INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO E ESTUDOS DE GOVERNO PREPARAÇÃO CONTÍNUA AVANÇADA Português Prof. Caco Penna [email protected] LISTA 01 Estamos acostumados a falar em cultura brasileira, assim, no singular, como se existisse uma unidade prévia que aglutinasse (1) todas as manifestações materiais e espirituais do povo brasileiro. Mas é claro que uma tal unidade ou uniformidade parece não existir em sociedade moderna alguma e, menos ainda, em uma sociedade de classes. Talvez (2) se possa falar em cultura bororo ou cultura nhambiquara tendo por referente a vida material e simbólica desses grupos antes de sofrerem a invasão e aculturação do branco. Mas depois, e na medida em que (3) há frações do interior do grupo, a cultura tende também a rachar-se, a criar tensões, a perder a sua primitiva fisionomia que, ao menos para nós, parecia homogênea. A tradição da nossa Antropologia Cultural já fazia uma repartição do Brasil em culturas aplicandolhes um critério racial: cultura indígena, cultura negra, cultura branca, culturas mestiças. (4) Uma obra excelente, e ainda hoje útil como informação e método, a Introdução à antropologia brasileira, de Arthur Ramos, terminada em 1943, divide-se em capítulos sistemáticos sobre as culturas não-europeias (culturas indígenas, culturas negras, tudo no plural (5) ) e culturas europeias (culturas portuguesa, italiana, alemã...), fechando-se pelo exame dos contatos raciais e culturais. Os critérios podem e devem mudar (6). Pode-se passar da raça para nação, e da nação para a classe social (cultura do rico, cultura do pobre, cultura burguesa, cultura operária), mas, de qualquer modo, o reconhecimento do plural (7) é essencial. A proposta de compreensão (8) que se faz aqui tem um alcance analítico inicial; e poderá ter (oxalá tenha) um horizonte dialético final. Se pelo termo cultura entendemos (9) uma herança de valores e objetos compartilhada (10) por um grupo humano relativamente coeso, poderíamos (11) falar em uma cultura erudita brasileira, centralizada no sistema educacional (e principalmente nas universidades), e uma cultura popular, basicamente iletrada, que corresponde aos mores materiais e simbólicos do homem rústico, sertanejo ou interiorano, e do homem pobre (12) suburbano ainda não de todo assimilado pelas estruturas simbólicas da cidade moderna. A essas (13) duas faixas extremas bem marcadas (no limite: Academia e Folclore) poderíamos acrescentar outras duas que o desenvolvimento da sociedade urbano-capitalista foi alargando (14): a cultura criadora individualizada de escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da Universidade e que, agrupados ou não, formariam, para quem olha de fora, um sistema cultural alto, independentemente dos motivos ideológicos particulares que animam este ou aquele escritor, este ou aquele artista; e, enfim, a cultura de massas, que, pela sua íntima imbricação com os sistemas de produção e mercado de bens de consumo, acabou sendo chamada pelos intérpretes da Escola de Frankfurt de indústria cultural, cultura de consumo. Teríamos em registro analítico: cultura universitária, cultura criadora extra-universitária, indústria cultural e cultura popular. Do ponto de vista do sistema capitalista tecno-burocrático, um arranjo possível é colocar do lado das instituições a Universidade e os meios de comunicação de massa (15); e situar fora das instituições a cultura criadora e a cultura popular. É claro que esse esquema espacial de fora e dentro deve ser relativizado (16), pois enrijece o termo instituição, definindo-o sempre em termos de organização própria das classes dominantes. Na verdade, matizando a questão: um fenômeno típico de cultura popular como a procissão do Senhor Morto na Semana Santa é também uma instituição, em sentido paralelo ao da instituição do candomblé ou de um rito indígena. Ou, falando da cultura criadora personalizada, uma obra teatral é um gênero público instituído, queira ou não o seu autor. Mas, se usássemos desse critério sociológico, tudo viraria instituição, tudo codificação social coercitiva e borraríamos anti-historicamente a nossa primeira distinção: sistemas culturais organizados para funcionar sempre como instituições (17) (a Escola, uma Empresa de Televisão, por exemplo) e manifestações mais rentes à vida subjetiva ou grupal: um poema; uma roda de samba; um mutirão... Av.Nilo Peçanha, 50 - sala 304 - Centro, Rio de Janeiro Rua da Consolação, 1667 - Consolação - São Paulo Fone: (21) 3173-1137/ (11) 4327-8474 ideg.com.br skype: secretaria.ideg BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.308-345: Cultura brasileira e culturas brasileiras. http://edmundomonte.com.br/wp-content/uploads/2015/02/Cultura-brasileira-e-culturas-brasileiras-IN-Dial%C3%A9tica-da-coloniza%C3%A7ao.p.308-345_BOSI-Alfredo.pdf 1 – A partir da leitura do texto de Alfredo Bosi, classifique as afirmativas abaixo: 1 – Segundo o autor, embora a heterogeneização da cultura seja mais evidente nas sociedades de classes, ela é evidente em quase todas as sociedades modernas, excluindo-se apenas as regiões da cultura bororo e nhambiquara. 2 – O autor admite que a possibilidade de homogeneização das culturas primitivas pode ser apenas uma percepção forânea, o que justifica o uso do advérbio “talvez”, no início do terceiro período (ref. 2) 3 – É possível inferir do texto que as classificações culturais (incluindo a visão de “cultura brasileira”)se dão a partir de uma determinada possibilidade de recorte e agrupamento das diversas manifestações sociais e artísticas presentes em nossas sociedades. Sendo assim, classificações como “cultura negra” ou “cultura indígena” podem desaparecer caso sejam considerados critérios diferentes de observação. 4 – A expressão “tudo no plural” (ref. 5) reforça o argumento apresentado pelo autor no primeiro parágrafo do texto. 2 – Levando-se em conta as estruturas linguísticas utilizadas pelo autor, julgue em C ou E os itens que seguem: 1 – A conjugação dos verbos “existir” e “aglutinar” no Presente do Subjuntivo (ref. 1) se justifica pelo fato de representarem ações concomitantes ao momento da produção textual, sob um caráter hipotético, o que fica explícito pelo uso da conjunção “se” presente em “como se existisse...” 2 – Seria possível, mantendo-se a correção gramatical e a relação semântica explorada no período original, substituir a locução conjuntiva “na medida em que” (ref. 3) por sua correspondente “à medida que”. 3 – As vírgulas após o adjetivo “excelente” e o numeral “1943” (no segundo período do segundo parágrafo – ref.4) podem, sem prejuízo sintático-semântico, ser substituídas por travessões. 4 – O período “os critérios podem e devem mudar” poderia, mantendo-se a correção gramatical e a mesma relação semântica do período original, ser reescrito da seguinte maneira: “Os critérios têm não apenas o dever, mas também a permissão para mudar”. 3 – Considerando-se as relações sintáticas e semânticas presentes no texto de Alfredo Bosi, analise cada uma das afirmações abaixo as julgando em C ou E. 1 – Os sintagmas “do plural” (ref. 7) e “de compreensão” (ref. 8) exercem a mesma função sintática no contexto em que ocorrem. 2 – Com a leitura do quarto parágrafo, depreende-se que o autor pretende, a partir de uma análise inicial da pluralidade cultural existente nos mais diversos recortes sociais, alcançar uma conclusão definitiva a respeito da compreensão do tema proposto. 3 – A flexão no feminino do adjetivo “compartilhada” (ref. 10) respeita as regras da língua formal. Sua alteração para a forma “compartilhados” manteria a correção gramatical do período, embora acarretasse modificação semântica na ideia original. 4 – As formas verbais “entendemos” (ref. 9) e “poderíamos” (ref. 9) acarretam, no período em que estão inseridas, uma quebra de paralelismo sintático em relação ao uso dos tempos verbais em que estão conjugadas. Tal incorreção gramatical, porém, não prejudica o desenvolvimento da argumentação desenvolvida pelo autor no restante do parágrafo. 4 – Considerando os planos morfossintáticos e semânticos do texto, classifique os seguintes itens: 1 – No desenvolvimento do quinto parágrafo do texto, o autor associa o termo “erudita” à expressão “Academia”. Já os termos “iletrada”, “homem rústico” e “homem pobre” são englobados, posteriormente, no sentido do termo “Folclore”. 2 – A vírgula que antecede o “e” em “e do homem pobre” (ref. 12) seria suprimida caso o autor submetesse o texto a uma rígida revisão gramatical, isso porque tal expressão corresponde ao último elemento de uma enumeração, não sendo, portanto, separado dos demais pelo sinal de pontuação. 3 – O pronome demonstrativo “essas” (ref. 13) refere-se diretamente ao termo “estruturas simbólicas da cidade moderna”, que, por sua vez, resume toda a ideia desenvolvida anteriormente no parágrafo. 4 – A oração “que o desenvolvimento da sociedade urbano-capitalista foi alargando” (ref. 14) poderia, mantendo-se a correção gramatical e as ideias inicialmente expressas pelo autor, ser reescrito da seguinte maneira: “cujo desenvolvimento foi alargado pela sociedade urbano-capitalista”. 5 – Após a leitura atenta do texto, e considerando as relações linguísticas e semânticas observadas no texto, analise e classifique cada uma das sentenças abaixo em C ou E: 1 – O autor recorta os hábitos culturais da sociedade brasileira em dois grandes grupos: Academia e Folclore. Este se relaciona à cultura de massas, ou seja, à chamada indústria cultural. Já o primeiro, engloba a chamada cultura criadora individualizada, sendo reflexo da organização própria das classes dominantes. 2 – A oração “colocar do lado das instituições a Universidade e os meios de comunicação de massa” (ref. 15) exerce a mesma função sintática que “que esse esquema espacial de fora e dentro deve ser relativizado” (ref. 16), diferindo-se apenas pelo fato de a primeira estar reduzida, estando o verbo em uma forma nominal. 3 – Considerando-se o trecho “é claro que esse esquema espacial de fora e dentro deve ser relativizado, pois enrijece o termo instituição” (ref. 16) e sua reescrita “como o esquema espacial de fora e dentro enrijece o termo instituição, ele deve ser relativizado”, pode-se afirmar que as conjunções destacadas em ambas as sentenças estabelecem a mesma relação sintático-semântica. 4 – O deslocamento do advérbio “sempre” (ref. 17) para a posição imediatamente anterior ao termo “organizados” não prejudicaria o sentido da argumentação desenvolvida pelo autor no último período do texto. 1– 1–E 2–C 3–C 4–E 2– 1–E 2–E 3–C 4–E 3– 1–C 2–E 3–C 4–C 4– 1–C 2–E 3–E 4–E 5– 1–E 2–E 3–C 4–C