturais como um todo e à prevenção contra perdas consideráveis ou destruição total das
dunas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Área de Estudo
A área de estudo refere-se à Praia do Jatobá, no povoado Jatobá. Está localizada
no município da Barra dos Coqueiros, estado de Sergipe, com distância de 18 Km à
Nordeste da sede municipal da Barra dos Coqueiros (Figura 1) (BARRA DOS
COQUEIROS, 2001).
Figura 1: Mapa do Estado sergipano, com destaque para o município da Barra dos Coqueiros.
Fonte: SUPES/SEPLAN (2006)
Em Sergipe, no tocante aos aspectos climáticos do município de Barra dos
Coqueiros, constata-se a presença do clima Megatérmico Subúmido Úmido C2 A’ a’’, que
se destaca como o clima mais úmido do estado e é responsável pelos bons excedentes
hídricos no final do outono e no inverno, e carência hídrica moderada no verão. As
precipitações variáveis na área de estudo estão ligadas ao predomínio da circulação do
anticiclone semi-estacionário do Atlântico Sul, fator primordial ao estabelecimento do
tempo estável e das estações secas na primavera e verão. O regime de ventos alíseos
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Biodiversidade e potencial fitoindicador da vegetação de dunas costeiras da Barra dos Coqueiros, Sergipe, Brasil oriundos desse anticlone alcança a zona costeira a partir de duas direções principais SE e
NE (MARTIN et al., 1998 citado por SANTANA, 2006).
A geografia tropical, a baixa altitude e a posição litorânea do município, ocasionam
temperaturas médias compensadas anualmente que variam em torno de 24°C e 27°C,
enquanto que as temperaturas médias anuais das máximas sugerem índices térmicos que
oscilam entre 29°C a 30° C, e das mínimas de 20°C a 22°C (SANTANA, 2006).
Os transectos da área de estudo foram cartografados (Figura 2). Conforme Passos
(2003), a cartografia associada à vegetação é relevante para realização de estudos
ecológicos. Além disso, este autor considera que a cartografia permite representar a
paisagem para interpretação do meio natural.
Figura 2: Transectos delimitados em área situada no povoado Jatobá, município de Barra dos Coqueiros,
2003. Fonte: SEPLAN (2003). Elaborado por MALTA; SANTOS (2011)
Materiais e Métodos
Foram delimitados 4 transectos com dimensão de 25x25m, seguindo a metodologia
de Scâffer adaptado por Melo e Souza (2003). Os transectos definidos foram
determinados mediante a necessidade de demonstrarem-se as feições dunares
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SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R. existentes, as quais se constituem desde a faixa de praia e dirigem-se para a faixa de
dunas incipientes, continuam com as dunas semi-fixas e seguem para a faixa de dunas
fixas, associada à distribuição das espécies vegetais.
A proposta de estudo baseou-se na coleta de material botânico presente nos
transectos com presença de plantas. Nesta perspectiva, as coletas foram realizadas
apenas em 3 transectos (dunas incipientes, dunas semi-fixas e dunas fixas) As amostras
foram conduzidas ao herbário ASE da Universidade Federal de Sergipe para identificação
taxonômica. Com o auxílio de análises canônicas, a flora coletada foi descrita em face de
suas relações ecológicas peculiares e caracterizadas como nativas ou exóticas.
O potencial fitoindicador das espécies foi estudado por meio da investigação de
características ecológicas das espécies chave para formação dos depósitos eólicos
vegetados, bem como através do estudo de parâmetros fitossociológicos, tais como a
estimativa das espécies vegetais com maior grau de recobrimento do solo e a
investigação da sociabilidade destas. As escalas de magnitude do grau de cobertura e
sociabilidade das espécies utilizadas para tal investigação é sugerida pela bibliografia de
Braun - Blanquet (1979, citado por Passos 2003) (Quadro 1).
Quadro 1: Escalas de magnitude do grau de cobertura e da sociabilidade de espécies vegetais (BRAUN
BLANQUET, 1979)
ESCALA DE MAGNITUDE
GRAU DE COBERTURA (%)
SOCIABILIDADE
-
<1
1
1 a10
Indivíduos isolados (caules ou troncos
isolados)
2
10 a 25
Em pequenos grupos (tufos)
3
25 a 50
Em grupos maiores
4
50 a 75
Em colônias ou tapetes extensos
5
75 a 100
População contínua
Desta maneira, para cada espécie encontrada na localidade estudada foram
calculados os parâmetros fitossociológicos equivalentes ao valor de cobertura e
frequência através das seguintes fórmulas:

VC = Soma das porcentagens de cobertura da espécie na parcelas x (100) / Número total de
parcelas.

FREQUÊNCIA = Número de parcelas com ocorrência da espécie nas parcelas x 100 / Número total
de parcelas.
A análise da zonação fitogeográfica dentro da perspectiva da fitoindicação das
espécies presentes na Praia de Jatobá foi feita a partir do método de croqui, a fim de
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Biodiversidade e potencial fitoindicador da vegetação de dunas costeiras da Barra dos Coqueiros, Sergipe, Brasil retratar o perfil da vegetação das dunas da Praia. Consoante Pissinati & Archela (2007),
croqui é o delineamento de uma área real feito sem preocupações com as medidas e as
distorções, em que o mais importante é mostrar os elementos observados na localidade
estudada, a sua relevância e a sua disposição, ressaltando a dependência dos elementos
entre si. Ainda através do croqui o mapeamento é expresso por meio da seleção das
informações consideráveis que são sintetizadas na representação bidimensional.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram encontrados registros de espécies vegetais apenas a partir do segundo
transecto. Doze espécies foram registradas, pertencentes a 10 famílias. O quadro 2
apresenta o número de espécies e famílias distribuídas em cada transecto, além dos
valores de cobertura e de freqüência das espécies vegetais sobre o solo.
Através das análises florísticas e fitossociológicas feitas a partir da vegetação
dunar da Praia do Jatobá, foi possível inferir um panorama geral sobre o potencial
fitoindicador das espécies (indicadores ecológicos) encontradas. Os levantamentos
florísticos foram fundamentais para o conhecimento da situação em que se encontra a
biodiversidade local, no que se refere aos dados florísticos.
Quadro 2: Espécies e famílias registradas e relação entre frequência e valor de cobertura
OCORRÊNCIA DE
VALOR DE
ESPÉCIE
FAMÍLIAS
VEGETAÇÃO
COBERTURA
Dunas Incipientes
Ipomoea pes-caprae (L.)
Convolvulaceae 700
(Transecto 2)
R. Br
Dunas semi fixas
(Transecto 3)
Dunas fixas
(Transecto 4)
FREQUÊNCIA
(%)
25
Paspalum maritimum Trin
Poaceae
1575
25
Chamaesyce cf. thymifolia
(L.) Millsp.
Euphorbiaceae
232,5
25
Fabaceae sp.
Fabaceae
600
25
Vernonia sp
Poaceae sp.
Conocliniopsis prasiifolia
(DC.) R.M. King & H. Rob
Byrsonima sericea DC.
Asteraceae
Poaceae
Asteraceae
775
634
500
50
50
25
Malpighiaceae
250
25
Vernonia sp
Borreria capitata (Ruiz &
Pav.) DC
Malvaceae sp.
Ziziphus joazeiro Mart.
Asteraceae
Rubiaceae
500
575
50
25
Malvaceae
Rhamnaceae
700
325
25
25
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SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R. Do total de 12 espécies encontradas, apenas 8,3% delas são características de
sistemas dunares, que é a Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br., (CORDAZZO et al., 2006),
cujo valor de cobertura foi de 700. Do total de espécies, 91,7% são exóticas, o que mostra
uma descaracterização vegetacional da área. Moulton e Souza (2006) afirmam que as
espécies exóticas constituem uma das ameaças mais triviais à conservação da
biodiversidade e na maioria dos casos ao mesmo tempo em que se estabelecem no local
limitam a preservação da diversidade.
Na primeira faixa dunar observa-se que a Paspalum maritimum Trin destaca-se
pelo seu alto valor de cobertura. A presença da espécie nesta faixa pode estar
relacionada à quantidade de sementes e à fácil dispersão da maioria das espécies da
família Poaceae, que podem ser dispersas tanto pelo vento (abundante em regiões
costeiras) como por bovinos, presentes na área, que por ventura possam ingerir e assim
transportar sementes dessa espécie.
Quanto a Paspalum maritimum Trin, existem estudos científicos realizados por
Souza Filho (2006) que discorrem acerca de características de alelopatia e alelospolia
que são típicas dessa espécie. Enquanto a alelopatia é um fenômeno químico ecológico
em que metabólitos secundários produzidos por uma espécie vegetal são liberados e
intervém na germinação e/ou no desenvolvimento de outras espécies no mesmo ambiente
(OLIVEIRA et al., 2009), a alelospolia refere-se a interferência que decorre da competição
por fatores abióticos, como água, espaço e nutrientes (SOUZA FILHO, 2006).
Souza Filho (2006), afirma que a Paspalum maritimum Trin é uma espécie marcada
pela rapidez com que domina áreas de pastagens cultivadas, tornando-se em um curto
intervalo de anos, a única ou a principal planta daninha a infestar a área. Acredita-se,
portanto, que tanto a alelospolia, quanto a alelopatia estão envolvidas na maneira como a
espécie invade e domina outras espécies
Ainda de acordo com Souza Filho (2006), a espécie em questão também pode
apresentar efeito direto sobre a germinação de outras espécies quando suas substâncias
são liberadas no solo comprometendo os processos fisiológicos necessários ao
desenvolvimento das plantas afetadas. Os compostos químicos produzidos ao serem
liberados para o substrato impõem limitações à germinação de sementes de outras
espécies, tornando restrito o fluxo de novos indivíduos e comprometendo a renovação de
outras espécies de plantas. Ao restringir o desenvolvimento embrionário da radícula das
espécies que afeta, a Paspalum maritimum Trin diminui a capacidade de competição das
espécies
afetadas
favorecendo,
desta
maneira,
a
sua
própria
proliferação
e
desenvolvimento na área. Tais acontecimentos estão, portanto, associados a fatores
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Biodiversidade e potencial fitoindicador da vegetação de dunas costeiras da Barra dos Coqueiros, Sergipe, Brasil concernentes à alelospolia e à produção e liberação de substâncias químicas
alelopáticas.
Neste contexto, pode-se supor que o alto valor de cobertura expresso pela
Paspalum maritimum Trin nas dunas incipientes da Praia de Jatobá pode estar
diretamente atrelado ao fato de tal espécie apresentar particularidades (alelopatia e
alelospolia) que a fazem destacar-se em meio ao ambiente e principalmente em meio as
outras espécies, limitando ou impedindo a existência de espécies distintas.
Ademais, a Paspalum maritimum Trin tem como característica relevante a sua
resistência ao pisoteio, fogo e seca, sendo que pode ser utilizada como fonte de alimento
para os animais enquanto nova. Logo, observa-se que a espécie possui resistência e
vigor que são também essenciais a sua presença nos campos de restinga (MACIEL, et
al., 2009). Ressalte-se que seguindo a definição proposta por Rizzini (1997), as dunas
situam-se no complexo de restinga.
Além do apresentado, a Paspalum maritimum Trin, juntamente com a Ipomoea pescaprae (L.) R. Br, é considerada importante fixadora de duna, protegendo-a das atividades
erosivas ocasionadas pela ação dos ventos e das chuvas (LEITE; ANDRADE, 2003).
Na perspectiva apresentada, podem-se observar aspectos positivos e negativos da
Paspalum maritimum Trin, no contexto da conservação e perturbação respectivamente,
como espécie marcante na faixa de dunas incipientes das dunas da Praia de Jatobá. Se
positivamente ela tem caráter de resistência e vigor, face a presença de animais e de
características antropogênicas na área e também é importante espécie pioneira
contribuinte para a fixação do sedimento e formação das próximas feições dunares,
negativamente, em decorrência de sua alelospolia e alelopatia peculiares conforme Souza
Filho (2006), limita a existência de espécies nativas de dunas, reduzindo a biodiversidade
da área dunar em que se encontra.
A Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br, segunda espécie de destaque em relação ao
valor de cobertura, é fundamental para a existência das dunas incipientes, em especial
por ser espécie nativa do ecossistema dunar. Suas raízes principais e secundárias
adentram o solo com maior profundidade em relação às outras espécies típicas da faixa
de dunas incipientes. Além disso, a espécie é tolerante a salinidade, a altas temperaturas
do solo, a contínua exposição ao borrifo marinho e aos baixos níveis de nutrientes
(CORDAZZO et al., 2006). Tal fato contribui para a presença característica da espécie na
faixa em questão e para a fixação do substrato arenoso e futura formação das dunas
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SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R. semi-fixas. Como citado anteriormente a Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br é espécie
importante para fixação de dunas.
Apesar da presença do gado constatada in loco, a Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br
provavelmente não sofre herbivoria em virtude das folhas, constituídas pelo alcalóide
ergotamina e látex leitoso, apresentarem ampla proteção ao ataque de insetos e de outros
animais (CORDAZZO et al., 2006). Admite-se que essa proteção como estratégia de
defesa da espécie, associada à resistência singular da Ipomoea pes-caprae (L.) R. Br em
relação aos estresses físicos supracitados, estão ligadas a ocorrência e distribuição da
espécie e são questões cruciais para a existência das dunas embrionárias e garantia da
continuidade dos depósitos eólicos vegetados.
Os estudos concernentes à Chamaesyce cf. thymifolia (L.) Millsp foram limitados
pela ausência de características florais que permitissem sua exata identificação e pela
escassez de indivíduos da espécie na região durante o período estudado. Portanto, faz-se
necessário que maiores estudos sejam feitos a respeito de tal espécie a fim de que se
possa verificar a sua relação com o ambiente dunar e sua limitação no ecossistema, que
poderia estar associada ao fato de localizar-se na mesma faixa em que se encontra uma
espécie daninha e por motivos ecológicos teve sua existência restringida, ou limitada
ainda por conta da perturbação antropogênica a qual está sujeita a primeira faixa dunar. É
relevante ressaltar que a perturbação é um dos fatores basilares responsáveis pela
imposição da heterogeneidade espacial em comunidades biológicas (CREED, 2006).
Saliente-se que o estudo de espécies que compõem a primeira faixa dunar é de
extrema importância, pois, é a partir da relação entre vegetação e fatores abióticos desta
primeira faixa que o ecossistema como um todo irá formar-se e desenvolver-se
posteriormente com as dunas semi-fixas e dunas fixas, consistindo um sistema integrado.
Das espécies encontradas nas dunas semi-fixas a Vernonia sp., da família
Asteraceae, destacou-se com maior grau de cobertura, com valor de 775. Algumas das
espécies pertencentes a esse gênero e encontradas em área de restinga são ditas
invasoras e instalam-se em solos arenosos com textura apropriada para construção civil
(GOMES, 2002). Ressalta-se que a área de dunas semi-fixas de Jatobá dispõe de uma
faixa paralela à linha de casas encontradas na região, o que indica que a perturbação
desencadeada na faixa de dunas semi-fixas associa-se as ações antropogênicas que
modificam o perfil do solo e a paisagem como um todo e consequentemente podem
propiciar a existência de espécies invasoras na área, como indicadoras de perturbação do
ecossistema.
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Biodiversidade e potencial fitoindicador da vegetação de dunas costeiras da Barra dos Coqueiros, Sergipe, Brasil A Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M. King & H. Rob, mesmo tendo apresentado
menor valor de cobertura dentre as outras espécies encontradas, segundo Viana, et al.
(2006) essa é uma espécie invasora e também considerada ruderal. Fatos que
evidenciam mais uma vez a marca da perturbação antrópica na faixa de dunas semi-fixas.
Damasceno e Vianna (1998), afirmam que as espécies ruderais são aquelas que durante
o processo evolutivo adaptaram-se a ambientes urbanos e em alguns casos podem
comportar-se como invasoras, tóxicas, com propriedades inseticidas ou de maneira
positiva podem ser utilizadas para fins medicinais.
Poaceae e Asteraceae destacaram-se quanto à freqüência em relação às outras
famílias encontradas, com valor correspondente a 50%. Tal fator também pode estar
associado à questão da fácil dispersão apresentada por essas famílias, que têm o vento
como principal meio dispersor das suas sementes.
Na faixa de dunas fixas Malvaceae sp. teve um maior valor de cobertura do solo
com valor de 700. Observando-se a literatura de Cordazzo et al. (2006) o que se vê é que
dentre as espécies classificadas como nativas de dunas, nenhuma delas tem como
família a Malvaceae. Mesmo necessitando de maiores estudos que discorram acerca da
presença marcante da família na área, previamente pode-se supor que tal ocorrência
esteja ligada às perturbações antropogênicas.
Ainda nessa faixa de dunas fixas encontra-se a Borreria capitata (Ruiz & Pav.) DC
com valor de cobertura equivalente a 575. Tal espécie cresce espontaneamente em área
de pastagem, beira de estradas e terrenos baldios, onde é considerada espécie daninha
(LORENZI e MATOS, 2002 citado por JUNIOR et al., 2008). Mais uma vez outra espécie
que provavelmente foi introduzida e por suas características daninhas pode atuar como
fator limitante à diversidade florística não exótica do sistema dunar e indicadora de
perturbação da área estudada.
A Vernonia sp. mais uma vez é encontrada, agora na faixa de dunas fixas, e apesar
de ter um valor de cobertura menor em relação aquele descrito na faixa de dunas semifixas é encontrada com freqüência nessa área também com valor equivalente a 50%. A
fácil dispersão típica da família Asteraceae pode ser responsável pela freqüência da
espécie nas duas faixas de dunas mencionadas e em paralelo as condições do ambiente
permitem o desenvolvimento da espécie exótica na área.
A primeira questão em meio à existência da espécie Ziziphus joazeiro Mart. na área
diz respeito ao fato de uma árvore típica de clima semi-árido e endêmica de caatinga
fazer-se presente em uma região de clima úmido. A faixa de dunas fixas outra vez mostra Revista Ibero‐Americana de Ciências Ambientais  v.2 ‐ n.1  Maio de 2011
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SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R. se perturbada. A presença do Ziziphus joazeiro Mart é algo passível de estudos, uma vez
que fatores fisiológicos estão envolvidos na adaptação da espécie em área de dunas.
A Byrsonima sericea DC. pode ser encontrada em área degradada e ainda em
áreas que sofreram efeito do fogo e estão em processo de regeneração (GOMES, 2002).
As dunas da praia de Jatobá sofrem com as queimadas constantes realizadas pela
população que utiliza a incineração como método para desfazerem-se do lixo que
produzem, acarretando na destruição do solo e surgimento de espécies exóticas na
localidade.
O que se pode constatar é que a sociabilidade das espécies encontra-se limitada e
comprometida em face das condições de sobrevivência impostas à vegetação. Os
indivíduos, seguindo a escala de magnitude de Braun Blanquet (1979) citado por Passos
(2003) encontram-se isolados ou formando pequenos grupos em sua maioria. A Vernonia
sp. e a Paspalum maritimum Trin, apenas, encontram se em grupos maiores, mas não há
formação de colônias ou populações contínuas.
Considere-se que o estudo das associações vegetais é uma ferramenta relevante,
uma vez que permite aos pesquisadores monitorar os processos dentro do quadro da
bioindicação para a avaliação da dinâmica costeira (LOIDI, 1994). Salientando que o
presente estudo situa-se no viés da fitoindicação e considera apenas espécies vegetais.
A partir dos parâmetros fitossociológicos estudados, estabelecidos por Braun
Blanquet (1979) citado por Passos (2003), e dos resultados obtidos, infere-se que os
valores de cobertura, a frequência e a sociabilidade de cada espécie expressam a
situação degradativa em que se encontra o ecossistema dunar de Jatobá. Os resultados
fitossociológicos encontrados e aqui descritos apontam o desequilíbrio do sistema dunar.
Partindo do viés da interferência humana no ecossistema de dunas estudado,
pode-se observar que as atividades antropogênicas são marcantes na localidade. As
ações antrópicas são as principais responsáveis pela modificação da paisagem,
interferindo na função protetora da costa exercida pelas dunas e na preservação da vida
selvagem. Os efeitos associados da pastagem e perturbações hidrodinâmicas têm
diminuído a estabilidade das dunas frontais e como efeito a biodiversidade de plantas e
fauna associada tem sido reduzida de maneira crescente (CORDAZZO et al., 2006).
Fatores como ocupação desordenada, deposição de lixo, queimadas que
acarretam na erosão dos solos, invasão de espécies exóticas etc., geram uma sobrecarga
nos sistemas dunares que resultam na alteração da dinâmica natural do ecossistema de
dunas de Jatobá (OLIVEIRA et al., 2010).
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Biodiversidade e potencial fitoindicador da vegetação de dunas costeiras da Barra dos Coqueiros, Sergipe, Brasil Além disso, a extinção de populações e das espécies em si exerce seu primeiro
impacto na sociedade por meio da deterioração dos serviços oferecido pelo ecossistema.
Modificações na dinâmica típica do sistema acarretam mudanças a princípio locais, mas
que podem ter proporções maiores (EHRLICH, 1997).
Em suma, em meio aos dados tabelados (Quadro 2) no que concerne à distribuição
da vegetação, observa-se que o número de espécies é maior na faixa de dunas fixas,
onde a vegetação encontra-se sujeita a fatores ambientais menos estressantes, quando
comparada as outras faixas de estudo. Entre esses fatores de estresse destacam-se
consoante Cordazzo (2006), o vento e sua multiplicidade de efeitos, a instabilidade
intensa dos sedimentos, a deficiência de nutrientes, além do estresse hídrico que
depende do lençol freático e da temperatura. Tanto na faixa de dunas fixas quanto na de
dunas semi-fixas as espécies encontradas são exóticas, o que constata o processo de
modificação recorrente na localidade tanto por fatores físicos, como por fatores
antrópicos. A faixa de dunas semi-fixas apresenta um número menor de espécies em
relação à faixa anterior e as dunas incipientes apresentam apenas três espécies, por ser a
região de maior estresse físico e por todas as características peculiares das espécies já
explicitadas. Ressalta-se que a faixa de praia é desprovida de vegetação em virtude das
constantes ressacas e entre os transectos 3 e 4 há continuidade de dunas semi-fixas
(Figura 3).
Transecto 4
Transecto 1
Transecto 2
Transecto 3
Figura 3: Ilustração demonstrativa das faixas dunares estudadas expressando a variação da ocorrência e
distribuição de espécies em cada faixa.
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SANTOS, S. S. C.; REIS, V. S.; ANGELO FURLAN, S.; MELO & SOUZA, R. CONCLUSÕES
Através da investigação dos parâmetros fitossociológicos das espécies registradas
no ecossistema de dunas da Praia do Jatobá é possível afirmar que a baixa diversidade
de espécies características de dunas pode ser considerada um fitoindicador de
degradação da área.
Podem ser destacadas Paspalum maritimum Trin e Ipomea pes-caprae (L.) R. Br.
como espécies com potencial para serem fitoindicadoras de degradação e conservação
do ambiente em que se encontram. A P. maritimum Trin, por suas características de
alelopatia e alelospolia, forma populações capazes de influenciar com maior intensidade a
ocorrência e a distribuição espacial de outras populações, tendo um papel chave para os
estudos da dinâmica fitogeográfica das espécies vegetais existentes na Praia do Jatobá e
sendo assim de grande importância nos estudos de fitoindicação.
Ipomea pes-caprae (L.) R. Br., por ser importante nos processos de fixação dos
sedimentos e na formação das dunas incipientes, representa um resquício da
permanência de uma espécie nativa que tem resistido às pressões ambientais e que, por
sua vez, pode ser estudada do ponto de vista da fitoindicação já que representa
importante fator na continuação e manutenção dos depósitos eólicos vegetados.
Assim, a composição florística das dunas semi-fixas e fixas como um todo,
representada pelo reduzido número de espécies, principalmente nativas, indica a intensa
perturbação que o sistema dunar da Praia de Jatobá vem sofrendo ao longo dos anos.
Ressaltando que a abundância de espécies exóticas, um dos relevantes fatores
observados, limita a diversidade florística nativa.
É importante salientar ainda que estudos adicionais no âmbito da fitoindicação
necessitam ser desenvolvidos, especialmente com as espécies responsáveis pelo
desenvolvimento das dunas incipientes, primeira faixa de dunas, uma vez que elas irão
atuar de maneira decisiva na formação dos próximos depósitos vegetados.
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